A Importância da Prática no Ensino: a Opinião dos Alunos de Administração de uma

Instituição de Ensino Superior.
Autoria: Tobias Coutinho Parente, Augusto Cézar de Aquino Cabral, Adriano Gaudio de Andrade,
Gabriel Renê Maia Bonadies, Maria Naíula Monteiro Pessoa

Resumo
A aproximação entre teoria e prática é essencial para o aprendizado. Importante em todas as
áreas, no campo da gestão, esta aproximação torna-se vital, dado o caráter aplicado da
Administração enquanto ciência. Em sintonia com essa visão, é desenvolvido um Projeto
Teórico-Prático em uma das disciplinas introdutórias do curso de Administração da
Universidade Federal do Ceará (UFC). Constituído em forma de estudo de caso, o Projeto
visa analisar a dinâmica organizacional de empresas contemporâneas, à luz da Teoria Geral da
Administração (TGA). Tendo como objeto de estudo o referido Projeto, essa pesquisa busca
investigar a relevância desta atividade para a formação acadêmica dos alunos do curso de
Administração da UFC. A partir de um estudo bibliográfico, focado no impacto do estudo de
caso e na relevância da pesquisa para a aprendizagem, foi realizada uma pesquisa do tipo
survey, de caráter exploratório-descritivo. Os respondentes da pesquisa foram os graduandos
de Administração que já realizaram o Projeto. Na análise dos dados, foram utilizadas técnicas
de estatística descritiva básica. Apurou-se que 91% dos respondentes consideram o Projeto
relevante para sua formação acadêmica, 83% acreditam que o Projeto serviu de suporte para
várias disciplinas e 75% afirmaram que nenhuma ou poucas disciplinas contribuíram tanto
quanto a disciplina do Projeto para a aquisição de conhecimento empresarial Assim, constata-
se que o Projeto em foco tem grande influência na formação dos estudantes, sendo uma das
formas mais eficientes ferramentas de aprendizagem, em termos de conteúdo, de metodologia
científica e da gestão do trabalho em equipe, vital para área da administração.

Introdução
No processo de ensino, diversos métodos são empregados. Predominam enfoques teóricos
que, embora essenciais, devem ser complementados por outras abordagens que permitam ao aluno
aprender e utilizar os conhecimentos adquiridos na prática. Sendo assim, o papel das
universidades e dos docentes é proporcionar aos alunos métodos adequados que facilitem o
aprendizado. No caso da Administração, foco deste estudo, as formas de ensino devem ser
diversas, sempre objetivando contemplar a prática, devido ao caráter aplicado desta ciência.
O ensino superior brasileiro sempre se caracterizou por aulas expositivas como
principal, e às vezes, única forma de aprendizagem, porém, devido à aceleração nos processos
de comunicação e na troca de informações e a necessidade de preparar melhor os profissionais
para o mercado de trabalho, buscam-se novas formas de aprendizagem. Dentre essas formas,
destaca-se a aprendizagem através do conhecimento pela observação da prática. No curso de
Administração, essa aprendizagem é essencial, pois para os alunos é fundamental saber como
os conceitos teóricos aprendidos em sala de aula são trabalhados e aplicados no mundo
organizacional.
No intuito de verificar a importância de métodos alternativos de aprendizagem para a
ciência da Administração, esta pesquisa analisou o ensino da disciplina de Teoria Geral da
Administração (TGA), que faz parte do currículo acadêmico do curso de Administração de
Empresas da Universidade Federal do Ceará (UFC). A disciplina possui enfoque
essencialmente teórico, procurando complementá-la, é realizado um Projeto Teórico-Prático,
que conta como requisito parcial na avaliação. O objetivo do Projeto é fazer um paralelo entre
a teoria e a prática, através da análise da dinâmica organizacional de uma empresa. Parte-se
do princípio de que os alunos são capazes de compreender melhor a teoria quando visualizam
e identificam os conceitos teóricos abordados na prática. Como afirma Demo (2007), a teoria

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deve ser combinada à prática, pois dessa forma a teoria se confronta com a prática,
renovando-se, e a prática sempre se volta à teoria, refazendo-se.
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é identificar a relevância do Projeto Teórico-
Prático da disciplina de TGA na formação acadêmica dos alunos do curso de Administração.
Definiram-se dois objetivos específicos: o primeiro foi identificar, de acordo com a percepção
dos alunos, os ganhos gerados pela realização do Projeto, avaliando as qualidades desse
modelo de aprendizagem; o segundo foi mapear os pontos fortes e fracos do Projeto como
meio de aprendizagem de conteúdo, de metodologia e gestão, identificando se ele foi
relevante para a formação do aluno.
Esta pesquisa parte da hipótese de que os alunos ao realizarem o Projeto Teórico-
Prático absorvem de maneira mais efetiva os conhecimentos da disciplina do que com a mera
exposição da teoria através de aulas. A realização do Projeto em grupos os ajudariam a
aprofundar conhecimentos teóricos, obter conhecimentos metodológicos para a formatação
do trabalho e desenvolvimento das pesquisas bibliográfica e de campo, e desenvolver
conhecimentos e habilidades de gestão, como liderança e comunicação, na condução do
próprio grupo e na articulação com os gestores nas empresas visitadas. Todos estes
considerados conhecimentos críticos para a formação acadêmica, ao longo de todo o restante
da graduação.
Em termos de estrutura, além desta introdução, este trabalho é composto de seis outros
segmentos. O primeiro refere-se à descrição do Projeto Teórico-Prático, como método de
ensino; o segundo refere-se à importância da prática como método de ensino; o terceiro
refere-se à explicação do estudo de caso como método de pesquisa, pois o Projeto analisado
nesta pesquisa é realizado através do estudo de caso; o quarto refere-se aos aspectos
metodológicos da pesquisa; o quinto traz a análise dos resultados da pesquisa, em dois blocos:
o primeiro referente a avaliação do Projeto em foco como forma de aprendizagem e o segundo
destacando sua relevância e o quanto os alunos aprendem ao realizá-lo. Por fim, são
apresentadas as considerações finais.

2. O Projeto Teórico-Prático
O Projeto Teórico-Prático é um dos pré-requisitos da disciplina de TGA do curso de
Administração de Empresas da UFC. Ele constitui uma das duas avaliações parciais da
disciplina, que é realizada no primeiro semestre do curso, possuindo, em geral, um enfoque
totalmente teórico. Porém, ao realizarem o Projeto, os alunos conseguem perceber a aplicação
das teorias administrativas nas organizações.
Para a realização do Projeto, são dadas as primeiras instruções quanto à estrutura, o
conteúdo e o processo de elaboração ao longo da primeira semana de aula. São, então,
formados grupos com até cinco membros, sendo essa uma decisão dos alunos, que escolhem
as pessoas com quem irão trabalhar ao longo do semestre. Dada a abrangência e
complexidade do Projeto que, em seu processo de construção, tem pelo menos duas versões
corrigidas pelo professor, com o apoio dos monitores da disciplina, antes da entrega da versão
final. O desafio inicial é conseguir acesso para a pesquisa junto a uma empresa local de médio
ou grande porte, de qualquer setor econômico. Também no início do processo são
distribuídos, para cada uma das equipes, um roteiro com a estrutura completa do Projeto e
uma carta solicitando acesso e apoio, a ser entregue pelo grupo a empresa que servirá de
objeto de estudo. Adicionalmente, são entregues aos grupos dois instrumentos de coleta de
dados, um roteiro de entrevistas, e um questionário fechado, ambos com foco nas diferentes
teorias que compõem a TGA. Evidencia-se, ao longo do processo, o segundo desafio,
gerenciar o próprio grupo.
No final do semestre, são cobrados dois tipos de produções: um trabalho escrito e um
artigo científico. O trabalho escrito tem as características de uma monografia, inclusive
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quanto ao uso das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A partir
dele, é elaborado um artigo científico, também no padrão ABNT, tendo por objetivo despertar
o interesse pela pesquisa e viabilizar a participação e publicação em eventos e periódicos da
área.
Além da produção acadêmica, é requerida uma apresentação, em forma de seminário,
ocasião onde cada grupo faz uma síntese de sua pesquisa de campo, iniciando-se com a
apresentação do setor econômico em que se insere a empresa visitada, em termos de sua
relevância socioeconômica no cenário internacional, nacional e local. Em seguida tem-se a
apresentação da própria empresa, com dados sobre porte, missão e visão, principais gestores,
estrutura, marketing e mercado, dentre outros. O foco maior, contudo, é na análise da
dinâmica organizacional da empresa, à luz dos principais elementos das diferentes teorias da
TGA, subdivididas em dois grandes grupos: o dos pilares da TGA, constituído pelas teorias da
Administração Científica de Taylor, Clássica de Fayol, das Relações Humanas de Mayo e da
Burocracia de Weber; e o das concepções modernas, constituído pelas teorias Estruturalista,
Comportamental, Sistêmica e Contingencial. A análise inclui, ainda, uma investigação acerca
de um programa ou estratégia utilizado pela empresa, tal como terceirização formação de
aliança, em seu esforço de adaptar-se ao atual contexto da globalização. Inclui, por fim, o
levantamento e análise dos Projetos e ações de responsabilidade social.
Em termos de estrutura, o Projeto Teórico-Prático é constituído por quatro capítulos,
sendo um de introdução, um de referencial teórico, um de apresentação e análise dos dados e
um de conclusão, seguidos das referências, apêndices e anexos.
A introdução trata da delimitação do tema, da apresentação da justificativa para a
elaboração do Projeto e da definição dos objetivos. Apresenta ainda os aspectos
metodológicos, caracterizando a pesquisa como qualitativa, quanto à abordagem do problema
e natureza dos dados, como bibliográfica, documental e de campo, mediante estudo de caso,
quanto aos meios, e como exploratória-descritiva, quanto aos fins. Por fim, evidencia a
estrutura geral do Projeto.
O referencial teórico consiste no levantamento da literatura que compõe a TGA,
partindo dos antecedentes históricos da Administração, passando pelas teorias que compõem
os pilares da TGA e pelas teorias que fazem parte das concepções modernas da
Administração, e indo até os temas contemporâneos, como a responsabilidade social
empresarial. Esta tende a ser a parte mais extensa do Projeto, servindo, também, antes mesmo
que os temas sejam abordadas nas aulas, como material de estudo, inclusive para a prova final
da disciplina. Tal circunstância leva os alunos a procurarem o conhecimento e direcioná-lo
para um propósito, de forma proativa, incentivando que assumam a posição de sujeitos em seu
próprio processo de aprendizagem (FRANCO; FEITOSA, 2006). Como fontes de pesquisa,
além da pesquisa junto a livros de Administração Geral e TGA, os alunos são incentivados a
fazer levantamento da literatura pertinente junto a anais de evento e periódicos classificados
como A1 no Sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). O Sistema avalia a qualidade dos anais e periódicos no Brasil, a
classificação A1 é a mais elevada.
Para elaboração do capítulo de apresentação e análise de dados, denominado “A
Dinâmica Organizacional da Empresa X”, os alunos munidos do roteiro de entrevista semi-
estruturado e do questionário estruturado, vão a campo para coletar informações sobre a
organização e realizar o contraste com as teorias. A pesquisa ocorre por meio de um estudo de
caso, e como propõe Yin (2005), enquanto pesquisadores, os alunos buscam informações de
diversos métodos, de modo a estabelecer a triangulação, mediante pesquisa bibliográfica e
documental, bem como dados das entrevistas e dos questionários. Para isto, os alunos são
responsáveis por estabelecer contato com a empresa, negociar acesso, agendar visitas, de

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modo a conhecer seu processo produtivo e aplicar os instrumentos de coleta de dados, junto a
diretores e gestores.
Após coletados os dados, os alunos são encarregados de analisá-los e interpretá-los,
tornando possível a identificação de padrões organizacionais que a empresa em foco utiliza e
que são elementos descritos pela TGA. Nesse estágio do Projeto, a teoria é evidenciada pela
prática, e os realizadores do Projeto tendem a desenvolver uma visão analítica e inquisitiva
sobre a empresa, de modo a identificar traços das diferentes teorias e a perceber contradições
entre o discurso e a realidade constatada. Os alunos, por fim, fazem suas conclusões acerca
dos dados e, também, de suas impressões pessoais e transmitem-nas para o trabalho escrito, o
artigo científico e para a apresentação em forma de seminário. Na última parte, são expostas
as referências utilizadas para realização de todo o Projeto.
Além do conhecimento conceitual e prático, o Projeto incentiva e dá suporte para que
o aluno tenha acesso à metodologia científica, antecipando, assim, a inserção dos alunos em
um universo que, no curso de Administração desta Universidade, somente é estudado no
quinto semestre. Sendo assim, a elaboração desse Projeto contribui para a iniciação no campo
da pesquisa e do trabalho científico.
O Projeto Teórico-Prático tem, entre outros, o objetivo de desenvolver uma visão
crítica reflexiva em alunos que estão sendo introduzidos ao contexto das organizações, em
que, cada vez mais, torna-se relevante uma compreensão sistêmica, a partir de uma
perspectiva holística capaz de articular, teoria e empiria, associando ensino e pesquisa em
uma mesma realidade. Em diferentes graus, as organizações, empresariais ou não, possuem
elementos e características das teorias da Administração, vivenciadas no dia-a-dia dos
gestores. Porém, nem toda esta pluralidade de informações é repassada aos alunos de TGA.
Acredita-se, contudo, que, a carga teórica adquirida na elaboração do Projeto e esta incipiente
inserção no mundo empresarial permitem ao aluno identificar, diferenciar e filtrar tais
conhecimentos. Além da aprendizagem conceitual, o aluno encara o desafio, já no primeiro
semestre, de tomar decisões em um contexto de restrições, vivenciando, assim, a própria
essência da administração. Aprende, ainda, a tratar com pessoas, inclusive no contexto
empresarial, a trabalhar sob pressão e com prazos, a administrar conflitos e a trabalhar em
equipe, situações em que a liderança, fundamental para a elaboração desse extenso Projeto e
para prática profissional, é também evidenciada nos grupos.

3. A prática como método de ensino

Historicamente, o ensino no Brasil caracteriza-se por aulas expositivas como a única
forma de transmissão de conhecimento e a realização de provas como a única forma de
avaliação e verificação da aprendizagem, isto é percebido desde a educação básica até a
educação superior. Os estudantes e docentes se acostumaram com esta metodologia e, em
muitas vezes, não percebem que podem existir outros métodos de ensino que permitam
complementar o que é abordado na sala de aula. A aprendizagem ficou caracterizada, muitas
vezes, como uma associação de professor, livro-texto e sala de aula. O professor é o agente
capaz de determinar os objetivos da aprendizagem, visto que o aluno não tem experiência para
isso. O livro-texto é o objeto que representa a preocupação de apenas adquirir e recordar
conceitos. Por fim, o espaço da sala de aula simboliza algo diferente, que está distante da
realidade, chegando ao ponto de muitos profissionais afirmarem que a teoria significa algo
que é diferente da prática (KOLB; McINTYRE e RUBIN, 1978).
Demo (2007) descreve como “copiada” aquela a aula que apenas ensina a reproduzir o
que já foi posto, ou seja, aquela em que o professor copia no quadro o resumo dos conteúdos
expostos nos livros, e o aluno, por sua vez, copia o que foi passado pelo professor, repetindo
tudo na prova, afastando-se de um questionamento reconstrutivo, que permita aprender
através da reflexão daquilo que foi exposto. Esse tipo de questionamento, segundo o autor,
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refere-se à formação do sujeito competente através do saber pensar e do aprender a aprender,

que o torna capaz de formular e executar projetos inovadores e próprios de vida. No lugar da
educação meramente “bancária”, Freire (1996) ressalta a relevância de um saber construído, a
partir da intima articulação entre teoria e prática, técnica, reflexão e intervenção. Vivenciada
na e com a realidade; é a chamada práxis.
O questionamento reconstrutivo deve ser cultivado nos sujeitos. Porém, Demo (2007)
ressalta que o sistema educacional não permite isso, visto que muitos ainda acreditam na
Universidade apenas como uma instituição ofertadora de aulas, onde o aluno as assiste e faz
provas para conseguir o diploma, que por si só não prova sua competência. O autor acredita
que para reverter esse quadro, a única saída é a pesquisa, pois através dela o sujeito consegue
conhecer e intervir, incorporando a prática junto com a teoria.
Essa incorporação da teoria com a prática, foco principal deste trabalho, é tratada por
diversos autores, sempre na perspectiva de que uma complementa a outra. Santos (2004),
afirma que não há teoria dissociada da prática ou prática sem teoria associada. Almeida,
Lagemann e Sousa (2006) destacam o aprendizado como decorrência do contato que deve
haver entre conceitos e experiências, que proporcionam reflexões que podem fomentar o
desenvolvimento do estudante. Nesta perspectiva, Feitosa e Franco (2006) acreditam que o
mundo acadêmico, cada vez mais, se preocupa em harmonizar a articulação da teoria com a
prática, buscando reduzir a distância entre o que é ensinado e o que acontece na prática.
Em relação ao ensino da Administração, as universidades e seus docentes devem ter a
preocupação constante de chamar a atenção dos alunos para o caráter aplicado da
Administração como ciência social, conforme frisam Bido, Ghobril e Nassif (2005, p.1):

Considerando o ensino de Administração como um processo de aprender para criar e

fazer, tendo em vista que o resultado desta aprendizagem reflete-se no desempenho
das próprias organizações, pensar a teoria e a prática de maneira fragmentada e
independente tem gerado uma formação deficiente, ou seja, gestores com
dificuldade de aplicar os conhecimentos adquiridos na Universidade no exercício da
profissão.

Pode-se perceber que a teoria e a prática devem se complementar na formação do

profissional de Administração. Dessa forma, Almeida, Lagemann e Sousa (2006) afirmam
que os administradores não devem ser formados somente em sala de aula, pois essa garante
apenas o contato inicial com os conhecimentos e capacidades, o que é insuficiente. Visto que
o ato de administrar abrange a junção da ciência e técnicas aplicadas às organizações, como
acreditam, por exemplo, os autores alinhados a abordagem neoclássica da TGA.
Na busca de contemplar o ensino da teoria com a prática, Franco e Feitosa (2006)
ressaltam que podem ser utilizadas diferentes alternativas, permitindo ao estudante ser
inserido em um ambiente que lhe proporcione o conhecimento da realidade de trabalho e
associação do aprendizado da sala de aula com o conhecimento organizacional. Podem ser
citados, como exemplos, jogos de empresa, estágios curriculares, consultorias juniores, visitas
de campo, estudos de caso, etc. Assim, Kolb, McIntyre e Rubin (1978) ressaltam que a
aprendizagem não deve ser confundida com a capacidade de adquirir e recordar conceitos
expostos em sala de aula, mas sim como um processo gerado a partir de experiências.
Levando à formulação de conceitos, regras e princípios que moldarão o comportamento do
aprendiz, a fim de capacitá-lo para resolver os problemas oferecidos por cada situação
diferente, como proposto pelo enfoque contingencial da TGA.
Franco e Feitosa (2006) alertam que as experiências vividas sozinhas não avalizam o
aprendizado, sendo necessário que haja uma análise reflexiva sobre a prática vivenciada.
Através dessa reflexão, as pessoas podem avaliar e reavaliar as suposições expostas a elas,
estruturando-lhes, assim, em um conhecimento de forma própria, permitindo que visualizem
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novas compreensões da realidade. Para viabilizar a prática reflexiva, as regras do método de

investigação social devem proporcionar ao investigador um conhecimento dos fenômenos
sociais, capacitando-o a definir com rigor os conceitos, submeter hipóteses à validação
científica, e refutar as interpretações vulgares (MENDES; PEDRON e RODRIGUES, 2005).
Essa reflexão vai ao encontro do questionamento reconstrutivo proposto por Demo (2007),
que busca formar a consciência crítica e o contestamento próprio, fazendo do questionamento
o caminho de mudança.

4. A estratégia do estudo de caso como método de ensino

O método utilizado para a realização do Projeto Teórico-Prático aqui discutido é o
estudo de caso. Como destacado anteriormente, o objetivo do Projeto é a realização, por parte
dos alunos, de um estudo de caso, em uma organização local, possibilitando que seja
evidenciado o contraste entre as teorias que compõem a TGA e a dinâmica da organização
pesquisada. Segundo Bufoni (2002), a técnica do estudo de caso deve ser escolhida quando se
pretende estabelecer como as teorias ocorrem nas práticas organizacionais, ou seja, no seu
contexto natural.
Muitos pesquisadores afirmam que a preferência do estudo de caso como estratégia de
pesquisa se deve por sua fácil realização, afirmando que o método levanta poucos dados e não
é útil para generalizações sobre fenômenos. Contudo, Yin (2005) argumenta que o estudo de
caso não é de fácil realização, pois o pesquisador deve buscar informações de diversas
formas, efetivando a triangulação, mediante o uso de múltiplas evidências, diferentemente dos
métodos quantitativos O autor ainda expõe que nenhum método pode ser responsável por uma
generalização, apenas um conjunto de pesquisas podem prover uma opinião global sobre
determinado fenômeno..
Ressalta-se, também, que há uma confusão de conceitos entre o estudo de caso como
método de pesquisa e os casos para o ensino, o que contribui para que haja uma visão
pessimista por parte de alguns pesquisadores sobre o método de estudo de caso (ANTUNES,
CESAR e VIDAL, 2008; CONSOLI et. al, 2008), por isso é pontual aqui destacar a diferença
entre ambos. Consoli et. al (2008) afirmam que o primeiro refere-se a uma estratégia utilizada
para realizar uma pesquisa científica, e o segundo, a um relato de uma realidade empresarial,
em que se a discussão serve para solucionar os problemas relatados.
De acordo com Yin (2005), na escolha do método de pesquisa, devem-se considerar
três variáveis: o tipo de questão da pesquisa, o controle que o pesquisador possui sobre os
eventos comportamentais e o quanto enfoca em acontecimentos contemporâneos em oposição
aos históricos. Para o autor, o estudo de caso pode ser conceituado como uma investigação
empírica sobre um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos. Assim, o pesquisador deve escolher o estudo de caso quando pretende saber como e
por que os fenômenos acontecem, não possuindo o controle sobre os eventos
comportamentais e focando sempre nos acontecimentos atuais.
Considerando o que foi exposto por Yin, Bufoni (2002) afirma que o método de
estudo de caso, muitas vezes, se torna falho por causa da falta de atenção do pesquisador com
os rigores metodológicos necessários para o método, o que compromete o estudo. Trazendo a
explanação acima para o Projeto que esta pesquisa analisa, percebe-se que há um cuidado para
que os alunos sigam os passos metodológicos necessários para validar os resultados da
pesquisa.

5. Metodologia
Tomando-se por base a taxionomia proposta por Vergara (2000), pode-se classificar
esta pesquisa como exploratória e descritiva, quantos aos fins, e como pesquisa bibliográfica e
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de campo, quanto aos meios. É exploratória, pois visa construir uma compreensão inicial
sobre os aspectos do Projeto Teórico-Prático de TGA, em termos de sua relevância na
formação dos alunos de administração da UFC. É descritiva, pois busca descrever de que
forma o Projeto é aplicado aos alunos, como eles avaliam o Projeto sendo uma forma de
ensino e como as diferentes variáveis que o compõem se inter-relacionam no processo de
aprendizagem teórico-prático. Ainda quanto aos fins, segundo Martins e Theóphilo (2007), a
pesquisa caracteriza-se como de avaliação, pois busca avaliar o Projeto em seu contexto real,
utilizando os resultados para decisões futuras que serão tomadas em relação ao Projeto.
A pesquisa é bibliográfica, pois se baseia no levantamento da literatura pertinente
junto a livros, dissertações, periódicos e anais de eventos. Constitui pesquisa de campo, pois
busca informações na UFC junto aos alunos de Administração, sendo caracterizada como
survey. A pesquisa survey, segundo Malhotra (2001), é feita com interrogatórios junto aos
participantes, no qual se fazem diversas perguntas sobre seus comportamentos e atitudes, no
intuito de levantar suas opiniões sobre algum assunto, como neste estudo, em que se busca
levantar opiniões acerca do Projeto Teórico-Prático da disciplina de TGA.
É também necessário caracterizar a população e a amostra da pesquisa. Segundo
Vergara (2000), a população é um conjunto de elementos que possuem características que
serão objeto de estudo. Já a amostra é uma fração da população escolhida de acordo com
algum critério que garanta uma representatividade para o estudo. Para esta pesquisa, definiu-
se como população os alunos do curso de administração da UFC, dessa, escolheram-se
aqueles que realizaram o Projeto Teórico-Prático para serem os componentes da amostra, pois
só esses estavam aptos a responder as questões e contribuir para o estudo. Os respondentes da
pesquisa, que de acordo com Vergara (2000), são as pessoas que fornecem as informações
para a pesquisa; neste caso, os alunos do curso diurno de Administração da UFC que já
realizaram o Projeto em estudo e que estavam presentes em sala nos dois dias de aplicação
dos questionários.
Definidos os elementos que compõem a amostra, é necessário saber a estrutura de
amostragem e o método de amostragem, pois, de acordo com Babin et al. (2005), o primeiro
refere-se ao levantamento mais completo de todos os elementos possíveis, de onde a amostra
é retirada, e o segundo está relacionado ao método que será empregado para definir quais e
quantos elementos da estrutura de amostragem serão retirados. O Projeto Teórico-Prático foi
realizado nas turmas de TGA de 2003 a 2008, totalizando 12 turmas de 45 alunos, o que
proporciona uma estrutura de amostragem de 540 alunos. Pesquisar todos esses alunos
tornou-se inviável, pois, por razoes diversas, nem todos estão acessíveis: alguns simplesmente
não estavam presentes por ocasião da pesquisa, alguns já se formaram, outros abandonaram o
curso, etc. Sendo assim, utilizou-se o método não probabilístico de amostragem por
conveniência, em que, conforme Babin et al. (2005), a seleção dos elementos é feita de acordo
com a disponibilidade dos sujeitos que podem tomar parte da pesquisa e fornecer as
informações necessárias. Foram, então, aplicados 115 questionários, o que representa cerca
de 20% da amostra total.
Para coletar os dados de campo, utilizou-se o método de comunicação estruturado não
disfarçado proposto por Mattar (2001). Nesse método, as perguntas e respostas já estão
previamente determinadas, o que caracteriza o método de coleta estruturado, e os objetivos e
propósitos da pesquisa são expostos aos respondentes, para que possam transpor da melhor
maneira possível as informações necessárias à pesquisa. O método é mais adequado e versátil
para obter grande quantidade de dados, devido a sua facilidade de coletar e tabular dados.
Com relação à aplicação do instrumento de coleta, utilizou-se de questionários
autopreenchidos, que são ótimos para alcançar uma unidade de mensuração e uma amostra
grande, como ressalta Mattar (2001). O questionário foi divido em duas partes. A primeira
para coletar dados de identificação do respondente e a segunda formada por questões abertas e
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fechadas, visando saber a opinião dos alunos sobre o Projeto, o que eles aprendiam com sua
realização e o quanto ele influenciava na sua formação. Na análise dos dados, utilizaram
técnicas de estatística descritiva básica, além disso, os resultados foram divididos em dois
blocos: o primeiro referente à importância do Projeto para a formação acadêmica, na visão
dos alunos, e o quanto de conhecimento eles adquiriram ao realizá-lo; o segundo tratou da
avaliação feita pelos alunos do Projeto Teórico-Prático como forma de aprendizado.

6. Análise dos resultados

O objetivo principal da pesquisa foi identificar a relevância do Projeto Teórico-
Prático para a formação dos alunos do curso de administração da UFC. Dessa forma, a
análise dos resultados ficou condicionada a saber o que o Projeto Teórico-Prático, doravante
denominado simplesmente Projeto, proporciona aos alunos em relação à aquisição de
conhecimentos, do conteúdo da disciplina, metodológicos e práticos, e se esse método de
ensino seria ou não um método eficaz de aprendizagem.
No primeiro bloco de resultados, os alunos foram questionados sobre o quanto o
Projeto foi relevante como um todo no decorrer de sua formação como estudante de
Administração. Também se contemplam aqui os conhecimentos adquiridos com a prática,
buscando saber o quanto os alunos conseguem aprender com a realização do Projeto. Por fim,
os alunos expressam o quanto o Projeto foi importante para a aquisição de conhecimentos
metodológicos. Essa informação é relevante, pois, como frisado antes, o Projeto, realizado no
primeiro semestre do curso, é estruturado conforme as normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) e os alunos só fazem a disciplina de Metodologia do Trabalho
Científico no quinto semestre.
Para alcançar os outros resultados, os alunos foram questionados sobre as disciplinas
para as quais o Projeto serviu de suporte, ou seja, aquelas em que, após terem realizado o
Projeto, os alunos adquiriram conhecimentos que lhes preparou para os novos conteúdos ou
lhes facilitou na aprendizagem. Também se buscou saber se todas as disciplinas deveriam ter
projetos que contemplassem a articulação da teoria com a prática e o porquê de se fazer ou
não projetos com o mesmo caráter em disciplinas diferentes. Por fim, foram levantados os
pontos fortes e fracos do Projeto.

6.1. A relevância do Projeto e o quanto os alunos aprendem ao realizá-lo.

Através da primeira questão do questionário, foi possível observar qual foi a
relevância da realização do Projeto Teórico-Prático para a formação do aluno como estudante
de Administração. Obtiveram-se os seguintes resultados:

Tabela 1 – Relevância do Projeto para a formação dos alunos.

Relevância (%)
a) Muito relevante 56
b) Extremamente relevante 35
c) Nem muito nem pouco relevante 4
d) Pouco relevante 4
e) Não foi relevante 1
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Somando-se os dois primeiros resultados, pode-se observar que 91% dos alunos que
responderam ao questionário consideraram extremamente ou muito relevante a realização de
um projeto de caráter científico para a sua formação como aluno de administração. As
próximas questões abordadas no questionário buscaram coletar informações que
identificassem quais seriam os motivos para tal relevância.
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A tabela abaixo mostra uma questão que buscou identificar se, na percepção do aluno,
havia disciplinas que proporcionaram conhecimento das práticas empresarias tanto quanto o
Projeto.

Tabela 2 – Relevância do Projeto na obtenção de conhecimentos empresariais, comparado a

outras disciplinas.
Comparação (%)
a) Poucas disciplinas contribuíram tanto quanto o Projeto 50
b) Nenhuma disciplina contribuiu tanto quanto o Projeto 25
c) As demais disciplinas contribuíram tanto quando o Projeto 10
d) As demais disciplinas contribuem mais que o Projeto 10
e) Não responderam 3
f) O Projeto não proporcionou conhecimento prático 2
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Pode-se observar que, de acordo com a percepção dos alunos respondentes, a maioria,
75 % (alternativas “a” e “b”), acreditam que poucas ou nenhuma disciplina contribuíram tanto
para se adquirir conhecimento sobre as práticas empresariais. Estes dados indicam que o
modelo de aprendizagem genericamente praticado se baseia no distanciamento dos conteúdos
ensinados da realidade (KOLB; McINTYRE e RUBIN, 1978), visto que grande parte dos
alunos afirmou que a maioria das disciplinas que eles cursaram não proporcionou tanto
conhecimento prático como a disciplina de TGA, mediante a realização do Projeto.
A próxima questão buscou identificar o quanto de conhecimento metodológico é
adquirido após a realização do Projeto. A tabela abaixo mostra os resultados:

Tabela 3 – O quanto os alunos obtém de conhecimentos metodológicos.

Aspectos (%)
a) Aprende os aspectos mais relevantes 57
b) Aprende alguns aspectos relevantes 39
c) Não aprende os aspectos mais relevantes 1
d) Não responderam 3
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Como é possível observar, 96% dos alunos que responderam ao questionário

(alternativas “a” e “b”) afirmaram que o Projeto ajuda a aprender os aspectos relevantes ou
alguns dos aspectos relevantes em relação aos conhecimentos metodológicos. Como o Projeto
é feito de acordo com o Manual de Monografia da FEAAC, baseado na regras da ABNT, o
aluno é obrigado a compreendê-las para realizá-lo, a resposta obtida nessa questão evidencia
que os alunos incorporaram esses conhecimentos para utilizá-los posteriormente.

6.2. Avaliação do Projeto Teórico-Prático como forma de aprendizagem

Outras questões no questionário buscaram identificar a relevância do Projeto para as
disciplinas cursadas posteriormente. A questão que pediu para que os alunos citassem a quais
disciplinas, cursadas posteriormente, o Projeto ofereceu suporte está com o seu resultado
listado na tabela abaixo:

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Tabela 4 – Disciplinas as quais o Projeto ofereceu suporte.

Disciplinas (%)
a) Processo Administrativo 70
b) Comportamento Organizacional 40
c) Produção I 24
d) Outras 23
e) Organização de Sistemas e Métodos 17
f) Metodologia do Trabalho Científico 7
g) Introdução a Psicologia 6
h) Todas 5
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Os resultados acima representam a porcentagem do total de respondentes que citou

uma determinada disciplina. Diferentemente das outras questões, essa não mostra em seu total
100%, pois era possível que um aluno citasse mais de uma disciplina. O resultado elencado
acima mostra apenas as respostas mais citadas. A expressividade das menções às disciplinas
de Comportamento Organizacional e Processo Administrativo advém, em parte, do fato de
que uma fração dos alunos que compõem a amostra estava ainda em início de curso (entre o
segundo e quarto semestre). Assim, não tiveram ainda a oportunidade de cursar algumas das
disciplinas que foram citadas acima, como Organização de Sistemas e Métodos e
Metodologia do Trabalho Científico, porém as disciplinas Comportamento Organizacional e
Processo Administrativo também estão entre as mais citadas nos demais semestres. Sendo
assim, infere-se que o Projeto cumpre com seu papel de mostrar a realidade organizacional e
fazer com que os alunos aprendam o conteúdo da disciplina, visto que para o aluno cursar a
disciplina de Processo Administrativo o aluno deve ter sido aprovado em TGA.
Outra questão pedia para que o aluno respondesse se outras disciplinas deveriam
oferecer um projeto semelhante, contemplando teoria e prática. O resultado é apresentado na
tabela abaixo:

Tabela 5 – Outras disciplinas deveriam possuir projetos de teor prático?

Respostas (%) Motivos (%)
Reforça o conteúdo
59
exposto em sala de aula.
a) Sim 55 Agrega conhecimentos
30
do mundo empresarial.
Outros. 11
Apenas as disciplinas
estritamente ligadas a 61
b) Não 43
Administração precisam.
Demanda muito esforço. 39
c) Não responderam 2 ----------------- ----
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Verifica-se, aqui, que 55 % dos respondentes (alternativa “a”) concordam que este tipo
de projeto, conciliando teoria e pratica deveria ser realizado em outras disciplinas. Contudo,
percentual significativo, 43 % (alternativa “b”), indica que este não é o caso. Embora não haja
dados concretos sobre esta visão, especula-se que, em grande parte, ela reflete o anseio dos
alunos que já realizaram o Projeto. Tendo em vista a grande carga de trabalho que o mesmo
impõe, dado que, como revelado antes, a grande maioria dos alunos acredita no valor e na
relevância do Projeto.

  10
  

Tentou-se classificar as diversas respostas em grupos para se fazer uma melhor

análise. Entre os alunos que se mostraram a favor, 59% afirmaram que o principal motivo é
que um Projeto Teórico-Prático reforça o conteúdo explicado na sala de aula. Esse argumento
exposto pelos alunos remete à idéia de que não há teoria sem prática e vice-versa, dado que
uma complementa a outra, coerentemente com a literatura levantada (DEMO, 2007;
SANTOS, 2004). Outro motivo para serem realizados projetos de teor prático em outras
disciplinas, apontado por 30% dos alunos que responderam sim, é o fato deste tipo de projeto
agrega conhecimentos sobre o mundo empresarial. Esta visão dos alunos está em sintonia com
a idéia de Franco e Feitosa (2006), ao afirmarem que devem ser utilizadas diversas
metodologias de ensino para proporcionar aos alunos conhecimento da realidade empresarial.
Entre os principais motivos para rejeitar a idéia de projetos de cunho prático em outras
disciplinas, 61% dos que acreditam não serem necessários Projetos práticos em outras
disciplinas, afirmaram que apenas as disciplinas estritamente relacionadas à Administração
necessitavam de um Projeto deste tipo, o que alinha-se ao exposto por Almeida, Lagemann e
Sousa (2006), ao expressarem que a Administração é a junção de conhecimentos e técnicas
aplicadas às organizações. Dessa forma, os alunos devem aprender os conhecimentos em sala
de aula e aplicá-los nas organizações. Essa percepção dos alunos também remete à idéia de
que nem tudo o que é aprendido pode ser aplicado ou é necessário, o que muito pode ser
atribuído ao modelo educacional ao qual os alunos são expostos. Segundo Demo (2007), esse
modelo se baseia na aula como copiada, ensinando apenas a copiar, fazendo com que o aluno
por sua vez copie e repita na prova, o que faz com que os alunos não tenham liberdade para
criar e questionar por algo diferente. Por fim, 39% dos que responderam não acreditam que a
realização de um Projeto científico de cunho prático demanda muito esforço. Isso em muito se
deve ao fato de que os alunos estão acostumados, desde a educação básica, ao modelo de
aprendizagem baseado em apenas três agentes: professor, livro-texto e sala de aula de aula,
dessa forma, eles podem rejeitar novas metodologias de ensino, que fujam a este modelo ao
qual eles estão acostumados (KOLB; McINTYRE e RUBIN, 1978).
Em outra questão, pediu-se para o aluno responder qual a importância que cada fator
elencado teve no decorrer de sua formação estudantil após a realização do Projeto,
considerando-se nas opções de resposta uma escala de 1 a 4, em que 1 expressa a maior
relevância e 4 indica a menor relevância, havendo, ainda, a opção NR – nenhuma das
repostas. A tabela abaixo mostra os resultados:

Tabela 6 – A importância de alguns fatores do Projeto para a formação dos alunos.

(%)
Fatores 1 2 3 4 NR
a) Aprender o conteúdo da disciplina 36 30 26 5 3
b) Aprender a estruturar um trabalho monográfico nos aspectos 41 27 13 14 5
metodológicos, nos moldes da ABNT
c) Conhecer a vivência de uma organização 49 20 22 6 3
d) Passar na disciplina 21 23 25 13 17
e) Aprender além do conteúdo da disciplina 45 21 15 11 8
f) Trabalhar em grupo 33 30 17 14 6
g) Adquirir conhecimento em informática para realizar trabalhos acadêmicos 20 27 19 22 12
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Na percepção da maioria dos alunos, todos os fatores são importantes. Com base nos
que foram, em sua maioria, avaliados como muito importante ou importante, pode-se observar
que os fatores “c - conhecer a vivência de uma organização” e “b - Aprender a estruturar um
trabalho monográfico nos aspectos metodológicos, nos moldes da ABNT” são os mais
importantes. Os alunos consideram a opção “b” importante pelo motivo já apresentado, de que
  11
  

a disciplina de Metodologia do Trabalho Científico só é ministrada no quinto semestre e que o

Projeto, para a maioria dos alunos, ocorre no primeiro semestre. Porém outro fator que explica
isso é a cobrança para que o Projeto não seja executado de maneira inadequada, já que ele é
um estudo de caso. Conforme Bufoni (2002), muito do preconceito que há com esse método
advém de que não há o devido cuidado em seguir de forma correta os aspectos metodológicos
exigidos para realizá-lo. Ao apontarem o conhecimento da vivência organizacional, os alunos
estão mostrando o quanto é importante para eles conhecerem o mundo em que irão atuar.
Segundo Franco e Feitosa (2006), sempre se devem buscar alternativas que permitam ao
estudante ser inserido em um ambiente que permita conhecer a realidade do trabalho.
Por fim, pediu-se aos alunos que elencassem os pontos fortes e fracos do Projeto.
Pedido semelhante é feito ao final da apresentação do Projeto, por ocasião da disciplina de
TGA, dando a chance dos alunos questionarem e sugerirem mudanças no Projeto, o que pode
ser compreendido como uma oportunidade para realizar o questionamento reconstrutivo,
apontado por Demo (2007). Os principais pontos fortes citados foram:

Tabela 7 – Pontos fortes do Projeto.

Pontos fortes (%)
a) Aprendizado sobre a prática organizacional 37
b) Aprender o conteúdo através da prática 24
c) Aprender como se faz um Projeto acadêmico 16
d) Trabalhar em grupo 11
e) Acompanhamento do Projeto por parte do professor e monitores 6
f) Adquirir responsabilidade para trabalhar sob pressão 4
g) Outros 1
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Novamente, pode-se observar que a maioria das respostas vai para os aspectos da
obtenção de conhecimento organizacional, com 37 %, e o aprendizado do conteúdo através da
prática, com 24 %. Esses resultados corroboram aquilo que foi discutido ao longo de todo este
trabalho: o aprendizado não pode distanciar a teoria da prática, mas sim tentar diminuir a
fronteira do que é ensinado com aquilo que é praticado (FRANCO; FEITOSA, 2006). Outro
fator expresso nestes dados é que o modelo tradicional de ensino, que apenas contempla as
aulas expositivas em sala de aula como momento único de aprendizagem e as provas como
sistema exclusivo avaliação, já não é mais suficiente, visto que os alunos acham positivo
aprender com a prática. Verifica-se um avanço, nos moldes defendidos por Freire (1996).
Com relação aos pontos fracos seguem abaixo os mais citados:

Tabela 8 – Pontos fracos do Projeto.

Pontos fracos (%)
a) Acompanhamento do Projeto por parte do professor e monitores 23
b) O Projeto é muito extenso 19
c) Falta de tempo para realizar o Projeto 18
d) Falta de experiência para realizar o Projeto 16
e) Conseguir acesso à empresa para realizar o Projeto 9
f) Dificuldade para trabalhar em grupo 9
g) Outros 5
Fonte: Pesquisa de campo (2008).

Na tabela, observa-se que o principal fator negativo indicado quanto ao Projeto é a

falta de acompanhamento por parte do professor e dos monitores. Para analisar este dado,
deve-se ponderar que, como ressaltado, os alunos estão acostumados a serem os agentes
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passivos do processo de aprendizagem. Porém, o Projeto Teórico-Prático busca torná-los

agentes ativos no processo de aprendizagem, desenvolvendo o questionamento reconstrutivo
sugerido por Demo (2007). Ademais, a complexidade do Projeto e as demandas daí
decorrentes tendem a gerar tensões. Neste sentido, os alunos criticam a extensão do Projeto e
a falta de tempo para realizá-lo. Porém, deve-se ter em mente que parte da idéia da realização
de um projeto científico é exatamente esta: levar os alunos a pensarem como administrar o
tempo para realizar a pesquisa, pois é o que se observa na realidade, a pressão por parte de
diversas instituições de ensino para que seus alunos produzam conhecimento científico
relevante, de forma contínua e com qualidade. No campo profissional, trata-se de tomar
decisões em um contexto de restrições, como ensina, por exemplo, o enfoque comportamental
da Teoria Geral da Administração.

7. Considerações finais
Considerando a importância da prática no processo de ensino-aprendizagem, como
forma de contrapor o modelo tradicional de ensino que se caracteriza por aulas expositivas,
principalmente no campo da Administração, dado o seu caráter aplicado enquanto ciência
social. A realização desta pesquisa mostrou-se bastante oportuna, pois enfatizou a importância
da práxis na formação discente e profissional.
Dentre os resultados obtidos, percebeu-se que a maioria dos alunos acredita que ao
realizarem o Projeto Teórico-Prático, conhecendo a vivência de uma organização, eles
conseguiram aprender além do conteúdo da disciplina. Também foi possível observar que,
dentre os pontos positivos do Projeto, o aprendizado sobre a prática organizacional foi o mais
citado, sendo considerado relevante aprender o conteúdo da disciplina através da prática.
Dentre os pontos negativos, os alunos ressaltaram a extensão do Projeto e o acompanhamento
dado pelo professor e monitores, o que, em certa medida, evidencia a resistência do alunado
de assumir postura ativa no seu aprendizado e de priorizar as atividades acadêmicas nesta sua
fase da vida.
Analisando a validade da hipótese da qual partiu a pesquisa, tem-se os seguintes
resultados: os alunos afirmaram que poucas, ou nenhuma outra disciplina, contribuíram tanto
quanto a do Projeto Teórico-Prático para a aquisição de conhecimentos empresariais; também
constatou-se que a maior parte dos alunos considerou como mais relevantes o aprendizado
metodológico da realização de um projeto científico; e que, em sua maioria, os alunos
acreditam que o Projeto Teórico-Prático foi relevante para a formação acadêmica deles. Com
estes resultados, pôde-se confirmar a hipótese de que o Projeto é muito relevante para a
formação dos alunos, que obtêm os conhecimentos teóricos, metodológicos e práticos de
maneira mais efetiva do que com a mera exposição da teoria em sala de aula-de-aula.
Esta pesquisa mostrou que deve se buscar formas alternativas de ensino que
complementem a abordagem expositiva da sala de aula-de-aula. Os estudos de caso realizados
pelos alunos, como base dos projetos, além de permitirem uma inserção no mundo
organizacional, revelando toda a complexidade da gestão, em vista à dinamicidade do
mercado, permitem um confronto entre teoria e prática, ao mesmo tempo que servem de
objeto de aprendizagem teórico-metodológico. Em síntese, a abordagem teórica-prática,
utilizada no Projeto, mostrou-se bastante relevante no campo da Administração enquanto
ciência social aplicada. Portanto, sugere-se que projetos de cunho prático sejam utilizados nas
demais disciplinas da área administrativa, visto que os resultados obtidos nesta pesquisa
podem ser alcançados em outras áreas do conhecimento, respeitando-se suas respectivas
particularidades.

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