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HISTÓRIA ANTIGA I

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

História Antiga I – Profª. Ms. Semíramis Corsi Silva

Olá! Meu nome é Semíramis Corsi Silva. Tenho Graduação e


Mestrado em História pela Unesp/Franca. Desde a Graduação,
desenvolvo pesquisas sobre a antiguidade clássica. Durante a
Graduação, pesquisei as representações de mulheres feiticeiras na
obra do poeta latino Horácio e, no Mestrado, estudei as relações
políticas em um processo de magia contra Apuleio, filósofo romano
do 2º século d.C. Acredito que a Educação a Distância proporciona ao
aluno a conquista de sua autonomia no processo de aprendizagem,
sendo uma forma de transmissão de conhecimento inovadora e de
extrema importância na atual sociedade da informação.
E-mail: semiramiscorsi@claretiano.edu.br

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Semíramis Corsi Silva

HISTÓRIA ANTIGA I

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Clare ana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

938 S578h

Silva, Semíramis Corsi


História antiga I / Semíramis Corsi Silva – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
196 p.

ISBN: 978-85-8377-064-0

1. Períodos da história da Grécia Antiga e a dinâmica de seus processos históricos


nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. 2. Análise de textos
historiográficos e trechos de documentos sobre o período. I. História antiga I.

CDD 938

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Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Mar ns
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 12

UNIDADE 1 PRINCÍPIO DO MUNDO GREGO: MICÊNICOS E MINOICOS


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 33
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 33
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 34
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 35
5 HERANÇA DOS POVOS GREGOS ...................................................................... 36
6 PERÍODOS DA HISTÓRIA GREGA ..................................................................... 42
7 GRÉCIA ANTES DOS GREGOS: POVOAMENTO DA HÉLADE ........................... 44
8 CIVILIZAÇÃO CRETO MICÊNICA ...................................................................... 46
9 CIVILIZAÇÃO CRETENSE OU MINOICA............................................................ 49
10 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DO POVO GREGO ....................... 52
11 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 55
12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 57
13 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 57
14 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 58
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 59

UNIDADE 2 GRÉCIA DESCRITA PELOS POEMAS DE HOMERO


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 61
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 61
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 62
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 63
5 ÉPOCA DE HOMERO E DE SUAS OBRAS .......................................................... 64
6 QUESTÃO HOMÉRICA ....................................................................................... 68
7 TEMAS DA ILÍADA E DA ODISSEIA ................................................................... 72
8 A GUERRA DE TROIA REALMENTE ACONTECEU? .......................................... 80
9 GRÉCIA DESCRITA POR HOMERO .................................................................... 81
10 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 88
11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 90
12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 91
13 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 92
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 93
UNIDADE 3 GRÉCIA ARCAICA: NASCIMENTO DA PÓLIS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 95
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 95
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 96
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 97
5 GRÉCIA ARCAICA .............................................................................................. 97
6 ESPARTA: UMA PÓLIS ESSENCIALMENTE OLIGÁRQUICA.............................. 105
7 ATENAS: UMA PÓLIS DEMOCRÁTICA .............................................................. 110
8 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 120
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 121
10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 122
11 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 122
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 123

UNIDADE 4 GRÉCIA CLÁSSICA: GUERRAS E DISPUTAS POR HEGEMONIA


NA HÉLADE
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 125
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 125
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 126
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 127
5 GUERRA ENTRE GREGOS E PERSAS ................................................................ 128
6 IMPERIALISMO ATENIENSE ............................................................................. 135
7 ATENAS NO SÉCULO DE PÉRICLES ................................................................... 137
8 GUERRA DO PELOPONESO .............................................................................. 139
9 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 141
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 142
11 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 143
12 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 143
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 144

UNIDADE 5 GRÉCIA NO PERÍODO HELENÍSTICO RELIGIOSIDADE


GREGA
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 145
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 145
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 146
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 147
5 PRIMEIRA PARTE: PERÍODO HELENÍSTICO ..................................................... 148
6 SEGUNDA PARTE: RELIGIOSIDADE GREGA ..................................................... 156
7 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 165
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 167
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 168
10 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 168
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 168

UNIDADE 6 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA GREGA


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 171
2 CONTEÚDO ....................................................................................................... 171
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 171
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 172
5 ASPECTOS DA ARTE GREGA ............................................................................. 173
6 FILOSOFIA ......................................................................................................... 184
7 GREGOS E HISTÓRIA......................................................................................... 186
8 ESTATUTO DA MULHER GREGA ....................................................................... 188
9 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 191
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 192
11 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE ....................................................................... 193
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 194
13 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 195
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 196
Claretiano - Centro Universitário
EAD
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Períodos da história da Grécia Antiga e a dinâmica de seus processos históricos
nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Análise de textos
historiográficos e trechos de documentos sobre o período.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Como você poderá observar, nesta parte, denominada Ca-
derno de Referência de Conteúdo, encontraremos o conteúdo bá-
sico das seis unidades em que se divide a presente estudo.
No decorrer das unidades, você ampliará seus conhecimen-
tos sobre os gregos antigos, compreendendo a problemática e as
tendências atuais da abordagem da história da Grécia Antiga.
O estudo da Grécia Antiga divide-se em períodos para uma
melhor compreensão didática do contexto. Assim, na Unidade 1,
estudaremos a formação do povo grego e a colonização da Grécia.
Como as origens da civilização grega estão profundamente relacio-
10 © História Antiga I

nadas à história da Ilha de Creta, veremos um pouco do desenvol-


vimento da história cretense e da civilização creto-micênica.
Na Unidade 2, estudaremos a importância dos poemas homéri-
cos para termos uma visão de períodos mais remotos da antiguidade
grega. Homero caracteriza-se como um personagem complexo da his-
tória dos gregos, e seus escritos tornaram-se referências importantes
para compreender esse contexto, uma vez que são as únicas fontes
escritas que possuímos a respeito desse período grego mais antigo.
A Unidade 3 apresentará a origem e o que o grego antigo
entendia como pólis/cidade-Estado e sua evolução. Destacaremos,
nessa unidade, a cultura das cidades de Esparta e Atenas, além de
importantes conceitos cunhados pelos gregos e ainda utilizados
em nossos dias, como, por exemplo, o conceito de "democracia" e
de "tirania". A análise de tais conceitos é fundamental para repen-
sarmos nossa realidade.
Estudaremos, na Unidade 4, o período chamado "clássico",
em que serão abordados temas como as Guerras Médicas, a guer-
ra pelo controle da Grécia, o imperialismo ateniense e o conhecido
"Século de Péricles". Será importante que você visualize melhor
algumas referências sobre a Grécia que, provavelmente, já até tra-
ga de leituras e informações anteriores, debatendo criticamente e
seguindo sugestões de filmografia e bibliografia que lhe fornecere-
mos, proporcionando-lhe prazer e conhecimento.
Na Unidade 5, entraremos no período helenístico, da con-
quista da Grécia por Alexandre Magno, bem como da formação
dos reinos helenísticos e sua evolução. Além disso, poderemos
compreender práticas de globalização étnica e cultural, repensan-
do nossa realidade multifacetada culturalmente e um pouco de
sua complexidade a partir de uma reflexão sobre a cultura helenís-
tica. Trabalharemos, ainda, com as características da religiosidade
grega, estudando o papel do pensamento mitológico nessa socie-
dade, seus cultos e deuses.
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Finalmente, na Unidade 6, serão analisados os aspectos im-


portantes da cultura desse povo, tais como sua visão sobre o que é
História, o papel desempenhado pelas mulheres em algumas pólis,
importantes filósofos e suas formas de pensar, a literatura grega, o
teatro, a música e as artes em geral.
A antiguidade clássica representa uma riqueza de incontes-
tável valor para a civilização ocidental, sendo seu estudo crucial
para a formação de uma cidadania crítica.
No final do estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo,
você estará apto, por exemplo, a analisar formas diferentes de pen-
sar, levantando questionamentos sobre política, educação etc. entre
os antigos gregos e refletindo sobre nossa atualidade. Você será ca-
paz não apenas de melhor se interrogar sobre formas de organiza-
ção social e de desenvolvimento, mas também de compreender que
cada cultura tem maneiras diferentes de ações e representações do
mundo social, que devem ser respeitadas e compreendidas.
Para fixar o conteúdo, cada unidade contará com atividades e algu-
mas interatividades, propostas exclusivamente para este estudo, a fim de
fomentar uma discussão maior entre você e seus colegas de curso.
Contudo, esteja consciente de que o bom desempenho depen-
derá de você. Por isso, é necessário que leia todo o material proposto
semanalmente e participe ativamente do Fórum, discutindo os con-
teúdos, gerando debates interessantes e enviando suas dúvidas.
Caso você tenha alguma noção sobre os gregos antigos, este
estudo será uma boa oportunidade para aprofundar ainda mais o
seu conhecimento, trocando ideias por meio da Sala de Aula Vir-
tual. Entretanto, se você não tem nenhuma noção, não se preocu-
pe, pois este material irá auxiliá-lo nessa descoberta.
Deixamos como mensagem inicial para você a seguinte fra-
se, de um dramaturgo grego do século 5º a.C.: "Um mau começo
leva a um mau final" (EURÍPEDES).
Bons estudos!

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12 © História Antiga I

Agradecimentos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Agradecemos aos colegas Gustavo Junqueira Duarte Oliveira, Antônio de Pádua
Pacheco, Carolina Damasceno Ramos, Lívia Alves Ricci e Danilo Lucas Marceli-
no pelos textos por eles elaborados, os quais compõem as leituras complemen-
tares das unidades.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Você está prestes a embarcar em uma viagem pela história
de uma civilização que começa a se moldar por volta do século 20
a.C.
Você já assistiu a peças de teatro? Nos jogos olímpicos, de
quatro em quatro anos, você acompanha os atletas? E de filosofia,
você gosta? Pois, então, é nesse cenário de teatro, olimpíadas e
muita filosofia que os gregos antigos se inserem.
Recebemos uma grande herança desse povo, e o fascínio
que a cultura grega exerceu sob o mundo se mantém intacto até
hoje, mesmo tendo se passado tantos séculos.
Os gregos dedicaram-se a indagar sobre o ser humano. Foi
ímpar a maneira pela qual eles perceberam os valores mais apu-
rados da alma humana, com variadas questões filosóficas sobre
sentimentos e uma busca apurada pela perfeição artística na re-
presentação do corpo humano. Veremos que tudo isso torna o es-
tudo sobre eles imprescindível.
O país que hoje constitui a Grécia está localizado na Europa.
A faixa de terra ocupada por povos de cultura grega estendeu-se
no passado pela área das atuais Península Balcânica, ilhas em tor-
no dessa península, partes da Jônia (que constituem hoje a região
da Turquia e seus arredores) e Magna Grécia (atual região do sul
da Itália).
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

As áreas ocupadas pelos gregos caracterizavam-se pela pro-


ximidade do mar. Todas ficavam, praticamente, a menos de 90km
do litoral.
Os gregos até hoje se chamam de "helenos", denominando
seu território de "Hélade" e dizendo serem descendentes de um
antepassado comum: Helém.
Para fins didáticos, os historiadores costumam dividir a his-
tória dos gregos da Antiguidade nos seguintes períodos:
1) Período Pré-helênico, civilização cretense (ou minoica).
2) Período Micênico ou Pré-homérico.
3) Período Homérico.
4) Período Arcaico.
5) Período Clássico.
6) Período Helenístico.
7) Período Greco-Romano.
Portanto, a história da Grécia Antiga divide-se em sete perío-
dos, anteriores à tomada da Grécia pelos romanos. Após as inva-
sões romanas, por volta do 1º século a.C., os gregos passam a fazer
parte do Império Romano.
O Caderno de Referência de Conteúdo História Antiga I abor-
dará a história dos gregos desde a civilização cretense, ou minoica,
até as invasões romanas. O período chamado de "Pré-helênico",
anterior à formação da civilização cretense, não será estudado, de-
vido à falta quase total de fontes documentais e por ser considera-
do um estágio pré-histórico.
Os gregos não deixaram de também receber influências de outros
povos e regiões. Assim, a história da Grécia começa na Ilha de Creta.
A Ilha de Creta é uma das maiores ilhas do Mar Mediterrâ-
neo e fica logo abaixo da Grécia Continental, constituindo-se, nos
tempos históricos e na atualidade, parte do mundo grego insular.
Foi nessa ilha que se desenvolveu uma das mais interessantes civi-
lizações antigas: a civilização cretense.

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14 © História Antiga I

Essa civilização se desenvolveu, mais ou menos, do século


20 a.C. ao 15 a.C., e a principal atividade dos cretenses era o co-
mércio, principalmente o comércio marítimo, devido à sua posição
privilegiada no mar.
Os cretenses eram povos festivos e considerados liberais
perto dos demais povos antigos, dando à mulher um lugar de des-
taque na sociedade.
Tratando-se de religião, sabemos que os cretenses eram po-
liteístas, isto é, tinham várias divindades, assim como os gregos
dos demais períodos históricos.
A religião cretense era baseada em cultos a divindades asso-
ciadas aos fenômenos da natureza. Os gregos dos períodos poste-
riores, porém, abandonaram essa religião ligada exclusivamente à
natureza e passaram a cultuar divindades que exerciam inúmeros
papéis, como deuses ligados aos sentimentos humanos, qualida-
des abstratas e, também, fenômenos naturais.
Os cretenses viviam dominados por reis, conhecidos como
"minos". É dessa denominação que surge o termo "civilização mi-
noica" para defini-los. Os minos viviam no Palácio de Cnossos, um
amplo complexo arquitetônico formado por labirintos.
Os labirintos do Palácio de Cnossos deram origem à lenda do
Minotauro, um monstro que os gregos diziam viver no palácio e que
teria sido morto por Teseu, herói grego da cidade de Esparta. Como
toda lenda nos transmite algo sobre a mentalidade do povo que a
criou, sendo totalmente passível de interpretação, a lenda do Mi-
notauro traz uma ideia sobre o que acabou acontecendo aos cre-
tenses, ou seja, eles foram dominados pelos gregos do continente.
Assim, o herói grego Teseu matando o monstro cretense Minotauro
simbolizaria a tomada de Creta pelos gregos do continente e o início
de um novo período histórico: o Período Micênico.
O Período Micênico é conhecido como um período de es-
plendor e domínio da cidade grega de Micenas sobre várias re-
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

giões vizinhas. É desse período de dominação da cidade de Mi-


cenas que temos as histórias da Guerra de Troia. Essa guerra tão
famosa nada mais foi do que uma tentativa de conquista da cidade
de Troia, localizada na atual região da Turquia, pela expansionista
cidade de Micenas.
Você já ouviu falar em "cavalo de troia"? E nas expressões
"homérico" e "calcanhar de aquiles"? Todas essas sentenças foram
cunhadas por meio das histórias sobre a Guerra de Troia, contadas
possivelmente por um poeta chamado Homero. Você entenderá
melhor o significado delas ao longo deste estudo.
Até hoje, a existência do poeta Homero é um pouco atribu-
lada, e mais de uma cidade disputa ser sua pátria. A importância
de Homero foi tão grandiosa que o período que ele descreve, o
Micênico, é conhecido, também, como "Período Pré-homérico", e
o posterior, em que ele viveu, é chamado de "Período Homérico".
Provavelmente, Homero foi autor de dois livros de poemas: a Ilía-
da e a Odisseia.
Muitos estudiosos acreditam que esses dois livros são obras
de poetas diferentes; outros ainda acreditam que ambos são de
autoria do mesmo poeta, e talvez Homero – nome pelo qual os
próprios gregos denominavam o autor dessas importantes obras.
Há também aqueles estudiosos que até acreditam serem a Ilía-
da e a Odisseia obras de um mesmo autor, mas não descartam a
hipótese de elas terem recebido elementos de outros contextos
históricos conforme eram reescritas.
Não devemos nos esquecer de que, na época dos gregos,
não havia gráficas como atualmente, e as obras eram copiadas à
mão por estenógrafos especializados. Esses estenógrafos muitas
vezes modificavam textos e acrescentavam elementos diferentes,
próprios do seu cotidiano. Assim, o texto foi sendo modificado
com o tempo.
Na Ilíada, Homero conta a história da Guerra de Troia, entre
gregos e troianos, e a fúria do mais brilhante herói grego: Aquiles.

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16 © História Antiga I

Na Odisseia, Homero relata-nos a volta de outro importante herói


grego, Odisseu (ou Ulisses), para sua pátria, cuja viagem demora
dez anos.
Uma das variadas lendas da Odisseia é a história de Pené-
lope, a esposa de Ulisses, que espera, pacientemente, a volta do
marido por dez anos. Enquanto ela esperava, vários homens de-
sejavam se casar com a moça, que, porém, dizia que só se casaria
depois de fiar um longo manto. Acontece que, à noite, Penélope
desmanchava tudo o que tinha feito pela manhã. Esse relato de
cunho mitológico também nos demonstra algo importante e que
diz respeito à mulher aristocrata grega. Ele trata da condição de
subserviência das ricas gregas aos seus maridos e sua função qua-
se totalmente voltada para o casamento. Penélope precisava se
casar novamente; como mulher aristocrata, ela precisava manter
sua função de esposa e mãe, mas permanece fiel ao marido, que
era dado como morto.
Vale ressaltar que Penélope era uma jovem aristocrata, es-
posa de um guerreiro grego. Para a guerra, só iam homens da aris-
tocracia, aqueles que tinham condições de se armar e que enri-
queciam ainda mais com os despojos das conquistas. A sociedade
descrita por Homero é uma sociedade guerreira por excelência.
Tanto a Ilíada quanto a Odisseia são epopeias, versos que
cantam feitos de grandes heróis. Para nós, os dois mais importan-
tes autores de epopeias foram Homero e Hesíodo, outro poeta
grego. Muitas obras de autoria desconhecida, como, por exemplo,
os Hinos Homéricos, foram atribuídas, na Antiguidade, a Homero,
dado o seu prestígio. O mesmo se deu com Hesíodo, a quem foi
atribuído o Catálogo das Mulheres.
Voltando à contextualização histórica, vimos que, no período
cantado por Homero em seus versos, a cidade de Micenas domina-
va parte da Grécia Continental e as ilhas do Mar Egeu. Mas Mice-
nas não pôde cantar vitória por muito tempo, pois logo vieram os
povos dórios e invadiram a Grécia. Os dórios conheciam a arte do
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

ferro, a qual nem os cretenses nem os micênicos conheciam, o que


facilitou sua invasão à Grécia.
Após a invasão dos dórios, os gregos iniciam o Período Ho-
mérico, que dura, mais ou menos, do século 12 a.C. ao 8º a.C.
Nesse momento, temos a constituição de pequenas comuni-
dades familiares formadas por fortes laços de solidariedade: eram
os oikos. À medida que esses oikos vão crescendo, temos a cons-
tituição da cidade: a pólis, para os gregos, ou as póleis, no plural.
No momento em que a Grécia passa a ser constituída pelas
póleis, temos outro período histórico: o Período Arcaico, que se
estende do século 8º a.C. ao 5º a.C.
As póleis eram cidades-Estado, ou seja, cada uma tinha sua
total independência política em relação a outra. Esse fato, aliás, é
curioso na história da Grécia, pois, embora tenham existido perío-
dos em que algumas cidades tentaram dominar as demais, jamais
houve uma união político-administrativa dos povos gregos. O que
fazia um homem da cidade grega de Corinto se identificar com ou-
tro da ilha grega de Rodes era justamente a cultura em comum:
língua, aspectos religiosos, maneira de se vestir etc.
Portanto, cada pólis desenvolveu seu próprio sistema de go-
verno, suas leis, seu calendário, sua moeda.
Duas póleis destacaram-se dentre as demais: Esparta e Ate-
nas. Em Esparta, o poder permanceu sempre nas mãos dos ricos
proprietários de terras; já em Atenas, devido ao enriquecimento
de alguns homens com o comércio e as lutas por poder político, a
pólis evoluiu para uma forma democrática de governo.
Assim, as duas maiores cidades-Estado, Esparta e Atenas,
representavam o tipo clássico de cidade: Esparta era uma pólis
oligárquica, ou seja, um governo de poucos, e Atenas, uma pólis
democrática, ou seja, um governo do povo.

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18 © História Antiga I

Um florescimento cultural intenso acompanhou a prospe-


ridade das póleis. Para citarmos apenas os exemplos mais signi-
ficativos como pan-helênicos, temos as estátuas de divindades e
os templos monumentais em pedra para abrigá-las; os vasos de
figuras negras e de figuras vermelhas; a poesia lírica; a filosofia
pré-socrática etc.
No final do período, porém, uma guerra entre as cidades
gregas independentes e o poderoso Império Persa iria mudar para
sempre a evolução política e cultural do mundo grego. As guerras
entre persas e gregos ficaram conhecidas como Guerras Médicas e
foram ocasionadas pelo desejo de expansão do povo persa.
Embora os gregos tenham conseguido expulsar os persas de
seu território, em uma formação militar poderosa de cidades-Es-
tado, desde então, a história grega toma novos rumos, que acaba-
ram culminando com o próprio fim da pólis.
Em busca de poder sobre a Hélade e preparadas militarmen-
te, as cidades-Estado gregas começam a guerrear no século 5º a.C.,
o que ocasiona uma verdadeira destruição da Grécia. As batalhas
entre cidades gregas são conhecidas como Guerra do Peloponeso.
Esse período de guerras e disputas entre as próprias póleis
ficou conhecido como Período Clássico. Na história grega, esse pe-
ríodo, que data do século 5º a.C. ao 4º a.C., é chamado "Clássico"
por ser considerado o auge da arte e do desenvolvimento intelec-
tual.
Os templos tomaram dimensões monumentais. O planeja-
mento racional das cidades, que chamamos atualmente de "ur-
banismo", tornou-se comum. Do final do Período Clássico, datam
numerosos edifícios, teatros, monumentos e mausoléus. As for-
mas das esculturas tornaram-se muito mais próximas da realida-
de, fazendo que os gregos conseguissem atingir cada vez mais o
princípio da verossimilhança, busca da verdade e realismo, que
tanto almejavam para sua arte (PORTAL GRAECIA ANTIQUA, 2011).
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Era muito comum que os gregos representassem atletas


masculinos nus em diferentes posturas. Em suas esculturas, po-
demos perceber notadamente o princípio de verossimilhança e
a apurada técnica de esculpir perfeitamente o corpo humano. A
imagem de um doríforo, um atleta nu usando uma lança na mão,
e a de um discóbolo, um atleta olímpico arremessando um disco,
tornaram-se muito populares entre os patrícios romanos, sendo
vastamente reproduzidas em Roma.
Entretanto, apesar de todo esplendor artístico do Período
Clássico, as póleis se enfraqueceram com as guerras internas e de-
ram brechas para serem conquistadas por um povo do norte, que
os próprios gregos consideravam inferiores: os macedônios.
Com a conquista da Grécia pelos macedônios, acaba-se o
sistema de independência das póleis e inicia-se um novo período
da história da Grécia: o Período Helenístico. A partir de então, a
Grécia vai fazer parte dos reinos helenísticos.
O rei macedônico que conquistou a Grécia em 338 a.C. foi
Felipe da Macedônia. Após a morte de Felipe, o filho Alexandre
sucede-o e inicia um antigo projeto do pai: conquistar, também,
as regiões do Oriente. Devido ao vasto território conquistado por
Alexandre, este ficou conhecido como Alexandre, o Grande.
Da união de elementos da cultura oriental com a cultura gre-
ga, vemos surgir, nesse momento, a cultura helenística, com traços
artísticos de movimento e rebuscamento.
Os reinos helenísticos durariam desde a sua formação, no
século 4º a.C., até a conquista da Grécia pelos romanos.
Quando os romanos conquistaram a Grécia, eles se mostra-
ram muito interessados por sua cultura e passaram a incorporar
valores gregos na educação de seus jovens, nas suas artes e, até
mesmo, em sua política. Admirados com a beleza da cultura grega,
um poeta romano chamado Horácio chegou a esclamar: "E os ven-
cedores se renderam aos vencidos".

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20 © História Antiga I

Mas essa é uma outra história, que veremos no decorrer


deste curso de graduação, no Caderno de Referência de Conteúdo
História Antiga II.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais sobre o período aqui abor-
dado, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos acadêmicos
e técnico-científicos utilizados nesta área de conhecimento. Por-
tanto, veja, a seguir, a definição dos principais conceitos de Histó-
ria Antiga I:
1) As Troianas: em As troianas, peça escrita em 415 a.C.,
Eurípides relata o final da Guerra de Troia, quando vá-
rios homens troianos são mortos pelos gregos, restando
apenas mulheres. O autor relata a guerra e a desuma-
nidade que via nos gregos sob o olhar dessas mulheres.
Ele é considerado o dramaturgo grego que mais tratou
de temas sobre o universo feminino. Além dessa peça,
escreveu Medeia, Helena, Andrômaca, Hécuba, Electra,
entre outras.
2) Acrópole: Grande colina ateniense, é onde se localiza-
vam algumas das mais famosas edificações do mundo
grego antigo, como o Partenon. Na época clássica era o
ponto central de discussões de ordem financeira.
3) Afresco: nome dado às pinturas feitas em paredes tendo
como base o gesso ou a argamassa.
4) Anacronismo: nesse caso, pode ser um erro de cronolo-
gia, mas anacronismo histórico vai além, pois significa
falar de um passado utilizando ideias relativas ao pre-
sente ou tentar usar conceitos de uma época para cená-
rios e tempos totalmente distintos.
5) Aristocracia: de acordo com José Moura (2000), há uma
diferença entre os termos aristocracia e oligarquia. O
termo "aristocracia" está ligado à ideia de nobreza de
sangue, enquanto o termo "oligarquia" seria uma mes-
ma nobreza, mas conceituada a partir de uma diferen-
ciação em relação ao estilo de vida do restante da po-
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

pulação, não tendo, assim, uma definição relacionada


diretamente às ligações consanguíneas que uniam a ca-
mada superior das sociedades.
6) Autóctone: quando falamos que um povo é autóctone
de uma região, estamos querendo dizer que ele é natural
dela, proveniente de etnias que ali sempre habitaram.
7) Batalha de Salamina: batalha naval ocorrida em 480
a.C., que encerra as chamadas "Guerras Médicas", sen-
do neste local, uma ilha ao sudoeste da Ática, que os
gregos derrotaram as forças persas sob o comando do
General Xerxes. O importante escritor grego de tragé-
dias, Eurípides, nasceu em Salamina (HARVEY, 1998).
8) Bélico: termo referente à guerra.
9) Censitário: dividido conforme contagem da população,
de acordo com sua riqueza.
10) Crescente Fértil: a região do Crescente Fértil compreen-
de uma longa faixa de terra localizada nas antigas regiões
da Mesopotâmia (atual Iraque) e, também, em partes,
dos atuais estados da Síria, Israel, Cisjordânia, Líbano
e Egito. Essa região é regada por importantes rios, tais
como o Tigre, o Eufrates e o Nilo. Esses rios condiciona-
vam a vida do oriental antigo, e foram às margens deles
que o homem iniciou seu processo de sedentarização e o
desenvolvimento das práticas de agricultura. "Crescente
Fértil" é uma denominação dada a essa faixa de terra em
virtude da formação aparente do desenho de uma lua,
em seu estágio quarto crescente, no mapa dessa região.
11) Diáspora: dispersão.
12) Dogma: fato indiscutível, ponto de fé, doutrina inques-
tionável, verdade revelada por Deus que não pode ser
revogável, como, por exemplo, a virgindade de Maria, a
existência da Santíssima Trindade etc.
13) Drácon: foi um arconte aristocrata e recebeu poderes
para criar leis que mudassem a estrutura de Atenas, ali-
viando as tensões sociais.
14) Efígie: representação de uma pessoa, figura ou imagem.
15) Eneida: obra escrita no 1º século a.C. que narra a histó-
ria do herói da Guerra de Troia, Eneias, que, após essa

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22 © História Antiga I

guerra, teria viajado para a Península Itálica e fundado


Alba Longa, cidade onde nasceriam os gêmeos Rômulo
e Remo, fundadores de Roma. Essa obra, escrita a pedi-
do do Imperador Augusto, tem sido interpretada pelos
estudiosos como uma forma de Virgílio, seu autor, dar
a conotação de que a cidade de Roma teria sido funda-
da por herdeiros de um importante herói da Guerra de
Troia. Além disso, a ideia de contar a aventura transmi-
tida na Eneida (a saga do herói Eneias) é muito parecida
com a da Odisseia (a saga do herói Odisseu).
16) Epopeia: poema que narra ações grandiosas, feitos de
um grande herói ou grupo de heróis. É o caso, também,
da obra Os Lusíadas, de Luís de Camões, um importante
poeta da língua portuguesa. As epopeias clássicas são de
importância relevante para o conhecimento da trajetó-
ria histórica dos povos retratados, bem como dos valo-
res sociais, éticos e políticos da humanidade.
17) Escravidão: a escravidão na Antiguidade foi muito dife-
rente da escravidão praticada no Brasil com os negros
africanos. Como você verá com mais detalhes ao longo
deste Caderno de Referência de Conteúdo, o escravo gre-
co-romano era um prisioneiro de guerra ou um homem
endividado, e não um homem capturado de sua região à
força, sem motivos de guerra, e comercializado em ter-
ras estrangeiras, rendendo altos valores monetários pela
sua comercialização. Finley (1989) atenta para o fato de
que o termo "escravo" (sklave, esclave, schiavo), origina-
do na Idade Média para designar, a princípio, os cativos
da guerra eslava na Europa Oriental, é transferido para a
Antiguidade de maneira anacrônica, sendo o "escravo"
antigo um tipo social bem diferente deste na Idade Mé-
dia, quando surgiu o termo, e da colonização americana.
Contudo, diante de discussões em abandonar o uso do
termo "escravo" para o Mundo Antigo, os historiadores,
em maioria, opuseram-se e continuaram usando-o. Finley
ainda sugeriu o uso da palavra grega doulos e do substan-
tivo abstrato douleia, mas ele mesmo acreditou ser isso
uma grande pretensão.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

18) Escrita dos egípcios: "A escrita egípcia nos fornece im-
portantes informações sobre esse povo antigo. No An-
tigo Egito, desenvolveu-se inicialmente uma escrita
ideográfica (representada por sinais que representavam
objetos) e pictórica ou figurativa (uso de desenhos varia-
dos para representar um objeto que pretendessem dei-
xar escrito). Posteriormente, foram criados sinais fonéti-
cos, ou seja, sons que combinados criavam sinais que os
representavam. O egípcio desenvolveu, a partir de en-
tão, três tipos de escrita: hieroglífica (escrita semelhante
a dos povos árabes e judeus, caracteriza-se apenas pelo
uso de sons consonantais), demótica (escrita um pouco
mais popular) e hierática (forma cursiva do sistema de
hieroglífico, mais utilizada em textos religiosos). Os tex-
tos egípcios eram escritos em papiros, em pedras, em
tecidos e em paredes" (FERREIRA, 1992, p. 45-47).
19) Escrita silábica: "Na escrita silábica cada letra ou sinal
corresponde por norma a uma sílaba diferente em uma
combinação entre sons parecidos com o que seria para
nós a combinação de uma consoante + uma vogal, origi-
nando o sinal, ou, como conhecido por nós: a sílaba. Em
escavações na Ilha de Creta, também foram encontrados
sinais da existência de uma escrita de imagens que pare-
ce ter existido anterior ao Linear A" (FINLEY, 1968, p. 28).
20) Especiarias: condimentos e substâncias aromáticas pro-
duzidos desde a Antiguidade, especialmente no Oriente.
21) Estado-ethno: território ocupado em extensão muito
maior do que todas as póleis juntas, onde viviam popu-
lações sem um centro urbano, espalhadas em numero-
sas aldeias de extensão razoavelmente grande e de laços
políticos e união muito estritos.
22) Eurocêntrico: ter uma visão eurocêntrica significa basear-
-se no estudo apenas de traços europeus na história, ou
seja, é colocar a cultura europeia e ocidental no centro da
análise. Diz-se que estamos tendo uma visão eurocêntrica
da história do Brasil quando estudamos apenas a cultu-
ra dos colonizadores europeus, e não a dos índios ou ne-
gros, por exemplo. No caso da história grega, ter uma vi-
são eurocêntrica significa enfatizar apenas elementos do

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24 © História Antiga I

seu passado que apresentam traços na cultura europeia e


ocidental modernas, deixando de lado características do
passado grego mais ligadas à cultura oriental.
23) Expansionista: denomina-se um povo de "expansionis-
ta" quando este possui um sistema de conquistas e ex-
pansão de territórios.
24) Gerontes: termo grego que deu origem as palavras "ge-
riatria" e "geriátrico"; refere-se a pessoas idosas. Perce-
ba como muitas palavras de uso no Português atual têm
origens em termos gregos.
25) Gineceu: quarto feminino na Grécia Antiga.
26) Halicarnasso: cidade da Jônia, de origem dória, assim
como Esparta.
27) Héracles: "Héracles para os gregos e Hércules para os
romanos, famoso herói grego, importante por sua força.
Seu feito mais notável foi a execução dos Doze trabalhos,
pagamento por ter matado uma mulher e seus filhos"
(HARVEY, 1998, p. 264).
28) História de Heródoto: obra composta entre 450 a.C. e
430 a.C. que conta desde a formação do Império Per-
sa até a vitória grega contra esse povo. Está dividida em
nove livros, conforme as nove musas gregas (Calíope –
eloquência; Clio – história; Erato – poesia amorosa; Eu-
terpe – música; Melpômene – tragédia; Polínia – poesia
lírica; Terpsícore – dança; Talia – comédia; e Urânia – as-
tronomia). A obra é cheia de digressões, lendas e ane-
dotas. Em Português, há traduções de boa qualidade,
como a brasileira feita por Mário da Gama Cury (Editora
da UNB) e a portuguesa das Edições 70, ambas traduzi-
das a partir do original grego. Vale a pena conferir, pelo
menos, parte dessa obra.
29) Historiografia: é o estudo histórico e crítico acerca da
História ou dos historiadores.
30) Hitita: os hititas são um povo de origem indo-europeia
que fundou, por volta do século 2º a.C., um importante
império na Península da Anatólia (atual Turquia Central).
Desempenharam papel relativamente breve na história
mundial, mas legaram-nos importantes e interessantes
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

documentos, como os mais antigos escritos em lingua-


gem indo-europeia, embora saibamos muito pouco so-
bre esse povo. A passagem mais importante da história
hitita parece ter sido uma batalha contra os egípcios,
atestada pelos próprios papiros egípcios, que destaca-
vam a força de guerra dos inimigos. A batalha acabou
com a vitória dos hititas, mas o domínio dos vencedores
teve curta duração.
31) Imbricar: dispor coisas de maneira que só em partes se
sobreponham umas às outras, como as telhas do telha-
do ou as escamas de um peixe.
32) Jasão: príncipe da região da Tessália. Foi o comandante
da missão dos argonautas à Cólquida, em busca do To-
são de Ouro (pele de um animal feita de ouro). Conse-
gue o Tosão e foge com a ajuda de Medeia, feiticeira e
filha do rei da Cólquida.
33) Jogos olímpicos: evento desportivo que acontece até os
dias atuais, de quatro em quatro anos. Os jogos olímpi-
cos tiveram início na Grécia Antiga e eram uma espécie de
homenagem aos deuses e de culto à beleza e à vitalidade.
As olimpíadas recebem esse nome porque a principal ci-
dade grega a realizar jogos grandiosos era Olímpia, onde
se reuniam todos os helenos do sexo masculino para as
competições. Porém, em outras cidades, também acon-
teciam jogos pan-helênicos de grande prestígio, sendo os
Jogos de Olímpio os de maior importância.
34) Lacedemônios: era o nome pelo qual também eram co-
nhecidos os moradores de Esparta.
35) Laconismo: é o nome dado para um aspecto importante
da cultura espartana: o fechamento da cidade ao desen-
volvimento do espírito crítico, às artes, às novidades, às
transformações e aos estudos de humanidades. Os es-
partanos adotaram costumes rígidos e uma disciplina
atroz para as atividades físicas.
36) Libação: ato de derramar mel, vinho, água, leite ou ou-
tro líquido em honra a uma divindade, muito comum
nos rituais gregos.
37) Lira: instrumento musical de cordas do gênero da harpa.

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26 © História Antiga I

38) Mistoforia: remuneração em dinheiro paga pelo Estado


de Atenas ao cidadão que participasse do exército e das
funções públicas.
39) Mito de Medeia: Medeia é a mãe que mata seus filhos
em vingança ao marido, cortando sua própria função:
procriar. É um mito moral, pois quer mostrar às mulhe-
res o que lhes é proibido.
40) Mito de Orfeu e Eurídice: esse mito nos conta sobre o mú-
sico Orfeu, que, muito triste com a morte de sua amada,
Eurídice, vai até o subterrâneo em busca dela. O deus Ha-
des encanta-se com a música de Orfeu e deixa que Eurídice
volte à Terra, mas pede para que ela vá atrás e que Orfeu
não olhe para trás. Orfeu, porém, sem confiar que Eurídice
vem atrás, olha, e ela se transforma em pedra. Esse mito
nos fala da confiança em seguir nosso caminho acreditan-
do que quem nos ama está sempre atrás de nós e que não
devemos cobrar nem olhar em busca da pessoa.
41) Ode: poema de louvor para ser cantado.
42) Origem ariana: designação do povo que tem suas ori-
gens étnicas nos antigos habitantes das altas estepes do
centro da Ásia.
43) Ostracismo: ainda hoje, o termo "ostracismo" é usado
para definir uma pessoa que está isolada de seu grupo.
44) Pagão: termo que se refere às diversas formas de reli-
giosidade que têm como lugar comum o encontro com o
divino por meio da natureza.
45) Papiro: planta muito comum no Egito e utilizada na fa-
bricação de papel.
46) Parthenon: significa "das virgens", e o nome está rela-
cionado às estátuas de jovens moças que ficavam em
uma das salas.
47) Póleis: é o plural de pólis.
48) Protótipo: modelo, tipo exemplar.
49) Retórica: arte da boa oratória e da persuasão, muito di-
fundida e admirada entre os gregos, especialmente no
século 5º a.C., tempo de auge dos oradores e filósofos
gregos.
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

50) Sofistas: jovens aristocratas que desejavam o saber. Dei-


xando de lado os questionamentos físicos e matemáti-
cos dos filósofos jônios, buscaram compreensões sobre
o homem, seu destino e os problemas da vida do ser
humano.
51) Tebas: além da cidade-Estado grega de Tebas, existiu, no
Egito, uma cidade com o mesmo nome, que se localizava
próxima à atual cidade de Luxor e que se tornou a capital
do Egito Faraônico durante o Novo Império (1580-525
a.C.).
52) Ulisses: obra publicada em 1922 por James Joyce, é cons-
tantemente remetida à Odisseia de Homero e tida como
uma das melhores sondagens da consciência humana da
literatura universal. A comparação advém do fato de a
Odisseia de Homero tratar das andanças do herói Ulisses
até o retorno de onde partiu, mostrando a vida como uma
andança em busca de casa e do encontro de si mesmo,
enquanto, em Ulisses, de Joyce, o protagonista Leopold
Bloom, em um único dia, vive uma verdadeira "odisseia"
(palavra que virou sinônimo de aventura grandiosa), em
uma busca simbólica por seu filho. O livro também conta
o mesmo dia na vida de Stephan Dedalus e sua dedica-
ção ao ato de escrever. O clímax dá-se com o encontro
dos dois personagens. Ulisses é um grande clássico, po-
rém considerado difícil de ser lido. Sua leitura vale a pena,
nem que seja como um "projeto" para a vida toda.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteú-
do. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de
conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício
é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican-
do as informações a partir de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-

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28 © História Antiga I

tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais


complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se
que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-
mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-
to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos
significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do


site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2011).

Grécia Antiga

Período creto- Período Homérico Período Arcaico Período Clássico


micênico

Reinos creto- Oikos Formação e Auge das póleis e


micênicos estruturação das disputas por
póleis hegemonia na Hélade

Invasões dos povos


macedônicos

Desestruturação das
póleis

Período Helenístico

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo História


Antiga I.

Como você pode observar, esse esquema dá a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre
um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu
processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, os conceitos "la-
cedemônio" e "laconismo" implicam conhecer outra denominação
e uma das características fundamentais da cultura do povo lace-
demônio, ou espartano; também, sem o domínio conceitual ex-
plicitado pelo esquema, pode-se ter uma visão confusa sobre a

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30 © História Antiga I

localização e a formação da pólis de Esparta, pólis fundamental de


ser compreendida e estudada em História Antiga I.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como re-
lacioná-las com a prática do ensino de História pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de
questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se
por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.
© Caderno de Referência de Conteúdo 31

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos deste Caderno de Referência de Conteúdo, pois relacionar
aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma
boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-

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32 © História Antiga I

rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-


ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.
EAD
Princípio do Mundo
Grego: Micênicos e
Minoicos
1
Somos amantes da beleza sem extravagância e
amantes da sabedoria (TUCÍDIDES, HISTORIADOR
GREGO).

1. OBJETIVOS
• Reconhecer e interpretar os conceitos introdutórios rela-
cionados à história da Grécia Antiga.
• Apontar a divisão em períodos da história grega.
• Identificar as primeiras colonizações do território grego.
• Analisar a cultura da Ilha de Creta (civilização minoica).
• Interpretar a formação da civilização creto-micênica (Pe-
ríodo Pré-homérico).

2. CONTEÚDOS
• Introdução à história da Grécia e o povoamento da Hélade.
• Primeiros tempos da Grécia Antiga: a civilização cretense
e a civilização creto-micênica.
34 © História Antiga I

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Ao iniciar seus estudos em História Antiga I, é importante
considerar as seguintes técnicas, que poderão potencializar sua
aprendizagem:
1) Tenha sempre à mão o significado dos termos explicita-
dos no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Es-
quema dos Conceitos-chave para o estudo de não ape-
nas esta, mas todas as unidades deste CRC. Isso poderá
facilitar sua aprendizagem e seu desempenho.
2) Ao ler os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), algo
que não deve ser uma obrigação a você, e, sim, uma ma-
neira de "estar por dentro" do que acontece com a edu-
cação em nossas escolas, procure descobrir quais são as
propostas essenciais contempladas neles.
3) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material
didático e discuta a unidade com seus colegas de curso
e com o tutor.
4) Para que você obtenha sucesso em seus estudos, é ne-
cessário estabelecer um horário e um lugar fixo para
realizá-los. Além disso, procure ter à mão todos os re-
cursos e materiais de que irá precisar. Vale ressaltar que
a sua participação facilitará a sua compreensão, atenção
e concentração.
5) Para enriquecer os seus estudos sobre a antiguidade
clássica e a arqueologia no Brasil, sugerimos a leitura do
texto de um dos mais renomados historiadores brasilei-
ros, o Prof. Dr. Pedro Paulo Funari, da Universidade de
Campinas (Unicamp). O texto, intitulado A arqueologia
clássica e a construção da Antiguidade, encontra-se dis-
ponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/ma-
teria.cfm?tb=artigos&ID=17>. Acesso em: 21 mar. 2011.
6) Antes de iniciar a leitura desta unidade, é interessante
conhecer um pouco da biografia dos pensadores cujas
ideias norteiam o estudo deste Caderno de Referência
de Conteúdo. Acompanhe:

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© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 35

Moses Israel Finley


Moses Israel Finley foi um importante estudioso da cul-
tura grega – portanto, um helenista, como são chama-
dos esses especialistas. Historiador, nasceu em Nova
York, em 1912, e morreu em Londres, em 1986. Finley
trabalhava muito em suas interpretações com um viés
político para a análise da história dos helenos, embora
tivesse especial apreço pela História Econômica. Suas
contribuições para a História Antiga são muito amplas,
e ele teve várias de suas obras traduzidas no Brasil
(imagem disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/arquivos/M-Finley.
jpg>. Acesso em: 3 ago. 2008).

Jean-Pierre Vernant
O historiador e antropólogo Vernant nasceu em 1914,
na França, e morreu em 2007. Foi um importante es-
tudioso dos mitos gregos, autor de vários livros que
são referências no estudo da Grécia Antiga e profes-
sor honorário do Collège de France (imagem disponí-
vel em: <http://www.danielriot.com/media/00/02/318d
3d8a9208cc44485bf88824864f94.jpg>. Acesso em: 2
ago. 2008).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Estamos iniciando os estudos do Caderno de Referência de
Conteúdo História Antiga I. Nesta unidade, iremos conhecer a his-
tória da Grécia Antiga.
A cultura do povo grego foi uma das mais estudadas no pe-
ríodo conhecido como "Idade Antiga", exercendo grande influên-
cia sobre outras culturas e atraindo olhares de admiração de artis-
tas e intelectuais de todas as épocas.
Grandes obras que influenciaram o pensamento e a visão
de mundo do homem moderno e contemporâneo têm suas raízes
nessa cultura, repleta de mitologia, de grandes pensadores e de
inovações culturais e sociais.
Para entender toda essa efervescência humana, é necessário es-
tudar a história, bem como a realidade política, social, cultural e econô-

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36 © História Antiga I

mica vivida pelos sujeitos históricos. Só dessa forma vamos compreen-


der seus atos e construir uma visão sólida e crítica de sua cultura.
Começaremos, então, por uma visão geral daquilo que foi a
antiga sociedade grega e, em seguida, buscaremos suas origens,
por meio do estudo das civilizações dos micênicos e minoicos.
Certamente entraremos em contato com mitos, inovações
no modo de viver humano, conflitos e pensamentos que marca-
ram definitivamente nossa história.
Bom estudo!

5. HERANÇA DOS POVOS GREGOS


A história dos antigos gregos e, também, dos romanos e seu
vasto império é denominada de "antiguidade clássica". Mas você
sabe quando e por que ela recebeu essa denominação?
A antiguidade greco-romana recebeu o nome de antiguida-
de clássica durante o período do "Renascimento" cultural (século
16), quando os artistas e intelectuais renascentistas buscavam se
inspirar na cultura desse passado que eles consideravam brilhante
e, portanto, um modelo a ser seguido: um clássico.
Note que colocamos o termo "Renascimento" entre aspas.
Como você perceberá ao estudar as disciplinas História Medie-
val e História Moderna, há um debate sobre o uso desse termo,
uma vez que ele denota certa superioridade da cultura da época
greco-romana e do século 16 em detrimento da cultura medieval.
Superioridade cultural é uma questão muito discutida, pois não
podemos considerar uma cultura superior a nenhuma outra, mas,
sim, diferente, como veremos ainda nos estudos do mundo grego.
E por que esses artistas e intelectuais renascentistas se sen-
tiram tão atraídos pela Grécia Antiga? Entre outros aspectos que
estudaremos nas próximas unidades, foi pela herança deixada por
ela para a nossa civilização ocidental, o que encerra:
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 37

1) a concepção de cosmos como um mundo ordenado e


com o homem ao seu centro;
2) o pensamento racional e sistematizado;
3) a concepção de cidade e de política;
4) o modelo artístico harmonioso e equilibrado.
Mas quem foram os gregos dos quais tanto se fala e tanto se
admira? Quando e onde se desenvolveram?
Os gregos não davam a si mesmos esse nome. Tal nomen-
clatura foi usada pelos romanos para definir todos os povos de
língua grega. No entanto, como estudantes de História, devemos
ter consciência de que o próprio uso do termo "grego" pressupõe
certas generalizações, pois, como indica Finley (1989), o mesmo
termo "grego" usado para se referir ao passado da civilização gre-
ga é ainda usado para referir-se a um grego contemporâneo. Além
disso, há aspectos culturais que fazem que os povos da região de-
nominada de "Grécia Antiga" fossem caracterizados como gregos,
mas há, também, diferenciações que mereceriam certo destaque
entre regiões diferentes dentro do território da Grécia Antiga.
Os antigos gregos chamavam seu território de Hélade, onde
viviam os helenos. A história dos antigos gregos, ou helenos, como
então ficaram conhecidos os povos da região da Antiga Grécia, de-
senvolveu-se entre 2000 a.C. e 146 a.C. (quando a Grécia foi ocu-
pada pela expansão imperialista romana e estudamos sua história
conjuntamente com a dos romanos). Mas o período denominado
"Clássico" compreende apenas os séculos 5º a.C. e 4º a.C.
A região ocupada originalmente por esse povo foi a Penínsu-
la Balcânica (Grécia Continental), mas eles se expandiram e ocupa-
ram algumas ilhas do Mar Egeu e do Mar Mediterrâneo e Jônico
(Grécia Insular) e o litoral da Ásia Menor, a antiga Jônia e atual
região da Turquia (Grécia Asiática).
O sul da Itália foi ocupado por povos gregos por meio da
fundação de colônias. Essa região ficou conhecida como "Magna
Grécia".
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38 © História Antiga I

A região continental do mundo grego tem o solo árido e


pedregoso. O relevo é montanhoso, visto que 80% do território
é coberto por cadeias de montanhas, entremeado por pequenas
planícies férteis isoladas umas das outras.
Sendo essa região formada quase que totalmente por mon-
tanhas, a prática da agricultura foi dificultada e impulsionou os
gregos a habitarem regiões diferentes, como foi o caso da colo-
nização na Magna Grécia. O litoral é extenso e recortado, o que
possibilitou a navegação, a comunicação pelo mar e o comércio
marítimo. Há bons portos e diversas ilhas muito próximas umas
das outras.
Cumpre destacarmos que a influência da cultura grega na
Península Itálica se estendeu para além dos limites da Magna Gré-
cia, de modo que a cultura romana, suas representações artísticas
e mesmo religiosas, em muito se assemelhou à dos gregos. O pró-
prio nome "Itália" parece ter sido derivado da palavra grega italói,
que significaria "terra dos bois", ou algo parecido ligado a esse ani-
mal. Outras cidades, como Nápoles, por exemplo, têm seu nome
também derivado do grego.
Estamos falando de meios geográficos, mas será que há uma
relação entre eles e as questões políticas?
O relevo extremamente acidentado e a inúmera quantidade
de montanhas da Península Balcânica dificultaram a comunicação
na região, o que contribuiu para o fracionamento político no mun-
do grego e para a autonomia das cidades.
Devemos destacar que os gregos não foram um povo uni-
do politicamente. Em geral, durante todos os períodos da história
da Antiga Grécia, houve cidades politicamente independentes das
outras e, muitas vezes, até rivais entre si, chamadas de cidades-
-Estado. Cada cidade possuía suas próprias leis, seu sistema de go-
verno e alguns costumes diferentes. Portanto, o que identificava
um grego com outro eram os aspectos culturais semelhantes. Mas
não devemos acreditar somente na explicação de que as cidades-
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 39

-Estado gregas surgiram simplesmente pela influência do meio


geográfico. Esse tipo de explicação é chamado de fatalista, ou de
determinismo geográfico, porque afirma que o homem é um pro-
duto de seu meio físico. Acreditamos, em verdade, que o homem
constrói sua história pelas suas ações, relacionando-as com seu
meio geográfico, mas não única e exclusivamente por esse fator.
Veja o mapa da Grécia Antiga na Figura 1.

Fonte: Terrase (apud FUNARI, 2004, p. 14).


Figura 1 Mapa da Grécia Antiga.

Admiração de outros povos em relação aos helenos


Os romanos, grandes admiradores dos gregos, tornaram-se
os principais divulgadores de sua cultura. Durante toda a História,
a Grécia tem recebido especial atenção dos estudiosos e admira-
dores das artes em virtude da vasta produção dos artistas e inte-
lectuais desse período.

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40 © História Antiga I

Na Idade Média, foi grande a quantidade de traduções de es-


critores gregos pelos monges da igreja cristã. Sabemos, também,
que mesmo os povos árabes, de costumes tão diferentes dos oci-
dentais, foram, na época medieval, admiradores dos gregos anti-
gos, dos quais traduziram e aproveitaram tratados de medicina,
obras de retórica, filosofia, poesia e conhecimentos científicos em
geral.
Muitos povos consideraram a cultura grega superior às de-
mais e, por isso, digna de ser copiada. Horácio, um importante
poeta romano, ao referir-se aos romanos em relação aos gregos,
escreveu a seguinte frase: "Aos conquistados, rendeu-se o con-
quistador". Porém, como já destacamos, devemos nos atentar
para o fato de que não existe uma cultura superior à outra, mas,
sim, culturas diferentes. Podemos falar em estágios de desenvolvi-
mento tecnológico diversos, mas nunca em estágios culturais, pois
usar esse conceito seria utilizar uma concepção evolucionista.
Antes, porém, de continuarmos nossos estudos sobre os gre-
gos, é importante que tomemos conhecimento sobre as fontes dis-
poníveis para o estudo desse povo e da História Antiga em geral.

Fontes disponíveis para o estudo dos gregos e da História Antiga


Conforme informa Finley (1994, p. 11):
O estudioso de História Antiga de hoje tem de aceitar o fato de
que seu arsenal inclui tipos qualitativamente diferentes de teste-
munhos, que amiúde parecem mutuamente contraditórios ou, no
mínimo, não inter-relacionados.

Nesse sentido, o estudioso da Antiguidade sempre encon-


tra certa dificuldade no que concerne à quantidade de fontes dis-
poníveis, além do fato de que, por muito tempo, a Grécia Antiga
manteve apenas uma tradição oral. A interação entre o trabalho
do arqueólogo e do historiador é essencial para o estudo da Anti-
guidade, mas devemos saber que o objetivo da Arqueologia não é
somente fornecer dados para a História – os trabalhos dessas duas
áreas do conhecimento devem ser combinados.
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 41

Sobre a antiguidade clássica, há três posturas recentes acer-


ca da cultura material, ou seja, objetos produzidos naquele tempo,
como, por exemplo, edificações, utensílios domésticos, artesanato
etc. Vejamos quais são:
• A primeira postura deixa de lado o estudo da cultura material,
fazendo supressão do horizonte físico no horizonte histórico [é o
caso do estudioso Vernant, por exemplo].
• A segunda postura caracteriza-se pelo uso de aspectos da vida
material de maneira instrumental, ou seja, como complementa-
ção à análise de documentos escritos [como a postura de Finley].
• A terceira postura é a que utiliza informações registradas pela
cultura material, ilustrando aquilo que o texto já estabeleceu
(MENESES, 1983, p. 104-105).

Assim, podemos perceber que, apesar de os estudos arqueo-


lógicos contribuírem muito para as pesquisas históricas, eles têm
certa dificuldade em esclarecer informações sobre organizações e
instituições sociais, bem como sobre atitudes ou crenças de uma
cultura, baseados, unicamente, em estudos de artefatos arqueo-
lógicos.
No entanto, como historiadores, devemos perceber, ainda,
que, mesmo diante de testemunhos escritos, a História e o que
aconteceu de fato não estão totalmente estabelecidos, uma vez
que o trabalho do historiador na interpretação dos documentos,
analisando a posição de quem escreveu, se faz extremamente
necessário, não havendo, portanto, "verdades" em História, mas,
sim, interpretações das maneiras de se pensar o mundo.
Depois de tomarmos consciência do que representou a Gré-
cia Antiga para as outras épocas históricas e das fontes utilizadas
como documentação para análise desse passado, continuaremos
nossos estudos, e, ao final deste Caderno de Referência de Con-
teúdo, você poderá dizer se concorda ou não com os admiradores
desse passado. Vamos lá!

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42 © História Antiga I

6. PERÍODOS DA HISTÓRIA GREGA


Quando falamos em história da Grécia, logo vêm à mente as
cidades de Atenas e Esparta e, também, batalhas famosas, como
as da Guerra do Peloponeso ou aquelas entre gregos e persas.
Além disso, visualizamos personagens, como os filósofos Só-
crates, Platão e Aristóteles, ou líderes, como Alexandre, e algumas
figuras lendárias da mitologia, como a Medusa, por exemplo.
Contudo, a história dos antigos gregos vai além desses acon-
tecimentos, cidades e personagens de destaque, compreendendo,
assim, períodos muito diferentes culturalmente, mas interligados
em sua evolução histórica.
Para uma melhor sistematização didática, costuma-se dividir
a história dos antigos gregos em períodos. Contudo, a professo-
ra da Universidade de São Paulo (USP) Maria Beatriz Florenzano
(1987) observa que a divisão da história da Grécia Antiga em pe-
ríodos é generalizada a partir da história da cidade cujo desenvol-
vimento é mais conhecido: Atenas. Esse fato ocorre, segundo essa
autora, porque temos uma documentação relativamente maior
dessa cidade do que das demais regiões gregas. Assim, devemos
compreender que cada cidade grega teve um ritmo de desenvolvi-
mento e que essa periodização não é totalmente precisa para toda
a Grécia Antiga.
Tais períodos seriam:
1) Período Pré-helênico: séculos 30 a.C. a 20 a.C.
2) Civilização cretense, ou minoica: séculos 20 a.C. a 15 a.C.
3) Período Micênico, ou Pré-homérico: séculos 15 a.C. a 12 a.C.
4) Período Homérico, ou Idade das Trevas: séculos 12 a.C.
a 8º a.C.
5) Período Arcaico: séculos 8º a.C. a 5º a.C.
6) Período Clássico: séculos 5º a.C. e 4º a.C.
7) Período Helenístico: séculos 4º a.C. a 1º a.C.
8) Período Greco-Romano: séculos 1º a.C. a 5º d.C.
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 43

Todavia, mesmo que haja um aproveitamento didático da di-


visão em períodos históricos, é preciso que tenhamos cuidado ao
utilizá-los.
É importante que você saiba que o costume é dividir a Histó-
ria em períodos. Eles facilitam o trabalho do historiador, do profes-
sor de História e do aluno. Porém, tais divisões são, muitas vezes,
superficiais, pois, embora um período deva apresentar caracterís-
ticas próprias que o difiram de outro, não há uma data precisa de
quando essa mudança ocorre. Por isso, a História deve ser vista
como um processo.
Assim, as diferenças entre os períodos da história grega de-
vem ser buscadas não em acontecimentos, mas nas estruturas
particulares de cada período e nos processos de longa duração. O
conceito de "processos de longa duração" foi desenvolvido pelos
historiadores conhecidos como da Segunda Geração da Escola dos
Annales (1946-1968) e tem como base a ideia de que o historia-
dor, a fim de compreender um período histórico em sua totalida-
de, deve analisar as permanências, estruturas próprias da cultura
estudada, e não eventos singulares. Você irá estudar melhor esse
conceito no Caderno de Referência de Conteúdo Metodologia da
História II.
A seguir, estudaremos os primeiros períodos da Grécia An-
tiga: o povoamento da Grécia (Período Pré-helênico); o povo da
Ilha de Creta, uma das maiores ilhas do Mar Egeu e de expressão
importante para o mundo grego (constituiu a chamada "civilização
minoica" e, depois, parte da civilização creto-micênica); e a forma-
ção da civilização creto-micênica.
Você estudará muitos nomes diferentes e datas muito dis-
tantes de nosso presente. Portanto, fique atento para não con-
fundir nada. O mais importante agora é que você acompanhe o
desenvolvimento histórico dos primórdios do mundo grego. Qual-
quer dúvida, consulte o seu tutor e recorra sempre a um dicionário
para procurar palavras desconhecidas.

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44 © História Antiga I

7. GRÉCIA ANTES DOS GREGOS: POVOAMENTO DA


HÉLADE
Durante muito tempo, a Historiografia afirmou que os gre-
gos eram descendentes apenas de povos de origem ariana (indo-
-europeus), que, por volta do século 20 a.C., começaram a ocu-
par, por meio de sucessivas invasões, o território que atualmente
chamamos de Grécia. São os povos aqueus, jônios, eólios e, por
último, os dórios.
Descobertas arqueológicas indicam que esses quatro princi-
pais povos indo-europeus ocuparam as seguintes regiões do mun-
do grego:
1) Aqueus: foram os fundadores da cidade de Micenas.
Conquistaram a Ilha de Creta em meados do século 15
a.C. e fundaram a civilização creto-micênica. Os repre-
sentantes dessa imponência de Micenas se espalharam
pelo Mar Egeu, dominando-o até o século 13 a.C.
2) Jônios: fixaram-se na Península Ática, no século 18 a.C.,
e fundaram a importante cidade grega de Atenas. Poste-
riormente, expandiram-se em direção à região da Ásia
Menor (que ficou conhecida naquela época como "Jô-
nia").
3) Eólios: ocuparam a região da Tessália, ao norte da Gré-
cia, por volta do século 18 a.C. Foram os fundadores da
cidade de Tebas.
4) Dórios: povos essencialmente guerreiros, foram os fun-
dadores da militarizada cidade de Esparta, na Península
do Peloponeso. Foram uns dos últimos povos a invadir
a Grécia, no século 13 a.C. Destruíram grande parte da
civilização creto-micênica, impulsionando os gregos a
viverem em comunidades familiares (os genos). Nesse
sentido, começa o desenvolvimento de um novo perío-
do histórico no mundo grego, que veremos posterior-
mente.
Entretanto, será que foram apenas os indo-europeus que de-
ram origem à cultura grega?
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 45

Atualmente, os estudos mostram que a cultura grega primiti-


va foi formada por elementos dos povos indo-europeus e, também,
dos povos que já habitavam a Península Balcânica antes mesmo da
chegada deles. Eram os povos "pelasgos" e "leleges", que viveram
no período da história da Grécia chamado de "Pré-helênico".
Esses primeiros povos gregos do chamado Período Pré-he-
lênico já falavam uma língua que daria origem ao grego moderno,
mas não possuíam um sistema de escrita. Esse período "pré-his-
tórico" da Grécia também é denominado, por certos estudiosos,
de Idade do Bronze. Como podemos observar, por essa denomi-
nação, convencionou-se dividir os períodos da Antiguidade pelos
materiais duros empregados na fabricação de instrumentos cor-
tantes e armas, que, em ordem cronológica, seriam: pedra, cobre,
bronze e ferro. Essa associação está ligada à ideia de observarmos,
inicialmente, o progresso técnico de uma sociedade, para, depois,
classificá-la.
Entretanto, Finley (1990) alerta para uma referência inade-
quada na datação que alguns estudiosos estabeleceram para o
uso desses materiais na antiga região grega, pois, de acordo com o
historiador, os metais começaram a ser utilizados na fabricação de
ferramentas e armas por volta de 2000 a.C. Por isso, para que você
entenda melhor como funciona essa divisão dos períodos históri-
cos, faça a leitura do texto a seguir.

Períodos da História: "Pré-história" –––––––––––––––––––––


Considera-se "Pré-história" o período que data desde o aparecimento do homem
(primeiros achados arqueológicos de ossadas do gênero Homo – por volta de um
milhão a.C. a 600.000 a.C.) até o aparecimento dos primeiros registros escritos
(por volta de 4000 a.C.). Os estudiosos costumam dividir a Pré-história em eta-
pas: Paleolítico, ou Antiga Idade da Pedra (o homem vive de forma nômade, e
ainda não existe a prática da agricultura); Neolítico, ou Nova Idade da Pedra (o
homem passa a interferir no meio ambiente, iniciando o cultivo de plantas e a do-
mesticação de animais); e Idade dos Metais (surge a metalurgia do cobre, bronze
e ferro, possibilitando um grande aumento da produção agrícola e artesanal).
Contudo, não devemos deixar de questionar a denominação de "Pré-história" ao
período anterior à invenção da escrita, uma vez que ela denota a ideia de que só
após o aparecimento da escrita é que os homens teriam uma história.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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46 © História Antiga I

E quais são os mais antigos traços da vida humana no terri-


tório grego?
Os primeiros achados arqueológicos que detectam vida hu-
mana no território grego datam, aproximadamente, de 45.000 a.C.
a 13. 000 a.C., período do Paleolítico Superior.
Como já salientamos, o estudo desse contexto é difícil; con-
tudo, ele faz-se possível em virtude da interpretação cultural ma-
terial deixada por esses povos, o que significa que o trabalho do
historiador que se habilita a estudar esses contextos mais remotos
precisa aliar-se ao trabalho do arqueólogo – e, ainda assim, fica-
riam lacunas difíceis de serem preenchidas.
Com a chegada dos indo-europeus, inicia-se um processo de
interação entre elementos dos povos já habitantes da península
e os invasores. Assim, aos poucos, a Grécia vai se formando, com
especial destaque para a cidade de Micenas.
Mas por que será que Micenas recebe esse destaque espe-
cial? O que se formou dessa junção cultural? Essas informações
serão abordadas no próximo tópico.

8. CIVILIZAÇÃO CRETOͳMICÊNICA
Como acabamos de estudar, por meio de elementos cultu-
rais preexistentes na Grécia (povos autóctones) e elementos cul-
turais trazidos pelos indo-europeus, surgiu um novo povo: os pri-
meiros gregos.
Nesse contexto, os gregos viviam em aldeias e cidades inde-
pendentes, dominadas por grandes palácios com muralhas prote-
toras gigantescas. Cada um desses pequenos reinos, governados
por reis que viviam em suntuosos palácios, dominava de forma
política, militar e econômica as faixas de terra vizinhas.
A cidade de Micenas dominava várias cidades da Grécia Con-
tinental e algumas ilhas do Mar Egeu, porém nem toda a Hélade
estava sob domínio dessa cidade.
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 47

Tudo indica que os povos micênicos eram grandes guerrei-


ros. Mas como podemos saber disso? Não apenas suas conquis-
tas dão as pistas de sua capacidade de guerrear, mas também as
extraordinárias fortificações por eles construídas, o uso de fortes
carros puxados por cavalos e os seus grandiosos palácios, armadu-
ras e armas encontradas nas tumbas.
Outra característica que devemos considerar se quisermos
compreender um povo é a sua língua falada. Os gregos desse pe-
ríodo falavam uma forma bastante arcaica de grego, língua que,
naquela época, provavelmente estava dividida em mais de um dia-
leto.
Foi por volta do século 15 a.C. que os micênicos ocuparam a
Ilha de Creta. Assim, inicia-se uma nova etapa da história grega: o
período conhecido como o da civilização creto-micênica.
O Período Creto-Micênico representa um momento de efer-
vescência cultural da primeira fase da história da Grécia. Foi nessa
conjuntura que os primeiros documentos escritos surgiram tanto
na parte continental quanto na Ilha de Creta.
A escrita desenvolvida nesse período é do tipo silábica e fi-
cou conhecida como "Linear B", desenvolvida com base em uma
escrita usada na Ilha de Creta, chamada de "Linear A".
A Linear B tinha como função organizar a contabilidade e
toda a economia entre os reinos. Essas formas de comunicação
eram transmitidas por meio de inscrições em tábuas de argila,
mas, como alerta Finley (1968), se essa escrita tivesse sido gravada
em papiros, como era a escrita dos egípcios daquela época, não
teríamos hoje papiros para estudar, pois estes não resistiriam ao
clima de Creta. Portanto, jamais saberemos se os cretenses utiliza-
ram ou não esse material.
Na Figura 2, você pode ver um exemplo da escrita Linear B.

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48 © História Antiga I

Figura 2 Tábua com representações em Linear B.

A escrita Linear B pode ser conhecida por meio de tábuas de


argila com inscrições e em alguns tipos de vasos encontrados pelos
arqueólogos nas regiões dos antigos palácios de Pilos, Micenas,
Cnossos, Cânia, Tirinto e Tebas.
Você pode estar se perguntando: quando foi que começou a
se compreender essa forma de comunicação?
A decifração da Linear B começou a ser feita em 1953 por
estudiosos ingleses, e, até a atualidade, somente textos comerciais
com essa escrita foram encontrados.
A denominação "civilização creto-micênica" nunca foi dada
pelos próprios gregos, e, sim, por estudiosos modernos, em virtu-
de da importância regional nesse momento da cidade de Micenas,
localizada na Península do Peloponeso e capital dessa civilização.
Contudo, esse desenvolvimento e domínio haveriam de
terminar no decorrer do tempo. Os creto-micênicos viveram um
período de grande desenvolvimento, que terminaria por volta do
século 13 a.C., quando um novo povo invadiu a Península Balcâ-
nica e desarticulou o sistema de reinos governados pelos reis de
Micenas. Eram os povos dórios, que, com a invasão, iniciaram um
processo de dispersão no mundo grego conhecido como primeira
diáspora.
E quais foram as consequências dessa invasão?
Após todo o esplendor da civilização creto-micênica, segue-
-se um período em que as cidades foram duramente saqueadas e
suas populações começaram a se refugiar nas ilhas do Mar Egeu
e na costa da Ásia Menor (Jônia). A escrita desapareceu, e a vida
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 49

político-econômica enfraqueceu. A população grega inicia, assim,


um processo de ruralização.
Entretanto, antes de os micênicos invadirem Creta e domi-
narem o mundo grego de então, a ilha conheceu um período de
comércio e desenvolvimento próprios. É o que veremos a seguir.

9. CIVILIZAÇÃO CRETENSE OU MINOICA


Creta é a maior ilha do Mar Egeu, situada na parte sudoeste
da Península Balcânica, e nela se desenvolveu uma das mais inte-
ressantes civilizações antigas: a civilização cretense.
E a localização dessa ilha, que importância teve para essa
cultura?
Em virtude de sua localização insular, a vida desse povo fes-
tivo e de notável produção artística esteve intimamente ligada ao
comércio marítimo; por isso, Creta tornou-se um ponto de encontro
entre os povos da Grécia Continental e os povos do Crescente Fértil.
Os cretenses mantiveram um grande contato com os egíp-
cios, o que facilitou a difusão da cultura egípcia na parte ocidental
do Mar Mediterrâneo.

Característica política da civilização cretense


Desde seus primeiros povoamentos, havia, em Creta, peque-
nos governos locais. Alguns séculos depois, a ilha foi unificada sob
o comando de uma monarquia.
Os chefes dessa monarquia eram chamados de minos. Tal
palavra deu origem à expressão "civilização minoica", também uti-
lizada para designar a civilização cretense.
"Minos", além de significar "rei", também dá nome a uma
importante figura lendária desse período, sem que se saiba ao cer-
to quando viveu. A ela é creditado o fato de ter unido as várias
cidades da ilha sob seu comando, iniciando o poder e o domínio
da Ilha de Creta no mar.

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50 © História Antiga I

Um dos principais, entre os grandes palácios da Ilha de Cre-


ta, era o de Cnossos, onde, segundo a lenda grega, vivia o monstro
Minotauro, uma das mais conhecidas figuras de sua mitologia.
Veja do que se trata esse elemento mitológico no texto a
seguir.

A Lenda do Minotauro –––––––––––––––––––––––––––––––––


De acordo com essa lenda, o Minotauro (touro de Minos) era um monstro metade
homem (corpo) e metade touro (cabeça e cauda). Fruto de um castigo do deus
dos mares, Poseidon, ao rei Minos de Creta, que desobedece ao deus quando
este pede que ele sacrifique um touro branco em troca do favor de transformá-lo
em rei. Minotauro era filho da mulher de Minos, Parsifeia, e do touro branco pelo
qual ela se apaixonara perdidamente. Minos criava o Minotauro em um labirinto
e como pagamento pela morte de seu filho Andrógenes, assassinado pelos ate-
nienses, obrigava o povo desta cidade a enviar para Creta anualmente sete me-
ninos e sete meninas para serem jogados no labirinto e devorados pelo monstro.
Um dia o herói grego Teseu resolve matar o Minotauro. Com a ajuda de Ariadne,
filha de Minos, Teseu entra no labirinto enquanto a jovem garota segura um no-
velo de lã do lado de fora. Teseu mata o Minotauro e consegue sair do labirinto
graças ao fio de lã que Ariadne segurava e que o conduz de volta à entrada.
Feito isso, a lenda de Teseu continua, sendo que a ele é atribuída a fundação da
cidade grega de Esparta. A lenda do Minotauro foi transmitida oralmente entre as
diversas gerações de gregos antigos e nos sugere uma importante característica
da cultura grega: o temor aos deuses, pois mostra o que poderia acontecer àque-
les que desobedecessem às forças divinas (WILKINSON, 2000, p. 66).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
E quanto à vida social desse povo, como era?
A maior parte da sociedade cretense vivia no meio urbano.
As ruínas encontradas por arqueólogos mostram cidades bem pla-
nejadas e estruturadas, com ruas, calçadas, sarjetas, lojas de co-
mércio e casas luxuosas. As cidades cretenses de destaque foram:
Cnossos, Faístos, Mália e Tilisso.
A maioria da população urbana dedicava-se ao comércio
marítimo ou à oficinas de artesanato. Tudo indica que as pessoas
comuns, não familiarizadas com o poder, viviam melhor em Creta
do que na maior parte do Mundo Antigo. Isso pode ser demonstra-
do nos seguintes aspectos:
• A economia cretense, baseada no artesanato e no comér-
cio, proporcionava grande número de ocupações e mais
opções de trabalho.
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 51

• Em Creta, existiam poucos escravos, e eles eram, geral-


mente, estrangeiros capturados durante as guerras. Mas
a escravidão não parece ter sido muito importante para a
vida econômica da ilha.
• A liberdade social das mulheres cretenses possui valor
não encontrado em outras regiões do Mundo Antigo,
onde as mulheres eram meras propriedades dos homens.
As obras de arte de Creta mostram mulheres passeando
pelas ruas, praticando jogos e danças, ocupando lugares
de destaque nos teatros e nos circos. Havia, ainda, as sa-
cerdotisas, que eram mais importantes do que os sacer-
dotes homens.
Ademais, não podemos deixar de observar os fatores econô-
micos, responsáveis pela sustentação material de uma sociedade.
Além do comércio marítimo, principalmente de peças arte-
sanais produzidas na própria ilha, os cretenses tinham uma eco-
nomia rica e variada. Praticavam a agricultura, criavam animais e
produziam delicadas peças em cerâmica ou metal (cobre, bronze,
ouro e prata) nas inúmeras oficinas artesanais.
E já que falamos em economia, qual foi a extensão do co-
mércio marítimo cretense?
Creta dominou o comércio nos mares Egeu e Mediterrâneo,
criando o primeiro império comercial marítimo do qual temos co-
nhecimento (aproximadamente dois mil anos antes dos fenícios).
A esse império, dá-se o nome de talassocracia, palavra composta
dos termos gregos talassos, que significa "mar", e cracia, que sig-
nifica "poder".
Inicialmente, a Ilha de Creta não foi tomada pelos povos da
Península Balcânica; isso só acontecerá, como já estudamos, por
volta do século 15 a.C., quando os povos indo-europeus, especial-
mente os aqueus (micênicos), já estabelecidos em diferentes re-
giões da Grécia, atraídos pelo esplendor da civilização cretense,

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52 © História Antiga I

foram aos poucos conquistando seu território, até dominá-la com-


pletamente.
Da fusão de elementos do povo aqueu e do povo cretense,
como já mostrado, é que surgiu a civilização creto-micênica.
No século 1º d.C., Creta foi, juntamente com os demais terri-
tórios que faziam parte da Grécia, incorporada ao Império Romano
e, depois, com a divisão do império no século 4º d.C., passou a
fazer parte do Império Romano do Oriente. Mais tarde, foi tomada
por povos árabes e turcos, e, atualmente, Creta faz parte do terri-
tório da Grécia.

10. PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DO


POVO GREGO
A cultura cretense teve papel fundamental nas manifesta-
ções artísticas dos primeiros tempos da Grécia Antiga. Torna-se
difícil separar, nesse momento, a arte da Ilha de Creta de uma arte
dos povos que habitavam a Península Balcânica de então.
Considera-se que muitos trabalhos atualmente conhecidos
como se fossem dos povos do continente possam ter sido criados
por artistas cretenses pagos por aristocratas micênicos.
Quais eram os traços característicos dessa arte e em que se
inspiravam?
A principal característica da arte cretense é o naturalismo, a
espontaneidade, a originalidade e o movimento. Os temas inspira-
dores eram cenas de caças, guerras, o cotidiano em geral e temas
religiosos.
O movimento pode ser percebido por intermédio de escultu-
ras de peixes delicados e outros animais. Destacamos as represen-
tações pictóricas de animais marítimos como forma de expressão
da cultura da região, intimamente ligada ao mar (Figura 3).
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 53

Figura 3 O pescador – afresco de Akrotiri, Thera (aproximadamente 1550 a.C./1450 a.C.).

É necessário lembrar que você estudou sobre a importância


do mar na vida dos gregos desse período, e que, ao estudarmos a
arte de um povo, estamos buscando sua capacidade de expressão.
Um traço muito interessante de se perceber nas pinturas
desse período é o princípio da frontalidade, característica que os
cretenses podem ter recebido como influência dos povos egípcios.
A pintura parece ter tido como principal propósito a decoração, e
as cores usadas em pinturas de vasos e de afrescos eram fortes e
vibrantes.

O Princípio da Frontalidade ––––––––––––––––––––––––––––


Por "frontalidade" entendemos a lei de representação da figura humana, desco-
berta por Julius Lange e Adolf Erman, segundo a qual, seja qual for a posição
em que o corpo humano é representado, toda a superfície da caixa torácica se
volta para o observador, de tal forma que a metade superior do corpo é sempre
divisível em duas partes, inversamente simétricas, segundo uma linha vertical
[...]. Na representação frontal, a posição da figura humana vista de frente traduz
a expressão de um sistema de correlações definido e direto, em função do ob-
servador [...]. A arte do Oriente Antigo, por seu turno, toma em consideração a
pessoa que deve receber a impressão. É uma arte que simultaneamente pede e
testemunha respeito pelo público. A sua atitude frente ao espectador constitui um
ato de reverência, de cortesia e etiqueta (HAUSER, 1972, p. 63).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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54 © História Antiga I

Observe a posição frontal da pintura da Figura 4, O Príncipe


dos Lírios.

Figura 4 - O príncipe dos lírios – afresco do Palácio de Cnossos (aproximadamente 1550


a.C./1450 a.C.).

A escultura teve uma expressão menor entre os cretenses.


As peças eram de cerâmica, terracota e argila. Destacamos as vasi-
lhas usadas como reservatório de bebidas e decoradas com temas
artísticos.
A principal fonte para estudo das manifestações artísticas
cretenses são as ruínas do Palácio de Cnossos (Figura 5). Sobre as
escavações arqueológicas realizadas nele, leia com atenção o texto
sugerido no Tópico Texto Complementar.

Figura 5 Palácio de Cnossos, em Creta – vista lateral da sala do trono de Cnossos


(aproximadamente 1450 a.C.).
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 55

É interessante você saber que, diferentemente dos dias


atuais, em que admiradores das artes colecionam quadros nas
paredes de suas casas, nas casas dos ricos gregos e romanos da
Antiguidade, eram as paredes que recebiam belas pinturas deco-
rativas.

Características artísticas micênicas


A arte micênica caracterizou-se, principalmente, pelo desen-
volvimento da arquitetura, tendo como modelo o mégaron micê-
nico (sala central do Palácio de Micenas), e pelo desenvolvimento
do artesanato em cerâmica, no qual encontramos figuras decorati-
vas que retratam cenas do cotidiano.
Apesar da forte influência cretense, a arte micênica iniciou
um distanciamento das influências orientais. De toda a produção
artística micênica, as obras mais notáveis foram:
1) enormes túmulos dos aristocratas;
2) muralhas das cidadelas (cidades fortificadas);
3) enormes pinturas em cores vivas;
4) esculturas em marfim e joias.
A arte cemiterial (relativa aos cemitérios) micênica é muito
rica, já que, como nos dias atuais, os antigos micênicos tinham o
costume de enterrar seus mortos.

11. TEXTO COMPLEMENTAR


O texto a seguir é uma resenha de A redescoberta de Cre-
ta, parte do livro Aspectos da Antiguidade, de Finley (1968). Esse
texto apresenta uma breve síntese de como foram as escavações
e descobertas arqueológicas na Ilha de Creta ao longo dos anos.

A Redescoberta de Creta ––––––––––––––––––––––––––––––


A primeira descoberta significativa na Ilha de Creta aconteceu em 1834, pelo
inglês Robert Pashley, que traçou um mapa e localizou vários lugares antigos,

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56 © História Antiga I

identificando a maior parte dos locais importantes com grande rigor. As descri-
ções de suas viagens foram publicadas em 1837, e a localização do Palácio de
Cnossos faz parte dessas primeiras descobertas, levando o arqueólogo à admi-
ração e às lembranças da lenda do famoso Minotauro.
Cerca de 70 anos depois, foi a vez de o arqueólogo Arthur Evans fazer suas pes-
quisas no solo cretense. Muitas obras de arte antigas foram descobertas nesses
estudos.
Uma descoberta significativa foi feita pelo estudioso Heinrich Schliemann, que,
por volta do final do século 19, depois de escavar em Micenas, Troia e na Grécia
Continental, leva seus esforços para a Ilha de Creta, onde descobre um código
legal do século 5º a.C., inscrito em pedra.
À medida que as escavações continuavam, a vida cretense ia transparecendo.
As indicações mostram sua concentração em torno do palácio, tendo ao longo
dos anos evoluído para uma desenvolvida estrutura de poder. Havia uma enor-
me disponibilidade de recursos materiais e humanos e acesso direto a ideias do
Egito, Síria e Babilônia. Todos os centros comerciais cretenses se localizavam
próximo de bons portos, atestando a existência de um forte comércio marítimo.
Uma calma aparente, porém, reinava em Creta. A estrutura dos seus complexos
palacianos não tinha a mesma fortificação dos de Micenas, assim como eles não
nos deixaram vestígios de armas e da existência de exércitos. Os reis ainda são
pouco visíveis. Na parede do Palácio de Cnossos, os motivos decorativos são
flores e animais, e não imagens dos próprios monarcas.
Finley (1968) pergunta-se sobre a não existência de conflitos entre os palácios
e sobre a falta de necessidade de defesa do território, que pode ser observada
na inexistência de fortificações nos palácios. Mas, para ele, ainda nos faltam
dados para que essas perguntas possam ser respondidas. Ferramentas, edifí-
cios e obras de arte encontrados e estudados ainda respondem pouco sobre as
instituições sociais ou ideias de uma civilização.
Ainda hoje, a imagem de Creta é a mesma que nos mostrou Evans, incluindo
uma forte dosagem de imaginação e reconstrução criativa que qualquer turista
que visitar Cnossos terá. Imaginação, aliás, é, para o autor do texto, fundamental
até para o trabalho do arqueólogo.
Datações sobre quando principiou e quando terminou a civilização minoica são
perguntas que dificilmente iremos responder. A maioria da documentação en-
contrada só pode ser datada por meio de comparações com similaridades entre
objetos cretenses e de outros lugares, como objetos do Egito, por exemplo. En-
quanto isso, toda a beleza da arte e da arquitetura minoica se encontra à nossa
disposição para ser observada.
Assim, Finley (1968, p. 33) termina seu texto, deixando sua maior impressão
sobre os gregos do período tratado nesta unidade:
Quando os gregos reemergiram à plena luz da História vários séculos mais
tarde, continuavam falando grego, mas empregavam um estilo de vida total-
mente novo. É por isso que a Creta Minóica e a Grécia Micênica fazem, de
pleno direito, parte da pré-história grega.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U1 - Princípio do Mundo Grego: Micênicos e Minoicos 57

12. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Com a finalidade de fixar o conhecimento adquirido, convidamos
você a fazer uma autoavaliação do conteúdo estudado; assim, será pos-
sível traçarmos um paralelo entre os conteúdos e sintetizá-los. Sendo
a autoavaliação algo de importância fundamental, especialmente na
Educação a Distância, tente responder às seguintes questões:
1) Estou ciente de que o povoamento da Hélade se deu pela união de povos
indo-europeus e de autóctones da região da Grécia? Se não, que tópicos
devo reler para alcançar esse objetivo?

2) Os cretenses (minoicos) e os micênicos uniram-se para formar qual civilização?

3) Por que os gregos causaram tanta admiração aos homens de outras culturas
e outras épocas?

4) O que significa ter uma visão "eurocêntrica" da História?

5) O que é o determinismo geográfico?

6) A distância cronológica das civilizações que estudei dificulta o meu aprendi-


zado? O que posso fazer para superar essa dificuldade?

13. CONSIDERAÇÕES
Estudamos, nesta unidade, que, nos primórdios do mundo
grego, surgiram duas civilizações: a cretense e a micênica.
Em determinado momento, os micênicos conquistaram a
Ilha de Creta e passaram a formar, juntamente com ela, a civiliza-
ção expansionista creto-micênica.
Esse período da história grega conta com raríssima documen-
tação escrita para seu estudo. Embora o povo daquele momento já
conhecesse certo tipo de escrita (Linear A e Linear B), os documen-
tos decifrados são, em sua totalidade, tratados comerciais.
A civilização creto-micênica, que já falava a língua grega,
encontrava-se em um período conhecido como "Idade do Bronze

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58 © História Antiga I

Grega", pois, para alguns estudiosos, essa civilização estava num


estágio considerado pré-histórico, podendo ser nela reconhecidos
traços do período da Idade dos Metais.
A principal atividade desse momento é o comércio marítimo.
Alguns estudiosos desconsideram esse período no estudo da
Grécia Antiga, pois acreditam que as raízes da civilização grega que
conhecemos atualmente ainda não estavam fundamentadas.
Para eles, os creto-micênicos demonstram traços sociopolíti-
cos característicos do mundo oriental, não sendo possível estabe-
lecer uma continuidade com traços da Grécia de tempos posterio-
res (FLORENZANO, 1997).
Entretanto, consideramos que não estudar esse período so-
mente porque ele não apresenta traços de continuidade com a
futura história grega é ter uma visão centrada apenas nos traços
ocidentais dessa história, constituindo um olhar eurocêntrico do
que devemos estudar na disciplina de História.
Portanto, acreditamos que, ao estudar a Grécia Antiga, é
fundamental analisar, também, a civilização creto-micênica, tal
como fizemos nesta unidade.
Após esse primeiro contato, estamos prontos a continuar
nossos estudos. Conheceremos, na próxima unidade, duas obras
clássicas: a Ilíada e a Odisseia.

14. EͳREFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 2 – Tábua com representações em Linear B. Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/Image:Linearb.png>. Acesso em: 14 set. 2007.
Figura 3 - O pescador – afresco de Akrotiri, Thera (aproximadamente 1550 a.C./1450
a.C.). Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Akrotiri-fisherman.
jpg>. Acesso em: 21 set. 2007.
Figura 4 - O príncipe dos lírios – afresco do Palácio de Cnossos (aproximadamente 1550
a.C./1450 a.C.). Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Knossos_
frise2.JPG>. Acesso em: 20 set. 2007.
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Figura 5 – Palácio de Cnossos, em Creta – vista lateral da sala do trono de Cnossos


(aproximadamente 1450 a.C.). Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
Image:Knossos_Trone.JPG>. Acesso em: 20 set. 2007.

15. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


FERREIRA, O. L. Egito: terra dos faraós. São Paulo: Moderna, 1992.
FINLEY, M. I. A redescoberta de Creta. In: ______. Aspectos da Antigüidade. Lisboa:
Edições 70, 1968. p. 17-33.
______. Os gregos antigos. Lisboa: Edições 70, 1984.
______. Uso e abuso da História. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
______. Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo: Martins Fontes,
1990.
______. História Antiga: testemunhos e modelos. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
FLORENZANO, M. B. O Mundo Antigo: economia e sociedade (Grécia e Roma). São Paulo:
Brasiliense, 1997.
FUNARI, P. P. A. Grécia e Roma. Vida pública e vida privada. Cultura, pensamento e
mitologia. Amor e sexualidade. São Paulo: Contexto, 2004.
HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
MENESES, U. B. A cultura material no estudo das sociedades antigas. Revista de História,
São Paulo, n. 16, p. 164-191, 1983.
WILKINSON, P. O livro ilustrado da mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes
heróis e deuses do mundo inteiro. São Paulo: Publifolha, 2000.

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