Você está na página 1de 20

1

1. LINHAS AÉREAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA

Uma linha aérea de transmissão de alta tensão, também chamada de LT, tem como função
transportar energia eléctrica de uma unidade de geração a uma unidade de distribuição, uma
LT usualmente tem a seguinte composição;

a) cabos condutores de energia e acessórios;

b) estruturas isolantes – isoladores;

c) estruturas de suporte – torres;

d) fundações;

e) cabos de guarda ou para - raios;

f) aterramento;

g) acessórios diversos.

1.1 Função

As bases do sistema eléctrico são as geradoras e os consumidores da energia. Na


maioria dos casos, a geração ocorre a uma distancia grande do centro consumidor. Para
interligar a geração com o centro consumido, são utilizadas as linhas de transmissão, e, para
evitar perdas dessa energia durante o trajecto, ela deve ser transportada em tensões elevadas.

Portanto, a linha de transmissão tem a função de transportar a energia eléctrica gerada


nas usinas geradoras até o centro consumidor, em uma tensão elevada, de modo a evitar
maiores perdas.

1.2 Aplicações

Como foi visto anteriormente, a linha de transmissão transporta a energia eléctrica das
usinas geradoras até o centro consumidor, mas com uma tensão elevada. Para obtermos essa
tensão elevada, são utilizadas subestações elevadoras, que, próximas às usinas, elevam a
tensão gerada, e subestações abaixadoras, que, próximas aos centros consumidores, abaixam
a tensão transportada para ela ser utilizada. Além dessas existem outros tipos de subestações
no caminho da linha de transmissão.

2
As linhas de transmissão são utilizadas, basicamente, entre as subestações elevadora e
abaixadora.

Figura 1 – Representação do sistema eléctrico, com a linha de transmissão destacada.

1.3 Estruturas de uma linha de transmissão

As estruturas de suporte podem ser fabricadas de concreto, madeira ou aço, sendo este último
o mais usado por permitir uma maior variedade na forma e no tipo da estrutura
(LABEGALINI et al., 1992). Essas estruturas que, têm como principais funções suspender e
ancorar os cabos condutores, são classificadas em dois grupos: estruturas de suspensão e
estruturas de ancoragem.

As estruturas de sustentação são de fundamental importância na implantação de uma LT e


influenciam na maioria das decisões que devem ser tomadas durante o projecto, desde os
estudos iniciais de topografia da região a ser percorrida pela linha, até a análise do
desempenho electromecânico da mesma. Com a experiência obtida por projectista de torres
de diversas empresas, ao longo do tempo algumas séries de estruturas foram sendo
catalogadas e servem como referências para novos projectos de estruturas ou até mesmo são
aplicadas directamente ao projecto da LT quando se comprova a sua adequação aos critérios
estabelecidos por ele.

3
1.4 Classificação das estruturas das linhas de transmissão

Há diversos critérios pelos quais podemos classificar as estruturas das linhas de


transmissão, sendo os mais usados:
 Quanto ao material empregado em sua fabricação;
 Quanto a sua forma de resistir;
 Quanto a sua função na linha.

1.4.1 Materiais para estruturas

Os materiais usuais para a fabricação das estruturas das linhas de transmissão são a madeira,
o concreto e os metais, podendo haver soluções mistas. Resinas armadas também são usadas
(epoxi e fibra de vidro).

Em função ao material a forma de construção e diferente para cada tipo inerente as suas
possibilidades, no entanto, ser projectadas com graus de segurança equivalentes, desde que as
hipóteses de cálculo retractem as condições que são encontradas em serviço.

Madeira- nos estados unidos as estruturas de madeira encontram sua maior aplicação,
existindo linhas de até 345 kV. No brasil usado para tensões acima de 35 kV.

A madeira deve possuir condições especiais e satisfazer as exigências do local tais com:

a. Elevada resistência mecânica a flexão;


b. Boa resistência as intempéries;
c. Indeformabilidade com o decorrer do tempo;
d. Boa resistência ao ataque de microrganismos que levam a sua destruição.

Resistência mecânica a flexão- os esforços que as estruturas devem absorver podem atingir
valores bastantes elevados, dependendo principalmente das bitolas dos cabos e suas
condições de trabalho. Assim, para que as pecas que as compõem não sejam excessivamente
volumosas, procura-se empregar madeiras capazes de resistir a valores superiores a
1000 𝑘𝑔 ∕ 𝑐𝑚2 .

Indeformabilidade com o tempo- madeiras há que, com o tempo, sofrem deformações,


como torções e encurtamentos desiguais em suas fibras. Essas deformações podem afectar a
segurança de toda estrutura.

4
Resistência ao ataque de microrganismos- o apodrecimento de madeira e causado por
fungos, que a atacam e a destroem. Esses fungos localizam-se de preferência, em fendas e
junto a linha de afloramento no solo, exactamente na região mais solicitada da estrutura.

1.4.1.1 Formas de resistir das estruturas

As estruturas das linhas de transmissão sofrem três solicitações deferentes:


a) Solicitação axial vertical;
b) Solicitação horizontal transversal;
c) Solicitação horizontal longitudinal.

Uma estrutura pode ser considerada como uma viga vertical engastada no solo, com cargas
verticais e cargas transversais horizontais, concentradas na parte superior da mesma. As
cargas horizontais, que provocam momentos elevados na linha de engastamento, são, em
geral, preponderantes no seu dimensionamento. A classificação das estruturas em dois
grandes grupos, quanto ao seu comportamento face a essas cargas:

A- Estruturas autoportantes,
B- Estruturas estaiadas.

Estruturas autoportantes- são estruturas que transmitem todos esforços directamente para
as suas fundações, comportando-se como vigas engastadas verdadeiras, como elevados
momentos flectores junto a linha de solo. As estruturas autoportantes podem ser:

 Rígidas;
 Flexíveis;
 Mistas ou semi-rígidas.

Estruturas rígidas- são dimensionadas para resistir aos esforços normais e sobrecargas,
sem deformações elásticas perceptíveis, e as cargas excepcionais, com deformações
elásticas de menor importância.

Em seu aspecto geral, são simétricas em ambas as direcções (longitudinais e transversais),


com dimensões relativamente grandes, e construídas em estruturas metálicas treliçadas.

Estruturas flexíveis- resistem apenas as cargas normais e sem deformações perceptíveis,


resistindo as sobrecargas e esforços excepcionais com deformações elásticas
consideráveis. São simétricas em ambas as direcções e se caracterizam pelo elevado grau

5
de esbeltez; os postes singelos são exemplos desse tipo de estrutura, como também o são
os pórticos articulados.

Fig 2. Estruturas autoportantes: a- rígida, b-elástica, c-semi-rígida.

Estruturas mistas ou semi-rígidas – são rígidas em uma direcção e flexíveis em outra. São
estruturas assimétricas, com dimensões maiores na direcção em que são rígidas e menores na
outra. É o caso dos pórticos contra ventados ou rígidos. Fig. 2c.

Estruturas estaidas- são normalmente estruturas flexíveis ou mistas que são enrijecidas
através de tirantes ou estais. Os tirantes, absorvem parte dos esforços horizontais,
transmitindo-os directamente ao solo através de âncoras. Outra parte dos esforços e
transmitida axialmente pela estrutura.

Os tirantes são, em geral, construídos com cabos de aço galvanizado a fogo, do tipo HS ou
SM, de 7 (sete) denoto, e diâmetros nominais variáveis. Os cabos alumoweld e copperweld
também têm sido bastante empregue.

As estruturas estaiadas, até há bem pouco tempo, tinham emprego limitado as linhas com
estruturas de madeira ou concreto e tensões até cerca de 230kV. Mais recentemente foram
introduzidas estruturas metálicas estaiadas para tensão até 750 Kv (fig. 5).

Um caso particular constitui as linhas com estruturas semi-rígidas no sentido transversal que
obtém sua estabilidade longitudinal através dos cabos pára-raios, ancorados em cada uma das
estruturas de suspensão e terminados nas estruturas de amarração.

6
Figura 3- Estruturas estaidas.

1.5 Função das estruturas nas linhas

A ABNT, através da NB-182- projecto de linhas aéreas de transmissão e subtransmissão de


energia eléctrica- especifica as cargas actuantes bem como as hipóteses de carga a serem
consideradas nos projectos e cálculos dos suportes das linhas de transmissão:

A. Cargas verticais
 Componentes verticais dos esforços de tracção dos cabos (condutores e para raios);
 Pesos dos acessórios de fixação dos cabos (ferragens e isoladores);
 Peso próprio do suporte e eventuais cargas verticais, devido ao estaiamentos;
 Sobrecargas de montagem, manutenção e ∕ ou outras eventuais.
B. Cargas horizontais transversais
 Componentes horizontais longitudinais dos esforços dos cabos e eventuais esforços
introduzidos pelo estaiamento;
 Acção do vento sobre o suporte, na direcção da linha;
 Componentes horizontais transversais dos esforços de tracção dos cabos e eventuais
esforços horizontais introduzidos pelo estaiamento.

C. Cargas horizontais longitudinais


 Componentes horizontais longitudinais dos esforços dos cabos e eventuais esforços
introduzidos pelo estaiamento;
 Acção do vento sobre o suporte, na direcção da linha.

7
As cargas acima relacionadas podem ser consideradas normais, sobrepõem-se ainda cargas
anormais, ou excepcionais, as quais sob certas condições, os condutores devem resistir. São
elas as cargas provocadas pelo rompimento de um ou mais cabos.

As estruturas além de sua função geral de suporte dos condutores possuem também funções
subsidiarias, cuja influencia e marcante em seu dimensionamento. Essas funções estão
relacionadas com o tipo de carga que devem suportar.

1. Estruturas de suspensão – são dimensionadas para suportar cargas normais verticais


e cargas normais horizontais transversais devidas a acção dos ventos sobre os cabos e
as próprias estruturas. No sentido longitudinal resistem a acção da forca do vento.
Conforme o tipo de estrutura, resistem também aos esforços excepcionais. Algumas
vezes são dimensionadas para resistir a esforços horizontais transversais, resultantes
da composição de componentes longitudinais transversais, resultantes da composição
de componentes longitudinais dos esforços de tracção nos cabos em pequenos ângulos
(em geral iguais ou menores do que 5°).
2. Estruturas de ancoragem – são distinguidas dois tipos:
 Ancoragem total- também chamadas estruturas de fim de linha, são dimensionadas
para resistir a todas as cargas normais e excepcionais, unilateralmente. São estruturas
mais reforçadas das linhas.
 Ancoragem parcial – ou ancoragem intermediaria- são empregadas em pontos
intermediários das linhas, servindo normalmente como pontos de tensionamento.
Menos reforçadas como as primeiras, resistem, em geral, aos esforços normais de
tracção unilateral, nas condições diárias de operação, além dos esforços transversais e
longitudinais normais, com distancias variáveis de 5 a 10 km entre si, hoje não mais
são assim consideradas podendo, inclusive, ser omissas.
3. Estruturas para ângulos – são aquelas dimensionadas para resistir aos esforços
normais, inclusive das forcas horizontais devidas a presença dos ângulos. Em uma
mesma linha há, em geral, diversos tipos de estruturas para ângulos, dependendo dos
valores destes. Resistem, geralmente, as cargas excepcionais.
4. Estrutura de derivação – quando em uma linha se deve fazer uma derivação sem
haver necessidade de interrupção ou seccionamento nesse ponto, a linha e
simplesmente derivada de estruturas apropriadas para esse fim.

8
As estruturas consistem nos elementos de sustentação dos cabos das linhas de transmissão.
Suas dimensões e forma dependem de diversos factores como:
 Disposições dos condutores;
 Distância entre condutores;
 Dimensões e formas de isolamento;
 Flecha dos condutores;
 Altura de segurança;
 Função mecânica;
 Materiais estruturais;
 Número de circuitos.

1.6 Disposições dos condutores


Nas linhas trifásicas empregam-se, fundamentalmente, três disposições de condutores:
 Disposição triangular;
 Disposição horizontal;
 Disposição vertical.

Figura 4 – Disposição triangular

9
Figura 5 – Disposição horizontal

Figura 5 – Disposição vertical

Para as linhas a circuito duplo preferem-se as disposições indicadas na Figura abaixo.

Figura 7 – Linhas a circuito duplo

10
1.6 Dimensões das estruturas

As dimensões principais das estruturas são determinadas principalmente pelos seguintes


factores:

 Tensão de nominal de exercício;


 Sobretensões previstas;

Como factores secundários intervém:

 Flecha dos condutores;


 Forma de sustentação dos condutores;
 Diâmetro dos condutores.
Em função dos elementos acima as normas dos diversos países fixaram a forma de se
determinarem as distâncias entre condutores, alturas dos seus pontos de suspensão e
distancias destes as partes aterradas da estrutura. Essas dimensões variam
grandemente de pais para pais, dependendo das normas adoptadas.

1.7 Apoios
Os apoios utilizados nas linhas de transmissão aéreas têm como função:
 Fixar os condutores, garantindo desta forma uma distância mínima de segurança entre
condutores, entre o condutor e o solo e, entre o condutor e o apoio;

 Suportar todas as forças solicitadas pelas linhas.

Nas linhas de transmissão aéreas de alta tensão podem ser usados dois tipos de apoios: apoios
em betão ou apoios metálicos. A sua escolha é determinada essencialmente pela avaliação de
dois parâmetros: o local e o custo de implementação.

Relativamente ao local de implementação, os apoios metálicos levam vantagem em relação


aos apoios em betão. Estas vantagens prendem-se, fundamentalmente, ao nível do processo
de transporte e montagem. No processo de transporte, os apoios metálicos são divididos em
partes, proporcionando a sua instalação em locais de difícil acesso. Posteriormente, o
processo de montagem é realizado no local, através do aparafusamento das várias partes.
Paralelamente, o processo de transporte e de implementação dos apoios em betão é bastante
mais complicado, uma vez que o apoio é edificado antes da realização destes processos.

11
Relativamente ao custo de implementação, os apoios metálicos levam desvantagem. Nestes
apoios a dimensão da base é tanto maior quanto maior for a altura do apoio. Neste sentido, o
custo de implementação deste tipo de apoio torna-se mais elevado.

Para finalizar, os apoios quanto a função que realizam podem ser de:
 Alinhamento;
 Ângulo;
 Reforço em alinhamento;
 Reforço em ângulo;
 Derivação em alinhamento;
 Derivação em ângulo;
 Reforço em derivação em alinhamento;
 Reforço em derivação em ângulo;
 Fim de linha.

Apoios de alinhamento: suportam unicamente os condutores e os cabos de guarda. Quando


os dois vãos adjacentes, ficam no prolongamento um do outro, com esforços verticais e
transversais;
Apoios de ângulo: utilizados para suportar os condutores e os cabos de guarda nos vértices
dos ângulos formados por dois alinhamentos diferentes, com esforços verticais e transversais;
Apoios de reforço: proporcionam pontos firmes na linha (normalmente colocados em cada 2
ou 3 km) e que limitam a propagação de esforços longitudinais de carácter excepcional, por
exemplo, a ruptura de um condutor;
Apoios de fim de linha: montados no extremo da linha aérea, devendo por isso resistir a
esforços longitudinais de todos os condutores e cabos de guarda.

Existem no mercado, para linhas com estas características, várias soluções de apoios, quer em
perfilados de aço, quer em betão. As vantagens dos apoios de betão comparativamente com
os apoios e aço, são algumas; ocupam um menor espaço de implantação, terão porventura um
impacte visual menor, têm um custo de fabrico e montagem inferior. No entanto, dadas as
suas dimensões, dificuldades de montagem e de transporte, os apoios de betão só deverão ser
utilizados em condições de terreno muito particulares, seja em termos de acesso, seja em
termos de espaço de manobra. Caso contrário, poder-se-ia chegar a uma boa solução de
projecto mas que na fase de construção se traduziria em enormes dificuldades. Além do

12
referido, com a utilização de apoios em aço, dado as suas condições de utilização permitirem
vãos maiores, consegue-se, aproveitando a topografia do terreno, fazer uma distribuição de
apoios mais eficaz.

1.8 Isoladores
O desempenho das linhas de transmissão está directamente relacionado com o
comportamento dos seus isoladores. Estes equipamentos têm a função de impedir a passagem
de corrente dos condutores para os apoios e sustentar os cabos e mantê-los electricamente
isolados das estruturas.
Em linhas aéreas, os cabos são suspensos e isolados da torre por cadeias de isoladores que
estão sujeitas a forças verticais e horizontais. O número de isoladores por cadeia é
determinado de acordo com a tensão da linha e o isolamento deve suportar tensões maiores
que a tensão normal de operação, resistindo, inclusive, a surtos atmosféricos e surtos de
manobras.
Podem ser fabricados em material cerâmico, como porcelana vitrificada ou vidro temperado,
ou baseados em compostos poliméricos, como a borracha de silicone em torno de um núcleo
de fibra de vidro. Ambos os materiais são dieléctricos e visam garantir a confiabilidade do
sistema, tanto no isolamento entre os condutores e a estrutura, quanto na sustentação e
fixação dos cabos, suportando os esforços mecânicos.
Actualmente os isoladores de vidro são os mais utilizados em linhas de transmissão de extra
alta tensão (EAT) devido ao seu menor custo de manutenção e experiência de funcionamento
comprovada. Os isoladores de porcelana, apesar de serem bastante vistos em linhas de
distribuição, possuem limitações de comprimento para uso em tensões muito elevadas.

Figura 8: Cadeia dupla de isoladores de vidro

Os isoladores poliméricos são fabricados em uma só peça para qualquer classe de tensão.
Apesar de serem mais leves (e, portanto, mais fáceis de manusear e transportar), além de
possuírem um menor custo imediato em relação à cadeia completa de isoladores de vidro,
ainda possuem elevado custo de manutenção, pois as técnicas de inspecção desses materiais é

13
cara e ainda pouco confiável. Apesar disso, têm excelente desempenho tanto em áreas com
níveis elevados de poluição quanto em regiões marítimas e são bastante utilizados em áreas
susceptíveis a vandalismo.

Figura 9: composição de um isolador polimérico e suas ferragens associadas (Siklowatt – 2014)

Os isoladores também podem ser classificados quanto à sua forma de utilização, sendo
divididos em suspensão e ancoragem. As cadeias de suspensão sustentam o peso do condutor
e podem ser observadas na forma de “I” ou “V”, enquanto as cadeias de ancoragem, além de
suportarem o peso do condutor, resistem às forças de tracção do cabo, tolerando fortes
deflexões.
Os isoladores são equipamentos frágeis e qualquer dano físico à sua estrutura pode gerar fuga
de energia ou, no pior dos casos, o rompimento da isolação. Por isso, devem ser tomados
cuidados especiais tanto no armazenamento quanto no transporte e montagem destes
materiais. Desta forma, é recomendável armazená-los em locais cobertos e secos, além de
proteger as embalagens do contacto directo com o solo ou da aproximação de roedores. No
içamento em direcção às estruturas, devem ser amarrados através de suas ferragens e
levantados verticalmente até a fixação na torre, mas, depois de instalados, não devem servir
de apoio para escadas ou para os próprios montadores.

1.9 Cabos
Os cabos das linhas de transmissão são formados por um conjunto de fios metálicos encordoados
que interligam as subestações de energia eléctrica e caracterizam-se por possuir alta
condutibilidade e resistência mecânica satisfatória, podendo ser classificados como condutores ou
pára-raios.

14
1.9.1 Condutores
São os elementos activos propriamente ditos das linhas de transmissão. É através deles que as
cargas eléctricas se deslocam, transmitindo a energia da geração até os centros de carga.
O cobre foi a matéria-prima utilizada nas primeiras LTs devido a sua elevada condutividade,
mas, actualmente, as linhas aéreas utilizam condutores compostos basicamente de alumínio,
tanto em forma de liga ou em conjunto com o aço, o que se deve principalmente ao seu
menor custo em relação ao cobre ou qualquer outro material condutor.
Os condutores de alumínio nu com alma de aço (formados por um grupo de fios de alumínio
dispostos concentricamente em torno de um fio de aço) são os mais utilizados nas LTs devido
a sua elevada condutividade e boa resistência mecânica.
A figura abaixo exibe imagens de condutores com alma de aço (ACSR – Aluminium
Conductor Steel Reinforced) e alumínio (ACAR – Aluminium Conductor Alloy Reinforced),
respectivamente.

Figura 10- Cabos ACSR e ACAR

1.9.2 Instalação dos Cabos


Após a montagem das estruturas é iniciada a etapa de instalação dos cabos pára-raios e
condutores, que compreende as actividades de lançamento, emenda, flechamento e
grampeação de acordo com as especificações técnicas e normas de segurança.
O lançamento dos cabos é realizado com base no Plano de Lançamento. Nele são avaliadas
todas as condições e obstáculos do traçado da LT, com o objectivo de encontrar a melhor
distribuição das bobinas no campo para que a instalação dos cabos seja realizada sem
desperdício de material e o aproveitamento da actividade ocorra de forma optimizada. É
elaborado com base nas informações de planta e perfil e lista de construção, além das tabelas
das bobinas disponíveis, conforme o modelo exibido no Apêndice B.

15
Depois de estipulados os locais de início e fim do lançamento em cada trecho, ordem de
posicionamento das bobinas, locais de emendas, vãos de controlo de flechas e locais das
protecções nas travessias sobre rodovias, ferrovias ou outras LTs/LDs, é iniciado o
lançamento. Primeiro são lançados os cabos pára-raios, que se situam em um plano mais alto,
e posteriormente são lançados os condutores.
Normalmente, em linhas de transmissão de extra alta tensão, os cabos são lançados sob
tensão controlada, ou seja, há primeiramente o lançamento de um cabo de aço (cabo piloto)
de menor peso que os cabos estipulados em projecto, para uma posterior conexão destes no
piloto através de um balancim (arraia). Os cabos são puxados por um guincho localizado na
extremidade do tramo denominada praça do guincho, enquanto que, na outra extremidade
(praça do freio) os cabos saem das bobinas e passam pelo freio, onde é feito o controle da
tensão do lançamento, conforme ilustra a figura abaixo.

Figura 11: Lançamento de cabos sob tensão controlada (Furnas – 2012)

A quantidade de bobinas utilizadas na construção depende da extensão da LT e são enroladas,


geralmente, em suportes de madeira com capacidade de transportar 2000 metros de cabo. Em
linhas de transmissão com comprimento maior que uma bobina, devem ser 64 realizadas
emendas continuamente para conectar dois segmentos de cabos. Para esse serviço são
utilizadas luvas, confeccionadas de acordo com a matéria-prima do cabo, com o cuidado de
adicionar uma pasta antioxidante no caso de o condutor possuir alma de aço. As emendas,
exibidas na figura 28, podem ser preformadas, que são instaladas manualmente, ou à
compressão, que utilizam o auxílio de uma prensa hidráulica para a instalação. A emenda do
cabo OPGW, diferentemente das demais, é realizada dentro da caixa de emenda, que são
acessórios fixados na própria estrutura metálica a cada 5000 metros de fibra óptica.

16
Figura 12: Emenda preformada e emenda à compressão

Depois de lançados, tanto os cabos condutores como os pára-raios devem possuir os valores
de flechas compatíveis com o estipulado no Projecto básico. A flecha é a maior distância
vertical entre a linha que liga os pontos de apoio dos cabos e o ponto mais baixo da curva,
conforme exibido na figura abaixo e demonstrado na equação subsequente. Para que o valor
real seja idêntico ao predeterminado, é efectuado o fechamento através dos serviços de
regulagem dos cabos.

Figura 13: Flecha

Onde:
T = tracção com direcção tangente à curva [kgf];
f = flecha pela equação da catenária [m];
p = peso unitário do condutor [kgf/m];
a = vão [m].

17
1.9.3 Distância entre os condutores e os apoios
A distância entre os condutores e os apoios determinada através da expressão apresentada
no artigo 33º do RSLEAT. Segundo este, a distância entre os condutores nus e os apoios
deverá ser verificada nas duas hipóteses seguintes:
 Condutores em repouso, à temperatura mais desfavorável;
 Condutores desviados pela acção do vento referido na alínea b) do artigo 12º, à
temperatura de 15ºC.
Esta distância não deverá ser inferior à dada por uma das expressões seguintes:
 D = 0,1+ 0,0065U , para condutores em repouso;
 D = 0,0065U , para condutores desviados pelo vento.
Em que U, em kilovolts, é a tensão nominal da linha.
 D = 0,1+ 0,0065×30 = 0,3m, para condutores em repouso;
 D = 0,0065×30 = 0,2m para condutores desviados pelo vento.
Segundo o mesmo artigo, o valor da distância não deverá ser inferior a 0,15 metros.

1.9.4 Cabo de guarda


Os cabos de guarda são componentes essenciais nas linhas de transmissão aéreas, pois a sua
função é a de impedir que as descargas atmosféricas atinjam os condutores, minimizando
desta forma possíveis avarias na rede eléctrica. Este componente é colocado na parte mais
elevada do apoio estabelecendo, através deste, ligação ao solo.
A instalação do cabo de guarda deve ser realizada segundo um conjunto de normas:
 Para um cabo de guarda, a instalação deve ser realizada de modo a que, os pontos de
fixação dos diversos condutores fiquem no interior de um ângulo formado entre o
vértice do ponto de fixação do cabo de guarda e a bissectriz vertical.
 Para dois cabos de guarda, a instalação deve ser feita de modo a que, cada um dos
condutores se encontre nas condições do ponto anterior em relação a algum dos cabos
de guarda.
Os materiais utilizados nos cabos de guardas são diversos. Os mais usados são o aço zincado
e o aço inoxidável. No entanto, pode ser admitido qualquer outro material que também seja
utilizado no fabrico de condutores.

18
1.10 Impacto Ambiental
Apesar de uma vasta área envolvente ao trajecto das torres de AT ter sido previamente alvo
de estudos de condicionalismos ambientais no desenvolvimento do projecto executivo, ter-se-
á especial atenção a eventuais condicionantes de diversos tipos, nomeadamente:
 Servidões rodoviárias (existentes e previstas);
 Servidões aeronáuticas;
 Imóveis de interesse público;
 Áreas verdes de equipamento desportivo;
 Áreas de protecção a recursos naturais;
 Reserva agrícola nacional;
 Reserva ecológica nacional;
 Área Reservada a Cemitério;
 Áreas sujeitadas a Regime Florestal;
 Recursos Hídricos;
 Áreas Urbanas;
 Património Arqueológico;
 Aterros Sanitários;
 Pedreiras;
 Áreas de Protecção Radioeléctricas;
Servidões de aquedutos, gasodutos e oleodutos, etc.
Para este efeito, será consultada a Câmara Municipal da Área de Estudo, bem como as
entidades públicas reguladoras nas diversas áreas. Serão também consultadas entidades
privadas de interesse social ambientalista, ecológico e desportivo, bem como empresas
concessionárias de infra-estruturas com servidões diversas (ferroviárias, rodoviárias,
aeronáuticas, telecomunicações, etc.).

19
Conclusão

As linhas aéreas de transmissão de energia são elementos vitais do SEE. Estas estão sujeitas a
solicitações extremas em caso de condições atmosféricas adversas, nomeadamente fortes
ventos e trovoadas. O projecto e dimensionamento devem ter em conta as recomendações
internacionais aplicáveis.

O seu impacto visual e ambiental deve ser atenuado de forma a obter uma situação tão
harmoniosa quanto possível.

20

Você também pode gostar