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© 2008, Myles Munroe

Título do original
God’s Big Idea: Reclaiming God’s Original Purpose for Your Life
Copyright da edição brasileira ©2011, Editora Vida
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Rua Isidro Tinoco, 70 Tatuapé (Shippensburg, PA).
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salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Scripture quotations taken from Bíblia Sagrada,


Nova Versão Internacional, NVI ®
Copyright © 1993, 2000 by International Bible Society ®.
Used by permission IBS-STL U.S.
Editor responsável: Marcelo Smargiasse
All rights reserved worldwide.
Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago
Editor de qualidade e estilo: Sônia Freire Lula Almeida
Edição publicada por Editora Vida,
Tradução: Marson Guedes salvo indicação em contrário.
Revisão de tradução: Marsely de Marco Martins Dantas
Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas
Projeto gráfico e diagramação: Karine dos Santos Barbosa segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
Capa: Arte Peniel assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

1. edição:  dez. 2011

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)


(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Munroe, Myles
A ideia genial de Deus: entenda a intenção original de Deus / Myles
Munroe; tradução Marson Guedes. — São Paulo: Editora Vida, 2011.

Título original: God’s Big Idea: Reclaiming God’s Original Purpose for
Your Life.
ISBN 978-85-383-0223-0

1. Autorrealização (Psicologia) - Aspectos religiosos - Cristianismo 2.


Vida cristã 3. Vida cristã - Ensinamentos bíblicos I. Título.

11-09367 CDD-248.4

Índices para catálogo sistemático:


1. Vida cristã: Ensinamentos bíblicos   248.4
Dedicatória

A os 7,5 bilhões de pessoas que cambaleiam sob o fardo secreto que é


buscar o propósito e a razão da própria existência.
À família da humanidade perdida na fumaça da confusão coletiva
que causamos, a confusão sobre os motivos que colocaram a nós, cria-
turas viventes, neste planeta girando no espaço.
Às crianças e aos jovens de nossos países que estão desiludidos com
as armadilhas da religião, apagados por causa da decepção com a polí-
tica e desconfiados das promessas vazias da ciência. Este livro dedica-se
a ajudá-los a encontrar a mais grandiosa das respostas para um coração
em busca.
Aos líderes religiosos e aos políticos, responsáveis por liderar e pro-
ver respostas para as pessoas de seus países e para o mundo. Que este
livro os inspire a olhar para a mais grandiosa das alternativas de restau-
ração nacional e global.
Agradecimentos

U m autor nunca escreve um livro sem antes tê-lo escrito em seu cora-
ção e em sua mente. São milhares de pessoas que dão contribuições
e influenciam sua vida. Depois disso, o livro é escrito em um esforço
colaborativo de muitas pessoas que, por meio de um processo corpo-
rativo, entregam um produto do qual milhões podem tirar proveito.
Portanto, é impossível para qualquer autor receber todo o crédito por
qualquer obra que produza.
A geração atual não é a única que contribuiu para esta obra. Alguns,
que já foram para o Reino além da terra também ajudaram, e há ainda
aqueles que todos os dias acrescentam algo ao meu desenvolvimento.
Em primeiro lugar, quero agradecer a meu amigo Don Milam, que
continua a exercer pressão sobre meu potencial ainda não utilizado e a
acreditar no conteúdo que tenho. Ele chega a ponto de acreditar que
sou uma biblioteca ambulante de livros ainda não escritos.
Steve, meu fiel e dedicado editor: Sua capacidade de captar e trans-
mitir a profundidade de meus pensamentos não é nada menos do que
um milagre. Este livro não teria saído da câmara incubadora do meu
coração sem sua habilidade e seu talento.
Gostaria de agradecer a Ruth, minha esposa amada, e a nossos ma-
ravilhosos filhos, Charisa e Chairo (Myles Jr.), por continuarem me
dando tempo para liberar o potencial de cada livro e incentivar-me a
cumprir meu propósito compartilhando-me com outras pessoas.
Recomendação

M yles Munroe não é apenas um amigo querido; é também alguém


que muito me ajudou a moldar nossa compreensão do Reino de
Deus. Deus está nos convocando a deixar de lado nossas brigas, lutas
e contendas e simplesmente adotar a verdade de que o Reino de Deus
já é uma realidade, e ele governa na terra. A grande ideia de Deus,
o novo livro do pastor Myles, é como um mapa do tesouro para as
promessas da Bíblia, ensinando-nos o que verdadeiramente significa
“buscar o Reino de Deus e sua justiça”, para que todo o mais possa se
encaixar perfeitamente.

Matthew Crouch
CEO, Gener8Xion Entertainment
Sumário

Prefácio13
Introdução17

Capít u l o 1 O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra 21


Capít u l o 2 O poder do princípio do jardim 37
Capít u l o 3 Céu e terra: um choque entre culturas 53
Capít u l o 4 O mestre dos jardineiros: o segredo de um
jardim bem cultivado 69
Capít u l o 5 Quem cultiva seu jardim? 83
Capít u l o 6 Compreendendo a influência do jardim 99
Capít u l o 7 Criando a cultura do Reino 112
Capít u l o 8 Gerando a comunidade do Reino 133
Capít u l o 9 Engajando-se na cultura popular 149
Capít u l o 1 0 Dois mundos vivendo na mesma terra 164
Prefácio

O mundo é dirigido por homens mortos. Talvez esta afirmação possa


surpreender você, mas, depois de pensar um pouco, provavelmente
concordaria, se considerasse que todas as ideologias que servem de fun-
dação para governos, religiões, instituições sociais e cívicas são cons-
truídas sobre as ideias de homens mortos. Imperialismo, monarquia,
socialismo, comunismo, democracia e ditadura, todas nascem de ideias
cultivadas, incubadas e desenvolvidas por homens que, embora tenham
descansado há muito tempo, ainda vivem na prática dessas ideias nas
sociedades modernas.
Este livro trata do poder irreprimível das ideias. Nosso planeta gira
em torno do poder das ideias, e essas ideias geraram a condição em que
a terra se encontra. Considere isso: todo governo de todo país orienta-
-se e regula-se por ideias. Todas as leis e as legislações são produtos de
ideias, e os padrões sociais e culturais de todas as comunidades ao redor
do mundo são resultado de ideias que as sociedades consideraram acei-
táveis, e assim expressam-se no comportamento social.
Este livro trata da ideia que foi introduzida na terra pelo Criador
da terra, mas que foi logo perdida depois que a jornada humana teve
início. Desde então, tem sido objeto da busca do espírito humano.
Essa ideia teve origem na mente e no coração do Criador e serviu de
motivação e propósito para a criação do Universo físico e da espécie
humana. Neste livro refiro-me a essa ideia como a “grande ideia” e
tento provar que é superior à junção de toda sabedoria e ideias do
intelecto humano. É uma ideia que está além das reservas filosóficas
A ideia genial de Deus

da história humana e suplanta as instituições que governam a huma-


nidade desde sua primeira sociedade.
A “grande ideia” não é uma ideia nova. Foi imitada, disfarçada, mal
utilizada, interpretada e compreendida equivocadamente pela humani-
dade ao longo da História e parece fugir à compreensão do mais sábio
de nós. É a busca intensa dessa “grande ideia” ao longo da História que
produziu todas as ideologias que viemos a adotar, e essa busca germi-
nou em todas as religiões da terra que os humanos seguem. Essa grande
ideia é a única resposta ao forte clamor existente no coração de cada
humano e pode satisfazer o vácuo perpétuo no espírito da humanidade.
O que é essa “grande ideia”? A grande ideia é a ideologia que serviu de
fundação do primeiro governo, do governo original, instituído na terra.
É a aspiração divina, a visão celeste e o propósito eterno do Criador para
sua criação e humanidade no planeta Terra. A grande ideia é o conceito
do programa de governo definitivo para a humanidade sobre a terra, que
satisfaz todas as necessidades fundamentais da humanidade e que produz
uma cultura que integra todas as aspirações nobres de toda a humanida-
de, tais como igualdade, justiça, paz, amor, unidade e respeito pela digni-
dade humana, valor humano e capacidade de decisão comunitária. Essa
ideia contém e é superior a todas as nobres aspirações da democracia, do
socialismo, do comunismo, do imperialismo, da ditadura e de todas as
religiões. Minha esperança é que este livro revele a beleza dessa grande
ideia, que pode solucionar todos os problemas terrenos — problemas
como guerras, terrorismo, crime, epidemia de aids, abuso infantil, des-
truição ambiental, conflitos entre culturas, pobreza, opressão, limpeza
étnica, crise econômica, desintegração familiar, corrupção política e reli-
giosa, violência nas comunidades e a cultura do medo.
Este livro é o resultado da minha luta pessoal em busca de significado,
motivo, esperança e compreensão da vida. Debati-me com inconsistên-
cias, fracassos e decepções nas tentativas humanas de autogoverno e de
produzir a utopia que continua sendo prometida. Fiquei igualmente afli-
to e desiludido com as promessas das religiões, pois a História expôs seus
defeitos gigantescos. Esses defeitos revelaram-se na extorsão de recursos,
comércio de armas, cruzadas humanas destrutivas, inquisições, opressão,

14
Prefácio

instituição do comércio escravagista, corrupção e, mais recentemente,


na motivação ao terrorismo e à destruição da vida humana. Minha espe-
rança na ciência e educação foi arremessada contra a parede quando vi o
progresso do conhecimento e da tecnologia tornar-se vítima da aplicação
imoral e ser abusado pelo poder desprovido de consciência.
Como fizeram milhões, retirei-me para dentro de mim em busca
das respostas que não estavam à mão dentro das estruturas e institui-
ções que deram forma à sociedade humana. Essa busca levou-me ao
mais mal compreendido homem do planeta Terra: um jovem filósofo
judeu que proclamou uma ideia nova. Ela não era ortodoxa, familiar,
não tinha sido tentada, mas desafiou todas as ideias previamente con-
cebidas pela humanidade. Essa ideia singular tratava de todas as ne-
cessidades, aspirações, perguntas e anseios da experiência humana, ao
mesmo tempo que mostrava os defeitos, fraquezas, irracionalidade e
inferioridade de nossas ideias.
Tal ideia singular acabou sendo tão completa que abarca todo o es-
pectro da vida dos indivíduos e das nações. Provê satisfação para toda a
raça humana, bem como para todo o planeta Terra.
Essa ideia não é uma filosofia metafísica, nebulosa, impraticável e
cósmica, que só poderia funcionar em outro mundo. Não precisa ser
relegada ou preservada em algum tipo de experiência “após a morte”.
Antes, é uma ideologia prática, inteligível, alcançável e amigável, pron-
ta para atuar na terra, embora se origine em outra dimensão. É uma
ideia que pode funcionar para governos nacionais, negócios corporati-
vos, vida civil, famílias e comunidades. É uma ideia para crianças, adul-
tos, ricos, pobres e tudo o que há no meio.
Creio tão intensamente nessa “grande ideia” — e dou testemunho
de suas evidências na minha experiência de vida — que dediquei toda a
minha vida a propagá-la, espalhando-a por aí, compartilhando-a com
cada ser humano com o qual deparo.
Essa ideia não é dogma religioso, nem alguma posição teológica
bitolada que isola a pessoa do restante da família humana. Antes, su-
planta qualquer posição institucional religiosa e desafia as fronteiras
limitadas de todas as outras filosofias e ideologias da humanidade.
15
A ideia genial de Deus

Essa grande ideia é tão pura que entra em conflito com todas as teses
que aprendemos e leva-nos a uma fronteira que invoca a melhor natu-
reza da humanidade.
Qual é essa ideia? É a concepção divina da colonização da terra pelo
Reino dos céus, que impacta o território da terra com a cultura amoro-
sa do céu na terra, produzindo uma colônia de cidadãos que expressam
a natureza, os valores, a moral e o estilo de vida do céu na terra. Não é
uma ideia religiosa, mas uma invasão global de amor, alegria, paz, bon-
dade, amabilidade, justiça, paciência e retidão sob a influência do go-
vernante celestial: o Espírito de Deus.
É a ideia que a humanidade pode ser restaurada à paixão, ao propó-
sito e ao plano do Criador. Que plano é esse? O de estender seu reino
celestial à terra, fazendo dela uma colônia dos céus. Como isso será al-
cançado por intermédio da humanidade, a terra, com sua natureza divi-
na, se manifestará em todos os comportamentos humanos. Não é uma
religião, mas a manifestação do governo de outra esfera da existência.
Que ideia! É a Grande Ideia. Junte-se a mim enquanto descobrimos a
maior das ideias que já ingressou no planeta Terra. Vamos aprender os
motivos pelos quais não poderia ter origem na terra, mas precisava ser
trazida para a terra pelo mais benevolente dos reis e governantes de um
país de outro mundo.

16
Introdução

A morte nunca consegue matar uma ideia. As ideias são mais po-
derosas do que a morte. As ideias continuam vivas depois que os
homens morrem e nunca podem ser destruídas. Na verdade, as ideias
produzem tudo. Tudo começou como uma ideia, tudo é consequên-
cia da concepção de uma ideia. Este livro é resultado de uma ideia, e o
papel no qual está impresso já foi uma ideia. O calçado nos seus pés, as
roupas que você veste, a casa na qual mora, o carro que dirige, a xícara
na qual bebe e a colher que usa não passam de ideias que vieram à luz
por causa da diligência humana.
É interessante observar, e a História serve de prova, que as ideias são
indestrutíveis. De fato, qualquer tentativa de destruir uma ideia parece
servir apenas para fazê-la crescer e multiplicar-se. As ideias que pare-
cem subjugadas, ou obrigadas a submergir em uma geração, emergem
em outra geração e causam impacto nas gerações futuras.
Lutar contra uma ideia é a luta mais difícil! Em termos filosóficos,
as ideias não podem ser destruídas por armas concretas como espadas,
tanques, armas nucleares, nem por armas biológicas ou químicas. As
ideias podem ter prazo de validade em uma estante, mas não podem
ser extintas. Por quê? Porque ficam incubadas em um local em que ne-
nhuma arma consegue atingir: a mente. Se você matar um homem, não
destrói suas ideias. As ideias podem ser transferidas e podem sobreviver
durante gerações.
É por isso que todas as ideologias sobrevivem, não importa a opi-
nião que você tenha sobre elas. Imperialismo, comunismo, socialismo,
A ideia genial de Deus

democracia, ditadura e monarquia: todos são ideias indestrutíveis, em-


bora os homens que as conceberam tenham morrido. É por isso que mes-
mo as tentativas de reagir ao espectro do terrorismo são tão difíceis! O
terrorismo é uma ideia propagada por extremistas: essa ideia é vendida,
negociada e transferida para a mente de outras pessoas e transforma-se
nos fundamentos filosóficos do comportamento destrutivo que se trans-
formou no maior dos desafios de segurança do século XXI. Como se luta
contra o terrorismo? Uma bala consegue matar uma ideia? O terrorismo
morre quando um terrorista é morto? Como se vence a guerra contra
uma ideia? Minha convicção é que a única maneira de derrotar uma ideia
ruim é oferecer uma ideia melhor. As ideias são destruídas com ideias.
Tenho a convicção de que a batalha pela terra é uma batalha de
ideias. Sempre foi uma batalha de ideias. Ao longo da História, a hu-
manidade lutou por causa de ideias. A guerra fria foi o resultado de
um conflito de ideias. A Segunda Guerra Mundial foi um conflito
de ideias. A Guerra da Coreia foi um conflito de ideias. O apartheid
foi uma ideia que oprimiu a dignidade humana, enobrecendo alguns
humanos e rebaixando outros: foi basicamente um conflito de ideias
a respeito de raça, etnia e valor humano. As tensões entre a China e a
cultura ocidental foram consequências de ideias. Todas essas questões
e acontecimentos históricos foram guerras ideológicas.
Talvez a esta altura, já que discutimos tanto sobre ideias, seja pro-
veitoso atentar para a definição do conceito de uma ideia. Para cap-
tar inteiramente o que é uma ideia, é necessário começar com o que se
chama de preceito. A palavra preceito é uma construção gramatical que
incorpora o prefixo pre-, que significa “antes”, e -ceito, a raiz da palavra,
que significa “pensamento” ou o implica. Portanto, a palavra preceito
significa “antes de pensar”, ou o pensamento antes do pensamento. Na
essência, um preceito é o “pensamento original” que se refere ao pen-
samento alicerçador. Quando um preceito é concebido, é chamado de
“uma ideia”. Portanto, uma ideia é um “pensamento concebido” que se
torna o alicerce de um conceito, que se desenvolve em imagem mental
e produz um produto. Portanto, uma ideia pode ser, e normalmente é,
a fonte da criação. A criação é uma ideia manifesta.

18
Introdução

Quando se concebe um pensamento-ideia, ele pode ser cultivado


em uma teoria e emerge como uma filosofia. É nesse estágio — quando
uma ideia pode se transformar em uma filosofia — que a fundação de
um sistema de crenças toma forma. Um sistema de crenças torna-se o
motivador de todo comportamento, de toda reação diante da vida e
do ambiente. A crença também torna-se uma lente pela qual toda vida
é vista e interpretada. Na essência, as ideias são o fundamento de uma
filosofia que se torna nossa maneira de pensar, nosso conceito da ver-
dade e nosso sistema de crenças. Assim, cria-se nosso estilo de vida e
condicionamento mental.
Nada é tão poderoso como a filosofia, e a fonte da filosofia são os
preceitos, que são as ideias que passamos a conceber e aceitar. O pen-
samento controla o mundo, e nos tornamos aquilo em que pensamos.
Esta é a premissa da afirmação do rei Salomão na Antiguidade, mais
de três mil anos atrás: “Porque, como [um homem] imagina em sua
alma, assim ele é” (Provérbios 23.7, ARA). Não é possível alguém viver
além da filosofia e do sistema de crenças. Você só mudará quando sua
filosofia mudar, e sua filosofia só mudará quando suas ideias mudarem.

19
Capítulo 1

O jardim do Éden: o Reino


de Deus na terra

O nde quer que eu vá, percebo que mais e mais pessoas se dizem can-
sadas da religião.
Há algum tempo fui convidado para fazer uma palestra em uma
conferência internacional “espiritual” na Cidade do México. Era certa-
mente uma reunião ecumênica de proporções globais. Os palestrantes
anunciados incluíam um líder indiano sique, assim como um dos mais
importantes imãs do islamismo. O próprio Dalai Lama iria se apresen-
tar antes de mim. O arcebispo católico do México estava lá, assim como
o arcebispo anglicano da Cantuária, Inglaterra. Eu era o único “evangé-
lico” na lista de palestrantes.
Quando cheguei com minha esposa à cidade do México, nossa
preocupação era sobre como seríamos recebidos. A preocupação foi
desnecessária. O pessoal do diálogo inter-religioso saudou-nos en-
tusiasticamente com um abraço caloroso e palavras animadoras. Na
verdade, a mulher responsável pela coordenação do evento me disse:
“Você é bastante conhecido por sua reputação. Sinta-se à vontade para
falar o que quiser. Diga tudo que quiser dizer”.
Meu horário era o último da programação, por volta das 15 horas.
Todos os palestrantes falaram antes de mim, e poucas pessoas compa-
receram às sessões. Não sei o que falaram a meu respeito, mas durante
minha apresentação a sala estava lotada. Sentados na primeira fila, ao
lado de minha esposa, estavam os líderes budista, sique e muçulmano,
todos paramentados com seus belos mantos.
A ideia genial de Deus

Dei uma olhada naquele monte de gente e pensei: “Deus, tem mi-
sericórdia!”. Foi quando me empolguei. Livrei-me do medo humano,
subi ao palco no poder do Espírito Santo e disse:
— Fiquem em pé, todos, vamos orar. Deem as mãos, e vamos entrar
em harmonia com o poder do Espírito Santo.
Todos os presentes fizeram exatamente o que pedi. A unção veio so-
bre mim com autoridade, comecei a orar, e algo impactou aquele lugar.
De repente, todos começaram a chorar. Tudo estava muito silencioso, a
não ser por um suave som de choro.
Finalmente eu disse:
— Sentem-se.
Nesse instante tudo estava tão quieto que se podia ouvir um alfinete
caindo.
Então disse a eles:
— Hoje, quero falar a vocês sobre o propósito original de Deus e
por que ele criou cada ser humano — sabia que aquela era minha opor-
tunidade para entregar a mensagem que precisavam ouvir.
Quando terminei minha palestra, trinta e cinco minutos depois,
uma salva de palmas irrompeu no recinto, e as pessoas aplaudiam de pé.
Gritos de “mais, mais, mais!” eram ouvidos no local. A diretora subiu
ao palco, aplaudindo e concordando com a plateia.
— Fale mais — ela insistiu, sorrindo.
— Mais?
— Sim. Eles querem ouvir mais. Continue, por favor.
Então, durante mais vinte e cinco minutos, contei a eles por que Jesus
Cristo é diferente de Buda, Maomé, Confúcio e todos os outros “funda-
dores” das religiões mundiais. Eu disse:
— Em primeiro lugar, deixe-me esclarecer que não sou um homem
religioso. Em segundo lugar, estou convencido de que a fonte número
um de todos os nossos problemas é a religião.
O local ficou em silêncio total.
— Em terceiro lugar, estou aqui para representar um Homem que
nunca foi religioso, cujas teologia, psicologia e ideologia estão muito
22
O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

acima da religião. Creio que sua tese a respeito da conduta humana e


do futuro da humanidade é a única resposta que temos. Após analisar
todas as outras apresentações, e todas as ideologias que foram apresen-
tadas, proclamo que a dele é superior.
Apesar de parecer impossível, a sala ficou ainda mais silenciosa.
— Por exemplo — continuei —, a maioria das religiões diz “olho
por olho, dente por dente”, mas esse grande filósofo diz “Ame seus ini-
migos” — o imã muçulmano contorceu-se em sua cadeira —. Vim aqui
para falar sobre aquilo de que mais precisamos. O mundo não precisa
de mais religião, pois sabemos que somos o problema. O que precisa-
mos é de um governo no mundo, e vim falar a vocês sobre um governo
alternativo. O único que funciona é o Reino de Deus. Cada um de vo-
cês nesta sala equivocou-se na hora de interpretar Jesus Cristo.
Segui nessa linha por mais trinta minutos, e no final fui novamente
ovacionado de pé.
Por que minha mensagem foi tão bem recebida? Porque não falei
sobre uma religião. Se tivesse pregado o “cristianismo”, minha apre-
sentação nunca teria funcionado. Em vez disso, falei sobre Deus, seu
Filho e sua “grande ideia”, e as pessoas a devoraram. Por quê? Porque
as pessoas estão cansadas de ouvir falar em religião. Estão cansadas de
coisas que não funcionam, que não respondem às perguntas nem aos
desejos mais profundos de sua alma. O mundo inteiro está procuran-
do algo mais.
O mundo de hoje está arruinado por causa do desassossego e da
violência. Guerras, genocídio, “limpeza étnica” e terrorismo, tudo isso
exprime o violento choque de culturas em uma escala sem precedentes.
No coração desse conflito cultural encontram-se fundamentos ideo-
lógicos profundamente arraigados. São fundamentos em oposição e
firmam-se na religião. Sempre que uma religião se torna a base de uma
cultura, fica muito difícil mudar essa cultura, pois é fundamentada em
um sistema de convicções, de crenças. Historicamente, as diferenças
religiosas foram e continuam sendo responsáveis pelos conflitos mais
violentos da História. Claramente, a religião representa um fracasso
para a humanidade.
23
A ideia genial de Deus

Uma ideia de beleza singular


A religião é uma ideia do homem, não de Deus. A ideia original
de Deus é muito maior e muito melhor do que qualquer coisa que
nós, seres humanos, poderíamos imaginar. E qual foi a grande ideia
de Deus? Ele decidiu ampliar seu Reino divino para o plano terres-
tre, expandir seu domínio sobrenatural e atingir o domínio natural.
Ou, em outras palavras, Deus decidiu encher a terra com a cultura
do céu.
Como Deus pôs sua grande ideia em prática? Aqui, assim como em
quase tudo o que faz, Deus fez o inesperado. Tipicamente, reinos e impé-
rios humanos entram em ascensão — ou queda — por meio de guerras
e conquistas. Mas não o Reino de Deus. Pelo fato de seus pensamentos
não serem os nossos pensamentos, e de seus caminhos não serem os nos-
sos caminhos (veja Isaías 55.8), Deus fez algo completamente diferente.
Quando decidiu trazer a cultura do céu para a terra, Deus não se valeu
de guerras. Não partiu para conquistas. Não promulgou um código de
leis. Não. Quando decidiu trazer o céu para a terra, fez algo muito mais
simples, algo singularmente belo e maravilhoso.

Ele plantou um jardim


Apesar de invisível, o céu é um local literal. É um Reino que
tem território e governo — o governo de Deus. Desde o princípio,
Deus tinha uma meta bem simples: expandir seu Reino celestial e
invisível e atingir a terra visível. Essa intenção inicial é o coração das
Escrituras. Historicamente, sempre que um reino ou império quises-
se expandir sua influência ou território, isso ocorria basicamente de
duas formas: colonização ou franca conquista. Sendo o único e in-
contestável Criador e Governador de tudo o que existe, Deus optou
por expandir sua influência e domínio — saindo do espiritual para o
natural, saindo do invisível para o visível — estabelecendo na terra
uma colônia, ou posto avançado, do céu. Seu plano era povoar esse
posto avançado com seus próprios filhos — seres humanos criados à
sua imagem — que viveriam e fariam funcionar seu Reino sagrado
nos domínios terrestres.
24
O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

Ao contrário do padrão seguido pelos reis e governantes humanos


ao longo da História, a ideia original desse posto avançado do céu na
terra não era a de uma fortaleza imponente com muralhas altas, ameias
e paliçadas, projetadas para intimidar uma população amedrontada.
Não. Deus iniciou seu Reino na terra plantando um jardim no Éden,
um local especialmente preparado para servir de habitação para os pri-
meiros representantes humanos de seu Reino na terra. Deste ponto ne-
vrálgico de abundância e beleza, seguiriam o mandato de seu governo
para serem férteis e multiplicarem-se (Gênesis 1.28), povoando a terra
com outros de sua espécie e plantando os “jardins” do Reino aonde
quer que fossem. Dessa forma, tal como o fermento no pão, infundi-
riam o território da terra com a nação do céu.

Entendendo a intenção original de Deus


A chave para entendermos a razão da presença dos homens na terra
é entender a intenção original de Deus. Se soubermos quais eram os
intentos iniciais de Deus, poderemos entender melhor onde nos en-
contramos agora e para onde precisamos ir.
A palavra intenção pode ser definida como propósito original. É
mais importante saber qual era a intenção de uma pessoa do que sa-
ber o que de fato ela disse ou fez. Se não discernirmos corretamente a
intenção, haverá um mal-entendido. Esse é um dos motivos pelo qual
existem tantas pessoas confusas no mundo: interpretamos mal a inten-
ção original de Deus. Interpretamos mal não apenas a nós mesmos, mas
também o propósito de Deus ao nos colocar na terra.
Quando entendemos essa intenção, vemos o “quadro geral”. Se vir-
mos ou ouvirmos somente uma pequena parte do todo, nossa interpre-
tação será equivocada, e chegaremos a uma conclusão incorreta. Deus
tem um propósito em tudo o que faz. Todos nós que somos cidadãos
de seu Reino fazemos parte de seu plano global. Mas, em geral, tudo
o que vemos é uma pequena porção que nos envolve em determinado
momento. Se consultarmos regularmente a Bíblia (o guia de Deus para
a vida em seu Reino), ele nos dará conta de sua intenção, o que, por sua
vez, nos ajudará a visualizar o quadro geral.
25
A ideia genial de Deus

A intenção é também o componente mais crítico da motivação.


É a fonte da motivação, é o motivo pelo qual uma pessoa faz ou cria
algo. No entanto, a menos que seja claramente especificada, a inten-
ção fica oculta. Um bom exemplo disso é a obra de arte de um pintor
renomado. Os artistas raramente explicitam sua intenção: deixam
que sua arte fale por si mesma. Para aqueles que dispõem de tempo
e disposição para investigar, a intenção por trás do trabalho de um
artista pode ser discernida da própria pintura. Nenhuma outra expli-
cação é necessária.
Como já disse, se a intenção for desconhecida, a interpretação
equivocada é inevitável. Equívocos ao interpretar a intenção são uma
garantia de que desperdiçaremos tempo, talento, energia, dons e recur-
sos. Tudo o que fizermos será perda de tempo se não soubermos o que
Deus pretendia. Esse é o problema com a religião. A religião é, no má-
ximo, o melhor palpite dos homens sobre a intenção original de Deus.
A maioria das religiões tenta chamar a atenção de Deus, o que é uma
abordagem errada. Já temos a atenção de Deus. A chave para a vida e o
propósito, no entanto, está em descobrir a intenção de Deus.
Felizmente para nós, Deus não escondeu sua intenção, obscurecendo-
-a como um artista faria em suas pinturas. Em vez disso, a criação revelou
Deus e sua intenção (algumas vezes chamada de “revelação geral”), e o
mesmo vale para sua Palavra (algumas vezes chamada de “revelação es-
pecial”). Um exemplo do primeiro caso pode ser encontrado em Salmos
19.1: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra
das suas mãos”. A revelação geral refere-se ao que podemos aprender so-
bre Deus por meio da observação da ordem criada. A revelação especial
tem a ver com o que Deus explicitamente revela sobre ele mesmo, seja
por meio de declarações ou manifestações claras — coisas a respeito dele
que nunca descobriríamos ou reconheceríamos sozinhos. A Bíblia está
repleta dessas afirmações da autorrevelação de Deus.
Na verdade, a intenção original de Deus é afirmada explicitamente
no capítulo 1 da Bíblia.
Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança. Que ele domine sobre os peixes
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O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda


a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente
ao chão”. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou,
e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e sub-
juguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as
aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”.
(Gênesis 1.26-28)

A expressão “Deus disse” indica que a seguir se declara a intenção de


Deus, de seu propósito, aquilo que de antemão havia concebido em sua
mente. É preciso ouvir atentamente sempre que Deus falar, pois esta-
mos prestes a receber a revelação de sua intenção. Nesse caso, descobri-
mos qual é a intenção de Deus — seu propósito — ao criar o Universo,
o planeta que chamamos de Terra, junto com todas as suas criaturas,
especialmente a raça humana. Em primeiro lugar, Deus nos diz o que
pretendia fazer: criar uma espécie chamada “homem” à sua imagem e
semelhança. Então, ele nos diz o motivo: para que possamos reinar
e dominar toda a terra e suas criaturas.
Para facilitar isso, Deus preparou um ambiente especial para os re-
presentantes humanos, uma “base inicial” de onde poderiam realizar
sua intenção e encher a terra com a cultura do céu.

Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden,


para os lados do leste, e ali colocou o homem que formara [...].
O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para
cuidar dele e cultivá-lo. (Gênesis 2.8,15)

A intenção original de Deus era povoar a terra com a raça humana,


que governaria o Planeta em seu nome. É realmente muito simples.

Criada para ser habitada


Existem muitas outras referências na Bíblia que expressam cla-
ramente a intenção original de Deus. Por exemplo, o profeta hebreu
Isaías afirmou que Deus criou a terra especificamente para ser habitada
pelos seres humanos.
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A ideia genial de Deus

Pois assim diz o Senhor, que criou os céus, ele é Deus; que
moldou a terra e a fez, ele fundou-a; não a criou para estar va-
zia, mas a formou para ser habitada; ele diz: “Eu sou o Senhor,
e não há nenhum outro”. (Isaías 45.18)

No plano de Deus, a terra sempre teve um propósito. Deus nunca


quis criar a terra para deixá-la vazia. Desde o início, mesmo antes de
formá-la, Deus a imaginou repleta de plantas e vida animal de toda es-
pécie. Os seres humanos criados à imagem de Deus fariam o trabalho
de supervisão e exerceriam a autoridade que lhes foi delegada.
Um dos antigos salmos hebreus diz: “Os mais altos céus per-
tencem ao Senhor, mas a terra ele a confiou ao homem” (Salmos
115.16). O desejo de Deus era expandir seu governo real do céu para
a terra, mas não queria fazer isso pessoalmente. Em lugar disso, es-
colheu criar a humanidade à sua própria imagem — seres espirituais
habitando um corpo físico perfeitamente adaptado para viver na di-
mensão natural. A terra foi dada ao homem. Logo, está fora de prumo
qualquer religião que ensine ou enfatize que deixaremos a terra para
viver a eternidade em outro lugar na “próxima vida”. Se estivermos
ávidos para deixar a terra e viver eternamente em outro lugar qual-
quer, estaremos interpretando incorretamente a intenção de Deus.
Embora a Bíblia afirme claramente que o mundo atual vai acabar
(veja 1Coríntios 7.31; 1João 2.17), ela também promete que uma
nova terra vai substituí-lo.

“Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra, e as coisas pas-


sadas não serão lembradas. Jamais virão à mente!” (Isaías 65.17).
“Assim como os novos céus e a nova terra que vou criar
serão duradouros diante de mim”, declara o Senhor, “assim
serão duradouros os descendentes de vocês e o seu nome”
(Isaías 66.22).
Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos
céus e nova terra, onde habita a justiça (2Pedro 3.13).
Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu
e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.
(Apocalipse 21.1)

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O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

Se a intenção original de Deus — que a terra fosse habitada — mu-


dasse quando o mundo atual acabar, por que criaria um mundo novo?
O futuro da humanidade no Reino dos céus sempre envolverá a terra
— uma terra recriada.
A intenção original de Deus — e seu propósito duradouro — era
expandir seu Reino celestial invisível para a terra. Assim, influenciaria
a terra pelo céu, e o faria por intermédio do domínio exercido por seus
filhos terrestres, filhos criados à sua imagem. Colonização é o processo
que estende um governo monárquico (ou de qualquer tipo de governo)
de um local para outro com o estabelecimento de um posto avançado,
chamado colônia. Dito de forma simples, a intenção original de Deus
era transformar a terra em uma colônia do céu.
Entendo que a maioria das pessoas hoje em dia enxergue a coloni-
zação de maneira negativa, principalmente aqueles que, como eu, vi-
veram debaixo do domínio colonial. E com uma boa razão: durante a
História, quase toda colonização humana caracterizou-se por coerção,
brutalidade, ganância, exploração e opressão. Essas características, na
realidade, refletem a natureza e as táticas de Satanás, principal inimigo
da humanidade, que se apoderou ilegalmente da colônia-jardim origi-
nal de Deus e destronou Adão e Eva, seus legítimos governantes.
A colonização era a ideia original de Deus. Diferente do jeito huma-
no de colonizar, a colônia de Deus na terra assumiu a forma de um jar-
dim. Como analogia, um jardim compartilha as mesmas características
gerais de uma colônia, mas sem a carga negativa. Em nítido contraste
com a maneira violenta e brutal de expansão dos impérios humanos, a
maneira de Deus foi bem mais sutil. Um jardim começa com um solo
abandonado que gradualmente se transforma, seguindo um processo
belo e completo. Da mesma maneira, a influência do Reino de Deus
sobre a terra aumenta aos poucos, e normalmente sem ser notada, e isso
até que chegue o dia de encher a terra, embebendo-a com a cultura do
céu. Jesus comparou o processo do fermento agindo no pão.

“O Reino dos céus é como o fermento que uma mulher to-


mou e misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda
a massa ficou fermentada.” (Mateus 13.33)
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A ideia genial de Deus

Ele também comparou o Reino a uma semente de mostarda.

“Com que se parece o Reino de Deus? Com que o compa-


rarei? É como um grão de mostarda que um homem semeou
em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do
céu fizeram ninhos em seus ramos.” (Lucas 13.18,19)

O objetivo final de Deus quando plantou um “jardim-colônia” era


encher a terra com sua glória. A glória de Deus é um dos temas impor-
tantes da Bíblia. Por exemplo, Deus disse a Moisés: “Tão certo como
eu vivo [...] a glória do Senhor encherá toda a terra” (Números 14.21,
A21). O rei Salomão, filho de Davi, orou: “Bendito seja o seu glorioso
nome para sempre; encha-se toda a terra da sua glória” (Salmos 72.19).
Deus reitera este tema com Habacuque, o antigo profeta hebreu, com
as palavras: “Mas a terra se encherá do conhecimento da glória do
Senhor, como as águas enchem o mar.” (Habacuque 2.14)
Em hebraico, a palavra para “glória” é kabod, e o equivalente em
grego é doxa. As duas palavras significam “pesado” ou “peso pesado”.
Mais especificamente, “glória” refere-se à plena natureza de uma coisa.
Deus quer encher a terra com todo o seu peso, sua natureza verdadeira
e completa, a plenitude de quem ele é e da impressão que dá. Ele quer
ser na terra exatamente o que é no céu. Salmos 19.1 diz que os céus
estão cheios da glória de Deus. Ele quer que a terra se encha da mesma
maneira, com pessoas plenas de sua natureza e Espírito.

A ascensão… queda… e ascensão... de um reino


Entender a intenção original de Deus ajuda-nos a compreender a
Bíblia, sua palavra escrita. Muitas pessoas interpretam equivocadamente
a Bíblia e sua mensagem porque entendem equivocadamente a intenção
original de Deus. Dito de maneira simples, a Bíblia fala sobre a ascensão,
queda e ascensão do reino de Deus na terra. Ela conta a história de um
reino estabelecido, um reino perdido e um reino reconquistado. Os dois
primeiros capítulos do livro de Gênesis descrevem o estabelecimento do
reino terrestre de Deus sob o domínio de Adão e Eva, que foram criados
por Deus à sua imagem e dele receberam domínio.
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O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

O capítulo 3 de Gênesis conta como Adão e Eva perderam seu reino


terrestre, enquanto o restante da Bíblia registra o plano de Deus em
operação para reconquistar o reino e restaurá-lo a seu lugar anterior.
A Bíblia começa com a criação da dimensão natural — os céus e a
terra —, mas, antes mesmo disso, ele criou e estabeleceu a dimensão
sobrenatural, que conhecemos como céu, como o centro invisível de
seu poder. O céu é o primeiro reino de Deus, o reino original. Sendo
um reino, tendo Deus como seu rei, o céu é um país tão real quanto
qualquer nação na terra, apesar de ser invisível.
Isso não se refere a seus países de origem, para os quais poderiam ter
voltado se desejassem, mas para outro país, em outro lugar.

Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pá-


tria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser cha-
mado o Deus deles, e lhes preparou uma cidade. (Hebreus 11.16)

O céu, portanto, é um país, um reino governado por um rei:


Deus. “Rei” é o único título adequado para descrever o lugar de
Deus no céu, porque ele não foi colocado no poder pelo voto. Deus
governa seu reino por direito divino, o direito da criação. Pelo fato
de Deus ter criado todas as coisas, todas as coisas a ele pertencem.
Ele é o legítimo governante do Universo. Em Salmos 103.19 lemos:
“O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina
sobre tudo o que existe”. Nunca haverá outro governante porque o
reino de Deus é eterno: “O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o
sempre” (Salmos 45.6a).
Como é da natureza dos reinados expandirem seu território, Deus
decidiu expandir seu Reino invisível e sobrenatural em direção à di-
mensão visível e natural. Ele criou os céus e a terra, plantou um lindo
jardim no Éden como o ponto central e inicial da expansão de seu
Reino na terra. Encheu a terra com plantas e animais de várias espé-
cies. Por fim, ele criou um homem e uma mulher — seres humanos
moldados à sua imagem e semelhança — e colocou-os no jardim na
qualidade de representantes de seu Reino para governarem a terra sob
sua total autoridade.

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A ideia genial de Deus

Os seres humanos receberam o poder sobre a dimensão terrestre,


mas Deus permanece rei porque tudo pertence a ele. O salmista diz:

“Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e


os que nele vivem; pois foi ele quem a fundou sobre os mares e
firmou-a sobre as águas” (Salmos 24.1,2).
“Pois o Senhor Altíssimo é temível, é o grande Rei sobre
toda a terra!” (Salmos 47.2).

Quando Deus criou a humanidade, deu-nos domínio sobre a terra,


mas nunca nos fez proprietários. Deus é o rei da terra, e Adão e Eva
eram seus administradores, revestidos de autoridade quase ilimitada
para governarem em seu nome.
Como primeiro posto avançado do Reino invisível de Deus no do-
mínio visível, o Éden era um toque de céu na terra. Tudo que se refe-
ria a ele refletia a cultura, o governo e os hábitos do céu. Na verdade,
ali era o paraíso. Infelizmente, esse estado idílico de coisas não durou
muito. No capítulo 3 de Gênesis vemos a trágica história de como um
usurpador, um pretendente demoníaco ao trono, obteve controle do
posto terreno do céu usando uma combinação de sutileza e trapaça.
Adão e Eva, os mordomos do Éden, foram induzidos a desobedecer ao
comando do Rei, renunciando assim a seu domínio e autoridade sobre
a terra. Satanás, um querubim desempregado com delírios de grandeza
— e arqui-inimigo de Deus — tomou controle sobre o que não tinha
direito e rapidamente o contaminou com o veneno de sua malignidade
nociva. O paraíso foi perdido, e, desde então, nós, humanos, esperamos
pela restauração de nosso reino perdido.
Os oito capítulos seguintes de Gênesis descrevem o aprofunda-
mento da corrupção cultural, moral, mental, imaginativa e compor-
tamental em razão da natureza pecaminosa herdada por Adão e Eva,
assim como da contínua influência mortal do domínio maligno e ile-
gal de Satanás.
O capítulo 12 de Gênesis começa com a história do plano de
Deus para reconquistar e recuperar o reino terreno que a humani-
dade perdeu. Deus chama Abraão e, por meio de seus descendentes,

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O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

construiu sua nação, seu povo. Por meio desse povo, mais tarde en-
viou seu Filho à terra a fim de restabelecer seu reino e tirá-la das
mãos do falso pretendente.
Após séculos de preparação — quando Deus sentiu que havia che-
gado a hora — Jesus Cristo, o Filho de Deus, nasceu de uma virgem
e cresceu em uma família pobre. Como sua missão era restabelecer o
Reino dos céus na terra, não surpreende que sua mensagem fosse uma
mensagem do Reino, uma mensagem de colonização por assim dizer.
As primeiras palavras registradas de Jesus foram: “Arrependam-se, pois
o Reino dos céus está próximo” (Mateus 4.17b). Sua vida, ministério,
morte e ressurreição romperam o poder do falso pretendente, restau-
raram o reino terreno a seu Pai e abriram a porta para a humanidade
reconquistar seu lugar legítimo nesse reino.

Assim na terra como no céu


Jesus ensinou seus seguidores a orar: “Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu” (Mateus 6.9,10). Com essas palavras, ele mais
uma vez estava chamando seu Pai para restaurar o governo e a cultura de
seu Reino na terra, assim como sempre fora no céu — e também como
fora no começo do Éden. Como era o Reino de Deus na terra? Como era
a vida no posto terreno do céu, o “jardim-colônia” de Deus na terra?
Essencialmente, o Éden era um reflexo direto da dimensão natural
do céu na dimensão sobrenatural. Para começo de conversa, tinha terra
— território. Todo reino precisa de território, já que sem território não
há nada para um rei governar. Apesar de invisível, a dimensão sobrena-
tural do céu é vasta e infinita — muito maior do que a dimensão na-
tural visível aos olhos humanos. O Éden era uma dimensão física com
território físico. É por isso que Deus não criou o homem antes. Criou
a terra primeiro para que o homem tivesse um território sobre o qual
governar. Adão e Eva governaram o Éden e toda a ordem criada exata-
mente como Deus governava no céu.
Em segundo lugar, o Éden tinha uma língua em comum com o céu.
Qualquer nação ou reino precisa de uma língua comum, ou perderá a
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A ideia genial de Deus

coesão nacional e social. Adão e Eva tinham uma língua comum com
seu Criador. Conversavam de maneira aberta e desprendida com Deus,
em um relacionamento completamente transparente: sempre sabiam
exatamente o que se esperava deles. Tudo isso mudou quando o falso
pretendente assumiu o controle.
É por isso que, quando estamos fora do Reino, não entendemos o
que Deus diz e não sabemos mais o que se espera de nós. Uma carac-
terística da vida no Reino é que podemos falar e entender a língua do
Reino, e aqueles que estão de fora não podem.
O Éden também compartilhava as leis e a Constituição do céu. Isso
não foi escrito em lugar nenhum, pois Deus os colocou no coração
e na mente do casal humano que criou. Eles sabiam quais eram as
expectativas e exigências de Deus. Entendiam como Deus queria que
vivessem e o que queria que fizessem. As instruções de Deus eram
simples: “Sejam férteis, multipliquem-se, encham a terra e subjuguem-
-na”. Ele colocou apenas uma restrição em suas atividades, uma restri-
ção para protegê-los: “E o Senhor Deus ordenou ao homem: ‘Coma
livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do
conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer,
certamente você morrerá’ ” (Gênesis 2.16,17). Com exceção dessa
proibição, eram completamente livres.
No início, o Éden funcionava de acordo com o código moral do céu.
Toda nação deve ter um código moral, ou então as pessoas se torna-
rão a própria lei e farão o que quiserem, gerando caos, desordem e
anarquia. No começo, Adão e Eva não tinham consciência do código
moral. Viviam em perfeita harmonia com Deus. Não havia menti-
ra, roubo ou crime, nem imoralidade sexual ou qualquer outro com-
portamento corrupto que caracteriza a vida num mundo degradado.
Quando a trapaça e a fraude do falso pretendente os levaram a deso-
bedecer à única restrição de Deus, sentiram imediatamente todo o
peso do código moral do Reino, que produziu neles uma profunda
sensação de vergonha e culpa.
O Éden e o céu também compartilhavam valores. Faz parte da ci-
dadania em qualquer país concordar com os valores expressos dessa

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O jardim do Éden: o Reino de Deus na terra

nação. No Reino dos céus, o valor mais importante é a obediência


à vontade do Rei. Por meio de sua desobediência, Adão e Eva mos-
traram que não compartilhavam os valores do Rei, e é por isso que
tiveram de deixar o jardim.
A desobediência de Adão e Eva não somente violou o código mo-
ral do reino, mas também seus costumes e normas sociais. Todas as
nações e reinos têm costumes (códigos não escritos de conduta apro-
priada tão arraigados no consciente das pessoas que assumem um
peso de lei) e normas sociais (hábitos, etiqueta, cortesia e padrões
de comportamento considerados a norma para aquela sociedade). A
violação dessas normas faz que a pessoa seja rotulada de “antissocial”
e algumas vezes até de “criminosa”.
No Reino dos céus, a palavra do Rei é lei e abrange tanto os costu-
mes como as normas sociais. Ela é absoluta e inviolável. Desafiar o Rei
é intolerável. Lúcifer (Satanás) e um terço dos anjos do céu descobri-
ram isso do pior jeito quando armaram um golpe contra o Rei e foram
banidos do céu por causa dos distúrbios que causaram. Adão e Eva fize-
ram a mesma descoberta ao serem expulsos do paraíso.
Resumidamente, sendo um posto avançado do céu na terra, o jar-
dim-colônia do Éden era uma exposição da cultura do céu. A cultura é o
auge de todos esses elementos: terra, língua, leis, constituição, códigos
morais, valores, costumes e normas sociais. Ela define um povo. A cul-
tura é inerente, surge naturalmente, e é exatamente isso que Deus quer
para os cidadãos do Reino. Não quer que nos esforcemos para obedecer
a leis escritas em placas de pedra ou impressas em livros. Quer escrevê-
-las em nossa mente e em nosso coração, para que sirvam como uma
segunda pele. Dessa forma, não precisaremos pensar em como viver a
cultura do Reino. Simplesmente a viveremos.
Ao criar um posto do céu na terra, Deus queria estabelecer um pro-
tótipo do país original, o céu, em outro território. Plantar o jardim foi
uma maneira particularmente apropriada de realizar esse desejo. Em
primeiro lugar, a beleza natural, a vida vibrante e a fertilidade abun-
dante do jardim são reflexos visíveis das características similares do
Reino invisível de Deus. O céu é um país espiritual de indescritível

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A ideia genial de Deus

beleza, energia e abundância porque é o centro do poder para o Rei


do Universo, que é tudo isso e mais um pouco — infinitamente mais.
Em segundo lugar, um jardim transforma a terra que ocupa, trans-
formando o solo estéril em um local de beleza, provisão e propósito. Da
mesma maneira, o Reino dos céus transforma a dimensão natural, onde
quer que as duas se cruzem, de forma que a dimensão natural se torna
um reflexo fiel do céu.
A grande ideia de Deus foi reproduzir o Reino dos céus na dimen-
são visível. Para isso, ele plantou um posto avançado do Reino na terra
e a povoou com súditos que governariam de acordo com o governo
do Reino, viveriam de acordo com a cultura do Reino e espalhariam a
influência do Reino até que enchesse e transformasse a terra. O termo
político para esse tipo de expansão governamental é colonização.
Contudo, o Éden também era um jardim. E, assim como os reinos
expandem-se transplantando seu governo e sua cultura para outros lu-
gares por meio da colonização, os jardins expandem-se pelo transplante
de arbustos, mudas e enxertos no novo solo. O propósito de Deus era
que os súditos de seu Reino no Éden — seus mordomos-jardineiros —
expandissem o jardim, o governo e a cultura do Reino transplantando-
-os aonde quer que fossem.
Essa ainda é a grande ideia de Deus — e seu propósito para hoje.
Deus ainda trabalha com horticultura. Todos os súditos do Reino com-
partilham o chamado e a comissão de seu Rei para serem jardineiros re-
ais, lançando as sementes e plantando “jardins” de cultura e governo do
Reino por todo o mundo, até que “a terra se encha do conhecimento da
glória do Senhor, como as águas enchem o mar” (Habacuque 2.14).

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