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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Analise da serie e do filme MASH

MATEUS FILIPE P. PRIMO

BELO HORIZONTE
07 – 2010
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Analise da serie e do filme MASH

Trabalho apresentado à Professora


Cláudio Magalhães, da disciplina
Roteiro e Produção para Rádio e TV do
5° período noturno do curso de Cinema
e Audiovisual.

BELO HORIZONTE
06 – 2010
Introdução

Mash - 4077° Mobile Army Surgical Hospital – M.A.S.H. (1969) é considerado


um manifesto antiguerra, tanto a serie, mas mais ainda o filme. Diante do contexto
capitalista hollywoodiano o filme parecia uma afronta, findando por desbancar a
bilheteria de outras duas produções de guerra com orçamentos estrondosamente maiores
da mesma produtora (Fox) e no mesmo ano.

O filme é um movimento de contra-cultura. No contexto sócio cultural os


estados unidos da America invadiam o Vietnã com o pretexto de combate ao
comunismo, a enorme persistência dos Vietcongues, e o esfacelamento de toda uma
juventude, norte americana, acarretou uma enorme onda de protestos pacifistas no país.
Junto a tudo isso também estava em curso a avassaladora e irreversível revolução
cultural de “maio de 1968” ,“depois de tudo, vocês vão pagar por suas gargalhadas”
(ALTMAN).

Narrativa

Tanto a serie quando o filme não têm uma trama definida narrando basicamente
o cotidiano de cirurgiões em um hospital militar. Tendo ambos como base o conceito de
esquetes, inteligentemente aplicada no filme com contribuição da construção de
personagens pelos atores, mas espertamente usada na transposição para a serie.

Não é uma comedia que possa ser apreciado por todos, sua formula é baseada
em um humor satírico e implícito/pseudoignorante. Sendo assim para arrancar
gargalhadas o espectador tem que se encaixar em um perfil que conhece do que se trata
a trama, desde estilo de vida aos conflitos apresentados.

Uma narrativa construída, claro, para rir mas também pensar, e como ocorre
como sátira da guerra do Vietnã, apesar de falar da guerra da Coréia, pode ter problemas
de compreensão para o “expectador desavisado”.

"Quanto mais rude fosse a piada, maior a chance de


aparecer no filme. Quanto mais obscena a piada, melhor. Pois não
havia nada mais obsceno do que esses jovens sendo despedaçados
e mandados para esse lugar para serem remendados e mandados
de volta à batalha. Pra mim essa era a obscenidade!" (ALTMAN)
http://depredandoocinema.blogspot.com/2010/01/mash.html

Algumas críticos dizem que os risos findam por aliviar o sofrimento daqueles
“combatentes passivos” em uma guerra pela vida dos militares feridos e mutilados.
Contudo essencialmente não é esse a resultante narrativa que se verifica, o que de fato
acontece ao introduzir a comicidade nesse contexto é a criação satírica do conceito de
dor e sofrimento, em prol da critica social pretendida.

A comicidade do filme passeia do humor, despretensioso, passando pelo singelo,


como quando a enfermeira Hot Lips comemora na partida de futebol, chegando até á
sátira hilariante de humor ácido e negro como quando Hawkeye vão ao Japão cuidar do
filho de um militar local. A narrativa cotidiana e cômica esta fortemente presente, como
por exemplo, na situação onde o dentista comete de “mentirinha” um suicídio por ter
“falhado na cama”, ele é a personagem que introduz o tema da homossexualidade nas
forças armadas.

Durante a edição foram inseridos algumas intervenção dos alto falantes que
contribuiu enormemente para a narrativa ligando de forma verossímil as “esquetes” no
filme.

Alguns críticos afirmam que o filme teria facilmente 10 minutos a menos e


ficaria bem melhor, retirando algumas cenas que julgam dramaticamente
“desnecessárias”. Negligenciar o preenchimento narrativo de uma obra fílmica com o
cotidiano é muito recorrente por parte dos críticos e produtores cinematográficos.

Contudo a tv usa e abusa desse artifício cativando enormemente o espectador e


dando, através da estética do cotidiano mais veracidade e identificação ao produto,
atribuímos essencialmente a isso a fácil adaptação sem muita perda de “essência lógica
da narrativa” do formato fílmico para o formato seriado televisivo de Mash.
"A leviandade desses rapazes era um meio para que eles pudessem sobreviver!"
reproduz Eduardo Carli de Moraes, uma fala de Altman, mas percebemos que no
“morde e assopra” para convencer os produtores de que o filme deve ficar como esta e
revelar a critica sua verdadeira intenção, ficamos com a possibilidade de fazer um juízo
de valor diante do que a obra cumpre como propostas (e baseando no DVD com quatro
documentários extras do filme). Sendo assim, o que passa o sarcasmo, desleixo e
degradação ideológica dos médicos, não é uma fuga desesperada para não enlouquecer
mas uma critica aos militares e governo sobre o “ato da guerra”, obviamente e
declaradamente (por Altman) ligada ao conceito de guerra e não ao fatídico conflito
entre as Coréias do Norte e do sul, após a saídas das tropas Russas e Norte Americanas
respectivamente.

Mauro Traco escreveu para o UOL que a “serie” possuía a guerra como pano de
fundo, já Altman dizia que a guerra era o primeiro plano sobre o “filme”. Essas duas
analises afirmativas respalda o que chamo de principal diferença narrativa, que vem
desde a estética, do produto fílmico para o televisivo.

A serie se perde bastante da militância ideológica da quebra do olhar do


espectador que se dói após rir do trágico, permanecendo “dentro da caverna”, na fuga do
olhar da realidade. Felizmente os corpos mutilados que recorrentemente se apresentam
como elemento estético, que na serie é kitsch e no filme é mais realista (à época, claro),
relembram o horror da guerra, mantendo a acidez, mas que se esvai na comedia,
construção das personagens freqüentemente trocadas e ainda com uma mudança para
um tom político em um segundo momento da serie. O próprio Altman não gosta da serie
por ter pedido a essência do filme.

Estética

Mash como já mencionado é uma série da TV americana baseada no filme de


mesmo nome. A estética, portanto, se manteve vinculado inicialmente e essencialmente
ao formato cinematográfico. O processo de decupagem é muito semelhante, envolvendo
desde as opções por enquadramentos, passando pelos movimentos de câmera até o
mise-em-scene.

Contudo a mise-em-scene foi relativamente alterada na adaptação para a TV,


com a relação ator/cenário/câmera estando menos elaborada na maior parte do tempo,
com foco em diálogos, mas a relação episódica da serie com a opção estética estava
muito ligada a uma primazia da forma em prol do roteiro de estórias independentes,
tendo o conceito de esquetes ironicamente trazido do próprio filme.

A guerra é um tema ácido de se tratar, considerando o estado realista de


concepção do tema, sendo assim MASH, em ambos (no filme e na serie) buscam lançar
um novo olhar, com base na estética para apresentar essa dura realidade de forma mais
aliviada. Representando assim a postura da mídia americana aliada ao governo na
melhor forma propagandista da guerra, que é aquela que faz a “meia culpa” mas não
deixa de “provar” com veemência a superioridade bélica americana, , mas agora ao lado
de um movimento antiguerra, recrutando assim inevitavelmente os jovens pela
ideologia.

A guerra fria “gelava” o mundo e a postura americana diante de outras guerras


como a da coréia se apresenta de forma fundamental à essa construção ideológica.
Permitindo de forma inteligente a acepção da obra intrinsecamente ligada à guerra do
Vietnã.

O artigo de Eduardo Carli de Moraes no blog “depredando o cinema” que é uma


das fontes de análise para esse trabalho cria um conceito de caos total para compreender
a feitura diante da forma tão peculiar de Altman de dirigir, improvisando o roteiro,
alterando e adicionando fatos no filme por sugestões dos atores e terceiros. Contudo
diante das condições de produção, orçamento, e o receito dos investidores do filme
acredito que não tenha acontecido dessa forma, em que o caos reinava.

É mais provável, então, que a subversão de Altman tenha ocorrido sob um


planejamento intenso, e constante observância, diante da enorme abertura para
interferência que ele permitiu.

O filme mantém o tom sarcástico por toda a narrativa, mas um cena


especificamente provoca uma alternância para o drama extremamente necessária ao
criar o questionamento dos valores, e manter uma imparcial dicotomia narrativa através
da estética, onde de forma visceral é apresentada a “realidade realista” daqueles
médicos e pacientes.

Construção de personagens

No filme os personagens presentes no roteiro de Ring Lardner foram,


incrementados e de fato subvertidos para alcançar o trabalho final pretendido por
Altman. Altman permitiu que os atores interpretantes das personagens, principalmente o
Capitão Hawkeye (Donald Sutherland) , Trapper John (Elliot Gould), Capitão Duke
(Tom Skerritt) e Margaret a enfermeira "Hot Lips" (Sally Kellerman) transformam o
acampamento hospitalar em um local cômico e sagaz. O ator Robert Duvall tem um
rápida porem fantástica participação como major que esconde suas taras sexuais
rezando todo o tempo.

Liderando o caos temos Donald Sutherland e Elliot Gould que provocam a


apresentação e/ou interação de boa parte dos conflitos pulverizados existente no filme.

A comédia caracteristicamente física e verborrágica consegue resultados


avassaladores com a química entre os atores principais entre eles Shutterland e Gould,
em performances inspiradíssimas.. Atores trazidos do Teatro onde uma dúzia deles nuca
trabalhara com cinema, trouxeram todo seu embasamento expressivo para através do
estereotipo mostrar para o espectador como somos influenciáveis, quebrando assim o
próprio estereotipo.

Já a serie também ligada a construção de personagens pelas esquetes mas tem


elenco diferente, os protagonistas eram os capitães Franklin Pierce (Alan Alda) e John
McIntyre (Wayne Rogers) e teve somente Hawkeye, Mulcahy, Houlihan e Klinger
aparecendo em todos a onze temporadas, contudo possui um elenco médio constante.Na
série geralmente são os personagens que trazem os conflitos, sendo eles muito
elaborados, mas com base em uma verossimilhança cotidiana.

Roteiro

Calcado em retratar uma tragicomédia e a queda do realismo para a opção do


pseudo nonsense o roteiro do filme influencia assim fortemente a serie sendo o roteiro
do filme desenvolvido por Ring Lardner baseando no livro autobiográfico de Richard
Hooker.

Altman ao pegar o roteiro de Ring Lardner optou por subverter completamente a


construção de personagem e inclusive os fatos, mantendo, porem extrema fidelidade na
essência do enredo presente no roteiro.

Altman permitiu que os atores sugerissem alterações e formatos de apresentação


e interação dos temas e personagens. Trabalhando com esse improviso ele constituiu um
universo mais complexo para casa situação/personagem. Apesar da liberdade dada por
Altman no filme os atores tinham medo se nunca mais trabalhar pelo nível da subversão
pretendida.
O Roteirista Ring Lardner ficou muito contrariado quando viu a versão final do
filme e o seu roteiro completamente alterado, mas ironicamente a genialidade de
aproveitamento do roteiro utilizada pro Altman em detrimento das falas originas,
contudo, em prol da comicidade do filme, acabou dando o Oscar de melhor roteiro
adaptado (do livro de Richard Hooker) a Ring Lardner.

O enredo é fragmentado e podemos dizer que é constituído somente de


coadjuvantes ou de muitos protagonistas, constituído de pequena estórias
“minimalistas” que tomam forma somente quando são observadas como obra inteira.

Duas personagens marcam a começo e o final do filme sendo Trapper John


McIntyre (Elliott Gould) e Hawkeye Pierce (Donald Sutherland), inteligentemente
construídos como os dois principais protagonistas

Já a série de TV foi em primeiro momento desenvolvida por Larry Gelbart, mas


o também ator Alan Alda ( faz a personagem Franklin Pierce) chegou a ganhar o Emmy
em outras funções por participar do roteiro e da direção da serie, sendo ainda o único
ator/personagem presente do inicio ao final da série em todos os capítulos.

Algumas esquetes foram baseadas em contos reais, tendo contribuição dos


médicos que trabalhavam nos MASH’s. A serie apresentou recorrentemente alguns
episódios bem sérios e dramáticos, mais recorrentes e intensos da segunda parte
basicamente nas mãos de Alan Alda

Uma tática utilizada inteligentemente pela serie é focar nas personagens


coadjuvantes no momento em que personagens principais deixavam a serie, assim
através da artifício da memória conveniente, os espectadores não sentiam tanta a falta da
personagem principal que rapidamente era substituída por outra nova personagem
protagonista.

O Roteiro como delineador da história é encontrado nas suas situações, porem o


humor baseado no improviso/ensaiado é estética/narrativa usada de forma digna em prol
da estória somente presente no filme.

Produção
O filme foi um enorme sucesso de bilheteria, custando apenas 3 milhoes de
dólares, valor baixo para a época. Concorreu a 5 Oscar’s e ganhou a Palma de Ouro em
Cannes e levou 80 milhões de espectadores aos cinemas

Os cenários, figurino e arte são extremamente simples. É um filme de guerra


sem tiros e explosões, o único tiro é dado ocorre para encerramento de um
engraçadíssima partida de futebol americano ao final do filme.

O Elenco é estreante de atores geniais do teatro mas desconhecido baixa o


orçamento.

Já o seriado teve os mesmos pressupostos de produção de baixo custos nos


cenários e elenco, durando de 1972 a 1983, com 11 temporadas e 250 capítulos,
produzida também pela Foz e exibida pela CBS. Os episódios eram de
aproximadamente 25min cada um.

A saída de uma das personagens importantes gerou um episodio especial de


despedia, a opção trágica de morte da personagem, ocasionou uma gigantesca
manifestação negativa dos espectadores a respeito fazendo com que a Fox monitorasse
os episódios onde os personagens abandonavam a história.

Várias estrelas eram convidadas a participar de alguns episódios, para


impulsionar e quebrar a mesmice da serie Uma mudança de tom se mostrou necessária
para manter a serie no ar com o interesse do público, assim a serie foi se tornando mais
política e cada vez menos cômica.

Das onze temporadas existestes é possível conseber duas “eras” a de Larry


Gelbart/Gene Reynolds como comedia, entre os anos de 1972 a 1977 e a de Alan Alda
que corresponde a predileção dramática e política no enredo, compreendido de 1978 a
1983.

O último episódio de MASH, chamado "Goodbye, Farewel and Amen" foi


apresentado no dia 28 de fevereiro de 1983 com duração de cento e oitenta minutos.
Visto por quase 106 milhões de americanos alcançou um recorde da televisão nos
Estados Unidos, perdendo apenas para o super Bowl em 2010.
A série faturou quase 100 Emmys, o maior premio da TV. A transformação da
ideologia antiguerra do filme em seriado de TV, para muitos foi, inclusive, ferramenta
ideológica e cultural para pressionar através do povo o governo a parar a guerra.

Conclusão

Verificamos que desde sempre a linguagem áudio visual apesar de buscar


empirismos que separe o Cinema, da Tv, tem muito a ganhar quando se trabalham
juntos e atentos aos impactos e formatos inovadores que podem surgir da hibridização
dessas linguagens. Podendo se completar ao contrario de se separar.

Referencias:

http://www.tvsinopse.kinghost.net/m/mash.htm

http://depredandoocinema.blogspot.com/2010/01/mash.html

http://www.allmovie.com/work/1:64361

www.encontro2008.rj.anpuh.org/.../1212973509_ARQUIVO_ThainaSilvaferreiradeMe
deiros.pdf-

http://en.wikipedia.org/wiki/M*A*S*H_%28TV_series%29

http://en.wikipedia.org/wiki/MASH_%28film%29

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