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A investigação sobre a intensa presença de grupos religiosos nos meios de comunicação social, em
especial no contexto da ascensão dos televangelistas norte-americanos nos de 1970 e 1980, determinou
a busca de conceitos e terminologias que sintetizassem o fenômeno em curso.
Não foram muitos os trabalhos publicados sobre o tema no Brasil. O mais importante deles foi a pesquisa
do teólogo e cientista social Hugo Assmann, solicitada nos anos de 1980 pela World Association for
Christian Communication (WACC) e publicada pela Editora Vozes: A Igreja Eletrônica e seu impacto na
América Latina. 1
A pesquisa de Assmann tornou-se o principal e único registro em português sobre o processo nos
Estados Unidos e na América Latina, abordando o fenômeno tanto nas igrejas evangélicas quanto na
Igreja Católica Romana. Um breve levantamento nas bibliotecas das principais universidades do Rio de
Janeiro e de São Paulo indicou que os demais trabalhos publicados são artigos em publicações
especializadas e algumas poucas dissertações e teses de doutorado tanto no campo da Comunicação
quanto no campo das Ciências da Religião e da Teologia, com ênfase em um determinado grupo
religioso, com destaque para os chamados neopentecostais e os para os católicos-romanos.
O desafio imposto no tempo presente é uma releitura do fenômeno da presença dos grupos religiosos
nos meios de comunicação e a consequente recriação do conceito de Igreja Eletrônica em virtude da
conjuntura sociocultural-política-econômica-religiosa experimentada na última década do século XX e na
primeira do XXI. Não é mais possível analisar esta presença na mídia com as mesmas noções
construídas nos anos de 1970 e 1980 bem como utilizar a mesma terminologia.
As igrejas, em geral, nunca rejeitaram os meios eletrônicos de comunicação social. Com um referencial
predominantemente aristotélico e funcionalista, vendo o processo da comunicação como um movimento
de convencimento do outro, as igrejas, desde a época da emergência desses meios, em especial do
rádio e da televisão, baseavam-se no pensamento de que convencer pessoas a optarem pelo
Evangelho, e conseqüentemente pela adesão a um determinado segmento cristão, geraria um efeito-
chave: o crescimento do Cristianismo. Ao lado disso, a perspectiva da visibilidade também era elemento
importante na aproximação igreja-mídia eletrônica. Os meios de comunicação tornavam possível uma
publicidade das igrejas, a visibilidade de sua presença nos espaços sociais.
Fato é que não é possível abordar essas e outras transformações no campo religioso sem vincular a
análise a uma nova força e forma do mercado de consumo e sua presença na mídia num contexto
religioso. Esse mercado, ao longo dos anos de presença cristã no continente, já era forte no campo
editorial, mas sua expansão deu-se principalmente por meio do mercado fonográfico, estimulado pelo
“movimento gospel”. 6
Nos anos de 1990 e nos primeiros anos do século XXI a presença dos grupos religiosos na mídia possui
um perfil diferenciado do que foi conceituado “Igreja Eletrônica” nas décadas anteriores. Esta mudança
reflete as próprias transformações no contexto socio-historico-cultural-político-econômico, como descrito
acima.
Pode-se destacar as características que singularizam este novo perfil:
A título de conclusão
Todo este referencial aqui descrito desafia toda a tentativa de adoção de uma terminologia que se
aproxime mais deste novo contexto. Provavelmente o termo “Religiosidade Midiática” seja mais
adequado ao quadro atual. Este termo explica o processo de midiatização da religiosidade (ou prática
religiosa individual ou coletiva) experimentado que é, em suma, um processo de produção de
significados por meio do qual cristãos têm buscado se compreender, se comunicar e se transformar, a
partir das novas tecnologias e dos meios de produção e transmissão de informação.
Um outro território. Ensaios sobre a mundialização. São Paulo: Olho Dágua. s.d. p. 121
O termo modernidade é aqui utilizado em sua forma pejorativa, que significa adaptação aos novos
tempos, ou “ligeireza, preocupação com a moda, tendência para abandonar-se sem juízo nem
inteligência do passado, às impressões do momento”. Lalande, André. Vocabulário Teórico e Crítico da
Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 693. [Verbete: Moderno].
Abordagens sobre esta noção podem ser encontradas em: Mata, Maria Cristina. De la cultura masiva a la
cultura mediatica. Dialogos de la comunicación. Lima: Federación Latinoamericana de Facultades de
Comunicación y Cultura, n. 56, out. 99. p. 80-91; de Bisbal, Marcelino. Comunicación y cultura: para
pensar el massmediatico. Estudios venezoelanos de comunicación.Caracas: Centro Gumilla, n. 92, 4o.
trim 95. p. 45-55; e Kellner, Douglas. A cultura da mídia. Estudos culturais: identidade e política entre o
moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001.
Uma abordagem densa sobre a construção da cultura gospel, a partir do movimento gospel, pode ser
encontrada no livro de CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Um olhar das ciências
humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.
Cf. Perez, Rolando. La cultura de los medios de comunicación en el ritual evangélico. Signos de Vida, 2,
nov. 1996.
Cf. id.ibid.
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