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1. Introdução
O Brasil é o quinto maior país do mundo em área e o transporte aéreo vem evoluindo com a
economia desde 1927. No país, após o êxito do plano de estabilização econômica de 1994, o
transporte aéreo experimentou um notável crescimento em seus diversos segmentos e este
crescimento é claramente percebido no turismo brasileiro. O turismo vem se firmando como
uma das grandes vocações do país para geração de emprego e renda, principalmente após ser
escolhido para sediar importantes eventos esportivos em escala global, como por exemplo, os
jogos de futebol da FIFA de 2014 e os jogos olímpicos de 2016, o que impulsionou
significativamente o setor de transporte aéreo brasileiro, expandindo os aeroportos em muitos
estados e melhorando a infraestrutura rodoviária (DOS SANTOS, 2015).
A atividade do setor aeroviário por ter sua tecnologia muito desenvolvida, requer mão de-obra
especializada e qualificada, como os pilotos, engenheiros, pessoal de manutenção, etc. Com o
crescimento da demanda de postos de trabalho no setor aeroportuário, a preocupação em
garantir a saúde e segurança dos trabalhadores dos aeroportos, que estão expostos aos riscos
desse ambiente, aumenta. Os principais riscos ocupacionais encontrados nos aeroportos são: o
ruído intenso das aeronaves, a exposição a hidrocarbonetos de combustíveis e os riscos de
abalroamento com os equipamentos de rampa: como tratores, caminhões de abastecimento,
esteiras de carga, pranchas de bagagem e equipamentos de push back (SUGUI, 2013).
Este trabalho analisa o agente físico ruído, que incide nos trabalhadores que ficam próximos
às aeronaves na área de movimento e de operação para pouso e decolagem e, tem como
objetivo, quantificar a dose diária de ruído de quatro postos de trabalho que atendem o serviço
de rampa dentro do pátio de um aeroporto brasileiro bem como compará-los com os limites
impostos pela NR-15 e NHO-01.
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2. Revisão bibliográfica
No Brasil existem 710 aeroportos aptos a receber voos regulares, dentre eles, somente 17 são
aeroportos internacionais e apenas 109 recebem voos regulares. Destes, 63 são administrados
pela Infraero e recebem mais de 90% dos passageiros transportados no país (PORTAL
BRASIL, 2014a).
2.3 Ruído
De modo geral, ruído é considerado todo sinal acústico aperiódico, vindo da superposição de
vários movimentos de vibração com diferentes frequências que não apresentam relação entre
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A definição de ruído pode variar com relação a diferentes autores, pois o que pode causar
desconforto para uns, pode ser considerado não incômodo para outros. De acordo com
Grandjean (1998) a definição mais direta de ruído é a de que o mesmo é um som que causa
incômodo. Segundo a OMS – Organização mundial da saúde, o nível de conforto auditivo
para o trabalhador é de 70 decibéis.
Trabalhadores expostos a níveis elevados de pressão sonora podem ter, ao longo dos anos,
uma perda auditiva neurossensorial irreversível. Inicialmente, podem ocorrer alterações
temporárias do limiar auditivo, isto é, um efeito de curto prazo da redução da sensibilidade
auditiva, que retorna gradualmente ao normal depois de cessada a exposição. A alteração do
limiar auditivo depende do tempo de exposição, do nível sonoro da emissão acústica, da
frequência do som emitido e da sensibilidade individual. Através da exposição continuada
podem ocorrer alterações permanentes do limiar de audição (RIBEIRO; CÂMARA, 2006)
Ficar exposto ao ruído pode provocar efeitos variados nos trabalhadores, tanto de ordem
auditiva quanto de ordem extra-auditiva a depender das características do risco, da exposição
e do indivíduo exposto. São efeitos auditivos reconhecidos: o zumbido, a mudança temporária
do limiar auditivo e a mudança permanente do limiar auditivo e são efeitos extra-auditivos:
distúrbios no cérebro e nos sistemas nervoso, circulatório, digestório, imunológico, muscular,
vestibular, nas funções sexuais e reprodutivas, no psiquismo, no sono, na comunicação e no
desempenho de tarefas físicas e mentais (TELES et al., 2007).
Duas das legislações brasileiras que abrangem especificamente o ruído e seus limites de
tolerância, são a norma regulamentadora NR-15 e a norma de higiene ocupacional NHO-01.
Segundo a NR-15 entende-se por limite de tolerância, a concentração ou intensidade máxima
ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará
danos à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. Esta norma apresenta os limites de
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tolerância para ruído contínuo ou intermitente que um trabalhador poderá ser exposto em um
dia de trabalho, como apresentado na Tabela 1. Pode-se observar que a cada 5 decibéis de
acréscimo de ruído, o valor de exposição cai pela metade (BRASIL, 2015b).
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Os protetores auriculares devem ser capazes de reduzir a intensidade do ruído para baixo dos
limites de tolerância. A fim de constatar se o nível de proteção oferecido pelo protetor é bom
e satisfatório, calcula-se a sua atenuação baseada no fator de proteção do equipamento
(SALIBA, 2004).
Segundo Saliba (2004), o método mais simples e mais utilizado a nível nacional atualmente é
o método em que utiliza-se o NRRsf (Noise Reduction Rate Subject Fit), o qual é obtido em
testes de laboratório. As correções já estão embutidas no índice de atenuação obtido, portanto
não é necessária nenhuma correção, basta subtrair o valor do NRRsf fornecido pelo protetor
auricular do nível de pressão sonora a que o trabalhador está exposto.
Os níveis de intensidade de ruído que devem chegar à orelha protegida devem ser da seguinte
forma: valores acima de 85 dB(A) estão acima do limite de tolerância e, portanto, a atenuação
do EPI é insuficiente; valores entre 80 e 85 dB(A) estão abaixo do Limite de Tolerância;
valores entre 75 e 80 dB são considerados os ideais, pois não proporcionam o risco de
superatenuação e previnem a perda da audição; valores entre 70 e 75 dB(A) ainda são
considerados aceitáveis, mas já mostram indícios de atenuação muito alta e valores abaixo de
70 dB(A), chegando dentro de uma orelha protegida, são considerados muito baixos e há uma
clara superproteção (BRASIL, 2015a)
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3 Metodologia
A presente análise foi feita em um aeroporto brasileiro de grande porte no mês de agosto de
2015, e as medições feitas durante o horário comercial.
Para alcançar os objetivos propostos pelo artigo foi utilizado um equipamento de medição
simultânea para a taxa de troca de 5 e 3 dB(A), conforme NR 15 e NHO-01. Este
equipamento para medição do ruído chama-se dosímetro ou audiodosímetro e é capaz de
fornecer a dose de ruído ou o efeito combinado e o nível equivalente de ruído (Leq), além de
disponibilizar histogramas com a variação do ruído durante a medição. Foi utilizado o
dosímetro calibrado da marca CIRRUS modelo RC112V, para fazer as medições operando no
circuito de compensação “A”. Para a captação e armazenamento dos níveis de pressão sonora
foram utilizados cones (microfones) da marca Dose Badges modelo CR119AIS devidamente
calibrados.
Ao todo foram analisados quatro postos de trabalho com atividades desenvolvidas diretamente
no pátio do aeroporto, sendo três funcionários auxiliares de rampa, ficando o primeiro no
pátio, o segundo na esteira de desembarque e o terceiro na esteira de embarque, e um
operador de equipamentos. As funções desempenhadas pelos auxiliares de rampa são fazer a
triagem das bagagens e a carga e descarga das aeronaves, varredura de objetos estranhos no
pátio, colocação e retirada de calços na aeronave e dos cones de segurança em torno da
aeronave, já as funções desempenhadas pelo operador de equipamento são dirigir o trator
rebocador de aeronave (push back), dirigir o trator de carga, operar a esteira móvel e fazer o
planejamento e posicionamento dos equipamentos para atendimento a aeronave; a jornada de
trabalho de ambos postos de trabalho é de 6 horas.
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4 Resultados e discussões
As denominações usadas para as medições dos quatro postos de trabalho foram de auxiliar de
rampa 1 no pátio, auxiliar de rampa 2 na esteira de desembarque, auxiliar de rampa 3 na
esteira de embarque e operador de equipamentos 2 no pátio.
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Na dosimetria do auxiliar de rampa 1, como mostrado na figura 1, nota-se que o valor do nível
médio de ruído (Lavg) é de 90,3 dB(A) para a taxa de troca de 5 dB, isso indica que o posto
de trabalho é insalubre segundo os limites normativos. O nível de pico máximo é de 141,3 dB
(L) e excede o valor de 115 dB estipulado na norma. No tempo de medição de 3:21horas,
constata-se 1 pico entre 135 dB e 137 dB e 3 picos acima de 137 dB.
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A partir da análise das figuras das dosimetrias e dos gráficos que se obtém dos postos de
trabalho, calcula-se os valores dos itens desta avaliação baseados nas formulações disponíveis
na norma de higiene ocupacional NHO-01 e nos parâmetros disponíveis nesta mesma norma e
no anexo 1 da norma regulamentadora NR-15.
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Exposições inferiores a 85dB(A) não foram consideradas no cálculo da dose para a NR-15, e
inferiores a 80dB(A) não foram consideradas no cálculo da dose para a NHO-01.
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Para os cálculos de atenuação, como mostra a tabela 4, foi calculado o nível representativo de
exposição diária (Nrep), bem como o grau de atenuação necessário do EPI para proporcionar
ao trabalhador uma proteção auditiva de qualidade e dentro dos padrões normativos
analisados. Para a exposição diária de 6 horas, o valor do nível de ruído permitido em função
da exposição foi retirado das tabelas 1 e 2. Com esses dados associados com o nível de
atenuação de 18dB proporcionado pelo protetor auditivo tipo concha, fornecido pelo
empregador, foi possível verificar se o EPI atende ou não as normas. O valor de “A” na tabela
4 representa a subtração do nível de atenuação necessário pelo nível de atenuação do EPI
disponibilizado, caso “A” seja menor que zero, o equipamento atende as necessidades, caso
contrário, não atende.
N dB (A) 87 87
pois a exposição é pois a exposição é
NRRsf dB (A) 4 2,2
inferior a 80dB inferior a 80dB
NRRsfprotetor dB (A) 18 18
A dB (A) -14 Atende Atende Atende -15,8 Atende
segundo NR-15 e
N dB (A) 70 70
OMS
Fazendo a análise da tabela 4 vê-se que a atenuação do protetor auricular tipo concha de
NRRsf= 18 dB, atende a todos os postos de trabalho, quando os resultados são calculados
com a taxa de troca de 5 dB, conforme a norma NR 15, porém quando se leva em
consideração o nível de conforto acústico de 70dB estabelecido pela OMS somente dois
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5 Conclusões
A partir dos levantamentos realizados conclui-se que 50% dos postos de trabalhos estão acima
do limite de tolerância pela NR 15 e 100% dos postos estão acima do nível de ruído máximo
permissível segundo a NHO-01 para 6 horas de jornada de trabalho.
Na comparação entre as duas normas, é possível afirmar que a NHO-01 é mais rigorosa que a
NR 15, por isso requer medidas de proteção e prevenção mais eficientes. O EPI utilizado
atende a atenuação nos quatro postos de trabalho somente quando considerada a NR-15, já
quando é considerada a NHO-01, nenhum atende. Quando o nível de conforto acústico
estabelecido pela OMS de 70dB é considerado, somente os auxiliares de rampa 2 e 3 atendem
a solicitação quando o nível é calculado de acordo com a NR-15, calculado de acordo com a
NHO-01, todos não atendem. Uma solução para o problema é que os empregadores forneçam
EPI’s com maior nível de atenuação, outra é que a jornada de trabalho possa ser readequada
para que os postos de trabalho atendam os limites de tolerância de ruídos contínuos e
intermitentes.
REFERÊNCIAS
ANAC. Agência Nacional de Aviação Civil. Portal Agência Nacional de Aviação Civil. Disponível em:
<http://www.anac.gov.br/>. Acesso em: 15 abr. 2016.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR 09. Manuais de Legislação Atlas,
75a. Edição. São Paulo: Atlas, 2015a.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR 15. Manuais de Legislação Atlas,
75a. Edição. São Paulo: Atlas, 2015b.
DOS SANTOS, Daniel Nery. Análise do ruído sonoro no entorno de grandes aeroportos: um estudo de caso do
Aeroporto Internacional de São Paulo. Boletim Gaúcho de Geografia, v. 42, n. 1, jan, 2015.
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FONSECA, Cristina de Souza. Impactos socioespaciais do uso e ocupação do solo urbano na área de
entorno do Aeroporto Internacional de São Paulo - Guarulhos - Andre Franco Montoro. 2013. 67 f. Trabalho
de conclusão de curso (bacharelado - Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, 2013.
RIBEIRO, Ana Maria Dutra; CÂMARA, Volney de M. Perda auditiva neurossensorial por exposição continuada
a níveis elevados de pressão sonora em trabalhadores de manutenção de aeronaves de asas rotativas. Cadernos
de Saúde Pública, v. 22, n. 6, p. 1217-1224, 2006.
SALIBA, Tuffi Messias. Curso básico de segurança e saúde ocupacional. São Paulo: LTr. 2004. 453 p.
TELES, Renata de Mesquita; MEDEIROS, Márcia Pinheiro Hortencio de. Perfil audiométrico de trabalhadores
do distrito industrial de Maracanaú-CE. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiologia, v. 12, n. 3, p. 233-239, 2007.
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