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Contraponto “florido”
Os exercícios da 1ª até a 4ª espécies são preparatórios para a 5ª espécie. Esta espécie é uma
síntese de todas as outras estudadas até agora. Consiste em uma linha melódica com ritmo
livre sobre o cf em semibreves, na qual são reunidos todos os valores de duração utilizados
nas espécies precedentes. Nesta espécie podemos inclusive incluir as colcheias. Estes
valores, contudo, não devem ser usados ad libitum; assim como os intervalos, os padrões
rítmicos são sujeitos a certas leis estéticas. A união da melodia e do ritmo cria uma relação
mais complexa e sutil, dificultando o estabelecimento de regras de construção. As melodias
devem fluir dentro de um amplo limite de possibilidades. Consequentemente limitaremos
nossas indicações a algumas generalizações.
a) Variedade
Ex.1:
um poço produz círculos concêntricos. Talvez, por isso mesmo, o design tranqüilo e natural
deste tema nos recorde uma nobre e graciosa fonte jorrando.
A síncope, desempenhando um papel decisivo na melodia acima, é sentida como um
elemento rítmico que requer uma compensação especial por causa do efeito de
estancamento que produz no movimento. Frequentemente, por esta razão, valores menores
são colocados imediatamente antes da síncope como no seguinte exemplo, com sua figura
de antecipação:
Ex.2:
Similarmente, uma das práticas favoritas consiste em colocar colcheias após a nota
sincopada como no seguinte exemplo:
Ex.3:
b) Organicidade
Ex.4:
cantar esta melodia e sinta como se encaixam as palavras, soando de forma fluente e
natural! Igualmente é importante observar que o clímax é formado da mesma forma que na
melodia do ex.1 , da Missa Papae Marcelli. Aqui há, além disso, algo muito natural nesta
tendência a alcançar as notas agudas, especialmente quando elas estão em tempo ou parte
forte. Experimente colocar ritmo na seguinte escala descendente:
Ex.5
Muito mais belo é o efeito quando se demora na nota mais aguda do que quando se inicia
com valores mais rápidos e depois se chega aos mais lentos como neste exemplo:
Ex.6
Aqui o todo é sentido como se fosse desajeitado e curto de fôlego, enquanto que a forma
em Valde honorandus est tem um aspecto livre e natural. O que faz com que esta última
forma seja mais bela é que, no descenso dos compassos 4 e 5, a melodia repousa em duas
porções do compasso, visto que a primeira nota cai na terceira mínima do compasso (parte
forte) e a quinta nota cai na segunda mínima do compasso (parte fraca). O efeito se torna
muito menos pronunciado se o repouso acontece em partes similares do compasso, por
exemplo:
Ex.7:
Ex.8:
especialmente, como vemos aqui, aonde a última nota na seqüência é suspensa; mas
também se encontra desta forma:
Ex.9:
Ex.10:
Ex.11:
Aqui encontramos uma relação com a Lei da Gravidade e outras leis naturais. Se pensarmos
na nota mais grave como a superfície da Terra podemos notar que o mesmo fenômeno
ocorre com um corpo em queda livre, cuja velocidade se acelera à medida que se aproxima
do chão; por outro lado nos movemos mais rápido no início de uma subida e diminuímos a
velocidade nas proximidades do topo.
Ex.12:
Ex.13:
Se, por outro lado, as melodias ascendem de maneira similar, o movimento direto escalar
produz um efeito estranho:
Ex.14:
Ex.15:
mas também com saltos de quarta, quinta e até oitava, esta figura é excelente, por exemplo:
6
Ex.16:
b) É melhor, como regra, que o movimento de semínimas continue até um tempo forte,
portanto é melhor:
Ex.17:
do que
Ex.18:
Mesmo entre os melhores compositores do sec. XVI, encontra-se, contudo, passagens como
esta última mencionada, mas frequentemente em tais casos, a mínima em tempo fraco faz
parte de uma suspensão ou retardo após o movimento de semínimas, da seguinte forma:
Ex.19:
ou
Ex.20:
Ex.21:
d) Preferencialmente, duas semínimas não devem estar isoladas no lugar de uma mínima no
tempo principal de um compasso. Para evitar que o fluxo melódico sofra um bloqueio é
necessário adicionar semínimas antes ou depois; por isso não:
Ex.22:
Mas, sim:
Ex.23:
ou:
Ex.24:
Entretanto, as duas semínimas em tempo forte podem ser utilizadas se a mínima seguinte
fizer parte de um retardo:
Ex.25:
Ex.26:
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Com relação às colcheias, normalmente são usadas em grupos de duas no estilo do séc.
XVI, com raras exceções. Devem ser sempre introduzidas e deixadas por grau conjunto:
Ex.27:
Um intervalo de quarta, portanto, pode ser preenchido por duas colcheias em movimento
ascendente ou descendente. A nota anterior não precisa absolutamente ser uma mínima
pontuada mas pode ser uma semínima:
Ex.28:
Bordaduras de colcheias são igualmente possíveis, mas apenas com a segunda inferior. Se a
segunda de duas colcheias vem acima da primeira, só é concebida no estilo de Palestrina
como movimento de grau conjunto na mesma direção, então:
Ex.29:
Além disso, naturalmente observamos que as colcheias só podem ocorrer em partes fracas
do compasso. Portanto nunca podem ocorrer após um valor maior do que uma mínima
pontuada. Procedimentos como os seguintes são estranhos ao estilo de Palestrina:
Ex.30:
a) O menor valor rítmico a ser sincopado com outro de igual valor é a mínima. Portanto
uma semínima não pode ser ligada a outra, por exemplo:
9
Ex.31:
Ex.32:
O oposto é permitido, mas apenas quando os valores ligados estão em relação de 2:1. Em
outra palavras, podemos usar breves, semibreves e mínimas pontuadas, mas não podemos
usar o duplo ponto, pois isto implicaria em ligar-se valores em proporções irregulares de
4:3:
Ex.33:
A regra segundo a qual valores menores não podem ser ligados a valores maiores não tem
validade quando esta ligadura vem com a última nota:
Ex.34:
No uso das mínimas pontuadas (ou ligadas à semímina) as regras da terceira espécie se
aplicam ao último terço do valor da nota. Portanto, a seguinte semínima pode ser
considerada uma dissonância de passagem ou uma bordadura dissonante, por exemplo:
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Ex.35:
Não deve porém, proceder por salto ascendente. Consequentemente, o seguinte não é
permitido:
Ex.36:
Um fragmento do moteto Ego sum panis vivus de Palestrina, exemplifica algo destas regras:
Ex.37:
5.2 Contraponto
Ex.38:
Ex.39:
O correto é:
Ex.40:
Em contraste com a terceira espécie na qual se permite apenas a bordadura inferior, pode
ser usada na quinta espécie, a bordadura superior (inclusive), desde que esteja antes de uma
mínima ou semibreve. Por exemplo:
Ex.41:
5.2.1 Cambiata
Até agora foi falado da cambiata apenas em movimento de semínimas, de acordo com a
terceira espécie. Ela também aparece em algumas formas rítmicas que ocorrem com mais
frequência na composição livre:
Ex.42:
Em todos estes casos, entretanto, a nota dissonante (a segunda nota da cambiata) deve ter
apenas o valor de uma semínima. Se a terceira nota da cambiata for uma semínima, a quarta
nota deve ter o mesmo valor e em tais casos, a quinta nota deve necessariamente seguir
ascendentemente por grau conjunto. Se a terceira nota da cambiata é uma mínima
(geralmente pode ser apenas uma mínima ou semínima), a próxima nota pode ser uma
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mínima ou uma semibreve. Em tais casos, a quarta nota da cambiata prescinde do grau
conjunto, podendo ser tratada livremente como no seguinte exemplo do moteto a quatro
vozes Misit Herodes de Palestrina:
Ex.43:
5.2.2 Cadências
Ex.44:
5.2.3 Antecipações
A antecipação é uma semínima em parte fraca que antecipa a próxima nota em tempo ou
parte forte. Deve ser introduzida por grau conjunto descendente. Neste caso, não importa se
causa ou não dissonância, por exemplo:
Ex.45:
Ex.46:
Recomendações ao aluno - 9 :
Exemplo 6:
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Exercício 6:
Faça exercícios na 5ª espécie, acima e abaixo dos cantus firmus já criados em cada modo (2
exercícios).
Indique os intervalos verticais com algarismos.