Quer entender o que séo ondas
gravitacionais?
fisicanaveia blogosfera.uol.com.br
(https: //fisicanaveia.blogosfera.uol.com.br/2016/02/12/quer_entender_o_que_sao_o
ndas-gravitacionais/) - December 2, 2016
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO_Caltech_OG.
ips)
Concepgao artistica de ondas gravitacionais geradas pela danga césmica de dois
buracos negros
prestes a se fundirem. Crédito: CaltechSe vocé mora no planeta Terra e presta um minimo de atencéio em noticias
veiculadas na web, no radio, na TV e até mesmo na midia impressa, certamente
ficou sabendo que ontem (11/02/2016) foi oficialmente divulgada noticia sobre
experimento cientifico que parece ter comprovado a existéncia das tao
esperadas ondas gravitacionais. E talvez tenha visto imagens parecidas com
essa logo acima.
No entanto, se vocé nao ¢ fisico ou nao tem pelo menos uma minima formacio
na rea das exatas, talvez nao tenha a menor ideia do que sio as tais ondas
gravitacionais e porque a sua comprovacio jé era tio esperada pela
comunidade cientifica.
Por conta disso, pensando na maioria das pessoas que ficaram literalmente
"boiando” diante da relevante noticia cientifica, resolvi cumprir 0 meu papel de
professor/divulgador cientffico escrevendo sobre o tema de uma forma mais
light, ou seja, tentando explicar tudo sem complicacées e a assustadora
“calculeira”.
O que sao ondas?
No ensino médio, onde atuo como professor e autor de material didatico, de
forma simples (mas sem perder o rigor conceitual), definimos onda mais ou
menos da seguinte maneira:eon ea tu soma eRey el ere iunentel
Porto] lool Mo Lalae Mee Col Mela -< Lae (OR Ag Ln PL)
OCCU Sete mue ta
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_def.jpg)
Toda onda, enquanto se propaga, oscila. Logo, tem dois movimentos
intrinsecos: 0 de propagacao (movimento de translacao que faz a onda se
espalhar e se afastar da fonte) e o de oscilagao (movimento repetitivo, um
quase incessante "vai e vem").
Também ensinamos para os jovens estudantes que, do ponto de vista da
natureza das ondas, dentro da Fisica Classica!, ha dois tipos bem diferentes de
onda: onda mecfnica e onda eletromagnética.
Conjunto de perturbagées sequenciais que se propagam como
Cec n can tae ence
(https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_Mec_def.jpg
)ean Cea tyes eR Ry elec)
oscilagdes de campos elétricos e magnéticos sem a necessidade
Cee Marae et ae
(https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_EM_def.jpg)
Nas ondas mecfnicas, como sugere 0 nome, a oscilacao ocorre no proprio meio.
Sao as particulas do meio que "sacodem" (ou oscilam, num "vai e vem")
enquanto a onda passa. Jd nas ondas eletromagnéticas, quem oscila sao dois
campos: um elétrico e outro magnético. Nao é o meio quem "sacode" mas os
campos, grandezas vetoriais que ficam oscilando numa dada diregéo, mudando
periodicamente de intensidade e de sentido.
Sendo assim, uma onda mecanica nao pode existir sem o meio que lhe dé
suporte, ou seja, sem as particulas que oscilam. Mas as ondas eletromagnéticas
podem sobreviver 4 auséncia do meio material pois a oscilac4o nao esta no
proprio meio e sim nos campos elétrico e magnético que existem sem
necessidade do meio material2.
O som é um excelente exemplo de onda mecanica. Ao se propagar, uma onda
sonora ondula o meio material sem o qual nao poderia existir. Vocé sabe que
nao existem ondas sonoras no vacuo, ou seja, sem particulas materiais que
ficam "sacudindo" enquanto a onda passa. Jé a luz é tipico exemplo de onda
eletromagnética. A luz nao depende do meio para existir porque quem oscila
enquanto a onda luminosa passa nao sao as particulas do meio mas os dois
campos, o elétrico e o magnético. Por isso mesmo nao hé problema algum para
uma onda eletromagnética encarar o vacuo, ou seja, a auséncia de matéria.Na Fisica Clas
ica, que compreende todo o conhecimento de Fisica até o final
do século XIX, é assim que tratamos e classificamos as ondas.
Mas, gragas a Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade Geral, que pertence
a Fisica Moderna, a Fisica do século XX, podemos ter ainda um outro tipo de
ondas: as gravitacionais.
A Teoria da Relatividade Geral comecou a ser desenhada em 1907 e ficou
pronta em 1916, ha cem anos.
Mas, antes de falarmos de ondas gravitacionais, vamos dar uma passadinha
rapida pela Relatividade Geral.
Uma pitada de Relatividade Geral
Pensando diferente de Isaac Newton, que tratava a gravidade em sua Lei da
Gravitacdo Universal como uma forga atrativa mitua entre dois corpos dotados
de massa, Einstein, com Teoria da Relatividade Geral, geometrizou a gravidade.
Para Einstein, vivemos num espago de quatro dimensoes: trés espaciais (x, y, 2)
e uma temporal (t). Estamos, portanto, imersos num espaco quadridimensional
(x, y, z, t). Essa ideia nasceu da Relatividade Restrita (1905). Mas, a partir de
1907, Einstein comegou a pensar diferente quando, num insight, teve o que ele
mesmo chamou de ideia mais importante da sua vida, o que ficou conhecido na
Fisica como Principio da Equivaléncia e que diz:‘Se um observador esta dentro de um recinto fechado, sem ter
como olhar para fora, nao ha como decidir se o recinto esta sob
Pee ccc nance xen reece
com aceleracéo a=g.
(https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Princ_Equivalencia
ps)
De uma forma resumida, podemos dizer que os efeitos da gravidade e da
aceleragao sao indistinguiveis. Se vocé estiver dentro de um elevador,
dependendo da situacao, poderé sentir-se mais pesado. De dentro do elevador
nao ha como saber se vocé ficou mais pesado porque a gravidade local (g)
aumentou de valor ou foi mero efeito da aceleragao (a) do elevador que muda
constantemente de velocidade.
A partir dessa ideia simples e bem conhecida por todos nés, especialmente
pensando no efeito da acelerac&o ou da gravidade sobre um raio de luz,
Einstein vislumbrou uma nova maneira de tratar a gravidade. Para ele, a
gravidade nao é uma forga atrativa mas sim o efeito da deformacao no tecido
espaco-temporal (x, y, z, t) que um corpo dotado de massa (m) provoca ao seu
redor.
Einstein literalmente "entortou" o Universo ao repensar uma nova concep¢ao
para a gravidade! E abandonou o espago imutdvel e bem comportado de
Newton, bem-descrito pela geometria euclidiana, onde a menor distancia entre
dois pontos é uma reta. As novas ideias de Einstein para a gravidade requerem.uma geometria nao euclidiana para dar conta de um espaco curvo, literalmente
deformado, onde a menor distancia dentre dois pontos pode nao ser mais uma
reta e sim uma curva.
Mas nesse texto nao queremos "calculeira" nem complicagées. Certo? Como é
bastante complicado (e quase impossivel) raciocinar em quatro dimensdes sem
ter o dominio de ferramentas matematicas avangadas, vamos simplificar a ideia
imaginando um tecido espago-temporal de apenas duas dimensoes. Para ficar
mais facil ainda, e até palpavel, imagine que vocé, com a ajuda de alguém,
esticou um lencol na horizontal. Mais do que imaginar, se quiser, vocé pode
agora pegar um lencol na gaveta do armirio e, com a ajuda de outra pessoa,
estica-lo na horizontal. Esse é o nosso modelo (simplificado) de Universo local
de duas dimensées!
2 Lencol esticado e mantido na horizontal, nosso modelo
39) de espaco bidimensional
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_01.jpg)
Agora precisamos deformar o espago-tempo (no nosso experimento
representado pelo lengol). Imagine (ou faga!) o seguinte: coloque um corpo
massivo no centro do lengol. Vocé sabe: um corpo massivo, qualquer corpo que
tenha massa, de preferéncia bastante massa, como uma bola de basquete ou,quem sabe, uma melancia! Algo que consiga deformar o lengol de maneira bem
perceptivel. A concavidade que o lengol, nosso tecido espaco-temporal, assume,
provoca a gravidade. Segundo Einstein, a gravidade nao é mais uma forga e sim
o "efeito colateral" de uma deformagao no tecido do espago e do tempo
provocado por um corpo massivo.
Uma melancia, apoiada no centro do lencol esticado,
ES) provoca uma deformacao bem evidente no tecido
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o2.jpg)
Agora imagine: se vocé lancar um limao sobre o lencol deformado, tentando
tangenciar a concavidade, certamente o limo vai realizar uma trajetéria curva
e que acompanha a deformagdo do tecido. Para Newton, o limio teria sido
atraido pelo corpo central por uma forca centripeta que curva a sua trajetéria.
Para Einstein, no entanto, o limao apenas segue a curvatura do espago-tempo.
No final das contas, em qualquer um dos casos, o limao vai “orbitar" a
melancia. Concorda? Mas sao duas concepgées bem diferentes de gravidade.Se vocé lancar um limo sobre 0 lengol com velocidade V
Cy Conveniente, ele acabara “orbitando” a melancia uma vez
Be” que tende a acompanhar a concavidade no tecido do lencol
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o3.jpg)
Troque a melancia pelo Sol e o limao pela Terra e temos um modelo
gravitacional relativistico para explicar porque a Terra orbita o Sol. O Sol, com
grande massa, deforma o espaco-tempo ao seu redor. E a Terra, ao orbitar o
Sol, simplesmente esté acompanhando essa deformacio.
Antes, segundo Newton, a massa central "informava" para a gravidade como
exercer uma forca na outra massa. Ea forga "informava" para a outra massa
como ela deveria acelerar. Depois de Einstein a coisa é bem diferente. A massa
central informa” para o espago-tempo como se curvar. Eo espaco-tempo, uma
vez deformado (ou curvado) "informa" para a outra massa como e por onde ela
deve se mover.
Deu para entender o espirito da coisa?
Antes de prosseguir, aproveitando o momento, abro parénteses para trés
observacdes importantes:1) O que é um buraco negro’
Um buraco negro nada mais é que um corpo tao massivo que a deformagao que
provoca no tecido do espago-tempo é tao grande que forma verdadeiramente
um "buraco profundo". Nesse caso, a velocidade de escape do corpo supera a
velocidade (c) da luz no vacuo. Sendo assim, a partir de determinado limite,
chamado de horizonte de eventos, nada escapa da gravidade desse corpo, nem
mesmo a luz. Dai dizermos que 0 buraco é negro. Buracos negros sdo "filhos"
da Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
2) Luz faz curva?
Esse talvez seja o efeito mais incrivel e imediato da Teoria da Relatividade
Geral. Imagine um raio raio de luz propagando-se pelo espaco e que encontre
em seu caminho um corpo bastante massivo e, portanto, capaz de deformar de
maneira perceptivel 0 espago-tempo ao seu redor. O raio de luz tentara
prosseguir o seu caminho em linha reta mas sera obrigado a acompanhar a
curvatura do espago-tempo, fazendo (sim!) uma curva.
Einstein, além de imaginar esse efeito, também imaginou como observa-lo e
como tirar medidas dele. Bastava medir a posicio relativa de estrelas por tras
do Sol durante um eclipse solar total, durante o dia, e depois, noutro dia, no
periodo da noite, medir novamente a posigao relativa das mesmas estrelas sem
a presenca do Sol. Se houvesse diferenca nas posicées estelares (com Sol e sem
Sol), isso seria uma evidéncia direta da presenca da grande massa do Sol capaz
de desviar a luz mudando a posiciio aparente das estrelas! Incrivel, ndo? Na
minha opiniao, uma das ideias mais impressionantes na histéria da Fisica,
tanto pela teoria quanto pela possivel experimentacdo!
Em 1919, durante um eclipse solar total, usando a ideia acima, cientistas
mediram a curvatura dos raios de luz que passavam perto da nossa estrela, 0
Sol. E sabe onde as observacées astronémicas que levaram a essas medidasforam feitas? Na cidade de Sobral, no Ceara, Brasil! Esse foi o primeiro grande
passo para confirmar a Teoria da Relatividade Geral e colocar Einstein em
evidéncia no mundo. Confira mais sobre o eclipse de Sobral nesse post
(http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2006-03-26_2006-04-
o1.html#2006_03-29_19_19_44-7000670-0)de 2006 aqui no Fisica na Veia!,
ainda na plataforma antiga do blog.
3) Lentes gravitacionais
Assim como uma lente convencional de vidro ou outro material qualquer
transparente desvia a luz e forma imagens, um corpo suficientemente massivo,
segundo Einstein, também poderia desviar a luz e conjugar imagens, tal como
uma lente. Esse efeito ficou conhecido como lente gravitacional. A ilustragio a
seguir d4 uma ideia de como ele opera na pratica.
Luz desviada por G,;
~~
oS
aN.
Imagem ampliada de G,
para um observador na Terra
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Lente_Gravitaciona
ljpe)Reproducio de ilustra¢do pertencente ao material de Optica da primeira série
do ensino médio da colegao Novo Ensino Médio do Sistema Integral de Ensino,
de minha autoria.
A figura acima é, obviamente, uma montagem. Mas ilustra bem 0 conceito de
lente gravitacional. Nela vemos suposta galaxia G1 desviando a luz proveniente
de outra galaxia G2, mais afastada do observador. Daqui da Terra, usando
telescépios potentes e técnicas apuradas de observagao astronémica, podemos
observar G2 diretamente e também uma segunda imagem da mesma galaxia
G2 criada pelo efeito de lente gravitacional gerado pela grande massa de G1.
No final dos anos 90 do século passado 0 telescépio espacial Hubble conseguiu
os primeiros registros de lentes gravitacionais. Depois do Eclipse e da
comprovaciio do desvio sofrido pela luz ao passar perto de um objeto bastante
massivo, esse foi o segundo grande passo para validar a Teoria da Relatividade
Geral de Einstein. Provas de fogo! Mas a teoria resistiu bravamente!
Fecha parénteses. E vamos voltar ao texto principal.
Ainda falta o terceiro e dltimo grande passo: a comprovacao experimental da
existéncia das ondas gravitacionais. Mas ainda nem falamos o que sao ondas
gravitacionais, nao é mesmo? Vamos a elas!
Ondas gravitacionais? O que sao?
Volte ao experimento do lengol esticado e deformado pela melancia (ou
qualquer outro corpo massivo colocado no seu centro). Imagine que algo
consiga perturbar de forma contundente o corpo central, a melancia, fazendo-aoscilar. Vocé mesmo pode interagir com o corpo central dando-lhe pancadas.
Imediatamente vera que o tecido do lengol sera portador de ondulagdes que vao
se afastar do corpo central, rumo as bordas. Claro que, no lencol, o que criamos
so perturbacées tipicas de uma onda mecAnica. Mas, nesse nosso modelo,
essas oscilagdes equivalem a ondulagées no tecido do espaco-tempo, ou seja,
equivalem A ondas gravitacionais! Onda gravitacionais sao oscilagdes no tecido
quadridimensional do espaco-tempo (no nosso modelo, simplificado para duas
dimensoes). Incrivel, néo?
Pela Teoria da Relatividade Geral é possivel (e natural) intuir que perturbagées
na massa que provoca a deformacio no espaco-tempo geram ondulacdes que se
propagam na forma de ondas pelo tecido espaco-temporal. Pela concepciio de
gravidade de Newton, isso jamais seria sequer imagindvel! Confira a ideia na
ilustragao abaixo.
pancadas frente
de onda
sentido de
propagacio
da onda
sentido de
propagacio
da onda
sentido, da
““propagacao
wy da onda
Se vocé der pancadas na melancia, vai provocar perturbacées que
vao se espalhar pelo tecido do lengol ao redor da melancia, pas-
sando, eventualmente, pelo limao que “sentiré” essa ondulacao do
tecido que viaja no préprio tecido
(https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o4.jpg
)Ondas gravitacionais, originadas em diversos eventos espalhados pelo
Universo, devem estar se propagando por todo o espago agora. E nés, na Terra,
como o limao no lengol, podemos ser atingidos por elas. Ondulando o espaco-
tempo, as ondas gravitacionais que nos atingem fazem o nosso planeta (e todos
nés nele embarcados) oscilarmos. Sim, esticamos e encolhemos enquanto
somos atingidos pelas ondas gravitacionais! A animag4o a seguir mostra esse
efeito propositalmente exagerado.
Se as oscilagdes no espaco-tempo fossem tao exageradas quanto vemos na
animagio acima, nao deveria ser muito complicado detectar as ondas
gravitacionais. No entanto, como as ondas gravitacionais vém de muito longe,
até chegarem até nés certamente esto bastante "enfraquecidas". Esse efeito
oscilatério de esticar/encolher é muitissimo sutil, o que dificulta a sua medigao
experimental. Mas, uma possivel medida desse efeito seria contundente prova
da existéncia das ondas gravitacionais.
Tente imaginar um experimento que possa medir essa oscilagdo que envolve
comprimentos muito menores do que as menores particulas constituintes dos
Atomos. Que régua poderiamos usar para tal? Pensando bem, e piorando as
coisas, sera que a régua, ao oscilar em ressonancia com a chegada das ondas
gravitacionais, nao iria mascarar esse efeito estica/encolhe, complicando e até
impossibilitando a sua medigao?
Como dizia Einstein, " a imaginacao é mais importante que o conhecimento
(...). Cientistas, imaginativos, bolaram um método para medir a possfvel
passagem de ondas gravitacionais pela Terra. Confira detalhes a seguir.
O delicado LIGO(https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO.jpg)
Um dos dois experimentos gémeos do LIGO, localizado na Louisiana, EUA.
Note os dois
bragos perpendiculares, cada qual com cerca de 4 km, que partem do prédio
central onde
fica a fonte laser que emite feixe que, depois de dividido, percorre cada um dos
dois
bragos para, entio, se juntarem novamente no ponto de partida.
OLIGO (https://www.ligo.caltech.edu/) - Laser Inteferometer
Gravitational-Wave Observatory fica nos Estados Unidos e foi desenhando
para tentar medir o efeito estica/encolhe provocado pela chegada e passagem
de ondas gravitacionais aqui na Terra.Ele se baseia na conhecida técnica de interferometria na qual um feixe laser
unico inicial é dividido em dois. Cada um dos dois feixes viaja por diferentes
caminhos e, depois de refletidos por espelhos, voltam a se encontrar,
sobrepondo-se, dando origem ao que conhecemos em Fisica como
interferéncia.
Como os dois feixes tém origem numa sé fonte, est&o em concordancia de fase.
Mas é possivel ajustar os comprimentos dos dois caminhos diferentes seguidos
pelos dois feixes para que, quando se encontrarem, ocorra interferéncia
destrutiva. Assim, crista de um se sobrepée a vale do outro e vice-versa. Eo que
vemos, como produto final, é um sinal plano na tela do computador, ratificando
que as oscilagées dois feixes se anularam mutuamente. Essa auséncia de sinal é
um padrao importante. Enquanto ela existir significa que os dois caminhos
permaneceram exatamente do mesmo tamanho, garantindo a condigao de
interferéncia destrutiva e sinal zero.
No entanto, se o efeito estica/encolhe provocado pela passagem de ondas
gravitacionais na Terra alterar ainda que sutilmente qualquer um dos dois
caminhos percorridos pelos dois feixes laser, ao se reencontrarem, nao mais
ocorrera interferéncia destrutiva e um sinal nao nulo vai "brotar" na tela do
equipamento denunciando a passagem das ondas gravitacionais. Lindo demais!
E ainda tem gente que nao gosta de Fisica! Pode?
Confira na ilustrag&o abaixo, por mim traduzida a partir de matéria
(http://www.scientificamerican.com/article/gravitational-waves-
discovered-from-colliding-black-holes1/) na revista Scientific American,
como funciona o "truque" de interferometria.TOVAvaN
Ew AVAVs
eneeges
Cr alii
sobrepostos
ee ee tet ae ea
pa > aviv
Feixes
Eee
com sinal
COE cy
Cee
(https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO_JC_sciam.jp
8)
O principio basico da interferometria.
As ondas gravitacionais podem vir, em tese, de todas as direcdes do espaco.
Logo, os dois feixes laser do interferémetro devem ser dispostos em bragos
perpendiculares. Nesse arranjo, pelo menos um componente (ou projecio) do
efeito estica/encolhe na direcdo de qualquer um dos dois bracos jé é suficiente
para gerar um sinal nao nulo na tela do equipamento e denunciar a passagem.
de possiveis ondas gravitacionais. Em outras palavras, se ondas gravitacionais
passarem por ali e o equipamento for suficientemente sensivel, elas (ondas)
nao escaparao do detector.
Mas, com tanta sensibilidade, a simples passagem de um trem proximo ao
equipamento ja seria suficiente para produzir sinal nao nulo no equipamento,
criando um falso positivo. Para evitar medidas falsas, detectores gémeos,
bastante separados entre si (um fica em Livingston, Lousiana, e o outro em
Hanford, Washington), operam em conjunto. Se apenas um deles detectar algo,trata-se de um evento local. Mas se ambos detectarem sinal idéntico e
simultaneo, entao o fendmeno deixa de ser local para assumir escala planetaria.
E ai, entao, a medida torna-se confiavel. Genial, nao?
Em sua primeira versio o LIGO (https://www.ligo.caltech.edu/) nao
obteve sucesso. Melhorado, agora muito mais sensivel, chamado de Advanced
LIGO (https://www.ligo.caltech.edu/), (https://www.ligo.caltech.edu/)
em setembro de 2015 fez medidas que se mostram confidveis e denotam
possivel existéncia das ondas gravitacionais. Sim, todo cuidado em afirmar
qualquer coisa ainda é pouco. Mas as evidéncias sio contundentes.
A origem das ondas gravitacionais foi um inerfvel evento cosmolgico distante
pouco mais de 1 bilhao de anos-luz da Terra: o encontro de dois buracos negros
que se fundiram dando origem a um tinico buraco negro maior e mais massivo.
O evento aconteceu num passado distante e sé chegou A Terra na segunda
metade do ano passado!
Ha, ainda, um outro detalhe importantissimo: somando as massas individuais
dos dois buracos negros envolvidos na danca césmica que culminou numa
fusao colossal, nao encontramos o valor da massa total do buraco negro final.
Um dos buracos negros tinha massa equivalente a 36 massas solares e 0 outro
massa de 29 massas solares. Deverfamos ter, como resultado final ébvio, 36 +
29 = 65 massas solares. Certo? No entanto, o buraco negro resultante tem 62
massas solares, 3 massas solares a menos do que se poderia imaginar. Onde foi
parar essa diferenca de massa? Afinal, massa, assim como energia, nao podem
ser criadas nem destruidas. E ai entra outra obra prima de Einstein: E = m.c?!
A diferenca de massa m = 3 x Msol foi convertida em energia (E) obedecendo a
famosa equivaléncia massa-energia expressa naquela que talvez seja a equacio
mais pop da Fisica, E = m.c2, onde c é a velocidade da luz no vacuo, algoproximo de 300000 km/s (ou 300000000 m/s). A massa do Sol, uma estrela, é
enorme. A velocidade da luz no vacuo também € gigante. Elevada ao quadrado,
fica ainda maior. Multiplique trés massas solares por c3 e tera gigantesca
quantidade de energia (E)! E essa energia brutal que provocou o abalo inicial
que originou as ondas gravitacionais que viajaram por pouco mais de 1 bilhdo
de anos para chegar na Terra no ano passado, bastante "enfraquecidas”,
“diluidas", é claro. Mas dentro da sensibilidade projetada do Advanced LIGO
(https://www.ligo.caltech.edu/).
Vou deixar o cdlculo de E =m.c? para outro post. Vocé pode, se quiser, tentar
fazé-lo. Vale a pena. E divertido!
Mas vou parando por aqui, para nao esticar ainda mais o post. Fico com a
sensagio de missio cumprida. Expliquei o que sao onda gravitacionais sem
“calculeira", tentando ser didatico para que qualquer pessoa, especialmente as
nao iniciadas em Fisica, pudessem entender. Serd que consegui? Deixe seu
comentario!
Ah... sim... a descoberta, se confirmada, da Nobel de Fisi:
a. Quer apostar?!
1— Fisica Classica é todo o conhecimento da Fisica acumulado até o final do
século XIX. Fisica Moderna é a Fisica do século XX.
2- Vale observar que na virada do século XIX para 0 século XX havia a
crenca na existéncia de um meio material que desse suporte as ondas
eletromagnéticas. Esse meio, muito sutil, ficou conhecido como ter
Lumniffero ou, simplesmente, Eter. Muito se tentou detectar o Eter. Mas sem
sucesso. Einstein, nos primeiros passos da Teoria da Relatividade Restrita
(1905), ignorando a existéncia do Kter, postulou que a velocidade da luz é
absoluta. E o Eter, nunca detectado, foi esquecido. E, como nunca mais fez
falta alguma, ignorado. Talvez ele exista. E tenha alguma funcao ainda
desconhecida.
3 — Medidas também foram feitas por um segundo grupo de cientistas na Ilha
do Principe, Africa. Mas prefiro privilegiar a presenca marcante do Brasil
nesse incrivel acontecimento cientifico.Para saber mais
* Oartigo original
(http://journals.aps.org/prl/pdf/10.1103/PhysRevLett.116.06110
2): Observation of Gravitational Waves from a Binary Black Hole Merger
(PDF, em inglés)
Videos
"Mensageiro Sideral', de Salvador Nogueira [portugués, 2min52s | 2016]
Detecgao de ondas gravitacionais abre nova janela para o cosmos
Palestra "Gravitational wave astronomy — opening a new window on the
Universe" | Martin Hendry | TED x Glasgow [Em inglés, 15mino7s | 2014)
Gravitational wave astronomy ~- opening a new window on the Universe | Martin He...Matérias
Passeio virtual pelos experimentos do LIGO
+ Livingston (http://www.net3.hu/ligo/) (Louisiana)
+ Hanford (http://www.net3.hu/hanford/) (Washington)
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ndas-gravitacionais/) - December 2, 2016