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Quer entender o que séo ondas gravitacionais? fisicanaveia blogosfera.uol.com.br (https: //fisicanaveia.blogosfera.uol.com.br/2016/02/12/quer_entender_o_que_sao_o ndas-gravitacionais/) - December 2, 2016 (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO_Caltech_OG. ips) Concepgao artistica de ondas gravitacionais geradas pela danga césmica de dois buracos negros prestes a se fundirem. Crédito: Caltech Se vocé mora no planeta Terra e presta um minimo de atencéio em noticias veiculadas na web, no radio, na TV e até mesmo na midia impressa, certamente ficou sabendo que ontem (11/02/2016) foi oficialmente divulgada noticia sobre experimento cientifico que parece ter comprovado a existéncia das tao esperadas ondas gravitacionais. E talvez tenha visto imagens parecidas com essa logo acima. No entanto, se vocé nao ¢ fisico ou nao tem pelo menos uma minima formacio na rea das exatas, talvez nao tenha a menor ideia do que sio as tais ondas gravitacionais e porque a sua comprovacio jé era tio esperada pela comunidade cientifica. Por conta disso, pensando na maioria das pessoas que ficaram literalmente "boiando” diante da relevante noticia cientifica, resolvi cumprir 0 meu papel de professor/divulgador cientffico escrevendo sobre o tema de uma forma mais light, ou seja, tentando explicar tudo sem complicacées e a assustadora “calculeira”. O que sao ondas? No ensino médio, onde atuo como professor e autor de material didatico, de forma simples (mas sem perder o rigor conceitual), definimos onda mais ou menos da seguinte maneira: eon ea tu soma eRey el ere iunentel Porto] lool Mo Lalae Mee Col Mela -< Lae (OR Ag Ln PL) OCCU Sete mue ta (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_def.jpg) Toda onda, enquanto se propaga, oscila. Logo, tem dois movimentos intrinsecos: 0 de propagacao (movimento de translacao que faz a onda se espalhar e se afastar da fonte) e o de oscilagao (movimento repetitivo, um quase incessante "vai e vem"). Também ensinamos para os jovens estudantes que, do ponto de vista da natureza das ondas, dentro da Fisica Classica!, ha dois tipos bem diferentes de onda: onda mecfnica e onda eletromagnética. Conjunto de perturbagées sequenciais que se propagam como Cec n can tae ence (https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_Mec_def.jpg ) ean Cea tyes eR Ry elec) oscilagdes de campos elétricos e magnéticos sem a necessidade Cee Marae et ae (https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Onda_EM_def.jpg) Nas ondas mecfnicas, como sugere 0 nome, a oscilacao ocorre no proprio meio. Sao as particulas do meio que "sacodem" (ou oscilam, num "vai e vem") enquanto a onda passa. Jd nas ondas eletromagnéticas, quem oscila sao dois campos: um elétrico e outro magnético. Nao é o meio quem "sacode" mas os campos, grandezas vetoriais que ficam oscilando numa dada diregéo, mudando periodicamente de intensidade e de sentido. Sendo assim, uma onda mecanica nao pode existir sem o meio que lhe dé suporte, ou seja, sem as particulas que oscilam. Mas as ondas eletromagnéticas podem sobreviver 4 auséncia do meio material pois a oscilac4o nao esta no proprio meio e sim nos campos elétrico e magnético que existem sem necessidade do meio material2. O som é um excelente exemplo de onda mecanica. Ao se propagar, uma onda sonora ondula o meio material sem o qual nao poderia existir. Vocé sabe que nao existem ondas sonoras no vacuo, ou seja, sem particulas materiais que ficam "sacudindo" enquanto a onda passa. Jé a luz é tipico exemplo de onda eletromagnética. A luz nao depende do meio para existir porque quem oscila enquanto a onda luminosa passa nao sao as particulas do meio mas os dois campos, o elétrico e o magnético. Por isso mesmo nao hé problema algum para uma onda eletromagnética encarar o vacuo, ou seja, a auséncia de matéria. Na Fisica Clas ica, que compreende todo o conhecimento de Fisica até o final do século XIX, é assim que tratamos e classificamos as ondas. Mas, gragas a Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade Geral, que pertence a Fisica Moderna, a Fisica do século XX, podemos ter ainda um outro tipo de ondas: as gravitacionais. A Teoria da Relatividade Geral comecou a ser desenhada em 1907 e ficou pronta em 1916, ha cem anos. Mas, antes de falarmos de ondas gravitacionais, vamos dar uma passadinha rapida pela Relatividade Geral. Uma pitada de Relatividade Geral Pensando diferente de Isaac Newton, que tratava a gravidade em sua Lei da Gravitacdo Universal como uma forga atrativa mitua entre dois corpos dotados de massa, Einstein, com Teoria da Relatividade Geral, geometrizou a gravidade. Para Einstein, vivemos num espago de quatro dimensoes: trés espaciais (x, y, 2) e uma temporal (t). Estamos, portanto, imersos num espaco quadridimensional (x, y, z, t). Essa ideia nasceu da Relatividade Restrita (1905). Mas, a partir de 1907, Einstein comegou a pensar diferente quando, num insight, teve o que ele mesmo chamou de ideia mais importante da sua vida, o que ficou conhecido na Fisica como Principio da Equivaléncia e que diz: ‘Se um observador esta dentro de um recinto fechado, sem ter como olhar para fora, nao ha como decidir se o recinto esta sob Pee ccc nance xen reece com aceleracéo a=g. (https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Princ_Equivalencia ps) De uma forma resumida, podemos dizer que os efeitos da gravidade e da aceleragao sao indistinguiveis. Se vocé estiver dentro de um elevador, dependendo da situacao, poderé sentir-se mais pesado. De dentro do elevador nao ha como saber se vocé ficou mais pesado porque a gravidade local (g) aumentou de valor ou foi mero efeito da aceleragao (a) do elevador que muda constantemente de velocidade. A partir dessa ideia simples e bem conhecida por todos nés, especialmente pensando no efeito da acelerac&o ou da gravidade sobre um raio de luz, Einstein vislumbrou uma nova maneira de tratar a gravidade. Para ele, a gravidade nao é uma forga atrativa mas sim o efeito da deformacao no tecido espaco-temporal (x, y, z, t) que um corpo dotado de massa (m) provoca ao seu redor. Einstein literalmente "entortou" o Universo ao repensar uma nova concep¢ao para a gravidade! E abandonou o espago imutdvel e bem comportado de Newton, bem-descrito pela geometria euclidiana, onde a menor distancia entre dois pontos é uma reta. As novas ideias de Einstein para a gravidade requerem. uma geometria nao euclidiana para dar conta de um espaco curvo, literalmente deformado, onde a menor distancia dentre dois pontos pode nao ser mais uma reta e sim uma curva. Mas nesse texto nao queremos "calculeira" nem complicagées. Certo? Como é bastante complicado (e quase impossivel) raciocinar em quatro dimensdes sem ter o dominio de ferramentas matematicas avangadas, vamos simplificar a ideia imaginando um tecido espago-temporal de apenas duas dimensoes. Para ficar mais facil ainda, e até palpavel, imagine que vocé, com a ajuda de alguém, esticou um lencol na horizontal. Mais do que imaginar, se quiser, vocé pode agora pegar um lencol na gaveta do armirio e, com a ajuda de outra pessoa, estica-lo na horizontal. Esse é o nosso modelo (simplificado) de Universo local de duas dimensées! 2 Lencol esticado e mantido na horizontal, nosso modelo 39) de espaco bidimensional (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_01.jpg) Agora precisamos deformar o espago-tempo (no nosso experimento representado pelo lengol). Imagine (ou faga!) o seguinte: coloque um corpo massivo no centro do lengol. Vocé sabe: um corpo massivo, qualquer corpo que tenha massa, de preferéncia bastante massa, como uma bola de basquete ou, quem sabe, uma melancia! Algo que consiga deformar o lengol de maneira bem perceptivel. A concavidade que o lengol, nosso tecido espaco-temporal, assume, provoca a gravidade. Segundo Einstein, a gravidade nao é mais uma forga e sim o "efeito colateral" de uma deformagao no tecido do espago e do tempo provocado por um corpo massivo. Uma melancia, apoiada no centro do lencol esticado, ES) provoca uma deformacao bem evidente no tecido (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o2.jpg) Agora imagine: se vocé lancar um limao sobre o lencol deformado, tentando tangenciar a concavidade, certamente o limo vai realizar uma trajetéria curva e que acompanha a deformagdo do tecido. Para Newton, o limio teria sido atraido pelo corpo central por uma forca centripeta que curva a sua trajetéria. Para Einstein, no entanto, o limao apenas segue a curvatura do espago-tempo. No final das contas, em qualquer um dos casos, o limao vai “orbitar" a melancia. Concorda? Mas sao duas concepgées bem diferentes de gravidade. Se vocé lancar um limo sobre 0 lengol com velocidade V Cy Conveniente, ele acabara “orbitando” a melancia uma vez Be” que tende a acompanhar a concavidade no tecido do lencol (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o3.jpg) Troque a melancia pelo Sol e o limao pela Terra e temos um modelo gravitacional relativistico para explicar porque a Terra orbita o Sol. O Sol, com grande massa, deforma o espaco-tempo ao seu redor. E a Terra, ao orbitar o Sol, simplesmente esté acompanhando essa deformacio. Antes, segundo Newton, a massa central "informava" para a gravidade como exercer uma forca na outra massa. Ea forga "informava" para a outra massa como ela deveria acelerar. Depois de Einstein a coisa é bem diferente. A massa central informa” para o espago-tempo como se curvar. Eo espaco-tempo, uma vez deformado (ou curvado) "informa" para a outra massa como e por onde ela deve se mover. Deu para entender o espirito da coisa? Antes de prosseguir, aproveitando o momento, abro parénteses para trés observacdes importantes: 1) O que é um buraco negro’ Um buraco negro nada mais é que um corpo tao massivo que a deformagao que provoca no tecido do espago-tempo é tao grande que forma verdadeiramente um "buraco profundo". Nesse caso, a velocidade de escape do corpo supera a velocidade (c) da luz no vacuo. Sendo assim, a partir de determinado limite, chamado de horizonte de eventos, nada escapa da gravidade desse corpo, nem mesmo a luz. Dai dizermos que 0 buraco é negro. Buracos negros sdo "filhos" da Teoria da Relatividade Geral de Einstein. 2) Luz faz curva? Esse talvez seja o efeito mais incrivel e imediato da Teoria da Relatividade Geral. Imagine um raio raio de luz propagando-se pelo espaco e que encontre em seu caminho um corpo bastante massivo e, portanto, capaz de deformar de maneira perceptivel 0 espago-tempo ao seu redor. O raio de luz tentara prosseguir o seu caminho em linha reta mas sera obrigado a acompanhar a curvatura do espago-tempo, fazendo (sim!) uma curva. Einstein, além de imaginar esse efeito, também imaginou como observa-lo e como tirar medidas dele. Bastava medir a posicio relativa de estrelas por tras do Sol durante um eclipse solar total, durante o dia, e depois, noutro dia, no periodo da noite, medir novamente a posigao relativa das mesmas estrelas sem a presenca do Sol. Se houvesse diferenca nas posicées estelares (com Sol e sem Sol), isso seria uma evidéncia direta da presenca da grande massa do Sol capaz de desviar a luz mudando a posiciio aparente das estrelas! Incrivel, ndo? Na minha opiniao, uma das ideias mais impressionantes na histéria da Fisica, tanto pela teoria quanto pela possivel experimentacdo! Em 1919, durante um eclipse solar total, usando a ideia acima, cientistas mediram a curvatura dos raios de luz que passavam perto da nossa estrela, 0 Sol. E sabe onde as observacées astronémicas que levaram a essas medidas foram feitas? Na cidade de Sobral, no Ceara, Brasil! Esse foi o primeiro grande passo para confirmar a Teoria da Relatividade Geral e colocar Einstein em evidéncia no mundo. Confira mais sobre o eclipse de Sobral nesse post (http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2006-03-26_2006-04- o1.html#2006_03-29_19_19_44-7000670-0)de 2006 aqui no Fisica na Veia!, ainda na plataforma antiga do blog. 3) Lentes gravitacionais Assim como uma lente convencional de vidro ou outro material qualquer transparente desvia a luz e forma imagens, um corpo suficientemente massivo, segundo Einstein, também poderia desviar a luz e conjugar imagens, tal como uma lente. Esse efeito ficou conhecido como lente gravitacional. A ilustragio a seguir d4 uma ideia de como ele opera na pratica. Luz desviada por G,; ~~ oS aN. Imagem ampliada de G, para um observador na Terra (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/Lente_Gravitaciona ljpe) Reproducio de ilustra¢do pertencente ao material de Optica da primeira série do ensino médio da colegao Novo Ensino Médio do Sistema Integral de Ensino, de minha autoria. A figura acima é, obviamente, uma montagem. Mas ilustra bem 0 conceito de lente gravitacional. Nela vemos suposta galaxia G1 desviando a luz proveniente de outra galaxia G2, mais afastada do observador. Daqui da Terra, usando telescépios potentes e técnicas apuradas de observagao astronémica, podemos observar G2 diretamente e também uma segunda imagem da mesma galaxia G2 criada pelo efeito de lente gravitacional gerado pela grande massa de G1. No final dos anos 90 do século passado 0 telescépio espacial Hubble conseguiu os primeiros registros de lentes gravitacionais. Depois do Eclipse e da comprovaciio do desvio sofrido pela luz ao passar perto de um objeto bastante massivo, esse foi o segundo grande passo para validar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein. Provas de fogo! Mas a teoria resistiu bravamente! Fecha parénteses. E vamos voltar ao texto principal. Ainda falta o terceiro e dltimo grande passo: a comprovacao experimental da existéncia das ondas gravitacionais. Mas ainda nem falamos o que sao ondas gravitacionais, nao é mesmo? Vamos a elas! Ondas gravitacionais? O que sao? Volte ao experimento do lengol esticado e deformado pela melancia (ou qualquer outro corpo massivo colocado no seu centro). Imagine que algo consiga perturbar de forma contundente o corpo central, a melancia, fazendo-a oscilar. Vocé mesmo pode interagir com o corpo central dando-lhe pancadas. Imediatamente vera que o tecido do lengol sera portador de ondulagdes que vao se afastar do corpo central, rumo as bordas. Claro que, no lencol, o que criamos so perturbacées tipicas de uma onda mecAnica. Mas, nesse nosso modelo, essas oscilagdes equivalem a ondulagées no tecido do espaco-tempo, ou seja, equivalem A ondas gravitacionais! Onda gravitacionais sao oscilagdes no tecido quadridimensional do espaco-tempo (no nosso modelo, simplificado para duas dimensoes). Incrivel, néo? Pela Teoria da Relatividade Geral é possivel (e natural) intuir que perturbagées na massa que provoca a deformacio no espaco-tempo geram ondulacdes que se propagam na forma de ondas pelo tecido espaco-temporal. Pela concepciio de gravidade de Newton, isso jamais seria sequer imagindvel! Confira a ideia na ilustragao abaixo. pancadas frente de onda sentido de propagacio da onda sentido de propagacio da onda sentido, da ““propagacao wy da onda Se vocé der pancadas na melancia, vai provocar perturbacées que vao se espalhar pelo tecido do lengol ao redor da melancia, pas- sando, eventualmente, pelo limao que “sentiré” essa ondulacao do tecido que viaja no préprio tecido (https://conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/OG_Lencol_o4.jpg ) Ondas gravitacionais, originadas em diversos eventos espalhados pelo Universo, devem estar se propagando por todo o espago agora. E nés, na Terra, como o limao no lengol, podemos ser atingidos por elas. Ondulando o espaco- tempo, as ondas gravitacionais que nos atingem fazem o nosso planeta (e todos nés nele embarcados) oscilarmos. Sim, esticamos e encolhemos enquanto somos atingidos pelas ondas gravitacionais! A animag4o a seguir mostra esse efeito propositalmente exagerado. Se as oscilagdes no espaco-tempo fossem tao exageradas quanto vemos na animagio acima, nao deveria ser muito complicado detectar as ondas gravitacionais. No entanto, como as ondas gravitacionais vém de muito longe, até chegarem até nés certamente esto bastante "enfraquecidas". Esse efeito oscilatério de esticar/encolher é muitissimo sutil, o que dificulta a sua medigao experimental. Mas, uma possivel medida desse efeito seria contundente prova da existéncia das ondas gravitacionais. Tente imaginar um experimento que possa medir essa oscilagdo que envolve comprimentos muito menores do que as menores particulas constituintes dos Atomos. Que régua poderiamos usar para tal? Pensando bem, e piorando as coisas, sera que a régua, ao oscilar em ressonancia com a chegada das ondas gravitacionais, nao iria mascarar esse efeito estica/encolhe, complicando e até impossibilitando a sua medigao? Como dizia Einstein, " a imaginacao é mais importante que o conhecimento (...). Cientistas, imaginativos, bolaram um método para medir a possfvel passagem de ondas gravitacionais pela Terra. Confira detalhes a seguir. O delicado LIGO (https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO.jpg) Um dos dois experimentos gémeos do LIGO, localizado na Louisiana, EUA. Note os dois bragos perpendiculares, cada qual com cerca de 4 km, que partem do prédio central onde fica a fonte laser que emite feixe que, depois de dividido, percorre cada um dos dois bragos para, entio, se juntarem novamente no ponto de partida. OLIGO (https://www.ligo.caltech.edu/) - Laser Inteferometer Gravitational-Wave Observatory fica nos Estados Unidos e foi desenhando para tentar medir o efeito estica/encolhe provocado pela chegada e passagem de ondas gravitacionais aqui na Terra. Ele se baseia na conhecida técnica de interferometria na qual um feixe laser unico inicial é dividido em dois. Cada um dos dois feixes viaja por diferentes caminhos e, depois de refletidos por espelhos, voltam a se encontrar, sobrepondo-se, dando origem ao que conhecemos em Fisica como interferéncia. Como os dois feixes tém origem numa sé fonte, est&o em concordancia de fase. Mas é possivel ajustar os comprimentos dos dois caminhos diferentes seguidos pelos dois feixes para que, quando se encontrarem, ocorra interferéncia destrutiva. Assim, crista de um se sobrepée a vale do outro e vice-versa. Eo que vemos, como produto final, é um sinal plano na tela do computador, ratificando que as oscilagées dois feixes se anularam mutuamente. Essa auséncia de sinal é um padrao importante. Enquanto ela existir significa que os dois caminhos permaneceram exatamente do mesmo tamanho, garantindo a condigao de interferéncia destrutiva e sinal zero. No entanto, se o efeito estica/encolhe provocado pela passagem de ondas gravitacionais na Terra alterar ainda que sutilmente qualquer um dos dois caminhos percorridos pelos dois feixes laser, ao se reencontrarem, nao mais ocorrera interferéncia destrutiva e um sinal nao nulo vai "brotar" na tela do equipamento denunciando a passagem das ondas gravitacionais. Lindo demais! E ainda tem gente que nao gosta de Fisica! Pode? Confira na ilustrag&o abaixo, por mim traduzida a partir de matéria (http://www.scientificamerican.com/article/gravitational-waves- discovered-from-colliding-black-holes1/) na revista Scientific American, como funciona o "truque" de interferometria. TOVAvaN Ew AVAVs eneeges Cr alii sobrepostos ee ee tet ae ea pa > aviv Feixes Eee com sinal COE cy Cee (https: //conteudo.imguol.com.br/blogs/98/files/2016/02/LIGO_JC_sciam.jp 8) O principio basico da interferometria. As ondas gravitacionais podem vir, em tese, de todas as direcdes do espaco. Logo, os dois feixes laser do interferémetro devem ser dispostos em bragos perpendiculares. Nesse arranjo, pelo menos um componente (ou projecio) do efeito estica/encolhe na direcdo de qualquer um dos dois bracos jé é suficiente para gerar um sinal nao nulo na tela do equipamento e denunciar a passagem. de possiveis ondas gravitacionais. Em outras palavras, se ondas gravitacionais passarem por ali e o equipamento for suficientemente sensivel, elas (ondas) nao escaparao do detector. Mas, com tanta sensibilidade, a simples passagem de um trem proximo ao equipamento ja seria suficiente para produzir sinal nao nulo no equipamento, criando um falso positivo. Para evitar medidas falsas, detectores gémeos, bastante separados entre si (um fica em Livingston, Lousiana, e o outro em Hanford, Washington), operam em conjunto. Se apenas um deles detectar algo, trata-se de um evento local. Mas se ambos detectarem sinal idéntico e simultaneo, entao o fendmeno deixa de ser local para assumir escala planetaria. E ai, entao, a medida torna-se confiavel. Genial, nao? Em sua primeira versio o LIGO (https://www.ligo.caltech.edu/) nao obteve sucesso. Melhorado, agora muito mais sensivel, chamado de Advanced LIGO (https://www.ligo.caltech.edu/), (https://www.ligo.caltech.edu/) em setembro de 2015 fez medidas que se mostram confidveis e denotam possivel existéncia das ondas gravitacionais. Sim, todo cuidado em afirmar qualquer coisa ainda é pouco. Mas as evidéncias sio contundentes. A origem das ondas gravitacionais foi um inerfvel evento cosmolgico distante pouco mais de 1 bilhao de anos-luz da Terra: o encontro de dois buracos negros que se fundiram dando origem a um tinico buraco negro maior e mais massivo. O evento aconteceu num passado distante e sé chegou A Terra na segunda metade do ano passado! Ha, ainda, um outro detalhe importantissimo: somando as massas individuais dos dois buracos negros envolvidos na danca césmica que culminou numa fusao colossal, nao encontramos o valor da massa total do buraco negro final. Um dos buracos negros tinha massa equivalente a 36 massas solares e 0 outro massa de 29 massas solares. Deverfamos ter, como resultado final ébvio, 36 + 29 = 65 massas solares. Certo? No entanto, o buraco negro resultante tem 62 massas solares, 3 massas solares a menos do que se poderia imaginar. Onde foi parar essa diferenca de massa? Afinal, massa, assim como energia, nao podem ser criadas nem destruidas. E ai entra outra obra prima de Einstein: E = m.c?! A diferenca de massa m = 3 x Msol foi convertida em energia (E) obedecendo a famosa equivaléncia massa-energia expressa naquela que talvez seja a equacio mais pop da Fisica, E = m.c2, onde c é a velocidade da luz no vacuo, algo proximo de 300000 km/s (ou 300000000 m/s). A massa do Sol, uma estrela, é enorme. A velocidade da luz no vacuo também € gigante. Elevada ao quadrado, fica ainda maior. Multiplique trés massas solares por c3 e tera gigantesca quantidade de energia (E)! E essa energia brutal que provocou o abalo inicial que originou as ondas gravitacionais que viajaram por pouco mais de 1 bilhdo de anos para chegar na Terra no ano passado, bastante "enfraquecidas”, “diluidas", é claro. Mas dentro da sensibilidade projetada do Advanced LIGO (https://www.ligo.caltech.edu/). Vou deixar o cdlculo de E =m.c? para outro post. Vocé pode, se quiser, tentar fazé-lo. Vale a pena. E divertido! Mas vou parando por aqui, para nao esticar ainda mais o post. Fico com a sensagio de missio cumprida. Expliquei o que sao onda gravitacionais sem “calculeira", tentando ser didatico para que qualquer pessoa, especialmente as nao iniciadas em Fisica, pudessem entender. Serd que consegui? Deixe seu comentario! Ah... sim... a descoberta, se confirmada, da Nobel de Fisi: a. Quer apostar?! 1— Fisica Classica é todo o conhecimento da Fisica acumulado até o final do século XIX. Fisica Moderna é a Fisica do século XX. 2- Vale observar que na virada do século XIX para 0 século XX havia a crenca na existéncia de um meio material que desse suporte as ondas eletromagnéticas. Esse meio, muito sutil, ficou conhecido como ter Lumniffero ou, simplesmente, Eter. Muito se tentou detectar o Eter. Mas sem sucesso. Einstein, nos primeiros passos da Teoria da Relatividade Restrita (1905), ignorando a existéncia do Kter, postulou que a velocidade da luz é absoluta. E o Eter, nunca detectado, foi esquecido. E, como nunca mais fez falta alguma, ignorado. Talvez ele exista. E tenha alguma funcao ainda desconhecida. 3 — Medidas também foram feitas por um segundo grupo de cientistas na Ilha do Principe, Africa. Mas prefiro privilegiar a presenca marcante do Brasil nesse incrivel acontecimento cientifico. Para saber mais * Oartigo original (http://journals.aps.org/prl/pdf/10.1103/PhysRevLett.116.06110 2): Observation of Gravitational Waves from a Binary Black Hole Merger (PDF, em inglés) Videos "Mensageiro Sideral', de Salvador Nogueira [portugués, 2min52s | 2016] Detecgao de ondas gravitacionais abre nova janela para o cosmos Palestra "Gravitational wave astronomy — opening a new window on the Universe" | Martin Hendry | TED x Glasgow [Em inglés, 15mino7s | 2014) Gravitational wave astronomy ~- opening a new window on the Universe | Martin He... Matérias Passeio virtual pelos experimentos do LIGO + Livingston (http://www.net3.hu/ligo/) (Louisiana) + Hanford (http://www.net3.hu/hanford/) (Washington) fisicanaveia,blogosfera,uol.com.br ndas-gravitacionais/) - December 2, 2016

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