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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 1

0 ANÁLISE VETORIAL

Este capítulo fornece uma introdução e uma recapitulação dos conhecimentos de álgebra vetorial,
estando por isto numerado com o zero. Não faz parte de fato dos nossos estudos de eletromagnetismo, mas sem
ele o tratamento dos fenômenos de campos elétricos e magnéticos torna-se mais complicado, uma vez que estes
são resultados matemáticos de operações vetoriais.

SISTEMA DE COORDENADAS
Um exemplo prático de um sistema de coordenadas encontra-se numa carta geográfica
onde um ponto é localizado em função da latitude e da longitude, isto é, medidas angulares
que são tomadas em função de um referencial neste sistema plano. No espaço, um ponto
também pode ser perfeitamente determinado quando conhecemos a sua posição em vista de
um sistema de coordenadas. Particularmente no espaço tridimensional, um ponto é
determinado em função de 3 coordenadas.
Os sistemas de coordenadas definem um ponto no espaço como fruto da intersecção de
3 superfícies que podem ser planas ou não. Vamos nos ater aqui a três tipos de sistemas de
coordenadas: cartesianas, cilíndricas e esféricas.

Sistema de coordenadas cartesianas, também conhecido por coordenadas retangulares,


define um ponto pela intersecção de 3 planos. Neste sistema um ponto P (x, y, z) é definido
pela intersecção dos planos x, y e z constantes paralelos respectivamente ao plano y0z, ao
plano x0z e ao plano x0y, conforme a figura 0.1. É o sistema (x, y, z).

Figura 0.1: o sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares (x, y, z).

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Sistema de coordenadas cilíndricas. Neste sistema de coordenadas o ponto P (r, φ, z) é


determinado pela intersecção de uma superfície lateral cilíndrica de raio r constante e altura
infinita, pelo semiplano φ constante (que contem o eixo z) e finalmente pelo plano z
constante, como pode ser mostrado na figura 0.2. É o sistema (r, φ, z).

Figura 0.2: o sistema de coordenadas cilíndricas (r, φ, z)

Sistema de coordenadas esféricas que define um ponto P (r, θ, φ) na superfície de uma


esfera de raio r constante centrada na origem, vinculando-o pela intersecção desta superfície
com uma outra cônica θ (ângulo formado com o eixo y) constante e um semiplano φ
(contendo o eixo z) constante, melhor esclarecido pela figura 0.3. É o sistema (r, θ, φ).

Figura 0.3: o sistema de coordenadas esféricas (r, θ, φ)

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VETOR
Muitas grandezas necessitam de uma direção e de um sentido além do valor e da
unidade, ou seja, de sua intensidade para uma definição perfeita. Assim, definiremos os
vetores como representantes de classes ou conjuntos de segmentos orientados com mesma
intensidade ou módulo, direção e sentido no espaço. A figura 0.4 mostra um mesmo vetor
r
v representado por segmentos de retas de mesmo tamanho, mesma orientação e paralelas no
espaço.

r
Figura 0.4: a classe de vetores v no espaço

VERSOR OU VETOR UNITÁRIO


r r
Trata-se de um vetor â v de módulo 1, com a direção de um dado vetor v . Um vetor v
é definido como múltiplo o submúltiplo de m vezes este versor â v e possui o mesmo sentido
quando m for positivo ou o sentido oposto, caso m seja negativo. Assim, um vetor pode ser
expresso como o produto de um versor por um escalar de modo que:
r
v = m â v (0.1)

Outra forma de se indicar um versor é aquela que exprime a relação entre um vetor e o
seu próprio módulo, isto é,
r r
v v
â v = r = (0.2)
v v

Se conhecermos o sistema de coordenadas, um ponto P pode ser localizado no espaço


pelas componentes de um vetor posição que vai da origem deste sistema de coordenadas ao
referido ponto. Trata-se de uma soma vetorial das componentes orientadas por seus versores.
r
Um vetor V cuja origem coincide com a origem de um sistema de coordenadas cartesianas e
com extremidade no ponto P pode ser dado por:
r
V = (P − O) = Vx â x + Vy â y + Vz â z (0.3)

Do mesmo modo o ponto P pode ser determinado nos sistemas cilíndrico e esférico
sendo a soma vetorial das componentes dadas respectivamente por
r
V = (P − O) = Vr â r + Vφ â φ + Vz â z (0.4)

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r
V = (P − O) = Vr â r + Vθ â θ + Vφ â φ (0.5)

A figura 0.5 mostra os três versores aplicados em P. Os vetores unitários do sistema


retangular apresentam direções fixas, independentemente do ponto P, o que não ocorre nos
outros dois sistemas de coordenadas (exceto para o versor â z ), onde cada versor é normal à
sua superfície coordenada, coerente com o sentido de crescimento de cada coordenada
associada ao ponto P.

Figura 0.5: versores das componentes coordenadas.

PRODUTO ESCALAR
É uma operação vetorial cujo resultado é um valor escalar, ou seja, uma grandeza
r
algébrica; um valor numérico precedido de um sinal. O produto escalar entre dois vetores A
r r r
e B cujas direções formam um ângulo α entre eles é denotado por A ⋅ B cujo resultado é
dado por:
r r
A ⋅ B = AB cos α (0.6)

Pela relação (0.6) observamos que o produto escalar entre dois vetores multiplica o
módulo de um vetor pelo módulo da projeção do outro sobre ele. De acordo com a figura 0.6,
em uma linguagem matemática podemos escrever:
r r
A ⋅ B = A.projA B = B.projBA (0.7)

O produto escalar resulta positivo quando o ângulo é agudo, nulo quando ele for reto e
negativo quando o ângulo α entre os vetores for obtuso (90º < α < 180º).

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r r
figura 0.6: o produto escalar entre A e B .

Sendo o resultado de um produto escalar um valor algébrico, a propriedade comutativa


pode ser assim verificada:
r r r r
A ⋅ B = AB cos α = BA cos α = B ⋅ A (0.8)
r
Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde A = A x â x + A y â y + A z â z e
r
B = Bx â x + B y â y + Bz â z . Considerando que o produto escalar entre dois versores paralelos
possui módulo igual a 1 e que entre versores perpendiculares o resultado é nulo, o produto
escalar será dado por
r r
A ⋅ B = A x B x + A y B y + A z Bz (0.9)

O quadrado do módulo de um vetor pode ser obtido a partir do produto escalar de um


vetor por ele próprio. Assim,

r r r2
A ⋅ A = A = A 2x + A 2y + A 2z (0.10)

PRODUTO VETORIAL
r r
O produto vetorial entre dois vetores A e B , onde suas direções formam um ângulo
r r
agudo α entre eles, denotado por A × B , fornece como resultado um outro vetor com as
características abaixo:
r r r r
1. Intensidade: A × B = A . B sen α = AB sen α ;
r r
2. Direção: perpendicular aos dois vetores A e B ;
3. Sentido: o do avanço de um parafuso de rosca direita, fornecido pela regra da mão
direita, na ordem em que se tomam os dois vetores.
r r
Em linhas gerais o produto vetorial de dois vetores A e B pode ser expresso na direção
r r
e sentido de um versor â n perpendicular a A e B , cujo sentido é dado pela regra da mão
direita e ilustrado na figura 0.7. Assim,
r r
A × B = (AB sen α) â n (0.11)

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r r
Figura 0.7: o produto vetorial entre A e B

Podemos também verificar sem nenhuma dificuldade que este produto não é comutativo
e podemos escrever que se o versor â n estiver definido
r r r r
B × A = − A × B = − AB sen(α) â n (0.12)

Podemos observar na figura 0.5 que os versores das coordenadas são perpendiculares
entre si em qualquer um sistema. Assim, cada versor pode ser estabelecido em função dos
outros dois como resultado de um produto vetorial. Para um sistema de coordenadas
cartesianas ou retangulares teremos:

â x × â y = â z
â y × â z = â x (0.13)
â z × â x = â y

Da mesma forma para um sistema de coordenadas cilíndricas:

â r × â φ = â z
â φ × â z = â r (0.14)
â z × â r = â φ

E para um sistema de coordenadas esféricas:

â r × â θ = â φ
â θ × â φ = â r (0.15)
â φ × â r = â θ

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Estas expressões mostram que cada versor pode ser determinado em função dos outros
dois. Pela relação (0.12) verificamos que se invertermos a ordem dos versores no produto
vetorial, teremos um versor negativo àqueles obtidos pelas relações (0.13), (0.14) e (0.15).
Quaisquer dois vetores ou versores paralelos possuem o produto vetorial nulo, visto que
sen 0 = sen π = 0.

ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES


Sistema cartesiano
Tomemos um paralelepípedo elementar de arestas dx, dy e dz conforme a figura 0.8 (a),
onde o seu volume dv é dado por

dv = dx.dy.dz (0.16)

O elemento vetorial de linha dL é dado pela soma vetorial de suas arestas dx, dy e dz
orientadas pelos versores â x , â y e â z resultando na diagonal do paralelepípedo, de maneira
que
r
dL = dxâ x + dyâ y + dzâ z (0.17)

Figura 0.8: comprimentos, áreas e volumes elementares.

Sistema cilíndrico
Tomaremos agora um paralelepípedo curvilíneo cujas arestas serão dadas por dr, r.dφ e
dz mostradas na figura 0.8 (b). Da mesma forma como procedemos no sistema retangular, o
elemento de volume será

dv = dr.rdφ.dz = rdrdφdz (0.18)

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E o comprimento elementar dL será dado então pela soma de suas componentes dr, rdφ
e dz orientadas pelos versores â r , â φ e â z onde

r
dL = drâ r + rdφâ φ + dzâ z (0.19)

Sistema esférico
Considerando ainda um paralelepípedo curvilíneo de arestas dr, r.dθ e r.senθ.dφ
mostradas na figura 0.8 (c), o elemento de volume será dado por

dv = dr.rdθ.r sen θdφ = r 2 sen θdrdθdφ (0.20)

Logo, o comprimento elementar dL será dado por


r
dL = drâ r + rdθâ θ + r sen θdφâ φ (0.21)

Os elementos de área, em qualquer dos três sistemas de coordenadas, podem ser


determinados sem maiores dificuldades em qualquer sistema de coordenadas, uma vez que
bastará multiplicar as arestas elementares que definem a superfície da face em questão.

IDENTIDADES VETORIAIS
As identidades vetoriais relacionadas abaixo podem ser provadas, embora algumas
exijam do estudante um pouco de trabalho “braçal”. Simplificando, a notação vetorial é
denotada apenas pelos vetores em letras maiúsculas, sem as setas, enquanto que os escalares
serão representados por letras minúsculas.

(A × B) ⋅ C ≡ (B × C) ⋅ A ≡ (C × A ) ⋅ B (a)

A × (B × C ) ≡ (A ⋅ C )B − (A ⋅ B)C (b)

∇ ⋅ (A + B) ≡ ∇ ⋅ A + ∇ ⋅ B (c)

∇(u + v ) ≡ ∇u + ∇v (d)

∇ × (A + B) ≡ ∇ × A + ∇ × B (e)

∇ ⋅ (uA ) ≡ A ⋅ ∇u + u (∇ ⋅ A ) (f)

∇(uv ) ≡ u (∇v ) + v(∇u ) (g)

∇ × (uA ) ≡ (∇u )× A + u (∇ × A ) (h)

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∇ ⋅ (A × B) ≡ B ⋅ (∇ × A ) − A ⋅ (∇ × B) (i)

∇(A ⋅ B) ≡ (A ⋅ ∇ )B + (B ⋅ ∇ )A + A × (∇ × B) + B × (∇ × A ) (j)

∇ × (A × B) ≡ A∇ ⋅ B − B∇ ⋅ A + (B ⋅ ∇ )A − (A ⋅ ∇ )B (k)

∇ ⋅ ∇v ≡ ∇ 2 v (l)

∇ ⋅∇ × A ≡ 0 (m)

∇ × ∇v ≡ 0 (n)

∇ × ∇ × A ≡ ∇(∇ ⋅ A ) − ∇ 2 A (o)

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
r
1) Encontre o vetor A que liga o ponto P (5, 7, -1) ao ponto Q (-3,r 4, 1). Calcule também
o vetor unitário ou versor associado ao vetor determinado por A .
2) Dados os pontos (5 mm; π; 2 mm) e ( 3 mm; -π/6; -2 mm) em coordenadas
cilíndricas, encontre o valor da distância entre eles.
r r
3) Dados A = 2â x + 4â y − 3â z e B = −â x + â y , calcule os produtos escalar e vetorial entre
eles.
r r
4) Dados A = 2â x + 4â y e B = 6â y − 4â z , calcule o menor ângulo entre eles usando o
produto vetorial e o produto escalar entre eles.
5) Use um sistema de coordenadas esféricas para calcular a área sobre uma casca esférica
de raio r com α ≤ θ ≤ β. Qual o resultado quando α = 0 e β = π?
r r r r
6) Dados A = 4â y + 10â z e B = 3â y , calcule a projeção de A sobre a direção de B .
r r
7) Determine a expressão do produto vetorial entre A e B num sistema cartesiano e
mostre que ele pode ser calculado a partir do determinante de uma matriz 3 x 3.
8) Defina a condição de paralelismo entre dois vetores a partir do produto vetorial entre
eles.
9) Obtenha a condição de ortogonalidade entre dois vetores.
10) Dado o plano A x + B y + C z = K, onde K é uma constante, obtenha o vetor
r
Vn normal a este plano. Pode existir mais de uma solução?

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 1

1 FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS E


O CAMPO ELETROSTÁTICO

Os primeiros fenômenos de origem eletrostática foram observados pelos gregos, 5 séculos antes de
Cristo. Eles observaram que pedaços de âmbar (elektra), quando atritados com tecidos adquiriam a
capacidade de atraírem pequenas partículas de outros materiais. Como a ciência experimental e
dedutiva ainda estava longe de ser desenvolvida, o interesse nesse fenômeno sempre permaneceu
no campo da lógica e da filosofia. A interação entre objetos eletricamente carregados (força
eletrostática) só foi quantificada e equacionada no século 18 (1746), por um cientista francês
chamado C. Coulomb.

1.1 - FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS - LEI DE COULOMB

O trabalho de Coulomb consistiu em, usando uma balança de torção muito sensível, medir a força de
atração (ou repulsão) entre dois corpos carregados, em função da distância que os separava.

Conceito A intensidade da força entre dois objetos pequenos, separados pelo vácuo ou pelo
espaço livre, sendo a distância entre eles muito maior que os seus raios, é diretamente
proporcional ao produto entre as cargas, e inversamente proporcional ao quadrado da
distância entre eles.

Q1.Q 2
F=k (N) (1.1)
R2

F (N) Força de origem eletrostática, de repulsão (cargas de mesmo sinal) ou atração


(cargas de sinais opostos)
Q1, Q2 (C) Cargas elétricas, positivas ou negativas
R (m) Distância entre os centros das cargas
k Constante de proporcionalidade

A constante k vale:

1 ⎛ Nm 2 ⎞
k= = 9.109⎜⎜ 2 ⎟⎟
4πε0 ⎝ C ⎠

A constante ε0 é a permissividade elétrica do espaço livre. No S. I. (Sistema Internacional) seu


valor é:

10 −9
ε 0 =8,854 x10 −12 = ( F / m)
36π

A força eletrostática é uma grandeza vetorial: possui intensidade, direção e sentido. Ela age ao
longo da linha que une as duas cargas. Também é uma força mútua. Cada uma das cargas sofre a
ação de uma força de mesma magnitude, porém, de sentido contrário. A força será repulsiva, se as
duas cargas forem de mesma natureza (mesmo sinal), ou atrativa, se de sinais contrários.
Reescrevendo-a vetorialmente:

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2 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

r r 1 Q1.Q 2
F2 = - F1 = a$ r12 (N) (1.2)
4 πε 0 R12
2
r
R12
a$ r12 = (1.3)
R12
v
F1 (N) Força exercida sobre a carga Q1 pela carga Q2.
v
F2 (N) Força exercida sobre a carga Q2 pela carga Q1.

r
R 12 (m) Vetor que vai da carga Q1 à carga Q2
r
âr12 Vetor unitário, ou versor, indicando a direção do vetor R 12

y (a) y (b)
r r r r
F1 F2 F1 F2
ar12 r ar12 r
Q1 R12 Q2 Q1 R12 Q2

x x

Fig. 1.1- Força entre duas cargas: (a) -de mesmo sinal - (b) - de sinais contrários

Exemplo 1.1
Uma carga Q1 = 3x10-4 C está colocada no ponto P1(1,2,3) m. Uma outra carga Q2 = -10-4 C está
r
colocada no ponto P2(2,0,5) m. Encontrar a força F sobre cada carga.

Solução
Força sobre a carga 2:
Vetor que vai da carga 1 à carga 2
r 1 Q1. Q 2
r r r F2 = . a$ r12
R12 = P2 − P1 4 πε 0 R12
2
r
R12 = (2 − 1). a$ x + (0 − 2). a$ y + (5 − 3). a$ z r 1 3x10 −4 .( −10 −4 ) 1
r F2 = (a$ x − 2. a$ y − 2. a$ z ) ( N )
R12 = a$ x − 2. a$ y + 2. a$ z 4 πε 0 9 3
r
F2 = − 10(a$ x − 2. a$ y + 2. a$ z ) (N)
R12 = 12 + ( −2) 2 + 2 2 = 3

r Força sobre a carga 1:


Vetor unitário com a direção de R 12
r
F1 = 10(a$ x − 2. a$ y + 2. a$ z ) (N)
1
a$ r12 = (a$ x − 2. a$ y + 2. a$ z )
3

Exemplo 1.2
Uma carga positiva Q1 de 2 µC encontra-se na posição P1(1,2,1) m, uma carga negativa Q2 de 4 µC
encontra-se na posição P2(-1,0,2) m e uma carga negativa Q3 de 3 µC encontra-se na posição
P3(2,1,3) m. Encontre a força sobre a carga Q3.

Solução:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 3

r r r r
Pede-se F3 = F3,1 + F3, 2 R 23 = P3 − P2 ou
r
R 23 = (2 − ( −1))a$ x + (1 − 0)a$ y + (3 − 2)a$ z
O vetor que vai do ponto 1 ao ponto 3: r
r r r R 23 = 3a$ x + a$ y + a$ z
R 13 = P3 − P1 ou
r
R13 = ( 2 − 1) a$ x + (1 − 2 ) a$ y + ( 3 − 1) a$ z r
r Vetor unitário de R 23 :
R13 = a$ x − a$ y + 2 a$ z r
R23 3aˆ x + aˆ y + aˆ z
aˆ r 23 = r =
r R23 11
Vetor unitário de R13 :
r
R13 aˆ x − aˆ y + 2aˆ z
aˆ r13 = r = Força sobre a carga 3, devido à carga 2:
R13 6 r 1 ( −4 × 10 −6 )( −3 × 10−6 ) 3a$ x + a$ y + a$ z
F3, 2 =
4 πε 0 11 11
Força sobre a carga 3, devido à carga 1: r −3
F3,2 = 2,96(3a$ x + a$ y + a$ z ) × 10 ( N)
r 1 (2 × 10 −6 )( −3 × 10 −6 ) a$ x − a$ y + 2a$ z
F3,1 =
4 πε 0 6 6
r Força total sobre a carga 3:
−3
F3,1 = − 3,67(a$ x − a$ y + 2a$ z ) × 10 ( N) r r r r
F3 = F3,1 + F3, 2 =(5,2a x + 6,63â y − 4,4â z ) × 10 −3 ( N )
Vetor que vai do ponto 2 ao ponto 3:

Neste exemplo pode ser observado que, em um sistema discreto de cargas pontuais, a força sobre
uma carga deste sistema é a soma (vetorial) das forças entre esta carga e as demais cargas do
sistema, isoladamente.
A título de exercício, calcule a força sobre as outras duas cargas. As respostas deverão ser:
( )
r r
)
( )
F1 = − 1,65a x −8,99â y +10â z × 10 −3 ( N) e F2 = − 3,56a$ x + 2,36a$ y − 5,62a$ z × 10−3 ( N )

1.2 - O CAMPO ELÉTRICO

Considere duas cargas, uma carga Q em uma posição fixa, e uma carga de teste Qt. Movendo-se a
r
carga de teste Qt lentamente em torno da carga fixa Q, ela sofrerá a ação de uma força F . Como
essa força sempre será ao longo da linha que une as duas cargas, ela será sempre radial,
considerando a posição da carga Q como origem. Além do mais, essa força aumentará de
intensidade se aproximarmos a carga de teste da carga Q, e diminuirá se a afastarmos

A partir dessas considerações pode-se perceber a existência de um campo de força em torno da


carga Q, que pode ser visualizado pela figura 1.2:

r
F
Qt
Q
Fig. 1.2 - Campo de força
produzido por uma carga
pontual Q positiva.

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4 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

Expressando a força sobre Qt pela lei de Coulomb:

r 1 Q.Q t
F= .â r ( N) (1.4)
4 πε 0 R 2t

Dividindo a equação (1.4) por Qt :


r
F 1 Q
= .â r ( N / C) (1.5)
Q t 4 πε 0 R 2t

Percebe-se facilmente que a quantidade à direita na equação acima é função apenas de Q, e está
dirigida ao longo do segmento de reta que vai de Q até à posição da carga de teste. Definindo a
r r
relação F Q t como sendo E , vetor intensidade de campo elétrico, e dispensando o uso de
índices, pode-se escrever:

r 1 Q
E= . a$ r ( N / C) (1.6)
4 πε 0 R 2

A menor carga elétrica conhecida é o elétron, com 1,6. 10-19 C. Portanto, é fácil concluir que um
campo elétrico não pode ser medido com precisão absoluta, pois a carga de teste sempre afetaria o
campo da carga em estudo. Em escala atômica isso poderia representar algum problema, mas na
totalidade dos casos que serão aqui estudados isso não representará nenhum problema.

Exemplo 1.3
Uma carga Q = -10-8 C está situada na origem de um sistema de coordenadas retangulares.
Escreva uma expressão para o campo elétrico em função das coordenadas x, y e z, considerando-se
que a carga Q estaria na origem desse sistema de coordenadas. Qual é o valor do campo elétrico no
ponto P(1,1,2) m ?

Solução

r 1 Q r − 10−8 x. a$ x + y. a$ y + z. a$ z
E= . a$ r ( N / C) E= ( N / C)
4 πε 0 R 2 4 πε 0 3

r
(
x2 + y2 + z2 2 )
R = x. a$ x + y. a$ y + z. a$ z
Para o ponto (1,1,2):
r
R = x2 + y2 + z2 r − 104
E = (a$ x + a$ y + 2. a$ z ) ( N / C)
r 4 π × 8,85 × 6 6
R
$a r = r
R E = 6,12(aˆ x + aˆ y + 2.aˆ z ) ( N / C )

r 1 Q x. a$ x + y. a$ y + z. a$ z O campo elétrico produzido por uma carga


E= ( N / C) puntiforme é sempre orientado radialmente à
4 πε 0 x2 + y2 + z2 x2 + y2 + z2 carga que o gera. Portanto, a solução deste
exemplo pode ser grandemente simplificada
se, ao invés de se utilizar um sistema de
coordenadas cartesianas, utilizar-se um

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 5

sistema de coordenadas esféricas. A


expressão vetorial para o campo elétrico será:
R = 12 + 12 + 22 = 6
r 1 Q
E= . a$ r ( N / C) portanto:
4 πε 0 R 2
r − 104
E = a$ r ( N / C)
O vetor unitário âr será simplesmente o vetor 4 π × 8,85 × 6
unitário na direção do raio R. Para o ponto
(1,1,2), o módulo de R é:

O exemplo que acabamos de resolver mostra que muitas vezes, ao tentarmos resolver um problema
de uma maneira que julgamos ser a "mais fácil" (no caso, o uso de um sistema de coordenadas mais
"conhecido"), estamos fazendo-o da maneira mais complicada. A exploração de simetrias, e o uso de
sistemas de coordenadas adequados à cada caso são fortemente incentivados em
eletromagnetismo.

Exemplo 1.4
Uma carga Q1 = 4x10-9 C está localizada no ponto P1(1,1,3) m. Uma outra carga Q2 = 2x10-9 C
localizada no ponto P2(1,1,5) m. Calcule o valor da intensidade de campo elétrico no ponto P(4,-1,2)
m.

Solução
Vetor que vai de P1 a P: 3.aˆ x −2aˆ y −3.aˆ z
3.aˆ x −2aˆ y − aˆ z aˆ r 2 =
22

Vetor unitário ar1: Campo elétrico em P:


3 .aˆ x − 2 aˆ y − aˆ z
a r1 = r 4 x10 −9 1 3. a$ x − 2 a$ y − a$ z
14 E= +
4 πε 0 14 14
Vetor que vai de P2 a P: 2 x10 − 9 1 3. a$ x − 2 a$ y − 3. a$ z
3.aˆ x −2aˆ y −3.aˆ z ( N / C)
4 πε 0 22 22

Vetor unitário ar2: r


E =9(0,171.aˆ x −0,191aˆ y − 0,134.aˆ z ) ( N / C )

A exemplo do que foi feito para se calcular forças em um sistema discreto de cargas, o campo
elétrico devido a uma distribuição de cargas puntiformes é calculado somando-se a contribuição de
cada carga individualmente, no ponto onde se deseja conhecer o valor do campo elétrico. Em
sistemas de cargas pontuais o sistema de coordenadas mais indicado é sempre o sistema de
coordenadas cartesianas.

1.3 - Distribuição Especial de Cargas

Além de cargas pontuais, podem existir outras configurações (distribuições) de carga, a saber:
distribuição linear de cargas, distribuição superficial de cargas e distribuição volumétrica de cargas.

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6 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

1.3.1 - Distribuição linear de cargas - Uma distribuição linear de cargas possui uma densidade
linear ρl C/m (fig. 1.3).

ρl C/m
Fig 1 .3 - Distribuição linear de cargas

Vamos agora analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear
infinita de cargas (sem ainda equacioná-lo). Vamos tomar duas cargas incrementais (ρldl), em uma
distribuição linear de cargas, como mostrado na figura 1.4.

dEz Fig. 1.4 - Arranjo para analisar


dE o comportamento do campo
r P
dEr elétrico produzido por uma
distribuição linear infinita de
dE
dEz cargas

O campo elétrico em um ponto P situado a uma distância r, perpendicular à linha infinita de cargas
provocado por cada carga incremental é dE, orientado na direção da linha que une o incremento de
carga ao ponto P. Cada um desses campos pode ser decomposto em duas componentes: uma
paralela à linha, dEz, e outra perpendicular a ela, dEr. Como as cargas incrementais são simétricas
em relação à linha, as componentes dEz vão se anular, e o campo elétrico resultante será a soma das
componentes dEr. Como se trata de uma linha infinita de cargas, para qualquer ponto z
(considerando um sistema de coordenadas cilíndricas), será sempre possível escolher conjuntos de
incrementos de cargas simétricos a ele, e o campo elétrico será sempre perpendicular à linha de
cargas. Adicionalmente movendo-se o ponto P em um círculo em torno da linha de cargas, o campo
elétrico se manterá com intensidade inalterada, e perpendicular à linha. Movendo-se o ponto P para
cima e para baixo, mantendo-se a distância r inalterada, a intensidade do campo elétrico não
apresentará alterações. Finalmente, se a distância r variar, o campo elétrico deverá variar também.
Resumindo, o campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas:

• Possui simetria cilíndrica, e deve ser equacionado utilizando-se um sistema de coordenadas


cilíndricas.
• Só varia com a componente radial.

Como exemplo de distribuição de uma linha de cargas, podemos citar os elétrons em um condutor
elétrico, que para efeitos de campo elétrico podem ser considerados como estáticos. A expressão
para a intensidade de campo elétrico produzido por uma linha de cargas será obtida no próximo
capítulo, que trata da lei de Gauss.

1.3.2 - Distribuição superficial infinita de cargas - Uma distribuição superficial de cargas possui
uma densidade superficial ρs C/m2 (fig. 1.5).

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 7

ρs

Fig 1.5 - Distribuição superficial de cargas

Para analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição superficial infinita
de cargas, vamos utilizar o arranjo mostrado na figura 1.6. Vamos considerar duas tiras infinitas de,
de espessura dx, simetricamente escolhidas em relação a uma linha de referência (linha pontilhada).

dEz

dE
r

z dEx
x

Fig. 1.6 - Campo elétrico produzido por um elemento de cargas em uma distribuição superficial

Uma “fita” de carga pode ser considerada com sendo uma distribuição linear de cargas. Portanto, o
campo elétrico produzido por ela terá o mesmo comportamento do campo elétrico produzido por uma
distribuição linear de cargas. Assim, o campo elétrico dE, em um ponto qualquer z m acima da linha
pontilhada, produzido por uma das fitas será orientado radialmente em relação à fita. Esse campo
pode ser decomposto em duas componentes: dEx, paralelo à superfície de cargas, e dEz,
perpendicular À mesma. Como as duas fitas estão simetricamente colocadas em relação ao ponto P,
as componentes dEx deverão se anular, e o campo resultante será a soma das componentes dEz.
Assim, podemos por enquanto concluir que o campo elétrico produzido por uma distribuição infinita
de cargas será orientado perpendicularmente a este campo. Embora distribuições superficiais
infinitas de cargas não existam de fato, podemos considerar como um exemplo prático o caso de um
capacitor de placas paralelas.

Embora as expressões para o campo elétrico produzido por distribuições linear e superficial de
cargas possam ser obtidas por integração direta, partindo de raciocínios como os mostrados acima,
não o faremos aqui, por existir um modo mais simples e fácil, através da lei de Gauss, que será vista
no próximo capítulo.

Distribuições volumétricas de cargas são bastante complicadas de serem analisadas, e praticamente


inexistem. Portanto, não serão aqui analisadas.

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8 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

EXERCÍCIOS

1) -Três cargas pontuais, Q1 = 300µC, e ,Q2 = 400 µC e Q3 = 500 µC acham-se localizadas em


(6,0,0) m , (0,0,6) m e (0,6,0) m respectivamernte. Encontre a força que age sobre Q2,.

2) - A lei da gravidade de Newton pode ser escrita F = Gm1m2 / R 2 , onde m1 e m2 são massas,
pontuais, separadas por uma distância R e G é a constante gravitacional; 6,664´10-11 m3/kg.s2.
Duas partículas, cada uma tendo uma massa de 15 mg estão separadas de 1,5 cm. Quantos
elétrons são necessários adicionar a cada partícula de modo a equilibrar a força gravitacional ?

3) - Há quatro cargas pontuais iguais, de 20 µC, localizadas sobre os eixos x e y, em ± 3 m. Calcule


a força que age sobre uma carga de 120 µC, localizada em (0,0,4) m.

4)- Duas pequenas esferas plásticas estão arranjadas ao longo de uma fibra isolante que forma um
ângulo de 45º, com a horizontal. Se cada esfera contiver uma carga de 2×10-8 C, e tiver uma
massa de 0,2 g, determine a condição de equilíbrio para as duas esferas sobre a rampa, bem
como a posição relativa entre elas.

5) - Prove que a força de repulsão entre duas cargas pontuais e positivas separadas por uma
distância fixa é máxima quando as suas cargas possuem mesmo valor.

6) - Duas cargas pontuais idênticas de Q C estão separadas por uma distância d m. Calcule o campo
r
elétrico E para pontos pertencentes ao segmento que une as duas cargas.

7) - Imagine que a terra e a lua possam receber cargas elétricas, de modo a equilibrar a força de
atração gravitacional entre elas. (a) Encontre a carga requerida para a terra, se as cargas estão
numa razão direta entre as superfícies da terra e da lua. (b) Qual é o valor de E na superfície da
lua, devido às suas cargas? Note que, uma vez que as forças de origem gravitacional e
eletrostática estão relacionadas com o inverso do quadrado da distância, não é necessário
conhecer a distância terra-lua para resolver este problema.

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 9

2
2.1 - A LEI DE GAUSS
FLUXO ELÉTRICO E LEI DE GAUSS

Na verdade, esta lei é regida por princípios muito simples e de fácil entendimento. O conceito geral
de fluxo como sendo o escoamento de um campo vetorial que atravessa uma secção qualquer, pode
ser estendido para explicar o campo elétrico.

Conceito O fluxo elétrico que atravessa qualquer superfície fechada é igual à carga total
envolvida por essa superfície (Lei de Gauss)

Na verdade o trabalho de Gauss consistiu na formulação matemática do enunciado acima, que já era
conhecido então.

Imagine uma distribuição de cargas, envolvida por uma superfície fechada S (figura 2.1).

D
Q θ Fig. 2.1 - Distribuição de cargas e
∆S Superfície Gaussiana.

r
Vamos agora tomar um incremento de superfície ∆S . Como esse elemento incremental de área é
muito pequeno, ele pode ser considerado como sendo plano. Contudo, ele terá uma orientação no
espaço, que será dada pelo vetor perpendicular ao plano que tangencia a superfície S neste ponto
r r r
(centro de ∆S ). Portanto, ∆S é uma grandeza vetorial. A densidade de fluxo que atravessará ∆S é
r r
D s e, genericamente, fará um ângulo θ com ∆S .
r
O fluxo que atravessa ∆S será, então:
r r
∆φ = D s . ∆S = D s∆S cosθ (C) (2.1)

r r
∆φ é uma grandeza (escalar), resultante do produto escalar entre os vetores D s e ∆S .

O fluxo total que atravessa a superfície fechada S será, então.


r r
∫ ∫
φ = dφ = Ds . dS (C) (2.2)
s

A integral resultante é uma integral de superfície fechada (daí o símbolo ∫S ) e, portanto, uma
integral dupla. Esta superfície é freqüentemente chamada de Superfície Gaussiana.

A Lei de Gauss é então matematicamente formulada como:


r r
∫ D .dS = Q ( C) (2.3)
s
s

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10 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

A carga envolvida pode ser de qualquer tipo: cargas pontuais discretas, linhas de cargas, distribuição
superficial de cargas ou uma distribuição volumétrica de cargas. Como essa última engloba todos os
outros tipos, a Lei de Gauss pode ser generalizada em termos de uma distribuição volumétrica de
cargas:
r r
∫ D .dS = ∫ ρ dv ( C) (2.4)
s v
s v

Exemplo 2.1
Calcular o fluxo que atravessa a superfície de uma esfera de raio a metros, produzido por uma carga
elétrica Q Coulombs, colocada no centro dessa esfera.

Solução

Sabemos que na superfície de uma esfera de


⎛ Q


(
. a ⎟ . a 2 sen θdφdθ. a r =
⎝ 4 πa 2 r ⎠
Q

)
sen θdφdθ
raio a, a densidade de fluxo elétrico é:

r Q Os limites de integração foram escolhidos de


Ds = 2
. a$ r (C / m2 ) modo que a integração fosse realizada sobre
4 πa a superfície uma única vez.

O elemento diferencial de área, conforme Fig. A integral de superfície será:


2.2., em coordenadas esféricas é:
π 2π Q
dS = r 2 sen θdφdθ = a 2 sen θdφdθ ∫∫
0 0 4π
sen θdθdφ

Integrando primeiro em relação a φ e em


seguida em relação a θ
π
π Q Q
∫ 0 2
sen θdθ = (− cos θ) = Q (C)
2 0

Ficando, pois comprovado:


r r
∫ D .dS = Q
s
s ( C)

Fig. 2.2 - Elemento diferencial de área


r r
O produto Ds . ∆S é:

Exemplo 2.2
Calcular o fluxo elétrico total que atravessa a superfície esférica, centrada na origem, com raio r =
10 m, sendo que a distribuição de carga é composta por uma linha de cargas ao longo do eixo z,
definida por ρl = 2e2|z| C/m na região -2 ≤ z ≤ 2 m e ρl = 0 no restante.

Solução

Existem duas maneiras de se resolver este de cargas ao longo de z, de -2 a 2 m. A lei de


problema: Gauss garante que os resultados serão os
mesmos, para qualquer dos dois casos.
Aqueles que adoram resolver integrais
complicadas podem encontrar uma expressão Então:
para o campo elétrico em um ponto qualquer 2

2z
da superfície de raio r, e integrá-la em toda a Q= 2e dz (C)
−2
superfície.
Como a função módulo não é contínua, vamos
Aqueles um pouco mais espertos podem dividir a integral acima em duas integrais:
simplesmente integrar a função de distribuição

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 10

0 2
0 2 Q = − e−2 z + e2 z
∫ 2e ∫
−2z
Q= dz + 2e2 zdz (C) −2 0
−2 0

Q = − 1 + e4 + e4 − 1 = 107,19 (C) = φ

Exemplo 2.3
Considere uma linha infinita de cargas. Utilizando a Lei de Gauss encontre a expressão para o
campo elétrico.

Solução:

De discussões anteriores sobre o campo Portanto :


elétrico de uma linha de cargas, sabemos que
r
o campo elétrico é radial e só varia com o raio D = D r . a$ r ( C / m2 )
r.
∆S
A superfície gaussiana é um cilindro de raio r
D e comprimento L.

Aplicando a Lei de Gauss:

∆S r r
L Q= ∫ D.dS = D∫ dS + 0∫ dS + 0∫ dS
lado topo base
D
L
Q =D ∫ rdφdz = D2πL
0
r
Q ρ
∆S D D= = l ( C / m2 )
2 πrL 2 πr

Fig. 2.3 - Superfície gaussiana em r


r D ρl
torno de uma linha de cargas E= . a$ r = . a$ r ( N / C)
ε0 2 πε 0 r

Exemplo 2.4
Encontrar a expressão para o campo elétrico produzido por uma distribuição superficial infinita de
cargas.
Solução:

∆S. A metade dela estará acima da superfície,


r r e a outra metade abaixo.
D ∆S Aplicando a Lei de Gauss:
r r
r r
Q= ∫ D. dS = 0∫ dS + D∫ dS + D∫ dS
lado topo base
D ∆S
ρ s∆S = D∆S + D∆S
Fig. 2.4 - Superfície gaussiana para uma
distribuição superficial de cargas. ρs
D=
Da discussão do capítulo anterior, o campo 2
elétrico produzido por uma distribuição
superficial de cargas terá a direção da normal r ρ r ρ
à superfície, no ponto onde se deseja calcular D = S â n ; E = S â n
2 2ε 0
o campo elétrico.
A superfície gaussiana utilizada será um
pequeno cilindro, de altura h e área de base

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11 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

Por este exemplo chegamos à conclusão (em princípio absurda) de que o campo elétrico provocado
por uma distribuição superficial de cargas não depende da distância do ponto à superfície. Não se
esqueça de que este raciocínio foi feito para uma distribuição infinita de cargas, que não existe na
prática. Uma distribuição superficial finita de cargas pode ser considerada como infinita se a distância
do ponto de interesse à distribuição superficial de cargas for muito pequena, comparada com as
dimensões da mesma. Para pontos mais distantes, a distribuição não pode ser considerada infinita, e
a expressão acima não é mais válida.

Exemplo 2.5
Dois condutores cilíndricos coaxiais, para efeitos práticos são considerados como sendo infinitos. O
interno é maciço, de raio a m. O externo possui raio interno b m e raio externo c m. Uma carga de
densidade ρs C/m2 é colocada na superfície do condutor interno. Avaliar o campo elétrico a partir do
centro dos cilindros até o exterior onde r > c.

Solução

Q = 2πaLρs
S
S ρl = 2 πaρs
S
E ρl
S D= ( C / m2 )
a
2 πr
b
c r
r D ρl
E= = . a$ r ( N / C)
ε 0 2 πε 0 r

Fig. 2.5 - Superfícies Gaussianas em um que é semelhante a expressão para uma linha
cabo coaxial de cargas.

Quatro superfícies gaussianas cilíndricas de A terceira superfície gaussiana é um cilindro


comprimento L são traçadas. com raio r, tal que r > b e r < c. A carga interna
A primeira delas possui um raio r < a. ρs induz uma carga de igual magnitude na
Portanto: superfície interna do condutor externo, e a
r r

carga envolvida pela superfície gaussiana é
Q = D. dS = 0
nula.
r
E = 0 no interior do cilindro interno.
Portanto:
A segunda superfície gaussiana possui um r r
raio a < r < b.
r r ∫ D.dS = 0

D. dS = ρsdS ∫s
ou seja, o campo elétrico é nulo no interior do
A primeira integral é calculada sobre a cilindro externo.
superfície gaussiana, e a segunda sobre a
superfície do condutor interno. Portanto: A quarta superfície gaussiana é um cilindro de
raio r > c. A carga negativa induzida na
L 2π L 2π
superfície interna do condutor externo por sua
D ∫∫
0 0
rdφdz = ρs ∫ ∫ adφdz
0 0
vez induz uma carga positiva de mesma
magnitude na superfície externa do condutor
externo. Portanto:
D2 πrL = ρs 2 πaL
r r
D =ρs
a
r
( C / m2 ) ∫ D.dS = Q
r r
Se a carga for expressa em unidade de
comprimento:
∫ D.dS = ∫ ρ s3dS

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 12

D2 πrL = ρs3 2 πcL a ρ


D ext = ρs1 = l (C / m2 )
r r 2 πr
c r D ρl
D = ρs3 ( C / m2 ) E ext = ext = . a$ r ( N / C)
r ε0 2 πε 0 r

Como as cargas induzidas são iguais: Esta é a mesma expressão para o campo
produzido pelo condutor interno. Em outras
ρs1 2 πaL = ρs2 2 πbL palavras, o condutor externo não afeta o
campo elétrico produzido pela distribuição de
ρs3 2 πcL = ρs2 2 πbL cargas do condutor interno.

ρs3c = ρs2 b = ρs1a Graficamente:

E
(N/C)

a b c r (m)
Fig. 2.6 - Comportamento do campo elétrico em função de r.

Pelos exemplos que acabamos de resolver, podemos concluir que somente o conhecimento da
simetria do problema nos permite escolher superfícies gaussianas adequadas. O não conhecimento
dessa simetria torna a solução do problema pela Lei de Gauss extremamente complicada.

Problemas que não possuem simetria conhecida são resolvidos de uma forma um pouco diferente,
como será visto no próximo capítulo.

EXERCÍCIOS

1)- O eixo z de um sistema coordenado contém uma distribuição uniforme de cargas, com densidade
r
ρl = 50 nC/m. Calcule o campo Elétrico E em (10,10,25) m, expressando-o em coordenadas
cartesianas e cilíndricas.

2)- Existem duas configurações lineares de carga, com densidades iguais, ρl = 6 nC/m, paralelas ao
r
eixo z, localizadas em x = 0 m , y = ±6 m. Determine o campo elétrico E em (-4,0,z) m.

3) - O plano 3x + y - 6z = 6 m contém uma distribuição uniforme de cargas com densidade ρs = 0,6


r
C/m2. Calcule o campo elétrico E relativo ao semi-espaço que contém a origem.

4) - Uma película infinita com densidade uniforme ρs = (10-9/6π) C/m2 está localizada em z = -5 m.
Outra película com densidade ρs = (-10-9/6π) C/m2 está localizada em z = 5 m . Calcule a
r
densidade linear uniforme, ρl , necessária para produzir o mesmo valor de E em (5,3,3) m,
supondo que esta última se localize em z = 0, y = 3.

5) - Uma certa configuração engloba as seguintes duas distribuições uniformes. Uma película com
ρs = -60 nC/m2, uniforme, em y = 3 m, e uma reta uniformemente carregada com ρl = 0,5 µC/m,
r
situada em z = -3 m, y = 2 m. Aonde o campo E será nulo ?

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13 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I

6) - Um anel circular eletricamente carregado, com raio 4 m, está no plano z = 0, com centro
localizado na origem. Se a sua densidade uniforme for ρl = 16 nC/m, calcular o valor de uma
carga pontual Q , localizada na origem, capaz de produzir o mesmo campo elétrico em (0,0,5) m.

7) - Calcule a carga contida no volume definido por 2 ≤ r ≤ 3 m, 0 ≤ φ ≤ π/3, 0 ≤ z ≤ 4 m, dada a


densidade de cargas ρ = 3zsen2φ C/m3.

8) - Uma superfície fechada S envolve uma distribuição linear finita de cargas definida por 0 ≤ L ≤ π
m, com densidade de cargas ρl = -ρ0sen(L/2) C/m. Qual é o fluxo total que atravessa a superfície
S?

9) - Na origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q C. Sobre uma
casca esférica de raio a uma carga (Q'- Q) C está uniformemente distribuída. Qual é o fluxo
elétrico que atravessa a superfície esférica de raio k m, para k < a e k > a ?

10) - Uma área de 40,2 m2 sobre a superfície de uma carga esférica de raio 4 m é atravessada por
um fluxo de 15 µC de dentro para fora. Quanto vale a carga pontual localizada na origem do
sistema relacionado a tal configuração esférica ?

11) - Uma carga pontual Q = 6 nC está localizada na origem de um sistema de coordenadas


cartesianas. Quanto vale o fluxo Ψ que atravessa a porção do plano z = 6 m limitada por -6 ≤ y ≤
6 m; -6 ≤ x ≤ 6 m ?
−r
r z
12) - Dado que D = 30e b a r − 2 a z (C / m2 ) em coordenadas cilíndricas, calcule o fluxo total que sai
b
da superfície de um cilindro circular reto descrito por r = 2b m, z = 0, z = 5b m.

13) - Sobre a origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q = 1500
pC. Uma distribuição esférica concentrica de cargas de raio r = 2 m tem uma densidade ρs = 50π
pC/m2. Quanto deve valer a densidade de cargas de uma outra superfície esférica, r = 3 m,
concêntrica com o sistema, para resultar D = 0 em r > 3 m .

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 14

DIVERGÊNCIA DO FLUXO

3 ELÉTRICO E TEOREMA DA
DIVERGÊNCIA

3.1 - A LEI DE GAUSS APLICADA A UM ELEMENTO DIFERENCIAL DE VOLUME

Vimos que a Lei de Gauss permite estudar o comportamento do campo elétrico devido a certas
distribuições especiais de carga. Entretanto, para ser utilizada, a Lei de Gauss exige que a
simetria do problema seja conhecida, de forma a resultar que a componente normal do vetor
densidade de fluxo elétrico em qualquer ponto da superfície gaussiana seja ou constante ou nula.

Neste capítulo pretendemos considerar a aplicação da Lei de Gauss a problemas que não possuem
nenhum tipo de simetria. Suponhamos um volume incremental ∆v extremamente pequeno, porém finito.
Se assumirmos uma densidade de carga uniforme neste incremento de volume, a carga ∆Q será o
produto da densidade de carga ρ pelo volume ∆v. Pela Lei de Gauss, podemos escrever:

r r
∫ D.dS = ∆Q= ρ∆V (3.1)

Dz + (∂Dz/∂z)∆z
z

Dx

P ∆z
Dy
Dy + (∂Dy/∂y)∆y
∆x
∆y
Dx + (∂Dx/∂x)∆x y
x Dz

Fig. 3.1 - Volume incremental em torno do ponto P.

Vamos agora desenvolver a integral de superfície da equação acima, sobre uma superfície gaussiana
elementar que engloba o volume ∆v. Este volume está representado na figura 3.1, e é formado pelas
superfícies incrementais ∆x.∆y, ∆y.∆z, e ∆z.∆x.

Considere um ponto P(x,y,z) envolvido pela superfície gaussiana formada pelas superfícies incrementais
r
. A expressão para D no ponto P‚ em coordenadas cartesianas é:
r
D = D x 0 .a$ x + D y 0 .a$ y + D z0 . a$ z (3.2)

A integral sobre a superfície fechada é dividida em seis integrais, uma sobre cada lado do volume ∆v.

r r
∫ D.dS= ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫
+ + + + + (3.3)
frente atrás esq. dir. topo base

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 15

Para a primeira delas:

r r r )
∫ ≅ D frente.∆S frente = Dfrente .∆y.∆z.a x = Dx (frente) .∆y.∆ z (3.4)
frente

r
(Dx é a componente de D normal ao plano yz).

Aproximando o resultado Dx(frente).∆y.∆z pelos dois primeiros termos da expansão em série de Taylor:
1 ∂
D x( frente) ∆y∆ z = Dx 0 ∆y∆z + . (Dx ∆y∆z )∆x
(4.5)
2 ∂x

Portanto:
 ∆x ∂D x  (3.6)
∫ frente
=  D x0 +

.
2 ∂x 
 . ∆y. ∆z

Consideremos agora a integral ∫ atrás


:
r r v ) 1 ∂
∫ = D x ( atrás ) .∆ S = D x ( atrás ) ∆ y∆ z ( − a x ) = − D x 0 ∆ y ∆ z + . (D x ∆y ∆ z )∆ x
atrás 2 ∂x

r r  ∆ x ∂D 
∫ atrás
= D x( atrás ) .∆S≅  − Dx 0 + . x ∆y∆z
 2 ∂x  (3.8)

(porque o vetor unitário âx em ∆s tem agora direção negativa).

Combinando as duas integrais:

∂D x (3.9)
∫ frente
+ ∫ atrás

∂x
. ∆x. ∆y. ∆z

Utilizando o mesmo raciocínio para as outras integrais:

∂Dy (3.10)
∫ dir .
+ ∫esq.

∂y
. ∆x. ∆ y. ∆z

∂D z (3.11)

topo
+
∫ base

∂z
. ∆x. ∆y. ∆z

Assim:

r r  ∂D ∂Dy ∂Dz  (3.12)


∫ D. dS ≅  x +
 ∂x ∂y
+  . ∆v
∂z 

A expressão acima diz que o fluxo elétrico que atravessa uma superfície fechada muito pequena é igual
ao produto entre o volume compreendido por essa superfície e a soma das derivadas parciais das
r
componentes do vetor D em relação às suas próprias direções.

Igualando-se as equações 3.1 e 3.12, e em seguida dividindo todos os termos por ∆v, tem-se:

r r
∫ D.dS = ∂D (3.13)
∂ Dy ∂D z ∆Q
+x
+ = =ρ
∆V ∂x ∂y ∂z ∆V

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 16

Passando ao limite, com ∆v tendendo a zero:


r r

(3.14)
lim D. dS ∂D x ∂D y ∂D z
= + + =ρ
∆v → 0 ∆v ∂x ∂y ∂z

3.2 - DIVERGÊNCIA

A operação indicada pelo primeiro membro da equação 3.14 não é pertinente apenas ao fenômeno ora
em estudo. Surge tantas vezes no estudo de outras grandezas físicas descritas por campos vetoriais,
que cientistas e matemáticos do século passado resolveram batizá-la com um nome especial:
Divergência.

Matematicamente:

r r
r
divA =
lim ∫ A. dS
(3.15)
∆v → 0 ∆v

r
Conceito A divergência do vetor densidade de fluxo A (que representa um fenômeno físico
qualquer) é a variação do fluxo através da superfície fechada de um pequeno volume que
tende a zero

A divergência é uma operação matemática sobre um vetor, definida como sendo a soma das derivadas
parciais das componentes do vetor, cada uma em relação à sua própria direção. Apesar de ser uma
operação sobre um vetor, o resultado é um escalar.

A partir da definição da divergência e da equação 3.14, podemos definir a 1ª equação de Maxwell:


r
div. D = ρ (3.16)

A equação 3.16 estabelece que o fluxo elétrico por unidade de volume deixando um volume infinitesimal
é igual à densidade volumétrica de carga neste ponto. Esta equação também é conhecida como a
forma diferencial da Lei de Gauss, por que é expressa como sendo a soma de derivadas parciais.

3.3 - O OPERADOR ∇ (nabla) E O TEOREMA DA DIVERGÊNCIA

O operador ∇ é definido como sendo o operador vetorial diferencial:

∂ ∂ ∂ (3.17)
∇ = . a$ x + . a$ y + . a$ z
∂x ∂y ∂z
r
Realizando o produto escalar ∇. D , tem-se:
r  ∂ ∂ ∂ 
∇. D =  . a$ x +
 ∂x ∂y ∂z 
(
. a$ y + . a$ z  . D x. a$ x + Dy. a$ y + Dz . a$ z ) (3.18)

Lembrando que o produto escalar entre vetores unitários ortogonais é nulo, o resultado será:

r ∂Dx ∂Dy ∂Dz


∇. D = + + (3.19)
∂x ∂y ∂z

ou ainda por (3.14):


r
∇. D = ρ (3.20)

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 17

O operador ∇ não é utilizado somente em operações de divergência, mas também em outras operações
r
vetoriais. Ele é definido somente em coordenadas cartesianas. A princípio, a expressão ∇. D serviria
r
apenas para se calcular as derivadas parciais do divergente do vetor D em coordenadas
r
cartesianas. Entretanto, a expressão ∇. D como sendo a divergência do vetor densidade de fluxo
elétrico é consagrada, e pode ser utilizada mesmo quando o vetor é definido em outros sistemas de
referência. Por exemplo, em coordenadas cilíndricas:

r 1 ∂ (rD ) 1 ∂ Dφ ∂D
∇.D= r
+ + z
(3.21)
r ∂r r ∂φ ∂z

e em coordenadas esféricas:

r 1 ∂ 2
∇.D= 2
r ∂r
(
r Dr +
r
)1
sen θ

∂θ
(D θ sen θ ) + 1
r sen θ
∂D φ
∂φ (3.22)

Entretanto, deve-se lembrar, porém, que ∇ não possui uma forma especifica para estes tipos de
sistemas de coordenadas.

Finalmente, vamos associar a divergência à Lei de Gauss, para obter o teorema da divergência.
Lembrando que:

r r
∫ D. dS = ∫ vol
ρ. dv

e
r
∇. D = ρ

podendo escrever:

r r r
∫ ∫ ( ∇. D)dv
D. dS = (3.23)
vol

A equação 3.23 é o Teorema da Divergência (ou teorema de Gauss, para diferenciar da Lei de
Gauss) e estabelece que a integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma
superfície fechada é igual à integral da divergência deste campo através do volume envolvido por essa
superfície fechada.

Uma maneira simples de se entender fisicamente o teorema da divergência é através da figura 3.2. Um
volume v, limitado por uma superfície fechada S é subdividido em pequenos volumes incrementais,
ou células. O fluxo que diverge de cada célula converge para as células vizinhas, a não ser que a
célula possua um de seus lados sobre a superfície S. Então a soma da divergência da densidade de
fluxo de todas as células será igual à soma do fluxo liquido sobre a superfície fechada.

Fig. 3.2 - Volume v subdividido em


volumes incrementais

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 18

Exemplo 3.1
Calcular os dois lados do teorema da divergência, para uma densidade de fluxo elétrico
r
D = xy .a$ x + yx . a$ y , em um cubo de arestas igual a 2 unidades.
2 2

Solução

r r
∫ D. dS =
Vamos colocar a origem do sistema de 64
coordenadas cartesianas em um dos vértices. 3
r
O vetor D possui componentes nas direções x Para o outro lado:
e y. Portanto, a princípio, a integral de
superfície deve ser calculada sobre 4 lados r ∂D x ∂Dy ∂Dz
do cubo: ∇. D = + +
∂x ∂y ∂z
r r
∫ D. dS = ∫ ∫ ∫ ∫
+ + + r
frente atrás esq . dir ∇. D = x2 + y2

∫ ( ∇. D) dv = ∫ ∫ ∫ (x )
2 2 r 2 2 2

∫ ∫∫
32
= 2. y2 . a$ xdy. dz. a$ x =
2
+ y2 dx. dy. dz
frente 0 0 3 vol 0 0 0

∫ (∇. D)dv = 2∫ ∫ (x )
2 2 r 2 2

∫ = ∫∫ 0. y2 . a$ x. dy. dz. ( − a$ x ) = 0 + y2 dy. dx


2
atrás 0 0 vol 0 0

2 2  2 2 
∫esq.
=
∫∫
0 0
0. x 2 . a$ y . dx. dz. ( − a$ y ) = 0 v = 4
 ∫ 0
x2dx + ∫ 0
y2dy

r
∫ ( ∇. D) dv = 3
2 2
∫ ∫∫
32 64
= 2. x2 . a$ y. dx. dz. a$ y =
dir . 0 0 3 vol

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 19

EXERCÍCIOS
r r
1) - Dado A = ( 3x 2 + y ). a$ x + ( x − y 2 ). a$ y calcule ∇. A .

2) -Obtenha a divergência em coordenadas esféricas. Use um volume infinitesimal com arestas ∆r, r∆θ e
rsenθ∆φ.

3) - Dipolo Elétrico, ou simplesmente dipolo, é o nome dado ao conjunto de duas cargas pontuais de
igual magnitude e sinais opostos, separadas por um distância pequena se comparada com a
distância ao ponto P onde se deseja conhecer o campo elétrico. O ponto P é descrito em
coordenadas esféricas (figura 1), por r, θ e φ = 90 graus, em vista da simetria azimutal. As cargas
positivas e negativas estão separadas por d m, e localizadas em (0,0,d/2) m e (0,0,-d/2) m. O campo
r Qd
no ponto P é E = ( 2 cos θ. a$ r + sen θ. a$ θ ) . Mostre que a divergência deste campo é nula.
4πε 0 r 3

r
4) - Para a região 0 < r ≤ 2 m (coordenadas cilíndricas), D = ( 4r −1 + 2e −0,5r + 4r −1e−0,5r ) a$ r , e para r >
r
2m, D = ( 2,057 r −1). a$ r . Pede-se obter a densidade de cargas ρ para ambas as regiões.

r 3
5) - Dado D = (10 r 4 ). a$ r em coordenadas cilíndricas, calcule cada um dos lados do teorema da
divergência, para o volume limitado por r = 3 m, z = 2 m e z = 12 m.
r
6) - Dado D =10 sen ?.â r + 2 cos ? .â ? , pede-se calcular ambos os lados do teorema da divergência, para o
volume limitado pela casca r = 3 m.
r
7) - Uma linha uniforme de cargas de densidade ρ l pertence ao eixo z. (a) Mostre que ∇. D = 0 em
qualquer lugar, exceto na linha de cargas. (b) substitua a linha de cargas por uma densidade
volumétrica de cargas ρ 0 em 0 ≤ r ≤ r0 m. Relacione ρ l com ρ 0 modo que a carga por unidade de
r
comprimento seja a mesma. Determine então ∇. D em toda parte.

R1

θ r
R2
Q

d x
-Q

figura 1 - figura do problema 3

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 20

4 TRABALHO E POTENCIAL
ELETROSTÁTICO

Nos capítulos anteriores investigamos o campo elétrico devido a diversas configurações de cargas
(pontuais, distribuição linear, superfície de cargas e distribuição volumétrica de cargas), a partir da
Lei de Coulomb e da Lei de Gauss. No primeiro caso, as expressões para o vetor intensidade
campo elétrico eram obtidas à custa de integrações que, conforme a complexidade do problema, se
tornavam bastante complicadas. A Lei de Gauss é mais simples de ser utilizada, porém requer que a
simetria do problema seja bastante conhecida. Nos casos em que isso não acontecia, a solução pela
Lei de Coulomb ainda seria a mais recomendável.

Vamos agora procurar uma terceira maneira de se resolver problemas de eletrostática, dessa vez a
partir de uma função escalar, conhecida como potencial eletrostático, ou campo potencial.

4.1 - TRABALHO ENVOLVIDO NO MOVIMENTO DE UMA CARGA PONTUAL EM UM CAMPO


ELÉTRICO

Imagine um campo elétrico, provocado por uma configuração de cargas qualquer (pontual, linha de
cargas etc). Suponha agora que uma carga pontual Q seja colocada nesse campo elétrico. Sobre
essa carga pontual estará agindo uma força de origem eletrostática, dada por:
r r
Fe = QE (N) (4.1)

Se quisermos mover essa carga contra a ação do campo elétrico, temos de exercer uma força de
intensidade igual e direção oposta àquela exercida pelo campo elétrico, na direção do movimento.
Isso exige o dispêndio de energia, ou seja, a realização de um trabalho. Se o movimento é no sentido
do campo elétrico, o dispêndio de energia é negativo, ou seja, a fonte externa não realiza trabalho.
Este é realizado pelo campo elétrico.
r r
Suponhamos que queiramos mover a carga Q de uma distância dL no campo elétrico E , conforme a
figura 4.1. O gasto de energia será o produto escalar da força pela distância:
r r
dW =− QE.dL =− QEdL cos θ (4.2)

E
Fig. 4.1 - Carga Q em um campo elétrico E
F Fe
Q

Pela equação acima podemos perceber facilmente que se desejarmos mover a carga
perpendicularmente ao campo elétrico, o trabalho realizado será nulo.

O trabalho realizado para mover uma carga de uma distância finita é dado pela integral:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 21

final r r (4.3)
W = −Q ∫
inic.
E. dL (J)

Exemplo 4.1
r
Dado o campo elétrico E = 3x 2 . a$ x + 2 z. a$ y + 2 y. a$ z N/C, determine o trabalho realizado para se mover
uma carga de 20 µC ao longo de um percurso incremental 10-4 m de comprimento, na direção de
−0,6. a$ x + 0,48. a$ y − 0,64. a$ z localizado no ponto (2,-2, -5) m.

Solução
r
E =3.(2 2 ).â x + 2.(−5).â y + 2.(−2).â z dW = − 20.10 −6.(12.â x −10.â y −
4.â z ).10 − 4 (−0,6.â x +0.48.â y −0,64.â z )
r
E =12.â x −10.â y − 4.â z ( N / C)
dW = − 2 x10 −9.(−7,2 − 4,8 + 2,56) =18,88 nJ
v r
Para dW = −q E . dL vem:

4.2 - INTEGRAL DE LINHA

Na análise vetorial uma integral de linha é definida como sendo a integral ao longo de um caminho
r
determinado, do produto escalar de um campo vetorial por um vetor deslocamento diferencial dL .
Este é o caso da equação 4.3 da seção anterior acima.

Para entender melhor esse conceito, imagine que queiramos calcular o trabalho para mover uma
carga Q em um campo elétrico‚ do ponto B ao ponto A, conforme é representado na figura 4.2.

A
∆L4
EL4
∆L3 E
EL3
∆L2 E
EL2
E
∆L2
EL1
B E
Fig. 4.2 - Carga movendo-se de B até A.’
r
O caminho é dividido em um grande numero de segmentos ∆L' s . A componente do campo ao longo
de cada segmento é multiplicada pelo tamanho do segmento, e os resultados para todos os
segmentos são somados. Obviamente isso é um somatório. A integral é obtida quando o
comprimento de cada segmento tender a zero.

Matematicamente:

W = − Q( E L1. ∆L1 + E L2 . ∆L2 + ..... + E Ln . ∆Ln ) (4.4)

ou, em notação vetorial:


r r r r r r
W = − Q( E1. ∆L1 + E 2 . ∆L2 + ... + E n . ∆L n ) (4.5)

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 22

Se o campo for uniforme:


r r r
E 1 = E 2 = ... = E n (4.6)

r r r r
W = − Q. E( ∆L1 + + ∆L2 + ... + ∆Ln ) (4.7)

A soma dos segmentos vetoriais entre parêntesis corresponde ao vetor dirigido do ponto B ao
r
ponto A, LBA . Portanto:
r r
W = − QE. LBA (4.8)

Devemos notar que neste caso onde o campo elétrico é uniforme, o trabalho realizado para
movimentar a carga Q do ponto B ao ponto A independe do caminho tomado, dependendo de
r r
Q, E e L BA , o vetor que vai de B até A. Veremos mais tarde que isso é verdade para qualquer campo
elétrico estático, invariante no tempo.

Exemplo 4.2
Calcular o trabalho realizado para mover uma carga Q = - 10-5 C, imersa em um campo elétrico
r
E = − y. a y + 2 z. a z , ao longo do caminho definido pela reta y + z = 2 , e ao longo do caminho definido
pelas retas z = 0 me y = 0 m .

Solução

(0,0,2) Fig. 4.3 - Carga


movendo-se por dois
trajeto 1
caminhos
trajeto 2
y
(0,2,0)

Para o primeiro caminho temos: Para o segundo caminho:


r r
dW = − QE. dL dW1 = − Q(− yâ y .dyâ y ) = Qydy = − 10 −5 ydy

dW = − Q( − y. a$ y + 2 z. a$ z ).(dy. a$ y + dz. a$ z ) 2
y2
W1 = −10 −5 2 ydy =10 −5 = 2x10 −5 (J )
0

dW = − Q( ydy + 2 zdz) 2
0

y+z=2 ; y=2−z dW2 = − Q(2 z. a$ z . dz. a$ z ) = − Q2 zdz = 10 −5 2 zdz

d y = − dz 2
2 z2

−5 −5
W2 = 10 2 zdz = 2 x10 = 4 x10 −5
dW = − Q( − (2 − z)( − dz) + 2 zdz) = − Q(2 + z)dz 0 2
0

2 z2 W = W1 + W2 = 6x10 −5 (J )

2
W = 10− 5 (2 + z)dz = 10− 5 (2 z + ) = 6x10− 5 (J )
0 2 0

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23

Exemplo 4.3
Calcular o trabalho realizado para mover uma carga pontual positiva Q C, imersa no campo elétrico
de uma linha de carga de densidade ρl C/m do ponto r1 m ao ponto r2 m, conforme a figura abaixo.

Solução
ρl

dL = drar r2
r1

Fig. 4.4 - Carga imersa no campo de uma linha de cargas.

O campo elétrico devido à linha de cargas terá r r ρ


apenas a componente na direção radial. Em dW = − Q.E.dL = − Q. l .dr
2πε 0 r
coordenadas cilíndricas:
r Logo:
ρ
E = E r .â r = l .â r ( N / C) ρ r2

dr
2πε0 r W = −Q l
2 πε 0 r1 r
O diferencial do caminho em coordenadas
cilíndricas é: ρl r
r W = −Q ln 2 (J )
dL = dr. a$ r + rdφ. a$ φ + dz. a$ z 2 πε 0 r1

Como r2 é maior que r1, ln(r2/r1) é o trabalho


O trabalho diferencial será:
realizado é negativo, ou seja, a fonte externa
que move a carga recebe energia.

4.3 - DIFERENÇA DE POTENCIAL E POTENCIAL ELETROSTÁTICO

Se tomarmos a equação para o trabalho realizado para se mover uma carga Q em um campo
elétrico, e a dividirmos pelo valor da carga Q, Teremos uma nova grandeza que denominaremos de
diferença de potencial. Matematicamente:

inal r r

W
Diferença de Potencial = =− E. dL (4.9)
Q inic.

Em outras palavras, a diferença de potencial (ddp) pode ser definida como sendo o trabalho realizado
para se mover uma carga unitária de um ponto a outro em um campo elétrico. A sua unidade é Joule
por Coulomb, ou Volt (V). Se A é o ponto final e B o ponto inicial, a diferença de potencial VAB é:

A r r
VAB = − ∫
B
E. dL ( V) (4.10)

No exemplo da linha de carga da última seção, o trabalho para se deslocar a carga de r2 para r1 é:

ρl r
W = Q ln 2 (J ) (4.11)
2 πε 0 r1

A diferença de potencial entre r1 e r2 é:

W ρl r
V12 = = ln 2 ( V) (4.12)
Q 2 πε 0 r1

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 24

Exemplo 4.4
Calcular a diferença de potencial entre os pontos r1 e r2, r2 > r1, devido a uma carga pontual de Q
Coulombs positivos. Mostrar que ela independe das posições θ e φ.

Solução

r1 r r r1
∫ ∫
Q dr
V12 = − E.dL (V) V12 = −
r2 r2 4πε 0 r 2

r 1 Q r r1
E = . . a$ r ; dL = dr. a$ r
4 πε 0 r 2 r1 dr Q ⎛ 1⎞

Q
V12 = − = ⎜ ⎟
4 πε 0 r2 r 2 4 πε 0 ⎝ r ⎠
r2
r r Q dr
E. dL = .
4 πε 0 r 2
Q ⎛ 1 1⎞
V12 = ⎜ − ⎟ ( V)
4 πε 0 ⎝ r1 r2 ⎠

O potencial absoluto pode ser definido tomando um potencial de referência especificado que é
considerado como tendo potencial zero. Usualmente o esse potencial é tomado na superfície da terra
ou no infinito. No exemplo anterior, se um dos pontos (ponto r2, por exemplo) estiver no infinito, o
potencial absoluto no ponto r1 será:

1 Q
V1 = ( V) (4.13)
4 πε 0 r1

Se o potencial absoluto de A é VA, e o potencial absoluto de B é VB, a diferença de potencial VAB é:

VAB = VA − VB ( V) (4.14)

4.4 - O POTENCIAL DE UM SISTEMA DE CARGAS

Para duas cargas pontuais o potencial absoluto será:

1 ⎛ Q1 Q ⎞
V = ⎜ + 2⎟ ( V) (4.15)
4 πε 0 ⎝ R 1 R2 ⎠

e para n cargas:

∑R
1 Qi
V = ( V) (4.16)
4 πε 0 i =1 i

Substituindo cada carga por ρ∆v :

n
ρ∆v (4.17)

1
V= (V)
4πε 0 i =1
Ri

Fazendo n → ∝ :

ρdv (4.18)

1
V = ( V)
4 πε 0 vol R

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Para uma distribuição superficial de cargas:

ρ s dS

1
V = ( V) (4.19)
4 πε 0 s R

Para uma distribuição linear de cargas:

ρl dL

1
V= (V) (4.20)
4πε0 R
L

Exemplo 4.5
Calcular o potencial em um ponto no eixo de um anel de raio a m, com uma distribuição linear de
carga ρl C/m.

Solução

ρldL

1
V = ( V)
4 πε 0 R
ρl 2πa ρl .a
V= . = (V )
4πε0 a 2 + z 2 2ε a 2 + z 2
0
ρl .dL ρl
∫ ∫ dL
1
V= =
4πε0 a +z
2 2
4πε 0 a 2 + z 2

ρl

Fig. 4.4 - anel de cargas

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 26

Exemplo 4.6
Resolver o exemplo anterior, considerando um anel de raio interno a m, raio externo b m e densidade
superficial ρs C/m2.

Solução

ρs .dS

1
V= (V)
4πε0 ρs b

R rdr
S V =
2ε 0 a r + z2
2

dS = r. dφ. dr ; R = r 2 + z2
ρs b
V = r 2 + z2
ρ s . rdφ. dr 2ε 0 a

∫∫
1
V =
4 πε 0 r 2 + z2
ρs ⎡ 2
V= b + z2 − a 2 + z2 ⎤ ( V)
2ε 0 ⎢⎣ ⎥⎦
ρs 2π b
∫ ∫
rdr
V = dφ
4 πε 0 0 a r 2 + z2

ρs

Fig. 4.6 - Anel com distribuição superficial de cargas.

EXERCÍCIOS

1) - Calcule o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual Q = -20 mC no campo
r
E = 2( x + 4 y). a$ x + 8x. a$ y ( V / m) da origem ao ponto (6,4,1) m, ao longo do percurso x 2 =9 y .

2) - Calcule o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual Q = 5 mC de (5 m, p, 0) a (3


r
m, p/2. 3 m), coordenadas cilíndricas, no campo E = (10 5 r ). a$ r + 10 5 z. a$ z ( V / m) .

3) - Uma carga pontual de 0,6 nC está localizada no ponto (3,6,6) m. Calcule a diferença VAB, entre
os pontos A(3,3,6) m e B(-3,3,6) m.

4) - Se a referência de potencial nulo está em r = 12 m, e uma carga pontual Q = 0.6 nC ocupa a


origem, encontre os potenciais em r = 8 m e r = 24 m.

5) - Suponha que em um dia sujeito a instabilidades atmosféricas, a diferença de potencial entre a


superfície da terra e a eletrosfera (digamos 25 km acima da superfície terrestre) seja de 600000 V.
Um avião com 12 m de envergadura em suas asas está voando a 2600 m de altitude, com uma

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 27

inclinação de 45° de suas asas. Calcule a diferença de potencial entre as extremidades das suas
asas.

6) -Três cargas pontuais de 2 nC ocupam os vértices de um triângulo equilátero de 2 m de lado.


Calcule o potencial em um ponto 2 m acima do plano do triângulo e no eixo de seu centro
geométrico.

7) - Uma distribuição linear de cargas com densidade ρl = 1 nC ocupa o perímetro de um quadrado


de 5 m de lado. Calcule o potencial no ponto situado 6 m acima do quadrado, no eixo de seu
centro.

8) - Desenvolva uma expressão para o potencial num ponto distante radialmente d m do ponto médio
de uma distribuição linear de cargas finita, de comprimento L m e de densidade uniforme rl (C/m).
Comprove a dedução da expressão, pelo desenvolvimento empregado no exercício anterior.

9) - Um disco 0 ≤ r ≤ a m, z = 0, 0 ≤ φ ≤ 2π , possui uma densidade superficial de cargas


ρ s = ρ 0 r 2 a 2 (C / m 2 ) . Encontre V(0,0,z m) no espaço livre.

10) - Uma película plana uniformemente carregada com ρs = (1/5π) nC/m2 está localizada em x = 0, e
uma segunda película plana, com ρs = (-1/5π) nC/m2 está localizada em x = 10 m. Calcule VAB ,
VBC, VAC para A(12, 0, 0) m, B(4, 0, 0) m e C(-2, 0, 0) m.

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5 O GRADIENTE DO POTENCIAL E
ENERGIA NO CAMPO ELETROSTÁTICO

5.1 - O GRADIENTE DO POTENCIAL

A expressão obtida no capítulo 4 para o cálculo da diferença de potencial como uma integral de linha
é:
r r

V = − E. dL ( V) (5.1)

r r
Se o caminho escolhido for um ∆L , tal que se possa considerar E constante nesse caminho :
r r
∆V = − E. ∆L ( V) (5.2)

r r
E. ∆L = E∆L cos θ ( V) (5.3)

∆V = − E∆L cos θ ( V) (5.4)

∆V (5.5)
= − E cos θ ( V / m)
∆L

Passando ao limite:

dV (5.6)
= − E cos θ ( V / m)
dL

A expressão acima será máxima quando cosθ= -1:

dV (5.7)
= E ( V / m)
dL max

Pela equação 5.7 podemos concluir que:

• A magnitude do campo elétrico é dada pela máxima taxa de variação do potencial com a
distância.
r
• Este valor máximo é obtido quando a direção do incremento de distância for oposta a E .

Pela figura 5.1, partindo do ponto P, a maior taxa de variação de V com a distância se dá na direção
crescente dos potenciais, ao longo de uma linha da esquerda para a direita e para cima. Pela
r
equação 5.6 o sentido de E é para a esquerda e para baixo, oposto à maior variação de V.

$ n como sendo o vetor normal à superfície equipotencial, e dirigido no


Definindo o vetor unitário a
sentido dos potenciais crescentes, podemos escrever para o vetor campo elétrico:

r dV
E = − . a$ n ( V / m) (5.8)
dL max

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 29

Fazendo:

dV dV (5.9)
=
dL max dN

V(x,y,z) = c2>c1
∇V
dr
V(x,y,z) = c1

Fig. 5.1 - gradiente de V

fica, então:

r dV
E = − . a$ n ( V / m) (5.10)
dN

A operação ( dV dN ). a$ n é conhecida como o gradiente do potencial V. Novamente é um tipo de


operação que não aparece apenas no caso de potenciais elétricos, mas também na hidráulica,
termodinâmica, magnetismo etc.

Usando este novo conceito podemos escrever:


r
E = − gradV (5.11)

O gradiente é uma operação sobre um escalar que resulta num vetor.

(Você também já deve ter notado que o vetor intensidade de campo elétrico está sendo agora
expresso em Volts/metro (V/m). )

A expressão 5.11, da forma como está colocada ainda nos parece sem muita utilidade. Vamos agora
encontrar uma maneira de escrever o vetor intensidade de campo elétrico em termos de derivadas
parciais do potencial elétrico. Em coordenadas cartesianas podemos escrever o diferencial de
potencial dV como sendo :

∂V ∂V ∂V
dV = . dx + . dy + . dz (5.12)
∂x ∂y ∂z

Por outro lado, por (5.2) passada ao limite:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 30

r r
dV = − E. dL = − E x . dx − E y . dy − E z . dz (5.13)

Igualando 5.12 com 5.13 podemos concluir que:

∂V
Ex = − (5.14)
∂x

∂V
Ey = − (5.15)
∂y

∂V
Ez = − (5.16)
∂z

ou vetorialmente:

r ∂V ∂V ∂V
E = −( . a$ x + . a$ y + . a$ z ) ( V) (5.17)
∂x ∂y ∂z

Relembrando a definição do operador ∇:

∂ ∂ ∂ (5.18)
∇ = . a$ x + . a$ y + . a$ z
∂x ∂y ∂z

e aplicando-o sobre o potencial V, teremos:

∂V ∂V ∂V (5.19)
∇V = . a$ x + . a$ y + . a$ z
∂x ∂y ∂z

Portanto:
r
E = − ∇V ( V / m) (5.20)

Em um sistema de coordenadas esféricas temos:

∂V 1 ∂V 1 ∂V
∇V = .a r + .a θ + .a φ (5.21)
∂r r ∂θ r sen θ ∂φ

Em coordenadas cilíndricas,

∂V 1 ∂V ∂V
∇V = .a r + .aφ + .a z (5.22)
∂r r ∂φ ∂z

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 31

Exemplo 5.1
Encontrar o campo elétrico devido a uma carga pontual, utilizando o potencial eletrostático.

Solução
O campo elétrico de uma carga pontual possui 1 Q
apenas a componente radial, em coordenadas V = . ( V)
4 πε 0 r
esféricas:

r ∂V 1 Q
∂V =− . 2 ( V / m)
E = − ∇V = − . a$ r ( V / m) ∂r 4 πε 0 r
∂r

O potencial eletrostático em um ponto distante r 1 Q


E = . 2 .a r ( V / m)
r m da carga pontual é: 4 πε 0 r .

Exemplo 5.2
Dado: V = ( x − 2) . ( y + 2) . ( z − 1)
2 2 3
V encontre :
r
a) - E na origem.
dV
b) - na origem
dN
c) - a$ n

Solução

a) -
r
E = − ∇V ( V / m) Portanto :

r ) dV
E = − 2.(x− 2)(. y + 2)2 .(z − 1)3 .a x − dN
= 16 1 + 1 + 9 = 53,1 ( V / m)
)
2.(x − 2)2 .(y + 2)(. z − 1)3 a y −
) c) -
3.(x − 2)2 .(y + 2)2 .(z − 1)2 a z r dV
E = − . a$ n ( V / m)
r dN
E ( 0,0,0) = − 16. a$ x + 16. a$ y − 48. a$ z ( V / m)

r
( )
− 16 a$ x − a$ y + 3a$ z = − 53,1. a$ n
E ( 0,0,0) = − 16(a$ x − a$ y + 3a$ z ) ( V / m)
) (
a n = 0,301(â x − â y + 3â z )
b) -
dV
é a magnitude do campo elétrico.
dN

5.2 - DENSIDADE DE ENERGIA NO CAMPO ELETROSTÁTICO

Suponhamos n cargas, Q 1 , Q 2 , ...... , Q n , positivas, localizadas no infinito (figura 5.2). Imaginemos


r
agora uma região qualquer com campo elétrico total nulo ( E = 0). Inicialmente se desejarmos trazer
r
a carga Q1 para um ponto 1 pertencente a essa região, o trabalho será nulo, pois E = 0.

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 32
Q1

Q2 1 Q1
Q3 2 Q2
3 Q3
Q4 4 Q4
n Qn
Qn
infinito Região com E = 0

Fig. 5.2 - Sistema de cargas

Suponhamos agora que queiramos trazer a carga Q2 para um ponto 2, próximo à carga Q1. A fonte
externa deverá realizar um trabalho, devido agora à presença da carga Q1. Esse trabalho será:

W2 = Q2 . V2 ,1 (J ) (5.23)

V2 ,1 significa: potencial na posição 2, devido à carga Q1.

Se a carga for mantida nessa posição a energia dispendida, pelo princípio da conservação de
energia, se transforma em energia potencial. Uma vez retirada a força que a mantem nessa posição,
a carga será acelerada para longe de sua posição, adquirindo energia cinética, e, realizando trabalho.

Voltando à nossa tarefa de mover cargas do infinito à região em questão, ao trazer a carga Q3 para a
posição 3, o trabalho realizado será:

W3 = Q 3 . V3,1 + Q 3 . V3,2 (J ) (5.24)

onde:
V3,1 = potencial em 3 devido a Q1.
V3,2 = potencial em 3 devido a Q2.

O trabalho para mover n cargas será:

WE = Q 2 .V2,1 +Q 3 .V3,1 +Q 3 .V3,2 +... +Q n .Vn ,1 +... +Q n .Vn ,n −1 (J ) (5.25)

WE é a energia potencial armazenada no campo. Tomemos agora um termo qualquer da equação


acima. Por exemplo:

Q1 Q3
Q3. V3,1 = Q3. = Q1. = Q1. V1,3 (5.26)
4 πε 0 . R13 4 πε 0 . R 31

V1,3 é o potencial no ponto 1 devido à carga Q3.

Assim, a equação 5.25 pode ser reescrita reciprocamente como:

WE = Q1. V1,2 + Q1. V1,3 + .. + Q1. V1, n + Q2 . V2 ,1 + Q2 . V2 ,3 + .. + Q2 . V2 ,n + Q n −1. Vn −1, n (5.27)

Adicionando 5.25 e 5.27:

2WE = Q1 ( V1,2 + V1,3 + ... + V1, n ) + Q 2 ( V2 ,1 + V2 ,3 + ... + V2 , n ) +


(5.28)
... + Q n ( Vn ,1+ Vn ,2 + ... + Vn , n −1 )

Cada soma entre parêntesis, representa o potencial em cada ponto, devido a todas as cargas exceto
à carga que está no ponto onde está sendo calculado o potencial. Em um a notação mais
simplificada, temos:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 33

V1,2 + V1,3 + ... + V1,n = V1 (5.29)

Assim:

1 (5.30)
WE =
2
( Q1. V1 + Q2 . V2 + ... + Q n . Vn ) (J )

n (5.31)
1
WE =
2 ∑ Q .V
i =1
i i (J)

Substituindo cada carga por um volume infinitesimal ∆v, multiplicado por uma densidade de carga ρ,
e fazendo o número de cargas tender ao infinito (∆v → dv):

1 (5.32)
WE =
2 ∫ vol
ρVdv (J )

r
Substituindo ρ por ∇. D :

r
∫ (∇ . D )V d v
1 (5.33)
WE = (J )
2 vol

r
Entretanto, a seguinte identidade (vetorial) é válida para qualquer função vetorial D :
r r r
( )
∇. VD = V ∇. D + D. ( ∇V) ( ) (5.34)

Portanto:

∫ ( )
1 r r (5.35)
WE = [ ∇. VD dv − ∫ D.(∇V )dv ] (J )
2 v v

A primeira integral de volume da equação acima pode ser substituída por uma integral de superfície,
utilizando-se o teorema da divergência:

r r
∫ ( VD)dS − 2 ∫
1 1
WE = D. ( ∇V) dv (J ) (5.36)
2 s vol

A equação 5.35 é uma integral de volume. A única restrição é que este volume contenha toda a
carga, ou seja, não pode haver cargas fora deste volume, conforme nossa hipótese inicial. Nada nos
impede de considerar este volume como sendo todo o universo. Portanto, V na superfície que
r
envolve este volume pode ser considerado nulo ( D também). Portanto, a primeira integral em 5.35 é
r
nula. Por outro lado, sabemos que ∇V = − E . Portanto:

r r
∫ ( D. E)dv = 2 ∫
1 1 (5.37)
WE = ε 0 E 2dv (J )
2 vol vol

Derivando a equação acima em relação ao volume teremos:

dWE 1 (5.38)
= ε0E2 (J / m3 )
dv 2

que é a densidade de energia armazenada no campo elétrico.

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 34

Exemplo 5. 3
Calcular a energia armazenada em uma seção de um capacitor co-axial de L m de comprimento, raio
interno a m e externo b m.

Solução

A expressão para o campo elétrico no interior L b 2π a 2 . ρs2


do capacitor é: WE = ∫ ∫∫
0 a 0 ε0. r
. dφ. dr. dz

r a. ρ s
E = . a$ r ( V / m) 1 a 2 . ρs2 b dr π. L. a 2 . ρs2 b
ε0.r WE =
2
. L.2 π.
ε0 ∫
a r
=
ε0
. ln
a
(J )

1 L b 2π a 2 . ρs2
WE =
2 ∫ ∫∫
0 a 0
ε0
ε 20 . r 2
. r. dφ. dr. dz (J )

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 35

EXERCÍCIOS

1)-A direção da linha formada pela intercessão de uma superfície equipotencial e o plano z = 1 m no
ponto (2, -6,1) m é a do vetor 6âx + 2ây. Se a máxima taxa de variação de V é 500 V/m, com Ez =
r
0 e com Ex > 0, encontre E .

2) – Determine a distribuição volumétrica de cargas que geram um campo potencial V = 5r2 volts.

3) - a porção de um potencial bidimensional (Ez = 0) é mostrada na figura 1. O espaçamento entre as


r
linhas (horizontais e verticais) é de 1 mm. Determine E em coordenadas cartesianas em a e b.

4) - Quatro cargas idênticas Q = 3 nC são colocadas no vértice de um quadrado de 0.6 m de lado,


uma de cada vez. Calcule a energia do sistema, logo após cada carga ser colocada.

r −r
5) - Dado o campo elétrico E = − 5e a . a$ r em coordenadas cilíndricas, calcule a energia armazenada
no volume descrito por r ≤ 2a m, 0 ≤ z 5a m .

6) - Dado um potencial definido por V = 3x 2 + 4 y 2 ( V) , calcule a energia armazenada no volume


definido por um cubo de 1 m de aresta, com um dos vértices na origem.

b 140 V

130 V
a
120 V

110 V

100 V

Fig. 1 - figura do problema 3

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36

6 CORRENTE ELÉTRICA

Nos capítulos anteriores estudamos os campos eletrostáticos, gerados a partir de distribuições de


cargas estáticas. Neste capítulo faremos o estudo da corrente elétrica, que nada mais é do que o
movimento, dentro de uma certa ordem, de cargas elétricas. Estudaremos os fenômenos devido à
corrente elétrica estacionária, ou seja, aquela que não varia com o tempo. Campos elétricos gerados
por correntes estacionárias também são estáticos.

6.1 - CORRENTE ELÉTRICA E DENSIDADE DE CORRENTE

Referindo-se à figura 6.1, suponha que uma carga de teste q seja introduzida em um campo elétrico
r r
E . A carga deve sofrer a ação de uma força F que é dada por:
r r
F = qE ( N) (6.1)

Se a carga é livre para se mover, ela sofrerá uma aceleração que, de acordo com a segunda lei de
Newton, é dada por :
r
r F
a = ( m / s2 ) (6.2)
m

onde m é a massa da partícula de carga em quilogramas.

E
F
q
Fig. 6.1 - Força sobre uma partícula em um campo elétrico.

Na ausência de restrições, a velocidade da partícula aumentará indefinidamente com o tempo, uma


r
vez que o campo elétrico E é constante. Entretanto, em meios gasosos, líquidos ou sólidos, a
partícula colidirá repetidamente com outras partículas, perdendo parte de sua energia, e causando
r
mudanças aleatórias na direção de seu movimento. Se o campo E é constante, e o meio for
homogêneo, o resultado dessas colisões será o de restringir o movimento da carga a uma velocidade
r
média constante, chamada de velocidade de deslocamento vd . Essa velocidade de deslocamento
tem a mesma direção do campo elétrico, e se relaciona com ele através de uma constante chamada
de constante de mobilidade µ. Assim:

r r
vd = µE ( m / s) (6.3)

Suponha agora um meio com seção uniforme A, conforme a figura 6. 2 Esse meio possui inúmeras
cargas livres, com uma densidade volumétrica ρ . Fixando-se uma referência em um ponto qualquer
do meio em questão, o número de cargas que atravessar a seção uniforme S em um segundo
constituirá uma corrente elétrica I coulombs/segundo, que será dada pela expressão:

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37

I = vdρ S ( A) (6.4)

onde:

I (A) Corrente elétrica


r
vd (m/s) Velocidade de deslocamento
ρ (C/m3) Densidade volumétrica de cargas
S (m2) Área atravessada

Fig. 6.2 - Cargas cruzando uma seção reta em um condutor

Dividindo-se a equação 6.4 pela área da seção reta S, tem-se a densidade de corrente J, em ampères
por metro quadrado:

I
J = (A / m2 )
S (6.5)

r
Se a corrente não for uniforme, devemos considerar o vetor J em um ponto. Isto é definido como
sendo o quociente da corrente ∆I pela área incremental ∆S . Fazendo ∆S tender a zero, teremos:

r lim ∆I ) r
J= a n = vd ρ ( A / m 2 )
∆S→0 ∆S (6.6)

r
A superfície ∆S é normal à direção da corrente. A densidade de corrente J é um vetor que tem
magnitude igual à densidade de corrente no ponto em que se deseja conhecê-la, e a direção da
corrente neste ponto.

6.2 - CORRENTE DE CONVECÇÃO E CORRENTE DE CONDUÇÃO

A expressão para a densidade de corrente obtida na equação 6.6 representa uma corrente de
convecção, que é a translação de elétrons ou íons (como por exemplo, o que ocorre no interior
de um tubo de raios catódicos, ou em uma lâmpada fluorescente). A corrente de convecção é
linearmente proporcional à densidade de cargas e à velocidade dessas cargas.
r r
Se substituirmos a velocidade de deslocamento vd por µE , por (6.3) e (6.4) teremos:
r r
J = ρµE ( A / m2 ) (6.7)

O produto ρµ é definido como sendo a condutividade σ do material, e a expressão acima torna-se:


r r
J = σE (A / m 2 ) (6.8)

A equação 6.8 representa uma corrente de condução, que pode ser definida como sendo o movimento
de cargas que se alinham com a atuação de um campo elétrico externo. Assim a densidade de
r
corrente de condução num meio à temperatura constante é linearmente proporcional a E . A

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38

relação acima é valida para os meios eletricamente lineares, ou ôhmicos. São meios eletricamente
lineares, por exemplo, todos os metais.

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Exemplo 6.1
Calcular a intensidade da velocidade média dos elétrons em um condutor circular de cobre com secção
de 1,5 mm2, percorrido por uma corrente contínua de 15 A, numa temperatura ambiente de 20 ºC.
Dados: σcobre = 5,8x107 S/m, µp,cobre = 0.0032 m2/Vs.

solução

I 15
Jc = = = 107 A / m2 r r
S 1,5x10− 6 vd = µE ⇒v d = 0. 0032x0.1724= 0. 00055m / s

r r 107
J c = σE ⇒ E = = 0.1724 V / m
5,8x107

Exemplo 6.2
Determine a corrente total que atravessa uma seção de1 cm na lateral de uma superfície cilíndrica de
raio r = 2 mm, se as expressões válidas para pontos próximos desse raio forem:
1  φ
a) - J r = cos  A / m 2 ,− π<φ< π
r 2

10 −7
b) - ρ = C / m 3 , vd( r ) =3x1010 r 2 m / s
r

solução

a) - b) -

r r
I = ∫S
J . dS r r
J = ρ vd =
10−7
r
3x1010 r 2 (A / m 2 )

0 , 01 π  φ r
∫ ∫
1
I= cos rdφdz ( A) J = 10 −7 x3x1010 x0, 002 = 6 (A / m2 )
0 −π r 2
r r 0, 01 π


 φ
π
I = 0, 01 cos  dφ = 0,01x2 ∫
π  φ 1
cos  dφ ( A) ∫
I = J.dS =
s ∫ ∫
0 −π
6rd φdz (A)
−π  2 −π  2 2
π

π
I = 6x2x10− 3 x0,01 ∫
−π
dφ = 1,2x10− 4 x2π ( A)

 φ
I = 0, 01x2x sen  = 0, 01x2x(1− ( − 1)) = 0.040 ( A) I = 0,754 ( mA)
 2
−π

6.3 - EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

O princípio da conservação de cargas estabelece que cargas elétricas não podem ser criadas ou
destruídas, embora quantidades iguais de cargas positivas e negativas possam ser “criadas” por
separação, ou “destruídas” por recombinação. A equação da continuidade decorre deste princípio,
quando consideramos uma região confinada por uma superfície fechada.
r
Imagine uma superfície fechada S, atravessada por uma densidade de corrente J . A corrente
elétrica total que atravessará essa superfície será:

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40

r r
∫ J .d S ( A )
I= (6.9)
S

Este é o fluxo para fora de cargas positivas (isso é uma mera arbitrariedade, na verdade as cargas
que se movimentam são elétrons, que possuem carga negativa), que deve ser balanceado por um
decréscimo de cargas positivas (ou acréscimo de cargas negativas) no interior da superfície.

Dentro da superfície fechada, a carga Q decrescerá então, numa razão – dQ/dt e o princípio da
conservação de cargas estabelece então:

r r

dQ
I = J . dS = −
S dt (6.10)

Aplicando o teorema da divergência à integral acima, e representando a carga envolvida pela


integral de volume da densidade de carga:

r
∫ (∇.J ) = − dt ∫
d
ρ dv
vol vol (6.11)

Concordando-se em manter a superfície constante, a derivada transforma-se em uma derivada parcial,


e pode ser colocada dentro da integral:

r ∂ρ
∫ ( ∇.J ).dv = − ∫
vol vol ∂ t
. dv (6.12)

Uma vez que a expressão acima é válida para qualquer volume, ela é verdadeira para um volume
incremental ∆v. Portanto:

r
( ∇. J ) ∆v = − ∂ρ
∂t
∆v
(613)

de onde sai a forma pontual da equação da continuidade :

r ∂ρ
∇.J =−
∂t (6.14)

Exemplo 6.3
A densidade volumétrica de cargas numa certa região do espaço está decrescendo a uma taxa de
2x108 C/m3.s.
a) - Qual é a corrente total que atravessa uma superfície esférica incremental de raio 10-5 m?
b) - Qual é o valor médio da componente da densidade de corrente dirigida para fora, atravessando a
superfície esférica?

solução

a) -

r r I= x108 x (10 − 5 )3 ⇒ I = 0,838 ( µA)
∂ρ 3
∇. J = − ⇒ ∇. J = 2 x108
∂t

∫ (∇.J )dv=∫ 2x10 dv (A)


r r r

b) -
I = J.dS= 8
r r

I = J.dS ( A)
S vol vol
S


4
I = 2x108 dv= 2x10 8 x πr 3 ( A)
vol 3

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r r

0,838 x10 −6 = J.dS
S 2
J =666 ,9x10 3 ⇒ J = ( kA / m 2 )
3
0,838 x10−6
0,838x10 −6 = Jx4 πr 2 ⇒ J = (A / m2 )
4π (10−5 ) 2

6.4 - TEMPO DE RELAXAÇÃO

Suponhamos que uma região condutora e isolada esteja em equilíbrio. Se injetarmos uma carga inicial
de densidade ρ 0 ela deverá "escoar", ou seja, a região deverá voltar ao equilíbrio. Podemos chegar a
essa conclusão a partir da última equação da seção anterior.

r ∂ρ
∇. J = −
∂t (6.15)

Por (6.8) vimos que:


r r
J = σE ( A / m 2 ) (6.16)

e
r
r D
E= ( V / m) (6.17)
ε

Portanto:
r σ r
J = D (A / m 2 ) (6.18)
ε

Assim:
σ r ∂ρ
∇. D + = 0 (6.19)
ε ∂t

A equação acima é uma equação diferencial cuja solução é:

σ
− t
ρ = ρ0 e ε (6.20)

A razão ε/σ é chamada de constante de tempo de relaxação .

Exemplo 6.4
Uma carga com densidade inicial ρ 0 C/m3 é colocada em um material condutor (cobre) isolado e em
equilíbrio. Determine o tempo necessário para que a densidade de carga caia a 1/3 de seu valor inicial,
sabendo que σ = 5,8x107 S/m.
Cu

Solução

1  1 σ
ρ= ρ0 ln  = − t ln( e)
3  3 ε0

σ
− t
1 σ 5,8x10 7
ρ 0 = ρ 0e ε 0 − t = − 11
, ⇒− t = − 11
, ( s)
3 ε0 8,85x10−12
, x10−19 ( s)
t = 157

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Pelo exemplo que acabamos de resolver, podemos perceber que, exceto por um período transitório
extremamente curto, ρ = 0 no interior de regiões condutoras. Portanto:
r
∇. J = 0 (6.21)

A equação 6.21 prova matematicamente que não há acúmulo de cargas elétricas no interior de materiais
condutores.

EXERCÍCIOS

1) -Um condutor de cobre tem seção reta circular de 5,00 mm de diâmetro, e suporta uma corrente de
30 A. Qual é a porcentagem de elétrons de condução que deixa o condutor em cada segundo (sendo
substituídos por outros), em 200 mm de cabo?
Dados N (Número de Avogadro) = 6,02 x 1026 átomos/kmol, densidade do cobre = 8,96 g/cm3 e
peso atômico 63,54. Suponha um elétron de condução por átomo.

2) - Que corrente irá resultar se todos os elétrons em um centímetro cúbico de alumínio passam por
ponto especificado em 3 s ? Suponha um elétron de condução por átomo.

3) - Qual é a densidade de elétrons livres em um metal para uma mobilidade de 0,0046 m2/V.s e uma
condutividade de 30 MS/m ?

4) - Calcule a mobilidade dos elétrons de condução no alumínio, dada uma condutividade de 38,2 MS/m
e densidade de elétrons de condução de 1,70 x 1029 m-3 ?

5) - Uma barra de cobre de seção reta retangular de 0,03 mm×0,12 mm e 3,0 m de comprimento tem
um queda de tensão de 100 mV. Calcule a resistência, corrente, densidade de corrente, módulo do
campo elétrico e velocidade de deslocamento dos elétrons de condução.

6) - Encontre a corrente que atravessa um condutor esférico de raio 3 mm, se a densidade de corrente
varia com o raio, de acordo com J = 103/r (A/m2).
r
7)- Em coordenadas cilíndricas, para a região 0.02 ≤ r ≤ 0.03 mm, 0 ≤ z ≤ 1 m, J = 10 e −100 r a$ φ (A/m2),
Encontre a corrente total que atravessa a interseção desta região com o plano φ = constante.

8) - Calcule a corrente total que sai de um cubo de 1 m3 com um vértice na origem, e lados paralelos ao
r
eixos coordenados, se J = 2 x 2 a$ x + 2 xy 3 a$ y + 2 xya$ z (A / m 2 ) .

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 42

MATERIAIS DIELÉTRICOS E

7 RELAÇÕES DE FRONTEIRA NO
CAMPO ELÉTRICO

De acordo com a teoria atômica clássica, os átomos são constituídos de um núcleo formado por
prótons e nêutrons, orbitados por elétrons carregados negativamente. À medida que se fornece
energia a um elétron, este passa para uma órbita mais afastada. Em alguns materiais, o elétron (ou
elétrons) que está na órbita externa está frouxamente ligado ao átomo, e migra facilmente de um
átomo para outro, quando sofre a ação de um campo elétrico. Estes elétrons recebem o nome de
cargas verdadeiras. Materiais que possuem este tipo de comportamento recebem o nome de
condutores.

Em outros tipos de materiais, porém, os elétrons estão de tal maneira presos ao átomo, que não
podem ser libertados pela aplicação de campos elétricos de pequena intensidade. Estes materiais
recebem o nome de dielétricos ou isolantes. Entretanto, quando um dielétrico é submetido a um
campo elétrico, ocorre uma polarização, ou seja, um deslocamento do elétron em relação à sua
posição de equilíbrio. As cargas induzidas em um isolante recebem o nome de cargas de
polarização.

Outro grupo de materiais apresenta um comportamento intermediário entre condutores e isolantes.


São os chamados semicondutores. Sob certas condições podem agir como isolantes, mas com a
aplicação de calor ou de campo elétrico suficientemente fortes, se comportam como condutores.

Na figura 7.1a existe um pequeno espaço vazio (barreira de energia) entre as bandas de condução e
de valência. Esse é o caso dos materiais condutores, onde o elétron passa facilmente de uma banda
para outra. Na figura 7.1b o espaço vazio é grande, e dificilmente o elétron passará de uma banda
para outra. Na figura 7.1c, o espaço vazio é intermediário entre os dois casos, e o material pode se
comportar ou como um condutor, ou como um isolante, dependendo das circunstancias, sendo
classificado com um semicondutor.

Banda Banda
Banda Condutora Condutora
Condutora Vazia Vazia
Vazia
Espaço de Energia
Proibida
Banda de Banda de
Valência Banda de Valência
Preenchida Valência Preenchida
Preenchida

a b c

Fig. 7.1 - Comportamento de condutor, isolante e semicondutor.

A mobilidade das partículas, µ p é uma função da temperatura e o seu aumento apresenta


conseqüências diferentes, no comportamento dos materiais condutores, isolantes e semicondutores.
Em um condutor metálico, por exemplo, o movimento vibratório aumenta com o aumento da
temperatura. Conseqüentemente, há uma diminuição na velocidade de arraste, devido às colisões
desordenadas que ocorrem no interior do material.

Por outro lado, nos materiais isolantes e semicondutores, o aumento da temperatura favorece o
aumento do movimento vibratório, que contribui com o aumento da mobilidade das partículas, em
função do campo elétrico aplicado.

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 43

7.1- A NATUREZA DOS MATERIAIS DIELÉTRICOS

Embora os materiais condutores não possam armazenar energia em seu interior, os materiais
dielétricos, podem. Isso é possível porque ao se aplicar um campo elétrico externo em um dielétrico
não ocorre a movimentação de cargas livres, mas um deslocamento nas posições relativas das
cargas negativas (elétrons) e positivas, dando origem às cargas polarizadas. Esse armazenamento
de energia potencial ocorre contra as forças moleculares e atômicas normais do átomo.

O mecanismo real de deslocamento varia conforme o tipo de dielétrico. Alguns tipos de dielétricos
são constituídos por moléculas ditas polarizadas (por exemplo, a água), que possuem um
deslocamento permanente entre os centros geométricos das cargas positiva e negativa. Cada par de
cargas age como um dipolo; um conjunto formado por uma carga positiva e uma carga negativa,
separadas por uma distância d. Normalmente esses dipolos estão orientados e dispostos
aleatoriamente no interior do material. Quando um campo elétrico externo é aplicado, eles se
alinham em sua direção (fig. 7.2).

Em outros tipos de materiais este arranjo em dipolos não existe antes do campo elétrico ser
aplicado. As cargas positivas e negativas deslocam-se com a aplicação do campo elétrico, e
alinham-se em sua direção (fig. 7.3)

+ - - + +
E=0 -
- +
E
- + - + - +
+ -
Fig. 7.2- Moléculas polarizadas (dipolos)

-
+ - + - +
+- E= 0
+- E
- + - +
-+
Fig. 7.3- Moléculas não polarizadas
r
Qualquer tipo de dipolo é descrito pelo seu momento de dipolo p , dado por:

r r
p = Qd (C.m) (7.1)

r
onde Q é a carga positiva, e d a distância vetorial orientada da carga negativa para a carga positiva.

Se existem n dipolos idênticos por unidade de volume, então, em um volume incremental ∆v o


momento de dipolo total é a soma vetorial:

n∆v
r r

p total = p i (C.m)
i =1
(7.2)

r
Definindo agora o vetor polarização P como sendo o momento de dipolo total dividido por um volume
que tende a zero:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 44

r lim 1 n∆v r
P=
∆v →0 ∆v i ∑
p i (C / m 2 ) (7.3)

r
P deve ser tratado como um vetor contínuo, com unidades em coulombs por metro quadrado.
r
Suponhamos agora um dielétrico contendo moléculas não polarizadas. Portanto, P = 0 em todo o
volume do material. Selecionemos agora um elemento de superfície ∆S no interior do dielétrico.

Aplicando um campo elétrico sobre o dielétrico as moléculas se polarizarão. Haverá um movimento


de cargas de polarização através de ∆S. O campo elétrico produzirá um momento em cada molécula:
r r
p =Qd (C.m) (7.4)

r r r
de modo que p e d farão um ângulo θ com o vetor normal ∆S (figura 7.4).

∆S θ
+ + +
+ +
+ + + d cosθ
d

- - -
- -
- - -
Fig. 7.4- Movimento de cargas através de ∆S

Cada molécula cujo centro está no interior do volume (1 2 ) d . cosθ . ∆S abaixo da superfície
incremental contribui para o movimento de uma carga Q através de ∆S para cima. De modo análogo,
cada molécula cujo centro está no interior do volume (1 2 ) d . cosθ . ∆S acima desta superfície
incremental contribui para o movimento de uma carga – Q através de ∆S para baixo.
Como há n moléculas/m3, a carga líquida total que atravessa a superfície ∆S é n.Q.d . cosθ .∆S ,
onde:
r r
∆Q p = nQ d .∆S (C ) (7.5)

ou
r r
∆Q p = P.∆S (C ) (7.6)

r
Se ∆S for um elemento de superfície em uma superfície fechada, com o seu sentido positivo sempre
dirigido para fora da superfície, o acréscimo líquido nas cargas de polarização dentro da superfície
fechada é :
r r

Qp = − P.dS (C)
vol (7.7)

(o sinal menos é explicado pelo fato de que o sinal das cargas que entram ou permanecem no interior
da superfície fechada é de sinal contrário ao das cargas que saem).

Considerando esta carga total como sendo uma distribuição volumétrica de cargas com densidade ρ
p
:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 45

Q p = ∫ ρ p dv (C )
vol (7.8)

Assim:
r r
∫ vol
ρ p dv = − ∫ P.dS
s (7.9)

Aplicando o teorema da divergência no lado direito da equação acima, ela ficará:


r
∫ ρ p dv = − ∫ (∇.P)dv (7.10)
vol vol

Ou ainda:
r
∇.P = − ρ p (C / m 3 ) (7.11)

Essa equação também é válida para dielétricos polares


r
Vamos agora encontrar uma relação entre o vetor densidade de fluxo elétrico D e o vetor
r
polarização P .

Primeiramente vamos escrever a Lei de Gauss na forma pontual, mesmo na presença de dielétricos,
como:
r
∇.ε 0 E = ρ t (C / m 3 ) (7.12)

r r
onde ρt é a densidade volumétrica total de cargas. O vetor D foi substituído por ε 0E porque uma vez
consideradas as cargas de polarização, tudo se passa como se o dielétrico não existisse.

Como:

ρ t = ρ + ρ p (C / m 3 ) (7.13)

então por (7.12) e (7.13):


r
∇.ε 0 E = ρ + ρ p (C / m 3 ) (7.14)

que por (7.11) fornece:


r r
∇.ε 0 E = ρ −∇.P (7.15)

ou:
r r
∇.(ε 0 E + P) = ρ (C / m 3 ) (7.16)

onde ρ é a densidade volumétrica das cargas livres.

r
Podemos agora redefinir o vetor D como sendo :
r r r
D =ε 0 E + P (C / m 2 ) (7.17)

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 46

r
A presença de dielétricos é, portanto, levada em conta através do vetor polarização P .
r r r r
O vetor polarização P resultou da aplicação de um campo elétrico E . A relação entre P e E
dependerá do tipo de material. Vamos nos limitar a materiais isotrópicos, com uma relação linear
r r r r
entre P e E . Nesse caso, P e E são paralelos, embora não necessariamente no mesmo sentido.
r r
Admitindo a linearidade entre P e E , podemos escrever:
r r
P = χ e ε 0 E (C / m 2 ) (7.18)

onde χe é a susceptibilidade elétrica do material.

r
Substituindo o valor de P na relação fundamental de (7.17) temos:
r r
D = ε 0 (1 + χ e )E (7.19)

Assim, para qualquer meio, podemos estabelecer que:


r r r
D = εE = ε 0 ε r E ( C / m 2 ) (7.20)

onde ε é a permissividade do material. Logo εr será a permissividade relativa, ou a constante


dielétrica do material, sendo expressa por

εr = 1+ χ e (7.21)

r r
O valor de χ e em (7.21) substituído em (7.18) estabelece a seguinte relação entre P e E empregada
em aplicações de engenharia:
r r
P = ( ε r − 1) ε 0 E (C / m 2 ) (7.22)

Finalmente, a Lei de Gauss continua válida, seja na forma pontual, seja na forma integral, mesmo na
presença de dielétricos:
r
∇. D = ρ (C / m 2 ) (7.23)

r r
∫ D.dS = Q ( C)
(7.24)

e as cargas são cargas livres.

7.2 - CONDIÇÕES DE CONTORNO PARA OS MATERIAIS DIELÉTRICOS

Considere a fronteira entre dois meios dielétricos, e um caminho abcd, conforme mostrado na figura
7.5 a seguir.
c ∆w d
Etan1
Meio 1
∆h
Etan2
Meio 2
b a
Fig. 7.5 - fronteira entre dois meios dielétricos

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 47

Integrando o vetor intensidade de campo elétrico ao longo desse caminho fechado, considerando h
tendendo a zero, teremos:
r r
∫ E.dL = E t1 .∆w −E t 2 .∆w = 0 (7.25)

ou:

E t1 = E t 2 (7.26)

r
ou seja, a componente tangencial do vetor E é contínua.

Podemos concluir que a diferença de potencial entre dois pontos na fronteira, separados por uma
distância ∆w é a mesma, tanto acima como abaixo da fronteira.
r
Logo para as componentes tangenciais do vetor D , teremos:

D t1 D t 2
= (7.27)
ε1 ε 2

ou :

D t1 ε 1
= (7.28)
Dt2 ε2
r
Portanto, as componentes tangenciais do vetor D são descontínuas.
r r
Vamos agora determinar as relações entre as componentes normais de E e D .

Considere a superfície gaussiana elementar, constituída de um cilindro de base ∆S e altura ∆h,


colocado na fronteira entre os dois meios 1 e 2, conforme a figura 7.6.

Dn1
∆S
Meio 1
∆h

Meio 2

Dn2

Fig. 7.6 - Fronteira entre dois dielétricos

Aplicando a Lei de Gauss, com ∆h tendendo a zero, teremos:


r r
∫ D.dS=Q (7.29)

de onde:

D n1 − D n 2 =ρ s (7.30)

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 48

Conforme já foi visto anteriormente, a densidade de cargas ρs representa cargas livres, mesmo na
presença de dielétricos. Como nos materiais dielétricos cargas livres só poderão existir se forem
propositadamente ali colocadas, podemos considerar ρs = 0. Assim:

D n1 = D n 2 (7.31)

r
ou seja, a componente normal do vetor D é contínua.
r
Para a componente normal do vetor E teremos:

ε1E n1 = ε 2 E n 2 (7.32)

ou:

E n1 ε 2
= (7.33)
E n 2 ε1

Portanto, descontínuas.

Exemplo 7.1
Seja uma placa de teflon na região 0 < x < a m, e espaço livre nas regiões x > a e x < 0 m. A
constante dielétrica do teflon é εr = 2,1 e a susceptibilidade elétrica é χ e = 1,1. Fora do teflon existe
r r
um campo elétrico Eext =E0 .â x e, como não há material dielétrico nessa região, P = 0. Estabeleça a
r r r
relação entre Dint , E int e Pint .

Solução
εr = 2,1
Teflon

E0 E0 Fig. 7.7 - Placa de teflon


D0 D0

P=0 P=0

0 a
x

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 49

r r r r
A relação entre o vetor D e o vetor E no interior Dint = Dext = ε 0 E 0 . a$ x (C / m2 )
do teflon é:
r
r r 2
Então, para o campo elétrico E int :
D = εE (C / m )
r
r Dint
ou: E int =
r r ε
Dint = ε r ε 0 E int
r r r 1
Dint = 2,1ε 0 E int E int = ε 0 E 0 . a$ x ( V / m)
ε r ε0
r
O vetor polarização P é dado por: r 1
E int = E 0 . a x = 0,476E 0 . a$ x ( V / m)
r r εr
2
P = χeε0E (C / m )
r
Para o vetor P :
ou:
r
r r Pint = 11
, ε 0 0,476E 0 . a$ x (C / m2 )
Pint = 11
, ε 0 E int
r
r
A continuidade da componente normal de D nos
Pint = 0,524ε 0 E 0 .â x (C / m 2 )
permite escrever:

r r
Vamos agora encontrar as relações entre as direções de E e D em dois materiais dielétricos.
r
Como as componentes normais de D são contínuas (figura 7.8):

D1 sen α1 = D 2 sen α 2 (7.34)

A razão entre as componentes tangenciais é dada por (7.26):

D1 cos α1 ε1
=
D 2 cos α 2 ε 2

D1
Dn1
α1
Dtan1

D2
Dn2
α2 Dtan2
Dtan2

Fig. 7.8- Mudança na direção do campo, na fronteira entre 2 dielétricos

ou:

ε2
D1 cos α1 = D 2 cos α 2 (7.35)
ε1

Dividindo 7.34 por 7.35 teremos:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 50

ε1
tgα 2 = tgα1 (7.36)
ε2
r
A magnitude da densidade de fluxo na região 2, em função da magnitude de D na região 1 será:

2
⎛ε ⎞
D 2 = D1 sen 2 α1 +⎜⎜ 2 ⎟⎟ cos 2 α1 (7.37)
⎝ ε1 ⎠

r
A magnitude de E 2 será então:

2
⎛ε ⎞
E 2 = E1 cos α 1 + ⎜⎜ 1 ⎟⎟ sen 2 α 1
2 (7.38)
⎝ ε2 ⎠

r
Por essas expressões, podemos perceber que D é maior na região de maior permissividade, (a não
r
ser em α1 = 90 graus, quando ele não varia), e E é maior na região de menor permissividade (a não
ser quando α1 = 0, quando sua magnitude é invariável).

Exemplo 7.2
A região x > 0 m contém um dielétrico para o qual εr1 = 3, e na região x < 0 m εr2 = 5. Se
r
E 2 = 20. a$ x + 30. a$ y − 40. a$ z V / m , encontre:
r r r r
(a) D 2 , (b) D1 , (c) E1 , (d) P1 .

Solução

x > 0

x < 0 y
E2

Fig. 7.9- figura do exemplo 8.2

a) -
r r r
D 2 = εE 2 = 5ε 0 E 2 = ε 0 (100. a$ x + 150. a$ y − 200. a$ z ) (C / m 2 )

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 51

b) -
r
D1 = ε 0 (100.â x + 90.â y −120.â z ) (C / m 2 )
Das condições de contorno em x = 0:
r r c) -
D n1 = D n 2 =100ε 0 â x (C / m 2 )
r r
r D1 D1
D t 1 ε1 E1 = = ( V / m)
= ε1 ε r1ε 0
Dt 2 ε2
r 1
r 3r E 1 = (100. a$ x + 90. a$ y − 120. a$ z ) ( V / m)
D t1 = D t 2 3
5
d)
r
( )
D t 2 = ε 0 150.â y − 200.â z (C / m 2 ) r r
P1 = ( ε r1 − 1) ε 0 E1 (C / m2 )
r 3ε r
D t1 = 0 (150.â y − 200.â z ) (C / m 2 ) P1 = 2ε 0 (
100
. a$ x + 30. a$ y − 40. a$ z ) (C / m 2 )
5 3

7.3 - RELAÇÕES DE FRONTEIRA ENTRE UM DIELÉTRICO E UM CONDUTOR

Conforme vimos no capítulo 6, não há acúmulo de cargas elétricas no interior de materiais


condutores. Portanto, o campo elétrico no interior de condutores é nulo. O campo elétrico em uma
interface condutor-dielétrico só existirá na região do dielétrico, e deverá ser normal à interface. Pois
caso existissem componentes tangenciais para o campo elétrico elas deveriam ser continuas.
Portanto:

E t1 = E t 2 = 0 (7.39)

e:

D t1 = D t 2 = 0 (7.40)

Para as componentes normais:


r r
∫ D.dS= D n ∆S =ρ s ∆S (7.41)

D n = ρ s (C / m 2 ) (7.42)

ρs
En = ( V / m) (7.43)
ε

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 52

EXERCÍCIOS

1) - Um condutor sólido tem uma superfície descrita por x + y = 3 m, estendendo-se até a origem. Na
r r
superfície a intensidade de campo elétrico é 0.35 V/m. Expresse E e D na superfície e encontre a
densidade superficial de cargas.

2) - Um condutor que se estende pela região z < 0 tem um lado no plano z = 0, sobre o qual existe
uma densidade superficial de cargas ρ s =5×10 −10 e −10 r sen 2 φ(C / m 2 ) em coordenadas
cilíndricas. Calcule a intensidade do campo elétrico em (0.15 m, π/3, 0).

3) - Um condutor esférico centrado na origem e com raio igual a 3 m apresenta uma densidade
superficial de cargas ρ s = ρ 0 cos 2 θ (C / m 2 ) . Encontre o vetor intensidade de campo elétrico na
superfície.

4) - A intensidade do campo elétrico em um ponto sobre a superfície de um condutor é dada por


r
E = 0,2a$ x − 0,3a$ y − 0,2a$ z . Quanto vale a densidade superficial de cargas nesse ponto?

5) - Calcule os módulos do vetor densidade de fluxo elétrico, polarização, e a permissividade relativa


para um material dielétrico no qual E = 0,15 MV/m, com χe = 4,25.
r
6) - Dado E = − 3a$ x + 4a$ y − 2a$ z V / m na região z < 0, onde εr = 3,0, encontre o vetor intensidade
de campo elétrico na região z > 0, para qual εr = 6.0.

7) -A interface plana entre dois dielétricos é dada por 3x + z = 5 m. No lado que engloba a origem,
r
D 1 = (4,5a$ x + 3,2a$ z ) × 10 −7 C / m 2 ) e εr1 = 4,3, enquanto que, no outro lado, εr2 = 1,8. Encontre
r r r
E1 , E 2 , D 2 e θ 2 .

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8
8.1 - RESISTÊNCIA E LEI DE OHM
RESISTÊNCIA E CAPACITÂNCIA

r r
A equação J = σE , vista no capítulo 6 como a densidade de corrente de condução, é também
conhecida como a forma pontual da lei de Ohm. Multiplicando ambos os lados pela secção
transversal de área S, ela ficará:
r r
J . S = σSE (A ) (8.1)

I = σSE (A ) (8.2)

Se o campo elétrico for uniforme, ele pode ser definido como sendo o quociente da diferença de
potencial entre dois pontos, pela distância entre eles. Então:

σSV (8.3)
I = (A )
L

O termo σS é o inverso da resistência R do material, e caímos na conhecida lei de Ohm:


L
V V
I = (A ) ; R = ( Ω) (8.4)
R I

Quando os campos não forem uniformes, a resistência pode ainda ser definida como sendo a relação
entre V e I, onde V é a diferença de potencial entre duas superfícies especificadas no material, e I é a
corrente que atravessa a superfície mais positiva dentro do material:

a r r
− ∫ E.dL (8.5)
R = b r r (Ω )
∫ σE.dS
S

Exemplo 8.1
Considere um cabo coaxial com dois cilindros condutores concêntricos de raios a m e b m, conforme
a figura 8.1. Uma diferença de potencial entre eles estabelece uma corrente de fuga entre o condutor
interno e o externo do cabo. Se a corrente de fuga for I A/m, e a condutividade do material igual a σ
S/m, calcule o valor da resistência de fuga.

Solução

a
b
b

Fig. 8.1 - Cabo Co-axial

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Pela simetria do problema, a corrente entre os


dois condutores se distribui radialmente. r I
E = . a$ r ( V / m)
2πrσ
Vamos inicialmente calcular a densidade de
r
corrente J em um ponto distante r do centro A diferença de potencial entre os dois cilindros
do cabo. Para um metro de cabo, a corrente condutores é:
de fuga total será:
a r r
I = ∫
r r
J . dS (A )
Vab = Va − Vb = − ∫ b
E. dr ( V)

a

I
I = J .2 πr.1 (A ) Vab = − . dr ( V)
b 2πrσ
r I
J = . a$ r (A / m 2 ) I b
2 πr Vab = ln ( V)
2πσ a
r
O campo elétrico E em um ponto r será, Portanto, a resistência de fuga por metro será:
portanto:
r Vab 1 b
r J R = = ln ( Ω)
E = ( V / m) I 2πσ a
σ

Exemplo 8.2
Considere agora que o dielétrico entre os dois condutores é formado por dois meios, conforme a
figura 8.2. Calcule a resistência de fuga por metro deste cabo co-axial.

Solução

V V
R= = (Ω)
I I1 + I 2
a σ2
σ1
V
R= (Ω)
b V +V
R1 R2

Fig. 8.2 - Cabo co-axial com 2 dielétricos em R 1 .R 2


R= (Ω)
paralelo R1 + R 2
Como a corrente se distribui radialmente e há
Por analogia com o exemplo anterior podemos
dois meios diferentes, podemos considerar
escrever as expressões para R1 e R2:
que ela é a soma de duas correntes I1 e I2.

1 b 1 b
I = I1 + I 2 (A ) R1 = ln ( Ω) ; R2 = ln ( Ω)
πσ 1 a πσ 2 a
A diferença de potencial entre os dois
condutores é constante. Portanto:
A resistência (equivalente) será dada por:
V V
R1 = ( Ω) ; R2 = ( Ω) 1 b
I1 I2 R= ln (Ω)
π(σ1 + σ 2 ) a

Exemplo 8.3
Considere agora a configuração mostrada na figura 8.3. Calcular a resistência de fuga.

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Solução
R 1 .I + R 2 .I = R.I (V)
σ2
b R = R 1 + R 2 (Ω)
c a r r
V1 = − ∫ E .d r (V)
c 1
a
σ1 I c
V1 = ln (V)
2πσ1 a

cr r
Fig. 8.3 - Cabo co-axial com 2 dielétricos em
V2 = −∫ E 2 .d r (V)
série b

As correntes nos meios 1 e 2 são iguais : I b


V2 = ln ( V)
2 πσ 2 c
I = I1 = I 2 (A )
1 c 1 b
A diferença de potencial entre os condutores R1 = ln ( Ω) ; R2 = ln ( Ω)
2 πσ 1 a 2 πσ 2 c
é:

V = V1 + V2 ( V) 1 ⎛ 1 c 1 b⎞
R= ⎜ ln + ln ⎟ (Ω)
2π ⎜⎝ σ1 a σ 2 c ⎟⎠
V1 = R 1 . I ( V) ; V2 = R 2 . I ( V)

8.2 - CAPACITÂNCIA

Sejam dois condutores imersos em um dielétrico homogêneo, conforme a figura 8.4. O condutor M1
possui uma carga de Q coulombs positivos, e o condutor M2 uma carga de mesma magnitude, porém
de sinal contrário. Existe, pois, uma diferença de potencial V entre esses dois condutores.

A capacitância C deste sistema é definida como:

Q
C = ( F) (8.6)
V

ou:
r r
∫ .dS
εE
C = M1 r r (F) (8.7)
− ∫ E.dL
M2

E
M1 M2

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 56

Fig. 8.4 - Dois condutores carregados, imersos em um dielétrico.


Exemplo 8.4
Considere o capacitor da figura 8.5 com duas placas paralelas iguais de área S, separadas por uma
distância d. O dielétrico entre elas tem permissividade ε. Calcular a capacitância C.

Solução

+ σs d

E
- σs

Fig. 8.5 - Capacitor de placas paralelas

Q ρsd
C = ( F) V = ( V)
V ε

Q = ρ s . S (C) ρ sS εS
C = = ( F)
( ρ s ε)d d
sup r r 0 ρs
V = − ∫inf
E. dL = − ∫ d ε
. dz ( V)
independente de Q e V.

Exemplo 8.5
Suponha agora que o dielétrico tenha a configuração mostrada na figura 8.6. Calcular a capacitância
C.

Solução

E V
d

Fig. 8.6 - Capacitor com 2 dielétricos em paralelo.

Pelas condições de fronteira:


r r
E t1 = E t 2 ∫ D. dS = Q
s
( C)

r r r r r
E1 = E 2 = E ∫ s1
D 1 . dS = Q 1 ( C)

r r r
D1 = ε1E1 = ε1E (C / m2 ) r r

r r r
∫s2
D 2 . dS = Q 2 ( C)

D2 = ε 2 E 2 = ε 2 E (C / m2 )
Q = Q1 + Q 2 ( C)
Pela lei de Gauss:

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 57

r r r r
∫ ∫ ( ε 1S 1 + ε 2S2 )
D 1 . dS + D 2 . dS = Q V
( C) = Q ( C)
s1 s2 d
ε 1S 1 ε S Q
D 1S 1 + D 2 S 2 = Q ( C) + 2 2 = ( F)
d d V

ε 1 E.S1 + ε 2 E.S 2 = Q ( C) C1 + C 2 = C ( F)

Exemplo 8.6
Tendo o dielétrico entre as placas a configuração da figura 8.7, calcular a capacitância C.

Solução

V2
D V
d
V1

Fig. 8.7 - Capacitor com 2 dielétricos em série


r r

Pelas condições de fronteira: D. dS = Q ( C)
D n1 = D n 2 = D
Q
D. S = Q ( C) ⇒ D = (C / m 2 )
ε1E1 = ε 2 E 2 (C / m ) 2 S

d1 d
V1 = E1d1 ( V) ; V2 = E 2d 2 ( V) V=Q +Q 2 ( V)
Sε 1 Sε 2
V = V1 + V2 ( V)
V d d
= 1 + 2
D D Q ε 1S ε 2S
V = d1 + d2 ( V)
ε1 ε2
1 1 1
= + (1 / F)
Pela lei de Gauss: C C1 C2

EXERCÍCIOS

1) - Calcule a resistência entre duas superfícies curvas concêntricas, uma de raio r = 0.2 m, outra de
raio 0.4 m, limitadas por um ângulo de 30º, se o material entre elas possui condutividade σ =
6,17×107 S/m.

2) - Calcule a resistência de um condutor de alumínio com condutividade 35 MS/m, de 2 m de


comprimento, seção reta quadrada de 1 mm2 em uma extremidade, aumentando linearmente para
4 mm2 na outra extremidade.

3) - Por um defeito de fabricação, um cabo coaxial possui um deslocamento entre os centros dos
condutores interno e externo conforme mostrado na figura 1. Tendo o dielétrico uma condutividade
de 20 µS/m, determine a resistência de isolação por metro desse cabo.

4) - Resolver o problema anterior, considerando agora os cabos concêntricos. Compare os


resultados.

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 58

5) - Encontre a capacitância entre as superfícies condutoras do capacitor mostrado na figura 2,


preenchido por um dielétrico de permissividade relativa 5,5.

0.8 cm

2 cm
4 cm

figura 1 - figura do problema 3

εr = 5,5

30º
60 mm

5 mm

4 mm

figura 2 - figura do problema 5

6) - Calcule a capacitância por unidade de comprimento entre um condutor cilindrico de 6 cm de


diâmetro e um plano condutor, paralelo ao eixo desse cilindro, distante 10 m do mesmo.

7) - Um capacitor de placas paralelas com área de 0,30 m2 e separação 6 mm contém três dielétricos
assim distribuídos : εr1 = 3.0, com espessura de 1 mm. εr2 = 4.5 com espessura de 2 mm e εr3 =
6,0 com espessura de 3 mm. Aplicando-se uma ddp de 1200 V sobre o capacitor, encontre a
diferença de potencial e o gradiente do potencial (intensidade do campo elétrico) em cada
dielétrico.

8) - A figura 3 mostra um cabo coaxial cujo condutor interno possui raio de 0,6 mm e o condutor
externo raio de 6 mm. Calcule a capacitância por unidade de comprimento com os espaçadores
como indicado com constante dielétrica 6,0.

12.5mm

50 mm

figura 3 - figura do problema 8

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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 59

9) - Um cabo de potência blindado opera com uma tensão de 12,5 kV no condutor interno em relação
à capa cilíndrica. Existem duas isolações: a primeira tem permissividade relativa igual a 6,0, e é do
condutor interno em r = 0,8 cm a r = 1,0 cm, enquanto que a segunda tem permissividade relativa
igual a 3,0 e vai de r = 1,0 cm a r = 3,0 cm, que corresponde à superfície interna da capa externa.
Encontre o máximo gradiente de tensão em cada isolação empregada.

10) - Um certo cabo de potência blindado tem isolação de polietileno para o qual εr = 3,26 e rigidez
dielétrica 18,1 MV/m. Qual é o limite superior de tensão sobre o condutor interno em relação à
blindagem quando o condutor interno possui raio de 1 cm e o lado interno da blindagem
concêntrica apresenta raio de 8,0 cm ?

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67

CAMPOS MAGNETOSTÁTICOS

9 PRODUZIDOS POR CORRENTE


ELÉTRICA

9.1 - A LEI DE BIOT-SAVART

A partir de medidas de torque em uma agulha magnética, Jean Baptiste Biot e Felix Savart descobriram,
em 1820, que a intensidade do campo magnético ∆H devido a um pequeno elemento condutor de
comprimento ∆L m, percorrido por uma corrente I A, conforme mostrado na figura 9.1, é expresso por:

1 I ∆L sen θ
∆H = ( A / m) (9.1)
4π R2

P
∆H

θ
R

∆L

Figura 9.1 - Campo magnético produzido por um elemento de condutor

Substituindo ∆H por dH e ∆L por dL, chegamos à Lei de Biot-Savart:

1 I dL sen θ
dH = (A / m ) (9.2)
4π R2

Em notação vetorial, a equação 9.2 pode ser escrita como:


r r r
r 1 I(d L × â r ) 1 I(dL × R )
d H= = (A (9.3)
4π R
2
4π R
3

onde:

I (A) Corrente elétrica.


r
dL (m) Elemento vetorial de condutor, com a direção da corrente.
r
R (m) Vetor orientado para o ponto P, com magnitude da distância
entre o elemento de condutor e o referido ponto P.
r
dH (A/m) Elemento vetorial da intensidade de campo magnético, ortogonal
r r
a dL e a R .

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68

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69

9.1.1 - Relação de Pyati - Uma Simplificação da Lei de Biot-Savart


r r r
O produto vetorial d L × R na equação 9.3 produz um vetor na direção de d H , que é perpendicular ao
r r r r r
plano que contém R e dL . Na figura 9.2 R e dL estão no plano yz, resultando em dH perpendicular, isto
é, na direção x. Para esta condição particular, temos:
r r r r
dL × R dL dL R R dθ dθ
3
= 2
× = â i 2
× â r = â x (9.4)
R dL R R R R

onde:

ai Vetor unitário na direção da corrente I


r
ar Vetor unitário na direção de R
ax Vetor unitário na direção x, resultado de â i × â r
dθ Ângulo com vértice em P, definido por dL (em radianos).

I
dL
θ2


R
θ1 y

x P

Figura 9.2 - Elemento condutor de corrente e ponto P situados no mesmo plano.

Assim, para os casos onde o condutor e o ponto P, onde se deseja conhecer o campo magnético, estejam
no mesmo plano, a lei de Biot-Savart se simplifica a:

r I dθ
dH = â x (A / m ) (9.5)
4π R

Para um condutor longo, compreendido entre os ângulos θ1 e θ2 (linha tracejada na figura 9.2), nós
temos:

θ (9.6)
I 2 dθ
4π θ∫ R
Hx = (A / m )
1

Esta é uma simplificação da lei de Biot-Savart proposta por V. Pyati na revista IEEE-Transactions on
Education, vol E-29, fev. de 1986.

Exemplo 9.1
Encontrar o campo magnético H em A/m a uma distância a m de um fio retilíneo infinitamente longo,
percorrido por uma corrente I A.

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70

Solução

H
θ
R a

dL
i

Figura 9.3 - Campo magnético em um ponto, devido a um condutor retilíneo.

I
π 2
dθ 1 cos θ
=
H= ∫
4 π −π 2 R R a
π2
a = R cos θ I cos θd θ
H= ∫
4π − π 2 a
a
R=
cos θ H=
I
(A / m )
2 πa

Exemplo 9.2
(a) Encontrar o campo magnético no centro de um anel de raio R m, percorrido por uma corrente I A. (b)
Encontre também o campo H em um ponto z ao longo do eixo do anel.

Solução
R
a) Pela relação de Pyati: cos γ =
r

I dφ I
4 π ∫0 R 2 R
H= = IR
dH z = dL
4πr 3

b) Pela lei de Biot-Savart, conforme figura 9.4: dL =Rdφ

1 IdL sen θ 2π 2π
dH z = cos γ IR 2d θ IR 2
Hz = ∫
) ∫
4π = dφ
r2
0
4 πr 3 (
4 π R 2 + z2
32
0

θ= 90 o
IR 2
Hz = (A / m )
2 (R 2 + z 2 ) 3

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71

dHz

γ
dH

r
θ = 90º
γ

y
R
dL=Rdφ

Figura 9.4 - Campo magnético no eixo de um anel

9.2 - A LEI DE AMPÈRE

De acordo com o exemplo 9.1 a intensidade de campo magnético H a uma distância r de um fio reto e
longo é:

I
H= (A / m ) (9.7)
2πr

onde I é a corrente que passa pelo condutor.

Se H for integrado ao longo de um caminho L circular de raio r, circundando o condutor, teremos:

r r I I (9.8)
∫L .dL = 2πr ∫LdL = 2πr 2πr
H

r r
∫L H.dL = I (9.9)

A corrente elétrica pode ser escrita de uma forma generalizada, como sendo a integral do vetor densidade
de corrente, calculada em uma superfície definida pelo caminho fechado sobre o qual o vetor intensidade de
campo magnético é integrado. Assim:
r r r r
∫ .dL=∫ J.dS
H (9.10)
L S

A equação 9.10 é válida para qualquer caminho fechado L, e é conhecida como a lei de Ampère.

r
A integral de linha do vetor intensidade de campo magnético H ao longo de um
Conceito caminho fechado L, é igual a corrente total envolvida por esse caminho

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73

Exemplo 9.3
Um condutor sólido e cilíndrico de raio R é percorrido por uma corrente I A, que se distribui uniformemente
r
sobre a seção circular do condutor. Encontre expressões para H dentro e fora do condutor. Esboce
r
graficamente a variação de H , em função de r, sendo r medido a partir do centro do condutor.

Solução

. 2
πr 2 r
I'= I =I 
πR 2
R 
H
r
e a intensidade de campo magnético H será:
H
r R
r 1 r2 I
r H= I 2 = r â φ (A / m )
2 πr R 2πR 2

Graficamente teremos:

H(A/m)
Figura 9.5 - Condutor cilíndrico com corrente
uniforme
I/2πR
r
Fora do condutor, H será:

r I
H= â φ (A / m )
2 πr
R r(m)
pois o caminho L engloba toda a corrente no
condutor.
Figura 9. 6 - Variação de H dentro e fora do
Para o interior do condutor a corrente envolvida condutor.
pelo caminho L será

Exemplo 9.4
Considere um condutor cilíndrico de raio R m, transportando uma corrente cuja densidade na seção
transversal é Jc = Kc.r (A/m2), onde K é uma constante e r é a distância radial partindo-se do centro do
condutor. Determine:

a) - O valor de B no interior do condutor.


b) - O valor de B exterior ao condutor
c) – O gráfico de B = f(r)

Solução
a) 2π r
B
µ 0 ∫L
dL= ∫ ∫0 K c r r dr dφ
r
B r r r 0

∫L µ0 .dL=∫SJ.dS r
B
2 πr = 2 π∫ K c r 2dr
A indução magnética é constante ao longo do µ0 0
círculo de raio r. Portanto:
r2
B =µ 0 K c (T )
3

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74

b)

Fora do condutor, a corrente será a corrente total: H(A/m)

2π R µ 0K c R 2 / 3
B
µ 0 ∫L
dL= ∫ ∫0 K c r
2
dr d φ
0

B R3
2 πr = K c 2π
µ0 3 R r(m)

µ0 K c R 3
B=
3r
Figura 9.7 - Variação de H dentro e fora do
condutor
Portanto, dentro do condutor o campo magnético
varia com o quadrado da distância r, e fora do
condutor a variação é com o inverso da distância.

9.3 - O ROTACIONAL E O TEOREMA DE STOKES

A equação:
r r
∫L H.dL = I (A)
(9.11)

r
relaciona a integral de linha do vetor intensidade de campo magnético H ao longo de um caminho fechado
L com a corrente total envolvida por esse caminho.

Embora relações envolvendo caminhos finitos sejam úteis em teoria de circuitos, é freqüentemente
desejável, na teoria de campos, relações que envolvam grandezas em um ponto no espaço. O Rotacional
aplica a lei de Ampère de uma forma pontual.

Considere uma área incremental ∆S, em um meio condutor, atravessada perpendicularmente por uma
corrente I (figura 9.8).

∆S

H
∆I

Figura 9.8 - Superfície incremental atravessada por corrente

Aplicando a lei de Ampère, e dividindo sua equação por ∆S, teremos:


r r
∫LH.dL = ∆I (A / m 2 ) (9.12)
∆S ∆S

Passando ao limite, com ∆S tendendo a zero:

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75

r r
lim L
=
∫ .dL
H
lim ∆I
( A / m2 ) (9.13)
∆S → 0 ∆S ∆S → 0 ∆S
r
O segundo membro da equação 9.13 é a densidade de corrente J e o primeiro membro representa uma
operação vetorial sobre um campo vetorial, denominada rotacional. Assim, podemos escrever:

(rot Hr ) â n=J
r
(A / m 2 ) (9.14)

r r
ân indica que rot H é um vetor perpendicular a ∆S na direção de J .
r
Vamos agora encontrar a expressão para rot H em termos das coordenadas cartesianas x, y e z.
Considere inicialmente um caminho fechado abcd na figura 9.9, com lados ∆y e ∆z que definem uma área
r
incremental ∆S e a componente em x do vetor J , Jx , no centro deste caminho fechado e perpendicular a
∆S.

z
Hy

d c
Hz Hz
Jx
a b
y
x Hy

r
Figura 9.9 - Circulação de H em uma superfície ∆S.

Pela lei de Ampère ao caminho que delimita a superfície ∆S


r r
∫ .dL = I
H (9.15)
L

Considerando cada trecho da integral separadamente e expandindo em torno da vizinhança do centro do


caminho abcd, tem-se:
r r
∫ H .dL = H y (∆y )ab + H z (∆z )bc − H y (∆y )cd − H z (∆z )da =
L

H 0 y ∆y −
1 ∂
2 ∂z
( )
H y ∆y ∆z + H 0z ∆z +
1 ∂
(H ∆z)∆y
2 ∂y z (9.16)

  

−  H 0 y ∆y +
1 ∂
(
H y ∆y ∆z  −  H 0 z ∆z − )
1 ∂
(H z ∆z )∆y 
 2 ∂z   2 ∂y 

Reduzindo a expressão acima, dividindo-a por ∆S = ∆y ∆z e passando ao limite tendendo a zero, podemos
escrever:

 ∂H z ∂ H y 
(rot H ) â
r
x=
 −  â = J x â x
∂z  x
(9.17)
 ∂y
r
Semelhantemente, nas direções y e z para J teremos:

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76

(rot Hr ) â y =
 ∂H x ∂H z 
−  â y = J y â y (9.18)
 ∂z ∂x 

(rot H ) â =  ∂∂Hx ∂H x 


r y
−  â = J z â z
∂y  z
z (9.19)

Assim:

r  ∂H ∂H y  ∂H ∂H z   ∂H y ∂H x 
rot H =  z −  â x +  x −  â y +  −  â z =
 
 ∂y ∂z   ∂z ∂x   ∂x ∂y  (9.20)

J x â x + J y â y + J z â z

ou:
r r
rot H = J (A / m 2 ) (9.21)

Lembrando que:


∇= ( )â x + ∂ ( )â y + ∂ ( )â z (9.22)
∂x ∂y ∂z

para:
r
H = H x â x +H yâ y + Hz â z (9.23)

r
vamos fazer a operação ∇ × H . Assim, teremos:

â x â y â z
r ∂ ∂ ∂
∇ × H= (9.24)
∂x ∂y ∂z
Hx Hy Hz

r  ∂H ∂H y   ∂H ∂H z   ∂H y ∂H x 
∇ × H=  z −  â x +  x −  â y +  −  â
∂y  z
(9.25)
 ∂y ∂z   ∂z ∂x   ∂x

ou:
r r
∇ × H= J (9.26)

Portanto, o rotacional do vetor intensidade de campo magnético pode ser escrito em termos do produto
vetorial do operador nabla pelo vetor intensidade de campo magnético, expressando a lei de Ampère na
forma pontual, quando os vetores tiverem suas componentes expressas em coordenadas cartesianas.

r
A circuitação do vetor intensidade de campo magnético H em uma superfície que tende a
Conceito zero (caracterizando um ponto no espaço), dividida pela área dessa superfície, é o vetor
r
densidade de corrente J neste ponto .

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r r
Em coordenadas cilíndricas (r , φ, z ) e esféricas (r , θ, φ ) o rot H , ou ∇ × H em abuso de notação, é
expresso respectivamente por:

r 1  ∂H z ∂H φ   ∂H ∂H z  1  ∂(rH φ ) ∂ Hr 
∇ × H =  − â r +  r − â φ +  − â z (9.27)
r  ∂φ ∂z   ∂z ∂r  r  ∂r ∂φ 

r 1  ∂ (H φ sen θ) ∂H θ  1  1 ∂ (H r ) ∂ (rHφ ) 
∇× H =  − â r +  − â θ
r sen θ  ∂φ ∂φ  r  sen θ ∂φ ∂r 
(9.28)
1  ∂(rH θ ) ∂ Hr 
+  − â φ
r  ∂r ∂θ 

Exemplo 9.5
Considere um condutor cilíndrico com raio R m, percorrido por uma corrente I A, uniformemente distribuída.
r
Encontre ∇ × H dentro e fora do condutor.

Solução

I
Hφ =
Hφ 2πr

Hφ Portanto, dentro do condutor, o rotacional em


r
R coordenadas cilíndricas, conforme a equação
r (9.27), fornece:
I
r 1 ∂  r2I 
∇× H=  â (A / m 2 )
r ∂r  2πR 2  z

Figura 9.10 - condutor percorrido por corrente I r I


∇ × H= 2 â z ( A / m 2 )
O vetor intensidade de campo magnético será πR
expresso em coordenadas cilíndricas por:
Ou ainda, como esperado:
r
H = H φ â φ r r
∇ × H = J (a / m 2 )
Pela lei de Ampère, dentro do condutor, Hφ vale:
Fora do condutor:

I
Hφ = r r 1 ∂  rI 
2 πR 2 ∇× H= 
2
 a$ z ( A / m )
r ∂r  2πr 

e fora dele: r
∇ × H= 0

9.3.1 - O TEOREMA DE STOKES

Considere a superfície S, dividida em superfícies incrementais ∆S, mostrado na figura 9.11.

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78

(A figura será feita em sala de aula)

Fig. 9.11 - Superfície dividida em superfícies incrementais.


Sabemos que:
r r
∫ .dL
H
L
∆S
( r
)
= ∇ × H â n ( A / m 2 ) (9.29)

ou

∫ H.dL = (∇ × H)â n ∆S = (∇ × H)⋅ ∆S


r r r r r
(9.30)
L

Realizando uma circulação para todas as áreas incrementais, e somando os resultados, a maioria dos
termos se cancela, com exceção dos que estão no contorno da superfície S. Portanto:

∫( )
r r r r

L
H.dL = ∇ × H ⋅ dS
S
(A ) (9.31)

A equação acima é chamada de Teorema de Stokes, e é válida para qualquer campo vetorial. Utilizando-o
na lei de Ampère:

∫ (∇ × H )⋅ dS = ∫ J.dS = ∫ H.dL
r r r r r r
(A ) (9.32)
S S L

Pelas identidades acima percebemos que podemos facilmente partir da lei de Ampére na forma integral e
chegar na sua forma pontual e vice-versa, utilizando o teorema de Stokes.

O conceito do rotacional pode também ser aplicado ao campo eletrostático. Se tomarmos a circuitação do
vetor intensidade de campo elétrico em um caminho fechado, teremos:
r r
∫ .d l = 0
E (9.33)
L

E aplicando à equação 9.33 o teorema de Stokes, teremos:


r
∇× E = 0 (9.34)

9.4 - FLUXO MAGNÉTICO φm E DENSIDADE DE FLUXO MAGNÉTICO B

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79

O campo magnético que é produzido pela passagem de um corrente elétrica i em um condutor existirá em
toda a região em volta do condutor. Assim, podemos dizer que uma superfície de área A próxima ao
condutor é atravessada por uma quantidade de fluxo magnético φ m , como pode ser visto pela figura 9.12.

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80

φm A

Fig. 9.12 - fluxo magnético atravessando uma superfície A.

Portanto, podemos definir a densidade de fluxo magnético (ou indução magnética) B como sendo:

φ m  Wb 
B=   (9.35)
A  m2 

Na equação 9.35 assume-se que as linhas de campo magnético são perpendiculares à área A. Caso as
linhas de fluxo não atravessem a superfície perpendicularmente a ela (figura 9.13), de modo geral, o fluxo
que a atravessa pode ser expresso por:

φ m =B A cos α ( Wb ) (9.36)

onde:

φm (Wb) fluxo magnético através de A


B (Wb/m2) magnitude da densidade de fluxo magnético B.
α rad ângulo entre a normal à área A e a direção de B.

Se B não é uniforme sobre a área considerada, o produto da equação 9.36 deve ser substituído por uma
integral de superfície:

∫∫ B cos α dS
φm= ( Wb) (9.37)
S

Fig. 9.13 - Fluxo magnético atravessando uma área A

Finalmente, a equação 9.37 pode ser escrita como um produto escalar. Assim:

r r
∫∫
(9.38)
φm= B ⋅ dS ( Wb)
S

r
A relação entre o vetor intensidade de campo magnético, H , e o vetor densidade de fluxo magnético

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81

r
( ou vetor indução magnética) B , é dada por :
r r
B = µH (Wb / m 2 ) (9.39)

onde µ (Wb/(A.m)) é a permeabilidade magnética do meio.

9.4.1 - Fluxo Magnético Sobre uma Superfície Fechada - Lei de Gauss para o Magnetismo

As linhas de fluxo de campos elétricos estáticos iniciam e terminam em cargas elétricas. Por outro lado,
as linhas de fluxo de campos magnéticos são contínuas, isto é fecham-se em si mesmas. Isto significa
que não existem cargas magnéticas isoladas. Esta é uma diferença fundamental entre campos elétricos e
campos magnéticos. Para descrever a natureza contínua do campo magnético, costuma-se dizer que a
densidade de fluxo B é solenoidal (figura 9.14)

Uma vez que o fluxo magnético é contínuo, a mesma quantidade de fluxo que entra em uma superfície
fechada deve deixá-lo. Em outras palavras, o fluxo líquido que atravessa uma superfície fechada é nulo.
Matematicamente isso pode ser expresso como:

r r
∫ B.dS = 0 (9.40)
s

Fig. 9.14 - Linhas de fluxo


fechando-se em si mesmas -
S N um campo solenoidal

Aplicando a equação 9.40 ao teorema da divergência teremos:

∇.B=0 (9.41)

A equação 9.41 (ou a sua versão, na forma integral, equação 9.40) descrevem a natureza contínua do fluxo
magnético. Ela também faz parte de um grupo de equações, conhecido como equações de Maxwell.

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82

EXERCÍCIOS

1)- Mostre que o campo magnético devido a um elemento de corrente finito mostrado na figura abaixo é
dado por:

r I
H= (sen α1 −sen α 2 )â φ
4π r

α1
P
α2

figura do problema 1
r
2) - Se B= 3 xâ x − 3 yâ y + â z , encontre o fluxo magnético que atravessa as superfícies de um volume
limitado pelos planos x = 1 m, x = 6 m, y = 0, y = 4 m, z = 1 m e z = 7 m.

3) - Duas bobinas circulares com 500 mm de raio e 60 espiras cada uma são montadas ortogonalmente
entre si, com o objetivo de neutralizar o campo magnético gerado pela Terra no centro comum delas.
Uma bobina está na horizontal, no plano da Terra, e a outra na vertical. Neste ponto, o campo
magnético da Terra é de 1 gauss (10-4 T) formando um ângulo de 60º com o plano da Terra e um
ângulo de 15º na horizontal para o oeste, tendo o norte como referência. Encontre a corrente em
cada bobina para que o campo magnético produzido pela Terra neste ponto seja anulado.

4) - Três enrolamentos simples com 1 m de raio estão colocados a 1 m um do outro, com os seus eixos
coincidindo com o eixo z. Se todos os 3 enrolamentos são percorridos por correntes de mesma
intensidade e no mesmo sentido, faça um gráfico normalizado da variação de B (B max = 1), ao longo
do eixo z, com o ponto inicial a 1 m abaixo do primeiro enrolamento, e o ponto final a 1 m acima do
terceiro enrolamento.

5) - Um fio flexível de comprimento L m é dobrado em um (a) círculo, (b) triângulo eqüilátero e (c) um
quadrado. Encontre o valor de B no centro de cada configuração, quando percorrido pela mesma
corrente e compare suas intensidades em cada caso.

6) - Nas configurações abaixo, cada condutor conduz uma corrente I ampères. Qual é o valor da integral
r
de linha do vetor intensidade de campo magnético H em cada caso ?

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83

(a) (b) (c)

7) - Um condutor cilíndrico de raio 0.02 m possui um campo magnético interno:

r r r2 
H = (4 ,77 × 10 5 ) − a A / m
−2  φ
 2 3 ×10 

Qual é a corrente total no condutor?

8) - Em coordenadas cartesianas a região -b ≤ z ≤ b m. suporta uma densidade de corrente constante J


r
= J0ây (A/m2) (figura abaixo). Use a lei de Ampère para obter H em todo o espaço.

x
-b

figura do problema 9

9) - Um cabo coaxial com condutor interno de raio a m, condutor externo com raio interno b m e raio
externo c m, é percorrido por uma corrente I A uniformemente distribuída (as direções em cada
condutor são opostas entre si). Mostre que para b ≤ r ≤ c m :

r 1  c 2 −r 2 
H=  â
2 πr  c 2 −b 2  φ

r −2 z 1  r
10)- Dado o vetor genérico A = e sen φâ φ em coordenadas cilíndricas, calcule o rotacional de A em (
2 
0,8; π/3; 0,5).

r 2 cos θ sen θ r
11)- Dado o vetor genérico A = â r + a θ , mostre que o rotacional de A é nulo para todo o
r3 r3
espaço.

r r r r
12)-Encontre J se (a) H = 3.a x + 7 y.a y + 2x .a z (b) H = 6 r.a r + 2 r.a φ + 5.a z e (c) H = 2 r.a r + 3 .a θ + cos θ.a φ

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81

10 FORÇA MAGNÉTICA SOBRE


CONDUTORES

10.1 - EFEITO DE UM ÍMÃ EM UM FIO CONDUZINDO CORRENTE

Considere o campo magnético uniforme entre os pólos de um imã permanente, como pode ser visto na
figura 10.1.

N S

Fig. 10.1 - Campo magnético de um imã permanente

Introduzamos agora um condutor conduzindo uma corrente I A neste campo magnético, conforme a figura
10.2. O condutor tem a direção perpendicular à figura, com a corrente saindo. O campo magnético
provocado pelo condutor reforça o campo do imã permanente na parte de baixo do campo, e o enfraquece
na parte de cima. Conseqüentemente haverá uma força de compensação tendendo a empurrar o condutor
na direção do campo mais fraco, reforçando-o para que o campo recupere a sua distribuição anterior.

N I S

Fig. 10.2 - Condutor conduzindo corrente imerso em um campo magnético.

A força que atua sobre o condutor será expressa por:

F= ILB( N) (10.1)

onde:

L (m) Comprimento efetivo do condutor sob interação magnética


B (Wb/m2) Magnitude da indução magnética
I (A) Corrente no condutor

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82

Se o condutor não cortar o campo perpendicularmente (figura 10.3), a força F será expressa por:

F= ILBsen θ ( N) (10.2)

I
B
θ

Fig. 10.3 - condutor cortando campo magnético

Para um elemento de corrente IdL:

dF= IdLBsen θ (N) (10.3)

As equações 10.2 e 10.3 são equações básicas para explicar o funcionamento de motores elétricos.

Resumindo, podemos utilizar notação vetorial e escrever:


r r r
dF = I (dL × B) ( N ) (10.4)

onde:
r
dF (N) Vetor indicando a magnitude e direção da força em um elemento de
condutor
I (A) Corrente no condutor
r
B (T) Vetor indicando a magnitude e direção da densidade de fluxo
r
dL (m) Vetor com direção do elemento de condutor.

10.2 - FORÇA ENTRE DOIS CONDUTORES LINEARES E PARALELOS

Considere dois condutores lineares e paralelos de comprimento L m, separados de uma distancia R m no


ar, como na figura 10.4. O condutor 1 é percorrido por uma corrente I A, e o condutor 2 por uma corrente I'
A em direção contrária.

F1 F2

I1 I2

Fig. 10.4 - Dois condutores paralelos percorridos por correntes

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83

O campo magnético resultante é mais forte entre os dois condutores do que fora deles, conforme é
sugerido na figura 10.5. Assim, intuitivamente podemos perceber que a força entre eles será de repulsão.
Isso pode ser confirmado pela regra da mão esquerda: a força magnética F no polegar, o campo B no
indicador e a corrente I no dedo médio, ortogonais entre si. Assim, se as correntes forem na mesma
direção, a força será de atração.

Fig. 10.5 - Campo magnético entre dois condutores paralelos

A magnitude da força sobre o condutor 2 é:

L (10.5)

F = I' B dL = I' BL ( N)
0

Aproveitando o resultado do exemplo 10.1, o campo magnético provocado pela corrente do condutor 1, na
posição do condutor 2 será:

µI
B= ( Wb / m 2 )
2πR (10.6)

Assim, para F teremos:

µ 0II'
F= L ( N)
2πR (10.7)

Desde que os condutores possuem mesmo comprimento, e a equação 10.7 é simétrica em I e I', a
magnitude da força F' sobre o condutor 1 terá a mesma magnitude da força sobre o condutor 2.

Dividindo a equação 10.7 por L, teremos a força por unidade de comprimento:

F µ 0II '
= ( N / m)
L 2πR (10.8)

Se I = I', e introduzindo o valor de µ0 ,

I 2L
F = 2 × 10− 7 ( N) (10.9)
R

Se L = R = 1m, F = 2 × 10 −7 N , então teremos I = 1 A. Essa medida é utilizada para definir a unidade de


corrente Ampère (A).

Exemplo 10.1
Um fio transportando uma corrente 2I A é colocado entre 2 fios que transportam uma corrente I A cada um.
Os fios são paralelos e mantém entre si a mesma distância. As três correntes estão no mesmo sentido.
Determine a força magnética sobre cada um dos condutores.

Solução

µ 0 2I 2 onde :
F1,2 = F2,1 = ( N)
2πd

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84

F1, 2 = Força sobre o condutor 1, devido à interação F3, 2 = Força sobre o condutor 3, devido à interação
entre a corrente no condutor 1 e o campo entre a corrente no condutor 3 e o campo
produzido pela corrente do condutor 2. produzido pela corrente do condutor 2.

F2 ,1 = Força sobre o condutor 2, devido à interação µ0I2


F1,3 = F3,1 = ( N)
entre a corrente no condutor 2 e o campo 4πd
produzido pela corrente do condutor 1.
onde:
µ 2I 2
F2, 3 = F3,2 = 0 ( N) F1, 3 = Força sobre o condutor 1, devido à interação
2πd
entre a corrente no condutor 1 e o campo
onde: produzido pela corrente do condutor 3.

F2 ,3 = Força sobre o condutor 2, devido à interação F3,1 = Força sobre o condutor 3, devido à interação
entre a corrente no condutor 2 e o campo entre a corrente no condutor 1 e o campo
produzido pela corrente do condutor 3. produzido pela corrente do condutor 1.

As forças sobre o condutor 2, F2 ,1 e F2 ,3 possuem


a mesma magnitude, porém estão em direções
opostas. Portanto:
F3,1 F1,3
r r r
F2 = F2,1 + F2, 3 = 0
F3,2 F1,2
A força sobre o condutor 1 será:
F2,3 F2,1
5µ 0I 2
F1 = F1, 2 + F1, 3 = ( N)
4πd

I 2I I
A força sobre o condutor 3 será:

3 2 1
5µ 0 I 2
F3 =F3,1 + F3, 2 = ( N)
4 πd
Fig. - 10.6 - 3 condutores conduzindo corrente
E a força sobre o condutor 2 será nula.

10.3 - TORQUE SOBRE UMA ESPIRA PERCORRIDA POR CORRENTE - MOMENTO MAGNÉTICO

Quando uma espira de corrente é colocada em um campo magnético, as forças que atuam sobre a espira
tendem a fazê-la girar em torno de um eixo. Tomaremos inicialmente uma espira retangular de lados L e d,
como mostra a figura 10.7 a seguir, onde o lado L é perpendicular ao plano do papel e representa o
comprimento do elemento finito de corrente responsável pela metade do torque da espira.
A componente Ft da força magnética F, vezes a distancia radial d é chamada de torque. O torque
(representado pela letra T) tem dimensão de força x distância (N.m).
r
A força em qualquer elemento dL da espira será:
r r r
d F=(dL × B)I (N) (10.10)

O ângulo entre o condutor e o campo magnético é 900. Portanto, a força sobre cada condutor ativo é:

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85

F=ILB ( N) (10.11)

Se a normal ao plano da espira faz um ângulo α com o campo magnético B, a força tangencial sobre cada
condutor ativo de comprimento L é:

Ft = ILB sen α ( N) (10.12)

e o torque será dado por:

d
T =2Ft =ILdB sen α ( N.m )
2 (10.13)

onde Ld =A é a área da espira. Assim:

T =IAB sen α ( N.m ) (10.14)

F Ft
90 -α n

α
B
d

Ft
F

Fig. 10.7- Torque sobre uma espira conduzindo corrente, imersa em um campo magnético

O produto I.A tem dimensão de corrente x área, e é o momento magnético da espira, expresso em
ampères x metro quadrado. Designando o momento magnético pela letra m:

T =mB sen α ( N.m) (10.15)

Se a espira tem N voltas, o momento magnético será:

m = N.I.A (A.m2) (10.16)

Finalmente, o momento magnético poderá ser representado vetorialmente como:

r
m = mn̂ (A.m 2 ) (10.17)

e o torque será expresso pelo produto vetorial:


r r r
T=m × B ( N.m) (10.18)

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86

Exemplo 10.2
Uma bobina retangular com 200 espiras de 0.3x0.15 m com uma corrente de 5,0 A, está em um campo
uniforme de 0,2 T. Encontre o momento magnético e o torque máximo.

Solução

A = 0.3 × 015
. = 0.045 m 2 m = nIA = 200 × 5 × 0.045 = 45 A. m 2

Tmax = mB = 45 × 02
. = 9 N. m

Exemplo 10.3
Um medidor de movimento tem um campo radial uniforme de 0.1 Wb/m2, e uma mola de torção com torque
Tm = 5,87x10-5θ N.m, θ em radianos. A bobina tem 35 espiras, e dimensões 23 mm x17 mm. Qual é o
ângulo de rotação que resulta de uma corrente de 15 mA na bobina?

Solução

B S
N

Fig. 10.8 - Medidor de D'Arsonval


r r r
T = m× B ( N. m)
No equilíbrio:

T = mB sen γ ( γ = 90o ) Te = Tm
m = NIA
2,05 × 10−5 = 5,87 × 10 −5 θ
−3 −6
m =35 ×15 × 10 × 23 ×17 ×10 =
0,205 ×10 − 3 A.m 2 θ = 0,35 rad ⇒ θ ≅ 20o

Te = 0,205 × 10− 3 × 01
, = 2,05 × 10− 5 N. m

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87

EXERCÍCIOS

1) - Uma película de correntes com densidade linear K = 30 ây A/m está localizada no plano z = 6 m.
Um condutor filamentar está sobre o eixo y, conduzindo 6,0 A na direção ây . Calcule a força por
unidade de comprimento que atua sobre este condutor.

2) - Uma espira circular de raio a m, conduzindo uma corrente I A está no plano z = h m, paralela a uma
película uniforme de corrente K = K 0â y A/m localizada em z = 0. Expresse a força sobre um
comprimento infinitesimal da espira. Integre este resultado e mostre que a força total é nula.

3) - Uma barra de 3 kg, condutora, horizontal, com 800 mm de comprimento, faz um ângulo de 60º em
relação a um campo magnético horizontal de 0.5 T. Que corrente é necessária na barra para fazê-la
flutuar contra a ação da gravidade?
r
4) - Dois condutores paralelos de comprimento L m são normais aB e percorridos por correntes de
intensidade I A e sentidos opostos, conforme mostra a figura a seguir. A separação fixa entre eles é
w m. Mostre que o torque relativo a qualquer eixo paralelo aos condutores é dado por BILwcosθ N.m.

w
B
θ

Figura do problema 4.

5) - Uma espira circular de corrente de raio r m e corrente I A está localizada sobre o plano z = 0.
Calcule o torque que resulta se a corrente está na direção aφ e existe um campo uniforme
r
B =B0 ( â x +â z ) / 2 (T) .

6) - Duas espiras circulares de raio R possuem um centro comum e estão orientadas de forma tal que
seus planos são perpendiculares entre si. Deduza a expressão que mostra o torque de uma espira
sobre a outra.

7) - Um elemento de corrente de 3 m de comprimento acha-se ao longo do eixo y, centrado na origem.


A corrente vale 6 A na direção ây . Se o elemento experimenta uma força de 1,5 (â x + â z ) / 2 N ,
devido a um campo uniforme B, calcule B.

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81

11 SOLENÓIDE E INDUTÂNCIA

11.1 - O SOLENÓIDE
Campos magnéticos produzidos por simples condutores, ou por uma única espira são, para efeitos
práticos, bastante fracos. Uma forma de se produzir campos magnéticos com maiores intensidades é
através de um solenóide. Um solenóide é um enrolamento helicoidal, conforme é mostrado na figura
11.1.

Considere que o enrolamento possua N voltas igualmente distribuídas ao longo do comprimento L do


solenóide. A corrente que flui pelo enrolamento é I A. Se o espaçamento entre uma espira e outra for
muito pequeno em relação ao raio de cada espira, podemos substituir o enrolamento por uma lâmina de
corrente superficial de densidade K onde:

I
K =N ( A / m) (11.1)
L
L

N I

S N
B

Fig. 11.1 - Um solenóide

Para achar a densidade de fluxo B no centro do solenóide, considere uma seção da lâmina com
espessura elementar dx, como se fosse uma única espira, cuja corrente é:

I
I e = Kdx = N dx (A) (11.2)
L

De acordo com o exemplo 9.2, a densidade de fluxo devido a um anel de corrente, ao longo do eixo
deste anel em um ponto x é:

µ Ie R 2
B= 3
( Wb / m 2 ) (11.3)
2 R +x
2 2

Ou, para o elemento de espessura dx considerando (11.2):

µNIR 2
dB = 3
dx ( Wb / m 2 ) (11.4)
2L R + x
2 2

A densidade total B no centro do solenóide é, portanto:

µNIR 2 L / 2 dx
B= ∫ ( Wb / m 2 ) (11.5)
2L −L / 2 R 2 + x 2 3

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82

Realizando a integração obtém-se:

µNI
B= ( Wb / m 2 ) (11.6)
4R 2 +L2

Se o comprimento do solenóide for muito maior do que o seu raio, a expressão 11.6 se reduz a:

µNI
B= = µK ( Wb / m 2 ) (11.7)
L

onde K é a densidade laminar de corrente em A.m-1.

As equações 11.6 e 11.7 dão o valor da indução magnética no centro do solenóide. Mudando os limites
de integração para 0 e L, teremos, para os extremos do solenóide:

µNI µNI µK
B= ≅ = ( Wb / m 2 ) (11.8)
2 R +L
2 2 2L 2

que é a metade do valor no centro da bobina.

Vamos agora encontrar o torque que tende a girar o solenóide, se este for imerso em um campo
magnético B. O torque será máximo se o eixo do solenóide for perpendicular ao campo magnético,
conforme é mostrado na figura 11.2, onde o eixo de rotação está no centro do solenóide. Supondo que
este seja de seção quadrada de lado d, a força tangencial de torque Ft num único segmento d de espira
sob interação magnética é:

Ft = BId. cos β ( N) (11.9)

r Ft
L/2
β B
r F
L /2

Fig. 11.2 - Torque no solenóide

Mas:

d
cos β = (11.10)
2r

Se considerarmos as duas espiras extremas, conforme a figura acima, temos um torque produzido por
quatro forças de mesma intensidade Ft. Portanto:

T= 4Ft .r = 2IBd 2 = 2IAB ( N.m) (11.11)

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onde A = d2 é a área da seção reta do solenóide. Observe que este torque é independente da distância
das espiras ao centro do solenóide. Estendendo o raciocínio, o torque total estará distribuído entre as
duas metades ao longo do comprimento do solenóide de modo que:

N
Tm = 2IAB = NIAB = m′.B ( N.m) (11.12)
2

onde m' = NIA é o momento magnético do solenóide.

Exemplo 11.1
Um solenóide uniforme possui 400 mm de comprimento, 100 mm de diâmetro, 100 espiras e uma
corrente de 3 A. Encontre a indução magnética B no eixo do solenóide: a) - no seu centro, b) - em uma
extremidade e c) - a meio caminho entre o centro e a extremidade.
Solução

a) -
µ 0 NI µNI
B= (T ) B= (T )
4R + L
2 2
2 R 2 + L2

4π × 10 −7 × 100 × 3 4π × 10 −7 × 3
B= = 0,915 (mT) B= = 0,468 (mT)
4 × 0,05 2 + 0,4 2 2 0,052 + 0,4 2

b) - c) - Faça-o como exercício.

11.2 - INDUTORES E INDUTÂNCIA


Um indutor é um dispositivo capaz de armazenar energia em um campo magnético. Ele deve ser visto
como uma contraparte no magnetismo ao capacitor, que armazena energia em um campo elétrico.
Exemplos típicos de indutores são espiras, solenóides, toróides, etc.

As linhas de fluxo magnético produzidas pela corrente que percorre o enrolamento de um solenóide
formam caminhos fechados. Cada linha de fluxo que passa por todo o solenóide concatena a corrente I
um número N de vezes. Se todas as linhas de campo se concatenam com todas as espiras, o fluxo
magnético concatenado Λ (lambda maiúsculo) é igual a:

Λ = Nψ m ( Wb.esp) (11.13)

Por definição, a indutância L é a razão entre o fluxo concatenado total e a corrente I.

Nψ m Λ
L= = (H) (11.14)
I I

A definição acima é satisfatória para meios com permeabilidade constante, como o ar. Como será visto
mais tarde, a permeabilidade de materiais ferromagnéticos não é constante, e nestes casos a indutância
é definida como sendo a razão entre a mudança infinitesimal no fluxo concatenado, pela mudança
infinitesimal na corrente.


L= (H) (11.15)
dI

Indutância tem dimensão de fluxo por corrente, e a sua unidade é o henry (H).

11.2.1 - Indutores de Geometria Simples


A indutância de diversos tipos de indutores pode ser calculada a partir de sua geometria. Como
exemplos, as indutâncias de um solenóide longo, um toróide, um cabo coaxial e uma linha formada por
dois condutores paralelos serão aqui calculadas.

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84

11.2.1.1 - Indutância de um Solenóide


Na seção 11.1 deduzimos uma expressão para o campo magnético no centro de um solenóide. Como
foi visto, a indução era menor nos extremos do solenóide, devido à dispersão do fluxo magnético. Se o
solenóide for suficientemente longo, podemos considerar que o valor da indução magnética é constante
em todo o interior do solenóide, e igual ao valor em seu centro.

A expressão para a indução magnética no centro de um solenóide muito longo é:

r µNI
B= ( Wb / m 2 ) (11.16)
d

Utilizamos a letra d ao invés da letra L, para representar o comprimento d solenóide, para evitar
confusão com a simbologia de indutância (L).

O fluxo concatenado do solenóide será então:

µN 2 IA
Λ= ( Wb) (11.17)
d

A indutância será então:

µN 2 A
L= (H ) (11.18)
d

onde:

L (H) Indutância do solenóide


I (A) Corrente no solenóide
µ (H.m-1) Permeabilidade magnética do meio
A (m2) Seção reta do solenóide
d (m) Comprimento do solenóide
N Número de espiras do solenóide

Exemplo 11.2
Calcule a indutância de um solenóide de 2000 espiras, enrolado uniformemente sobre um tubo de
papelão de 500 mm de comprimento e 40 mm de diâmetro. O meio é o ar.

11.2.1.2 - Indutância de um toróide


Se um solenóide longo é curvado em forma de círculo, e fechado sobre si mesmo, um toróide é obtido.
Quando esse toróide possui um enrolamento uniforme, o campo magnético é praticamente todo
confinado em seu interior, e B é substancialmente zero fora dele. Se a relação R/r for muito grande
(figura 11.3), podemos utilizar a expressão para o campo magnético em um solenóide para determinar
Λ:
Λ = NBA ( Wb) (11.19)

µNI µN 2 Iπr 2
Λ=N A= ( Wb) (11.20)
d 2πR

µN 2 r 2 I
Λ= ( Wb) (11.21)
2R

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85

r
B

i i

Fig. 11.3 – Um toróide

A indutância do toróide será:

µN 2 r 2
L= (H ) (11.22)
2R

11.2.1.3 - Indutância de um cabo coaxial


Considere agora uma linha de transmissão co-axial, muito utilizada em telecomunicações, conforme
mostrado na figura 11.4. A corrente no condutor interno é I, e o retorno pelo condutor externo de mesma
magnitude. Consideraremos que o fluxo magnético está confinado à região entre os condutores (Bext =
0). Portanto:

µI
B= (11.23)
2πr

O fluxo total concatenado para um comprimento c da linha de transmissão é:

b cµI b dr cµI b
Λ = c ∫a Bdr = ∫ = 2π ln a ( Wb)
2π a r (11.24)

A indutância para o comprimento c desse cabo é:

Λ µc b
L= = ln (H) (11.25)
I 2π a

c
b -I b
-I
a B
I
I a

c B

Fig. 11.4- Cabo co-axial

11.2.1.4 - Indutância de um cabo bi-filar

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86

Um outro tipo de linha de transmissão utilizada em telecomunicações é o cabo bi-filar, formado por dois
fios paralelos (figura 11.5).O raio de cada um é a, e a distância entre seus centros é D. para um dos
fios, em qualquer ponto r a indução magnética B é dada por:

µI
B= ( Wb / m 2 ) (11.26)
2πr

e o fluxo concatenado para um comprimento c será igual à 2 vezes a integral 11.24. Portanto, a
indutância para um comprimento c desse cabo é:

Λ µc D (11.27)
L= = ln (H)
I π a

raio do
condutor = a

I -I
B

D
Fig. 11.5 - cabo bi-filar

11.2.2 - Energia Armazenada em um Indutor


Um indutor armazena energia em um campo magnético, analogamente ao capacitor, que armazena
energia em um campo elétrico. A armazenagem da energia se dá com a variação do campo magnético.
Quando a corrente elétrica é alternada, existe uma permanente troca de energia entre o indutor e a
fonte, a medida que o tempo passa. Quando a corrente elétrica é contínua, a energia é armazenada
durante o período transitório que ocorre até que o seu valor em regime permanente se estabeleça. Uma
vez retirada a corrente, a energia armazenada no campo magnético flui do indutor para a fonte externa,
durante o transitório que ocorre até a corrente atingir o valor nulo.

A potência instantânea entregue pela fonte de alimentação ao indutor é dada por :

p = V.i (V.A) (11.28)

onde :

V (V) Tensão sobre o indutor, que é igual ao produto L. di dt .


i (A) Valor instantâneo da corrente
p (W) Potência instantânea no indutor

A energia entregue pela fonte ao indutor, Wm, é dada por:

I
di 1
Wm = ∫ pdt = ∫ Li dt = LI 2 (J ) (11.29)
0 dt 2

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87

EXERCÍCIOS

1) Calcule a indutância por unidade de comprimento de um cabo coaxial cujo condutor interno
possui raio a = 3 mm envolvido por outro de raio interno b = 9 mm. Para efeitos magnéticos
suponha µr = 1.
2) Um solenóide uniforme de 120 mm de diâmetro, 600 mm de comprimento e 300 espiras é
percorrido por uma corrente de 5 A. Uma bobina de 400 mm de diâmetro e 10 espiras é
colocada com o seu eixo coincidindo com o eixo do solenóide. Qual deve ser a corrente na
bobina de modo a anular o campo magnético em seu centro se esta estiver (a) no centro do
solenóide, (b) na extremidade do solenóide e (c) a meio caminho entre o centro e a
extremidade do solenóide?
3) Determine a indutância de um solenóide montado em um núcleo de ar, ao longo de um
comprimento de 1,5 m formando 2500 espiras circulares de espaçamento uniforme e raio de
2 cm.
4) Calcule a indutância por unidade de comprimento de dois condutores aéreos e paralelos com
raio de 2,5 cm separados por uma distância de 7,5 m.
5) Um condutor circular com 6 cm de raio encontra-se a 8 m de altura do solo. Determine a
indutância em cada metro de comprimento.
6) Encontre a indutância de um toróide com núcleo de ar apresentando uma secção reta circular
de raio 4 mm, 2500 espiras e raio médio 20 mm.
7) Dado um toróide com núcleo de ar formado por 700 espiras, com raio interno de 1 cm, raio
externo de 2 cm e altura 1,5 cm, determine a sua indutância empregando (a) a expressão
correta em função da sua geometria; (b) a expressão para um toróide genérico que supõe o
campo H uniforme num raio médio.
8) Um certo toróide com núcleo de permeabilidade magnética igual à do ar com secção reta
retangular apresenta um raio interno ri = 80 cm, raio externo re = 82 cm, altura h = 1,5 cm e
encontra-se envolvido por 700 espiras. Calcule a sua indutância usando as duas fórmulas do
problema anterior e compare os resultados.
9) Um toróide com seção transversal quadrada é limitado pelas superfícies r = 10 cm e r = 12
cm, z = – 1,0 cm e z = 1,0 cm. Obviamente, o raio médio do toróide é 11 cm e este é enrolado
com uma única camada de 700 espiras e excitado com uma corrente de 2,5 A na direção â z
r
em r = 10 cm. (a) Encontre a indutância do toróide e o campo magnético H no seu centro. (b)
Como mudará esta resposta se a seção transversal do toróide for reduzida à metade,
mantendo-se os mesmos raios interno e externo? (c) Com esta área reduzida, qual é a
densidade laminar de corrente fluindo na superfície do cilindro interno necessária para
produzir o mesmo resultado do item (a)?

UNESP – Apostila de Eletromagnetismo – Prof. Dr. Naasson Pereira de Alcântara Junior


119

12 TEORIA ELETRÔNICA DA
MAGNETIZAÇÃO

Sabemos que uma corrente elétrica passando por um condutor dá origem a um


campo magnético em torno deste. A este campo damos o nome de campo eletro-
magnético, para denotar a sua origem, ou seja, um campo magnético provocado
por uma corrente elétrica. Sabemos também que existem campos magnéticos
provocados por certos materiais, comumente chamados de imãs permanentes.
Dizemos que estes materiais tem a capacidade de manter um certo magnetismo
residual, uma vez colocados na presença de um campo magnético externo.
Entretanto, quer seja o campo provocado por uma corrente elétrica passando por um
condutor, quer seja o campo magnético devido a um imã permanente, devemos
saber que a origem de ambos é a mesma, ou seja: todo campo magnético é
provocado por corrente elétrica. No primeiro caso isto está bastante claro. Vamos
entender por que essa afirmação é válida também para o segundo caso.

12.1 - EFEITO DO FERRO EM CAMPOS MAGNÉTICOS ESTÁTICOS

O ferro tem a propriedade de multiplicar o efeito magnético de uma corrente. O


campo magnético no centro de um solenóide enrolado sobre uma pequena barra de
ferro é muito maior do que o campo magnético no centro do mesmo solenóide,
porém com núcleo de ar. Em outras palavras podemos definir o ferro com sendo um
“condutor de fluxo magnético", em analogia à materiais como o cobre, que são bons
condutores de corrente elétrica. Nós utilizamos esta propriedade para criar intensos
campos magnéticos, manipulá-los e guiá-los por onde desejarmos

12.1.1 - Magnetismo

O modelo ainda mais utilizado para representar a estrutura dos materiais é o modelo
atômico. O elemento básico é o átomo, que possui um núcleo relativamente pesado,
ao qual é atribuído sinal positivo, orbitado por cargas negativas (elétrons). Um
elétron orbitando em torno do núcleo de um átomo pode ser considerado, devido à
grande velocidade do movimento, como sendo um microscópico laço de corrente,
como é sugerido pela figura 12.1. Este laço de corrente tem um momento magnético
(dipolo) m, que é igual ao produto da corrente equivalente I, pela área A da espira
r
definida pelo laço de corrente. Este momento pode ser expresso como um vetor m ,
que é perpendicular ao plano do laço, com direção definida pela regra da mão
direita. (Devemos notar que a corrente I é oposta à direção do movimento da carga
negativa).
120

Quando ressa espira de corrente é colocada na presença de um campo magnético


externo B , haverá um torque tendendo a alinhar o momento do laço com o campo
externo, dado por:
r r r
T = m × B (12.1)

O módulo do torque resultante é :

T = m B senθ (12.2)

Quando o alinhamento é obtido o torque torna-se nulo.

Considere agora a situação mostrada na figura 12.2a, onde há milhares de laços


atômicos, orientados aleatoreamente.

B
m m
θ
Área A Área A

corrente I corrente I

figura 12.1 - Elétron girando em torno de um núcleo

Na figura 12.2b um campo magnético externo é aplicado, fazendo com que todos
os momentos magnéticos atômicos se alinhem na direção do campo magnético
externo. Olhando para esta configuração, percebemos que esse conjunto formado
por milhares de laços atômicos alinhados na mesma direção podem ser
considerados como sendo uma única espira delimitada pelo contorno do material
que contém os milhares de laços atômicos (figura 12.2c). Se agora tomarmos
milhares dessas espiras, como na figura 12.2d, nós obtemos uma capa de corrente
cilíndrica, semelhante a um solenóide.

Esta discussão simplista serve para dar uma idéia do fenômeno da magnetização.
Negligenciamos os efeitos da agitação térmica das moléculas, que interfere no
processo de alinhamento. Também consideramos o átomo como tendo um único
elétron orbitando o núcleo, quando pode haver mais de um, e desprezamos os
movimentos de rotação do elétron e do núcleo em torno de seus próprios eixos.
Embora muito longe de um rigoroso tratamento de mecânica quântica, nosso modelo
simplista permite ter uma visão bastante clara do fenômeno da magnetização. A
grande maioria dos fenômenos que estudaremos serão em escala macroscópica, e
não necessitarão de uma visão rigorosa dos fenômenos microscópicos envolvidos.
121

m
m m
m

m
B m
m
m
m m
B
m
B = 0 m m
B
m
m B
B m m
m
m
m

(a) (b) (c)

figura 12.2 - (a) - Momentos atômicos aleatoriamente direcionados, (b) - alinhados


com um campo externo, (c) - vista frontal mostrando grande laço externo

Momento Magnético
I Resultante

N espiras

(d)

figura 12.2 - (d) centenas de laços, como em um solenóide.

12.2 - O VETOR MAGNETIZAÇÃO M

Considere um toróide com núcleo de ar, área A e raio R mostrado na figura 12.3a. A
densidade de fluxo magnético no interior do toróide será:
122

N 0I
B0 = µ0
2 πR (12.3)

Mas N0I 2πR pode ser considerado com sendo a densidade de uma lâmina de
corrente, K. Então:

B0 = µ0K = µ 0H (12.4)

Seção de Área A
Seção de Área A

R
R

BB
00
N0 espiras BB
0m
Nm espiras

I I
I I

(a) (b)

figura 12.3 - (a) Toróide com N0 espiras produzindo um campo B 0 e (b) Toróide
com Nm espiras produzindo um campo B m

Se o mesmo enrolamento é colocado sobre um anel de ferro com a mesma área e


raio, o valor de B deverá aumentar substancialmente. Imagine agora que, ao invés
de um anel de ferro nós tenhamos o mesmo toróide com núcleo de ar, porém, com
um número de espiras Nm (figura 12.3b) tal que campo magnético produzido por
este seja igual ao aumento provocado pela presença do núcleo de ferro. Assim:

Bm = µ o
Nm I
= µ 0K' = µ0M
(12.5)
2πR

onde N mI 2πR = K' é a densidade da lâmina de corrente fictícia.


O campo magnético total B será dado por:

B = B0 + Bm = µ0 ( K + K' ) (12.6)

ou:
r r r
B = µ0 ( H + M) (12.7)

onde:
r
B = vetor indução magnética (T)
123

H
r
= vetor intensidade de campo magnético (A/m)
M = vetor magnetização (A/m)

Embora desenvolvida para o caso de um toróide, esta é uma relação vetorial de


aplicação geral
r
Assim, semelhantemente ao caso da eletrostática, onde
r
o vetor polarização P está
relacionado ao rvetor intensidade de campo elétrico E , na magnetostática o vetor
magnetização M está relacionado ao vetor intensidade de campo magnético H .
Dividindo a equação 12.7 por H nós temos:
r
 M
µ = µ0 1 + r 
 H (12.8)

r
Em meios isotrópicos, M e H estão na mesma direção, de modo que o quociente
entre eles é um escalar. Para os materiais ferromagnéticos, que serão os de nosso
r
maior interesse, esta relação em geral não é linear, ou seja, o quociente entre M e
H não é linear, e não é possível escrever uma relação matemática exata para essa
relação. Entretanto vamos, para o momento, escrever essa relação como sendo
uma constante:

M
χ = r
H (12.9)

onde χ é a susceptibilidade magnética do material em questão.

Podemos agora escrever

µ = µ0 (1 + χ) (12.10)

ou:

µ = µ0µr (12.11)

onde µ r = 1 + χ é definida como sendo a permeabilidade relativa do material em


relação ao vácuo.

12.3 - FERROMAGNETISMO, PARAMAGNETISMO E DIAMAGNETISMO

Todos os materiais apresentam algum efeito magnético. Em alguns materiais esses


efeitos são tão fracos, que esses materiais são chamados de não-magnéticos.
Entretanto, o único meio realmente não magnético é o vácuo (daí o fato de ser
tomado como sendo o material de permeabilidade relativa igual a 1). Em geral, os
materiais podem ser classificados de acordo com o seu comportamento magnético
em diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos.
124

Os materiais diamagnéticos possuem uma permeabilidade relativa ligeiramente


inferior a 1 (por exemplo o cobre, com µ r = 0.999991), e apresentam a característica
de, na presença de um campo magnético, se oporem fracamente a ele (figura 12.4).
Em outras palavras, quando um material diamagnético é colocado na presença de
um campo magnético, ele é repelido por ele. Os materiais paramagnéticos possuem
uma permeabilidade relativa ligeiramente superior a 1 (por exemplo o alumínio, com
µ r = 1.00000036) e, na presença de um campo magnético os seus momentos
magnéticos se alinham fracamente com ele. Quando esse campo é retirado, eles
voltam a se desalinhar (figura 12.5). Em outras palavras, quando um material
paramagnético é colocado na presença de um campo magnético ele é atraído por
ele. Ao comportamento dos materiais ferromagnéticos será dedicado o próximo
módulo

figura 12.4- Comportamento de um material diamagnético


.

figura 12.5 - Comportamento de um material paramanético

Alguns tipos de materiais, como por exemplo o ferro, o níquel e o cobalto,


apresentam a propriedade de que seus momentos magnéticos se alinham
fortemente na direção de um campo magnético, oferecendo assim um caminho
preferencial para as linhas de fluxo (figura 12.6). Uma liga ferro-silício a 3 % possui
um µ r máximo de aproximadamente 55000. A permeabilidade desses materiais não
é constante, sendo função da intensidade de campo magnético aplicado, e do
estado magnético anterior do material.

figura 12.6- Comportamento dos materiais ferromagnéticos


125

12.4 - A TEORIA DOS DOMÍNIOS MAGNÉTICOS

Para compreendermos melhor o fenômeno da magnetização em materiais


ferromagnéticos vamos explicar rapidamente a teoria de domínios dos materiais
magnéticos.
Um domínio é definido como uma região de material dentro da qual os átomos tem o
mesmo alinhamento magnético. Um domínio portanto comporta-se como um
pequeno imã permanente, e deverá haver um número muito grande destes dentro
de uma amostra de material. O número de domínios dentro de um determinado
volume é determinado por um complexo balanço de energia dentro do material. Os
detalhes disto estão fora do escopo deste curso, e nós obteremos os
esclarecimentos necessários considerando o caso simplificado ilustrado a seguir.
Na figura 12.7a temos uma amostra de material ferromagnético com os seus
domínios aleatoriamente direcionados, de forma que o magnetismo resultante é
nulo. Um campo magnético externo é aplicado sobre o material, e seus momentos
magnéticos começam a se alinhar com ele (figura 12.7b, 12.7c). A princípio, esse
alinhamento é obtido de maneira fácil, isto é, muitos domínios se alinham
rapidamente para um campo magnético relativamente pequeno. A medida que o
campo magnético vai sendo aumentado, há uma maior dificuldade em se obter
novos alinhamentos. Em outras palavras, dá-se origem a um processo de saturação
do material magnético. Se traçarmos uma curva representando a densidade de fluxo
resultante, em função da intensidade de campo magnético aplicado, teremos uma
curva de magnetização bastante familiar a nós, mostrada na figura 12.8. Podemos
notar, em sua parte final, que um grande aumento em H produzirá um pequeno
aumento em B.

Na curva de magnetização mostrada na figura 12.8, devemos destacar alguns


pontos importantes:

Região A - µ é constante. r
Ponto C - "Joelho" da curva. maior valor de B antes da saturação. (utilizado no
projeto de máquinas elétricas).
Região B - Regiãor de saturação - Um grande aumento de H praticamente não
causa variação de B .

(a) (b) (c) (d)

figura 12.7 - (a) - Domínios magnéticos desalinhados, (b) e (c) - se alinhando com o
campo externo
126

B (Wb/m2 )

A B C

H (A/m)

figura 12.8 - Curva de magnetização de um material magnético

Se reduzirmos a intensidade de campo magnético aplicada ao material


ferromagnético até zero, poderíamos esperar que a densidade de fluxo magnético
também voltasse ao seu valor original, zero. Entretanto, isso não ocorrerá. Quando
o intensidade de campo magnético for zero, haverá ainda um magnetismo residual
na amostra de material ferromagnético. Quando o campo magnético externo é
retirado, os momentos magnéticos dos domínios voltam a se desalinhar, porém parte
deles mantém o novo alinhamento obtido quando da aplicação do campo magnético
externo. Na verdade, quando o campo externo foi aplicado, energia foi introduzida
no material, e o mesmo sofreu uma nova reestruturação. Para mudar isto
necessitamos de mais energia. Uma parte dessa energia provém do próprio material
quando alguns de seus domínios voltaram ao seu alinhamento original. Porém, para
voltar à situação de magnetismo resultante zero, um campo magnético reverso deve
ser aplicado sobre o material.
Se a intensidade de campo magnético H for variada de zero até um valor positivo,
desse valor positivo até um valor negativo, passando por zero, e do valor negativo
até zero, obteremos uma curva característica denominada ciclo de histerese,
mostrada na figura 12.4. O fenômeno da histerese magnética é definido como o
r
atraso causado na variação de B , devido a uma variação em H .

Pontos importantes do ciclo de histerese:

Densidade de fluxo residual (remanente) -Br- É a densidade de fluxo que


permanece, mesmo após H ter sido retirado. Também é chamada de retentividade.
Força Coercitiva - Hc - Representa a intensidade de campo magnética necessária
r
para se obter B = 0 (ou seja, eliminar o campo remanente). Também é chamada de
coercitividade.
Curva de desmagnetização - é o segundo quadrante do ciclo de histerese. É uma
característica utilizada para a obtenção dos parâmetros de imãs permanentes.
127

Curva de Br
desmagnetização

Hc

figura 12.9 - Ciclo de Histerese

Os materiais ferromagnéticos podem ser classificados como :

Macios - apresentam um ciclo de histerese estreito (fácil magnetização)

Duros - apresentam ciclos de histerese largos (difícil magnetização).


r
Para finalizar esta seção, devemos observar que se a relação entre M e H , χ, fosse
r r
realmente linear (e lembrando que B = µ H ), a relação entre B e H deveria ser
uma linha reta, e não um laço. Na verdade, a simples definição de µ como sendo a
r
relação entre B e H é um tanto quanto sem significado, pois, como podemos ver a
partir do ciclo de histerese, ela pode assumir infinitos valores. Assim, para completar
a nossa definição de curva de magnetização e permeabilidade µ, devemos dizer que
r
a curva de magnetização é obtida tomando-se os valores máximos positivos de B e
H em vários ciclos de histerese(o primeiro variando de zero a um valor de H , o
segundo de zero a um valor de H um pouco maior, er assim por diante). A
permeabilidade µ é definida como sendo a relação entre B e H nessa curva de
magnetização. A esse assunto, entretanto, deveremos voltar mais tarde.

Mole

Duro

figura 12.10 - Materiais magneticamente duros e mole


128

12.3 - RELAÇÕES DE FRONTEIRA NO CAMPO MANÉTICO

Nesta seção estudaremos as condições de fronteira entre dois meios diferentes, sob
o ponto de vista da condução de um fluxo magnético.

Em um único meio o campo magnético é contínuo, ou seja, o campo ou é constante,


ou varia apenas uma quantidade infinitesimal numa distância infinitesimal.
Entretanto, na fronteira entre dois meios, o campo magnético pode sofrer variações
abruptas, tanto em direção como em magnitude.
Para fazer nossa análise do comportamento do campo magnético na fronteira entre
dois meios de permeabilidades diferentes, vamos decompo-lo em duas
componentes : a componente normal à fronteira entre os dois meios, e a
componente tangencial às mesmas.

Considere o o volume incremental ∆x∆y∆z, imerso em um campo magnético que


cruza dois meios diferentes, mostrado na figura 12.11 abaixo:

Bn1

Bn2

figura 12.11 - Elemento incremental de volume

Aplicando a ele a lei de Gauss para o magnetismo teremos:


r r
∫ B.dS = 0 (12.12)

Bn2∆ x∆z = Bn1∆x∆ z (12.13)

Bn1 = Bn2 (12.14)

ou seja, as componentes normais do vetor indução magnética na fronteira entre os


dois meios são iguais.

Lembrando que:

B = µH (12.15)

teremos:
129

µ1H n1 = µ 2 H n2 (12.16)

ou ainda:

µ1 H (12.17)
= n2
µ2 H n1

ou seja, as componentes normais do vetor intensidade de campo magnético se


relacionam pelo inverso entre as permeabilidades dos meios.

Considere agora o caminho abcd. também imerso em um campo magnético,


mostrado na figura 12.12 abaixo.

Ht1
a d

µ1

∆y
µ2

b
Ht2 c

∆x

figura 12.12 - Caminho abcd

Aplicando a ele a lei de Ampére teremos:


r r
∫ H. dL = I (12.19)

Fazendo ∆y tender a zero, a integração é feita apenas em ∆x. Portanto:

Ht 2 . ∆x cos 0 + H t1. ∆x cos 1800 = I (12.20)

∆x( H t 2 − H t 1) = I (12.21)

I (12.22)
H t 2 − H t1 =
∆x

O termo I ∆x representa uma densidade de corrente na superfície da fronteira


(densidade laminar de corrente), que será representada pela letra k. Normalmente
pode-se considerar que as correntes estão confinadas nos enrolamentos, de forma
que, na grande maioria dos casos, k = 0. Assim:

H t2 = H t1 (12.23)
130

H t2 = H t1 (12.24)

e:

Bt 2 µ (12.25)
= 2
Bt 1 µ1

ou seja, as componentes tangenciais do vetor intensidade de campo magnético são


iguais, e as componentes tangenciais do vetor indução magnética se relacionam
pela razão direta entre as permeabilidades magnéticas dos meios.

Exemplo 12.1
Considere uma fronteira plana e desprovida de correntes, entre dois meios µ 1 e µ 2 ,
conforme a figura 12.13 abaixo. Encontrar a relação entre α1 e α2 . Supor que os
r
meios são isotrópicos, com B e H no mesmo sentido.

B1 , H1
α1
µ1

µ2
B2 , H2
α2

figura 12.13 - Fronteira entre dois meios.


Solução

Bn1 = Bn2 H1 sen α1 = H2 sen α 2

H t1 = H t 2 H1 sen α1 H2 sen α 2
=
B1 cos α 1 B2 cos α 2
Bn1 = B1 cos α1
ou:
Bn2 = B2 cosα 2
1 1
tgα 1 = tgα 2
B1 cos α1 = B2 cos α 2 µ1 µ2

Ht1 = H1 senα1 ou ainda:

Ht 2 = H2 senα 2 tgα 1 µ µ
= 1 = r1
tgα 2 µ 2 µ r2

Exemplo 12.2
Seja o meio 1 o ar ( µ r = 1 ), e o meio 2 o ferro doce, com µ r = 7000 .
131

r
a) Se B no ferro doce incide normalmente à fronteira, encontre α1 .
r
b) Se B no ferro doce é quase tangente à superfície, com um ângulo α1 igual a
85 graus, encontre α 2 .

α1

α2

(b)
(a)

figura 12.14 - Campo Magnético na Fronteira Ferro-Ar. (a)- Incidência normal. (b)
- Incidência quase tangente.

solução

Pela figura, podemos perceber que o 1


tgα1 = tgα 2
ângulo α 2 é igual a zero, portanto, 7000
tgα 2 = 1. Assim:
α 1 = 01
.0
µ r1 1
tgα 1 = =
µ r2 7000 Como pode ser observado, o campo
magnético que sai para o ar é
α1 = 0 praticamente normal à superfície da
fronteira ferro/ar.
b)

Exemplo 12.3
A região 1, com µr 1 = 5 está no lado do plano 6x + 4y + 3z = 12 que inclui a origem.
r 1
N região 2 µ r 2 = 3. Dado que H1 = ( 3a$ x + 05
. a$ y ) (A/m), encontre θ1 e θ 2 .
µ0

solução

figura 12.15 - Plano 6x + 4y + 6z = 12


132

A componente normal do vetor


indução magnética no meio 1 pode ser Das relações de fronteira:
escrita da forma:
r µ r
r Bt2 = 2 Bt1
Bn1 = Bn1 a$ n1 µ1

onde a$ n1 é o vetor unitário que dá a r 189a$ x − 148,5a$ y − 180$a z


Bt 2 =
direção normal ao plano no lado 1. Da 61
geometria analítica, o vetor normal ao r r r
plano definido pela equação Ax + By + B2 = Bn2 + Bt 2
Cz = D pode ser escrito da forma:
r 789 a$ x + 251,5a$ y + 120a$ z
B2 = ( Wb / m2 )
Aa$ x + Ba$ y + Ca$ z 61
a$ n = ±
A 2 + B2 + C 2
Bn 2 12,8
cos θ 2 = = = 0,93
B2 13,72
Portanto:

6a$ x + 4a$ y + 3a$ z θ 2 = cos −1 0,93 = 21,06o


a$ n1 =
61

r
Bn1 = B1 ⋅ a$ n1

6a$ x + 4a$ y + 3a$ z


Bn1 = 5( 3a$ x + 0,5a$ y ) ⋅ ( )
61

100
B n1 =
61

r 100 6a$ x + 4a$ y + 3a$ z


Bn1 =
61 61
r 600a x + 400 a y + 300 a$ z
$ $
Bn1 =
61

Das relações de fronteira:

$ =B
B $
n2 n1

Vamos agora calcular as componentes


tangênciais da indução magnética:
r r r
Bt1 = B1 − Bn1

r  600a$ x + 400a$ y + 300a$ z 


(
Bt 1 = 15a$ x + 2,5a$ y − 

) 61

r 315a$ x − 247,5a$ y − 300a$ z


Bt 1 =
61
113

EXERCÍCIOS

1) - A interface entre 2 meios diferentes é normal a um dos 3 eixos cartesianos. Se


r r r tgθ1
B1 = µ0 ( 435
. a$ x + 24.0a$ z ) e B2 = µ 0 ( 22.0a$ x + 24.0a$ z ) qual é a relação tgθ ?
2

2) - A região 1, com µr1 = 6 está no lado do plano 2x + 4y + 4 z 16 que inclui a


r
origem. Na região 2, µr2 = 6. Dado que H1 =  4$ax 
+ 2 a$ y  µ 0 ( A / m) , encontre
r r
H 2 , B 2 θ1 e θ .

3) - Um meio ferromagnético de grande extensão possui um campo magnético


uniforme de 2 T. Se a permeabilidade relativa do meio é 200, encontre o valor de
H dentro de (a) - Uma cavidade em forma de disco, com os seus lados planos
paralelos a B. (b) - Idem, com os seus lados planos perpendiculares a B.
119

12 TEORIA ELETRÔNICA DA
MAGNETIZAÇÃO

Sabemos que uma corrente elétrica passando por um condutor dá origem a um


campo magnético em torno deste. A este campo damos o nome de campo eletro-
magnético, para denotar a sua origem, ou seja, um campo magnético provocado
por uma corrente elétrica. Sabemos também que existem campos magnéticos
provocados por certos materiais, comumente chamados de imãs permanentes.
Dizemos que estes materiais tem a capacidade de manter um certo magnetismo
residual, uma vez colocados na presença de um campo magnético externo.
Entretanto, quer seja o campo provocado por uma corrente elétrica passando por um
condutor, quer seja o campo magnético devido a um imã permanente, devemos
saber que a origem de ambos é a mesma, ou seja: todo campo magnético é
provocado por corrente elétrica. No primeiro caso isto está bastante claro. Vamos
entender por que essa afirmação é válida também para o segundo caso.

12.1 - EFEITO DO FERRO EM CAMPOS MAGNÉTICOS ESTÁTICOS

O ferro tem a propriedade de multiplicar o efeito magnético de uma corrente. O


campo magnético no centro de um solenóide enrolado sobre uma pequena barra de
ferro é muito maior do que o campo magnético no centro do mesmo solenóide,
porém com núcleo de ar. Em outras palavras podemos definir o ferro com sendo um
“condutor de fluxo magnético", em analogia à materiais como o cobre, que são bons
condutores de corrente elétrica. Nós utilizamos esta propriedade para criar intensos
campos magnéticos, manipulá-los e guiá-los por onde desejarmos

12.1.1 - Magnetismo

O modelo ainda mais utilizado para representar a estrutura dos materiais é o modelo
atômico. O elemento básico é o átomo, que possui um núcleo relativamente pesado,
ao qual é atribuído sinal positivo, orbitado por cargas negativas (elétrons). Um
elétron orbitando em torno do núcleo de um átomo pode ser considerado, devido à
grande velocidade do movimento, como sendo um microscópico laço de corrente,
como é sugerido pela figura 12.1. Este laço de corrente tem um momento magnético
(dipolo) m, que é igual ao produto da corrente equivalente I, pela área A da espira
r
definida pelo laço de corrente. Este momento pode ser expresso como um vetor m ,
que é perpendicular ao plano do laço, com direção definida pela regra da mão
direita. (Devemos notar que a corrente I é oposta à direção do movimento da carga
negativa).
120

Quando ressa espira de corrente é colocada na presença de um campo magnético


externo B , haverá um torque tendendo a alinhar o momento do laço com o campo
externo, dado por:
r r r
T = m × B (12.1)

O módulo do torque resultante é :

T = m B senθ (12.2)

Quando o alinhamento é obtido o torque torna-se nulo.

Considere agora a situação mostrada na figura 12.2a, onde há milhares de laços


atômicos, orientados aleatoreamente.

B
m m
θ
Área A Área A

corrente I corrente I

figura 12.1 - Elétron girando em torno de um núcleo

Na figura 12.2b um campo magnético externo é aplicado, fazendo com que todos
os momentos magnéticos atômicos se alinhem na direção do campo magnético
externo. Olhando para esta configuração, percebemos que esse conjunto formado
por milhares de laços atômicos alinhados na mesma direção podem ser
considerados como sendo uma única espira delimitada pelo contorno do material
que contém os milhares de laços atômicos (figura 12.2c). Se agora tomarmos
milhares dessas espiras, como na figura 12.2d, nós obtemos uma capa de corrente
cilíndrica, semelhante a um solenóide.

Esta discussão simplista serve para dar uma idéia do fenômeno da magnetização.
Negligenciamos os efeitos da agitação térmica das moléculas, que interfere no
processo de alinhamento. Também consideramos o átomo como tendo um único
elétron orbitando o núcleo, quando pode haver mais de um, e desprezamos os
movimentos de rotação do elétron e do núcleo em torno de seus próprios eixos.
Embora muito longe de um rigoroso tratamento de mecânica quântica, nosso modelo
simplista permite ter uma visão bastante clara do fenômeno da magnetização. A
grande maioria dos fenômenos que estudaremos serão em escala macroscópica, e
não necessitarão de uma visão rigorosa dos fenômenos microscópicos envolvidos.
121

m
m m
m

m
B m
m
m
m m
B
m
B = 0 m m
B
m
m B
B m m
m
m
m

(a) (b) (c)

figura 12.2 - (a) - Momentos atômicos aleatoriamente direcionados, (b) - alinhados


com um campo externo, (c) - vista frontal mostrando grande laço externo

Momento Magnético
I Resultante

N espiras

(d)

figura 12.2 - (d) centenas de laços, como em um solenóide.

12.2 - O VETOR MAGNETIZAÇÃO M

Considere um toróide com núcleo de ar, área A e raio R mostrado na figura 12.3a. A
densidade de fluxo magnético no interior do toróide será:
122

N 0I
B0 = µ0
2 πR (12.3)

Mas N0I 2πR pode ser considerado com sendo a densidade de uma lâmina de
corrente, K. Então:

B0 = µ0K = µ 0H (12.4)

Seção de Área A
Seção de Área A

R
R

BB
00
N0 espiras BB
0m
Nm espiras

I I
I I

(a) (b)

figura 12.3 - (a) Toróide com N0 espiras produzindo um campo B 0 e (b) Toróide
com Nm espiras produzindo um campo B m

Se o mesmo enrolamento é colocado sobre um anel de ferro com a mesma área e


raio, o valor de B deverá aumentar substancialmente. Imagine agora que, ao invés
de um anel de ferro nós tenhamos o mesmo toróide com núcleo de ar, porém, com
um número de espiras Nm (figura 12.3b) tal que campo magnético produzido por
este seja igual ao aumento provocado pela presença do núcleo de ferro. Assim:

Bm = µ o
Nm I
= µ 0K' = µ0M
(12.5)
2πR

onde N mI 2πR = K' é a densidade da lâmina de corrente fictícia.


O campo magnético total B será dado por:

B = B0 + Bm = µ0 ( K + K' ) (12.6)

ou:
r r r
B = µ0 ( H + M) (12.7)

onde:
r
B = vetor indução magnética (T)
123

H
r
= vetor intensidade de campo magnético (A/m)
M = vetor magnetização (A/m)

Embora desenvolvida para o caso de um toróide, esta é uma relação vetorial de


aplicação geral
r
Assim, semelhantemente ao caso da eletrostática, onde
r
o vetor polarização P está
relacionado ao rvetor intensidade de campo elétrico E , na magnetostática o vetor
magnetização M está relacionado ao vetor intensidade de campo magnético H .
Dividindo a equação 12.7 por H nós temos:
r
 M
µ = µ0 1 + r 
 H (12.8)

r
Em meios isotrópicos, M e H estão na mesma direção, de modo que o quociente
entre eles é um escalar. Para os materiais ferromagnéticos, que serão os de nosso
r
maior interesse, esta relação em geral não é linear, ou seja, o quociente entre M e
H não é linear, e não é possível escrever uma relação matemática exata para essa
relação. Entretanto vamos, para o momento, escrever essa relação como sendo
uma constante:

M
χ = r
H (12.9)

onde χ é a susceptibilidade magnética do material em questão.

Podemos agora escrever

µ = µ0 (1 + χ) (12.10)

ou:

µ = µ0µr (12.11)

onde µ r = 1 + χ é definida como sendo a permeabilidade relativa do material em


relação ao vácuo.

12.3 - FERROMAGNETISMO, PARAMAGNETISMO E DIAMAGNETISMO

Todos os materiais apresentam algum efeito magnético. Em alguns materiais esses


efeitos são tão fracos, que esses materiais são chamados de não-magnéticos.
Entretanto, o único meio realmente não magnético é o vácuo (daí o fato de ser
tomado como sendo o material de permeabilidade relativa igual a 1). Em geral, os
materiais podem ser classificados de acordo com o seu comportamento magnético
em diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos.
124

Os materiais diamagnéticos possuem uma permeabilidade relativa ligeiramente


inferior a 1 (por exemplo o cobre, com µ r = 0.999991), e apresentam a característica
de, na presença de um campo magnético, se oporem fracamente a ele (figura 12.4).
Em outras palavras, quando um material diamagnético é colocado na presença de
um campo magnético, ele é repelido por ele. Os materiais paramagnéticos possuem
uma permeabilidade relativa ligeiramente superior a 1 (por exemplo o alumínio, com
µ r = 1.00000036) e, na presença de um campo magnético os seus momentos
magnéticos se alinham fracamente com ele. Quando esse campo é retirado, eles
voltam a se desalinhar (figura 12.5). Em outras palavras, quando um material
paramagnético é colocado na presença de um campo magnético ele é atraído por
ele. Ao comportamento dos materiais ferromagnéticos será dedicado o próximo
módulo

figura 12.4- Comportamento de um material diamagnético


.

figura 12.5 - Comportamento de um material paramanético

Alguns tipos de materiais, como por exemplo o ferro, o níquel e o cobalto,


apresentam a propriedade de que seus momentos magnéticos se alinham
fortemente na direção de um campo magnético, oferecendo assim um caminho
preferencial para as linhas de fluxo (figura 12.6). Uma liga ferro-silício a 3 % possui
um µ r máximo de aproximadamente 55000. A permeabilidade desses materiais não
é constante, sendo função da intensidade de campo magnético aplicado, e do
estado magnético anterior do material.

figura 12.6- Comportamento dos materiais ferromagnéticos


125

12.4 - A TEORIA DOS DOMÍNIOS MAGNÉTICOS

Para compreendermos melhor o fenômeno da magnetização em materiais


ferromagnéticos vamos explicar rapidamente a teoria de domínios dos materiais
magnéticos.
Um domínio é definido como uma região de material dentro da qual os átomos tem o
mesmo alinhamento magnético. Um domínio portanto comporta-se como um
pequeno imã permanente, e deverá haver um número muito grande destes dentro
de uma amostra de material. O número de domínios dentro de um determinado
volume é determinado por um complexo balanço de energia dentro do material. Os
detalhes disto estão fora do escopo deste curso, e nós obteremos os
esclarecimentos necessários considerando o caso simplificado ilustrado a seguir.
Na figura 12.7a temos uma amostra de material ferromagnético com os seus
domínios aleatoriamente direcionados, de forma que o magnetismo resultante é
nulo. Um campo magnético externo é aplicado sobre o material, e seus momentos
magnéticos começam a se alinhar com ele (figura 12.7b, 12.7c). A princípio, esse
alinhamento é obtido de maneira fácil, isto é, muitos domínios se alinham
rapidamente para um campo magnético relativamente pequeno. A medida que o
campo magnético vai sendo aumentado, há uma maior dificuldade em se obter
novos alinhamentos. Em outras palavras, dá-se origem a um processo de saturação
do material magnético. Se traçarmos uma curva representando a densidade de fluxo
resultante, em função da intensidade de campo magnético aplicado, teremos uma
curva de magnetização bastante familiar a nós, mostrada na figura 12.8. Podemos
notar, em sua parte final, que um grande aumento em H produzirá um pequeno
aumento em B.

Na curva de magnetização mostrada na figura 12.8, devemos destacar alguns


pontos importantes:

Região A - µ é constante. r
Ponto C - "Joelho" da curva. maior valor de B antes da saturação. (utilizado no
projeto de máquinas elétricas).
Região B - Regiãor de saturação - Um grande aumento de H praticamente não
causa variação de B .

(a) (b) (c) (d)

figura 12.7 - (a) - Domínios magnéticos desalinhados, (b) e (c) - se alinhando com o
campo externo
126

B (Wb/m2 )

A B C

H (A/m)

figura 12.8 - Curva de magnetização de um material magnético

Se reduzirmos a intensidade de campo magnético aplicada ao material


ferromagnético até zero, poderíamos esperar que a densidade de fluxo magnético
também voltasse ao seu valor original, zero. Entretanto, isso não ocorrerá. Quando
o intensidade de campo magnético for zero, haverá ainda um magnetismo residual
na amostra de material ferromagnético. Quando o campo magnético externo é
retirado, os momentos magnéticos dos domínios voltam a se desalinhar, porém parte
deles mantém o novo alinhamento obtido quando da aplicação do campo magnético
externo. Na verdade, quando o campo externo foi aplicado, energia foi introduzida
no material, e o mesmo sofreu uma nova reestruturação. Para mudar isto
necessitamos de mais energia. Uma parte dessa energia provém do próprio material
quando alguns de seus domínios voltaram ao seu alinhamento original. Porém, para
voltar à situação de magnetismo resultante zero, um campo magnético reverso deve
ser aplicado sobre o material.
Se a intensidade de campo magnético H for variada de zero até um valor positivo,
desse valor positivo até um valor negativo, passando por zero, e do valor negativo
até zero, obteremos uma curva característica denominada ciclo de histerese,
mostrada na figura 12.4. O fenômeno da histerese magnética é definido como o
r
atraso causado na variação de B , devido a uma variação em H .

Pontos importantes do ciclo de histerese:

Densidade de fluxo residual (remanente) -Br- É a densidade de fluxo que


permanece, mesmo após H ter sido retirado. Também é chamada de retentividade.
Força Coercitiva - Hc - Representa a intensidade de campo magnética necessária
r
para se obter B = 0 (ou seja, eliminar o campo remanente). Também é chamada de
coercitividade.
Curva de desmagnetização - é o segundo quadrante do ciclo de histerese. É uma
característica utilizada para a obtenção dos parâmetros de imãs permanentes.
127

Curva de Br
desmagnetização

Hc

figura 12.9 - Ciclo de Histerese

Os materiais ferromagnéticos podem ser classificados como :

Macios - apresentam um ciclo de histerese estreito (fácil magnetização)

Duros - apresentam ciclos de histerese largos (difícil magnetização).


r
Para finalizar esta seção, devemos observar que se a relação entre M e H , χ, fosse
r r
realmente linear (e lembrando que B = µ H ), a relação entre B e H deveria ser
uma linha reta, e não um laço. Na verdade, a simples definição de µ como sendo a
r
relação entre B e H é um tanto quanto sem significado, pois, como podemos ver a
partir do ciclo de histerese, ela pode assumir infinitos valores. Assim, para completar
a nossa definição de curva de magnetização e permeabilidade µ, devemos dizer que
r
a curva de magnetização é obtida tomando-se os valores máximos positivos de B e
H em vários ciclos de histerese(o primeiro variando de zero a um valor de H , o
segundo de zero a um valor de H um pouco maior, er assim por diante). A
permeabilidade µ é definida como sendo a relação entre B e H nessa curva de
magnetização. A esse assunto, entretanto, deveremos voltar mais tarde.

Mole

Duro

figura 12.10 - Materiais magneticamente duros e mole


128

12.3 - RELAÇÕES DE FRONTEIRA NO CAMPO MANÉTICO

Nesta seção estudaremos as condições de fronteira entre dois meios diferentes, sob
o ponto de vista da condução de um fluxo magnético.

Em um único meio o campo magnético é contínuo, ou seja, o campo ou é constante,


ou varia apenas uma quantidade infinitesimal numa distância infinitesimal.
Entretanto, na fronteira entre dois meios, o campo magnético pode sofrer variações
abruptas, tanto em direção como em magnitude.
Para fazer nossa análise do comportamento do campo magnético na fronteira entre
dois meios de permeabilidades diferentes, vamos decompo-lo em duas
componentes : a componente normal à fronteira entre os dois meios, e a
componente tangencial às mesmas.

Considere o o volume incremental ∆x∆y∆z, imerso em um campo magnético que


cruza dois meios diferentes, mostrado na figura 12.11 abaixo:

Bn1

Bn2

figura 12.11 - Elemento incremental de volume

Aplicando a ele a lei de Gauss para o magnetismo teremos:


r r
∫ B.dS = 0 (12.12)

Bn2∆ x∆z = Bn1∆x∆ z (12.13)

Bn1 = Bn2 (12.14)

ou seja, as componentes normais do vetor indução magnética na fronteira entre os


dois meios são iguais.

Lembrando que:

B = µH (12.15)

teremos:
129

µ1H n1 = µ 2 H n2 (12.16)

ou ainda:

µ1 H (12.17)
= n2
µ2 H n1

ou seja, as componentes normais do vetor intensidade de campo magnético se


relacionam pelo inverso entre as permeabilidades dos meios.

Considere agora o caminho abcd. também imerso em um campo magnético,


mostrado na figura 12.12 abaixo.

Ht1
a d

µ1

∆y
µ2

b
Ht2 c

∆x

figura 12.12 - Caminho abcd

Aplicando a ele a lei de Ampére teremos:


r r
∫ H. dL = I (12.19)

Fazendo ∆y tender a zero, a integração é feita apenas em ∆x. Portanto:

Ht 2 . ∆x cos 0 + H t1. ∆x cos 1800 = I (12.20)

∆x( H t 2 − H t 1) = I (12.21)

I (12.22)
H t 2 − H t1 =
∆x

O termo I ∆x representa uma densidade de corrente na superfície da fronteira


(densidade laminar de corrente), que será representada pela letra k. Normalmente
pode-se considerar que as correntes estão confinadas nos enrolamentos, de forma
que, na grande maioria dos casos, k = 0. Assim:

H t2 = H t1 (12.23)
130

H t2 = H t1 (12.24)

e:

Bt 2 µ (12.25)
= 2
Bt 1 µ1

ou seja, as componentes tangenciais do vetor intensidade de campo magnético são


iguais, e as componentes tangenciais do vetor indução magnética se relacionam
pela razão direta entre as permeabilidades magnéticas dos meios.

Exemplo 12.1
Considere uma fronteira plana e desprovida de correntes, entre dois meios µ 1 e µ 2 ,
conforme a figura 12.13 abaixo. Encontrar a relação entre α1 e α2 . Supor que os
r
meios são isotrópicos, com B e H no mesmo sentido.

B1 , H1
α1
µ1

µ2
B2 , H2
α2

figura 12.13 - Fronteira entre dois meios.


Solução

Bn1 = Bn2 H1 sen α1 = H2 sen α 2

H t1 = H t 2 H1 sen α1 H2 sen α 2
=
B1 cos α 1 B2 cos α 2
Bn1 = B1 cos α1
ou:
Bn2 = B2 cosα 2
1 1
tgα 1 = tgα 2
B1 cos α1 = B2 cos α 2 µ1 µ2

Ht1 = H1 senα1 ou ainda:

Ht 2 = H2 senα 2 tgα 1 µ µ
= 1 = r1
tgα 2 µ 2 µ r2

Exemplo 12.2
Seja o meio 1 o ar ( µ r = 1 ), e o meio 2 o ferro doce, com µ r = 7000 .
131

r
a) Se B no ferro doce incide normalmente à fronteira, encontre α1 .
r
b) Se B no ferro doce é quase tangente à superfície, com um ângulo α1 igual a
85 graus, encontre α 2 .

α1

α2

(b)
(a)

figura 12.14 - Campo Magnético na Fronteira Ferro-Ar. (a)- Incidência normal. (b)
- Incidência quase tangente.

solução

Pela figura, podemos perceber que o 1


tgα1 = tgα 2
ângulo α 2 é igual a zero, portanto, 7000
tgα 2 = 1. Assim:
α 1 = 01
.0
µ r1 1
tgα 1 = =
µ r2 7000 Como pode ser observado, o campo
magnético que sai para o ar é
α1 = 0 praticamente normal à superfície da
fronteira ferro/ar.
b)

Exemplo 12.3
A região 1, com µr 1 = 5 está no lado do plano 6x + 4y + 3z = 12 que inclui a origem.
r 1
N região 2 µ r 2 = 3. Dado que H1 = ( 3a$ x + 05
. a$ y ) (A/m), encontre θ1 e θ 2 .
µ0

solução

figura 12.15 - Plano 6x + 4y + 6z = 12


132

A componente normal do vetor


indução magnética no meio 1 pode ser Das relações de fronteira:
escrita da forma:
r µ r
r Bt2 = 2 Bt1
Bn1 = Bn1 a$ n1 µ1

onde a$ n1 é o vetor unitário que dá a r 189a$ x − 148,5a$ y − 180$a z


Bt 2 =
direção normal ao plano no lado 1. Da 61
geometria analítica, o vetor normal ao r r r
plano definido pela equação Ax + By + B2 = Bn2 + Bt 2
Cz = D pode ser escrito da forma:
r 789 a$ x + 251,5a$ y + 120a$ z
B2 = ( Wb / m2 )
Aa$ x + Ba$ y + Ca$ z 61
a$ n = ±
A 2 + B2 + C 2
Bn 2 12,8
cos θ 2 = = = 0,93
B2 13,72
Portanto:

6a$ x + 4a$ y + 3a$ z θ 2 = cos −1 0,93 = 21,06o


a$ n1 =
61

r
Bn1 = B1 ⋅ a$ n1

6a$ x + 4a$ y + 3a$ z


Bn1 = 5( 3a$ x + 0,5a$ y ) ⋅ ( )
61

100
B n1 =
61

r 100 6a$ x + 4a$ y + 3a$ z


Bn1 =
61 61
r 600a x + 400 a y + 300 a$ z
$ $
Bn1 =
61

Das relações de fronteira:

$ =B
B $
n2 n1

Vamos agora calcular as componentes


tangênciais da indução magnética:
r r r
Bt1 = B1 − Bn1

r  600a$ x + 400a$ y + 300a$ z 


(
Bt 1 = 15a$ x + 2,5a$ y − 

) 61

r 315a$ x − 247,5a$ y − 300a$ z


Bt 1 =
61
113

EXERCÍCIOS

1) - A interface entre 2 meios diferentes é normal a um dos 3 eixos cartesianos. Se


r r r tgθ1
B1 = µ0 ( 435
. a$ x + 24.0a$ z ) e B2 = µ 0 ( 22.0a$ x + 24.0a$ z ) qual é a relação tgθ ?
2

2) - A região 1, com µr1 = 6 está no lado do plano 2x + 4y + 4 z 16 que inclui a


r
origem. Na região 2, µr2 = 6. Dado que H1 =  4$ax 
+ 2 a$ y  µ 0 ( A / m) , encontre
r r
H 2 , B 2 θ1 e θ .

3) - Um meio ferromagnético de grande extensão possui um campo magnético


uniforme de 2 T. Se a permeabilidade relativa do meio é 200, encontre o valor de
H dentro de (a) - Uma cavidade em forma de disco, com os seus lados planos
paralelos a B. (b) - Idem, com os seus lados planos perpendiculares a B.
145

14 CIRCUITOS MAGNÉTICOS COM ÍMÃS


PERMANENTES

Considere o núcleo de material ferromagnético mostrado na figura 14.1, enrolado com um enrolamento de N
espiras. Fazendo circular por este enrolamento uma corrente de intensidade I, suficiente para levar o núcleo à
saturação, e em seguida extinguindo-se esta corrente, de acordo com a teoria dos domínios magnéticos já
vista, o núcleo manterá um magnetismo residual, conforme pode ser visto no ciclo de histerese da figura 14.2.
Pode-se dizer que o material ferromagnético imantou-se, ou tornou-se um ímã permanente.

figura 14.1 - Núcleo com enrolamento de N espiras

Curva de Br
desmagnetização

Hc

figura 14.2 - Ciclo de Histerese

A região de interesse no ciclo de histerese é o segundo quadrante. Este trecho é chamado de curva de
desmagnetização, e representa as características de um dado ímã. O ideal é que os ímãs permanentes
apresentem alta retentividade (interseção da curva com o eixo B), e alta coercitividade (interseção da curva
com o eixo H), medida da dificuldade de desmagnetização do material. Uma característica muito importante
em um ímã permanente é o máximo valor B×H (BHmax) (Não se trata so produto de Bmax por Hmax). A figura 14.3
146

apresenta algumas curvas de desmagnetização. Por ela, percebe-se que a curva que dá o máximo BH é a
curva 2.

3
Alta retentividade,
baixa coercitividade

2 Retentividade intermediária,
coercitividade intermediária

baixa retentividade,
alta coercitividade
1

Figura 14.3 - Curvas de desmagnetização

O máximo produto BH para uma substância indica a máxima densidade de energia (J/m3) que armazenada no
ímã. Quanto maior o valor de BHmax, menor será a quantidade de material necessária para um dado valor de
fluxo.

A figura 14.4 apresenta a curva de desmagnetização de uma liga alnico 5, e a tabela 14.1 apresenta valores de
Retentividade, coercitividade e BHmax de diversos tipos de ímãs permanentes.

1,4 D
E
N
1,2
S
I
1,0 D
A
D
0,8 E

D
0,6 E

0,4 F
L
U
0,2 X
O

(T)
-50000 -40000 -30000 -20000 -10000 0
INTENSIDADE DE CAMPO (A/m)

Figura 14.4 - curva de desmagnetização do alnico 5

Tabela 14.1

Material Retentividade Coercitividade BHmax


(composição percentual) (T) (A/m) (J/m3)
Aço Cromo (98 Fe, 0,9 Cr, 0,6 Co, 0,4 Mn) 1,0 4.000 1.600
Oxide (57 Fe, 28 O, 15 Co ) 0,2 72.000 4.800
Alnico 12 ( 33 Fe, 35 Co, 18 Ni, 8 Ti, 6 Al) 0,6 76.000 12.000
Alnico 2 (55 Fe, 12 Co, 17 Ni, 10 AL, 6 Cu) 0,7 44.800 13.600
Alnico 5 (Alcomax)(51 Fe, 24 Co, 14 Ni, 8 Al, 3 Cu) 1,25 44.000 36.000
Platina-Cobalto (77 Pt, 23 Co) 0,6 290.000 52.000
147

14.1 - Imãs Permanentes com Entreferro .

Imãs permanentes só podem ser utilizados em estruturas que apresentem entreferros. As maiores aplicações
são medidores, microfones, alto falantes, geradores de pequeno porte. Atualmente, com o desenvolvimento de
ligas especiais (Samário-Cobalto, por exemplo), que dão origem aos chamados super-imãs, máquinas de
grande porte também estão sendo construídas utilizando-se imãs permanentes.

Consideremos um circuito magnetizado permanentemente, com um entreferro (figura 14.5).

Him

Hg

figura 14.5 - Circuito magnético formado com material permanentemente magnetizado

Aplicando-se a lei de Ampére a este circuito, teremos:

r r
∫ H. dl = N. I = 0 (14.1)
l

pois não existe corrente, e consequentemente Fmm. Assim:

H im . l m + H g . l g = 0 (14.2)

Bg
Hg = (14.3)
µ0
µ 0 H im . l m
Bg = − (14.4)
lg

O fluxo magnético será igual, tanto no entreferro como no ímã, portanto :

φ m = φg = φ (14.5)

Considerando-se o efeito de espraiamento do fluxo no entreferro, podemos escrever:

φ φ
Bg = ; B im = (14.6)
Sg S im

S im
Bg = Bim (14.7)
Sm

Portanto:
148

B im S im µ 0 H im l im
= − (14.8)
Sg lg

µ0Sg lim
Bim = − H im (14.9)
Sim lg

A equação 14.9 é a equação de uma reta conhecida como reta de cisalhamento. Ela determina o ponto de
operação do ímã permanente. Devido ao entreferro, a densidade de fluxo real deverá ser menor do que Br,
situando-se em um ponto P da curva de desmagnetização, como pode ser visto na figura 14.6

P B

P

-H

figura 14.6 - Ponto de Operação do ímã

Exemplo 14.1
Calcular o fluxo magnético no entreferro do ímã permanente da figura 14.7. A curva de desmagnetização é
dada na figura 14.8, e pode ser considerada como sendo um quadrante de círculo

solução

20 cm

5 P B(T)
’ 0,5
20 P
cm

5 H (Ae/m) 5000
0,5

figura 14.7 - Ímã permanente c/ entreferro figura 14.8 - Curva de desmagnetização

l im = 15 + 15 + 15 + (15 − 05
. ) = 59.5 cm
− 4πx10−7 x3575
. x10−4 x59.5x10−2 xH im
Bim =
S im = 5x6 = 30 cm2 30x10−4 x05
. x10− 2

S g = ( a + lg ).( b + l g ) . x10 −4 H im
Bim = − 178

Sg = (5 + − 0.5).( 6 + 0.6) = 35.75 cm 2 Estabelecendo as seguintes relações:


149

1 cm ≡ 0,1 T x 2 + y 2 = 25 (II)
1 cm ≡ -1000 A/m
A partir de (I) e (II), o ponto de operação será:
Podemos escrever:
B op ≅ 0. 44T
x0,1 = − 1,78 ×10 −4 y1000

H op ≅ − 2450 A.esp / m
x = − 1, 78× 10− 4 y (I)

O fluxo no entreferro será:


Esta é a equação da reta OP' (linha de φ g = φim = S im .φim = 0 .44 x 30 x10 −4
cisalhamento).
φ g = 13, 2 x10 −4 Wb
Com a consideração de que a curva do ímã é
aproximada por um quadrante de círculo,
podemos escrever:

Exemplo 14.1
Calcular o raio R da estrutura abaixo, formada por um ímã permanente cuja curva de desmagnetização é
igual a do exemplo anterior, para estabelecer um fluxo de 0,236×10-4 Wb no entreferro. Desprezar o
espraiamento.

Solução

Raio da seção 0,5


R transversal = 0,005 m
lg = 1 mm 0,3

-5000 Hi
figura 14.9 - ímã permanente do exemplo 14.2
figura 14.10 - curva de desmagnetizaão do
H i li + H glg = 0 exemplo 14.2

li = 2 πR − 0,001 lg = 0,001 1 cm ≡ 0,1 T


1 cm ≡ -1000 A/m

φ 0,236 × 10−4
Bg = Bi = = = 0,3 T 5 = 32 + x2
π (0,005)
2
Sg
x= 4
Bg
Hg = = 238.732 A / m
µ0 Hi 4 × ( −1000) = − 4000 A / m

−4000 × ( 2πR − 0,001) + 238.732 × 0,001 = 0


Determinação de Hi:

Pelo gráfico da figura 14.10:


R ≅ 1 cm
150

EXERCÍCIOS

1) - Um núcleo em aço-silício, seção retangular de 10 mm x 8 mm, comprimento médio de 150 mm.


Possui um entreferro de 0.8 mm. O fluxo é 80 x 10-6 Wb. Calcule a Fmm.

2) - O circuito magnético mostrado na figura abaixo é de aço fundido. A bobina tem 500 espiras. As
dimensões são : le = 1mm, S2 = S3 = 150 mm2 , S1 = 300 mm2 , l1 = 40 mm, l2 = 110 mm e
l3 = 109 mm. Calcule a corrente na bobina para gerar um fluxo de 125 µWb no entreferro. Suponha
que Se é 17 % maior que S3.

L2 L3

N = 500 L1

figura do problema 2

3) - Encontre a densidade de fluxo em cada um dos três braços do circuito magnético mostrado na
figura abaixo. Considere H = 200B no aço.

2 cm

Espessura 2 cm
Entreferro = 1 mm
Fmm = 500 Fmm = 500
5 cm

2 cm

2 cm 6 cm 4 cm 6 cm 2 cm

figura do problema 3

4) - A estrutura da figura abaixo é construída de forma tal que o campo magnético tem um
comportamento praticamente radial no entreferro. Calcule o comprimento d que deve ter ímã
permanente construído com alnico 5, de forma que a indução magnética B no entreferro seja de 0,2
T, dados que: lg = 1 mm, Raio médio = 2 cm. Desprezar a relutância do ferro e o espraiamento.
151

ímã 2 cm

Espessura
d da estrutura
= 2 cm
lg

Rm

estrutura magnética do problema 4

5) - Uma suspensão Magnética - Calcular a corrente que deve circular na bobina de 100 espiras da
estrutura magnética da figura 2, de forma a levantar um peso de 800 N. O ímã permanente possui 2
cm de comprimento, área S = 30 cm2, e característica de magnetização mostrada na figura 3. A
orientação do ímã é tal que seu fluxo se adiciona ao da bobina. O entreferro é de 2 mm, e a área s
dos dentes é 10 cm2. Desprezar o espraiamento e a relutância do ferro.

ímã

Área s
bobina

Parte móvel

estrutura magnética do problema 5


152

Br = 0,8

Bi = µ0Hi + B r

característica de desmagnetização do ímã do problema 5.


141

15 FORÇA DE ORIGEM MAGNÉTICA NO


ENTREFERRO

A presença de um campo magnético em um circuito magnético com entreferro produz como efeito a
tendência de fechar esse entreferro. Ou seja, polos magnéticos de polaridades opostas nos dois lados do
entreferro atraem-se mutuamente.

Forças originadas a partir de campos magnéticos são de grande aplicação em numerosos dispositivos
eletromagnéticos (relés, eletroímãs, instrumentos de medida, motores e geradores elétricos).

Como foi visto no anteriormente, a densidade de energia armazenada num campo magnético vale :

1 1 B2
wm = µH2 = ( J / m3 ) (15.1)
2 2 µ

Como a relutância do circuito magnético é muito menor que a relutância do entreferro (isso foi visto em
exemplos anteriores), podemos considerar que toda a Fmm é utilizada para vencer o entreferro, ou seja,
toda a energia está armazenada no entreferro. Além disso, como o entreferro é muito pequeno, em
relação ao comprimento do circuito magnético, podemos supor que o campo magnético no entreferro é
uniforme. Assim, a energia armazenada no entreferro vale :

1 B2
Wm = w m . Vg = . Sg . lg (J ) (15.2)
2 µ0

onde:

Vg = Volume do entreferro
Sg = Seção transversal do entreferro
l g = comprimento do entreferro.

Suponhamos agora que este entreferro seja mantido aberto por uma força. Se esta força sofrer um
pequeno acréscimo, de forma que o entreferro aumente de δlg, acompanhado de um ligeiro acréscimo na
corrente, de forma a manter B constante, o acréscimo de energia δW m será dado por:

B2
dWm = Sgδlg (15.3)
2µ0

O trabalho desenvolvido no entreferro é dado por:

W = F. d (J ) (15.4)

W = F.δlg (15.5)

Como o trabalho realizado pela força externa é igual ao acréscimo de energia no campo magnético,
teremos:
142

dW = dWm (15.6)

B2
F. δ lg = . S g . δlg (15.7)
2µ0

Portanto, a força no entreferro será dada por:

B2
F= Sg (15.8)
2µ0

Exemplo 15.1
Um eletromagneto em forma de U sustenta uma barra de ferro, conforme a figura 15.1. Se a
permeabilidade relativa do circuito magnético é 1800, e o número de Ampérs-espiras é 1 kA, qual é o
peso da barra ? O comprimento do eletromagneto e da barra é 1 m, e o contato ferro-ferro é feito através
lâminas de cobre de 1 mm de espessura. A área de contato é de 0,1 m2.

Solução

Circuito elétrico análogo:

NI
1 kA
Espaçador
de cobre Hnln Hg lg

P
NI = H g l g + H n l n
Fig. 15.1 - eletromagneto do exemplo 15.1
Bg Bn
forças sobre a barra: NI = lg + ln
µ0 µ r µ0
Fm Fm
Sg
φ = Bg S g = B n S n ⇒ B n = Bg
Sn
P Bg B g Sg
NI = lg + ln
µ0 µ r µ 0 Sn
P = 2 Fm
Bg = 0,491 T
Correção da área efetiva do entreferro, para levar
em conta o espraiamento:
1 0,4912
Fm = 01006
, = 9.653 N
S n = 0,1 m 2 = πr 2 2 µ0

r = 0,178 m P = 2 × 9.653 = 19.306 N

P = 1,93 T
S g = π (0,178 + 0,001)
2
= 01006
, m2
143

Exemplo 15.2
Determinar o número de Ampéres-espiras necessários para manter um entreferro de 1 mm na estrutura
ferromagnética da figura 15.2, contra a ação de uma mola de constante k = 5×102 N/m. Nesta situação,
a distensão da mola é 2 cm. Desprezar o espraiamento e a relutância do ferro.

Solução

1 cm espessura = 2 cm

2 cm posição de repouso da mola

1 mm

Fig. 15.2 - estrutura ferromagnética do exemplo 15.2

1
Fmag Fmag = 5 = µ0H 2gS
2

2 × Fmag
Fmola Hg =
Fmag µ0S

Fmag =
Fmola 2×5
Hg = = 199471 Ae / m
2 µ 0( 0,01 × 0,02)

Fmola = Kx
Fmm = 2 H g l g

Fmola = 5 × 102 × 2 × 10− 2 N


Fmm = 399 Ae

EXERCÍCIOS

1) - O eletromagneto mostrado na figura abaixo é projetado para suportar uma força que tende a fechar
o entreferro, equivalente ao peso de uma massa de 10 toneladas. Qual é a máxima corrente
permitida para a qual a força não exceda esse valor? O enrolamento possui 10000 espiras, e a
permeabilidade relativa do material é 400.
144

seção transversal =
0,4×0,25 m

diâmetro = 0,4 m

entreferro = 0,01 m
2m

2m

Fig. 1 - Fig. do problema 1

2)- O Objetivo deste problema é demonstrar a importância de um bom projeto do circuito magnético em
um dispositivo eletromagnético. Um eletroímã é construído com chapas de aço silício. O número de
espiras no enrolamento é 1000. Dois circuitos magnéticos são propostos (figuras 2 e 3). Em cada
proposta, calcular a corrente que deve circular no enrolamento para se levantar os seguintes pesos: P =
1 T, P = 2 T, P = 5 T. Desprezar o espraiamento. Preencha os valores da tabela I, e calcule o volume
de material magnético gasto em cada caso. Tire as suas conclusões.
15 30 15
20 20 20

15
10

40 40

1 mm 1 mm
10 10

P P

Fig. 2 - circuito 1 p/ p problema 2 Fig. 3 - circuito 2 p/ o problema 2

Tabela I - preencha com os valores obtidos de corrente

Peso corrente (A)


(T) circuito 1 circuito 2
1
2
5
16 CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS
VARIÁVEIS NO TEMPO

Neste capítulo estudaremos a lei da indução eletromagnética de Faraday. Ela é uma das primeiras
leis do eletromagnetismo, e o efeito que ela descreve é de fundamental importância. Máquinas Elétricas
e Transformadores, por exemplo, tem o seu funcionamento baseado inteiramente no princípio da indução
eletromagnética. A ela devemos toda energia elétrica que consumimos em nossas residências,
instalações industriais e comerciais, pois o funcionamento de geradores síncronos em usinas geradoras
de energia elétrica é baseado nesse princípio. Também devemos a esse fenômeno a capacidade de nos
comunicarmos com todo o mundo, a até com sondas interplanetárias, pois as ondas eletromagnéticas
geradas nas estações ou equipamentos transmissores viajam pelo espaço, e são captadas por
equipamentos receptores, onde tensões variáveis serão induzidas em seus circuitos, para posterior
decodificação.

16.1 – Indução Eletromagnética

Considere a espira circular da figura 16.1a, onde um ímã permanente move-se no sentido de penetrar na
espira. Portanto o fluxo magnético que atravessa a espira estará aumentando. Isto resultará em uma
corrente induzida na espira, numa direção tal que o fluxo magnético por ela gerado se oporá à variação
do fluxo produzido pelo ímã permanente. Na figura 16.1b o ímã está se afastando da espira, portanto o
fluxo que atravessa a espira estará diminuindo. Novamente ter-se-á uma indução de corrente na espira,
produzindo um fluxo que se oporá à variação do fluxo produzido pelo ímã. Assim, a direção da corrente
na figura 16.1b será na direção contrária à corrente da figura 16.1a. Movendo-se o ímã para cima e para
baixo, alternadamente, uma corrente alternada (CA) fluirá na espira. Este arranjo constitui portanto no
exemplo mais simples de um gerador de corrente alternada. Entretanto, gigantescos geradores
síncronos, com capacidade para produzir centenas de Megawatts através de uma única unidade,
funcionam baseados exatamente no mesmo princípio eletromagnético apresentado.

O fato da corrente induzida na espira estar sempre em oposição à variação do fluxo produzido pelo ímã
permanente, é explicado pela lei de Lenz.

i
i

N N

S b) S
a)
figura 16.1 - Variação do fluxo magnético através de uma espira, pelo movimento de um ímã
permanente.

Suponha agora que a espira é seccionada em um ponto qualquer, como na figura 16.2. O movimento
alternado do ímã fará com que uma força eletromotriz apareça entre os seus terminais. Essa força
eletromotriz será igual à taxa de variação do fluxo concatenado com a espira em relação ao tempo :

dϕ m
e = − (16.1)
dt

onde:
e = força eletromotriz induzida, em Volts
ϕm = fluxo magnético, em Weber
t = tempo, em segundos.

figura 16.2 - Espira em circuito aberto

A equação 16.1 é uma maneira de apresentar a lei de Faraday, e expressa a força eletromotriz induzida
em um circuito devido à variação do fluxo concatenado com o mesmo. Esta variação de fluxo
concatenado pode ocorrer através de:

- variação no tempo da amplitude do fluxo magnético;


- movimento relativo entre um campo magnético e o circuito;
- combinação de ambos.

16.2 - Tensão Induzida por Efeito Variacional

A força eletromotriz em um circuito é igual à integral de linha do vetor intensidade de campo elétrico,
associado à corrente induzida, ao longo do comprimento da espira, considerando a separação entre os
terminais como sendo desprezível:

r r

e = E.d l (16.2)
l

O fluxo concatenado com a espira é igual à integral da componente normal do vetor indução magnética
sobre a superfície envolvida pelo espira:
r r

ϕ m = B.dS (16.3)
s

onde:
r
B = vetor indução magnética, em Weber/m2.
r
dS = elemento diferencial de área, em m2

Substituindo a equação ( 16.3 ) em ( 16.1), ter-se-á:

d r s

(16.4)
e =− B.dS
dt s

e se a espira, ou circuito fechado, for estacionário, ou manter a sua forma fixa:


r
∂B r
e = − ∫s ∂t
.dS (16.5)

Esta forma da lei de Faraday expressa a força eletromotriz induzida devido especificamente à variação
do vetor densidade de fluxo em relação ao tempo, para uma espira, ou circuito fechado que é
estacionário em relação ao observador. Ela também é chamada de tensão de transformador.
Combinando as equações ( 16.5) e ( 16.2 ):
r
r r ∂B r
∫l
E.dL = −
S ∂t ∫
.dS (16.6)

Esta é uma das equações de Maxwell, derivada da lei de Faraday (já a conhecemos para campos
r r
magnetostáticos, ∫
E.dL = 0 ). mais adiante veremos que ela também pode ser expressa na forma
l
diferencial.

Exemplo 16.1
Calcular a força eletromotriz induzida na espira retangular da figura 16.3, sabendo que ela está na
presença de um campo magnético variável, criado por uma corrente que flui em um fio de comprimento
infinito.

Solução
r
∂B r
e= −

S ∂t
.dS

µ0i
B=
2πr

i = I m sen ωt
I a
a c+b µ sen ωt
∫∫
0I m
e =− drdx
0 c 2πr

c b µ0I m ω cos ωt a c + b drdx


e =−
2π ∫∫
0 c r

µ0I m ωa cos ωt  c + b 
figura 16.3 – espira retangular na presença de e= ln  V
um campo magnético variável 2π  c 
16.3 - Tensão Induzida Devido ao Efeito Mocional

Pela equação (16.1), a força eletromotriz induzida em um circuito elétrico fechado é a taxa da variação
do fluxo magnético que o atravessa em relação ao tempo. Imagine uma situação onde o campo
magnético é constante, e o circuito elétrico, de alguma maneira tem a sua forma alterada (conforme
ilustrado na figura 16.4).

dl
L Em
B v

Figura 16.4 – Condutor, deslizando sobre condutores fixos.

Sabemos que uma carga elétrica Q que se move na presença de um campo magnético está sujeita a
ação de uma força (força de Lorentz) dada por:

r r r
F = Q( v × B) N (16.7)

Essa força agirá sobre os elétrons livres do condutor em movimento. Dividindo por Q, temos:
r
F r r r
= v × B = Em (16.8)
Q
r
E m é o campo elétrico gerado em um condutor que se movimenta em relação a um campo magnético.
Esse campo elétrico dará origem a uma força eletromotriz no condutor, expressa por:

r r r r r
∫E ∫ (v × B).dL
e = = (16.9)
m .d L
l l

Exemplo 16.2
Calcular a força eletromotriz induzida entre os pontos a e b da figura 16.5. O condutor desenhado em
vermelho desliza sobre os dois condutores desenhados em azul, na presença de um campo magnético
invariante no tempo.

a
Em
figura 16.5
B v
b

c
Solução do condutor e o vetor indução magnética será
perpendicular , tanto ao vetor velocidade, como

∫ (v × B).dL
r s r ao vetor indução magnética. Portanto, o vetor
e=
l intensidade de campo elétrico resultará na
direção de d para c
O vetor intensidade de campo elétrico,
resultante do produto vetorial entre a velocidade e = vBL V

16.4 - Caso Geral de Indução

Trata-se da combinação dos dois casos, ou seja, movimento do condutor em relação ao campo
magnético, e este variando em relação ao tempo. Portanto:

∫ (v × B).dL +  − ∫ B.dS


r s r ∂
r r (16.10)
e= ∂t S
V
l

Exemplo 16.3
Resolver o exemplo anterior, porém, com B = B0 cosωt .

Solução
e = B0L (v cos ωt + wx sen ωt )

e = vBL cos ωt −
∂t ∫B S
0 cos ωtdS
dividindo todos os termos por v2 + (ωx ) :
2

e = vB0L cos ωt + ωB0xL sen ω t

 
e  v ωx 
= B0L cosωt + sen ωt 
v2 + (ωx )2  v + (ωx)

2 2
v + (ω x)
2 2 

fazendo:
fica:
 
 v 
sen δ = 
= B0L(sen δ cos ωt + cos δ sen ωt )
e
 v2 + (ωx )2 
  v + (ωx )
2 2

 
 ωx  e = B 0 L v 2 + (ω x) sen(ωt + δ ) V
2
cos δ =  
 v 2 + (ωx ) 
2
 

16.5 – Lei da Indução Eletromagnética de Faraday na Forma Diferencial

Aplicando o teorema de Stokes à primeira integral da equação 16.6, tem-se:

( )
r r r r

l
E.dL = ∫ ∇
s
× E .dS
(16.11)

Assim:
r
( ) ∂B r
r r
∫s ∇ × E .dS = − ∫S ∂t .dS (16.12)

Como as duas integrais de superfície são calculadas sobre a mesma superfície, podemos igualar os
integrandos:

r ∂B
∇ × E =−
∂t (16.13)

Esta é a equação de Maxwell derivada da equação da indução eletromagnética de Faraday, na forma


diferencial.

Exemplo 16.6
Suponha uma densidade de fluxo magnético B = B0 sen ωt.â z . Uma espira de raio r é colocada na
presença deste campo magnético, no plano z = 0. Determinar a expressão para o vetor intensidade de
campo elétrico, utilizando a formulação da lei da Faraday na forma integral e na forma diferencial.

Solução Por outro lado, o vetor intensidade de campo


elétrico só possui a componente em φ , e só
Utilizando a forma integral, podemos escrever: varia na direção radial. Portanto:

( )
r
r r ∂B r r 1 ∂ rE φ

l
E.dL =

s ∂t
.dS ∇ × E=
r ∂r
.âz

A indução magnética é uniforme em relação ao Portanto:


plano z, e, portanto, o vetor intensidade de
campo elétrico deverá ter uma simetria circular ( )
1 ∂ rE φ
= − B0ω cosωt
ao longo do percurso escolhido. Assim,
r ∂r
teremos

E. 2πr = − B0ω cos ωt.πr 2 Multiplicando ambos os membros por r,


separando as variáveis, e integrando:
ou:
r B ωr
E = − 0 cos ωt.â φ ∫ ∂(rE ) = − ∫ rB ωcos ωtdr
φ 0
2
r2
Utilizando agora a forma diferencial teremos: rE φ = − B0ω cos αω t
2
r ou:
r ∂B
∇ × E= − r B ϖr
∂t E = − 0 cos ωt.â φ
2
r
∂B
− = − B0ω cos ωt.â z como esperávamos.
∂t
EXERCÍCIOS

1)- Uma bobina estacionária, quadrada, de oito espiras, tem vértices em (0,0,0), (2,0,0), (0,2,0), (2,2,0).
Se um campo magnético normal à espira varia em função da posição, dado por B =
12sen(πx/2).sen(πy/2), encontre a força eletromotriz induzida na espira, se B também varia
harmonicamente no tempo em 800 Hz.

2)- Um pêndulo de chumbo está se movimentando com a sua extremidade descrevendo um circulo de
150 mm de raio sobre uma película de mercúrio, no sentido anti-horário, com uma ponta em contato
com o liquido (conforme a figura 16.6). A o comprimento da parte do fio que está se movimentando é m,
e o tempo de uma revolução é 6 s. O gancho que suporta o pêndulo também suporta um fio estático
vertical, ao longo do eixo do cone descrito pelo pêndulo. O fio faz contato com o mercúrio no centro do
circulo, completando assim o circuito elétrico. Se existe um campo magnético horizontal de 60 µT,
encontre a f.e.m induzida no circuito.

Figura 16.6 – figura do problema 2

3)-Um fio condutor oscila como um pêndulo, na presença de um campo magnético uniforme, conforme a
figura 16.7. A velocidade de um ponto sobre o fio, distante r m do ponto P é dada por v =
ω×d(r/R)cos(ωt), onde d é o deslocamento máximo horizontal, ou meia amplitude. Se o comprimento
R do pêndulo é 3 m, e seu período T é dado por T = 2π R / 9.8 s, e d = 150 mm, determine a f.e.m
induzida no circuito.

r
e R

d
Figura 16.7 – figura do problema 3
4)- Um campo Magnético uniforma B = 200 mT estende-se sobre uma área de100 mm de lado, como na
figura 16.8. O campo magnético fora desta área é nulo. uma espira retangular de 40 mm por 80 mm
move-se através do campo com uma velocidade uniforme V.
a) -Se uma tensão de 2 V é induzida na espira, encontre a velocidade V.
b) - Os valores de x para os quais haverá tensão induzida.

x
R
B
100 mm
B r

v
v
100 mm

Figura 16.8 – figura do problema 4 Figura 16.9 – figura do problema 5

5)- Encontre a máxima taxa de variação da f.e.m induzida em um condutor retilíneo que se move com
velocidade v, perpendicularmente a um campo magnético uniforme B, produzido pelas faces
circulares de um eletromagneto, como na figura 16.9. O campo magnético é confinado ao raio R. Em
qual valor de r deve a máxima f.e.m ocorrer?

6) - Uma espira condutora é "pintada" em tomo do equador de um balão esférico de borracha. Um


campo magnético B = 0.2cos4t T é aplicado perpendicularmente ao plano do equador. O balão está
se contraindo com um velocidade radial v. quando o raio do balão é 0.5 m, o valor eficaz da tensão
induzida é 5 V. Encontre a velocidade v neste instante.
17 AUTO INDUTÂNCIA, INDUTÂNCIA
MÚTUA E TRANSFORMADOR IDEAL

17.1 – Indutância

No capítulo 12 apresentamos a definição de indutância como sendo a relação entre fluxo magnético
concatenado e corrente. Não nos preocupamos com o fato de ser corrente contínua ou não. Da maneira
como fizemos lá, a indutância é uma grandeza escalar, função apenas dos dados geométricos e
características magnéticas do meio. Vamos agora abordar novamente esse assunto, a partir do
fenômeno da indução eletromagnética.

Pela equação 12.16, a indutância de um enrolamento solenoidal longo, ou para um toróide é:

µN 2A
L= ( H) (17.1)
l

onde:

µ = permeabilidade magnética do meio. (H.m-1).


N = Número de espiras do enrolamento
A = Área da seção transversal do enrolamento (m2)
l = comprimento do enrolamento (m).

Pela lei da indução eletromagnética de Faraday, a tensão induzida entre os terminais de um


enrolamento solenoidal com N espiras é:

dφ dB
e=N = NA (V )
dt dt (17.2)

µNI
onde B = . Assim:
l

µN 2A dI
e= ( V) (17.3)
l dt

Podemos observar que o termo que multiplica a derivada da corrente na equação acima é a expressão
para a indutância de um solenóide. Então:

dI
e= L (V)
dt (17.4)

17.2 – Indutância Mútua

Considere agora dois enrolamentos, montados sobre um mesmo núcleo, mostrados na figura 17.1
Não há nenhuma conexão elétrica entre eles, porém eles são atravessados pelo mesmo fluxo magnético
ϕ m . Imagine que esse fluxo seja produzido por uma corrente I1 no enrolamento 1, e que o enrolamento
2 esteja em circuito aberto. Sobre ele aparecerá uma tensão induzida dada por:

ϕm
I1

1 2
e2

figura 17.1 - Núcleo com dois enrolamentos

d ϕm
e 2 = N2
dt (17.5)

µN1A dI1
e2 = N2
l dt (17.6)

ou:

dI 1
e2 = M ( V) (17.7)
dt

Caso o enrolamento 2 seja percorrido por uma corrente I2, e o enrolamento 1 esteja em circuito aberto, teremos:

d ϕm
e1 = N1
dt (17.8)

µN 2A dI2
e1 = N1 (V ) (17.9)
l dt

Ou:

dI 2
e1 = M ( V) (17.10)
dt

Onde:

N1 N 2
M =µ A ( H) (17.11)
l

é a indutância mútua entre os enrolamentos.

A situação apresentada pode ser representada pelo seguinte circuito equivalente:


e1 N1 N2 e2

figura 17.2 - Circuito elétrico equivalente para a montagem da figura 17.1

A indutância mútua pode ser expressa como:

e1 e
M= = 2 (17.11)
di1 di2
dt dt

Se a corrente variar harmonicamente:

i1 = I1e jω t ; i2 = I 2e jω t (17.12)

di1 di2 (17.13)


= jωI1e j ωt ; = jω I 2e jω t
dt dt

Assim:

e1 e
M= = 2
jωi1 jωi2 (17.14)

e1 e2
jω M = = (Ω ) (17.15)
i1 i2

O termo jωM é a impedância mútua entre os dois enrolamentos.

Exemplo 17.1
Uma espira retangular de 4 m x1 m está no mesmo plano de um condutor retilíneo longo, com o lado
maior paralelo ao fio, a uma distância de 2 m. Se a corrente no condutor é 10sen1000t A, encontre:
a) - A indutância mútua entre a espira e o condutor.
b) - O valor rms da tensão induzida na espira.

Solução

I 4m

2m

3m
2µ0i 3
φm = ln ( Wb )
π 2

φ m = Li
figura 17.3 - Espira paralela a um condutor
retilíneo
2µ 0 3
L= ln = 0. 324 mH
d φm π 2
e=
dt
b) -
r r
φm = B.dS ∫s e =L
di
dt
4 3µ
∫ ∫ 2πr drdl
0i
φm = 2µ 0 3
0 2 e= ln ×10 × 1000 cos 1000 t = 3.24 sen 1000 t mV
π 2
2µ0i 3 dr
φm =
π ∫2 r
E = 2.29mV

Exemplo 17.2
Repetir o exemplo anterior, porém com o lado menor paralelo ao condutor.

Solução
µ0
L= ln 5 = 0.322 mH
dφ 2π
e= m
dt
e = 0.322× 10−6 ×1000× 10 cos1000t = 3. 22 cos1000t mV
1 5 µ0i
φm =
∫∫
0 1 2πr
drdl
E= 2. 28 mV
µ0i
φm = ln 5 ( Wb)

Exemplo 17.3
Um condutor longo de raio a é percorrido por uma corrente i = Isenωt. Uma luva de ferro, de raio interno
b, raio externo c, comprimento l e permeabilidade µ envolve o condutor. N espiras são enroladas sobre a
luva, conforme a figura 17.4.
a) - Deduza uma expressão para a indutância mútua entre o condutor e o enrolamento.
b) - Idem para a tensão induzida no enrolamento.

Solução

i = Isenωt
figura 17.4 -

dφ m N µl  b + c  d( I sen ωt)
e= N e= ln 
dt 2π  b  dt
r r

φm = B.dS
s
O termo que está multiplicando a derivada é a
indutância mútua entre o enrolamento e o
condutor.
µI
B= sen ωt Nµl  b + c 
2π r M= ln  ( H)
2π  b 
l b +c µI
φm =
∫∫
0 b 2πr
sen ωtdldr
NµIωl  b + c 
e= ln   cos ωt ( V )
2π  b 
µl c
φm = ln sen ωt
2π b

17.3 - O Transformador Ideal

O transformador é um dispositivo eletromagnético utilizado para transformar tensões e correntes de um


nível maior para um nível menor, e vice-versa. Tais dispositivos são constituídos de um circuito
magnético, sobre os quais são montados os enrolamentos. Como todo processo baseado nas leis da
interação eletromagnética, perdas ocorrem nesse processo. Entretanto, desprezando-se essas perdas,
pode-se definir o transformador ideal, para entender mais facilmente o seu funcionamento.

Seja a estrutura ferromagnética da figura 17.4. sobre ela são montados dois enrolamentos: O
enrolamento primário e o enrolamento secundário.

ϕm
I1 I2

V1 2
V2

figura 17.4 - Transformador ideal

Aplicando-se ao enrolamento primário uma tensão e1, no enrolamento secundário aparecerá uma tensão
induzida da dada por:

d φm
v2 = N 2
dt (17.16)
Considerando que o mesmo fluxo φm enlaça a bobina 1, e desprezando-se as perdas, a tensão na
bobina 1 será:

dφm
v1 = N1
dt (17.17)

Assim:


v2 N 2 m dt
= (17.18)
v1 N 1 dφm
dt

v2 N2
= (17.19)
v1 N1

Exemplo 17.4
Qual é a indutância, e a impedância mútuas de um transformador ideal se uma corrente de 2 A (rms),
em 60 Hz, induz uma tensão de 6 V (rms) no enrolamento secundário ?

Solução

M=
v2 6 2e j ωt 3
di1 M= jω t
=
2 2 jω e j ω
dt

jω M = 3 Ω
v2 = 6 2e j ωt V

que é a impedância mútua


i1 = 2 2e j ωt A
A indutância mútua, M é igual a:
di1
= jω2 2e j ωt
dt 3
M= = 8 mH
2π × 60
EXERCÍCIOS

1)- A figura abaixo mostra dois solenóides de comprimento l, e áreas A1 (solenóide 1) e A2 (solenóide 2).
Mostre que a indutância mútua entre eles pode ser expressa por: M = K L1L 2 , onde L1 é a
A1
indutância própria do solenóide 1, e L2 a indutância própria do solenóide 2, K = , é chamado
A2
de coeficiente de acoplamento, cujo valor máximo é unitário.

S1

S2

Figura 17.5 – figura do problema 1

2)- Em um dia sujeito a tempestades, um nuvem típica pode desenvolver uma carga negativa de 100 C,
induzindo uma carga de igual magnitude, porém de sinal contrário, no solo. Se as cargas são
neutralizadas por uma descarga de 2 ms de duração, encontre a corrente média da descarga.
Tipicamente, descargas atmosféricas possuem um crescimento rápido, e um decaimento gradual. Se o
tempo de subida é 2 µs, para uma corrente de 104 A em um condutor que recebe a descarga, encontre a
tensão desenvolvida no condutor. A indutância própria do condutor é 10-3 H, e sua resistência 10-2 Ω.

3)- Duas espiras quadradas de lado a m, são colocadas em planos paralelos separados por uma
distância d m. Se d << a, encontre uma expressão para a indutância mútua entre essas espiras.

4)- Qual é a indutância, e a impedância mútuas de um transformador ideal se uma tensão de 10 V (rms),
em 60 Hz, induz uma corrente de 3 A (rms) no enrolamento secundário ?
18 COMPORTAMENTO EM C. A. DOS
MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Este capítulo é dedicado a alguns fenômenos que ocorrem em materiais ferromagnéticos, quando estes
são submetidos a campos magnéticos variáveis no tempo. Estes fenômenos ocorrem porque os
materiais ferromagnéticos além de serem bons condutores para o fluxo magnético, também se
enquadram na categoria dos materiais condutores de corrente elétrica (embora não sejam condutores
por excelência, como o cobre, o alumínio e o ouro, por exemplo)

18.1 - Permeabilidade Diferencial e Permeabilidade Incremental

Como vimos no capítulo passado, o cálculo de indutâncias requer o conhecimento de permeabilidades.


A permeabilidade magnética dos materiais não é constante, variando à medida em que se varia o valor
da intensidade de campo magnético à qual está submetida o material ferromagnético, que por sua vez,
varia com as correntes nos enrolamentos. Entretanto, para certos aplicações, devemos definir um
número que expresse a permeabilidade magnética. Portanto, algumas considerações devem ser feitas
aqui.

A indutância é definida com sendo a relação entre fluxo concatenado e corrente. Essa definição só é
válida quando µ é constante. Como µ não é constante, devemos escrever para a indutância:

dλ dφ
L =N
di dt (18.1)

Para o circuito da figura 18.1, podemos escrever:

I N

figura 18.1 - Estrutura ferromagnética com um enrolamento

φ = S.B ⇒ dφ =S.dB (18.2)

dH
N.i = H.l ⇒ di = l
N (18.3)
Portanto:

N2S dB
L= (18.4)
l dH

dB/dH tem dimensão de permeabilidade, e é igual à inclinação da curva de histerese.

dB dH é chamada de permeabilidade diferencial, e é maior que a relação Bi H i no ponto i.

B (T)

Bi dB/dH

Hi
H (A/m)

figura 18.2 - Ciclo de Histerese com representação de B, H e dB/dH.

Se corrente alternada é aplicada ao circuito, tal que dB dH varie de instante a instante, fica impraticável
utilizarmos o conceito de indutância. É conveniente utilizar uma indutância média. Este valor é definido
como sendo:

N 2S  dB  µN2S
L av =   = (18.5)
l  dH av l

onde µ = Bmax Hmax .

Bm

Figura 18.3 – representação da


permeabilidade média como
sendo a relação entre Bmax/Hmax
H
Suponhamos agora que em adição à uma pequena corrente alternada, tenhamos uma componente DC
(corrente contínua) relativamente grande. Neste caso, pequenos laços de histerese existirão em cada
ponto do ciclo de histerese principal, como pode ser visto na figura 18.4.

Neste caso, o valor médio de dB dH é dado por ∆B ∆H , onde ∆B e ∆H são as diferenças entre os
extremos do laço de histerese menor. ∆B ∆H recebe o nome de permeabilidade incremental.

∆B
∆H

figura 18.4 - Laço de histerese com laços de histereses secundários

18.2 - Correntes Parasitas

Quando uma massa metálica é submetida à uma densidade de fluxo magnético variável, forças
eletromotrizes serão induzidas no seu interior, produzindo correntes que circularão pelo metal. Essas
correntes recebem o nome de correntes parasitas (ou correntes de Foucault).A circulação dessas
correntes provoca aquecimento e, consequentemente, perdas de energia no material ferromagnético.

Considere a figura 18.5, onde uma chapa de material ferromagnético, de espessura e, largura l e
profundidade a, é submetida à um campo magnético variável, no tempo, perpendicular a l×e.

l
B e

figura 18.5 - Chapa de material magnético submetida a campo variável


Vamos restringir a nossa análise à campos magnéticos com variação senoidal, e uniformemente
distribuídos ao longo da seção l×e.

B = B0 senωt (18.6)

onde ω = 2πf rad/s, sendo f a frequência elétrica em Hz.

Tomemos agora um anel retangular de espessura dz:

dz

figura 18.6 - Anel com espessura dz

A força eletromotriz induzida por efeito variacional é:

∂B
e=−
∫ ∂t dS
s (18.7)

e = − 2zlωB0 cos ϖt. (18.8)

Assim, haverá uma corrente induzida percorrendo o anel, e pela lei de Joule a potência dissipada será:

E2ef
P= (18.9)
R

onde R é a resistência do anel.

lc
R=ρ
S (18.10)

l >> e.

2l
R=ρ
a.dz (18.11)

Portanto:

4z 2e2ω 2B20
P= 2 (18.12)
ρ 2l
a.dz

ω2lB 20z 2a.dz


P= (18.13)
ρ

A potência total dissipada na lâmina será:


e/2 B20ω2laz 2dz
Ptotal =
∫0 ρ
(18.14)

B20ω2lae 3
Ptotal = (18.15)
24ρ

Sendo o volume da lâmina igual a a×l×e, as perdas por unidade de volume serão:

B20ω2lae 3 B20ω2e 2
Pv = = (18.16)
24ρale 24ρ

ou:

B20ω2e 2σ
PFV = (18.17)
24

Portanto, as perdas por correntes parasitas são proporcionais :

1. ao quadrado da indução magnética B.


2. ao quadrado da frequência
3. ao quadrado da espessura da chapada do material magnético
4. à razão direta da condutividade.

18.3 - Perdas por Histerese

r
Suponhamos que um material ferromagnético seja submetido à ação de um campo magnético H
variável no tempo, com uma frequência f e período T = 1/f. Em cada período, uma parcela da energia
injetada no material será gasta apenas para percorrer o ciclo de histerese, e se constituirá em perdas
por histerese.
Para melhor compreendermos as perdas por histerese, vamos fazer uma análise passo a passo.
Denominando Ph a potência associada ao ciclo de histerese, e Wh a energia consumida em um ciclo,
teremos:

Wh = PhT (18.18)

Wh = Ph / f (18.19)

ou:

Ph = W h f (18.20)

A densidade volumétrica de energia magnética necessária para criar um indução magnética B é dada
por:
B
w h = HdB ∫
0
(2.58)

A energia total armazenada no material magnético é:

Wh = w h V (18.21)
Examinando agora graficamente a expressão para a densidade de energia ao longo de um ciclo de
histerese:

B (T)

H (A/m)
figura 18.7 - energia armazenada no material à medida que se aumenta a intensidade de campo
magnético

Se a curva é percorrida no sentido positivo da figura 18.6, esta área é algebricamente positiva e
representa a energia entregue pela fonte ao material.

B (T)

H (A/m)

figura 18.8 - energia liberada pelo material magnético, à medida que a intensidade de campo
magnético é reduzida

Quando a curva é percorrida no sentido negativo a área é algebricamente negativa, e representa a


energia devolvida pelo material à fonte externa.
A diferença entre as áreas é a energia que foi dissipada pelo atrito entre os domínios magnéticos no
material, em forma de calor.

B (T)

H (A/m)
figura 18.9 – energia magnética perdida no aumento e redução de H

Fazendo essa análise ao longo de todo o ciclo de histerese, obteremos a perda por histerese em um
ciclo, que é a área do laço de histerese.

B (T)

H (A/m)

figura 18.10 –energia dissipada em um ciclo de histerese

A energia dissipada em todo o material, por ciclo é:

W= A.V (18.21)

onde A é a área do ciclo de histerese, e V o volume do material.

A potência devido ao fenômeno da histerese é:

P = AVf ( W) (18.22)

Exemplo 18.1
Seja um núcleo de transformador, cuja liga de ferro possua a curva mostrada na figura 2.20.
Calcule as perdas totais no ferro, dados: V = 100 cm3, f = 60 Hz, σ = 107 S/m, e = 1 mm, Bmax
= 1.5 T.

B (Wb/m2 )
1.5

100 H (A/m)

figura 18.11 - Ciclo de histerese do exemplo 18.1

solução a) cálculo das perdas por correntes


parasitas
A área do ciclo de histerese pode ser
σB2 ω2e 2 calculada de forma aproximada como:
Pf = max
24
A = 4Bmax Hmax
P f = 1,33 ×10 W / m
5 3
Ph = 4Bmax Hmax Vf

P FV =1,33× 105.100 × 10−6 =13,3 W


Ph = 4.1, 5. 100× 10− 6.60 = 3,6 W
b) - cálculo das perdas por histerese
P t = Pf + Ph =13,3+ 3,6 =16,9 W

18.4 - Magnetoestrição

A Magnetostrição (ou magnetoestrição) é a deformação elástica de um material ferromagnético quando


seu estado magnético é alterado. Alguns materiais, como o níquel e o cobalto, se contraem na direção
do campo magnético aplicado, enquanto outros, como ligas permalloy, se alongam.

A variação do comprimento do material, por unidade de comprimento, ao longo da direção do campo é


representada no gráfico da figura 18.12a, para o ferro, níquel e cobalto. Valores altos de H são
necessários para produzir o mais alto efeito da magnetostrição.

D l x10-6 2
l 0 N/mm
20000 40000 60000 H (A/m)
0.50
Fe 2
10 N/mm
-10
Co
2
20 N/mm
0.25
-20

-30

500 1000 1500


-40
Ni

figura 18.12 - Curva de magnetostrição para vários materiais ferromagnéticos

O efeito magnetostritivo é também reversível. Se uma tensão (mecânica) é aplicada a um material, tal
como o níquel, que normalmente se contrai sob magnetização, uma intensidade de campo magnético,
quanto maior for a tensão aplicada, maior deverá ser a intensidade de campo magnético requerida para
se produzir uma dada densidade de fluxo, conforme pode ser visto no gráfico da figura 18.12b.
Inversamente, quando submetido à compressão, o níquel melhora as suas propriedades
ferromagnéticas.

Em máquinas elétricas, o fenômeno da magnetostrição é percebido através de ruídos durante a


operação das mesmas. Materiais magnetostritivos são utilizados na produção de ondas ultrassonicas
(sonar), filtros elétricos e medidores de deformação.
CORRENTE DE CONDUÇÃO, CORRENTE

19 DE DESLOCAMENTO, EQUAÇÕES DE
MAXWELL

19.1 - Corrente de Condução e Corrente de Deslocamento

Neste capítulo introduziremos um novo conceito, que é a corrente de deslocamento. Suponha que o
capacitor da figura 19.1 seja submetido a uma diferença de potencial v(t). Sabemos que uma corrente
elétrica i(t) vai se estabelecer neste circuito.

S2

I(t) S1

V(t)

Figura 19.1 – Capacitor submetido a uma diferença de potencial v(t), percorrido por uma corrente i(t)

Suponha agora que duas superfícies, S1 e S2, sejam delimitadas pelo mesmo caminho fechado l.
Aplicando a lei de Ampére para as duas superfícies teríamos.

r r
∫ H.d l = i(t) , para S
1 e

r r
∫ H.d l = 0 , para S 2

Obviamente isto é um absurdo, pois contraria o princípio da continuidade da corrente. É claro que
existe uma “corrente” entre as placas do capacitor paralelo, mesmo sem a presença de um condutor
entre elas. A esta corrente chamaremos de “corrente de deslocamento”. Neste exemplo , a “corrente de
deslocamento” deve se igualar em módulo à corrente de condução, que existe no condutor externo ao
capacitor. Entretanto, essas duas correntes são de naturezas distintas. A corrente de condução é o
resultado do movimento de elétrons entre um átomo e outro do material condutor, e pode existir em
qualquer situação (corrente constante ou variável). A corrente de deslocamento é resultado da
polarização de cargas entre as placas do capacitor, e só existe quando a tensão entre as placas varia
com o tempo. Quando a tensão aplicada for constante, ela existirá apenas em um instante transitório,
desaparecendo em seguida (No exemplo em questão o mesmo deverá ocorrer com a corrente de
condução, para satisfazer o princípio da continuidade da corrente).
Seja agora um capacitor e um resistor ligados em paralelos, submetidos a uma tensão V, conforme a
figura 19.2. No capacitor haverá corrente de deslocamento, e no resistor corrente de condução.

iR iC
V

figura 19.2 – Resistor e capacitor submetidos a tensão V

Da teoria de circuitos, sabemos que:

V (19.1)
iR =
R

dV (19.2)
i C =C
dt

onde iR é a corrente de condução no resistor, e iC a corrente de deslocamento no capacitor.

Vamos agora escrever essas relações baseadas em relações de campo, representando os elementos
resistor e capacitor conforme a figura 19.3.

i
V E σ E ε

Figura 19.3 – representação do capacitor e do resistor, baseada em grandezas de campo

A intensidade de campo elétrico é a mesma, tanto no resistor como no capacitor, e pode ser expressa
como:

V (19.3)
E=
d

Para o resistor podemos escrever:

V E×d
iR = = 1 d
R (19.4)
σA

iR
= J R = σE (19.5)
A
ou:
r r
J R = σE
(19.6)

Para o capacitor podemos escrever:

dV
iC = C
dt (19.7)

A
C= ε
d (19.8)

V= Ed (19.9)

A dE
iC = ε d
d dt (19.10)

iC dE dD
=J c =ε = (19.11)
A dt dt

ou:
r
r dD
JC = (19.12)
dt
r
JC , a densidade de corrente no capacitor representa uma corrente de deslocamento, que passará a ser
r r
representada por Jd , e JR , a densidade de corrente no resistor representa uma corrente de condução,
r
que passará a ser representada por J .

Suponha agora um meio com as duas características, ao invés de uma resistência pura, em paralelo
com uma capacitância pura (pode ser um mal condutor, ou um dielétrico com perdas). A generalização
da lei de Ampére para esse meio permite escrever:
r
r r  r ∂D  r
∫ ∫
H.dL =  J +

dS
∂t  (19.13)

Aplicando o teorema de Stokes ao primeiro membro da equação acima, temos:


r
r r ∂D
∇ × H=J + (19.14)
∂t

ou:
r
r r ∂E
∇ × H = σE + ε (19.15)
∂t

O conceito de corrente de deslocamento foi introduzido por J. C. Maxwell, para se levar em conta a
possibilidade de propagação de ondas eletromagnéticas no espaço.
Se o campo elétrico varia harmonicamente com o tempo, as correntes de deslocamento e condução
estão defasadas de 90 graus.
r r
E = E 0 sen ω t (19.15)
r r
J = σE 0 senωt (19.16)

r r
Jd = εωE 0 cosωt (19.17)

Exemplo 19.1
Um material com σ = 5,0 S/m e εr = 1,0 é submetido a uma intensidade de campo elétrico de
250sen1010t V/m. Calcular as densidades de corrente de condução e de deslocamento. Em que
frequência elas terão a mesma amplitude máxima ?

Solução
J cond = 1250sen1010 t ( A / m 2 )

dE
J desl = ε = 8.85 × 10 −12 × 1010 × 250 cos1010 t
dt

J desl = 22.1 cos1010 t ( A / m 2 )

r Jcond Para a mesma amplitude máxima:


E Jdesl
σ = εω

σ 5.0
ω= = −12
= 5.65 × 1011 rad / s
ε 8. 85 × 10

Figura 19.4 – dielétrico com perdas w


f = = 89 .5 GHz

J cond = = σE = 5 × 250 sen 10 10 t

Exemplo 19.2
Um capacitor co-axial com raio interno igual a 5 mm, raio externo 6 mm, comprimento de 500 mm tem
um dielétrico com εr = 6,7. Se uma tensão de 250sen377t é aplicada, determine a corrente de
deslocamento e compare-a com a corrente de condução.

Solução Neste exemplo, a corrente entre as placas do


capacitor será do tipo corrente de
deslocamento, e a corrente no condutor externo
corrente de condução. Subentende-se que o
Id(t) V(t) dielétrico é sem perdas.

Da Teoria de circuitos:

dV
ic = C
ic(t) dt

2πε r ε0l
C= = 1.02 × 10 − 9 F
ln (r0 r1 )
Figura 19.5 – Capacitor co-axial
ic = 1.02 × 10−9 × 377 × 250cos 377t
ic = 9. 63 × 10−5 cos377t A 250 sen 377 t
A =
ln(0.006 / 0.005 )
Da teoria eletromagnética:
250 sen 377 t
O potencial entre as placas do capacitor B= ln(0. 005)
ln(0.006 / 0.005 )
obedece à equação de Laplace:

250 sen 377 t 250 sen 377 t


∇2 V = 0 V = ln r + ln(0.005 )
ln(0. 006 / 0.005 ) ln(0. 006 / 0.005 )
Em coordenadas cilíndricas, ela se reduz a:
r
1 ∂  dV  E = − ∇V
r  =0
r ∂ r  dr 
r 250 sen 377 t 1
E=− â r
Integrando uma vez em relação a r: ln(0. 006 / 0. 005) r

r
dV r dE
r =A Jd = ε
dr dt

Integrando pela segunda vez em relaçao a r: r 30 .6 × 10− 6


Jd = − cos 377 tâ r
V = A × ln(r ) + B r

id = J d × S
Utilizando as condições de contorno:

0 = A × ln 0. 005 + B id = − 9.63 × 10−5 A

e o que comprova que a corrente de


deslocamento, dentro do capacitor, é igual à
250 sen 377 t = A × ln 0.006 + B corrente de condução, no condutor externo. O
sinal menos obtido não afeta a nossa resposta,
pois é fruto de arbitrariedades ao se impor
Resulta:
direções e condições de contorno.

19.2 - As Equações de Maxwell para Campos Variáveis no Tempo.

No capítulo 15 estabelecemos as 4 equações de Maxwell para campos elétricos e magnéticos


estáticos (invariantes no tempo). Elas podem ser escrito tanto na forma integral:

r r r r
∫ l ∫
H.dL = J dS
s (19.18)

v r
∫ E.d L =0
(19.19)

r r

s ∫
D.dS = ρdV
v (19.20)

r r
∫s
B.dS = 0
(19.21)

Ou na forma diferencial :
r r
∇ ×H=J
(19.22)
r
∇ × E= 0
(19.23)
r
∇.D =ρ
(19.24)
r
∇.B = 0
(19.25)

As 4 equações de Maxwell podem também ser escritas, considerando-se campos elétricos e


magnéticos variáveis no tempo. Na forma diferencial temos:
r
r r  r ∂D  r
∫ 

H.dL =  J +

dS
∂t  (19.26)

r
v r ∂B r
∫ E.dL = −
∂t
dS
∫ (19.27)

r r
∫s ∫
D.dS = ρdV
v (19.28)

r r
∫ B.dS=0
s (19.29)

E na forma diferencial :
r
r r ∂D
∇ × H= J + (19.30)
∂t

r ∂B
∇ × E =−
∂t (19.31)

r
∇.D =ρ
(19.32)
r
∇.B = 0
(19.33)

Observe que a 3ª e 4ª equação não mudam em relação aos campos estáticos. A segunda equação
corresponde à lei de Faraday, considerando efeito variacional da tensão induzida.

19.2-1 - Equações de Maxwell no Espaço Livre

Quando Maxwell formulou as suas equações, a sua maior preocupação era demonstrar a existência de
ondas eletromagnéticas se propagando no espaço livre. Neste caso, não existirá corrente de condução,
nem densidades de cargas livres. Assim as equações podem ser simplificadas:
r
r r ∂D r
∫ H.dL =
∂t ∫
dS (19.34)

r
v r ∂B r
∫ E.dL = −
∂t
dS
∫ (19.35)
r r
∫ D.dS=0
s (19.36)

r r
∫ B.dS=0
s (19.37)

E na forma diferencial:
r
r ∂D
∇×H= (19.38)
∂t

r ∂B
∇ × E =−
∂t (19.39)

r
∇.D=0
(19.40)
r
∇.B = 0
(19.41)

ou:
r
r ∂E
∇ × H= ε 0 (19.42)
∂t
r
r ∂H
∇ × E= − µ 0 (19.43)
∂t
r
∇.E = 0
(19.44)
r
∇.H = 0
(19.45)

19.2.-2 Equações de Maxwell para Campos Variantes Harmonicamente com o Tempo

Finalmente apresentamos as formulações das equações de Maxwell para campos eletromagnéticos que
variam harmonicamente com o tempo (não necessariamente no espaço livre). Considerando uma
variação do tipo ejwt, elas podem ser escritas como:
r r r r
∫ H.dL=(σ + jωε )∫ EdS
s s (19.47)

v r r r

l
E.dL = − jωµ HdS ∫s (19.48)

r r
∫s ∫
D.dS = ρdV
v (19.49)

r r
∫s
B.dS = 0
(19.50)

E na forma diferencial
r r
∇ × H = (σ+ jωε)E
(19.51)
r r
∇ × E = − jωµH
(19.52)
r
∇.D=0
(19.53)
r
∇.B = 0
(19.54)

Deste último grupo de equações partiremos para formular a equação de onda eletromagnética.
EXERCÍCIOS

1)- Conhecida a densidade de corrente de condução num dielétrico dissipativo,Jc 0,02 sen i09 t(A/m2),
encontre a densidade de corrente de deslocamento se σ 103 Sim e ε = 6,5.
1,15x10-6 cos10-9t (A/m2)

2)- Um condutor de seção reta circular de 1,5 mm de raio suporta uma corrente ic = 5,5 sen4x1010 t
(µA). Quanto vale a amplitude da densidade de corrente de deslocamento, se σ = 35 MS/m εr = 1
7,87x10-3 µA/m2

3)- Descubra a freqüência para a qual as densidades de corrente de condução e deslocamento são idên-
ticas em (a) água destilada, onde σ = 2,0×10-4 S/m, εr = 81; (b) água salgada, onde σ= 4,0 S/m e εr
= 1.
(a) 4,44 x 104 Hz;(b) 7,19 x 1010 Hz

4)- Duas cascas esféricas condutoras concêntricas com raios r1 = 0,5 mm e r2 = 1 mm, acham-se
separadas por um dielétrico de εr = 8,5. Encontre a capacitância e calcule ic dada uma tensão
aplicada v = 150sen5000t(V). Calcule a corrente de deslocamento iD e compare-a com ic.
ic = iD = 7,09×10-7cos5000t (A)

5)- Duas placas condutoras planas e paralelas de área 0,05 m2 acham-se separadas por 2 mm de um
dielétrico com perdas com εr= 8,3 e σ = 8,0×10-4S/m. Aplicada uma tensão v = 10 sen 107 t (V),
calcule o valor rms da corrente total.
0,192 A

6)- Um capacitor de placas paralelas, separadas por 0,6 mm e com um dielétrico de εr = 15,3 tem uma
tensão aplicada de rms 25 V na frequência de 15 GHz. Calcule o rms da densidade de corrente de
deslocamento. Despreze o espraiamento.
5,32×105 A/m2
20 ONDAS ELETROMAGNÉTICAS

Propagação de ondas eletromagnéticas ocorrem quando um campo elétrico variante no tempo produz
um campo magnético também variante no tempo, que por sua vez produz um campo elétrico, e assim
por diante, ocorrendo, desta forma, propagação de energia. Ondas eletromagnéticas podem se
propagar tanto no espaço livre, como através de dispositivos especialmente projetados e construídos
para esse fim.

20.1 – Ondas Eletromagnéticas Planas

Ondas eletromagnéticas planas são aquelas que se propagam em um única direção. São boas
aproximações de ondas reais em aplicações práticas. Configurações mais complexas podem ser
obtidas como superposições de ondas planas. Em uma onda eletromagnética plana o vetor
intensidade de campo magnético e o vetor intensidade de campo elétrico são perpendiculares entre si
em todos os pontos do espaço. A figura 20.1 ilustra uma onda plana se propagando na direção
perependicular ao papel, para fora deste.

Figura 20.1 – Onda plana se propagando para fora do plano do papel

Em uma onda eletromagnética plana, o vetor intensidade de campo elétrico e o vetor intensidade de
campo magnético possuem apenas uma componente cada, perpendiculares entre sí. Por isso, essa
onda é conhecida como uma onda eletromagnética transversal, ou TEM (transverse ElectroMagnetic).
Para fazermos nossas deduções, vamor considerar que o vetor intensidade de campo magnético
possui apenas a componente em z, e o vetor intensidade de campo elétrico possui apenas a
componente em y. Sendo esta uma onda TEM, a direção de propagação será a direção x. Em outras
r r
palavras, E e H só variam na direção x. Isso pode ser visto na figura 20.2

Para encontrar a expressão de uma onda eletromagnética plana, vamos partir das equações (26.42)
e (26.43), do capítulo anterior. Essa suposição implica em uma onda se propagando em um meio
isento de cargas livres (ρ = 0), e condutividade nula (σ = 0).
r
r ∂E
∇ × H= ε 0 (20.1)
∂t
r
r ∂H
∇ × E= − µ 0 (20.2)
∂t

Ey

Direçao de propagação da onda

Hz

Figura 20. 2 – polarização e direção de propagação de onda onda plana

Desenvolvendo o rotacional do vetor intensidade de campo magnético (lado esquerdo da equação


20.1), e expressando a derivada do vetr intensidade de campo elétrico em coordenadas cartesianas
termos:

 ∂H z ∂ Hy   ∂H ∂H 

 ∂y − ∂ z 
∂H ∂H
â x +  x − z â y +  y − x
 ∂x

(
â z = ε0 E x + E y + E z
 ) (20.3)
   ∂z ∂x   ∂y  ∂t

Com as considerções já feitas para os vetores intensidade de campo elétrico e intensidade de campo
magnético a equação (20.3) se reduz a:

∂Hz ∂E y
− â y = ε .â y (20.4)
∂x ∂t

Ou:

∂H z ∂E y
− =ε (20.5)
∂x ∂t

Desenvolvendo agora o rotacional da equação (20.2), e expressando o vetor intensidade de campo


magnético em coordenadas cartesianas, temos:

 ∂E z ∂E y   ∂E ∂E 

 ∂y − ∂ z 
∂E ∂ E
∂ ∂  ∂x ∂ 

â x +  x − z â y +  y − x â z = µ0 Hx + Hy + Hz

( ) (20.6)
   z x   y  t

Que com as considerções feitas para os vetores intensidade de campo elétrico e intensidade de
campo magnético, se reduz a:

∂E y ∂H z
â z = − µ â z (20.7)
∂x ∂t

Ou:

∂E y ∂Hz
= −µ (20.8)
∂x ∂t

Derivando (20.4) em relação a t, e (20.8) em relação a x, teremos:


∂  ∂Hz  ∂ eE y
−  =ε 2 (20.9)
∂x  ∂ t  ∂t

1 ∂ Ey
2
∂  ∂H 
= −  z (20.10)
µ ∂x2 ∂x  ∂t 

Igualando (20.9) e (20.10):

1 ∂ Ey ∂2E y
2
= ε (20.11)
µ ∂x2 ∂t 2

Ou:

∂2E y ∂2 E y
=µ ε (20.12)
∂x 2 ∂ t2

Que é a equação de onda em Ey . Fazendo a operação inversa (derivando (20.8) em relação a t, e


(20.4) em relação a x), e com um raciocínio semelhante, teremos:

∂2H z ∂ 2Hz
= µ ε (20.13)
∂x 2 ∂ t2

Que é a equação da onde em Hz. As equações (20.12) e (20.13) são duais, ou seja, expressam o
mesmo fenômeno eletromagnético, e podem ser utilizadas indistintamente.

Podemos perceber que tanto na equação (20.12) como na equação (20.13) aparece o termo µε.
Fazendo v2 = 1/ µε :

∂2E y ∂ 2E y
v2 = (20.14)
∂ t2 ∂x2

Ou:

 V/ m  V/ m
v2 =  2   m2  (20.15)
 s   

Ou:

v = [m ] [s]
(20.16)

Portanto, v tem dimensão de velocidade, e é uma característica do meio.

Para o vácuo:

1 1
v= = (20.17)
µε 4π × 10 −7
× 8.85 × 10 −12

v = 3 × 108 m / s
(20.18)

Que é a velocidade da luz. Isso prova que a luz é uma onda eletromagnética.
A equação de onda (20.12) é uma equação diferencial a derivadas parciais, linear, de segunda
ordem. Devemos agora encontrar uma solução para ela. Métodos para a solução deste tipo de
equação são discutidos em textos de equações diferenciais. Aqui, nos restringiremos a apresentar
uma possível solução para ela, e mostrar que essa solução é correta. Seja a seguinte proposta de
solução:

E y = E 0 sen β( x + mt) (20.19)

Onde: β = 2π / λ . λ é o comprimento de onda, m uma constante a determinar e t o tempo.

Derivando (20.19) uma vez em relação a x, teremos:

∂E y
= E 0β cosβ( x + mt ) (20.20)
∂x

Derivando novamente:

∂2E y
= − E 0β 2 sen β( x + mt ) (20.21)
∂x 2

Derivando agora (20.19) em relação a t:

∂E y
= E 0mβ cosβ( x + mt ) (20.22)
∂t

Derivando novamente:

∂2E y
= − E 0m 2β 2 sen β( x + mt ) (20.23)
∂t 2

Substituindo (20.23) e (20.22) em (20.12), temos:

− E 0v 2β 2 sen β( x + mt) = − E 0m 2β 2 senβ( x + mt) (20.24)

Ou:

v2 = m 2
(20.25)

Ou:

m = ±v (20.26)

Onde v é a velocidade. Portanto, uma solução geral para a equação (7.12) é:

E y = E 0 senβ( x + vt) + E 0 senβ ( x − vt) (20.27)

Qualquer termo de (20.27) isoladamente é uma solução, bem como a soma dos dois termos também
é uma solução. Soluções para a equação (20.12) também podem ser escritas de outra maneira, como
exponenciais, outras funções trigonométricas, ou qualquer outra função que varia harmonicamente.

Desde que v = fλ, segue-se que:


βv = fλ = 2πf = w (20.28)
λ
Onde f é a frequëncia, em Hz, e ω a velocidade angular, em rad/s. Assim, a equação (20.27) pode ser
escrita como:

E y = E 0 sen(β x + ωt) + E 0 senβ( x − ωt) (20.29)

Suponhamos agora que o primeiro termo em (20.29) seja uma solução, e vamos analizá-la em função
de x, para diversos instantes de tempo t.

P
E0 λ

(a)

π 2π 3π 4
βx

-E0

E0 P

(b)

π 2π 3π 4 βx

-E0
P
E0

(c)

π 2π 3π 4
βx

-E0

P
E0

(d)

π 2π 3π 4 βx

-E0
Figura 20.3 – cuvas para Ey em 4 instantes de tempo
Para t = 0. ω × t = 0 . E y = E 0 sen(β x) . Isso corresponde à curva (a) da figura 20.3.
Para t = T/4, ω × t = (2π T )(T 4) = π 2 , E y = E 0 sen(β x + π 2) = E 0 cos(β x ) . Isso corresponde à curva
(b) da figura 20.4.
Para t = T/2, ω × t = (2π T )(T 2 ) = π . E y = E 0 sen(β x + π ) = − E 0 sen(β x ) , o que corresponde à curva
(c) .
Para t = 3T/4, ω × t = (2π T )(3T 4) = 3π / 2 . E y = E 0 sen(β x + 3π / 2 ) = − E 0 cos(β x ) , o que corresponde
à curva (d) da figura 20.4.

Fixando nossa atenção no ponto P, podemos perceber que ele caminha para a esquerda com uma
velocidade v. portanto o termo escolhido da equação (20.29), representa uma onda que caminha na
direção negativa.

O ponto P é chamado de “ponto de fase constante”.

x + vt = cte (20.30)

dx
+ v = 0 (20.31)
dt

dx
= −v (20.32)
dt

V é, portanto, a velocidade de um ponto de fase constante, ou velocidade de fase.

Exemplo 20.1
No espaço livre:
r
E ( z, t) = 10 3 sen(2 π × 10 8 t − 2,094z) â y .

r r r
Obtenha H( z, t ) e esboce E e H , para t = 0.

Solução

Pela equação de Maxwell: O vetor intensidade de campo elétrico está


polarizado na direção y positivo. A onda está
r
r ∂B se propagando na direção z positivo. O vetor
∇ ×E = intensidade de campo magnético está
∂t
polarizado na direção negativa de x.
desenvolvendo o rotacional fica:
r y

∂B
∂t
( )
= 2.04 × 103 cos 2π × 108 − 2. 04z a x )
E
Integrando:

r
B = −
2.04 × 10 3
2π × 10 8
( )
sen 2π × 108 − 2.04 z â x -x
H
E×H
r
( )
B = − 0. 325× 10−5 sen 2π × 108 − 2. 04z â x T
r z
r
H=
B
µ0
( )
= − 2.586 sen 2π × 10 8 − 2.04 z â x A / m
Figura 20.4 – produto vetorial, para determinar
a direção de H
Em t = 0, sem(ωt - βz) = -senβz

y
E

Figura 20.5 – Esboço das ondas E e H


EXERCÍCIOS

1)- No espaço livre:

H ( z, t) = 1 .0 e j (1, 5×10 t + βz )â x


r 8

r
Obtenha uma expressão para E( z, t) e determine a direção de propagação.

2)- No espaço livre:


r
(
H (z, t) = 1,33× 10 −1 cos 4 × 107 t − β z â x ) (A / m)
r
Obtenha uma expressão para E( z, t) . Encontre β e λ.

3)- Calcule a amplitude e a direção da onda


r
E ( z, t) = 10 sen(ωt − β z)â x − 15 sen(ωt − β z)â y

r
em t = 0, z = 3λ/4. Se a onda se propaga no espaço livre, encontre a expressão para H( z, t) .
21 ONDAS ELETROMAGNÉTICAS EM
MEIOS CONDUTORES

A equação de onda deduzida no capítulo anterior é para meios sem perdas (σ = 0). Vamos agora
encontrar a equação da onda em um meio que apresenta condutividade não nula. Para este caso, as
equações de Maxwell em rotacional são escritas como:

∂H z ∂E y
− = σE y + ε (21.1)
∂x ∂t

∂E y ∂H z
= −µ (21.2)
∂x ∂t

Que também podem ser escritas na forma fasorial:

∂H z
= − (σ + jωε )E y (21.3)
∂x

∂E y
= − jωµ Hz (21.4)
∂x

Derivando (21.4) em relação a x:

∂2E y ∂Hz
= − jωµ (21.5)
∂x2 ∂x

E substituindo (21.3) em (21.5):

∂2E y
= jωµ (σ + jωε )E y (21.6)
∂x2

Inversamente, se derivarmos (21.3) em relação a x, e substituirmos (21.4) no resultado disso,


teremos:

∂2H z
= jωµ (σ + jωε )Hz (21.7)
∂x 2

A equação (21.6) é a equação da onda em Ey , e (21.7) é a equação da onde em Hz, para meios que
apresentam condutividade diferente de zero.

As equações (21.6) e (21.7) podem ser escritas como:

∂2E y
= γ 2E y (21.8)
∂x 2

e
∂2Hz
= γ 2H z (21.9)
∂x 2

Onde:

γ 2 = jωµ (σ + jωε)
(21.10)

γ é chamada de constante de propagação, cujas partes real e imaginária são positivas:

γ = α + jβ
(21.11)

Onde:

 2 
µε   σ 
α =ω  1 + 
 
 − 1
 µε 
2   (21.12)
 

 2 
µε  σ 
β =ω  1 + 
 
 + 1 
 µε 
2   (21.13)
 

-1
α é chamada de constante de atenuação, sua unidade é m , mas é costumeiramente expresso como
Np/m, onde Np (Nepper) é um adimensional do tipo radiano. β é chamada de constante de
deslocamento de fase, com unidade rad/m.

Deve-se notar que quando σ = 0 (dielétrico perfeito), temos α = 0 e β = ω/v.

Para bons condutores tem-se

σ
>> 1 (21.14)
µε

e:

µε σ µωσ
α=ω = (21.15)
2 ωε 2

µε σ µωσ
β =ω = =α (21.16)
2 ωε 2

Vamos propor como solução para a equação (21.8) a seguinte expressão :


r
E = E0e ± γx e j ωt â y (21.17)

Prova:

∂E
= ± γE 0e± γxe jω t (21.18)
∂x

∂2E
= γ 2E 0e± γxe j ωt = γ 2E (21.19)
∂x 2
Vamos substituir (21.7) na equação (considerando apenas o sinal menos na primeira exponencial):
r r
∇ × E = − jωµH
(21.20)

r ∂E y
∇× E = â z = − γE 0e− γxe jωt â z (21.21)
∂x

− jωµHz = − γ E 0e − γx e jω t (21.22)

γ
Hz = E 0e− γxe j ωt (21.23)
jωµ

H z = H0e− γxe jω t
(21.24)

γ
H0 = E0 (21.25)
jωµ

jωµ (σ + jωε )
H0 = E0 (21.26)
jωµ

σ + jωε
H0 = E0 (21.27)
jωµ

A impedância intrinseca do meio, η, é definida como sendo a relação:

E0
η= (21.2)
H0

Portanto:

E0
η= (21.9)
σ + jωε
E0
jωµ

Ou:

jωµ
η= ( Ω) (21.30)
σ + jωε

A impedância intrinseca também pode ser escrita na forma:

η = η ∠θ
(21.31)

Neste caso:

µ
η = ε
4 ( ωε )
1+ σ
2 (21.32)

e:
σ
tg2θ = (21.33)
ωε

Exemplo 21.1
No espaço livre:
r
E ( z, t) = 10 3 sen(ωt − β x ) â y

r
Obtenha H( z, t ) e γ, se a frequência é 95.5 MHz.

Solução
r
O vetor E está polarizado na direção y, e a
onda está se propagando na direção positiva γ = α + jβ
de z. Portanto o resultado do produto vetorial
r r
E × H deve estar na direção positiva de z. Para  
r µε  σ
2

que isso ocorra, H deve Ter orientação –âx . α =ω  1 + 
 
 − 1 
2   µε  
r  
H = − Hx â x

µ α=ω
µε
(
1 −1 = 0)
η=
Ey
= ε 2
Hx 4 1+ σ ( ωε ) 2

 2 
µε   σ 
β=ω  1 + 
 
 + 1 
Como, no espaço livre, σ = 0, 2   µε  
 

µ0
η=
ε0
≅ 120 π (Ω )
β =ω
µε
2
( 1 + 1) = ω µε

σ
tg2θ = ⇒ θ =0
ωε β = 2π × 95 .5 × 10 6 × 4π × 10 −7 × 8. 85 × 10 −12

Ey β = 2 rad / m
Hx =
120 π
γ = j2.0
r 103
H=− sen(ωt − β z)â x
120 π

Exemplo 21.2
Uma onda eletromagnética propaga-se com frequência de 10 GHz em um meio com εr = 2, σ = 1 S/m,
µr = 1. Sabendo-se que a onda propaga-se na direção –ax , e que o vetor intensidade de campo
r
elétrico
r aponta na direção – ay , em t = 0. Determine as constantes α, β, γ, η, e as expressões para E
e H.

Solução

 2 
µε   σ 
α =ω  1 +  
 µε  − 1
2    
 
 
4π × 10− 7 × 2 × 8.85 × 10 −12 
2
 1  
α = 6.28 × 1010  1 +  −7 −12
 − 1
2   4π × 10 × 2 × 8. 85 × 10 
 

α = 212 ,32 rad / m

 2 
µε  σ 
β =ω  1 + 
 
 + 1 
2   µε  
 

 
4π × 10− 7 × 2 × 8.85 × 10 −12 
2
 1  
β = 6.28 × 10 10
 1 +  −7 −12
 + 1
2   4π × 10 × 2 × 8. 85 × 10 
 

β = 209, 42 Np / m

2π 2π z
λ= = ≅ 30 mm
β 209 ,42 H
E×H
E
µ y
η = ε
4 1+ (σ ωε ) 2 x

r
4π × 10−7 E = − E 0 e − αx e j( ωt + βx )
â y
η = ε = 185 ,34 Ω
 1 
2 r
E = − 1.0e −212, 32x e j (6.28×10 t + 209, 42x) â y
10
4 1+   V /m
−7 −12
 4 π × 10 × 2 × 8. 85 × 10 
r
H = H 0 e − αx e j(ω t + β x) â z
σ
tg2θ = E0
ωε = η ∠θ
H0

1 E0
tg2θ = H0 =
4π × 10 −7 × 2 × 8. 85 × 10 −12 η ∠θ

θ = 20.98o E0
H = e −αx e j( ωt + βx − θ)
â z
η

A onda se propaga na direção negativa de x. r 10


H = 0 ,0054 e −212, 32x e j( 6.28×10 t + 209, 42x − 0 .349)
A/ m
O vetor E está na direção negativa de y.
Portanto o vetor H deve apontar na direção
positiva de z.
EXERCÍCIOS

1)-Determine γ em 500 kHz para um meio com εr = 12 e σ = 0, e frequência de 1 MHz. Sob que
velocidade ocorrerá a propagação de uma onda eletromagnética nesse meio?

2)- Uma onda eletromagnética propaga-se no espaço livre com comprimento de onda de 0,50 m.
Quando a mesma onda penetra em um dielétrico perfeito, seu comprimento de onda varia para 1
m. Supondo que µr = 1, calcule εr e a velocidade da onda no dielétrico.

3)- Uma onda eletromagnética propaga-se no espaço livre, com constante de defasagem de 0,524
rad/m. Entrando em um dielétrico perfeito, essa mesma onda passa a ter uma constante de
defasagem de1,81 rad/m. Supondo que µr = 1, ache εr e a velocidade de propagação.

4)- Num meio quase condutor, µr = 1000, εr = 18,5 e σ =5.1 S/m. Calcule α, β, η e a velocidade U para
9
r
uma frequência de 10 Hz. Calcule . H( z, t ) sabendo-se que:

r
E ( z, t) = 50e −αz cos(ωt − βz )â x

7
5)- Calcule a constante de defasagem no cobre (σ = 5,7×10 S/m), para a frequência de 500 MHz.
PROFUNDIDADE PELICULAR,

22 REFLEXÃO DE ONDAS, ONDAS


ESTACIONÁRIAS

22.1 – Profundidade Pelicular

Em meios que apresentam condutividade, à medida que uma onda eletromagnética se propaga, ela
sofre uma atenuação, representada pelo termo e −αx (quando a propagação se faz no direção x), na
equação da onda. Em bons condutores, essa atenuação é tão forte que as ondas se anulam numa
distância muito pequena, dentro do condutor.

Define-se profundidade pelicular, δ, à distância para a qual |E| cai a 36,8 % de seu valor inicial (valor
de E na interface entre o meio condutor e o meio não condutor), ou:

E = E 0 e −1 (22.1)

1 1 (22.2)
δ= =
α πfµσ

E0

0,368E 0

δ x

Figura 22.1 – profundidade pelicular

Por questão de conveniência, toma-se x = 5δ como sendo o ponto onde a onda se anula (na verdade,
nesse ponto ela é 0,67 % de seu valor inicial).

A tabela 22.1 apresenta alguns valores de δ e 5δ para alguns materiais, em certas frequências.

δ (µm)
1 MHz 100 MHz 10 GHz
Zinco 48,7 4,87 0.487
Alumínio 39,4 3,94 0,394
Cobre 26,6 2,66 0,266
prata 25,7 2,57 0,257
22.2 – Reflexão de ondas

Até agora restringimos nossas análises à ondas eletromagnéticas propagando-se em um meio


homogêneo. Suponha que uma certa região do espaço seja preenchida por dois meios, com
características elétricas e magnéticas diferentes. Uma onda que esteja se propagando através do
meio 1, deverá, encontrar o meio 2, sofrer um processo de reflexão e transmissão, ou seja, parte da
onda é refletida de volta no meio 1, e parte é transmitida através do meio 2. A onda original é
chamada de onda incidente. Podemos visualizar isso na figura 22.2.

Onda
incidente Onda
transmitida

Onda
refletida
z

Figura 22.2 – onda incidindo na interface entre dois meios, sendo parcialmente refletida e
parcialmente transmitida

Suponhamos que para a situação acima tenhamos:

r
E i = E i0e − γ1z e jω tâ x (22.3)

r
E r = Er0 e γ1z e jωt â x (22.4)

r
E t = E t0 e− γ 2 ze jωt â x (22.5)

r r
Expressões semelhantes podem ser escritas para H , segundo ây . Considerando que os vetores E e
r
H incidem normalmente na interface, podemos escrever:

E i + Er = E t (22.6)

Hi + Hr = Ht (22.7)

As impedâncias intrinsecas serão:


Ei0
= η1 (22.8)
Hi0

Er0 (22.9)
= − η1
Hr0

E0t
= η2 (22.10)
Ht0

Dividindo a equação (22.6) pela equação (22.7) :

E i + Er Et
= (22.11)
Hi + Hr Ht

ou:

E i + Er
= η2 (22.12)
Hi + H r

(
E i + E r = η2 Hi + Hr ) (22.13)

i
Dividindo tudo por E :

Er  Hi H r 
1+ = η  +  (22.13)
Ei
2  Ei Ei 
 

Er Hr η2
1+ = η + (22.14)
η1
2
Ei Ei

Er Hr E r η2
= η + −1 (22.15)
η1
2
Ei E r Ei

E r η2 E r η2
= + −1 (22.16)
E i η1 Ei η1

E r η2 − η1
= (22.17)
Ei η1 + η2

Através de desenvolvimentos algébricos semelhantes, podemos obter:

Et 2η2
= (22.18)
E i η1 + η2

Hr η1 − η2
= (22.19)
Hi η1 + η2

Ht 2η1
= (22.18)
H i
η1 + η2
Como podemos ver, as amplitudes e polaridades das ondas refletidas e transmitidas, dependerão dos
parâmetros dos meios 1 e 2.

Exemplo 22.1
r r
Calcule as amplitudes de E e H, trtansmitida e refletida na interface indicada, se
−3
E i0 = 1, 5 × 10 V / m para a região 1, com εr1 = 8.5, µr1 = 1.0, σ1 = 0. A região é espaço livre.

solução
2η2
E t0 = E io
η2 + η1

2 × 377
E r0 = 1,5 × 10− 3 = 2, 24 × 10− 3 V / m
Einc 377 + 129

E i0 1,5 × 10 −3
Etrans H i0 = = = 1,16 × 10− 5 A / m
η1 129
Eref

η1 − η2 i
H r0 = H0
η1 + η2
Figura 22.3
129 − 377
H r0 = 1. 16 × 10 −5 = − 5, 69 × 10− 6
Impedância intrinseca do meio 1: 129 + 377

µ0 2η1
η1 = = 129 Ω H t0 = Hi0
8,5ε 0 η1 + η2

Impedância intrinseca do meio 2: 2 × 129


H t0 = 1,16 × 10 −5 = 5,91 × 10 − 6 = A / m
129 + 377
µ0
η2 = = 120 π Ω
ε0 Observe que:

η − η1 i E i0 + E0r = 1,5 × 10−3 + 7,35× 10−4 = 2, 24 × 10− 3 = E0t


E r0 = 2 Eo
η2 + η1

e:
377 − 129
E r0 = 1,5 × 10 −3 = 7,35 × 10 − 4 V / m
377 + 129
H i0 + Hr0 = 1,16 × 10−5 − 5,69 × 10− 6 = 5,91× 10−6 = H0t

Exemplo 22.2
Uma onda E i0 = 1.0 V / m incide normalmente numa interface espaço livre-água salgada, com as
seguintes características: ε r = 80, µr = 1. 0, σ = 2,5 S / m . Para uma frequência de 30 MHz, em que
profundidade esse campo atingirá a amplitude de 1mV/m ?

Solução

µ0
80ε0
η1 = 120 π = 377 Ω η2 =
 
4 1 +  2. 5 −12 
 2π × 30 × 10 × 80 × 8,85 × 10 
6
2,5
tg2θ = = 18,733
0,1334
Eref Einc
θ = 0,7588 rad ( 43,470 )

z
Etrans E0t 2 × 9,73∠ 43, 47 0
=
E0 377 ∠00 + 9,73∠43, 470
i

Figura 22.4 – figura do exemplo 22.2


E t0 = 0,0507∠ 42,470 V / m
42,15
η2 = 9, 73 Ω
-2
4,33 A amplitude de E0t é 5.07×10 .

Cálculo da constante de atenuação:

 
4π × 10 −7 × 80 × 8,85 × 10−12 
2
 2,5  
α = 2π × 30 × 10 6  1 +   − 1 
2  2π × 30 × 10 6 × 8,85 × 10 −12 
 

e −16, 75z = 0.02


α = 16, 75 Np / m
16,75 ln(e ) = ln(0,02)
1.0 × 10−3 = 5. 07 × 10−2 e−16,75z
z = 0, 234 m

22.3 – Ondas Estacionárias

Quando uma onda caminhante em um dielétrico perfeito (α1 = 0, σ1 = 0), incide sobre a superfície de
um condutor perfeito (σ2 = ∞, η2 = 0), a combinação da onda incidente e da onda refletida produz uma
onda estacionária. Em uma onda estacionária as oscilações em todos os pontos separados pelo
intervalo de meio comprimento de onda estarão em fase, no tempo.

2η2 (22.19)
E 0t = E i0 = 0
η1 + η2

η2 − η1 i (22.20)
E r0 = E 0 = − E i0
η1 + η2

Suponha:
r
E i = E0 cos(ωt − β z )â x (22.21)

Então:
r
E r = − E 0 cos(ωt + βz )â x (22.22)

r r r
E = Ei + Er (22.23)

r
E = E0 [cos(ωt − β z ) − cos(ωt + βz )]â x (22.24)
r
E = 2E 0 senβ z senωt.â x (22.25)

Consideremos agora a equação (22.25) para vários instantes de tempo. (lembrando que ω = 2π/T)

Instante 1 t=0 semωt = 0 E=0


Instante 2 t = T/8 2π T E = 1,4E 0 sen βz
sen = 0, 707
T 8
Instante 3 t = T/4 2π T E = 2E 0 sen β z
sen = 1,0
T 4
Instante 4 t = 3T/8 2π 3T E = 1,4E 0 sen βz
sen = 0,707
T 8
Instante 5 t = T/2 2π T E=0
sen =0
T 2
Instante 6 t = 5T/8 2π 5T E = − 1, 4E 0 sen βz
sen = − 0,707
T 8
Instante 7 t = 6T/8 2π 6T E = − 2E 0 sen βz
sen = −1
T 8
Instante 8 t = 7T/8 2π 7T E = − 1, 4E0 sen β z
sen = − 0,707
T 8
Instante 9 t=T 2π E=0
sen T = 0
T

Instante 6
2E 0
Instantes 5 e 7

Instantes 0, 4 e 8

-2E 0

Instantes 1 e 3 Instante 2
Figura 22.5 – ondas estacionárias

Pela figura 22.5, podemos observar que não há caminhamento de ondas. As amplitudes máximas e
mínimas ocorrem sempre nos mesmos pontos. Ondas estacionárias estão associadas a
ressonadores, ou caixas ressonantes, por exemplo o forno de microondas.
EXERCÍCIOS

1) - Para a prata, σ = 3,0 MS/m. Em que frequência sua profundidade pelicular δ vale 2 mm ?

2) - Uma onda penetra num líquido com amplitude incidente de E = 10,0 V/m. Os parâmetros desse
líquido são: µr = = 1; εr= 20 e σ = 1,50 S/m. Calcule a amplitude de E a uma distância de 10 cm,
dentro do meio para as frequências de (a) 5 MHz, (b) 50 MHz, e (c) 500 MHz.
r
3) – Um campo H = 1 A / m , propagando-se no espaço livre incide sobre uma folha de prata de 5 µm
de espessura, como indica a figura abaixo. Supondo σ = 67,1ed MS/m, e uma frequência de
200 NHz, calcule as amplitudes E1, E2, E3 e E4.

E2
E3
E1
E4

5 µm
23 O VETOR DE POYNTING

23.1 – Transmissão de energia em uma onda plana

Considere uma onda eletromagnética plana se propagando na direção perpendicular à esta página
(figura 23.1). Podemos considerar que esta onda é um arranjo de “células-de-campo”. Cada célula
tem largura e comprimento unitários. Assim, podemos escrever para a tensão V:

V = E × 1 = E (V) (23.1)

e para a corrente I:

I = H × 1 = H ( A) (23.2)

Por analogia com a teoria de circuitos, a potência transmitida em uma célula é:

P = VI = EH ( W ) (23.3)

Essa é a energia transmitida por unidade de área, que pode ser escrita em forma vetorial:
r r r
P = E× H (23.4)

A equação (23.4) representa o vetor de Poynting, cuja dedução matemática mais detalhada será feita
na seção a seguir.

V = E×1

I = H×1

Figura 23.1 – Onda eletromagnética plana se propagando perpendicularmente ao papel.


23.2 – O Vetor de Poynting

Sejam as equações de Maxwell em rotacional:


r
r ∂B
∇ ×E = − (23.5)
∂t
r
r r ∂D
∇ ×H =J + (23.6)
∂t
r r
Multiplicando escalarmente (23.5) por H e (23.6) por E :
r
r r r ∂B
H ⋅∇ ×E = − H ⋅ (23.7)
∂t
r
r r r  r ∂D 

E ⋅ ∇ × H = E ⋅ J +  (23.8)
∂ 
 t 

Subtraindo (23.8) de (23.7):


r r
r r r r r ∂B r  r ∂D 
H ⋅∇ × E − E⋅∇ × H = − H ⋅ − E ⋅  J +  (23.9)
∂t  ∂t 

Mas, a partir de uma propriedade do cálculo vetorial, podemos escrever:


r r r r r r
H ⋅∇ × E − E⋅∇ × H = ∇ ⋅ E× H ( ) (23.10)

Portanto:
r r
r r
(
∇⋅ E×H = −H⋅
∂t
)
r ∂B r r r ∂D
− E ⋅ J −E ⋅
∂t
(23.11)

A equação (23.11) pode ser reescrita como:


r r
( )
r r r ∂H r ∂E
∇ ⋅ E × H = − σE − µH ⋅ − εE ⋅
2
(23.12)
∂t ∂t

Onde foram utilizadas as relações:


r r r r s r
J = σE B = µH D = εE

Considerando que:

r r
( ) ( )
∂ r r r ∂H r ∂H ∂ 2 (23.13)
H⋅H = H⋅ + H⋅ = H
∂t ∂t ∂t ∂t

e:
r r
∂ v r
∂t
( )
r ∂E
E ⋅E = E⋅
∂t
r ∂E ∂ 2
+ E⋅
∂t
=
∂t
E ( ) (23.14)
A equação (23.12) fica:

(
r r
) ∂ 1  ∂ 1 
∇ ⋅ E × H = − σE 2 −  µH 2  −  εE 2 
∂t  2
(23.15)
 ∂t  2 

Integrando (23.15) em um volume v:

∫ ∇ ⋅ (E × H )dv = − ∫ σE dv − ∂t ∫ 2 µH dv − ∂t ∫ 2 εE dv
r r 2 ∂ 1 2 ∂ 1 2
v v v v
(23.16)

Aplicando ao primeiro membro da equação (23.16) o teorema da divergência, e invertendo os sinais:

∫ ( )
r r ∂ ∂
∫ σE dv + ∂t ∫ 2 µH dv + ∂t ∫ 2 εE dv
1 1
− ∇ ⋅ E × H ds =
2 2 2
(23.17)
s v v v

r r
A equação (23.17) recebe o nome de Teorema de Poynting. O produto vetorial E × H é o vetor de
Poynting. O primeiro membro da equação (23.17) é o fluxo total de energia que entra em uma
superfície S. No segundo membro de (23.17), primeiro termo representa a energia dissipada por
efeito Joule (perdas), o segundo termo, representa a variação de energia armazenada no campo
magnético e o terceiro termo representa a variação da energia armazenada no campo elétrico.

Exemplo 23.1
Um condutor cilíndrico de raio a metros é percorrido por uma corrente contínua i Ampéres. A
condutividade é σ S/m. Conferir o teorema de Poynting para um volume correspondente a l metros
de fio.

Solução
E
H
i
E×H
a

Figura 23.2 – fluxo de energia em um condutor com corrente i

Os campos elétrico e magnético são J i


estáticos. Portanto, a equação (23.17) se E= = 2
σ πa σ
reduz a:

∫ ( )
r r l 2π

∫ ( ) ∫ ∫∫
r r i i
− ∇ ⋅ E × H ds = − EHds = adφdl
− ∇ ⋅ E × H ds =
∫ σE dv2
πa σ 2πa
2
s v s s 0 0

Magnitude do campo magnético:

∫ ( )
r r i2
− ∇ ⋅ E × H ds = 2 l = Ri 2
i πa
H= s
2πa
que é a energia dissipada por efeito Joule.
Magnitude do campo elétrico:

23.3 – Valor médio do vetor de Poynting

O fluxo do vetor de Poynting sobre uma área representa a potência instantânea atravessando essa
área. O valor médio da vetor de Poynting é obtido integrando-se o vetor de Poynting em um período,
e dividindo por um período (definição clássica do valor médio de uma função periódica ). Ele também
pode ser obtido numa notação complexa como:

1
Pm = E H cos θ W / m 2 (23.18)
2
r r
Onde θ é o ângulo de defasagem entre E e H , em graus ou radianos.

Exemplo 23.2
No espaço livre E ( z, t) = 50 cos(ωt − βz ) V/m. Calcule a potência média que atravessa uma área
circular de 2,5 m de raio, pertencente a um plano z = cte.

Solução

cos(ωt − β z )
E 50
H= = 1
η 120 π Pm = × 50 × 0,133 = 3, 325 W / m 2
2
H = 0,133 cos(ωt − β z )
Ptotal = 3, 325× π × 2,52 = 65,1 W
r r
Não existe defasagem entre E e H . Portanto:

Exemplo 23.3
Uma onda propagando-se no espaço livre a uma frequência de 100 MHz, incide normalmente numa
fronteira de um meio com com condutividade σ = 2,5 S/m, permissividade relativa 10, permeabilidade
relativa 1.0, com uma amplitude E = 1 V/m. Calcule a porcentagem da energia que é refletida de volta
ao espaço livre, e a porcentagem de energia que é absorvida por esse meio.

Solução

Potencia incidente: µ0
10ε 0
1 η2 =
Pi = E i Hi  
2
2 41 +  2,5 
 2π × 100 × 10 × 10 × ε0 
6
r r
pois não existe defasagem entre E e H no
espaço livre. η2 = 17,778 Ω
Potência refletida:
σ
tg(2θ) = = 44,959
1 ωε
Pr = E r Hr
2
θ = 44,360
Potência absorvida pelo meio condutor:
17,778 ∠44 ,360 − 377
1 . Er = Ei
Pt = E t H t cos θ 17 ,778 ∠44, 360 + 377
2
12, 711 − 377 + j12, 429
η1 = 120 π = 377 Ω Er = Ei
12,711 + 377 + j12, 429

µ2
ε2 − 364 ,289 + j12 ,429
η2 = Er = Ei
2 389, 711 + j12, 429
4 1 +  σ2 
 ωε 2 

364 ,5∠91,920
Er = Ei
389 ,909 ∠0,02 0
E r = 0,935∠91, 90
2 × 377
Ht = Hi
389 ,909 ∠0,020
377 − 17,778 ∠ 44,36 0
Hr = Hi
389 ,909 ∠0, 020 H t = 1,934∠ − 0,020
0
377 −12 ,711 − j12,429 A defasagem entre Er e Hr é 93,87 .
Hr = Hi
389, 909 ∠0, 020
1
Pr = 0,935 Ei × 0,935 Hi × cos 93,87 0
2
364 ,5∠ − 1,95 0
Hr = Hi
389 ,909 ∠0,02 0 Pr = − 0,059 Pi

(
H r = 0,935∠ − 1,970 Hi ) A defasagem entre Et e Ht é 44,52 .
0

Pt = 0, 091E i × 1,934Hi × cos44,50


2 × 17,778 ∠44 ,360
Et = Ei
389 ,909 ∠0,02 0
Pt = 0,125 Pi

E t = 0,091∠ 44,320 Ei

A figura abaixo mostra uma fonte de tensão V conectada a um resistor, através de um cabo co-axial.
Mostre que o uso do vetor de Poynting no dielétrico leva à mesma potência instantânea no resistor
que se obteria empregando os métodos de análise de circuitos.

R
V

Uma onda eletromagnética plana incide normalmente sobre o mar, com uma
potência média de 1500 W/m2. Calcular a potência média absorvida por metro
quadrado, considerando σ = 5 S/m, ε = 80ε 0, f = 1 GHz.

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