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Portugal e os países da área do Euro

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Portugal vive uma experiência de governo de esquerda e de retomada da economia, com


relativo sucesso depois de vários anos de recessão. O governo do primeiro-ministro Antônio
Costa, do Partido Socialista, caminha para completar dois anos e meio, contrariando as
expectativas mais pessimistas. O arranjo político que garantiu a governabilidade ficou conhecido
como “Geringonça” e reúne o governo minoritário do Partido Socialista, com apoio parlamentar
do Bloco de Esquerda (Partido Comunista Português e o Partido Ecologista - os Verdes). Segundo
o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos: “É o único governo de esquerda da Europa
que, de fato, governa à esquerda”.

Portugal entrou na União Europeia em 1986 e nos quatro anos seguintes o Produto Interno
Bruto (PIB) do país cresceu em média 7% ao ano, o maior ritmo em todo o período pós Revolução
dos Cravos, de 25 de Abril de 1974. Em 1993, o PIB caiu quase 1%. Entre 1994 e 2002, o PIB
voltou a crescer em ritmo mais acelerado, de 3% ao ano (bem menos que os 7% ao ano do final
da década de 1980). Em 2003, houve uma nova recessão de -0,934% e nunca mais a economia
voltou a crescer a 3% ao ano, sendo que entre 2009 e 2013 a economia teve a maior queda do
século, com quase 10% de redução do PIB. A partir de 2014 a economia voltou a crescer, mas
em ritmo muito lento (menos de 1,5% ao ano em média), conforme pode ser visto no gráfico
acima, com dados do FMI.

A renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) que era de US$ 6 mil em 1980,
passou para US$ 20,5 mil no ano 2000 e chegou a US$ 30 mil em 2017, também como pode ser
visto no gráfico acima. Mas para avaliar estes números é preciso comparar o desempenho de
Portugal com os demais países da Eurozona.
A figura abaixo mostra a evolução da renda per capita dos 19 países da área do Euro, entre os
anos de 2000 e 2017, por ordem decrescente da renda. Nota-se que Luxemburgo, o país mais
rico da região, tinha a maior renda per capita no ano 2000 – quase US$ 65 mil – e passou para
mais de US$ 100 mil em 2017. A Holanda ocupava o segundo lugar em 2000 (com renda per
capita de US$ 33,2 mil) e caiu para o terceiro lugar em 2017 (com US$ 53 mil). A Irlanda que
estava em terceiro lugar, subiu para a segunda posição. Melhoraram a posição no ranking:
Alemanha, França, Finlândia, Espanha, Eslovênia, Eslováquia, Estônia e Lituânia. Mas o maior
salto foi de Malta que, em 2000, estava em 14º lugar (com renda de US$ 20 mil) e subiu para 9º
lugar em 2017 (com renda de US$ 42,2 mil).

Entre os países que caíram no ranking entre 2000 e 2017, a Itália que estava em 7º lugar (com
renda de US$ 28,6 mil) e caiu para 11º lugar (com renda de US$ 37,9 mil). Mas as maiores quedas
foram de Portugal que caiu do 12º lugar para 17º lugar (antepenúltimo da lista) e da Grécia que
caiu do 13º lugar para 18º lugar (penúltimo da lista). A Letônia é o país com menor renda per
capita da área do Euro.

Todos os países apresentaram crescimento da renda corrente, mas o desempenho foi bem
diferenciado. O gráfico abaixo mostra que entre o ano 2000 e 2017, a renda per capita da
Lituânia cresceu 231%, da Letônia cresceu 206%, da Eslováquia 169%, da Irlanda 124%, de Malta
110% e até mesmo a renda de Luxemburgo, que já era um pais muito rico em 2000, subiu 66%.
No outro extremo, os países que apresentaram o menor crescimento da renda per capita são
Portugal (47,6%), Chipre (46,4%), Grécia (37,2%) e Itália (32,5%).
Analisando os dados do período mais recente, o gráfico abaixo mostra o crescimento da renda
per capita corrente entre 2015 e 2017. Neste período, o maior crescimento foi de Malta (11,5%),
Lituânia (11,4%) e Irlanda (10,8%). Os piores desempenhos recentes foram da Áustria (4,9%),
Bélgica (5,3%) e França, Itália e Alemanha (com 5,4%). Portugal ficou em 10º lugar, apresentando
crescimento da renda de 7,6%.

Todos estes dados mostram que a retomada econômica recente de Portugal não tem nada de
excepcional. O país continua em declínio demográfico e em declínio econômico quando medido
pela participação no PIB mundial (ALVES, 07/08/2015). A “Geringonça” tem o mérito de trazer
esperança para o país e evitar um agravamento da crise social, mas está longe de reverter o
quadro que coloca Portugal entre os países mais pobres da Eurozona.
Referência:
ALVES, JED. Economia, migração e dinâmica demográfica em Portugal, Ecodebate, 07/08/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/08/07/economia-migracao-e-dinamica-demografica-em-
portugal-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

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