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2016 ano 19
“Assim, a primeira coisa que devemos saber para entender do que Judith Butler está
falando é que as palavras provocam ações e atuações. Que as palavras agem. Que todas
as teorias existentes causam algo em sujeitos concretos. E que a teoria da própria Butler
faz o mesmo, mas não esconde que o faz.” (p.9)
“É impossível, neste sentido, ser “generificado”, ou seja, sofrer os efeitos do gênero fora
do discurso. Pois não há gênero sem discurso, e o discurso é, justamente, o que infunde,
como um dispositivo, aquilo que é o gênero. Se antes os corpos eram vítimas da ciência
da anatomia que legislava sobre eles, agora passaram a ser vítimas da generificação
como uma espécie de segunda natureza que se diz como verdade quanto ao “gênero”.”
(p.10)
“Mas (e a adversativa é importante) aqueles e aquelas que não “fazem” seu gênero
“corretamente” são, muitas vezes, punidos. Os desvios, a depender das circunstâncias
em que acontecem, a depender de sua extensão ou intensidade, costumam implicar em
danos simbólicos e físicos, morais e sociais. As falhas e desvios podem, por outro lado,
se constituir em oportunidade para reconstruções subversivas da identidade; podem até
mesmo, aposta Butler, se prestar a uma política de ressignificação dos gêneros.” (p.15)
“Não existe um processo específico para a constituição das identidades de gênero para
as pessoas trans. O gênero só existe na prática, na experiência, e sua realização se dá
mediante reiterações cujos conteúdos são interpretações sobre o masculino e o feminino
em um jogo, muitas vezes contraditório e escorregadio, estabelecido com as normas de
gênero.” (p.22)
“Nossos corpos são fabricados por tecnologias precisas e sofisticadas que têm como um
dos mais poderosos resultados, nas subjetividades, a crença de que a determinação das
identidades está inscrita em alguma parte dos corpos.” (p.22)
“A diferença é política e não da ordem da natureza humana, o que nos leva a outro
importante raciocínio queer: afinal, o que é o humano em um mundo de buscas e
transformações que fazem da tecnologia subjetiva e corporal um diálogo com outras
tecnologias criadas a partir das intervenções humanas, no tempo/espaço de sua
condição?” (p. 26)
RODRIGUES, Carla. “A política do desejo”
“Para vigiar o corpo, observa ela, já não há mais necessidade de hospital, quartel ou
prisão, porque, com os hormônios sintéticos, as técnicas de controle se instalam no
corpo, ferramenta definitiva da vigilância.” (p.34)
“Nesse contexto, Preciado chega para propor uma contrassexualidade que afirma o
desejo não mais limitado ao prazer sexual proporcionado aos órgãos reprodutores – que
fundamentariam a diferença sexual -, mas uma política do desejo capaz de sexualizar
todo o corpo, lugar de resistência a toda normatividade.” (p.34)
“Ordem e progresso era um mote que afirmava o papel assumido pelas elites de guiar o
Brasil em direção ao branqueamento. A imigração europeia acelerada se dava em meio
a revoltas que ameaçavam o novo regime político. A ordem não era apenas mantida
pelas forças policiais já militarizadas desde o império e que lidavam com o povo como
inimigo, herança até hoje não superada. Ela estava também em algo menos óbvio, ainda
que não menos importante: uma ordenação do desejo. O agenciamento da sexualidade
para a reprodução branqueadora mostra que a “ideologia” do branqueamento não
permaneceu no campo das ideias, também permeou as práticas sociais.” (p.36)
“O ambiente das forças armadas visava criar uma masculinidade disciplinada, uma
forma culturalizada da branquitude a ser estendida aos homens do povo quer fossem
negros, pobres ou mestiços.” (p.37)
“Por força da pedagogia do armário, nas palavras de Deborah Britzman, a escola, lugar
do conhecimento, mantém-se, em relação à sexualidade, ao gênero e ao corpo, como um
lugar de censura, desconhecimento, ignorância, violência, medo e vergonha. Além
disso, a pedagogia do armário, ao ensejar o enquadramento, a desumanização, a
marginalização, opera no cerceamento da autonomia. Afinal, como diz Márcio Fonseca
em Foucault e a constituição do sujeito, processos disciplinares voltados à normalização
de indivíduos tendem a impossibilitá-los de se constituírem como sujeitos autônomos.
Se a educação de qualidade pressupõe a busca do sujeito autônomo, a pedagogia do
armário é um dos seus obstáculos.” (p.45)
BUTLER
“Quando falamos numa crítica da identidade, não significa que desejamos nos livrar de
toda e qualquer identidade. Pelo contrário, uma crítica da identidade interroga as
condições sob as quais elas se formam, as situações nas quais são afirmadas, e
avaliamos a promessa política e os limites que tais asserções implicam. Crítica não é
abolição.” (p.48)