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BOSI, Alfredo. Vieira ou a Cruz da Desigualdade. In: Dialética da colonização. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
Vieira deprecia a função do nome quando este não inclui função verbal. O que interessa
é o verbo, a ação, o predicado verbal.
O sermão aos nobres foca no fazer e não à substância, mas não se detém em
especulações metafísicas.
No Sermão de Santo Antônio, Vieira tem seu discurso mais "ardido" em relação aos
desfrutadores de privilégios. Nele, usa da retórica para "demover o clero e a nobreza de
seu apego injusto ao sistema de isenção tributária, tão nocivo ao erário real quanto ao
oneroso para o Terceiro Estado, aí chamado povo." (p.127)
O discurso de Vieira neste sermão é avançado e moral. Ele diz que a Lei de Cristo,
embora se estenda a todos em igualdade também é uma lei que não suprime a Lei
Natural. Em seu discurso faz analogias cósmicas, como a chuva que cai para justos e
injustos, caindo para todos sem distinção, mas "ao cair neste 'elemento grosseiro' que é
a terra, a água reparte-se de maneira desigual." Desta maneira diz que toda lei divina,
que vem do alto, é justa e isenta. Mas a terra é cheia de disparidades, motivo causador
das desigualdades. Finaliza com uma advertência aos "grandes deste mundo: O que
importa é que os montes se igualem com os vales, pois os montes são a quem ameaçam
principalmente os raios, e reparta-se por todos o peso, para que fique leve a todos."
(p.129)
O critério de Vieira e portanto, da sua época, estava relacionado a uma formação social
de estilo de vida ainda tradicional no interior de uma estrutura econômica mercantil.
Vieira critica os sacerdotes portugueses que adornavam seus templos com ouro e prata
porque isso não condizia com a crença, a destruindo e a desmentindo.
O Sermão da Epifania que foi pregado na Capela real para a rainha viúva dona Luísa,
trata da defesa dos índios contra os colonos do Maranhão. Antes desse sermão, Vieira
voltava a Lisboa expulso pelos colonos depois de vários conflitos causados por conta
do cativeiro. Na presença da rainha e do futuro rei, Vieira pede para retornar ao
Maranhão para "implantar missões autônomas em relação aos senhores de escravos".
(p.134)