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Universidade de Brasília

Instituto de Letras – Departamento de Teoria Literária e Literaturas – TEL


Literatura Brasileira – Barroco e Arcadismo – 2014/2
Professora Adriana de Fátima Barbosa Araújo
Aluno: Gustavo Alexandre de Paiva

BOSI, Alfredo. Vieira ou a Cruz da Desigualdade. In: Dialética da colonização. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.

 Gregório de Matos e Antônio Vieira viveram na mesma época e se conheciam. Diferente


de Gregório, Vieira tinha desde então um status internacional.

 Antônio Vieira possui obra extensa, desde sermões a relatórios políticos. A


compreensão de sua obra e seu apreço só é possível através de uma interpretação que
considere seu contexto histórico, colonial.

 Conselheiro de d. João IV, inspirou a fundação da Companhia das Índias Ocidentais,


que começou a funcionar em novembro de 1649. À companhia era entregue o
monopólio de alimentos como vinho, azeite, farinha, bacalhau.

 Antônio Vieira pregava em um ambiente hostil, tentando convencer a legitimidade de


um empreendimento que deveria ser financiado "por banqueiros e mercadores de
extração cristã-nova." (p.120).

 No Sermão de São Roque há "uma singular simbiose de alegoria bíblico-cristã e


pensamento mercantil". (p. 120-1) O primeiro momento de argumentação do Sermão
foca nas falsas aparências através de uma rede de analogias e por fim, Vieira fala das
Companhias oriental e ocidental: "O remédio temido, ou chamado perigoso, são as duas
Companhias mercantis, Oriental uma, e outra Ocidental, cujas frotas poderosamente
armadas tragam seguras contra Holanda as drogas da índia e do Brasil." (citado na
p.121)

 O problema retórico fundamental do jesuíta é criar um discurso que seja persuasivo e


universal em seus argumentos no intuito de mover de maneira particular a fidalguia e o
clero na reconstrução do reino. Era preciso "pôr em xeque os preconceitos anti-
mercantis e antissemitas que (...) já afloravam nos diálogos morais de um frei Amador
Arrais e repontam (...) nas sátiras de Gregório de Matos." (p.123)

 Vieira se empenhava em reestruturar os valores de seus ouvintes e em redestribuir as


pessoas e os grupos, "quem é nobre? quem não o é?” (p.124) o que dava um tom de uma
modernidade estranha nos seus textos se levarmos em consideração o contexto
hierárquico e contra-reformista da península ibérica.

 O Sermão da Primeira Dominga do Advento trata de um tema típico das vésperas de


natal, o novo nascimento de cada homem, "mas aqui tratada como uma exortação a agir
em prol da contrução de um novo indivíduo na arena da luta social" (p.124)

 No Sermão da Terceira Dominga do Advento, Vieira atribui às coisas "o serem


conhecidas por sua essência" e aos seres humanos a "ação". O que define o ser humano
é o que ele faz.

 Vieira deprecia a função do nome quando este não inclui função verbal. O que interessa
é o verbo, a ação, o predicado verbal.

 O sermão aos nobres foca no fazer e não à substância, mas não se detém em
especulações metafísicas.

 No Sermão de Santo Antônio, Vieira tem seu discurso mais "ardido" em relação aos
desfrutadores de privilégios. Nele, usa da retórica para "demover o clero e a nobreza de
seu apego injusto ao sistema de isenção tributária, tão nocivo ao erário real quanto ao
oneroso para o Terceiro Estado, aí chamado povo." (p.127)

 O discurso de Vieira neste sermão é avançado e moral. Ele diz que a Lei de Cristo,
embora se estenda a todos em igualdade também é uma lei que não suprime a Lei
Natural. Em seu discurso faz analogias cósmicas, como a chuva que cai para justos e
injustos, caindo para todos sem distinção, mas "ao cair neste 'elemento grosseiro' que é
a terra, a água reparte-se de maneira desigual." Desta maneira diz que toda lei divina,
que vem do alto, é justa e isenta. Mas a terra é cheia de disparidades, motivo causador
das desigualdades. Finaliza com uma advertência aos "grandes deste mundo: O que
importa é que os montes se igualem com os vales, pois os montes são a quem ameaçam
principalmente os raios, e reparta-se por todos o peso, para que fique leve a todos."
(p.129)

 O critério de Vieira e portanto, da sua época, estava relacionado a uma formação social
de estilo de vida ainda tradicional no interior de uma estrutura econômica mercantil.

 Vieira critica os sacerdotes portugueses que adornavam seus templos com ouro e prata
porque isso não condizia com a crença, a destruindo e a desmentindo.

 O Sermão da Epifania que foi pregado na Capela real para a rainha viúva dona Luísa,
trata da defesa dos índios contra os colonos do Maranhão. Antes desse sermão, Vieira
voltava a Lisboa expulso pelos colonos depois de vários conflitos causados por conta
do cativeiro. Na presença da rainha e do futuro rei, Vieira pede para retornar ao
Maranhão para "implantar missões autônomas em relação aos senhores de escravos".
(p.134)

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