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HUBERTO ROHDEN

LUZES E SOMBRAS DA
ALVORADA
O que amigos e inimigos dizem da Alvorada e seu Orientador
UNIVERSALISMO
Luzes e Sombras da
Alvorada

Como afirmamos na 4.ª capa, este livro não é um livro escrito somente por
Huberto Rohden. Este livro É Huberto Rohden – seu trabalho, seu ideal, sua
vida. É a biografia do seu esforço cultural e espiritual.

Aqui, são os outros que contam, através de cartas, artigos, bilhetes, discursos
e testemunhos pessoais, como eles vivenciaram uma nova consciência de
vida, motivados pela própria vida e ensinamentos de Rohden.

São luzes e sombras da vida de um homem e do seu trabalho educacional pela


Humanidade. É um livro-Verdade.

Em nome dessa Verdade que o professor Rohden tanto amava, e para


conhecimento de seus leitores e amigos, vamos contar por que o Movimento
Alvorada, fundado e, até sua morte, orientado por ele, tem o nome Alvorada.

Primeiramente informamos que essa palavra, talvez vinda da Índia, tão sonora,
com a letra “a” repetida três vezes, e que é o feminino substantivado do
particípio do verbo alvorar foi, num concurso nacional, proclamada a mais bela
palavra da língua portuguesa.

Mas Rohden não a escolheu premeditadamente para simbolizar o seu trabalho


educacional. Ela começou a ser usada por uma circunstância rotineira e casual.
Foi um surgir e um usar espontâneo, necessário e suficiente.

Em 1951, o professor Huberto Rohden, depois de uma permanência de 5 anos


nos Estados Unidos da América do Norte, como professor de Filosofia e
Religiões Comparadas em uma universidade de Washington, retornou ao Brasil
para fazer parte do corpo docente da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
Por dificuldades de enquadramento pedagógico e em virtude do poderoso
curriculum vitae de Rohden, ele acabou não assumindo o cargo de professor
naquela importante instituição, ficando, aos 59 anos de idade, sem emprego e
sem as bases para a reorganização de sua vida no Brasil.

Depois de um longo período de conferências nas principais capitais e cidades


do Brasil, Rohden elegeu São Paulo como o centro de suas atividades
culturais, e aqui começou a dar um curso livre de Filosofia Univérsica e
Sabedoria do Evangelho.
No início eram dois pequenos grupos. Um no centro da cidade e o outro no
bairro do Ipiranga, ambos dados em residências particulares. O programa
constava de aulas teóricas e, no final, prática de cosmo-meditação.

No distante bairro do Ipiranga, as aulas começavam muito cedo, às vezes


antes das 6 horas. Por este motivo o grupo começou a ser chamado de “o
grupo da alvorada”. O trabalho foi tomando força até ser conhecido por
dezenas e dezenas de pessoas. Mais tarde mudou para o centro da cidade,
juntando-se com o outro grupo; mas o nome “alvorada” continuou para
designar as “aulas e os cursos” ministrados pelo professor Rohden.

Hoje Alvorada é um Movimento de caráter nacional, de incrível potencialidade,


com filial no Rio de Janeiro e em outras cidades, cumprindo, assim, sua missão
de levar a todos a mensagem de autoconhecimento e auto-realização.

Verdadeiramente, Alvorada é mais que o símbolo de um ideal – é a consciência


de um grupo de pessoas empenhadas na realização do Homem do futuro, do
Homem univérsico.
Sumário

Advertência

Prefácio do Editor

Primeira Parte

Pró e Contra Alvorada e seu Diretor

Por que este Livro

Que é Alvorada

Alvorada é uma Utopia?

Sabedoria dos Séculos

Fala um Jornalista Filósofo

Escreve um Intelectual Espiritualista

Fala um Bancário do Estado do Paraná

Fala um Padre Católico, Reitor de um Seminário Diocesano

Fala um Idealista Dinâmico

Fala um Jovem de 18 Primaveras

Fala um Motorista Desorientado

Fala uma Poetisa, através de um Acróstico

Fala o Reitor de um Seminário Católico

Escreve um Penitenciário em Vias de Conversão

Jovem de 17 Anos Suicida-se por Causa de meus Livros

O Mestre e a Mensagem

Segunda Parte

O que dizem da Alvorada e seu Fundador

Um Advogado Místico Fala das suas Experiências


Tem a Palavra uma Ex-Aluna Norte-Americana

Poder versus Verdade

As Auras do meu Ex-Guru

Um Acróstico em 4 Línguas

Contemplando a Dança das Libélulas

Liberta Física e Espiritualmente

Discurso de um Médico-Filósofo

Qual a Religião do Prof. Huberto Rohden?

Escreve um Suicida-Vivo

Nas Alturas da Filosofia Mística

Semana de Conferências

Da Frustração Existencial para a Realização Existencial

Carta de uma Leitora

Mais um Acróstico à Luz da Alvorada

Como Ele é, Física e Mentalmente

Também em Portugal

Saudação ao Prof. Huberto Rohden

Um Jornalzinho Clerical Proíbe os meus Livros

Um Companheiro de Ideal Escreve do Rio

O que um Reverendo Evangélico diz do Livro Paulo de Tarso

Escandalizado com o meu Livro Deus

Fala um Diretor de Instrução Pública Municipal

Para além dos Horizontes Teológicos

Uma Voz Amiga em Pleno Campo de Batalha

Solidariedade de um Sacerdote Amigo

Uma Freira Encantada com De Alma para Alma

O Poder Secreto
Encontro com o Cristo

O Senhor Destruiu a nossa Harmonia Conjugal

Um Monsenhor Entusiasmado

Escreve-me “Uma Espiritualista Feliz”

Uma Alma Crística da Ocidental Praia Lusitana

“Por Causa de Mim Sereis Odiados por Todos”

Reencarnação – como Fato ou como Valor

Discurso do Dr. Bento A. Martins

Terceira Parte

Perguntas sem Respostas

Por que não morri em 1963

Eu – e os Discos Voadores

Por que Dona K. não se Suicidou

Nas Penumbras da Parapsicologia

Cristo Histórico ou Cristo Interno?


Advertência

A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar


é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e
dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior,
porque deturpa o pensamento.

Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a


transição de uma existência para outra existência.

O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é um criador de gado.

Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.

A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se
aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa,
mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.

Por isto, preferimos a verdade e a clareza do pensamento a quaisquer


convenções acadêmicas.
Prefácio do Editor

Tivemos o privilégio de conhecer Huberto Rohden há muito tempo, mais


precisamente em 1939, quando ele ainda desempenhava as funções de
sacerdote, numa cidade do Rio Grande do Sul. Evidentemente, naquela época,
nossa mentalidade ainda infantil, pois tínhamos 11 anos, não podia captar a
grandeza educacional deste brilhante professor e guia espiritual.

Anos depois, em 1952, quando Rohden retornara ao Brasil e proferia um ciclo


de conferências em algumas capitais e cidades dos estados brasileiros,
novamente tivemos contacto pessoal com Rohden. Juntamente com outros,
organizamos suas conferências naquela mesma cidade, onde ele fora
sacerdote.

Sempre lemos e estudamos sofregamente os livros de Rohden, mas somente


em 1959, quando ele ministrava cursos sobre Filosofia Univérsica em Porto
Alegre, é que fomos “atingidos” pela sua grande força espiritual. Uma catarse
de incrível impacto nos atingiu, modificando nosso modo de pensar e agir. Por
meses uma crise existencial de destruição e construção se instalara em nós,
até o indescritível sentimento de certeza do verdadeiro sentido da Vida.

Em novembro desse mesmo ano “abandonamos tudo”, em Porto Alegre, e


viemos para São Paulo, para fazer cursos com Huberto Rohden e para “estar
com ele”. Por estranhas circunstâncias, durante os 10 anos posteriores não
encontramos Rohden, apesar de ele dar aulas, primeiramente no Colégio
Caetano de Campos, na Praça da República, e depois no Centro de Auto-
Realização Alvorada, na rua Conselheiro Crispiniano, ambos os lugares
situados apenas 5 quadras da nossa casa. Nesse tempo trabalhávamos fora da
capital, numa indústria automobilística. Saíamos muito cedo e somente
voltávamos no fim da tarde. Estranhamente havíamos perdido o contacto com
Huberto Rohden.

Foi somente no início da década de 1970 que, novamente, mergulhamos, com


grande entusiasmo, no trabalho educacional do professor Rohden, vindo a ser
– e é um privilégio –, seu aluno, discípulo, amigo, assessor e editor de seus
livros.

Em 3 de julho de 1980, por um ato de sua livre vontade, o professor Rohden,


na plenitude de suas faculdades, através de Escritura Pública, nos fez legatário
de sua obra literária, privilégio e honra que temos cumprido na plena totalidade
de nossa capacidade. Aliás, no final deste livro, no capítulo Cristo Histórico ou
Cristo Interno? Rohden, com fina sutileza, parece mostrar e justificar as razões
dessa sua histórica decisão.

Fomos, com outras poucas pessoas, os últimos a ouvir as derradeiras palavras


de Huberto Rohden, e a receber seu testamento verbal para que o seu ideal
continuasse a ser proclamado a todos os que, de boa vontade, viessem
procurar o Centro de Auto-Realização Alvorada, fundado por ele.

Hoje, o corpo físico do professor Huberto Rohden está em nosso jazigo, no


Cemitério Gethsêmani, da Mitra Arquidiocesana de São Paulo, n .º 0060,
quadra 06, Zona 4-A (onde, seguidamente, são depositadas flores, por seus
amigos e leitores.

Antigos amigos, alunos e discípulos de Rohden, que juntamente com ele


fundaram e dirigiram a Alvorada, pensam transformar a instituição na Fundação
Huberto Rohden, cuja estrutura jurídica permitirá, com mais eficiência e
permanência, realizar a vontade de seu legítimo fundador.

O ano de 1993 marcará o 1.º Centenário do Nascimento de Huberto Rohden.


Um extenso programa cultural já começa a ser construído, por todos os grupos
e pessoas ligados ao filósofo, a fim de assinalar, no contexto cultural brasileiro,
com a devida ênfase, a vida e a obra desse imortal pensador.

Para nós, seus editores, esse evento será mais uma oportunidade para poder
trabalhar pela sua obra e expressar nosso eterno sentimento de gratidão a
esse ser excepcional que, mais que professor, foi um mestre de Vida.

Este livro, impresso pela primeira vez em 1969, pelos antigos editores de
Rohden, sai, agora, em sua segunda edição totalmente revista e modificada
pelo autor que, antes de partir do convívio físico de seus amigos e leitores,
havia preparado a redação definitiva da obra.

Rohden fez várias modificações – retirando e acrescentando texto –, a fim de


dar coerência à linha do seu pensamento. Nós seguimos, com toda a
fidelidade, essas modificações do autor.

Luzes e Sombras da Alvorada é um documento vivo das atividades da


instituição e da vida de seu fundador. Futuros biógrafos do professor Huberto
Rohden terão nestas páginas valioso subsídio para suas pesquisas sobre o
autor e sua obra.

Nestas páginas, os milhares de leitores de Rohden encontrarão fundamentais


informações que esclarecerão muitas dúvidas sobre a Alvorada.

Antes de encerrarmos este prefácio, devemos e queremos expressar nosso


agradecimento às centenas de amigos, leitores e discípulos de Huberto
Rohden que, de muitas maneiras, colaboraram para a realização de sua obra
educacional. A bem da verdade, devemos nominar 3 pessoas que, por mais de
20 anos, dedicadamente, o ajudaram a fundar e dirigir a Alvorada. São eles:
Amélia Roveri Rangel, secretária de Rohden – ela o ajudava a preparar todos
os originais de seus livros; Elvira Fongaro Murano, de tradicional família
paulista, que assessorava Rohden na organização dos Retiros Espirituais; e
Luciano Zulian Teixeira, um bem sucedido empresário paulista que, com
dedicação, prestou inestimável apoio financeiro à construção do ashram de
Jundiai, da sede urbana, e de vários outros empreendimentos da instituição. A
todos esses colaboradores da Alvorada, nosso conhecimento e profunda
gratidão.

Martin Claret
Primeira Parte

Pró e Contra Alvorada e


seu Diretor
Por que
este Livro...

É tarefa ingrata um escritor falar de si mesmo.

Já o disse no prefácio de outro livro meu, Por um ideal.

O próprio Paulo de Tarso sentiu esta inconveniência, numa das suas epístolas;
mas resolveu ser “insipiente”, uma vez que outros o obrigaram a essa
“insipiência” – e, quem sabe? – talvez esta insipiência possa levar outros à
sapiência...

É o meu caso.

Nas páginas deste livro, tento reproduzir pensamentos e palavras que outros,
amigos e inimigos, externaram a meu respeito e sobre o movimento nacional
ALVORADA, que oriento.

Arrisco-me a essa aventura, quiçá desairosa, porque muitos dos meus leitores
necessitam de saber o que outros pensam de acontecimentos de âmbito
nacional. Diz Hermann Keyserling, no seu livro Reisetagebuch eines
Philosophen, que a maior parte dos homens só consegue consciência nítida
das suas experiências íntimas quando as vê refletidas no espelho da opinião
alheia; que a nossa inconsciente subjetividade exige uma conscientização
objetiva, para se tornar integralmente nossa.

Por isto, reproduzindo, neste livro, o que outros disseram, espero despertar no
leitor os seus próprios pensamentos, talvez dormentes ou semi-dormentes.

Reproduzirei com indicação de nomes o que já é do domínio público – artigos


de jornais e discursos proferidos em público; omito nomes de autores, quando
se trata de cartas particulares dirigidas a mim pessoalmente. Mas, quanto a
estas cartas, qualquer pessoa interessada em ver os originais, terá
oportunidade de as ler, caso se dê ao trabalho de me visitar.

Há diversos decênios que escrevo e publico livros. Cerca de 65 dos meus livros
se acham espalhados pelo Brasil inteiro, em diversos milhões de exemplares.
Além destes, quase três dezenas foram por mim retiradas de circulação, e não
estão sendo reeditadas, pelo fato de não refletirem mais a minha mentalidade
de hoje; e eu considero dever de honestidade para comigo mesmo não dizer ao
público o que não mais digo a mim mesmo. Alguns dos meus livros foram ou
estão sendo traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive para o esperanto.

***

Através de todas as cartas, artigos e discursos que perfazem a substância


deste volume, vai, como um fio de luz de ouro, um traço característico e
uniforme, que garante unidade em todas as diversidades, a saber: o anseio de
uma elite mental e espiritual de pessoas para saber por experiência própria,
direta e individual, o que, em séculos pretéritos, foi simplesmente crido
infantilmente, encampado cegamente como artigo de fé – ou que foi
bruscamente rejeitado pela inteligência adolescente como fábula e crendice
anticientífica.

Hoje, neste quase ocaso do segundo milênio da era cristã, existe um terceiro
grupo de homens, equidistante dos que aceitam cegamente e dos que rejeitam
violentamente. Este terceiro grupo, dos que se aproximam da maturidade
integral, continua a usar os invólucros milenares da fé tradicional, mas dá novo
conteúdo a esses velhos contendores.

Esse novo conteúdo consiste numa experiência interna, num contacto direto
com a Realidade Cósmica, com a alma do Universo, com o grande UNO do
Infinito que se revela sem cessar no VERSO dos Finitos, formando esse
misterioso e fascinante UNI-VERSO, essa estupenda Unidade na Diversidade,
que é a Realidade Integral do Cosmos.

Esse terceiro grupo da humanidade-elite é tipicamente univérsico (ou cósmico),


intuindo a alma una do mundo em todos os seus corpos diversos.

O homem univérsico é equidistante do dualismo separatista, que, geralmente,


impera no ocidente, e do panteísmo identificador, que domina boa parte do
oriente; guia-se por um monismo cósmico (também chamado panenteísmo),
que consiste na unidade com diversidade, perfeita harmonia, equidistante da
monotonia unitária e do caos diversitário.

Ultimamente, um exímio cientista francês, Teilhard de Chardin, tentou frisar nos


seus livros esse monismo cósmico do Universo, mas foi violentamente
combatido pelos dualistas separatistas do ocidente, incapazes de distinguir
panteísmo de panenteísmo, como o próprio Chardin lhe fez ver, no final do seu
livro O Fenômeno Humano.

Os antigos romanos davam ao Universo o significativo nome de mundus, que


quer dizer puro.

Para os gregos, o Universo era kósmos, isto é, belo.


O Universo é, pois, harmonia, pureza e beleza.

Ora, se o Universo é isto e se o homem é feito à imagem e semelhança da


alma do cosmos – um microcosmos – um mundo em miniatura, a perfeição do
homem consiste em ser tão univérsico como o próprio Universo, isto é, perfeita
harmonia, pureza e beleza – um homem universificado.

É esta a suprema aspiração da ALVORADA e de suas congêneres em outros


países. E é também este o traço de luz e ouro que, consciente ou
inconscientemente, vai através de todo o conteúdo aparentemente
heterogêneo deste livro – como de todos os meus livros, aulas e conferências.
Que é
Alvorada?

Desde 1952 estou realizando, em diversas cidades do Brasil, cursos de


Filosofia Cósmica (ou Univérsica), cursos de Filosofia do Evangelho e horas de
Cosmo-meditação, Tríduos de Retiro Espiritual, conferências, programas
radiofônicos; também publiquei dezenas de livros – tudo no espírito da
ALVORADA. Além disto nestes últimos anos, ALVORADA construiu, ou está
construindo, diversas casas de Retiro Espiritual (ashrams), onde pessoas
idôneas possam passar períodos maiores ou menores em completa solidão
com Deus e sua alma.

Todas estas atividades são orientadas pelo espírito da ALVORADA.

Em face disto, é óbvio que muitas pessoas queiram saber o que seja
ALVORADA.

É sabido que, no sentido físico, alvorada é o alvor que, no horizonte oriental,


precede o nascer-do-sol. Pois é neste mesmo sentido, embora metafísico,
espiritual, que usamos o nome ALVORADA. É o despontar da luz celeste, da
luz cósmica, da luz crística, em muitas almas humanas.

Talvez nem todos os nossos leitores tenham acompanhado e estejam a par


dos fatos históricos destes últimos decênios, que assinalam o fim da era do
“peixe” e preludiam o início da era do “aquário”.

O período do peixe, que começou pouco antes do nascimento de Jesus,


simbolizava o domínio da fé, no sentido de crença, ato dos homens de boa
vontade.

A era do aquário, que despontou há pouco, simboliza o período da sabedoria,


da compreensão espiritual, atitude própria dos homens que demandam o
sentido real daquilo que os homens de boa vontade apenas aceitam por um ato
de crença. A sabedoria compreende o simbolizado interno daquilo que os
símbolos externos da crença mandam crer sem compreender.

A era do peixe é dos crentes – a era do aquário é dos sapientes.

Aquela é dos egos de boa vontade – esta é dos Eus da compreensão.


Há quase dois milênios que a cristandade ocidental analisa o corpo do
Evangelho do Cristo – nos últimos decênios aparece, em todos os países, em
quase todas as Igrejas, e fora delas, uma elite cada vez maior que procura
viver a alma do Evangelho.

Esta orientação de experiência e vivência cósmica ou crística é que nós


designamos pelo termo simbólico de ALVORADA, ou seja, o alvorecer da
consciência crística, da sapiência cósmica.

Em outros países do globo existem movimentos similares, com nomes vários –


Self-Realization, New Outlook, New Thought, Neugeist, Seicho-No-Iê, etc. –
mas sempre com o mesmo objetivo da nossa ALVORADA.

Em 1956 mandei registrar o nosso movimento como Pessoa Jurídica com o


título “ALVORADA, Instituição Cultural e Beneficente”, sob o número de ordem
10.708, livro A-6, do Registro de Pessoas Jurídicas, na Capital de São Paulo.
Esse registro era necessário por motivos meramente legais; para nós, porém,
os amigos da ALVORADA, não se trata de nenhuma sociedade, no sentido
comum do termo, mas sim duma oportunidade para alguém se integrar, cada
vez mais, no espírito cósmico dos grandes mestres da humanidade, sobretudo
do Cristo.

Para efeitos legais, a ALVORADA é uma pessoa jurídica, devidamente


constituída, com um Estatuto Social, cujas cláusulas regem as ações da
entidade. As decisões administrativas e outras ações são tomadas pela
Diretoria Executiva e pelo Conselho Consultivo, legalmente eleitos para essas
finalidades. As eleições, realizadas de dois em dois anos, são feitas na sede da
instituição, com a participação da Diretoria, do Conselho e dos seus membros-
sócios, estatutariamente admitidos. Toda e qualquer pessoa, independente de
classe, cor ou credo, pode pertencer e acompanhar o espírito da ALVORADA e
gozar dos seus benefícios. Os que frequentam os cursos de filosofia
ministrados pela ALVORADA, em diversas cidades, costumam dar uma
contribuição mensal não-obrigatória, destinada à manutenção e ampliação das
obras externas do movimento.

ALVORADA é, pois, essencialmente um ideal de auto-realização individual,


sem a qual nenhuma reforma social é possível.

Sendo que toda a auto-realização subjetiva é realizada através de alo-


realizações objetivas, ALVORADA tem o seu setor de beneficência material, ou
seja, assistência social – escolas, centros educativos, ambulatórios, creches,
Natal dos Pobres, distribuição de utilidades aos necessitados, etc. Entretanto, a
alma da ALVORADA é sempre o autoconhecimento e a auto-realização do
indivíduo, isto é, a experiência mística transbordando em vivência ética, que,
na mensagem do Cristo, se chama o primeiro mandamento manifestado pelo
segundo mandamento. Nestes dois mandamentos, diz o Mestre, consistem
toda a lei e os profetas, toda a vida humana, externa e interna.

É neste sentido, essencialmente cósmico-crístico, que ALVORADA (Centro de


Auto-realização) procura realizar o seu programa.

***

Nos três primeiros séculos do cristianismo, quando os discípulos do Nazareno


viviam perseguidos, na vida subterrânea das catacumbas, não havia
interpretação analítico do Evangelho.

A partir do século quarto (313, edito de Milão), num período de liberdade e paz,
começaram os cristãos a fazer teologia e filosofia sobre a mensagem do Cristo.

A primeira e mais antiga interpretação do Evangelho é de caráter tipicamente


ritualista, influenciada, certamente, pelo espírito dos mistérios do paganismo
circunjacente: os efeitos espirituais eram considerados como dependentes de
causas materiais – é o período da prevalência dos sacramentos, que ainda
continua nas Igrejas ortodoxa e romana e, em menor escala, em algumas
Igrejas protestantes.

No século 16 começou a prevalecer a interpretação intelectualista: o


cristianismo se resumia na interpretação analítica do texto da Bíblia, bem como
num ato de fé fiducial (crença intelectual-volitiva) na pessoa de Jesus Cristo.

Ultimamente, sobretudo nos países latino-americanos, um setor do cristianismo


procura sintetizar-se num movimento de assistência social, subordinada ao
lema “fora da caridade não há salvação”. Se, pelo termo “caridade” se
entendesse o que esta palavra significa em latim (charitas = amor divino), nada
teríamos que opor; mas, hoje em dia, caridade é homônimo de filantropia, que
não é necessariamente uma manifestação de charitas. As palavras de Paulo de
Tarso, na primeira epístola aos coríntios, capítulo 13, “se eu desse aos pobres
todos os meus haveres, mas não tivesse amor (charitas), de nada me serviria”,
frisam admiravelmente a diferença entre amor divino e caridade humana.

Ritual, intelectual, social – estas três interpretações do Evangelho, através dos


séculos, não coincidem com o sentido central e autêntico da mensagem do
Cristo, como faz ver, num dos seus livros, o antigo vice-presidente da Índia,
Radha-krishnan.

Qual é, então, a quintessência do Evangelho do Cristo? Qual a alma, genuína e


integral, da sua mensagem à humanidade?

Quem responde é o próprio Cristo. Quando interrogado por um doutor da lei


(teólogo da sinagoga) “qual é o maior de todos os mandamentos”, o Nazareno
respondeu, com incomparável clareza e precisão: “O primeiro e maior de todos
os mandamentos é este: Amarás o Senhor, teu Deus, com toda a tua alma,
com toda a tua mente, com todo o teu coração e com todas as tuas forças –
este é o primeiro e maior de todos os mandamentos.”

Depois, acrescenta algo que o doutor da lei não perguntara: “O segundo


mandamento é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo”.

E conclui enfaticamente: “Nestes dois mandamentos consistem toda a lei e os


profetas”, isto é, toda a organização externa-legal (lei) e toda a inspiração
interna-espiritual (profetas) da vida humana.

Aqui temos, pois, a quintessência da mensagem do Cristo: a mística do


primeiro mandamento revelada na ética do segundo mandamento: a
paternidade única de Deus transbordando na fraternidade universal dos
homens.

A filosofia espiritual do oriente, sobretudo nas páginas maravilhosas da


Bhagavad Gita, milênios antes da era cristã, já havia dito o mesmo com outras
palavras. A yoga da Índia distingue jnani, raja, bhakti e hatha yoga, ou seja:
yoga espiritual, mental, emocional e material, correspondendo aos termos:
alma, mente, coração e forças corporais do Evangelho. Depois, manda a
quadrúplice yoga da Bhagavad Gita pôr esta experiência espiritual a serviço da
vivência social, em forma de karma yoga, yoga de ação, que é precisamente o
segundo mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

De maneira que a quintessência de toda a sabedoria, seja do Evangelho do


Cristo, seja da Bhagavad Gita de Krishna, sintetiza toda a vida humana na
grande vertical da mística manifestada na vasta horizontal da ética.

Ora, é precisamente este o programa da ALVORADA, genuinamente crística,


cósmica, universal.

Abraham Lincoln, o presidente-mártir que, após a guerra civil, reunificou os


Estados Unidos, foi o único dos presidentes daquele país que nunca pertenceu
a nenhuma das centenas de Igrejas cristãs existentes na grande democracia
do norte. Considerava-se discípulo da única Igreja do Cristo, do mandamento
do amor divino revelado no mandamento do amor humano, mística
transbordando em ética, que é a quintessência da nossa ALVORADA e das
suas congêneres, em outros países.

***

Em face de tão excelso ideal, era de esperar que apenas uma pequena elite de
alta compreensão crítica acompanhasse o nosso movimento. Verdade é que
centenas de pessoas aparecem às nossas aulas e exercícios de cosmo-
meditação; mas apenas um pequeno núcleo central é firme e coeso.
“Muitos são os vocados – poucos os evocados.”

Todos são potencialmente crísticos – poucos o são atualmente.

Todos podem gozar os benefícios de um banho de sol na luz matutina da


ALVORADA – poucos sabem aproveitar-se desse benefício.
Alvorada é uma Utopia?
Um Ideal?
ou uma Realidade?

Há quem pense que o que nós chamamos ALVORADA seja apenas uma bela
idéia, um lindo ideal, talvez uma utopia fantástica – mas sem nenhuma
realidade vital.

É porque essas pessoas não acompanharam o nosso movimento.

Antes de tudo, convém frisar que ALVORADA não pretende ser nenhuma
novidade, muito menos uma nova religião ou Igreja, nem mesmo uma nova
filosofia. É antes um esforço sincero e honesto de viver realmente, 24 horas por
dia, 365 dias por ano, a grandiosa mensagem do Cristo e de outros mestres
espirituais da humanidade. E de viver isto não como um compulsório “tu
deves”, mas sim como um espontâneo “eu quero”.

Mas a transição do dever compulsório para o querer espontâneo – do “caminho


estreito e da porta apertada” para o “jugo suave e o peso leve” – supõe algo
que poucos homens possuem: COMPREENSÃO, ou seja, experiência vital da
íntima realidade do ser humano.

ALVORADA visa nada mais e nada menos que levar o homem, pela
compreensão da realidade, de uma virtuosidade sacrificial para uma jubilosa
sabedoria ou sapiência.

A mensagem do Cristo, na sua base, para os principiantes, é, certamente,


virtude e virtuosidade – mas no seu zênite, para os finalizantes, é suprema
compreensão e sapiência. Não basta ao verdadeiro discípulo do Nazareno ter
boa vontade – é necessário que ingresse na zona luminosa da sabedoria,
consoante as palavras sapienciais do Mestre: “Conhecereis a Verdade – e a
Verdade vos libertará”.

Libertação não só do erro, mas também do sacrificialismo da verdade.


Este conhecimento da Verdade sobre o próprio homem é que, hoje em dia, se
chama auto-conhecimento, que coincide com a experiência mística do “primeiro
e maior de todos os mandamentos”.

E a realização prática deste autoconhecimento na vida de cada dia é a auto-


realização, a vivência ética do “segundo mandamento”.

ALVORADA visa, pois, a quintessência do Evangelho do Cristo e da sabedoria


de todos os grandes Iluminados da humanidade; e mostra a seus adeptos o
caminho para atingir essa meta.

Mesmo que ALVORADA não pudesse apresentar nenhum resultado palpável


da sua atividade, bastaria o próprio fato de manter firme a linha reta do
autoconhecimento e da auto-realização, essa quintessência de todas as
grandes filosofias e religiões da humanidade de todos os tempos e países.
Felizmente, não sofremos de falasanga, como os orientais chamam a mania de
resultados palpáveis. A Bhagavad Gita diz: “Trabalha intensamente, mas
renuncia a cada passo aos frutos do teu trabalho”. E o Cristo recomenda a
seus discípulos: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: agora
somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa
merecemos por isto.”

Isto é a suprema libertação, pelo conhecimento da Verdade.

ALVORADA estaria satisfeita com esta consciência de estar cumprindo o seu


glorioso destino, mantendo a linha reta da Verdade através de todos os
ziguezagues das ilusões.

Entretanto, apesar de não sofrermos de nenhuma espécie da falasanga, os


resultados não são dados de acréscimo, quase à nossa revelia. Centenas e
centenas de cartas em meu poder, quase todas de pessoas desconhecidas,
atestam que, pelo veículo da ALVORADA, a Verdade está abrindo caminho na
vida de muitas pessoas, transformando o caos de ontem num cosmo de hoje,
mostrando a muitos o caminho certo da verdadeira felicidade. Sem cessar,
recebo cartas em que pessoas extravasam a sua grande felicidade por terem,
finalmente, encontrado uma razão-de-ser no meio de todos os objetivos da vida
terrestre.

É maravilhoso verificar que a caótica frustração existencial de outrora foi


substituída por uma tranquila e firme realização existencial.

Ainda que apenas uma única pessoa tivesse encontrado esse caminho da sua
realização existencial, após tanta frustração existencial, ALVORADA teria
cumprido a sua grande missão – mas o fato é que são muitas e muitas
pessoas, em todos os recantos do Brasil, que encontram a luz no meio das
trevas.
Aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro, ALVORADA mantém cursos
permanentes de Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho, horas de cosmo-
meditação e períodos de Retiro Espiritual, oferecendo a algumas centenas de
pessoas oportunidade para o autoconhecimento e a auto-realização.

Lá fora, por todos os Estados do Brasil, os meus livros, uns 60, estão
circulando em cerca de 5.000.000 (cinco milhões) de exemplares, alguns deles
também traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive o esperanto. Através
destes livros, milhares de pessoas encontram o seu caminho verdadeiro.

Verdade é que nem todos estão em condições de assimilar este alimento


sadio. Por vezes, a semente da Verdade cai à beira do caminho, sobre pedras
ou no meio dos espinhos. E mesmo a parcela que cai em terra boa não produz
toda por igual: há grãos que produzem 30 por um, outros 60, e outros ainda
100 por um – que importa? Não está o discípulo acima do Mestre. O semeador
não é responsável pelo terreno nem pela frutificação; é responsável tão-
somente pela semeadura e pela pura intenção com que semeia a semente, que
é a palavra de Deus. É dever do semeador semear a boa semente, quer
produza quer não produza, quer produza muito quer pouco.

O terreno espiritual são as almas humanas, que não obedecem ao alo-


determinismo mecânico, mas sim à autodeterminação dinâmica do livre-
arbítrio, e por isto não pode o semeador prever o resultado do seu trabalho.
Nunca deve atribuir a si, vaidosamente, o resultado positivo da sua semeadura
– como, por outro lado, também não se deve sentir, pessimisticamente,
frustrado pelos resultados negativos.

O dever do semeador é semear – o resto não é com ele.

Este livro focaliza uma pequenina parcela dos resultados da ALVORADA que,
incidentemente, chegaram ao conhecimento de seu diretor espiritual.

Este livro não tem por fim justificar as atividades da ALVORADA; quer apenas
mostrar o que a palavra da Verdade pode produzir nas almas idôneas e
dispostas a assimilarem o seu conteúdo.

***

Em face da grande circulação dos meus livros, muitas pessoas me consideram


um milionário. Alguns querem saber quantas casas, quantos sítios, quantas
fazendas possui esse Professor Rohden.

A todos eles posso declarar, com a mão na consciência, que, há muitos anos,
estou vivendo praticamente o espírito da filosofia que professo e leciono, em
aulas e livros: não sou dono de um único palmo de terra, de nenhuma casa,
nem sequer da porcentagem dos livros que meus editores me concedem – tudo
isto já passou às mãos da humanidade, em forma de beneficência espiritual e
material; tudo é da ALVORADA, que é uma Instituição Cultural e Beneficente, e
o que é da ALVORADA é do Brasil e é da humanidade. Eu sou apenas o
administrador temporário desta parcela do patrimônio de Deus em prol da
humanidade. Tranquilizem-se, pois, os que me julgam milionário e latifundiário.
Em nenhum cartório do Brasil existe documento que me dê como dono de
algum imóvel; em nenhum banco, nacional ou estrangeiro, existe um único
cruzeiro, velho ou novo, que seja realmente meu. Verdade é que alguns
“amigos” me têm convidado para fazer depósitos em bancos da Suíça, como
fazem milhares de brasileiros; mas os meus capitais estão unicamente nos
bancos de Deus e da Humanidade.

No dia e na hora em que eu fechar os olhos para a vivência terrestre, ninguém


terá de brigar por causa dos meus haveres materiais.

Felizmente, alguns dos meus alunos e discípulos já estão seguindo o mesmo


caminho, desfazendo-se voluntariamente dos seus ídolos materiais em prol de
um ideal espiritual.

Alguns dos que trabalham mais intimamente comigo, no sítio e no santuário


Nirvana da ALVORADA, já assimilaram o princípio do homem crístico: “Aqui
nada se ganha, nada se gasta e tem-se tudo.”
Sabedoria
dos Séculos

As seguintes verdades eternas, quando devidamente conscientizadas,


produzem grandes benefícios espirituais e materiais. Convém proferir,
vagarosamente, sobretudo ao adormecer, uma destas verdades, a que tiver
mais estreita afinidade com a alma de cada pessoa:

1. Uno-me com todas as minhas forças ao Espírito Infinito.

2. Onde quer que eu esteja, lá Deus está – e que mal me poderia acontecer lá
onde Deus está?

3. No meu íntimo SER eu sou o que Deus é – por isto, no meu externo AGIR,
quero também agir assim como Deus age.

4. Envolve-me, penetra-me todo a Luz Branca do Cristo eterno e interno –


nenhum mal me pode tocar, todo o bem me deve caber.

5. Todas as coisas, mesmo as mais pequeninas, são grandes, quando feitas


com grandeza de alma.

6. Livra-me, Senhor, da soberba mesquinhez de querer ser servido – ensina-


me a humilde grandeza de querer servir.

7. Nenhum mal que os outros me fazem me faz mal, porque não me faz mau –
somente o mal que eu faço aos outros me faz mal porque me faz mau.

8. Nunca farei depender a minha felicidade de algo que não dependa de mim.

9. Não sou melhor porque me louvam, nem sou pior porque me censuram –
sou, na verdade, o que sou a Teus olhos, Senhor, e à luz da minha
consciência.

10. Deus, Tu que és Luz, Vida e Amor – manda-me através de todos os Teus
mundos, visíveis e invisíveis, como um raio da Tua Luz, como um sopro da Tua
Vida, como um brado do Teu Amor!

11. Guia-me, Luz Divina, por teus caminhos, para que nenhuma ingratidão me
faça ingrato, nenhuma amargura me faça amargo, nenhuma maldade me faça
mau, que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só!
12. Ensina-me, Senhor, a sintonizar diariamente as antenas de minha alma por
Tuas ondas divinas, a fim de apanhar no meu receptáculo finito as vibrações da
Tua Vida Infinita!

13. Em Deus tudo está, de Deus tudo vem, para Deus tudo volta.

14. Não maldigo as trevas de ódio que me cercam – acendo em minha alma a
luz do amor.

15. Desde que me encontrei contigo, Senhor, faço com leveza as coisas
pesadas, com suavidade as coisas amargas, com alegria as coisas tristes – e
estendo o arco-íris da paz sobre todos os dilúvios das minhas lágrimas.

16. Eu afirmo a soberania da minha substância divina sobre todas as tiranias


das circunstâncias humanas.
Fala um
Jornalista Filósofo

“Ouvi Huberto Rohden numa cidadezinha do nordeste brasileiro, há mais de


vinte anos. Era um pregador da Santa Madre Igreja e parecia investido também
das funções desta figura moderna da sociedade, o “public relations”, porque
com a sua fala atraía não apenas os fiéis da sua própria fé, mas também
ovelhas de outros rebanhos, que se reuniam em torno dele, embevecidas pela
maneira como dizia as coisas. Reencontro agora o sacerdote de outrora. Ele
mudou de roupas e de idéias, mudou até de aspecto, mas não mudou de
assunto. Continua falando em Deus.

O salão da universidade estava repleto. E pareceu-me estranho, naquela noite


de chuva, que tanta gente se reunisse ali para ouvir um homem falar de Deus,
um assunto tão velho e quase sempre abordado de um modo tão complicado,
quando, mesmo numa cidade ainda modesta como Porto Alegre, os programas
mundanos que disputam as nossas horas de folga apresentam tantos números
novos. Uma experiência curiosa que podemos fazer sempre que nos
encontramos num auditório, fazendo parte dele, é assistir também às reações
das pessoas. Pois o imenso salão de atos da nossa universidade, ontem à
noite, era para tal experiência um esplêndido laboratório. Desembargadores,
professores, comerciantes, funcionários públicos – que rada mistura humana!
Uma modesta senhora torcia lentamente o cabo da sombrinha e bebia, quase
em êxtase, cada palavra do pregador. Homens que conheço da rua,
apressados e nervosos, pareciam colados no assento, e tão plácidos como se
flutuassem docemente naquele oceano de conceitos filosóficos. Quem poderia
selecionar, em tal mistura, os espiritualistas e os materialistas, os filhos de
Roma e os filhos de Iemanjá? Que pastor apartaria um tal rebanho? Naquele
momento, o auditório do Professor Huberto Rohden pareceu-me uma síntese
do Universo, assim como uma gota d’água contém na sua pequenez os
elementos de todos os mares.

Quando o professor discorreu sobre a tese espiritualista do Oriente, de que nós


somos Deus, tornou-se ostensiva nos lábios de cada um a satisfação íntima
daquela identificação1. Eu vi na senhora perfumada e grã-fina, que segurava
com tanta elegância o seu “lorgnon”, a mesma alegria da mocinha pobremente
vestida que estava sentada atrás dela. E posso jurar que, naquele momento, se
identificaram. Elas, e todos quantos ali se encontravam.
1. Convém que o leitor verifique nos meus livros em que sentido o homem pode ser chamado
Deus. Nada de panteísmo, nada de dualismo! Monismo Universal!

Não sei em que pecados estarei incorrendo, mas me parece muito saudável a
idéia dos orientais. Se nos conhecêssemos realmente que cada um de nós é
um pouco de Deus, quem sabe se as coisas não terminariam melhorando em
torno de nós?” (Abdias Silva – Folha da Tarde – Porto Alegre, 18-7-1961).2
2. Este conceito não é apenas da Índia e do Oriente longínquo, mas também do Oriente
próximo, da Palestina; permeia todo o Evangelho do Cristo e dos seus grandes discípulos. “O
Pai está em mim, e eu estou no Pai... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai... Vós
sois deuses. Eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo... O reino de Deus está dentro
de vós” – estas e outras palavras do Divino Mestre refletem a quintessência do seu Evangelho,
embora as nossas teologias eclesiásticas discordem.

“Não sabeis – pergunta Paulo de Tarso aos cristãos de Corinto – que vós sois templos do
Espírito Santo e que o espírito de Deus habita em vós?” E de si mesmo diz o apóstolo: “Já não
vivo eu, o Cristo é que vive em mim... O meu viver é o Cristo.”

No mesmo sentido escrevem os grandes místicos cristãos, sobretudo São João da Cruz, Santa
Teresa de Jesus e o rei dos místicos medievais, Meister Eckehart, que foi Superior Provincial
da Ordem dos Padres Dominicanos da Alemanha.

Nos meus livros, sobretudo O Espírito da Filosofia Oriental e A Grande Libertação, encontrará
o leitor abundante material sobre este ponto (H.R.).
Escreve um Intelectual
Espiritualista

“A obra de Rohden é das mais louváveis e características. Imperceptivelmente,


com lógica segura, com argumentos amadurecidos, em verdadeiros diálogos
íntimos com o leitor, vai desbastando o nosso enfumaçado ambiente mental,
vai nos desapegando do entulho filosófico-teológico, produto dos homens,
ensejando-nos a compreensão do cristianismo integral, produto do Cristo
Universal.

Rohden transcende o conceito de seita e alça vôo a alturas que pairam bem
acima das divergências sectárias. Abandona o horizontalismo dos conceitos
analíticos que dividem, para expandir-se na verticalidade dos conceitos
sintéticos que unem.

Nesta transcendentalidade está o seu grande vigor, a força magnética do seu


verbo, o valor da sua obra. Graças a ela, sua palavra penetra em todos os
escaninhos, em todos os setores, propiciando a todos aqueles que não se
encontrem petrificados em suas idéias, mas se acham – como ele mesmo diz –
em estado de “evolução fluídica”, capazes de dispor da devida elasticidade
rumo a novos horizontes.

O autor não é dogmático, nem espera que outros o sejam. No decorrer da sua
fertilíssima obra, ele mesmo se permitiu, de si próprio, várias vezes.”
Fala um Bancário do
Estado do Paraná

“Huberto, não pode fazer idéia de quanto lhe sou devedor, de quanto o amo e o
admiro. Já no ocaso da vida, deparei com aquilo que sempre buscava.

Cinco anos vivi num seminário; mas os ensinamentos ali recebidos não
satisfizeram aos anseios de minha alma. Frequentei por longos anos a Igreja
Presbiteriana, mas ainda sentia que algo de muito importante faltava à minha
alma, embora não soubesse o que fosse. Li inúmeras obras de Léon Denis,
Allan Kardec, Pietro Ubaldi, Hercílio Maes, C. Flammarion, Hugo Collarile,
Aléxis Carrel... Porém, já mais esclarecido, achava que ainda não estava no
caminho, muito embora adivinhasse que esse caminho existia. Ledor assíduo
dos Evangelhos, nunca me conformei com religiões dogmáticas, que com as
suas teologias nos colocam num dilema: a quem devemos dar crédito, aos
teólogos ou ao Cristo?

Ao acaso, numa livraria, simpatizei com o título de uma obra: Ídolos ou Ideal?
Iniciei a leitura dessa obra – e de um só fôlego a terminei. Estupefação, alegria,
lágrimas!... Tabus e dúvidas por terra!... Convicções abaladas!... Tudo isto senti
ao terminar a leitura de Ídolos ou Ideal? Hoje possuo em minha modesta
biblioteca 20 obras da sua autoria... Encontrei, através delas, o que durante 30
anos busquei ansiosamente. Ainda ontem, relendo De Alma para Alma, me
vieram lágrimas aos olhos, e minha esposa perguntou-me: “Por que está
chorando, Nahor?” Disse-lhe eu: “Choro, Aracy, porque sou feliz, porque
encontrei o Cristo, assim como realmente ele é.”

Amigo Rohden, o Sr. já imaginou quanto bem o Sr. tem feito? Já fez uma idéia
de quanta felicidade tem proporcionado aos seus ignotos amigos? Não essa
felicidade caricata almejada por nossos irmãos profanos, mas aquela felicidade
que nos torna bons por amor ao bem, que nos faz amar a Deus não por temor
nem tampouco por aguardar recompensa. Hoje sei que sou cidadão do
Universo, que sou eterno. Hoje sei que tudo está em Deus, tudo vem de Deus,
e a Deus tudo retorna. Hoje a minha vida é uma pleni-vida, uma vida
verdadeira.

A luta contra o ego luciférico é titânica, mas agora tenho certeza da vitória.
Encontro mais dificuldade junto aos meus familiares, pois eles não
compreendem que ser tolerante não significa ser covarde, que humilde não
significa servil. A distância geográfica que nos separa é enorme, porém todas
as noites, após as minhas horas de prece e meditação, o meu pensamento voa
para a pessoa tão querida de Huberto Rohden, e em pensamento lhe digo:
Muito obrigado, ignoto amigo! Como o estimo, admiro e amo! Que Deus o
inspire para que possa escrever muitas outras obras!...

Se, um dia, puder, irei a São Paulo, roubar-lhe-ei apenas um instante para lhe
dizer “muito obrigado” e ter entre as minhas as suas mãos, mãos essas que,
obedecendo aos ditames da alma, têm escrito obras magistrais, que nos
ensinam a amar em verdade e compreender em sua plenitude os
ensinamentos daquele que, ao expirar, nem sequer possuía um relógio de
baixo custo, uma caneta-tinteiro barata e uma tanga,4 mas possuía a
capacidade de dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
4. Referências a Mahatma Gandhi, que deixou esses objetos, quando Jesus, ao morrer, não
deixou nada. Gandhi, ao receber as balas mortíferas de seu assassino, fez-lhe a costumada
saudação hindu, juntando as mãos à altura do peito e dizendo namastê, cujo sentido é: o Deus
em mim saúda o Deus em ti.
Fala um Padre Católico,
Reitor de um
Seminário Diocesano

“Tenho lido vários livros da sua autoria e não posso resistir mais ao desejo de
lhe manifestar minha profunda admiração e, principalmente, minha gratidão
pelo bem imenso que os livros do Sr. me têm feito. A princípio, eu os lia com
certo receio; temia que pudessem afastar-me de Deus, por conterem algo
diferente do que se ensina comumente. Fui verificando, entretanto, tratarem
eles de elevadíssima e incomum espiritualidade própria para eliminar o
materialismo e consequente desespero, que nos cerca.

Atravessei, ultimamente, dificuldades muito grandes e quase insolúveis, e o Sr.,


através dos seus livros, foi o cicerone da vitória. Por isto, eu tenho sempre ao
meu lado O Caminho da Felicidade, e Novos Rumos para a Educação. Aliás, já
distribuí vários exemplares de O Caminho da Felicidade e a muitas pessoas o
tenho aconselhado como meio de abrir novos horizontes de esperança para a
vida.

Quis adquirir outros de seus livros enumerados no catálogo, pois só possuo 7


de seus livros. Estou particularmente interessado no Em Espírito e Verdade,
mas está esgotado.

Gostaria de ter informações sobre o Centro “Alvorada” que o Sr. dirige. Já ouvi
falar alguma coisa sobre o assunto”.

Cartas como esta, do interior de Minas Gerais, recebo-as em grande número,


também de padres de Portugal e da Angola portuguesa da África, prova de que
todo esse feroz clericalismo que detesta os meus livros e seu autor não é
capaz de matar a anima naturaliter christiana. Ainda há pouco, alguém que
conhece o assunto me disse: Pode o Sr. estar certo de que os padres são os
mais assíduos leitores dos seus livros “heréticos”, embora nem todos tenham a
coragem de o confessar em público, com medo de perderem a sua privilegiada
posição.

Coisa análoga acontece, aliás, com numerosos pastores protestantes, que


publicamente hostilizam os meus livros porque não aprovo a bibliolatria deles,
mas muitos os têm em suas bibliotecas, e não poucos pregam em suas igrejas
no sentido das minhas “heresias”.

Com data de 9 de janeiro de 1967, uns três anos depois da carta acima
transcrita, o mesmo sacerdote volta ao assunto da carta anterior, dizendo:

“Há cerca de três anos, dirigi-me a V. S., manifestando a minha satisfação pela
leitura de alguns dos seus livros.

Hoje volto à sua presença para lhe dizer que continuo a ler novos livros da sua
vasta seara. O entusiasmo aumentou, e aumentou muito. Que coisa admirável
é o Evangelho de Cristo e quão profunda a filosofia nele contida. Já havia lido e
estudado o Evangelho, mas ele continuava um livro fechado para mim, embora
eu julgasse conhecê-lo bem; agora tornou-se um livro aberto e, mais ainda, um
programa de vida e de felicidade. Tenho até procurado adaptar as pregações
dominicais de modo a espargirem tanta doutrina boa contida nos livros do Sr.

Acho o Sermão da Montanha e a Grande Libertação os melhores de toda a


série, que conheço. Já possuo cerca de 21 livros do Sr. e os estou lendo
vagarosamente e procurando transformá-los em vida. Já distribuí vários deles
como presente a amigos, que se interessam por ideais que ultrapassam a vida
ordinária. Continuarei a distribuí-los, pois não existe maior dom do que a
verdade purificada de toda superstição e engano.

Gostaria de assistir a conferências que o Sr. costuma fazer no Rio e em São


Paulo. Peço endereços e horários. Gostaria de saber se estas conferências se
fazem também em período de férias.

Muito grato por tudo...”

(Seguem assinatura à mão, e endereço).

Respondi a esse sacerdote sincero e mandei o prospecto da “Alvorada”, com


endereço e horários das duas cidades solicitados.

Como se vê, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”,
como escrevia Tertuliano no segundo século; não há teologias nem filosofias
humanas que consigam destruir esta cristicidade da alma humana, quando o
homem tem a honestidade e coragem de ser fiel a si mesmo, ao seu verdadeiro
Eu divino.
Fala um Idealista
Dinâmico

“ALVORADA DE UMA NOVA ERA – Assistimos à conferência do Prof. Huberto


Rohden sobre a ‘filosofia cósmica do Sermão da Montanha’ como base de
auto-realização, proferida na Associação dos Funcionários Públicos de
Salvador.

É formidável ouvirmos a mensagem desse homem hercúleo de pensamento e


corpo, de cabeleira alva semelhante a um Moisés do século XX.

Logo no início da conferência, quem apresentou o escritor disse que Rohden


tinha sua própria filosofia, que poderíamos chamar de filosofia rohdiana – o que
o conferencista rebateu ao iniciar sua oração, dizendo que não havia nenhuma
filosofia rohdiana, que ele era apenas o eco do pensamento dos grandes
filósofos de toda a humanidade, tendo como supremo mestre Jesus, o Cristo. A
cultura de Rohden é gigantesca. Cita Gandhi, do qual fez uma recente
biografia, Sócrates e Einstein, com a mesma facilidade com que discorre sobre
a Divina Comédia, de Dante.

Nos círculos ortodoxos das religiões ou dos intelectuais sectários (Rohden é


combatido e desdenhado. O certo é que este solitário e genial leão da cultura e
do pensamento faz ruir todos os nossos falsos mitos com uma clareza e
originalidade incomuns.

Seria imensamente difícil sintetizar o seu pensamento num só artigo.


Aconselho que leiam e ouçam o fabuloso filósofo brasileiro.

Huberto Rohden é uma autêntica revolução para o pensamento. Transporta-


nos para mundos ignotos. Com cerca de cinco milhões de exemplares de livros
espalhados pelo Brasil afora, Rohden constitui um dos maiores best-sellers do
País.

Sabemos que qualquer pensador desvinculado das organizações sectárias


está fadado a ser combatido e perseguido, principalmente quando se trata de
religião – e Rohden não foge à regra. Combatido pelos profissionais do Cristo e
ridicularizado pelos intelectuais tidos como ateus, ele voa como um pássaro
livre, cheio de entusiasmo, cultura e ação, por todos os rincões da Pátria,
anunciando o retorno do Cristo das catacumbas, e não o culto da idolatria,
bibliolatria, mariolatria, etc.

Devo confessar publicamente que, na minha adolescência, quando vivia


torturado pela influência satânica do medo do inferno por não ser batizado e
não ser miado a nenhuma Igreja, me surge na Bahia este fabuloso Rohden e
me salva dos terríveis tormentos psicológicos que me afligiam desde a infância,
graças à educação religiosa que me deram. Hoje percebo como é
ridiculamente trágica a educação religiosa tradicional. E como ficam
desfigurados os seus crentes sinceros...

Assim como São Paulo renegou a sinagoga de Israel, Rohden também não
pôde continuar como padre por uma questão de fidelidade a si mesmo. Não
podia servir a dois senhores: a Deus e a Mamon.

A História dos Profetas se repete. Hoje sutilmente perseguido, segue este


profeta, como um jornalista desassombrado a anunciar o retorno à verdade de
Jesus, o Cristo, denunciando o desvirtuamento da divina mensagem do
Sermão da Montanha para o retrocesso à lei de talião: dente por dente, olho
por olho.

Felizmente, no mundo sempre surge um raio de luz; porque, se assim não


fosse, a humanidade mergulharia no mais terrível sofrimento do egoísmo
materialista e da maldade destruidora. Com o mundo dividido e ameaçado de
destruição total, provocada por sectarismos estreitos de dogmas políticos e
econômicos, habilmente manipulados pelas ambições satânicas, ainda há
esperança de se acordar para um mundo novo, livre desta terrível dualidade de
capitalismo e comunismo, de crentes e ateus.

Não compreendo a guerra de silêncio contra este mestre da cultura universal.


Todos o lêem. Ninguém o comenta...

Assim como Krishnamurti revoluciona a Índia misteriosa de mitos milenares,


Rohden revoluciona esta jovem nação para a Alvorada de uma nova Era.”

(Jornal da Semana, Salvador, Bahia, 10-2-1962).


Fala uma Jovem
de 18 Primaveras

“O que ouvi do Sr., nestes poucos dias em que aqui esteve, calou fundo no
meu Eu. Suas palavras e sua imagem seguem-me dia e noite. Parece-me que,
apesar dos meus pesares, minha vida passou a ser cor-de-rosa. Se bem que o
meu ego seja ultrateimoso, estou contudo fazendo um esforço tremendo.

Suas palestras estão causando enorme efeito naquele pequeno grupo que o
seguiu nos 10 dias em que aqui esteve. Todos estão combatendo o seu “irmão
burrinho”.5
5. Alusão ao fratel asino (irmão burrinho), como Francisco de Assis chamava o seu velho ego
humano, que teimava em desobedecer ao seu Eu divino.

Sr. Huberto, sua visita a Goiânia foi para mim muito propícia, pois nessa
ocasião, ou melhor, no dia anterior à sua primeira conferência, blasfemei
demais. Pensei até em suicidar-me. Por quê? Por motivos fúteis: considerava-
me ruim e inútil e causadora da infelicidade de todos os que me cercam: 1)
briguei com minhas irmãs; 2) discuti por motivos fúteis com meu noivo; 3) por
minha causa, papai discutiu com mamãe. Como vê, sou fraca. Não tenho
religião, embora seja espiritualista; também não tenho ilusão, apesar de contar
apenas 18 anos.

Sr. Huberto, como praticar meditação?... Estou desorientada...

Mestre, ajude-me, peço-lhe. Tenho uma vontade imensa de melhorar, de tirar


minha “luz de baixo do alqueire e colocá-la no alto do candelabro”...
Fala um Motorista
Desorientado

A seguinte carta, de um motorista de praça do Rio de Janeiro, mostra o que um


homem pode fazer quando se deixa empolgar pelas palavras do divino Mestre,
“sede simples como as pombas” – e mostra também como é fatal omitir a
segunda parte da admoestação “sede inteligentes como as serpentes”. Esse
homem não descobriu a síntese salvadora entre a providência divina e a
previdência humana – e acabou nesses dolorosos apuros que fala a seguinte
carta, que reproduzimos apenas em parte, pois ela abrange nada menos de 18
páginas).

“Sr. Rohden. Estive em São Paulo à sua procura, mas não consegui encontrá-
lo. Queria apenas pedir-lhe um emprego no seu sítio, a fim de salvar-me da
situação desesperadora em que me encontro, criada pelos seus belos livros de
filosofia cristã.

Sou um homem de quase 47 anos de idade. Vivia profanamente feliz com


minha companheira, em um apartamento com relativo conforto, possuindo
televisão, geladeira, rádio-vitrola, etc. Trabalhava num táxi de minha
propriedade, que me dava o suficiente para as despesas.

Até que um dia, por artes do diabo, peguei num livro de sua autoria com o título
Em Comunhão com Deus. Então começou a minha odisséia...

Eu, que nunca acreditara em Deus, entusiasmei-me pela sua literatura


convincente de que Deus existe, e fui comprando quase todos os seus livros,
procurando praticar todos os seus ensinamentos.

O primeiro obstáculo que encontrei foi a minha companheira; pois a minha vida,
em relação a tudo, inclusive em minhas relações íntimas, mudou
completamente. Dizia-me ela que não podia mais me suportar; pois eu estava
ficando louco, lendo bobagens que não existem.

A princípio, eu não lhe dei importância e continuei a ler os seus livros,


praticando o bem, dando aos outros o que podia dar, transportando
passageiros de graça no táxi, acreditando piamente que “há mais felicidade em
dar do que em receber.”
Ela, não me compreendendo e não suportando mais as minhas idéias,
expulsou-me de casa. Reagi, e ela chamou a Rádio-Patrulha, indo eu pela
primeira vez em minha vida parar num xadrez imundo. Ela declarou ao
delegado que eu estava louco e que a ameaçava de morte. Como tudo que
tinha em casa estava em seu nome – pois não éramos casados –, o delegado
deu-lhe razão e disse que, se eu aparecesse no apartamento, que ela
chamasse novamente a Rádio-Patrulha, que ele me daria uma lição.

Desesperado, pensei que Deus me tivesse abandonado e tentei me suicidar.


Passei três dias no Hospital Miguel Couto entre a vida e a morte. Fora de
perigo, fui levado por meu padrasto para a casa de minha mãe.

Mais calmo, refletindo, pensei que esta desgraça seria para o meu próprio bem,
e me conformei em perder tudo: conforto do lar e minha companheira. Ainda
me restava o carro para trabalhar.

Mas, em casa de minha mãe continuou o meu sofrimento. Meu padrasto, que é
espírita e diz que é médium, não compreendendo a filosofia que eu praticava,
entrou em conflito religioso comigo. Minha mãe, que acompanha a religião
dele, virou-se contra mim, tornando a minha presença em sua casa um
martírio.

Nessas alturas, eu já me encontrava desorientado, quase não saindo com o


carro para trabalhar.

Fizeram uma reunião em casa, e meus irmãos disseram-me que eu estava


esgotado, perturbado com os últimos acontecimentos e que eu devia
descansar um pouco num sanatório. Concordei e fui internado no Sanatório
Botafogo, à Rua Álvaro Ramos.

No primeiro dia que passei no Sanatório sem os meus livros – pois não me
deixaram levá-los – notei que eu não estava internado para descansar, mas
sim como um verdadeiro louco. Reagi violentamente, pois isto significava o fim
da minha vida.

No fim de três dias, apareceram os meus parentes e me disseram que, se eu


não quisesse ficar internado, eles me tirariam de lá, mas que eu me arranjasse
sozinho, pois nenhum deles queria mais saber de mim.

Com fé em Deus resolvi enfrentar o desprezo dos meus parentes e arranjei


para morar num barracão existente num terreno vazio, à Rua Padre Roma, no
Méier.

De acordo com os seus ensinamentos, suportei tudo com resignação, pois era
a vontade de Deus que eu sofresse tudo isso. Assim, depois de lutar tanto na
vida, profanamente, e de ter tido alguma coisa, morando confortavelmente num
apartamento com minha companheira, eu me via jogado num barracão de
madeira, sem água e sem luz, sozinho, considerado louco por todos, possuindo
apenas o meu carro e os meus livros.

Esperava que, quando encontrasse o “reino de Deus e sua justiça”, tudo


voltasse ao normal, isto é, que a minha companheira me compreendesse e me
aceitasse de volta, assim como os meus parentes.

Trabalhando no carro, quase sempre servindo de graça – o que surpreendia os


passageiros –, ganhava o suficiente para comer, o que me bastava; pois não
pagava casa.

Porém, os meus sofrimentos não terminaram aqui. Levei uma forte batida no
carro e, como não tinha dinheiro para consertá-lo e não podia contar com
ninguém para me ajudar, resolvi vendê-lo a um colega pelo preço de 40 mil
cruzeiros (velhos). Este carro valia mais de 300 mil. Pensei ser a vontade de
Deus que eu perdesse o meu carro.

Com este dinheiro paguei umas dívidas e tratei de procurar um emprego


modesto que me desse para viver honestamente com Deus.

E aqui começa o meu maior martírio. Como estou com quase 47 anos, como
lhe disse, ninguém me quer dar trabalho por causa da idade. Comecei então a
me desesperar. Como? Eu não servia mais para trabalhar? Sem trabalho, eu ia
terminar na miséria. Será que Deus me tinha abandonado?

Comecei então a refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida.


Quando eu não acreditava em Deus, vivia feliz. Agora, que eu procuro a Deus,
sou infeliz, desprezado por todos como um louco e inútil. Por quê?

Resolvi então procurá-lo em São Paulo, mas não o encontrei.

Em São Paulo, quase de novo tentei suicídio. Mas, pensando melhor, resolvi
devolver todos os livros que me fizeram infeliz, ao seu autor, por intermédio do
Dr. (nomeia um advogado, meu aluno no Curso de Filosofia, no Rio), para que
os vendesse...”

(Segue o resto, no mesmo tom. Infelizmente, o motorista desapareceu sem


deixar vestígio. De quinze em quinze dias estava eu no Rio, para as
costumadas aulas de Filosofia Universal e Filosofia do Evangelho. Nem eu nem
ninguém recebeu visita dele. E assim nada pudemos fazer pelo motorista.

Por aqui se vê como é necessário que um neófito, apesar de tão bem-


intencionado e tão sincero em suas aspirações cristãs, tenha um guia espiritual
que o dirija com prudência nas veredas do espírito, muitas vezes escuras e
incertas.

Os meus livros, que a tantos deram profunda felicidade, também teriam tornado
feliz a esse motorista sincero, se não se tivesse isolado no seu entusiasmo
religioso, em vez de se associar a outros companheiros na mesma jornada
rumo a Deus).
Fala uma Poetisa,
Através de um Acróstico

ARAUTO DE DEUS

Há no teu íntimo sabedoria;


Ultrapassaste a compreensão restrita
Baseada numa vã filosofia,
Escravidão parcial que o bem limita.
Resplendem nos teus largos horizontes
Toda a beleza e luz das grandes almas,
Onde a verdade das divinas fontes
Reside em águas límpidas e calmas.
Os teus lavores nobres foram pontes,
Hasteando o lábaro da fé candente,
Dás norte claro ao viajor terrestre
E segues como lume à nossa frente.
Na trilha vertical, querido mestre!

Mahiru – Porto Alegre – 1959.


Fala o Reitor de um
Seminário Católico

“Desde os tempos do Seminário sou leitor dos seus livros, e até hoje sou
discípulo seu incondicional. Os meus sermões são inspirados nos seus livros –
mas não o digo aos ouvintes, para não ser por eles acoimado de “herege”.
Pode o Sr. ter a certeza de que os melhores elementos do clero pensam como
o Sr., embora, por motivos de ordem externa, não ousem confessá-lo. Os seus
discípulos, por este Brasil afora, não são milhares, são milhões, porque os seus
livros despertam no homem o anima naturaliter christiana.”
Escreve um
Penitenciário em Vias
de Conversão

Para muitos delinquentes, parece a longa reclusão na Penitenciária ser


oportunidade para pensarem numa séria reforma da sua vida. Muitos deles,
talvez pela primeira vez, travaram conhecimento com o Evangelho do Cristo, e,
como quase toda a minha filosofia gira em torno dessa grande mensagem do
Mestre, os presidiários se afeiçoam aos meus livros e, de vez em quando, me
mandam cartas escritas na solidão da sua cela. Outros, entre eles o
famigerado “Sete Dedos”, me pedem visita. E, quase todos eles, me
surpreendem pela nobreza dos seus sentimentos. Por vezes, me vêm à mente
as palavras que um visitante a um manicômio de São Paulo deixou
consignadas no livro de visitas, em que ele diz: “Nem todos os que estão são –
nem todos os que são estão”. Não seria isto aplicável também aos

inquilinos das Penitenciárias? Nem todos os chamados (loucos ou) criminosos


o são realmente – nem todos os que são realmente (loucos ou) criminosos
estão aqui?

Em 12 de agosto de 1957, um dos inquilinos na Penitenciária Lemos Brito, do


Rio de Janeiro, me escreve, entre outras coisas:

“Prezado Senhor Huberto Rohden.

A paz de Deus seja convosco.

Há muito que venho confortando minha alma com as leituras escritas por
Vossa Senhoria. E, como não tenho palavras para expressar, aqui nesta carta,
o quanto meu coração deseja falar-lhe, rogo-lhe que, se for da vontade de
Deus, que Vossa Senhoria me envie os exemplares dos livros Porque
Sofremos e Deus e o Sofrimento Humano.6
6. O segundo livro mencionado não é da minha autoria.

Prezado senhor, sou um desses sofredores anônimos aos quais Vossa


Senhoria dedica as páginas do livro Porque Sofremos. Creia-me, senhor, cada
página deste livro contém uma parte da minha vida. Nas páginas deste livro
tenho encontrado remédio para os meus sofrimentos e coragem para alcançar
o objetivo que desejo.

Hoje reconheço as minhas culpas e misérias, que por espaço de 18 anos vivi
mergulhado na senda dos crimes e do vício. Vejo nas páginas do livro Porque
Sofremos os prós e os contras da minha vida desregrada. Vejo a minha
condenação e a minha absolvição.

Que Deus o inspire para escrever mais literaturas para “a legião imensa dos
sofredores anônimos.

Vosso criado...”
Jovem de 17 anos
Suicida-se por Causa
dos meus Livros

Sim, por causa dos meus livros – e também por amor a Deus e para estar mais
perto do Cristo.

É o que, numa carta de 24 de abril de 1964, afirma o pai do jovem suicida. O


autor da carta é tabelião numa cidade do Paraná.

Da carta transcrevo o seguinte:

“Não quero ofendê-lo, por amor de meu filho. Ele o admirava muito. Mas devo
dizer-lhe a verdade, para ser autêntico, como meu filho fora, além de santo e
sábio precoce (17 anos) – devo dizer-lhe que o seu gesto supremo, suicidando-
se, foi para viver as idéias que o senhor prega, mas não viveu (todos os grifos
são do autor da carta!). Ele foi maior do que todos os seus livros... Renunciou
até à vida pelo Cristo.”

O caso foi de grande notoriedade. O pai publicou diversos artigos em vários


jornais, além de espalhar um avulso, com o retrato do lindo jovem, intitulado
Ideário e Destino, no qual figuram as seguintes frases em parte tiradas dos
meus livros:

– Ser solidário, honesto, simples, leal, sincero e autêntico.

– Não mentir, não ferir, não julgar!

– Amar a Deus em todas as coisas.

– Matar todo sentimento de separatividade, filho do egoísmo e da ignorância.

– Tira o mal do teu coração e do teu pensamento – e desaparecerão todos os


problemas do mundo.

– Jamais procures ver nos outros os seus possíveis defeitos, mas sempre as
grandezas de sua alma, porque todas as criaturas são potencialmente divinas.

– Procura a tua felicidade em fazer felizes os outros.


– Pensa sempre em dar, e nunca em receber.

– Queima os teus navios, meu amigo!

– O amor é a mais poderosa afirmação do espírito. Não há ontem tão pecador


que o hoje do Amor não o possa converter num amanhã de excelsa pureza.

– Eu sou o meu ideal.

– O fim da prece não é alcançar algum bem – é fazer-te bom. A prece te faz
melhor, mais paciente, mais humilde, mais caridoso, mais sereno, mais leve,
mais feliz, mais humano e mais divino.

– Seja tão potente a força do teu espírito, seja tão pujante a juventude de tua
alma que nenhuma ingratidão te faça ingrato, nenhuma derrota te faça
derrotista, nenhuma amargura te faça amargo, nenhuma injustiça te faça
injusto. Mas, para triunfar interiormente com o triunfo alheio, requer-se grande
heroísmo da alma.

– Faze bem a ti mesmo, na pessoa dos outros. Faze o bem por amor ao bem –
dentro de ti mesmo e aos outros. O único meio de fazeres bem a ti mesmo e
aos outros, é seres bom, intimamente bom.

– Todo ato mau facilita futuras quedas e recaídas e dificulta a ressurreição.

– Sê silenciosamente bom, ama sem te oferecer.

– ‘O sábio sabe que nada sabe’.

– Não me pode a redenção do Cristo redimir do inferno de Satã, se eu não me


redimir do inferno de mim mesmo – e do inferno de mim mesmo só me redime
a dor.

– Para ser bom, deve o homem viver e sofrer a sua própria vocação. Deve
guardar absoluta fidelidade ao seu íntimo ser. Deve ser integralmente sincero
consigo mesmo. Deve prestar culto incondicional à Verdade e ao Bem. Deve
saber unir a Justiça ao Amor. Deve preferir a retilínea convicção às curvilíneas
convenções. Deve ter linhas definidas como o cristal, e não ser amorfo como a
argila. Deve imolar a farta escravidão na ara da liberdade austera. Deve ser um
eco do Eterno, no deserto do mundo efêmero. Deve ser um emissário de Deus
no meio da humanidade. Um sopro do Infinito...

– Faze da tua vida uma sementeira do bem – e será a tua morte uma colheita
de felicidade.

– Quanto mais te distanciares de ti mesmo e te aproximares de Deus, tanto


mais vasto será o silêncio, tanto mais profunda a solidão. O silêncio da
Divindade é a mais rica das plenitudes... O silêncio de Deus é a mais
estupenda das sinfonias do Universo... O Silêncio do Amor... O silêncio da
dor...

– É assim a vida de todo homem que vive o Evangelho: sofrendo, com grande
alegria... Gemendo, por entre aleluias... Luminoso, em plena noite... Sorrindo,
através de lágrimas... Sem posses, e tudo possuindo... Ultrajado, por entre
hosanas... Derrotado, e sempre vitorioso... Morrendo, e sempre renascendo.”

Estes pensamentos, transcritos do Ideário do jovem suicida Loumar, são


tirados dos meus livros, e alguns do prospecto da nossa “Alvorada”; Verdades
Eternas.

Pergunto aos leitores – o que perguntei ao pai do jovem – se, nesses


pensamentos, ou em outros dos meus livros, se encontra algum convite ao
suicídio? Verdade é que todos os mestres da sabedoria, sobretudo o Cristo e
seu discípulo Paulo de Tarso, convidam o homem a uma espécie de suicídio,
ou melhor, egocídio. Haja vista as palavras do Cristo: “Se o grão de trigo não
morrer, ficará estéril; mas, se morrer, produzirá muito fruto”. Ou a jubilosa
exclamação de Paulo: “Eu morro todos os dias, e é por isso mesmo que vivo;
mas já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”. Entretanto, nenhum
deles praticou suicídio. A mais corajosa afirmação do amor de Deus e da
vivência no Cristo está precisamente em não ser escapista da vida, como o
jovem Loumar foi, mas em afrontar vitoriosamente todos os revezes da
existência e potencializar o amor divino ao ponto de morrer voluntariamente
para todos os egoísmos da vida terrestre, sem ser morto ou se matar
fisicamente.

Infelizmente, o jovem idealista de Ponta Grossa não teve quem o orientasse


devidamente e soubesse canalizar a impetuosa torrente do seu idealismo em
direção mais verdadeira e mais crística.

E assim, o meu jovem e ignoto admirador, em 22 de abril de 1964, quando


estava cursando o 3.° Clássico de um colégio local, desertou da vida física, na
ilusão de que essa fuga do campo de batalha o ingressasse na pátria das suas
grandes aspirações.

Esse exemplo trágico mostra, mais uma vez, como é necessário, pelo menos
no princípio da jornada ascensional, ter um mestre ou guru que leve pela mão
os viajores de alta potência – mas ainda sem orientação segura.

Nestas linhas, deposito sobre o túmulo do meu jovem e ignoto discípulo e


admirador uma coroa de flores, e das profundezas de minha alma lhe envio
uma vibração de amor, juntamente com um anseio de esperança de o
encontrar, um dia, em alguma região do Universo de nosso Pai e do nosso
Cristo.

Amigo Loumar, salem aleikum! (A paz seja contigo.)


O Mestre
e a Mensagem

Há no teu verbo o gênesis da Vida,


Um cântico de amor, o gume de uma espada
Bebidos por tu alma na Fonte do teu Ser.
E segues, eterno Bandeirante do Infinito,
Rasgando ao teu clarão o mito do pecado,
Trazendo para a luz a Mensagem cifrada:
“O Homem – Deus – Cosmos – são Um! Fora d’Ele, o nada!

Renunciando, ganhamos. Morrendo, renascemos.


Ousa descer ao báratro e ascender
Homem cósmico à luz de uma Alvorada.
Demanda, peregrino, as praias do Infinito,
Expressando teu ser de essência universal,
Nascituro Senhor! Vidente da Verdade!”

Cora Torres Maia

Porto Alegre, 25 de julho de 1961.


Segunda Parte

O que dizem da Alvorada


e seu Diretor
Um Advogado Místico
Fala das suas
Experiências

Da longínqua Goiânia, recebo carta de um advogado amigo, que, anos atrás,


iniciou o hábito salutar de fazer cada manhã meia hora ou uma hora de
meditação e contemplação espiritual – e a sua vida profissional mudou
totalmente. É que esse homem tomou a sério as palavras do grande Mestre:
“Procurai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras
coisas vos serão dadas de acréscimo”. Muitos, quando iniciam vida espiritual,
receiam por essas “outras coisas”, receiam que a espiritualidade prejudique as
suas materialidades. O nosso advogado e assessor jurídico fez exatamente a
experiência contrária, e isto porque não fez da espiritualidade um meio
subordinado ao fim da prosperidade material, o que não seria “procurar em
primeiro lugar o reino de Deus”. Em hipótese alguma, poderá o reino de Deus
servir de meio ou condição para o fim de enriquecer. Isto seria uma tentativa de
burlar a retidão da Constituição do Universo.

“O Sr. – escreve o advogado – nos abriu um mundo novo, creia. Se bem que,
por intuição, já possuísse alguns apagados traços dessa mística extraordinária,
sua presença entre nós veio aclarar nossos horizontes. O Sr. pode ter a
certeza de que, pelo menos, dois discípulos aqui deixou: Dr.a Antonieta e este
servo que ora lhe escreve.

Passei os dias a seu lado sem dar conta do tempo ou dos trabalhos que teria,
normalmente, desempenhado. Foram grandes dias de minha vida, e desejo
imensamente continuar a receber de sua pena brilhante os esclarecimentos
necessários para que continue na jornada.

Quando o avião partiu – creia-me, meu querido amigo – senti um misto de


alegria e de tristeza. Alegria, por ter conhecido um mundo novo a seu lado; de
tristeza, por vê-lo partir. As lágrimas se me represaram nos olhos, e um
encantamento novo, uma nova ânsia de progresso espiritual, uma leveza que
se não podem explicar, pareciam invadir-me o ser.
Rebusquei em meu jardim as plantas que foram ali colocadas por sua mão. Em
tudo parecia encontrar algo do Mestre.

Perdoe-me as divagações, que mais se assemelham a sentimentalismo que,


talvez, sejam balofos e filhos da inexperiência... Mas o Sr., que tem uma
grande alma – e eu o pude comprovar – saberá interpretar essas emoções de
um discípulo que deseja acertar e seguir, se possível, reto ao caminho da luz.
Li o seu livro Em Comunhão com Deus e apliquei à minha meditação das 6 da
manhã os seus ensinamentos. Bem me falara o Sr. que uma paz diferente nos
embebe a alma, quando meditamos

Minha senhora e eu fazemos a nossa meditação das 6 às 6h 45. Antes, tomo


um banho frio, como o Sr. nos aconselhou.

O Sr. acha que se deve fazer uma vibração de paz, de harmonia e de luz, para
todos os sofredores, nessa hora, não é? Hoje vibrei para o Sr., e me senti
muito bem. Parece que, como diz Mouni Sadhu, em Dias de Grande Paz,
nosso guru nos imanta e nos fornece energias para vencer as dificuldades. O
Sr., nesses dias, estará em Retiro Espiritual e talvez, quando estiver lendo esta
carta, já se encontre em sua chácara,7 abismado no Infinito. Mas, mesmo
atrapalhando-o, tenho necessidade de me comunicar consigo.

7. O autor da carta se refere ao Sítio, perto de Jundiaí, Estado de São Paulo, onde nesse
tempo estávamos construindo um Ashram para que as almas desejosas de se encontrarem a
sós com Deus e sua alma, de permanecerem por tempo indefinido em silêncio e solidão,
tenham um lugar apropriado para realizar esse seu anseio. Como se trata de um ideal de alto
nível, não podemos contar com uma chuva de milhões, para a nossa Casa de Retiro Espiritual,
como certamente aconteceria se anunciássemos a fundação de uma boate ou dum campo de
futebol. A Casa de Retiro “Betânia” está funcionando desde 1970.

Por enquanto, como o Sr. sabe, nada senti senão uma calma intensa e uma
abstração das coisas terrenas; mesmo porque se não consegue o samadhi8
ainda. E isso está longe, eu o sei. Minha senhora, que é um tanto vidente,
percebe um vulto de branco. Nada mais.”

8. Samadhi é a palavra sânscrita para êxtase, que Paulo de Tarso chama “terceiro céu”, estado
de consciência espiritual absoluto.

Cerca de seis meses mais tarde, o mesmo advogado-assessor me escreve


outra carta, da qual transcrevo o seguinte:

“Continuamos as nossas meditações todas as manhãs, com o banho frio. Entro


em meditação às 6 em ponto. Se bem que o progresso seja lento, já podemos
apresentar visíveis melhoras, seja no modo de interpretar a vida, seja na saúde
física, seja no poder de concentração, que aumentou bastante. O caminho é
espinhoso, como bem explicou o querido amigo. É duro de ser trilhado; mas
nele experimentamos uma emoção diferente, e as modificações internas são
substanciais. Que alegria o Sr. nos veio trazer! Agradecemos a Deus,
diariamente, a graça de o termos conhecido. Que a sua missão continue a
oferecer frutos eficazes e que a luz que jorra da sua compreensão superior da
vida se espalhe como foi espalhada aqui.

Com a meditação vai se tendo uma compreensão completamente diferente da


vida. Noto isto em mim. Tudo é bom. Tudo é alegre, mesmo nos transes mais
difíceis. As intuições se nos apresentam mais frequentemente, e de maneira
mais elevada.

Os livros que o Sr. me indicou são de um valor fabuloso. A substância é de tal


ordem que, com a repetição da leitura, se vai, aos poucos, tendo novo
entendimento da vida e do Ser Real. A “Vichara”9 é um exercício fabuloso,
quando dela nos lembramos nas ruas, no trabalho e nas horas de lazer. O Sr.
pode estar certo de que eu me transformei em muita coisa. Minha patroa
também faz meditação comigo. Ela tem visões, que eu não tenho. Minha
compreensão sobre espiritismo sofreu alguma transformação, como o Sr.
mesmo me informou por aqui. Busco agora o Real, o Superior, que está acima
de todas as manifestações.”10
9. Vichara é o exercício de se perguntar constantemente a si mesmo “que sou eu?”, como
ensina o livro Dias de Grande Paz, ecoando as grandes experiências do exímio místico recém-
falecido, Ramana Maharishi, do qual o autor do livro, Mouni Sadhu, foi discípulo. O Vichara nos
liberta da funesta ilusão de nos identificarmos com o nosso ego físico, mental ou emocional,
fonte de todos os nossos males e das nossas maldades.

10. Quem, como o autor das cartas acima, pratica meditação prolongada, como o Cristo e seus
verdadeiros discípulos, não comete o erro funesto de confundir as manifestações de entidades
do mundo elemental ou astral com o Espírito Único do Pai, centro de todos os ensinamentos do
Divino Mestre.

Também adquiri um sítio aqui, para que melhor possa entrar em contato com a
natureza. O Sr. me fez compreender que temos necessidade de trabalho braçal
nos campos. É o que faço agora. Tenho obtido ótimos resultados. Faço de
tudo. Trabalho duro e sinto-me muito feliz. Para mim é uma verdadeira
felicidade ir para o sítio, aos sábados. Até nisto a sua influência foi enorme em
mim. Quero fazer daquele logradouro um Shangri-lá espiritual. E Deus me há
de proporcionar a sua graça.11

11. Com estas últimas palavras focaliza o advogado místico um ponto de capital importância
para o aspirante à vida espiritual: o contato com a natureza e a necessidade do trabalho físico.
Tolstói, Gandhi, Schweitzer e outros iluminados eram grandes amigos de trabalhos pesados no
campo. Muitos pretensos candidatos à espiritualidade aproveitam o fim de semana e os
feriados para demandarem as praias, onde prosseguem na sua vida profana e na sua cômoda
indolência, levando consigo as auras negativas das cidades, cujo fundador e patrono foi,
segundo a Bíblia, Caim, o primeiro homicida da humanidade. Se esses grã-finos comodistas
das praias fossem realizar trabalhos físicos na terra, no campo, em plena natureza, veriam que
reina íntima afinidade entre esses trabalhos em plena natureza e a vida espiritual. Conheço
alguns deles que têm sítio, mas o contaminam com as misérias e sujeiras da civilização
urbana, como sejam rádio, televisão, “barulhinhos portáteis”, e até tabuleiro de xadrez e
baralho de cartas, contaminando assim a natureza de Deus com a prostituição dos vícios
humanos.
Tem a Palavra
uma Ex-Aluna
Norte-Americana

Durante 5 anos lecionei Filosofia Universal e Religiões Comparadas numa das


universidades de Washington, Estados Unidos. Comecei com 50 alunos e
terminei com mais de 400. Embora já tenha deixado por muitos anos esse país,
continuo a receber, de quando em quando, cartas dos meus antigos alunos e
alunas. Uma delas me escreve:

“O que o Sr. nos ensinou, nos cursos da universidade, teve para mim uma
significação profunda; ajudou-me a pensar, com clareza e lógica, sobre religião
e filosofia e, acima de tudo, sobre os meus problemas pessoais.

Lembro-me especialmente da vossa explanação de que o Amor Universal é a


solução de todos os problemas.

Agora, mais do que nunca, compreendo o que muitas pessoas deste mundo
não podem compreender: que sem Amor não há vencedor nem vitória.
Compreendo que o problema internacional poderia ter solução fácil se os povos
compreendessem que toda manifestação de força e violência entre os homens
é uma negação absoluta desse preceito.”

Essa jovem americana, como se vê, afina pelo mesmo diapasão que levou
Mahatma Gandhi a libertar a Índia sem a violência das armas, mas sim pela
benevolência das almas. E a consagração da ahimsa (não-violência) e a
apoteose da satyagraha (amor à verdade) – que é, aliás, também a
quintessência do Sermão do Monte: “Não vos oponhais ao maligno... Amai os
vossos inimigos.”

Todos os grandes mestres da humanidade concordam nas verdades supremas


– os seus pequenos “discípulos” é que não obedecem aos mestres...
Poder
Versus
Verdade

Anos atrás, um adepto do poder clerical e renegado da verdade do Cristo


espalhou pela imprensa e do alto do púlpito palavras virulentas contra o meu
livro Metafísica do Cristianismo, cuja tradução francesa leva o título Sagesse
du Christ (Sabedoria do Cristo).

O crítico considera o meu livro como “panteísta”, por sinal que confunde
panteísmo com monismo (ou panenteísmo).

Esta mesmíssima censura foi lançada, ultimamente, aos livros do exímio


cientista jesuíta Pierre Teilhard de Chardin; os teólogos dualistas o tacham de
panteísta. Chardin, em resposta, não nega ser panteísta, mas distingue
sabiamente entre um panteísmo ilógico e inaceitável (tudo é Deus) e um
panteísmo razoável (tudo em Deus), que ele chama “ortodoxo e cristão”. O
Evangelho do Cristo é totalmente “panteísta” nesse último sentido, que tudo
está em Deus, e Deus está em tudo; basta citar as palavras do Cristo, no
Evangelho de João: “O Pai está em mim, e eu estou no Pai, mas o Pai é maior
do que eu... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai”.

Paulo de Tarso escreve aos cristãos de Éfeso que Deus é “pánta en pâsin”
(tudo em nós), e aos filósofos de Atenas afirma solenemente que Deus é
aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”.

Se eu, Chardin e outros somos panteístas, então o foram também o Cristo,


Paulo de Tarso e, em resumo, todos os grandes iluminados e iniciados, que
sempre viram o Deus do mundo no mundo de Deus.

Entretanto, os teólogos dualistas detestam toda e qualquer espécie de


panteísmo, não por ser contra a verdade, mas por ser um perigo para o poder
que eles querem defender a todo o custo. É evidente que, se o clero aceitasse
a verdade de que Deus está em tudo e tudo está em Deus, correria sério perigo
a sua política financeira. Se Deus está no homem, então é claro que o homem
pode descobrir esse “tesouro oculto”, esse “Deus desconhecido”, tornando-o
conhecido e manifesto. Mas, neste caso, os teólogos sofrem grande eclipse,
perdendo o privilégio de serem pontes e intermediários que liguem o homem da
terra ao Deus do céu. Enquanto Deus mora num céu longínquo, o clero pode
arvorar-se em traço de união entre o homem e Deus e fazer crer aos
ignorantes que não há salvação sem o clero. Por meio de um certo ritual
eclesiástico, do qual o clero tem o monopólio, o homem é posto em contato
com Deus – se é que Deus é uma entidade ausente, e não presente no mundo
e no homem.

Não se trata, portanto, de saber se a onipresença de Deus é uma verdade ou


um erro – trata-se de saber, acima de tudo, se essa onipresença de Deus
favorece ou desfavorece o prestígio e a política do poder clerical; se favorece;
aceita-se; se não favorece, rejeita-se!

Heresia é aquilo que diminui o poder do clero.

O mundo está dividido em dois grandes campos: o campo do poder (que é do


ego luciférico) – e o campo da verdade (que é do Eu crístico).
As Auras do
meu Ex-Guru

Pronam! Saudações da alma! Como é maravilhoso saudarmo-nos assim, em


justiça, pureza e santidade... Na divindade das nossas almas... Sim, podemos
saudar-nos na plenitude das nossas almas, porque nossas almas seguem o
mesmo caminho, o antigo e eterno caminho de Deus, que leva rumo à suprema
perfeição do Pai celeste, da Divindade Transcendente, que é a origem da
nossa alma e de todo ser.

Dr. Rohden, nós somos Kriyabans, iniciados no caminho místico da Kriya. A


Iniciação é de vital e essencial importância para todo homem que busca a Luz.
A Iniciação estabelece o eterno e inseparável vínculo entre as nossas almas,
na divina aliança do amor de Deus. Quão felizes somos nós, pelo fato de
sermos companheiros nesta jornada, andando um ao lado do outro, com as
almas sintonizadas no Amor Supremo. Realmente, felizes de nós, Iniciados,
Kriyabans!”

Assim me escreve, no aniversário da minha Iniciação, o meu idoso mestre


hindu, que, como outrora Moisés, vive em plena juventude. Distante
fisicamente, vivemos espiritualmente presentes. Tempo e espaço são fatos
ilusórios, mas não são realidade veraz; para o ego existem, para o Eu não
existem.

E, por isto, as auras não têm de vir de longe – elas estão sempre presentes,
quando devidamente conscientizadas. Consciência é presença – inconsciência
é ausência.

Quando o homem transcende a estreita barreira dos fatos e entra na


vastíssima zona da realidade, então verifica, com grata surpresa, que tempo e
distância são como reflexos no espelho; depois de quebrar o espelho de tempo
e espaço, a realidade permanece intacta, sem o espelho dos fatos.

“Somos Kriyabans”... Somos companheiros em Kriya-yoga, embora separados


por continentes e mares.

Meu antigo guru fala de “iniciação” – e todo o mundo deseja ser alo-iniciado,
mas poucos sabem que a verdadeira iniciação é uma auto-iniciação. O próprio
Cristo não fez alo-iniciação com seus discípulos mas deu ordem para que eles
mesmos se auto-iniciassem, como de fato aconteceu na gloriosa manhã de
Pentecostes, quando, como refere o mestre Lucas nos “Atos dos Apóstolos”,
120 pessoas, homens e mulheres, se auto-iniciaram no espírito da verdade.
Mas essa auto-iniciação só se deu depois de 9 dias de silêncio e meditação.

O dia de Pentecostes – provavelmente, o dia 30 de maio do ano 33 – pode ser


considerado como o início do verdadeiro cristianismo, a proclamação do Reino
de Deus sobre a face da terra.
Um Acróstico
em 4 Línguas

“Tenho entre os meus discípulos, no sul do País, uma poetisa de estupenda


versatilidade; escreve cartas em verso e rima com a mesma facilidade com que
outros escrevem em prosa. Figuram neste livro alguns dos trabalhos dela,
assinados com as três sílabas iniciais dos seus três nomes “Mahiru”.

Nesta página aparece um acróstico que, lido de alto a baixo, dá o meu nome e
sobrenome; mas o mais interessante é que as rimas revezam em quatro
línguas – português, francês, inglês, alemão. Diz a poetisa em quatro línguas
que, por muito tempo, andou buscando, buscando, o que finalmente encontrou
em nossa ALVORADA.

Hei pensado, e, então, formei


Une extravagante idée
By my funny mind today,
Es mir zu verzeih’n ich fleh”.
Relembrando que o Senhor
Toujours choit des mots exquis
Of expression less or more.
Rar, deswegen schrieb ich dieses.
Os ideais que vislumbrei
Hauts, plus nobles, pures et doux,
Dreams of love so faraway.
Endlich winken sie mir zu –
Na “Alvorada”, que abracei.

Mahiru
Contemplando a Dança
das Libélulas

Ainda a mesma poetisa Mahiru escreveu a seguinte poesia:

LAMPEJOS

(Composto após uma meditação, ao entardecer, no ermo de uma praia,


contemplando o movimentado esvoaçar das libélulas).

Ao meu redor, num vaivém errante,


Neste esplendor sem par que o outono veste,
Asinhas diáfanas, a cada instante,
Pululam sob a abóbada celeste.

Chegai-vos, ó libélulas amigas,


Para o bailado deste fim de tarde,
Dançar ao ritmo de sutis cantigas,
Enquanto o sol, no ocaso, em chamas arde.

Esvoaçando ao encontro do firmamento,


Sorvei a luz do dia que desmaia,
Quero integrar-me a este ardor sedento,
Até que desça a noite sobre a praia.

E, quando a sombra misteriosa e fria


Transfigurar a lucidez em treva,
E um mundo cheio de melancolia
Quebrar o encanto que minh’alma eleva,

Terei de adormecer entristecida


Para aguardar a próxima alvorada,
E flutuar assim, de vida em vida,
Entre o Absoluto imenso e o extremo Nada.
Liberta Física
e Espiritualmente

De Curitiba: escreve uma das minhas leitoras o seguinte:

“Caro Irmão. Sou-lhe eternamente grata, porque os seus livros me libertaram,


tanto espiritualmente como fisicamente. Vivia cheia de achaques, com os meus
50 anos; mas agora sou forte e sei que o Senhor é Poderoso para me dar
largos anos de vida cheios de saúde e paz; e por isto vivo contente e feliz
comigo mesma e com os outros.

Mantenho a minha meditação e comunhão com o Altíssimo, todas as manhãs,


e isto me faz muito bem.”

Convém repetir sem cessar que os benefícios da meditação diária, da íntima


comunhão com o Infinito, não são apenas de ordem espiritual, mas se refletem
sobre todos os setores da vida material, social e profissional. Quando em
primeiro lugar alguém busca “o reino de Deus e sua justiça”, é inevitável que
“todas as outras coisas” lhe sejam dadas de acréscimo – contanto que o
homem não cometa o erro funesto de considerar as coisas do reino de Deus
como meios para conseguir como fim as outras coisas. O reino de Deus tem de
ser procurado em primeiro lugar, como fim absoluto e incondicional, e não em
segundo lugar, como meio subordinado a outros fins. A Constituição do
Universo é infalsificável e não coopera com o homem que tente burlar as leis
eternas da Verdade e Retitude. O reino dos céus é o único reino em que não
se admite logro, conchavos, políticas à meia-luz.
Discurso de
um Médico-Filósofo

Por ocasião da reabertura do Curso de Filosofia Cósmica, em São Paulo,


março de 1962, foi proferido o seguinte discurso por um médico-filósofo, antigo
aluno do curso, o qual deseja ficar no anonimato.

“Toda a Filosofia de Rohden gira em torno de duas palavras:

O pequeno eu, que ele prefere chamar de ego, e o grande Eu.

Ao pequeno eu ele adjetiva de físico-mental; às vezes, também, acrescenta a


palavra emocional, ficando sendo então ‘eu físico-mental-emocional’.

Ao grande Eu ele adjetiva de espiritual, ou, como ele prefere, racional.

O pequeno eu é um grande EGOÍSTA.

O grande Eu é altruísta, é o Cristo em nós adormido, que, quando desperto,


representa o AMOR, escrito com maiúsculas, que não deve ser confundido
com o pequeno amor emocional. O AMOR, escrito com maiúsculas, não é
emocional, mas representa, na linguagem bíblica, a COMPREENSÃO
onidimensional.

O meu discurso deve durar uns 10 a 15 minutos. Mas, se exceder um pouco


esse prazo, peço-vos que não façais soar o tímpano. O meu ego vaidoso e
semestrador ficaria muito triste, sentir-se-ia ferido, até. Coisas – vocês sabem –
da personalidade e x i s t e n c i a I...

Tendo assistido a dois ou três anos de filosofia rohdeniana e lido do Autor


vários livros (não todos) com receptividade e assimilação apenas parciais, a
minha ignorância tornou-se bastante eclética – para usar uma expressão de
RUBEM BRAGA, o extraordinário cronista de Manchete, que nos delicia todas
as semanas com uma de suas excogitações.

Como vereis dentro em breve, sou de Rohden apenas aluno, e não um


discípulo.
Mas, se saudade é a memória do coração (Coelho Neto) e a presença dos
ausentes (Olavo Bilac) – então tenho saudades dos primeiros cursos de
Rohden.

O proveito: Apesar dos meus muitos escotomas, alargou-se a minha visão.

O que eu mais temo – dizia RUBEM BRAGA – é escrever de um modo que a


gente logo tem vontade de não ler.

O que eu mais temo –, na situação em que compulsoriamente me colocaram –


é falar de um modo que a gente logo tem vontade de não ouvir.

Aqui, há muitos egos. Tenho medo deles.

A fábula de La Fontaine, do menino, do velho e do burro, representa bem esta


impossibilidade de contentar a todos os egos.

E fico a pensar, com os meus parcos recursos, como possa satisfazê-los.

Primeiro, quanto à quantidade.

Foi CHURCHILL, se não me engano – o grande orador –, que deu para um


discurso a seguinte receita:

Comparou o discurso com uma saia de mulher.

Ué! Que tem um discurso com uma saia de mulher?

Na opinião de CHURCHILL, tem.

Uma e outro deveriam ser suficientemente curtos para despertar interesse e


suficientemente longos para cobrir o tema!...

Vamos, pois, aproveitar a lição!

Qualitativamente, vai ser difícil satisfazê-los.

Estais muito mal acostumados e já tendes o excepcional como comum.

PALAVRAS VIVAS E PALAVRAS MORTAS

Há palavras mortas e palavras vivas.

Mortas, mortas, ou mortas apenas para quem não as souber receber.

Vivas, mas só para quem souber entender o seu conteúdo.

Aqui, parecerá a muitos que há muitas palavras- mortas.


E, talvez, o próprio autor não as tenha sentido tão vivas como muitos leitores
ou audientes bem mais receptivos para o imediato e o incomunicável; mais
conscientes da lua que os envolve e permeia, mais saídos do cárcere dos
sentidos e do pequeno físico-mental que Rohden chama de ego.

O EGO E O EU

Não me admiraria se até num curso como este de filosofia, em nome do Eu se


fizesse, até, campanha de difamação. É que o Cristo não foi crucificado. Ele
vem sendo crucificado todos os dias!...

O Cristo, todos sabeis, não é esse homem barbudinho que desde criança nos
ensinaram a admirar e não imitar.

O Cristo é algo que está potencialmente dentro de cada um de nós.

O outro pode ser um símbolo dimensional do indimensional em Jesus.

Mas o João e a Maria e o Cláudio e a Pafúncia, e que nome tenham, têm


também o seu Cristo, que eles crucificam um bocadinho pelo menos, mais ou
menos conscientemente, todos os dias, para que o ego goze com isso.

O ego é terrível para não seguir o Eu!

A LUZ INTERIOR É O RESUMO

DO EVANGELHO

Toda a filosofia de Rohden é sobre essa luz imanente no existente e


transcendente ao existente.

Ouvem-se essas coisas, vocês ouvem e reouvem essas coisas, contaminados


por uma sede que não se apaga mas cresce, e ele, o nosso querido repetidor,
bate e rebate as mesmas teclas, afirmando que a única coisa que pode fazer
com a sua palavra falada e escrita é conduzir-nos intelectualmente até as
fronteiras da outra dimensão, de onde em diante teremos que caminhar
sozinhos – primeiro CRENDO para depois SABER.

O CRER na filosofia rohdeniana é o passo indispensável para o SABER. O crer


e, até, o comportamento volicional, a ética volicional como se o crido fosse a
Verdade. Depois que o crido se transformou, então, em sabido, até mesmo
quando apenas um relâmpago espiritual (que ele chama de racional) clareou o
interior, entre duas trevas intelectuais, e ainda que esse relâmpago nunca mais
se repita, muito do que era difícil e sacrificial – para usar da sua linguagem – se
torna jubiloso e natural.
Todos os iluminados se entendem.

Mas, como os egos se desentendem...

Os egos é que sentem dificuldades sociais.

MAS, TAMBBM, NÃO FALEM SÓ MAL

DO EGO

Como é gostoso gostar de alguém.

Quando dois egos se entendem, e cada um é atendido em seu egoísmo – há


destas coisas maravilhosas.

Dizer sem falar.

Há quem fale sem dizer; mas, também, há quem diga sem falar.

Fica um ambiente fraterno, abrigoso, desnudo de obstáculos, sem aclives.

Mas não se iludam – sempre em estado pré-belicoso como duas nações


“amigas”.

Apesar disso, não falem só mal das emoções.

É tão gostoso gostar de alguém.

Os grisalhos dirão: já naqueles distantes tempos era assim!...

GRANDES OPOSITORES

É pena, mas Rohden precisaria de grandes opositores que atuassem como


tormentas que apagam velas, mas ateiam incêndios. E eles sabem disso, por
isso calam. Mesmo assim, Rohden continua contra opositores (falo de grandes
opositores) imaginários; ele, com coragem demolidora, arranca “falsos ídolos”
de seus “falsos altares”, mostrando-se um grande polemista, que nos seus
últimos livros passou a falar uma linguagem cada vez mais direta,
abandonando, cada vez mais, a linguagem oblíqua que usava em tempos idos.

Quando eu falo de demolidor, entendam-me bem.

Demolidor, sim, mas não pelo simples prazer de destruir.

Demolidor que no lugar de cada ruína pretende plantar um monumento da


Verdade! Do que ele tem por Verdade!
Pena Rohden não ter grandes opositores ativos, publicamente ativos. Mas eles
sabem por que calam... Sopram onde não há fogueiras...

Numa única polêmica, de dez minutos apenas, que manteve na televisão,


Rohden fez furor. Choveram cartas contra, e a favor...

E as “forças ocultas” sopraram imediatamente desde aquela mesma noite


sobre as velinhas, que se apagaram e não houve mais programa de
televisão.12

12. O orador se refere ao caso, então em foco, em que Rohden fora convidado por uma das
grandes Rádio-Emissoras de São Paulo, para responder a uma série de perguntas feitas pelos
radiouvintes sobre “o diabo e o inferno”.

Mas os guias espirituais das Igrejas organizadas se alarmaram grandemente com as respostas
de Rohden, receando que rebanhos (seus bons rebanhos!) perdessem a crença no diabo e no
inferno.

A Rádio-Emissora, cujo proprietário é membro duma Igreja dogmática, teve ordem da


respectiva autoridade eclesiástica para cortar cerce tão inoportuno programa, apesar de
inúmeros pedidos para prosseguir nesse caminho de esclarecimento ao público.

É a luta multissecular entre a Verdade e o Poder.

Já viram, alguma vez, foguinhos, por exemplo fósforos acesos, precisarem ser
protegidos contra o vento, na concha de uma mão, para não se apagarem.

E já viram, talvez, como os ventos que sopram sobre florestas incendiadas


aumentam o fogo e fazem com que todas as árvores sejam consumidas.

Os grandes opositores potenciais de Rohden sabem disso, e por isso não


sopram em sua direção, mas sobre velinhas rohdenianas que porventura
estejam aqui e acolá acesas.

O que estou fazendo, talvez sejam soprinhos sobre brasas para que flamejem.

Rohden precisava de grandes opositores diretamente ativos.

É contra grandes resistências que se medem e exercitam os gigantes.

Não lhes bastam pigmeus.

OS ÚLTIMOS LIVROS DE ROHDEN

Nos últimos livros – eu já disse – Rohden vem falando cada vez mais uma
linguagem direta. Sem dúvida, Rohden tem obliquado menos.

Nota-se em Rohden uma evolução. Aliás, não é de admirar, nem ele mesmo se
admiraria, pois é agostinianamente evolucionista.
Deus criou tudo em sementes, em ovo.

E do ovo está saindo um pintinho que tem a fibra e a coragem de polemista.

Que quer erguer sobre cada ruína um monumento.

Qual monumento?

O da evolução do homem, da qual faz parte o nascimento da luz interior, que,


segundo K. O. SCHMIDT13 em alguns se tornaria tão forte que é visível do
exterior.

13. K. O. SCHMIDT, In Dir ist das Licht.

Todos nós temos os nossos escotomas. Rohden deve ter os seus.

Aliás, ele não nega essa possibilidade. E quer que o corrijam e o excedam.

Aí está o Dr. Moacyr14 que me compreende bem ao falar em escotoma.

14. Dr. Moacyr Cunha, oftalmologista.

Escotoma é uma mancha preta no campo visual. Vê-se tudo em torno, não se
vê o que está por trás da mancha. Ou vê-se tudo no centro, não se vê além de
uma certa fronteira. A mancha impede a visão.

Também existem escotomas psíquicos. Há pessoas que entendem bem uma


porção de coisas, mas não há possibilidade de entenderem umas certas
coisas. São escotomas psíquicos.

Ora, nós todos, segundo a teoria de Rohden, estamos providos de muitos


escotomas espirituais. Não enxergamos as coisas espirituais que estão por trás
de nossas manchas pretas da alma. São nuvens que escondem o sol, mas o
sol continua a existir.

Os privilegiados, sim, estes são visitados de verem quando, ou uma vez só na


vida, como que por um relâmpago interno, uma luz intensa, que se faz, e que
ilumina através dos escotomas. Um relâmpago espiritual, poderíamos chamá-
lo, entre duas trevas intelectuais.

A doutrina de Rohden diz que esse relâmpago, depois, permeia toda a nossa
vida, inunda o nosso comportamento, mesmo que o relâmpago nunca mais se
repita.

Com as concentrações-meditações-contemplações – três etapas de um mesmo


caminho – quando repetidas diariamente, de preferência à mesma hora,
preparar-se-ia o terreno para que a luz interna possa brilhar.

E, nesse sentido, CRER na existência de uma coisa, seria dar existência a


essa coisa.
SONHOS, DIREIS...

Se algum dia eu conseguir alcançar mais do que simples extensão de


profundidade no mundo intelectual e ingressar em nova dimensão, por favor,
sede caritativos para comigo e dizei, plagiando JOÃO RIBEIRO quando fala
dos móbeis e inconstantes, que eu fiz progresso e não que eu caí em
contradição.

Não sou sapiente nem mesmo crente.

Aprecio, nestas aulas, a correção da linguagem e a poesia de um sonho.

Mas, tudo que é grande começou por um sonho...

O que não importa em dizer que onde há um sonho ele sempre é o precursor
de uma verdade insabida mas breve saboreada, ou alguma vez saboreada,
embora longínqua no tempo essa vez.

Há sonhos que são apenas sonhos. E não passam de sonhos.

Mas destes ou daqueles, vale a pena sonhar.

Possivelmente, já ouviram o bardo rio-grandense cantar:

“Deixei de ser poeta um dia,

e achei a vida tão brutal e tão vazia”.

NIETZSCHE diz que um dos maiores males da humanidade é que não


sabemos mais sonhar; só queremos entender.

Sonhar, para Nietzsche, é entrar pelo mistério que não podemos entender, mas
onde adivinhamos uma realidade ultra-intelectível.

É a intuição que ele chama de sonho (à intuição cósmica, panorâmica), mais


sentida do que entendida.

É justamente este o sonho de que Rohden fala, no seu cosmorama, onde ele
faz dizer:

‘Eu gosto de tudo que tem mistério; mais me seduzem as coisas que
noturnamente adivinho e entrevejo do que as que meridianamente conheço e
analiso’ (pág. 41).

É deste sonho que fluem, em cascatas, os atos fáceis e bons.

Para esse sonho, não há demais...

“Deixei de ser poeta um dia...

Um dia
Disse de mim para mim mesmo: Não!

É preciso dar cabo da Poesia!...

E, num gesto feroz, lancei fora o que havia

De sonho ingênuo no meu coração...

Deixei de ser poeta, um dia,

E achei a vida tão brutal e tão vazia!...

FILOSOFIA DO SER E NÃO DO TER

O nosso querido poeta Rohden voltou.

Tudo que ele prega batendo e rebatendo teclas, é sobre o acordar da luz
interna.

Voltou o poeta da Filosofia do SER, não do ter.

Vamos continuar a ouvi-lo.

Hoje mesmo.

Que ele saiba que nos fez falta.

Que ele continue a pregar, tolerante com os nossos escotomas.

PRESENTE A ROHDEN

Dr. Rohden, o que queremos dar-lhe agora não pode ser um presente qualquer
comprado com dinheiro.

Andei à procura de um adjetivo, que traduza nossa admiração pelo senhor.

O vocábulo preciso, claro, singelo, sazonado, poderia ser “bom”; o homem


bom, atrás de cujos olhos azuis não há segundas, nem terceiras, nem quartas
intenções.

Mas “ingênuo” é melhor.

Que quer dizer ingênuo?

Que não tem malícia, cândido, simples, inocente, puro, e, no seu caso,
poderíamos acrescentar: o que julga os outros à sua própria imagem e
semelhança.
Enfim: uma ovelha entre lobos.

Com todo esse corpo, Rohden é um ingênuo, completamente desvinculado da


realidade ambiente.15

15. Pode ser esta a opinião do médico-filósofo; mas outros sabem que Rohden é um grande
realista, embora possa não dar muita importância às facticidades ilusórias (como diria Victor
Frankl), precisamente por viver totalmente na realidade verdadeira. Quem leu os dois volumes
autobiográficos Por um Ideal, sabe que Rohden vive dentro duma “ingenuidade realista”, que
pode parecer irrealismo aos factualistas.

QUANDO VOLTA DE SUAS

CONCENTRAÇÕES-MEDITAÇÕES-

CONTEMPLAÇÕES

Mas Rohden, quando volta de suas concentrações-meditações-contemplações


(ele não confessou que alcança este último grau), deve sentir-se como alguém
que baixa da montanha onde esteve em comunhão.

E não dirá, mas pensará:

– Egos-víboras, quando vos verei promovidos a seguidores do Eu?

Por quanto tempo, ainda, terei que suportá-los???!!!

Tenha paciência, Dr. Rohden, com os nossos escotomas.

OS LOBOS O SAÚDAM

Uma salva de palmas ao nosso querido amigo e orientador.

Os lobos o saúdam.

Os escotomizados estão à espera de sua caridade.”


Qual a Religião do
Prof. Huberto Rohden
(Discussão entre penitenciários)

É comum entre os meus leitores e ouvintes discutirem sobre a religião que


professo, uma vez que por “religião” eles entendem certo tipo de teologia,
Igreja ou seita. Na realidade, não há “religiões” no plural, há tão-somente uma
“Religião”, que é o vínculo espiritual que “religa” o homem a Deus.

Da Penitenciária Prof. Lemos Brito, do Rio de Janeiro, da qual já recebi outras


cartas, me vem às mãos mais uma, da qual transcrevo o seguinte:

“Professor Huberto. Eu tenho conversado com amigos estudiosos da Bíblia a


respeito de qual religião V. Exa. adota. Amigos que têm lido literaturas escritas
por V. Exa. acham que, devido ao conteúdo de alguns livros, V. Exa. é espírita,
outros que é espiritualista, e ainda outros dizem que V. Exa. é crente.

Dr. Huberto, para mim não importa o credo que V. Exa. adota. Mas, de uma
coisa estou certo: que V. Exa. é um grande pensador espiritual. Creio
sinceramente que V. Exa., inspirado pelo Espírito Santo, tem lançado nos
vossos livros mais luz, que vem ao encontro das necessidades de muitos
sofredores como eu, que, por sorte, ou por um destino, expio no cárcere as
minhas culpas. E, nos vossos livros, tenho encontrado uma pista que,
apontando-me um caminho no qual estou enveredando, tenho encontrado
lenitivo nessas horas sombrias que passo aqui no cárcere.

Disse o apóstolo Paulo que “A palavra de Deus é viva e eficaz e mais


penetrante que espada alguma de dois gumes” (Hebreus, 4,12). E
verdadeiramente o é. Eu estudo a Bíblia há 3 anos e foi nela que pude ver e
reconhecer o estado de miséria em que eu me, encontrava. E logo procurei me
converter para Deus. Tenho como um guia seguro na minha vida a Bíblia, e
como Senhor e Salvador de minha alma a Jesus Cristo.

No conteúdo dos vossos livros encontro palavras como “espada de dois


gumes”, ora condenando-me e apontando-me os erros e as consequências dos
mesmos, ora me absolvendo e apontando-me um advogado, que sempre
estará ao meu lado em minha defesa, nas horas mais tristes de provações.
De uma outra feita, mostra-me o caminho para o céu que eu quero seguir, e
para o inferno, se eu rejeitar o primeiro.

Graças dou a meu Deus, por aqui no cárcere ter conhecido esses amigos
mudos, que me fizeram, com a graça de Deus, uma nova criatura. E sempre V.
Exa. terá, enquanto eu viver, um admirador e fã de vossas literaturas.”
Escreve um
Suicida-Vivo

De Teresina, capital do Piauí, recebeu meu antigo editor, anos atrás, uma carta
em que o remetente lhe pedia esclarecimentos sobre o boato que corria
naquelas zonas sobre mim. Constava que eu, de tão infeliz, me havia
suicidado. Meu editor me entregou a carta para que eu mesmo, o suicida, ou
pseudo-suicida, a respondesse.

Foi o que fiz, pedindo ao destinatário que fizesse publicar na imprensa local
essa carta sensacional de um “suicida vivo”. Não sei se o fez.

Boatos dessa natureza, ou outros análogos, aliás, são muito comuns e revelam
bem a mentalidade de seus autores. Alguns dos meus antigos colegas do clero
não me perdoam o fato de eu ter abandonado a Teologia pelo Evangelho e,
apesar disto, continuar com vida, saúde e prosperidade.

Não compreendem como Deus – que eles consideram propriedade exclusiva


da sua Igreja e inquisidor-mor da sua teologia – possa deixar viver um herege
do meu quilate. E como Deus parece ter-se esquecido do castigo que, segundo
eles, me havia infligido, resolvem suprir o fato irreal com boatos reais.

Em outros lugares, já foi espalhado amplamente que eu havia vociferado


impropérios à Virgem Maria, e ter ficado mudo no mesmo instante. Constou
também que eu estava internado num leprosário do Paraná, pelo fato de não
me ter convertido das minhas heresias. Segundo certa imprensa, estaria eu
vivendo à sombra dum manicômio, em castigo de haver abandonado a teologia
e consagrado a minha vida unicamente ao Evangelho do Cristo. Outros, menos
violentos, sabem que eu, finalmente, me converti e estou fazendo penitência na
austera solidão de um mosteiro.

Agora, finalmente, para encerrar o longo rosário de boatos clericais, consta que
o herege e apóstata Huberto Rohden resolveu abandonar a vida terrestre,
suicidando-se.
Nas Alturas da
Filosofia Mística

Ao eminente filósofo Prof. Huberto Rohden, uma humilde homenagem


inspirada no livro Deus, de sua autoria.

Meu grande Anônimo, presente em tudo.


De mim distante O procurei em vão.
Depois de me exaurir num longo estudo
Descubro-O dentro do meu coração!

És a eloquência e não obstante és mudo...


De Ti me vêm as luzes da razão,
És minha paz, meu desespero agudo,
A minha luminosa escuridão.

Desconhecido, eterno soberano,


Que és Pai dos crentes como dos ateus,
Do mineral, da planta e do ser humano,

Te invoco neste caos de anseios meus;


E sei que, mesmo preso a um mundo insano,
Perdendo-me eu me encontro em Ti, o Deus!

Porto Alegre, 14-7-1959 – MAHIRU


Semana de Conferências
Pronunciadas pelo
Prof. Huberto Rohden,
no Instituto de Educação,
de Belo Horizonte,
de 1 a 7 de Julho de 1962

Saudação que me foi dirigida ao encerramento da semana, pelo Sr. Paulo


Salles.

“Senhoras e Senhores:

Chega hoje ao seu término a semana de conferências aqui realizadas pelo


Prof. Huberto Rohden. A partir de amanhã não mais o teremos conosco.
Cumprindo a sua missão, seguirá ele o seu caminho, para semear em outros
campos do Brasil a semente de sua palavra inspirada.

Nesta hora, para nós melancólica, de despedida, nós nos perguntamos: será
este o final de nosso contato com ele?

Acredito expressar o pensamento de todos se responder: Não! Não é o fim!

Não é o fim porque restarão na memória daqueles que tiveram o privilégio de


ouvi-lo, inapagáveis, a recordação dessas horas de espiritualidade e a
lembrança da sua figura respeitável. Continuarão ainda ressoando em nossos
ouvidos, por longo tempo, a magia e o fascínio dos seus ensinamentos.

Quando ameaçar a memória de faltar à fidelidade, nós o teremos de novo entre


nós, através dos seus tantos livros, nos quais, para gáudio nosso, foi colhida,
em toda a sua plenitude, a essência de sua mensagem.
Ademais, essas lembranças e esses livros não representam o saldo último do
nosso benefício. Há algo mais relevante ainda.

Sentiu-se, aqui nesta sala, com a certeza que só a intuição outorga, que a sua
mensagem possui um cunho próprio, diferente, singular. Não é uma mera
repetição de palavras já pronunciadas, nem uma simples reprodução de
conceitos antes enunciados. Não se trata de academismo, de erudição, de
lógica, de intelectualismo. Há nela uma erudição invejável, mas não é apenas
erudição; revela uma inteligência brilhante, mas há mais que inteligência;
maneja uma lógica contundente, mas não é só lógica. Estes, usando suas
próprias palavras, são valores horizontais; são meritórios, sem dúvida, mas não
são fundamentais.

A sua mensagem manifesta, ostensiva, incontestável, quase visível, aquela


luminosidade que só os valores verticais conferem.

Estes e aqueles são grandezas de natureza totalmente diversa. Entre eles um


mundo se estende de permeio. O horizontal dá a quantidade – o vertical, a
qualidade; aquele amplia a dimensão – este, eleva; um diz como deve ser – o
outro diz como é; o primeiro impressiona porque brilha – o segundo comove
porque é eterno; um se dirige ao nosso ser humano – o outro fala ao nosso ser
divino; o horizontal faz crescer aos olhos do homem – o vertical aproxima de
Deus.

Por isso, a sua mensagem não é erudição – é Vivência; não são citações – é
Conhecimento; não é lógica nem academismo intelectual – é Experiência
Mística. As suas palavras têm Força – porque a Verdade tem força. Nos seus
conceitos se espelha a Sabedoria – porque o Conhecimento Espiritual é
sabedoria. Resumiríamos talvez essas características, dizendo apenas que
aquela tão falada “experiência pessoal de Deus” inunda a sua mensagem.

Para coroamento da obra, àqueles que se dispuserem a enfrentar as agruras


da caminhada, propõe ainda o Prof. Rohden a mostrar o caminho que leva até
a fronteira dos dois mundos, de onde, como Moisés do alto da montanha,
poderão contemplar a Realidade Última. O Eterno, O Infinito, DEUS.

Colocando setas indicadoras ao longo do caminho, essa mensagem vigorosa


trouxe consigo uma onda de entusiasmo, provocou um renascer de esperanças
esmorecidas. A minúscula chama divina que arde em cada um, e que um dia
inundará o ser humano, de Luz, de Devoção para adorar, de Amor para servir,
recebeu um novo sopro, vitalizador e fecundo.

Para muitos sua mensagem trouxe uma nova aurora de Fé e de Esperança –


uma alvorada de inspiração, uma alvorada de entusiasmo, uma alvorada de
espiritualidade.
Prof. Huberto Rohden:

Agradeço em nome de todos a contribuição de valor inestimável que a sua


experiência e o seu idealismo nos trouxeram.

Ao deixar esta cidade, em nome de seus novos e velhos amigos, de seus


respeitosos admiradores, faço-lhe a entrega de uma pequena lembrança. É,
repito, uma pequena lembrança. De início, custou-nos escolhê-la. Que se
poderia oferecer, de valor, a quem tem tudo? Nada! Por outro lado,
ponderamos, para quem tem tudo, que importa o valor da lembrança? A
escolha, então, tornou-se fácil.

É uma simples caneta. Uma caneta comum, mas que, em suas mãos, poderá
tornar-se capaz de operar maravilhas e milagres.

A palavra inspirada pode, ensinando a Verdade, levar consigo a Libertação. E


assim sendo, como instrumento para a transmissão de suas palavras, esta
simples caneta poderá, a serviço da divulgação da Verdade, cooperar num
trabalho maravilhoso de libertação de milhões e participar do milagre do
estabelecimento do Reino de Deus entre os homens.
Da Frustração
Existencial para a
Realização Existencial

Em junho de 1980, uma leitora de São Paulo me escreve o seguinte:

O senhor é uma pessoa muito querida de todos nós e carinhosamente estamos


vibrando e orando pela sua pronta recuperação.

Quero que o Senhor saiba o quanto é importante em minha vida. Quando o


procurei, há três anos através, por caminhos indiretos que Deus nos aponta, eu
estava em tão grande frustração existencial (como aprendi depois) que o
suicídio era preocupação constante de meus dias. Foram seus ensinamentos
que me ergueram e ainda hoje tento captá-los ao máximo, para minha
evolução. Ainda encontro-me em ambiente conflitante e difícil, mas procuro
seguir seus ensinamentos.

Deus o proteja e o mantenha como nosso Mestre por muito tempo ainda.
Carta de uma Leitora
do meu Livro
De Alma para Alma

Goiânia, 2 de novembro de 1980.

Querido amigo professor Rohden.

Permita-me chamá-lo amigo, pois para mim o senhor é uma pessoa querida a
quem amo como mestre e irmão em Cristo.

Fui educada em um colégio de freiras, onde aprendi a amar e temer a Deus.


Hoje, depois de ler seus livros meu horizonte se iluminou e tenho uma visão
diferente do Deus a quem temia. Às vezes tinha pesadelos terríveis sobre a
morte e meu pavor era pensar que um dia eu iria vivê-los de verdade. Depois
que minha irmã Luíza presenteou-me com o livro De Alma para Alma, lia todos
os dias sua página “Metamorfose”, e minha concepção de morte mudou. Hoje,
dia de Finados, posso alegrar-me com o senhor, pois canto o hino de amor aos
mortos-vivos!... (no dizer do senhor.)

Agradeço sempre a Deus porque o senhor existe. Seus livros são alimento
amigo, onde procuro forças para dominar meu egoísmo.

Que Deus o abençoe. Para o senhor meus votos de muita paz. Peço-lhe que
me abençoe.

Maria Elza
Mais um Acróstico
à Luz da Alvorada

Uma poetisa, do grupo de pessoas que frequentam os cursos da “Alvorada” e


lêem os meus livros, me manda o seguinte acróstico:

Hosana cantam os arautos da Alvorada,


Um novo sol desponta e chama para a vida.
Bendita luz, que brilha em toda encruzilhada!
Enquanto a humanidade jaz adormecida,
Ressoa em nós do Cristo Interno a luz sagrada.
Teremos na resposta, dantes nunca obtida,
O “fine” de uma sinfonia inacabada.

Rompamos d’alma triste as últimas barreiras,


O peso dos grilhões da nossa obscura mente,
Hora após hora numa luta sem fronteiras,
Dentro da noite, rumo à lucidez crescente,
E penetremos, com a fé mais abrasada,
Na realização da crística ALVORADA!
Como ele é,
Física e
Mentalmente

Após uma entrevista com a imprensa de Porto Alegre, escreve Zalmino


Zimmermann o seguinte sobre Huberto Rohden:

“Muito alto e muito louro,18 e também grande de espiritualidade. Voz calma,


mais pendente ao agudo, consegue manter qualquer assistência em tensão
constante, graças à firmeza da sua exposição, clara e concisa. É enérgico. É
incisivo, segundo alguns, até demais. Mas esse traço de seu caráter é fruto de
uma auto-educação férrea, a par de duras lições que a vida ensina aos
valentes que ousam enfrentar uma tradição religiosa de quase vinte séculos.
Olhos profundos, pesquisadores, refletem sua posição de pensador, às vezes
por demais racional.

18. Hoje o trigo louro passou para o branco de neve.

Rohden é também alegre. Como não hão de viver alegres os estudiosos da


vida e de Deus? Gosta muito de ouvir, e isto é um atributo mais ou menos raro.

Rohden luta por um mundo melhor.

Seu exemplo foi muito perigoso para Roma.19 Diversas outras correntes
religiosas tentaram atraí-lo para suas fileiras. Ele não o disse mas assim
sentimos.

19. Para compreender o sentido e alcance destas palavras, queira o leitor abrir o meu livro
autobiográfico Por um Ideal.

O mundo precisa de homens corajosos – e Rohden o é.”


Também
em Portugal

É o sentimento e gratidão que me move a enviar-lhe estas linhas sinceras, que


querem expressar, na verdade, o meu reconhecimento para convosco.

Sou um jovem de 20 anos, e até a idade de 17 andei afastado de toda e


qualquer atividade espiritual. Porém, ao atingir essa idade, tive a dita de, por
intermédio duma Igreja evangélica presbiteriana, tomar contato com o
Evangelho de Cristo. Em mim não se operou logo uma conversão instantânea,
mas desde então sinto ter progredido espiritualmente, reconhecendo contudo
que tenho ainda muito a percorrer.

Entretanto, é principalmente isto que me move a lançar mão da pena para vos
escrever: chegaram-me às mãos algumas obras vossas, como De Alma para
Alma, Por Mundos Ignotos, Problemas do Espírito, cuja leitura, na verdade, me
empolgou.

Desde aí tenho sempre diligenciado obter mais livros vossos, tendo já tido o
prazer de poder desfrutar a leitura de Em Espírito e Verdade, Alegorias,
Evangelho ou Teologia, Profanos e Iniciados, Em Comunhão com Deus. E por
ter achado vossas obras, cheias de luz, grande contribuição para a minha vida
espiritual, por isto senti-me compelido a vos enviar daqui, de longínqua e
pequena terra portuguesa, os meus profundos agradecimentos.

Não calcula o prazer que sinto ao ler as suas páginas plenas de inspiração.
Reúno frequentemente em minha casa alguns amigos e todos juntos gozamos
o prazer de ouvirmos a leitura em voz alta que um de nós faz de livros vossos.

E, como já vos disse, é o sentimento de gratidão que me move de escrever-


vos. Peço que aceite estas humildes linhas como um sinal de reconhecimento,
pelas belas idéias que me tem inspirado através de vossa obra. E o meu
desejo, grande desejo mesmo, é enfronhar-me cada vez mais noutros livros da
vossa lavra e que não tive ainda possibilidade de alcançar. Seria para mim
motivo de grande alegria ter a honra de receber algumas linhas do vosso
punho. Acaso terei a dita desse privilégio? Merecerá esta minha modesta carta
a sua atenção e algumas linhas de incitamento?
Aqui consigno o meu grande agradecimento pelos bens espirituais que já me
proporcionou. Vosso muito grato.” (Segue assinatura.)

Em 1976, atendendo a insistentes convites, visitei Portugal, onde realizei 15


dias de conferências e meditações, em Lisboa, Porto e Leiria. Desde então, os
amigos lusitanos são grandes leitores dos meus livros.
Saudação ao Prof.
Huberto Rohden Proferida pelo
Dr. Joubert de Carvalho
em 22 de Novembro de 1964,
no Rio de Janeiro
– Encerramento do Curso

Quando recebi a honrosa incumbência de, em nome dos alunos de


ALVORADA, saudar nosso preeminente Professor Huberto Rohden, mestre de
filosofia cósmica e do Evangelho, no curso de auto-realização, de
desbravamento do Ego para conquista do Eu, e entrada na vida eterna, meu
primeiro gesto foi de recusa, de retraimento, ante a responsabilidade de um
desempenho cabal. Sentia-me ainda verde para proporcionar o sabor da fruta
madura. No pomar de sua escola, outras árvores, mais frondosas, pendem
frutos que melhor testemunho dariam da terra fértil em que o bom agricultor,
prodigamente, esparge sementes preciosas de sabedoria a serviço da
humanidade.

20. Muitos conhecem e cantam “Maringá”. Mas poucos conhecem o autor desta e de dezenas
de outras maravilhosas canções populares, que é o insigne médico carioca, Dr. Joubert de
Carvalho, entusiástico e inteligente aluno dos nossos cursos de Filosofia, há diversos anos,
Ciência, Filosofia, Poesia, Música, Mística – parece que se estão diluindo cada vez mais as
linhas divisórias entre estas coisas; exemplo vivo disto é o poeta-compositor de “Maringá”,
nosso colega de Filosofia e Meditação.

Era, entretanto, a oportunidade que se me oferecia para vir, de público,


mostrar-lhe a gratidão que se oculta n’alma e que, por certo, seria a de todos
os seus alunos, que se exultam pelos conhecimentos preciosos ministrados em
suas conferências magistrais, adquiridos através da palavra convincente que
resplandece a nossa natureza superior, e expostos na mais ampla forma de
inteligência que se possa desejar. De tal fato, só o verdadeiro mestre é capaz,
e Vossa Senhoria é o exemplo vivo de tão auspicioso acontecimento, de tão
arrojado entendimento que ergue às alturas a mediocridade, para o seu
esfacelamento na amplitude infinita.

Um instante apenas foi o tempo de minha recusa. Senti, de imediato, que


deveria aceitar a incumbência, como que para um desabafo, pois não poderia
conter a explosão de júbilo que se anunciava em minh’alma incandescida pela
chama sublime de sua palavra incendiária. Pois, dia a dia, cresce o fumo denso
das labaredas do Ego que se espraia longínquo e que se destrói ante as
investidas do Eu que Vossa Senhoria consegue alertar de seu sono infecundo,
para, desperto, mostrar-nos a face divina dos filhos de Deus, criados à sua
imagem e semelhança.

E, assim, ‘venha a nós o Vosso Reino’ e se debruce e nos ilumine a estrada da


Vida que havemos de palmilhar.

A que percorremos é de um mundo irreal, elaborado por nossos sentidos


físicos em conluio com a inteligência, testemunhas falsas, visíveis de uma
realidade invisível; contrafação sensível para os que se equilibram na senda da
espiritualidade.

Vossa Senhoria, mestre Rohden, tem a habilidade espantosa, direi mesmo, o


dom milagroso de semear no terreno árido, quase estéril, do intelecto,
fundamentos capazes de dispersá-lo de suas interferências e, amanhando-o,
assim permitir a fecundação das diretrizes de suas sábias e encantadoras
lições, para que possamos caminhar rumo à Verdade, eternamente procurada
por aqueles que a sentem no eco remoto do coração, quando se abrasa na
graça do sobrenatural.

Na magia de suas palavras fluem as ‘águas vivas’, vindas de uma erudição


incalculável por ampliada na mais sedutora cultura, em virtude do alto teor de
sua espiritualidade. Seus ensinamentos, caro mestre, são oficinas onde se forja
o caráter. Suas idéias elevam-se a grandes alturas e de lá desafiam a
sabedoria dos astros e despegam o conteúdo de uma inteligência que sabe
iluminar os desvios por que havemos de percorrer na tenebrosa noite do Ego.

Quiséramos estar nesses píncaros, nessa região distante, para sentirmo-nos


mais perto de nós mesmos; na verticalidade de vibrações superiores, fugindo
da horizontalidade vulgar da rotina, que nada mais é que o estado em que se
acha o profano, a proclamar seus méritos e a exigir recompensas. Bem
diferente é o iniciado, que se realiza no silêncio: um, acumulando e sempre
vazio; o outro, se esvaziando na plenitude.

Professor Rohden, recordo-me quando, em aula, disse Vossa Senhoria que


religião, ciência e filosofia são a mesma coisa. Assustei-me então. Olhos
espantados, fixos no alto, depararam a nuvem pesada negrejando o campo da
inteligência. Viram, entretanto, de súbito, o relâmpago riscar o céu e a chuva
cair pródiga e dadivosa. E as águas de entendimento fecundaram o chão do
intelecto que, florescido, frutificou a análise da assertiva do mestre.

Senti, nesse instante, que, se o pensamento é capaz de gerar uma reação


física em virtude de vibrações positivas ou negativas – positivas, na sua
expansão de liberdade perfeita; negativas, como consequência de resíduos de
impulsos humanos primitivos de egoísmo, medo e cólera – prova seu conteúdo
substancial em potencialidade. E vimos, assim, o mundo como pensamento em
sua plenitude.

Fenômenos não passam de frações de pensamentos.

Continuamos a raciocinar, abrimos as válvulas da intuição para liberar o que


faz a ciência: apenas verificar os fenômenos físicos. A religião procura
compreendê-los e a filosofia entra com a compreensão. E daí se concluir que
ciência, religião e filosofia se irmanam para uma unidade, em face da verdade
do pensamento pleno. Pensamento que é a dinâmica da consciência, da
inteligência cósmica – DEUS.

O curso de ALVORADA, sendo um movimento de caráter universal que visa à


realização do homem integral – isto é, o homem físico-mental e espiritual o
homem cósmico –, nos impele a aceitar o comando da espiritualidade, nesse
movimento em que a realidade se impõe, mostrando-nos este homem pleno,
em sua modalidade físico-mental e espiritual. Uma composição de partes finitas
e algo infinito. Em outras palavras: de frações existenciais-mortais e de
inteireza essencial-imortal, ou, melhor, imortalizável, uma situação concreta e
outra abstrata. A primeira, cedo ou tarde desaparecendo; a outra,
provavelmente não. Afirmamos aqui o homem real e semelhante à imagem de
Deus – o homem-pensamento. E quando verificamos que a Palavra é, por
assim dizer, a concretização do pensamento, compreendemos sua importância
no sistema revolucionário humano, que a apresenta para sua identificação com
o próprio pensamento, tal é a maneira instantânea com que flui na
conversação, nas exposições de improviso. Essa identificação lembra-me a
Divindade-Potencial e Deus-Dinamismo. Sendo a palavra uma semente que
frutifica, salientamos a responsabilidade do professor ao servir-se dela em seus
ensinamentos.

Com a importância de seu refinamento, a palavra chega a modelar a conduta


humana, no plano mental que traça a trajetória do homem enquanto subjugado
pelo intelecto. Na vida terrestre, esse plano assume valor de tal ordem que não
pode ser subestimado. Se ele está sendo dominado é porque, em sua
estrutura, impera algo indomável e fora da conjuntura cósmica e nela,
entretanto, atuando, para a pretensa chave da unidade universal. Roupagem
que deve ser retirada, a fim de mostrar o corpo natural, verdadeiro, em sua
nudez individual e não ilusório personal, que é o da humanidade presente,
envelhecida, que descurou da juventude indefectível da espiritualidade.
É a palavra, em si, apenas instrumento, veículo de uma mensagem, que tanto
pode ser cristalizada na mente humana e servir para o intelecto discursivo,
como, também, para fazer vibrar o coração crístico na frequência espiritual, na
Verdade, como a força e o efeito das eternidades. É esse o instante de sua
autenticidade, aquele em que o homem se nutre para suas necessidades
espirituais, afastando-se do ouropel das aparências para tornar-se cada vez
mais apto a reconhecer em si o Reino dos Céus, até que o renascimento pelo
Espírito anuncie a Alvorada por que anseiam os filhos de Deus, na paz do
Esplendor indecifrável, inconcebível.

Pois bem, preclaro mestre Huberto Rohden, essa palavra de fascínio e brilho
eloquente tem Vossa Senhoria à disposição de sua prodigiosa inteligência,
como um vinho que nos dá a beber e nos embriaga com a visão de Deus,
motivo constante de suas memoráveis conferências e de suas meditações,
quando nos fazem calar a voz e cerrar os olhos que se voltam para o interior,
no silêncio, essa dimensão incomensurável, onde Deus se refugia.

Quando, certa vez, me dirigia para uma de suas aulas, encontrei um amigo
que, ao saber de meu interesse pelas coisas do Espírito, por tudo que diz
respeito à Verdade, perguntou-me, como Pilatos, me gracejando: que é
Verdade? Num pedaço de papel deixei-lhe escrito: ... se perguntas a mim quem
sou eu, posso responder-te quem sou eu; mas, se a mim mesmo pergunto
quem sou eu, a quem devo responder? A mim mesmo? À minha consciência?
Quem és tu que dás testemunho de ti mesmo? – Sou a Verdade!

Somos a verdade, caro mestre, desde e até o momento em que somos “luzes
do mundo”. Em cada um de nós está instalada a usina energética, na forma de
“Cristo em nós”. Creio que é essa mesma força veemente que o impulsiona,
voando de norte a sul a fazer funcionar as turbinas de nossa inteligência,
manejadas por suas lições filosóficas de caminhada longa, mas de meta
segura para que o ensejo de iluminação se realize.

E seus fulgores já despontam nas tardes iluminadas de sábados e nas


alvoradas das manhãs tranquilas dos domingos, quando sua voz repercute
poderosamente em nosso intelecto, ávido de saber e de serenidade.

E maior ventura, ainda, é a sua palavra empolgante ser internada na memória


para sedimentar, em nossos corações, o caminho certo da Verdade, para
conquista da vida eterna e a sublime confirmação de Evangelho.”
Um Jornalzinho
Clerical Proíbe
os meus Livros

Com data de 7-2-1943, escreveu o semanário O Domingo, dos Padres


Paulinos, da capital de São Paulo, o seguinte: “Senhores assinantes e leitores!
Evitai a leitura e distribuição de todo e qualquer escrito do P. Huberto Rohden.
Se tendes algum livro da sua lavra, destruí-o ou entregai-o ao vosso vigário. Os
folhetos (Lampejos) sejam destruídos. – A Redação”.

PLAGIANDO ESCRITOS MEUS

O mesmo jornalzinho O Domingo, dos Padres Paulinos, São Paulo, com data
de 28 de agosto de 1950, plagiou do meu livro De Alma para Alma o capítulo
“Tua alma”, assinando-o com o nome fictício de uma senhora, Elly Margot
Sauer. Além do crime de plágio, proibido por lei, acresce a seguinte agravante:
leitores do meu livro De Alma para Alma poderiam conceber a idéia de eu ter
plagiado o citado capítulo, assinando-o sub-repticiamente com o meu nome.

A tão extremada maldade podem chegar homens de missa e comunhão diária,


mas que substituíram o Evangelho do Cristo pela teologia da sua Igreja.
Um Companheiro
de Ideal
Escreve do Rio

“Sou profundamente grato ao Senhor pelo fato de haver, depois de longos anos
de peregrinação, como filho pródigo, reencontrado a senda do Evangelho.
Tenho lido todos os seus livros com grande proveito, e a Metafísica do
Cristianismo causou-me profunda impressão, a ponto de quase curar-me de
desconcertante neurastenia por que vinha sofrendo de longos anos.

Vivo agora bem mais tranquilo comigo mesmo, e estou certo de ter encontrado
o caminho verdadeiramente ético, por meio do qual vou, até mesmo com
espanto, conduzindo o meu barco ‘em noite tempestuosa, batida por ondas, por
todos os lados’, noite escura, mas que agora, somente agora, vai se clareando,
em meio da fé cristã tão misteriosamente inoculada numa alma que vivia
sedenta da Verdade, de Deus e do verdadeiro Evangelho.

Faltam-me dotes literários para bem poder exprimir-me à altura das minhas
necessidades espirituais. Sinto-me hoje bem mais feliz do que outrora, e isto eu
lhe devo. Quero que o senhor saiba: Eu lhe devo esta tranquilidade e este novo
conhecimento de Deus e do seu Evangelho”.
O que um Reverendo
Evangélico diz do
Livro Paulo de Tarso

O meu livro Paulo de Tarso – cuja primeira edição saiu no mesmo dia em que
rompeu a Segunda Guerra Mundial – era fadado a se tornar o mais odiado
corpo de delito por parte de uns, e um dos mais amados dos meus livros, de
parte de outros. Neste livro procurei fazer ver, à luz da vivência do grande
bandeirante do Evangelho, o que era o cristianismo no primeiro século da
nossa era, e como ele foi deturpado, mais tarde, por pessoas mais
interessadas no poder do que na verdade. Em face desse tema, era inevitável
que os culpados dessa deturpação, através dos séculos, não gostassem do
espelho que Ihes refletia a fealdade; mas, em vez de corrigirem a sua própria
fealdade, investiram contra o espelho que lha revelava. Mas nunca faltaram
pessoas sinceras, dentro de qualquer grupo religioso organizado, que
aproveitassem o espelho do meu livro para fazerem um sincero exame de
consciência sobre a sua própria vivência ou não vivência crística.

As palavras seguintes são tiradas da carta de um pastor evangélico que


contemplou sinceramente, no espelho de Paulo de Tarso, a sua fisionomia
espiritual, e não tentou destruir a fidelidade do refletor, mas sim cristificar a sua
própria vida.

“Tenho em mãos a sua carta, acompanhada de três exemplares do livro Paulo


de Tarso. Passei a tarde toda de sábado, e algumas horas deliciosas de
domingo, lendo e relendo o seu portentoso livro. Aconteceu-me uma
experiência agradabilíssima: ao ler as apreciações contidas no folheto de
propaganda dos seus livros, e mesmo ao ler a apreciação por ele feita pela
revista Fé e Vida, dissera de mim para comigo: com certeza, há em tudo isto
muito entusiasmo de amigos e exageros de coração.

Qual não está sendo, no entanto, o meu deslumbramento, verificando, com os


olhos e com a inteligência deslumbrada, que Paulo de Tarso é a obra religiosa
mais linda que tenho lido em língua portuguesa. Sou um admirador
incondicional do grande apóstolo (passa a falar de outras biografias, em outra
língua, que leu de Paulo de Tarso). Nunca, porém, encontrei fonte tão rica e
peregrina de inspiração e conceitos sobre Paulo como no livro de meu invulgar
amigo.

Só as próprias cartas geniais do apóstolo derramam em minha alma tanto


embevecimento por seu espírito, como o seu livro que, com mestria invulgar,
sabe ressaltar, nítida e verdadeira, diante da nossa alma, a figura excepcional
do convertido de Damasco.

Assim é que penso ser a sua inimitável biografia de Paulo de Tarso. Apresenta-
nos Paulo, verdadeiro, em carne e osso, na grandiosidade insuperável da sua
vida ímpar e singular.

Obrigado pelas irradiações celestes da sua personalidade de escol! Só poderia


escrever um livro como o Paulo de Tarso quem interiormente vivesse a vida do
espírito; quem, com Cristo e com Paulo, tivesse, em deslumbradoras horas de
meditação e sonhos, contato espiritual e inefável comunhão.

Subi ao púlpito, domingo passado, com uma disposição desusada. Para um


nobre auditório de 200 e poucas pessoas, preguei sobre o texto: “Sê fiel até à
morte, e eu te darei a coroa da vida!” Sentia a alma leve, dando pulos de
alegria, dentro do peito ofegante e apaixonado. É que, por duas horas da tarde
magnífica desse domingo, passei em companhia de Paulo, o extraordinário
varão de Tarso, graças ao milagre de um coração de artista e de um espírito de
apóstolo que é o meu muito nobre amigo.

Livro imenso! Oceano infindo de excelsitudes literárias e de grandezas


celestes. Incomparável monografia que, por si só, fala do gênio maravilhoso do
cristianismo que, através dos séculos e quando mais horrendas rugem as
tormentas e mais desembestadas agem as forças do mal, desperta novas
alvoradas, acorda outras madrugadas, dando luz embriagadora aos espíritos
eleitos que choram em meio das trevas envolventes do mundo desalmado.

Livros como Paulo de Tarso são madrugadas radiosas, são alvoradas


estupendas que afirmam a imortalidade e a eterna mocidade do Cristo de
Deus, sempre vivo nas vidas dos que por ele pautam as normas dos seus
sonhos, a orientação dos seus esforços e a trilha segura da sua fé.

Lápis em riste, vou-lhe marcando períodos e períodos onde, a par com a forma
peregrina, refulgem, de página em página, conceitos e pensamento de ouro e
luz.

Compreendo, com infinita tristeza, o porquê da proibição oficial, em muitas


dioceses do Brasil, deste glorioso livro.”...

Transcrevi os trechos acima dessa carta entusiástica, até à menção final da


proibição de Paulo de Tarso por parte de um setor do clero romano, para
mostrar o tremendo conflito entre a verdade do Cristo e a mania do poder de
certos cristãos. Verdade e poder são incompatíveis, como fogo e água, porque
o que nós entendemos por poder é, quase sempre, violência, a mais lídima
manifestação do nosso ego luciférico contra o Eu crístico. Um dos poucos
homens que renunciou a toda a espécie de poder-violência (ahimsa), a fim de
ser fiel à verdade-amor (satyagraha) foi Mahatma Gandhi – e fez a estranha
experiência de que o amor à verdade ou satyagraha é o maior dos poderes,
mas um poder sem violência, em virtude do qual a Verdade, através do
mahatma (grande alma) libertou a Índia da violência dos opressores britânicos.
A bandeira de Gandhi era esta: “Aceito o Cristo e seu Evangelho – não aceito o
cristianismo dos cristãos”.

O conflito entre o Cristo e o Anticristo, de que falam os Evangelhos, prossegue


através dos séculos. O Anticristo continua a oferecer ao Cristo “todos os reinos
do mundo e sua glória”, com a condição de que o Cristo se “prostre em terra e
o adore” como seu Deus e Senhor. No deserto da Judéia, o Anticristo não
conseguiu a apostasia do Cristo, que lhe replicou: “Só a Deus adorarás e só a
ele servirás”; mas, nos desertos do nosso cristianismo, o Anticristo consegue,
quase sempre, a capitulação do Cristo em troca dos reinos do mundo e sua
glória. O poder é do ego anticrístico – a verdade é do Eu crístico. Haverá
compatibilidade entre água e fogo?... Não é que o fogo se apaga, quando em
contato com a água?...

Assim se explica a campanha infernal que se armou contra o meu livro


(explicitamente aprovado pelo então cardeal D. Sebastião Leme), campanha
sob a chefia dos sequazes do Anticristo.

Tenho dito, e torno a dizer, que a maior vitória do Anticristo consiste,


indubitavelmente, no fato de ter o Anticristo conseguido hastear a bandeira do
Cristo sobre quartel-general do Anticristo, fazendo crer aos incautos que ele
continua, através dos séculos, a mensagem do Cristo, que o Anticristo atraiçoa
com um beijo de Iscariotes: “Aquele a quem eu beijar, esse é o Cristo –
prendei-o!” E o Cristo, beijado pelo Anticristo, está preso e vai ser condenado à
morte...

É esta a história trágica do nosso cristianismo, desde os princípios do século


quatro. Por isto afirmavam Gandhi e Schweitzer – os corifeus do cristianismo
do Cristo no século vinte: “Aceito o Cristo e seu Evangelho – não aceito o
vosso cristianismo” (Gandhi); “Os cristãos das Igrejas inventaram o soro das
nossas teologias, com que vacinam os homens, e quem é vacinado com o soro
da nossa teologia está imunizado contra o espírito do Evangelho do Cristo”
(Schweitzer).

Mais uma palavrinha sincera ao meu nobre amigo, autor da carta acima: depois
de publicar Paulo de Tarso, tenho escrito e publicado diversos livros que
focalizam com maior pureza ainda o espírito do Cristo, livros isentos de
qualquer teologia humana, mesmo paulina (que ainda existe em Paulo de
Tarso). Mas, para quem procura encontrar-se com o Cristo através de Paulo
(como, geralmente, acontece aos chamados “evangélicos”), e não com o Cristo
pelo próprio Cristo, é inconcebível um Evangelho puramente crístico: os
paulinos só concebem um Evangelho paulino. Todos os meus livros, a começar
com Metafísica do Cristianismo (1951) são, de preferência, evangélico-
crísticos, só admitindo ingredientes humanos, mesmo teológico-paulinos,
quando estes se acharem 100% harmonizados com a mensagem do Cristo.

Esta absoluta e incondicional fidelidade à mensagem do Cristo é a


quintessência do movimento que chamamos ALVORADA, ou seja, o alvorecer
da consciência do Cristo. Alvorada é luz pura, que não admite ingredientes
nem mistura de espécie alguma.

O aparecimento de Paulo de Tarso marca o início da hostilidade do elemento


eclesiástico-romano contra mim, e a culminância da amizade do elemento
evangélico-paulino a meu favor. Depois disto ingressei no mundo imenso do
elemento evangélico-crístico, onde sou acompanhado, não por alguma Igreja
organizada, romana ou protestante, mas tão-somente por um pugilo de
individualidades humanas de nítida compreensão crística, alheias a qualquer
espécie de teologia.

A nossa seleta ekklesia, esta pequena elite crística, alvorada matutina,


insignificante quantidade e importante qualidade – tem de ser a “luz do mundo
e o sal da terra”! tem de tornar-se, cedo ou tarde, o “fermento do reino de
Deus”, destinado a levedar as “três medidas de farinha” das massas profanas,
até ficar tudo levedado, até que a Realidade do espírito transforme todas as
Facticidades da matéria.

Até que a “luz brilhe nas trevas”...

Até que a alvorada dissipe as trevas da noite...

Até que o “poder das trevas” seja derrotado pela “luz do mundo”.

Quem puder compreendê-lo, compreenda-o!...

Será que o antepenúltimo pode compreender o penúltimo?....

Será que o penúltimo pode compreender o último?...

Somente quem viveu plenamente o Alfa poderá compreender totalmente o


Ômega...
Escandalizado com
o meu Livro Deus

No prefácio do meu livro Deus prevenira eu que este livro não devia ser lido por
pessoas para as quais Deus não fosse mistério, mas uma evidência meridiana,
pessoas que nunca tivessem sofrido a luminosa escuridão, o deserto sonoro, a
doce amargura, o céu infernal da Divindade.

Em 1967, um homem, morador na Guanabara, leu esse meu livro perigoso, e


não estava em condições de assimilar-lhe o conteúdo, assaz misterioso.

E aconteceu-lhe o quê?

Aconteceu-lhe o que não podia deixar de acontecer: uma tremenda indigestão


espiritual, que se refletiu na seguinte carta que me escreveu:

“Não venho à sua presença trazer encômios, que seriam ofensas, senão
desairosas e baldas de ética; todavia, cumpro um dever de lealdade para com
sua pessoa – se é que o senhor usou de lealdade para com seu Deus – para
dizer-lhe o seguinte, depois de haver lido o seu livro Deus, 3.ª edição: Nunca
jamais, outrora, em tempo algum, houve alguém que escrevesse com tanta
lábia, para dizer tão pouco – que acabasse por não dizer nada.

Esse seu enigmático de quantos enigmas angustiam o seu espírito não existe
senão como fruto de uma imaginação doentia.

Reanime-se e bata no peito: minha culpa, minha culpa, minha terrível culpa!
Prospere e menos angustioso em 1967!” (segue assinatura, de feitio fortemente
judaico).

Devolvi a carta, acrescentando no verso as palavras de Paulo de Tarso: “O


homem mental (em grego: psychikos) não compreende as coisas do espírito,
que lhe parecem estultícia, porque as coisas do espírito devem ser
compreendidas espiritualmente.”

Também citei as palavras do Cristo: “Não lanceis as vossas pérolas aos


porcos, para que não aconteça que lhes metam as patas e depois, voltando-se
contra vós, vos dilacerem.”
Nos meus livros recentes Escalando o Himalaia e A Voz do Silêncio, poemas
de iniciação e auto-realização, encontrará o leitor muitas páginas que lembram
o conteúdo do livro Deus – altos e baixos, luzes e trevas da alma, júbilos de
realização e gemidos de frustração, Tabores e Calvários, júbilos solares e
sofrimentos noturnos. Se o próprio Cristo teve os seus gemidos de Getsêmane:
“Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice, sem que eu o beba” – se
teve o seu angustioso brado de Gólgota: “Meu Deus, meu Deus, por que me
desamparaste?” – como poderia um discípulo do Cristo ter sorte melhor?
Desde quando está o discípulo acima do Mestre?

Eu, por mim, só conheço duas classes de criaturas isentas de angústias: as da


meia-noite e as do meio-dia; os totalmente ignorantes e os plenamente
sapientes. Quem oscila entre as trevas absolutas da inconsciência e a luz
integral da pleniconsciência, nesse “misterioso lusco-fusco, nessa enigmática
penumbra da semiconsciência, tem os seus problemas espirituais, as suas
tragédias existenciais.

Não é necessário que o homem viajor seja derrotado por suas angústias; pelo
contrário, ele deve, cedo ou tarde, superar esse estágio evolutivo, como o
próprio Cristo o superou, quando ele “entrou em sua glória”; mas, como ele diz
aos discípulos de Emaús, o Cristo tinha de sofrer tudo aquilo antes de entrar
em sua glória.

Em que estágio evolutivo estará o meu ignoto escandalizado, da Guanabara:


no plano inconsciente, onde não existem ainda problemas – ou no plano
pleniconsciente, onde já não há problemas?...
Fala um Diretor
de Instrução Pública
Municipal

Uns decênios atrás, quando eu viajava extensamente e meus livros


começavam a formar amigos e inimigos, um Diretor de Instrução Pública, de
um município do Rio Grande do Sul, através de um amigo comum, o exímio
médico Dr. E. W., mandou uma carta da qual passo a transcrever alguns
tópicos.

“Através das palestras que hei mantido com o Dr. W,., meu grande amigo,
aprendi a lhe querer bem, tomando conhecimento das verdades expressas em
suas obras magistrais, que, por serem verdadeiras, andam por aí, exaltadas
pela maioria, que, aos poucos, vai-se encontrando a si mesma, e criticadas
pela minoria, que segue e acredita ainda na deturpada doutrina dos falsos
profetas. Como faço parte dessa maioria, que a cultura, a inteligência e a sua
sinceridade vai ganhando, rumo dos grandes destinos, tornei-me, de pronto,
seu amigo, certo de me haver achado a mim mesmo, deixando de ser o que a
padrecada queria que eu fosse: uma criança grande, eternamente
amedrontadas com histórias de bicho-papão.

Coitados! Não passam de vagalumes querendo iluminar as trevas, com a


simples fosforescência da luciferina e da luciferase, combinadas. Com essa
‘luz’ eles não guiaram nem guiarão ninguém. Todos se sentem perdidos.
Tateando nas trevas, de olhos arregalados, buscando um ponto luminoso, os
homens caminham de passos incertos.

Estou cansado de ouvir tolices, em português e em latim. Padre comigo não


forma. Só sacerdotes como o senhor, amigo Rohden, poderão salvar do
desprestígio em que o cristianismo se encontra. Mas, para isto é preciso
destruir primeiro esses castelos erguidos sobre areia, sem alicerces, para que
das ruínas dos escombros surja o templo do Cristo, a verdadeira doutrina do
Cristo, sem artifícios nem formalismos, para arregimentar em torno dele todos
os homens de boa vontade.
Queira aceitar um forte abraço, ex corde, do seu amigo e inútil servo em
Cristo.” (Segue assinatura.)
Para Além dos
Horizontes Teológicos

“Querido amigo e irmão Huberto Rohden – assim me escreve, de Curitiba, uma


senhora desejosa de maior cristificação. – Tenho lido várias obras de sua
autoria, como Paulo de Tarso, Jesus Nazareno, Deus, Agostinho, Cosmorama
e outras. E agora terminei de ler Lúcifer e Logos. Adquiri este livro, ontem, na
livraria, e pelo nome estava grandemente intrigada, pois ainda considerava a
ação má de satanás ou lúcifer – e eis que já nos primeiros capítulos fui
entrando num campo vasto de conhecimentos que aclararam minha rude
memória, a ponto de sentir, ao terminar a sua leitura, um quê de indizível
felicidade.

Com a leitura de Cosmorama pude, ano passado, deliciar-me com uma


atmosfera em plena altura dos céus.

Tenho para mim que o irmão é um verdadeiro cristificado, e pedirei a Deus que
eu possa conhecer cada vez mais a Cristo e possa senti-lo dentro de mim, e
assim viva plenamente com Deus.

Sou da Igreja Presbiteriana desde 1928. Mas sinto que em nossas Igrejas,
como também na romana, imperam os dogmas e ritos, e às vezes nos
sentimos bem longe do espírito de Cristo.

Tenho 7 filhos; faço tudo para que eles se integrem no Evangelho, e por isto
faço parte da Igreja; mas tenho vontade de expressar melhor a vontade do Pai,
como elucida o seu livro Lúcifer e Logos. É maravilhoso!” (segue assinatura).

Nos anos seguintes, esta mesma senhora me escreveu diversas cartas, pelas
quais verifiquei uma firme linha ascensional, rumo ao Cristo, real como ele
aparece nos Evangelhos, sem teologias deturpantes, em espírito e em
verdade.
Uma Voz Amiga
em Pleno
Campo de Batalha

Quando, decênios atrás, a luta duma parte do clero romano contra minha
pessoa e obra atingia o clímax da ferocidade, como expus no meu livro Por um
Ideal, um homem isento de preconceitos me escreve a carta seguinte:

“O senhor é incontestavelmente uma ‘ave rara’ neste imenso deserto e homens


e idéias, no dizer do senhor Osvaldo Aranha.

Eu, inimigo número um dos sacerdotes, quero abraçá-lo, esquecendo que o


senhor está no grupo daqueles que combato, porque, meu caro padre Rohden,
o senhor tem este facho luminoso que Deus, o excelso criador das coisas e das
gentes, não dá a todos, nem a mim, que é o talento.

Profundo admirador do homem que tem talento, do homem cujo cérebro vale
mais que todos os preconceitos humanos, que todas as grandezas terrenas,
curvo-me, reverente, diante de Você – permita a substituição do tratamento –
que sabe tão bem e tão profundamente dizer o que muitos não dizem por
safadismo e conivência com os preconceitos sociais.

Eu não tenho inveja dos triunfos alheios, antes satisfação, porque o triunfo de
um é um estímulo profundo aos que ficam, que querem e podem subir e ser
aplaudidos, desde que saibam, como o meu amigo, perscrutar a consciência
humana e sentir o anseio dos que sofrem e choram, dizer, com profundeza
quase que desconhecida no meu país, a Verdade, essa Divindade
desconhecida dos homens e dos deuses humanos.

Quero esquecer que Você é sacerdote, porque Você o é bem diferente dessa
casta que pulula por aí a vender santos de ouro e prata e a trocar rezas por
cruzeiros; quero ver em Você o talento de verdade, o homem que é meu irmão
em Ideal, o homem que sabe interpretar as dores alheias como se fossem sua
própria, que sabe compreender a Verdade do que o Mestre nos ensinou, com
grandiosidade e sabedoria.
Você, meu caro padre Rohden, presta um grande bem à humanidade,
ensinando-a a compreender a Verdade que os outros procuram tornar
desconhecida cada vez mais, ensinando-a a compreender as dores alheias.

Permita que o abrace e suplique um único favor: não esmoreça, meu caro
padre Rohden, porque a posteridade lhe fará a Justiça devida, que a patuléia
bípede que nos cerca não faz.

Sou, de coração e espírito, seu amigo certo na hora incerta.” (Segue


assinatura.)
Solidariedade
de um Sacerdote Amigo

Qual rochedo solitário e sereno em mar tempestuoso, emerge da procela o


vulto de um sacerdote estrangeiro, em Curitiba, que, indiferente aos
impropérios que muitos colegas dele me lançam, continua a ler e recomendar
ao seu rebanho os meus livros. Duma carta dele, datada de 12 de agosto de
1942, transcrevo o seguinte:

“Recebi as suas cartas e livros. Não acho palavras para exprimir-lhe a


admiração sobre seus novos livros. Agostinho então me parece coisa única na
literatura mundial. Não conheço entre tantos conhecidos livros semelhantes um
único que se podia (lembre-se o leitor de que ele é estrangeiro!) colocar ao
lado do seu Agostinho. Leio e torno a ler sempre de novo essas páginas
maravilhosas. Da alta perfeição da linguagem e da felicidade de lhe escolher as
mais lindas expressões, nem se fala. Eu me refiro agora só à profundeza deste
livro; à verdadeira realidade que ele atinge; à psicologia que, passo a passo,
respira; à inspiração incomparável de seu venerado autor.

Sua última carta, que acabo de receber, nesta hora me entristece muito. Tanta
malícia satânica não esperava. Mas o inferno teme os seus livros, Padre
Huberto. Por isto, tanto ódio, tanta perseguição. Parece que os antigos fariseus
tornaram a viver. Coragem, porém, porque o bem sempre triunfa.”

Os que leram o meu livro autobiográfico Por um Ideal sabem a que o autor
desta carta se refere; são ecos da tremenda campanha que numerosos padres
moveram a meu livro Agostinho, apesar do “imprimatur” da autoridade
diocesana, chegando ao ponto de afirmar que o maravilhoso prefácio, de Mons.
Ricardo Liberali, então vigário geral da diocese de Uruguaiana, havia sido
inventado perversamente por mim.
Uma Freira Encantada
com De Alma para Alma

Talvez o mais conhecido e lido dos meus livros é De Alma para Alma, agora
em sétima edição, sendo que as edições deste livro são de 10.000 exemplares,
em vez de 5.000. São 100 capítulos de duas páginas cada um, focalizando
variados altos e baixos, luzes e sombras da vida de quase todo ser humano
que passa sobre a terra.
* N. Editor – Nesta data o livro De Alma para Alma está entrando na 14.ª edição. Já foram
impressos mais de 130.000 exemplares.

Uma inteligente e dedicada Irmã, de Curitiba, grande propagandista dos meus


livros, me escreve:

“De Alma para Alma ultrapassa tudo que jamais saiu da sua pena. O pessoal
cá da Secretaria está encantado com as idéias nele apresentadas. A cada
capítulo que eu leio e releio empresto, sem querer, a cadência e ritmo peculiar
do autor e penso e digo: por quantas agruras teve de passar o Padre Rohden,
para que pudesse interpretar com tal mestria o que muitas almas sofrem e
sentem.”

A autora dessa carta frisa duas coisas notáveis, por sinal que essa Irmã possui
grande sensibilidade psíquica e artística. Lembra a cadência e o ritmo deste
livro, o primeiro que saiu em forma colométrica, como os Salmos, terminando a
linha quando termina o pensamento. Mais tarde dei a mesma forma colométrica
a outros livros meus, como sejam Escalando o Himalaia, A Voz do Silêncio,
Imperativos da Vida (agora também em tradução de esperanto), bem como à
segunda parte de Em Comunhão com Deus.

Parece que a Irmã sentiu que De Alma para Alma nasceu no campo de
batalha, entre sangue e lágrimas, precisamente no auge da campanha
difamatória que parte do clero e do episcopado moveu aos meus livros, pelo
fato de frisarem mais a Cristo-redenção do que a clero-redenção.
O Poder Secreto
por Detrás dos Bastidores
da Minha Vida

Em princípios de 1963 apareceu, inesperadamente, no meu sítio, perto de


Jundiaí, São Paulo, onde eu passava dois dias por semana, um jornalista
amigo que eu não vira havia muito tempo – Irineu Monteiro.

Anos atrás, no tempo em que eu lecionava filosofia numa das universidades de


Washington e trabalhava em Pesquisas Científicas, na Universidade de
Princeton, onde convivi com Albert Einstein, esse jornalista mantinha comigo
correspondência assídua, divulgando as minhas idéias na imprensa de São
Paulo.

Após o meu regresso ao Brasil, em 1951, perdi quase todo o contato com
Irineu Monteiro. Nem sabia que ele trabalhava no conhecido jornal de
publicidade Shopping News.

Grande foi, pois, a minha surpresa quando, um belo dia, esse jornalista me
aparece na minha verde solidão – então chamada “Cosmorama” (visão
mundial) hoje Nirvana (quietude) –, armado de câmara fotográfica e bloco de
papel, a fim de me entrevistar e fazer de mim publicidade nas páginas do
Shopping News, como se eu fosse algum campeão de futebol ou um astro de
cinema.

Irineu Monteiro, como é de dever dum bom jornalista, me fez um mundo de


perguntas e bateu uma série de fotografias, de mim e das coisas do sítio,
sobretudo da minha “Torre do Silêncio” então em vias de ultimação. Não dei a
menor importância ao fato, que passou a ser obliterado, como tantos outros. Eu
não sou um homem social; sou quase um eremita. Continuei a amanhar a terra,
a plantar árvores frutíferas, a criar abelhas, etc.

Qual não foi, porém, a minha surpresa quando, com data de 7 de abril de 1963,
o jornal Shopping News estampou quase uma página inteira cheia de
fotografias e com um espalhafatoso título em vistosas manchetes:
“As glórias do mundo pelo encanto da natureza”.

E logo abaixo, em forte negrito, a seguinte síntese:

“Nas proximidades de Jundiaí, há uma área de terra agricultada e chamada


pitorescamente de Cosmorama. Ali reside o filósofo-místico Huberto Rohden.
Fomos bater um papo com ele e o encontramos em mangas de camisa, com
sandálias de sola de pneumático nos pés, cabelos grisalhos e crescidos.

Conhecemo-lo desde 1935 e era o nosso autor predileto no tempo de


seminário. Hoje possui enorme bagagem literária, pois é autor de uns 50 livros,
com cerca de 2.000.000 21 de exemplares circulando pelo Brasil e pelo
estrangeiro.”
21. Hoje, dizem-me os meus editores, presentes e passados, a tiragem total dos meus livros é
de, aproximadamente, 5 a 6 milhões de exemplares.

Nota do Editor: Na condição de legatário universal da obra literária de Huberto Rohden,


ratificamos as informações acima. Rohden escreveu cerca de 100 obras (várias traduzidas)
durante mais de 60 anos. Estão em catálogo apenas 65; as restantes foram rejeitadas pelo
autor.

Depois disto, Irineu fala dos meus estudos na Europa, das minhas atividades
nos Estados Unidos, do meu encontro com Einstein, etc. Fala de mim como
arrojado alpinista, como campeão de natação numa competição no Mar
Mediterrâneo, da minha Filosofia Cósmica estreitamente relacionada com a
matemática e a mística, etc.

Tamanha foi a repercussão dessa reportagem que tive de sair do meu


anonimato tradicional e aparecer na ruidosa publicidade. O jornal Shopping
News se viu bombardeado com perguntas sobre esse misterioso filósofo,
eremita místico, que vive cultivando a terra, em mangas de camisa e sandálias
de sola de pneumático. Fui convidado a dar cursos de Filosofia no auditório do
jornal.

***

As minhas inesperadas atividades no auditório do jornal Shopping News,


motivadas pelo inesperado reencontro com um jornalista que, logo depois,
tornou a desaparecer da minha vida, representam mais um elo na longa e
misteriosa cadeia que entretece a minha vida, nesses últimos 20 ou 30 anos.
As coisas me acontecem quando devem acontecer, de acordo com algum
plano secreto, que eu mesmo ignoro, no meu consciente, mas ao qual
obedeço, no meu inconsciente ou cosmo-consciente, dentro da zona do meu
livre-arbítrio.

As coisas são feitas através de mim, mas não por mim.

Eu sou um canal, não sou a fonte.


Quem foi que me mandou estudar em universidades européias?

Quem me arranjou bolsa de estudos na Universidade de Princeton?

Quem me pôs em contato com o maior matemático do século, Albert Einstein?

Quem me chamou para lecionar filosofia e religiões comparadas numa das


Universidades de Washington?

Quem fundou os meus 4 cursos de filosofia em São Paulo, e no Rio de


Janeiro?

Não sou eu o “poder legislativo” de nada disto – sou, quando muito, o “poder
executivo”.

Tudo isto me aconteceu, e me está acontecendo, porque algum Poder Invisível


age por detrás dos bastidores da minha existência, concebendo e dirigindo os
eventos da minha vida, dos quais eu não sou autor, mas simples executor. As
águas duma Fonte Invisível são canalizadas através dos meus canais visíveis.

Eu não sou essa Fonte. Basta que eu mantenha os meus canais ligados com a
fonte Cósmica e conserve os meus canais limpos – e tudo vai bem; as águas
fluem, suave e espontaneamente, através dos meus canais.

O ignoto Além atua através do meu noto Aquém.

“Quando o discípulo está pronto – diz a sabedoria oriental – então o Mestre


aparece”.

Todo homem é, aqui na terra, um embaixador do Cosmos, realizando uma


parcela, maior ou menor, do plano cósmico; servindo de pedrinha, branca ou
preta, verde ou vermelha, azul ou amarela, no grande mosaico do Universo. É
importante que o homem se saiba univérsico e que procure universificar-se
cada vez mais.

E, depois de cumprir a sua missão terrestre, deve o homem continuar a realizar


a sua missão peculiar em outras regiões do Cosmos, porquanto “em casa de
meu Pai há muitas moradas”...
Encontro com o Cristo
Para Além das Teologias

“A finalidade da carta que lhe escrevo é apenas para lhe enviar, daqui do Rio,
meus agradecimentos pelo muito que o senhor me fez. Naturalmente, estou lhe
causando um certo embaraço, o que é justo; pois talvez o senhor não pudesse
supor que chegaria às suas mãos uma carta duma pessoa desconhecida,
agradecendo-lhe algo que o senhor desconhece que o tenha feito; mas, com o
decorrer da leitura, irá aos poucos tomando conhecimento do assunto e se
sentirá mais senhor da situação.

Sou uma criatura que, por princípio, recebi uma educação religiosa bastante
defeituosa, o que mais tarde, com o correr dos anos, viria me prejudicar
muitíssimo.

Ao completar 8 anos de idade, forçaram-me à 1.ª comunhão, que aliás fiz sem
nenhuma noção do que estava fazendo; minha família toda, quer da parte
materna, quer da paterna, exageradamente católica praticante, obrigava-me
também a cumprir com deveres religiosos, e eu lhe confesso que tudo isto era
feito por mim apenas como um dever de obediência à minha família, e
principalmente à minha velha avó, à qual eu devotava uma grande amizade.
Neste ambiente eu me tornei moça, sempre cumprindo com as minhas
obrigações religiosas, mas nunca as aceitando; sentia que não era bem aquilo
que eu praticava dentro de uma igreja católica que satisfizesse os meus
anseios espirituais; então eram as palavras dos sacerdotes que ouvia nas
missas todos os domingos que eu procurava para o alimento de minha alma;
saía das igrejas tão vazia como tinha entrado.

E comecei então a travar comigo mesma uma grande luta. Eu sentia que me
faltava qualquer coisa, e essa qualquer coisa eu não sabia o que era... Sabia
apenas que existia um Deus, esse Deus que eu vejo em todos os lugares, e, no
entanto, me ensinavam a encontrá-lo apenas dentro de uma igreja – e eu não o
sentia nessa igreja.

E assim, nessa insatisfação, eu fiquei como um náufrago a debater-me no meio


do oceano à procura de qualquer coisa que o possa salvar.
Comecei então a correr atrás de outras religiões; frequentei vários centros
espíritas, igrejas protestantes, adventistas, etc. E o meu vazio continuou; nada
encontrei que pudesse me satisfazer; nada vinha a mim que eu pudesse
aceitar – e assim continuei como um náufrago. Li e reli várias obras de Kardec,
Léon Denis e outros, obras mediúnicas quantas puderam chegar às minhas
mãos – e nada, nada disto me satisfez.

Vendo que não encontrava o que queria, desisti de tudo; afastei-me de tudo,
não lendo mais nada, e tornei-me liberta, vivendo apenas da grande Verdade,
que é Deus e o Universo que eu trazia dentro de mim desde criança; mas uma
educação religiosa malformada deturpou, criando em torno de mim essa
confusão tremenda de procurar lá fora o que eu trazia comigo, esse tesouro
imenso, maravilhoso, que é ter Deus dentro de si.

Pois é aqui, Sr. Rohden, que eu lhe agradeço. Foi durante a semana do livro,
na Cinelândia; estava eu observando a imensidade de belíssimos exemplares –
quando senti que caía a meus pés um livro; olhei e vi Evangelho ou Teologia,
de Huberto Rohden. – Apanhei-o e folhei-o – e deu-se o grande milagre! posso
assim dizer; estava ali, naquelas páginas, aquilo que eu há muito buscava.
Senti uma grande alegria. Comprei-o imediatamente e corri para casa; devorei
as páginas, bebendo palavra por palavra; pois em todas elas estava o meu
pensamento inteirinho, era aquilo justamente o que eu procurava em outros
autores, e não encontrava. Eu confesso, Sr. Rohden, eu tenho a impressão
(perdoe-me a pretensão) de que seus livros foram escritos por mim; o que o
senhor escreve é tão igual ao que eu penso que às vezes o meu entusiasmo é
tão grande com suas obras maravilhosas que só, no meu quarto, chego a falar
sozinha! Já comprei vários livros seus. Estou lendo, no momento, Maravilhas
do Universo. Por isto tomei a liberdade de lhe escrever, contando todas estas
coisas; porque vale a pena o senhor saber que as suas obras foram úteis a
uma alma errante que perambulava pelo mundo num verdadeiro caos, e que já
agora encontrou o que buscava... uma luz na escuridão! Por isso, Sr. Rohden,
eu lhe agradeço muitíssimo e lhe peço: escreva, escreva sempre, porque,
como eu, há de andar por este mundo de Deus muita gente sem bússola,
produto da nossa religião de família que, em vez de fazer o homem se
aproximar de Deus, o obriga a afastar-se dele.”

Resolvi reproduzir, na íntegra, esta carta, datada de 1955, porque sei que
nestas mesmas condições se encontram centenas, talvez milhares de pessoas.
Eu mesmo tenho nas minhas pastas algumas dezenas de cartas quase do
mesmo teor.

É fora de dúvida que a nossa educação religiosa – e isto vale não só da Igreja
a que a autora se refere – obedece, quase sempre, a um mecanismo obsoleto,
que aproxima a alma da Igreja A, B ou C, mas a afasta de Deus.
Quando, de acordo com o Evangelho de Cristo, afirmamos que Deus está em
vós – “o Pai está em vós”, “o reino de Deus está dentro de vós”, “o espírito de
Deus habita em vós” – acusam-nos de todos os lados de “panteísmo” (como
aconteceu ao célebre jesuíta Teilhard de Chardin). Infelizmente, desde o quarto
século, o grande monismo crístico foi substituído pelo dualismo teológico,
porque só neste ambiente dualista é que a hierarquia eclesiástica pode
prosperar e exercer o seu imperialismo de consciência. A teologia eclesiástica
substituiu a Verdade do Evangelho pelo Poder da Teologia. A Verdade é do Eu
divino, o Poder é do Ego humano.

Entretanto, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”,
no dizer do grande Tertuliano; a alma não é naturalmente eclesiástica,
teológica – isto pode ela tornar-se artificialmente – a alma é e continuará a ser
sempre crística por sua própria natureza divina. porquanto “o Pai que está em
mim também está em vós... eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo”.
Não é possível adulterar radicalmente a alma humana; como a agulha
magnética se volta sempre para o norte, quando deixada em liberdade, assim a
alma humana, quando deixada ao seu impulso natural, se volta sempre para
Deus, a despeito de todas as imposições e falsificações que os “guias cegos”
tentem impingir-lhe.

O caso desta jovem, que me escreve, do Rio de Janeiro, é uma comprovação


típica da verdade de que a alma é “naturaliter christiana”.

A jovem Iracema encontrou o Cristo do Evangelho, a despeito de todas as


teologias dos cristãos.
O Sr. Destruiu a Nossa
Harmonia Conjugal

É esta a grave acusação que me vem, em carta, de uma das capitais do sul do
País, onde eu havia dado uma série de conferências sobre a necessidade e os
processos da meditação espiritual. Um dos ouvintes tomou tão a sério o
assunto que resolveu fazer, cada manhã, das 5 às 6 horas, a sua meditação.

Mas a esposa não se conforma com esse hábito de o marido deixar a tepidez
da cama a essa hora, tanto mais que ele não a convida a acompanhá-lo para o
exercício de meditação. E dona Isa acrescenta que há perigo de a situação
piorar, porque o marido “ameaça” levantar-se, futuramente, às 4 horas da
madrugada, uma vez que o exercício de meditação lhe faz um bem imenso.

E a esposa revoltada me acusa a mim como responsável pela destruição da


harmonia conjugal, exigindo que escreva uma carta ao marido para o fazer
desistir de uma prática tão absurda e desumana.

Escrevi uma carta a dona Isa, perguntando se ela não achava melhor subir um
pouco rumo à altura do marido, em vez de o obrigar a descer às baixadas
dela... Não me respondeu, e até hoje nada mais ouvi do caso.

“Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa” – assim dizia o


divino Mestre, quase dois milênios atrás. E não se está comprovando isto a
cada passo? A propinquidade material cria, não raro, uma longinquidade
espiritual. O parentesco é do ego humano – mas a afinidade é do Eu divino.
Seria ideal se os seres humanos, unidos pela afeição dos seus egos,
estivessem sintonizados também pela compreensão dos seus Eus espirituais.
Um Monsenhor Entusiasmado
com meu Livro
De Alma para Alma

Anos atrás, grande parte do clero romano do Brasil hostilizou violentamente os


meus livros, sobretudo aqueles que frisavam intensamente a idéia da Cristo-
redenção do homem e calavam a clero-redenção.

Entretanto, nunca faltaram no meio do clero católico pessoas sinceras, mais


católicas que romanas, que aplaudiam e continuam a aplaudir e recomendar os
meus livros.

Entre estes últimos se destaca Monsenhor Ricardo Liberali, então vigário geral
da diocese de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, e secretário do bispado.
Escreveu-me ele, após o aparecimento da primeira edição do meu livro De
Alma para Alma, o mais lido de todos os meus livros:

“Recebi seu livro De Alma para Alma. É formidável.

Não escreva mais. Faça dele o seu CÂNTICO DE CISNE, porque outro livro
igual não escreverá.

É um livro-padrão de filosofia cristã e real.

Lê-se aos pedacinhos e saboreia-se como um doce raro ou um néctar.

É um livro que vale uma vida e poderá imortalizar qualquer escritor em


qualquer país.

Não escreva mais! Feche com esta chave de ouro a sua vida pública.

Faça-se ermitão. Desapareça do mundo, que não o quer. Seus livros farão o
seu trabalho. Vão-se os homens, e ficam as obras.

Por este livro pode-se calcular a montanha de sofrimentos que o oprimiam.

Com ele, V. R. venceu o mundo, ensinando-o a viver.

Chega, Rohden! Não escreva mais, que já não poderá superar a si mesmo.
Dei todos os exemplares recebidos. Guardo ciosamente o meu, no cofre de
ferro, qual se tratasse de uma Bíblia ricamente encadernada com ouro e
brocados. É que ele é a Bíblia apresentada com ouro e brocados.”

Note-se que esta carta é de 1943, tempo em que a campanha contra mim e
minha obra andava em furiosa maré. Monsenhor Liberali sentiu, nas
entrelinhas, que esta centena de capítulos concisos nasceu no meio de
grandes tempestades – e também de muita serenidade interior: Com efeito,
nesse período me consolidei grandemente na firmeza da linha reta da minha
consciência crística, indiferente aos ziguezagues da direita e da esquerda, a
vivas e vaias, a louvores e vitupérios, a aplausos e apupos. Durante todos
esses anos de difamações e calúnias, nunca respondi com uma única
palavrinha aos meus inimigos gratuitos; bastava-me o testemunho da
consciência de um dever cumprido.

Só muitos anos mais tarde, nos dois volumes autobiográficos do meu livro Por
um Ideal, é que ofereci ao público uma espécie de prestação de contas, uma
vez que muitos dos meus leitores queriam saber do porquê dessa luta contra
meus livros, genuinamente crísticos.
Escreve-me
“Uma Espiritualista Feliz”

É assim que uma antiga discípula minha, de Laguna, Santa Catarina, assina
uma carta, da qual passo a transcrever as seguintes palavras:

“Como admiradora das vossas obras, tive agora a satisfação de ler, meditar e
viver De Alma para Alma.

Desde Paulo de Tarso, o grande herói do cristianismo, que com ansiedade


procuro nos vossos livros esclarecimentos para minha alma, forças para
vencer, uma por uma, todas as provas e gozar as belezas com que descreveis
a verdadeira vida.

Nesse último, não está ao meu alcance dizer-vos quanta alegria íntima me,
proporcionou.

Esqueci o mundo, as ingratidões, tudo enfim, para gozar o que de melhor


podemos escolher, a paz íntima, a certeza de ganharmos de Deus o que o
mundo nos nega.

A leitura é interrompida pela alegria demasiada, e, então, espontaneamente,


elevo o pensamento, essa força oculta, pedindo a Jesus por vós, que vos
sejam dadas forças para chegar vitorioso ao fim da nobre e feliz missão. Sinto
que sois uma alma que Jesus enviou ao mundo para ajudar ao homem
mundano a conhecer a verdadeira vida. O tempo é chegado. Continuai a
ensinar o que recebe o vosso espírito de Jesus.

Alma como a vossa dispensa palavras como as minhas: mas calar-me não foi
possível.”
Uma Alma Crística da
Ocidental Praia Lusitana

“Lisboa, 2 de maio de 1986.

Senhor Doutor. Não sei como começar. Talvez por lhe dizer que sou
portuguesa, admiradora dos seus livros. É pena que só agora, aos 38 anos,
tenha sabido da sua existência.

Já li O Sermão da Montanha, Assim Dizia o Mestre, O Triunfo da Vida sobre a


Morte, Ídolos ou Ideal?, a sua autobiografia Por um Ideal. São de fato uma
maravilha. Tenho uma admiração enorme por si, e muita pena por tudo que lhe
aconteceu.

Agradeço-lhe reconhecida o bem que me tem feito através dos seus livros. Se
já amava o Cristo, agora, que O fiquei a conhecer mais e melhor, mais O amo e
tenho a ânsia de O seguir. Não sei como, nem para onde. Talvez aqui mesmo.
Sei lá?!

Deus é amor, e este é inventivo. Serviu-se dos seus livros para me fazer
crescer, para que visse claro o que tão emaranhado andava dentro de mim. Só
vivendo em Amor e no Amor se pode descobrir a maravilha da palavra Viver!

Através dos seus livros descobri, não um Deus teórico, racional, limitado a uma
idéia ou a um campo de idéias, mas o Deus real, empenhado no mundo, o
Deus amigo, o Cristo, o Senhor. Obrigada.

Gostaria imenso de possuir Jesus Nazareno, Agostinho, e os Evangelhos,24


mas em Portugal não há. Escrevi para a Livraria Freitas Bastos, e nada me
disseram. É verdade, também não há Paulo de Tarso. Como consegui-los? Foi
um padre católico dos bons (nem todos são cretinos), que me emprestou os
que li; mas eu já os comprei.

24. A autora da carta entende por “Evangelhos” a minha tradução do Novo Testamento, feita de
acordo com o texto grego do primeiro século, e com abundantes notas explicativas.

É pena que o Brasil seja tão longe! Tinha tanto para conversar.

Perdoe se o macei.
Se, um dia, quiser escrever a esta sua irmã, faça-o para... (segue nome e
endereço).

Com muita amizade, no Senhor, cumprimenta-o...”


“Por Causa de Mim
Sereis Odiados de Todos.”

“É chegará o tempo em que todo aquele que vos matar julgará prestar um
serviço a Deus.”

Estas palavras do Cristo, por mais estranhas que pareçam, estão sendo
confirmadas através dos séculos. E acrescentou o Mestre: “Haverá discórdia
entre pai e filho, entre mãe e filha, entre marido e mulher, e os inimigos do
homem serão os seus companheiros de casa.”

Também nos setores da “Alvorada”, que se guia pela mensagem autêntica do


Cristo, temos numerosos exemplos disto, sobretudo discórdias entre marido e
mulher. Quando um dos cônjuges segue o espírito da Filosofia Cósmica, toma
parte nas meditações e nos Retiros Espirituais da “Alvorada”, e a outra parte
ainda não sintonizou com esse espírito crístico, então ocorrem trágicas
interferências na vida do casal.

Os casos mais frequentes entre nós se dão quando o marido acompanha o


nosso movimento, e a mulher ainda não compreendeu esse espírito. O caso
contrário é mais raro. É que a mulher é, por sua própria natureza, mais
monocêntrica do que o homem, e ela se sente desfocalizada em sua
afetividade, quando o marido focaliza a sua simpatia em algum outro centro,
embora esse novo centro não seja uma mulher, mas uma ideologia. Começa
então uma campanha de ciumeira. O marido está “namorando” algo que não é
ela, a única que se julga com direito a ser amada. O entusiasmo do homem por
uma realidade espiritual fere a mulher, quando mais feminina que humana,
como se se tratasse de uma infidelidade, de uma espécie de adultério.25
25. Adultério, adúltero vem de “ad alterum” (para outro). E não se refere necessariamente aos
sexos. Na Bíblia, Israel é acusada de adultério pelos profetas quando se volta à idolatria,
adorando deuses ou ídolos de outros povos. “Eu sou o senhor teu Deus, não terás outros
deuses ao lado de mim” – é uma exigência antiadulterina, em sentido espiritual. Quando um
homem adora alguma “deusa” ideológica, filosófica ou religiosa, facilmente a deusa feminina se
revolta contra essa “infidelidade”.

Ocorre também, embora com menos frequência, o caso inverso. Certo dia, uma
jovem e formosa judia, recém-casada, depois de ouvir da nossa Filosofia
Cósmica, se entusiasmou grandemente por ela e resolveu frequentar as aulas
e meditações. Uma semana depois me apareceu toda murcha e triste, porque o
marido lhe proibira terminantemente esse “namoro” com algo que não fosse
ele, ele, o único senhor e deus do coração da sua deusa. “Para que filosofia? –
perguntou ele. – Então não te basto eu?”

Quando então um dos cônjuges leva a mal que a outra parte focalize o seu
amor em algo que não seja ele ou ela, começam as hostilidades, a guerra fria
ou a guerra quente, ou a descontente acha necessário desprestigiar a
“Alvorada” e seu diretor. Todos os doestos e impropérios são então despejados
sobre a nossa filosofia.

Psicologicamente analisada, esta situação se resume no seguinte: o ou a


descontente ocultasse nos porões do seu ser o secreto desejo de ser como a
outra parte; desejaria poder entusiasmar-se por algo que não seja apenas
dinheiro, sexo, negócios, divertimentos e outros ídolos do velho ego; desejaria
ter amor a um ideal do Eu divino no homem. Mas, como não consegue
despertar esse entusiasmo, de um dia para outro, que já vê despertado no
companheiro, revolta-se contra ele, procura rebaixá-lo ao seu nível inferior, já
que não se sente com forças para subir ao nível superior dele. O que a parte
descontente visa, propriamente, não é o outro, mas sim o seu próprio ego,
ainda tão medíocre e rasteiro; esse ego descontente é que é, propriamente, o
alvo dos ataques; mas como o amor ao ego próprio não lhe permite a
sinceridade de uma auto-investigação e autoconfissão, a ofensiva é dirigida
contra um ego alheio, que serve de pára-raios ao ego próprio, descontente
consigo mesmo. O ego humano é o rei dos diplomatas e politiqueiros; é autor
de muita maldade, mas atribui a outrem as suas maldades e vive em
permanente camuflagem e hipocrisia.

“Por causa de mim e do meu Evangelho sereis odiados de todos – inimigos do


homem são os seus companheiros de casa”.

Isto me traz à memória o colóquio entre um pastor protestante e um autêntico


quaker, dos Estados Unidos. Um quaker, autor de livros maravilhosos sobre o
verdadeiro espírito do Cristo, encontrou-se com o pastor duma Igreja
protestante. Este estranhou que o escritor, sendo tão sinceramente cristão, não
fosse membro de nenhuma Igreja, das centenas de Igrejas e seitas cristãs que
existem naquele país.

– Se não fosse tão fácil ser membro de uma das vossas Igrejas – disse o
quaker – eu me filiaria a uma delas.

– Tão fácil? – estranhou o reverendo. – O senhor quer dizer tão difícil, não é?

– Tão fácil mesmo – confirmou o escritor. – Não tenho fé em coisas fáceis; só


tenho fé em coisa difícil. Vocês não exigem nada de difícil dos seus adeptos.
Religião virou turismo domingueiro. Que me custaria ir, aos domingos, à sua
igreja, sentar-me confortavelmente numa cadeira estofada, ouvir uns cânticos,
uma prece e um sermão bem proclamados – e depois voltar para casa, tão
pecador como vim? Posso ser o mesmo homem profano, quer dentro quer fora
da sua igreja.

O quaker ainda fez ver ao pastor que o Cristo não exigia coisa fácil a seus
discípulos, quando dizia: Estreito é o caminho e apertada é a porta que
conduzem ao reino dos céus... O reino dos céus sofre violência, e somente os
que usam violência o tomam de assalto.

Assim falou o homem crístico ao funcionário eclesiástico.

Os que tomam a sério o espírito da “Alvorada”, procuram identificar-se com o


espírito do Cristo, pela experiência mística do primeiro mandamento, que é
autoconhecimento, e pela vivência ética do segundo mandamento, que é auto-
realização. Isto não é simples virtuosidade, é profunda sapiência. Aqui não se
trata mais de um compulsório dever, mas sim de um espontâneo querer. E
esse querer supõe um compreender, um novo início, e não apenas um velho
continuísmo. O virtuoso age por um obrigatório tu deves. O sapiente age por
um voluntário eu quero.

O “caminho estreito e a porta apertada” daquele se converteram no “jugo suave


e no peso leve” deste.

O ego virtuoso que cumpre o seu dever é, certamente, melhor do que o ego
vicioso que não o cumpre; mas, se este se acha no estágio antepenúltimo,
aquele está no plano penúltimo – o sapiente porém, o que age por um
espontâneo querer, por ter compreendido a verdade sobre si mesmo, a
“verdade libertadora”, este se acha no estágio último, na sabedoria do Cristo.

“Por Moisés (ego) foi dada a lei (tu deves) – pelo Cristo (Eu) veio a verdade,
veio a graça (eu quero, eu compreendo).”

Felizmente, há, na “Alvorada”, muitos casais que vivem à luz duma grande
compreensão bilateral, marido e mulher seguem, como duas linhas paralelas,
rumo ao mesmo ideal.

“Conhecereis a verdade – e a verdade vos libertará”.


Reencarnação – Como Fato
ou Como Valor

Sou acusado pelos adeptos do espiritismo, e de outros ismos, de não aceitar a


reencarnação. Ainda há pouco, um dos meus alunos do curso de Filosofia –
Univérsica, que mantenho no Rio de Janeiro, pediu-me uma entrevista para me
comunicar o seguinte: numa das reuniões semanais dos Militares Espíritas, à
Rua do Lavradio, daquela cidade, se manifestaram os corifeus de Paulo de
Tarso, Agostinho e o apóstolo Tomé, estranhando que eu não aceitasse o fato
da reencarnação.

Respondi ao capitão C., portador desse recado do outro mundo, que dissesse
aos três corifeus que laboravam numa grande confusão.

– Que confusão? – perguntou o capitão.

– A confusão tradicional, e quase universal, entre fatos e valores.

– Como assim?

– Einstein escreveu, no seu livro Aus meinen spaeten Jahren, o seguinte: “Do
mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores;
porque estes vêm de outra região”.

Estou 100% de acordo com o grande matemático, com o qual, aliás, convivi por
mais de um ano, na Universidade de Princeton, em 1945/46. E o que vale na
Matemática vale também na Filosofia (no sentido em que nós entendemos a
filosofia).

Ora, é uma flagrante inverdade afirmar que eu não aceito a reencarnação como
fato: o que eu não aceito nem jamais aceitarei é a reencarnação como valor.
Se me for provado o fato histórico, objetivo, de uma reencarnação, não terei a
menor dúvida em aceitar o fato, como aceito outro fato qualquer.

É um tremendo erro de lógica querer derivar valor de algum fato, querer derivar
uma qualidade real de uma quantidade factual, como muito bem compreendeu
Einstein. Por mais que se repitam os fatos, no plano quantitativo, 10, 20, 50,
100 vezes, nunca resultará daí um valor na dimensão qualitativa. É como se
alguém somasse ou multiplicasse zeros, 000 000, para obter o algarismo “1”.
– Por que é que dos fatos não se pode derivar valores?

– Porque os fatos giram numa outra dimensão, obedecem ao alo-determinismo


mecânico – ao passo que o valor é o resultado de uma auto-determinação
dinâmica, do livre-arbítrio, que é o poder de ser causa própria, como disseram
os autores do livro O Despertar dos Mágicos. Fatos são quantidades, valores
são qualidade; esta não é derivável daquelas.

Suponhamos que alguém tenha reencarnado 10 vezes. Será que esses 10


regressos ao plano do mundo material lhe conferiram maior valor espiritual?
Será que, após a 10.ª reencarnação, esse homem é melhor do que antes, só
pelo fato de ter reencarnado?

– Talvez sim, talvez não. Mas, em qualquer hipótese, essas reencarnações lhe
deram oportunidade para criar valores espirituais.

– Muito bem. E, se ele não reencarnasse, não teria tido essa mesma
oportunidade de valorização espiritual? Será que essa oportunidade resultou
do fato da reencarnação material? Será que o valor espiritual foi derivado da
presença da matéria do corpo físico, osso, carne, sangue, nervos, ou seja, da
presença de ferro, cálcio, fosfato, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, etc.? Se a
presença destes fatos materiais é indispensável para a valorização espiritual,
então é evidente que os valores são derivados dos fatos – e então é
radicalmente falsa a tese de Einstein de que “do mundo dos fatos não há
nenhum caminho para o mundo dos valores”. Então os valores não vêm de
“outra região”, mas vêm da região dos fatos, negando flagrantemente a lógica
do pai da Era Atômica, o qual, além de matemático, era também um grande
filósofo, e até um grande místico.

É ilógico supor que a criação de valores espirituais dependa de fatos materiais.


Estes vêm do determinismo mecânico, ao passo que os valores resultam de
uma autodeterminação dinâmica, do poder criador do livre-arbítrio. Ora, o livre-
arbítrio do desencarnado permanece perfeitamente intacto e íntegro após o seu
desencarne físico. Ninguém sofre perda ou diminuição do livre-arbítrio pelo fato
de ter perdido o invólucro do seu corpo material. O que não depende
intrinsecamente do corpo material não se perde com a perda desse corpo. E,
se o desencarnado reencarnar, não ganha nada no setor do seu livre-arbítrio;
se, antes da reencarnação, o grau do seu livre-arbítrio era 50, depois da
reencarnação será 50, nem mais nem menos. Nenhum acréscimo e nenhuma
diminuição de valor lhe advém do fato da desencarnação ou reencarnação.
Fatos não afetam valores. Os valores vêm de outra região, vêm da dimensão
qualitativa da realidade, e não da dimensão quantitativa das facticidades.

Com um pouco de lógica, qualquer pessoa normal, espírita ou não, pode


compreender isto. Fatos, mesmo a soma total dos fatos, não produzem valores,
assim como muitos zeros, 000 000, não produzem o fator “1”.
Foi neste sentido que, anos atrás, numa entrevista à imprensa de Recife,
respondi que o espiritismo não tinha filosofia, o que certos fanáticos me
levaram muito a mal. Mas o culpado dessa falta de filosofia não sou eu. No
mundo da matemática e da lógica não pode haver seitas nem partidos.

É, aliás, absurdo falar em filosofia espírita, como seria absurdo falar em


matemática espírita, matemática cristã, matemática pagã, etc. No terreno da
Realidade não pode haver credos nem partidos, que estão restritos ao plano
das facticidades.

– Mas, o senhor não pode negar que a reencarnação dá nova oportunidade a


sofrimentos, e é precisamente pelo sofrimento que o homem cria valores
espirituais.

– Mais uma prova de que certos espíritas não sabem pensar logicamente.

– Como assim?

– Afirma o senhor que, para haver sofrimento, deve haver corpo material. Ora,
é falso atribuir sofrimento à matéria, ao corpo material. A matéria não sofre.
Quem sofre é o corpo astral. Um corpo, no necrotério, é anatomizado pelos
estudantes de medicina, e nada sofre. Por que não? Porque o corpo astral
sensitivo não está mais presente nesse corpo morto, e quem sofre é esse
corpo astral. Se, portanto, o espiritismo acha necessário o sofrimento para a
criação de valores espirituais, não necessita de apelar para a reencarnação,
porque o corpo astral não reencarnado é tão suscetível a sofrimento como o
corpo astral no corpo material.

Pelo menos neste ponto, os teólogos eclesiásticos têm certa razão, quando
localizam o inferno e o purgatório na região astral de após-morte, onde o
homem estaria sujeito a sofrimentos maiores do que aqui na terra, em corpo
material. Na parábola do rico avarento e do pobre Lázaro, o pecador
desencarnado se queixa de “grandes tormentos”, embora não tenha corpo
material. Reencarnar para poder sofrer – eis aí outro ilogismo da filosofia
espírita.

Tempos atrás, o capitão C., que era aluno do meu curso de filosofia, no Rio de
Janeiro, me pediu que fosse assistir a uma sessão em que apareciam Paulo,
Agostinho e o apóstolo Tomé, e davam mensagens de outro mundo.

Aceitei o convite, com a condição de poder fazer perguntas a eles. A


Agostinho, cujas 103 obras li no original latino, ia eu perguntar pelo nome da
sua mulher fenícia, de Cartago, com a qual viveu mais de 9 anos e que foi a
mãe de seu único filho Adeodato. É que Agostinho nunca revela o nome dessa
sua amante.
Tempos depois, recebi aviso do capitão C., pedindo que não fosse à sessão,
porque uma entidade luminosa proibira a minha presença.

Será que Agostinho não sabia qual era o nome da sua antiga companheira
fenícia? Ou, quem sabe, esse tal Agostinho não era o verdadeiro autor das
Confessiones e de tantos outros livros célebres?

Também por que seriam os desencarnados menos iludidos ou ilusores do que


os ainda encarnados? Será que o fato de alguém ter morrido lhe dá sabedoria
e santidade? A morte daria o que a vida não deu?
Discurso do Dr. Bento
A. Martins por Ocasião do
Encerramento do
Curso de Filosofia –
Rio de Janeiro, 1968

“O estado de confusão em que está mergulhado o mundo de nossos dias é de


tal natureza, que nos é difícil encontrar uma diretriz segura para nosso
pensamento.

Ninguém em sã consciente poderá dizer que pensa desta ou daquela maneira,


pois o rádio, o jornal, o livro, a palavra tanto da cátedra como do púlpito mais e
mais concorrem para enublar o nosso espírito, já de si tão assoberbado de
problemas de ordem material, que tornam a vida um verdadeiro suplício. Assim
estamos agora, neste fim de ciclo apodrecido e gasto, mas assim também tem
sido através dos tempos, nas várias etapas por que tem passado a evolução da
humanidade. Mas, como que para contrabalançar esse desequilíbrio,
neutralizar os grandes males, gerados por nossas grandes maldades,
distanciados embora pelas competições mais variadas no tempo e no espaço,
sempre existiram homens que, harmonizados pelo intelecto e irmanados pelo
espírito, procuraram cada vez mais cultivar a fraternidade.

Até onde podemos penetrar a história, nos seus relembrados ciclos, os


exemplos nos bastam para compreendermos que os tumultuosos dias de
incompreensão têm sido compensados por horas de entendimento construtivo.

Não fora essa grata realidade, e a história não passara de um acervo de


acontecimentos entrechocantes e bárbaros.

Até nas recuadas eras do trogloditismo instintivo, percebemos o imperativo


gregário manifestar-se no primitivismo da caverna, o qual veio a pouco e pouco
se aprimorando, até encontrarmos nos seus homens resquícios de
espiritualidade, como preconiza Platão em sua República.
Esse primitivismo sublimou-se no Egito quando, nos hipogeus de suas
pirâmides milenares, hierofantes encanecidos na sabedoria das idades,
transmitiam a seus postulantes a arte de bem servir à causa humana.

De Saís, transpondo o Mediterrâneo, singraram para Atenas e Esparta os


verdadeiros cânones da imortal Hélade, que se projetaram até os nossos dias;
no legislador Sólon, no matemático Pitágoras, no divino Platão, em Aristóteles,
Anaxágoras e tantos outros... para aí escoou na verdade a linfa pura vertida
das encostas sábias do Oriente, para manifestar-se nos esplendores que todos
conhecemos.

Assim é que dos montes Kuen-lung, ao tempo em que a terra de Confúcio se


alongava em ódios e dissensões, a elite do seu povo se fraternizava na velha
instituição dos ‘cem sábios chineses’, para orientar a massa sofredora.

Segue-se-lhes Viassa, edificando a Índia maternal e fecunda com suas bem-


aventuradas entidades associativas, de onde proveio um dos mais belos
códigos de ética e de moral que possui a humanidade: o ‘Manava Dharma
Shastra’ (o código do Manu); e se lhes segue também, nas vastidões irânicas,
o Poeta da Natureza e o mágico manipulador do Fogo Sagrado: ‘Zaratustra’,
concitando seus discípulos a que se apropinquassem das perfumadas páginas
do Zend-Avesta.

Depois na Galiléia, séculos mais tarde, esquecidos os homens – como sempre


– da palavra remota de seus maiores, pregou-Ihes o Nazareno a palavra de fé
e de bondade, ensinando-os a amar o próximo e a viver como irmãos, numa só
família que deveria ser a humanidade inteira.

Falou-lhes o Cristo interno, falou, em termos claros e às vezes através de


parábolas, como conseguir encontrar-se a si mesmo, como encontrar a Deus
dentro de nós... Não entenderam... E até hoje são poucos os que conseguiram
entender... As columbárias de Roma foram, então, em que pesem as
perseguições dos césares despóticos, o núcleo associativo regenerador das
turbas, porque o cristianismo do primeiro século humanizou as instituições
pagãs, tornando mais compreensivo o direito, e mais brando o peso de viver;
transformando caminho estreito e porta apertada, em jugo suave e peso leve.

Ampliou-se o conceito de sociedade no Ocidente, orvalhado de cristandade. A


humanidade pôde com mais consciência conceber, dentro de um clima
revigorante de idéias renovadas, a ciência hierática de Alexandria, as artes e a
filosofia da Grécia e a mística consoladora dos povos asiáticos, para, tudo isso
fundido em áureo bloco, implantar na Ibéria o marco decisivo da Renascença.

***

Aparece então na Europa, em maio de 1875, uma mulher que, depois de haver
dado duas vezes volta ao mundo, funda em Londres o célebre ‘Clube dos
Milagres’. Possuidora de uma vasta cultura humanística, senhora de
conhecimentos ocultos até então desconhecidos do grande público e ainda
detentora de notáveis poderes psíquicos, causava sempre assombro, onde
quer que aparecesse. Era Helena Fadif Petrowna Blavátski.

Publica nessa época Ísis sem Véu, entrando em choque com todos e com tudo,
pois, em uma época de puro materialismo científico, falar de coisas tão
altamente espirituais e metafísicas, era uma verdadeira temeridade. Teve que
sustentar várias polêmicas, vencendo-as sempre com muito brilho, pois seus
conhecimentos eram muito avançados para aquela época.

Trava aí contato com seu guru ‘Tuitit Bey’ que entre outras coisas lhe diz: ‘Você
foi a escolhida por nós, para fundar uma grande sociedade que trará
incalculáveis benefícios ao mundo’.

Ao publicar a sua alentada obra de sete volumes: A Doutrina Secreta, faz com
que o Ocidente fique conhecendo o que até então ninguém ousara pôr em letra
de fôrma, pois era proibido falar dessas coisas.

Por um determinismo evolutivo, começa desde aí a passar para o Ocidente (em


larga escala) a ciência secreta de quase todas as fraternidades orientais!!!

Ex Oriente Lux!!!

E as sociedades teosóficas fundadas por Blavátski de parceria com o Coronel


Olcott e Mister Felt, foram os centros irradiadores dos elevados ensinamentos
espirituais e místicos, de que tanto necessitava a Europa, já achando que a
ciência e o materialismo não satisfaziam ‘in totum’ os seus anseios mais
íntimos. E as sociedades teosóficas se multiplicaram: Paris, Nova Iorque,
Berlim, Viena, etc...

Volta em 1879 à Índia, para receber mais instruções e funda em Adyar, a


mando dos Mestres, a primeira sociedade teosófica no Oriente.

Esse movimento espiritualista metafísico teve que ser criado, para neutralizar,
para frear o inócuo materialismo reinante e apontar à humanidade que existe
algo mais que a matéria; que existe uma ciência da vida mais avançada do que
a ciência ensinada nas academias.

***

Blavátski foi o João Batista de Yogananda. – Natura non facit saltus – era
necessário o advento da teosofia, pois, sem ela, seria impossível passar,
direto, da ciência acadêmica materialista à auto-realização; ou como ouvimos
na última aula: não podemos saltar de profanos a cósmicos, sem primeiro
fazermos um estágio na mística.
Em agosto de 1920, a bordo do navio City of Sparta, o primeiro da lndian-
American Co. a aportar nos Estados Unidos depois da Primeira Grande Guerra
Mundial, desembarca em terras de América um ser, cuja missão era implantar
no Ocidente a velhíssima ciência da Kriya-Yoga.

É que os tempos eram chegados!!! Soara a hora de o Ocidente travar


conhecimento de uma ciência altamente eficiente, até então só ensinada de
boca a ouvido para discípulos, depois de duras provas satisfatórias e sob a
vigilância e o controle de gurus bem experimentados. Paramhansa Yogananda
foi essa segunda ponte sobre a qual transitou o conhecimento secreto do
Oriente em sua mais prístina manifestação espiritual.

Tendo fundado, já na Índia, em 1908 a Yogoda Satsanga Society, abre em


Encínitas, na Califórnia, o primeiro Ashram de auto-realização de todo o
continente americano: a ‘Self-Realization Fellow-Ship’.

De Encínitas a Washington, de Washington a São Francisco, de São Francisco


a Nova lorque amplia-se esse movimento espiritualista filosófico-prático,
ajudado por mãos invisíveis. Alastra-se. Cada vez mais, ganha aceitação e
adeptos... E como em todos os movimentos desta natureza, ‘muitos foram os
chamados, mas poucos os escolhidos!’ E é no Ashram de Washington que o
nosso querido mestre Huberto Rohden recebe das mãos de seu guru
Premananda esse conhecimento sob a forma de ‘self-revelation’. Assenhoreia-
se dele e empolga-se... transportando-o para a sua pátria e fundando em São
Paulo em 1951 a ALVORADA, célula-mater de todo o movimento de auto-
realização no Brasil.

Como aconteceu no continente do Norte com Yogananda, e na Europa com


Blavátski, assim também aconteceu no continente do Sul: de São Paulo ao Rio,
do Rio a Porto Alegre, de Porto Alegre a Belo Horizonte, Recife, etc... a história
sempre se repete...

Como puderam constatar através de tudo o que acabamos de dizer ‘atrás de


todos os grandes movimentos evolutivos da humanidade, estão sempre
presentes, embora às vezes por trás da cortina, as grandes instituições
culturais e espirituais, orientando e preparando o caminho, qual verdadeiros
‘Yokanans’. E a nossa ALVORADA não é em absoluto uma instituição
simplesmente cultural, onde ouvimos quinzenalmente a palavra de Huberto
Rohden; fazemos uma meditação domingueira e anualmente um retiro
espiritual. Não!!! Hoje ALVORADA já está fixada em bases sólidas; não resta a
menor dúvida de que é mais uma escola de iniciação filosófica, semelhante às
da antiga Grécia, do misterioso Egito, da nossa mãe Índia e do enigmático
Tibet. Nós, discípulos, já vamos conhecendo, pouco a pouco, a única filosofia,
que é a mãe de todas as outras filosofias, pois nada mais é do que a expressão
de uma única verdade: ‘satya nasti para dharma’ – não há religião superior à
verdade.
Para isso, já estamos aprimorando nossos sentimentos e fazendo com que a
nossa inteligência comece a enveredar pelo caminho do verdadeiro
conhecimento, em cujo limiar encontraremos o nosso Mestre! Sim, o nosso
Mestre, que é o nosso Eu superior, indestrutível e imortal. E nesse dia,
prosternados diante do grande senhor, só então teremos consciência do seu
admirável esplendor, de sua incomparável sabedoria, do seu infinito amor. E
poderemos erguer às alturas, como um hino de gratidão, na voz do nosso
espírito liberto, a nossa prece: ‘Oh tu que cantas nas fontes, que gorjeias na
garganta dos pássaros, que murmuras no deslizar das águas, que vibras na
harmonia das esferas e dos sons e nos movimentos de toda natureza, que és
esplendor na luz, inteligência na sabedoria... princípio na vida... nós te
reverenciamos porque nos arrancaste das trevas para a luz, da escravidão
para a liberdade, da morte para a vida eterna.’

O homem, enquanto não se une ao seu princípio espiritual, não é senão uma
consciência limitada e temporária.

***

Caros colegas: nós temos uma grande responsabilidade sobre os ombros. Uma
grande responsabilidade com nós mesmos. Nós somos as sementes
privilegiadas de uma raça que há de eclodir na América do Sul, encerrando um
grande ciclo evolutivo, para o dealbar de uma nova era para a humanidade.
Isto já foi profetizado e está escrito em vários livros secretos do Oriente e muito
bem interpretados, talvez por intuição, ou por um ‘estado de graça’, do grande
filósofo e sociólogo mexicano José de Vasconcelos: ‘É dentre as bacias do
Amazonas e do Prata que há de nascer a raça cósmica, realizadora da
concórdia universal, pois será filha de todas as dores e de todas as esperanças
da humanidade.’

Huberto Rohden sabe disso, razão pela qual não olha tempo nem distância,
intempéries ou confortos, lucros ou sacrifícios, para cumprir, com todo o
entusiasmo e proficiência, a sua gloriosa missão. Missão além do mais
dificultada pela precariedade de recursos com que luta ALVORADA, pela
incompetência administrativa que há anos vem assolando o nosso País, que
deveria considerar a obra de Huberto Rohden uma instituição benemérita e de
utilidade pública; e também, pela cegueira não só de quase todos os brasileiros
como também de parte da humanidade que não consegue sequer vislumbrar o
que atrás foi dito, preocupando-se exclusivamente com diversões, dinheiro e
sexo.

Caros colegas: façamos do nosso coração e da nossa mente um terreno fértil,


para que floresçam viçosas as maravilhosas sementes lançadas por esse
grande semeador.
E para conseguir que assim seja, para conseguir que isso possa acontecer,
Huberto Rohden tem trabalhado e se esforçado ao máximo, não só em
ALVORADA, mas através de todo o Brasil, de norte a sul Orientando para sua
Auto-Realização26 e falando a todos De Alma para Alma, faz sempre que pode
Meditações, para que possamos, talvez por momentos, entrar Em Comunhão
com Deus, em Espírito e Verdade.
26. As palavras grifadas são títulos de alguns dos livros de Huberto Rohden.

Mostra-nos a diferença entre Lúcifer e Logos, procura transformar-nos de


Profanos a Iniciados, embora nós estejamos ainda muito presos pelo Ego aos
Imperativos da Vida. Consegue, através de Alegorias, levar-nos Por Mundos
Ignotos, fazendo-nos com a sua palavra sábia e fluente ir pouco a pouco
Escalando o Himalaia do conhecimento filosófico, para podermos entrar fundo
no Espírito da Filosofia Oriental. Diz-nos o que é possível dizer sobre a Kriya-
Yoga. Interpreta para nós, através da Filosofia Univérsica, o Bhagavad Gita, o
Sermão da Montanha e a Metafísica do Cristianismo.

Preocupa-se com todos os nossos Problemas do Espírito e Porque Sofremos.

Descreve-nos com pinceladas vigorosas, mostrando-nos, em Cosmorama,


todas as Maravilhas do Universo. Intenta guiar-nos por um Roteiro Cósmico,
colocando Setas na Encruzilhada, para que, seguindo Novos Rumos,
encontremos O Caminho da Felicidade, para obtermos um verdadeiro Triunfo
da Vida Sobre a Morte, conquistando A Grande Libertação da consciência ao
conseguirmos finalmente ouvir Nosso Mestre, através de A Voz do Silêncio.

A mestres assim tão eminentes, que dão tanto de si, para o bem de uma Pátria
e para a evolução da Humanidade, a palavra “agradecimento” não faz sentido.

A palavra humana é muito fraca para expressar estados d’alma, em face de


certas atitudes.

AUM!”
Terceira Parte

Perguntas sem
Respostas
Por que não Morri
em 1963

No Domingo de Ramos de 1963 recebia eu, inesperadamente, numa carta em


papel timbrado, com os dizeres “Fazenda Monte Tabor”, recado de um
desconhecido que assinava simplesmente “Pierre”. Tinha ordem, dizia, de
“nosso Pai e nosso Cristo” para me transmitir uma mensagem importante, mas
que devia ser dada oralmente. Pedia-me que fosse vê-lo, durante a semana
santa desse ano; que tomasse o ônibus para A., e ele me esperaria na estação
rodoviária dessa cidade, no interior de São Paulo.

Respondi-lhe imediatamente que seguiria pelo ônibus da quarta-feira da


semana santa, devendo chegar a A. pelas 11h30.

A viagem era assaz longa, de diversas horas. Pelo caminho andei pensando
comigo mesmo: Como identificar esse Pierre, que nunca vi?... E que quererá
ele de mim?...

Grande foi a minha surpresa quando, na estação rodoviária de A., um homem


de meia-idade, polainas, tipo elegante de engenheiro, veio ao meu encontro e
me abraçou carinhosamente, dizendo: “Muito bem que veio.”

Entramos no jipe dele e rumamos para a Fazenda Monte Tabor, fora da cidade.

– Como foi que me identificou? – perguntei – se nunca nos vimos?

– Nunca nos vimos? – replicou Pierre. – Eu vi você em 1951 pela primeira vez,
nos desertos da Judéia, para além do Mar Morto. E mais uma vez, em 1952, no
Egito, ao pé da grande pirâmide de Quéops.

Encarei o homem demoradamente, para me certificar de que não era algum


fantasma de substância astral... Mas era mesmo um homem em carne e osso,
como eu.

Pouco a pouco, Pierre me foi contando algo da sua vida estranha. Falava
devagar, com muitas intermitências. Nascera em Jerusalém, filho de pais
judeus, de nacionalidade francesa; seu pai se convertera ao catolicismo; a mãe
continuava na fé israelita, mas havia perfeita harmonia no lar. Seu pai era
cônsul e, como se ocupava muito com arqueologia, fora mandado, a pedido
dele, a Jerusalém e, mais tarde, foi transferido para o Cairo.

– Eu nasci em Jerusalém – prosseguiu Pierre, depois de uma pausa. –


Frequentávamos o culto religioso na igreja do Santo Sepulcro, que pertence a
diversas confissões religiosas. Entusiasmei-me tanto pela liturgia religiosa que,
aos cinco anos de idade, pedi a minha mãe que me fizesse paramentos
sacerdotais, para eu dizer missa. E meu pai me fez um altarzinho doméstico.
Se há tal coisa como reencarnação, devo eu ter sido, em existência anterior,
um padre católico. Mais tarde, porém, já quase adolescente, separei-me
totalmente de qualquer Igreja e seita.

– Por quê? – perguntei.

– Por causa das brigas na igreja do Santo Sepulcro, onde diversos grupos de
cristãos, como também um grupo de árabes, celebravam o seu culto. Certo dia,
sacerdotes de diversas confissões altercaram com veemência por causa de
seus dogmas, pegaram nos castiçais dourados do altar e quebraram-nos nas
cabeças uns dos outros. Escandalizado, abandonei tudo que se chamava
religião e me associei a uns beduínos que, montados em seus camelos,
viajavam de cá para lá, mercadejando e meditando. Foi o período mais feliz da
minha vida. Apaixonei-me pela mística solidão dos desertos. Sintonizei-me com
o espírito desses beduínos...

Pierre calou-se por momentos, olhou para mim e disse:

– Foi numa dessas viagens que me encontrei, pela primeira vez, com o Cristo –
que me deu ordem de falar com você...

Depois disto, Pierre me contou como, numa noite de luar, quando os seus
companheiros estavam dormindo em cavernas próximas, e os camelos
repousavam na branca areia, ia ele andando, sozinho, deserto adentro.
Sentou-se numa pedra – e teve o seu primeiro encontro com o Cristo...

– Você viu o Cristo? – perguntei.

– Se o tivesse visto, não seria ele – respondeu.

– Você tocou o Cristo com suas mãos?

– Se o tivesse tocado, não seria o Cristo. Eu o vi, eu o toquei com a minha


alma, e é por isto que tive certeza da sua presença real. E o nosso Cristo me
disse, naquela noite: Vai ao Brasil e fala com Huberto Rohden.

Olhei para Pierre, duvidando da sua presença física. Mas ele estava
fisicamente ao meu lado, dirigindo o jipe.

– Isto foi em 1951 – prosseguiu.


– Em meados de 1951 – repliquei – voltava eu dos Estados Unidos, depois de
seis anos de ausência.

– Sim – prosseguiu ele –, foi em 1951 que recebi ordem de falar com você.
Mas não obedeci. Meu pai foi transferido, a pedido seu, para o Cairo.
Matriculou-me no colégio dos jesuítas dessa cidade; mas fui expulso após
alguns meses e resolvi trabalhar com meu pai. Entendo um pouco de
arqueologia e de hieróglifos.

– Foi expulso do colégio, por quê?

– Porque eu continuava a vida de beduíno, gostava de meditar horas inteiras e


não gostava de jogos.

Pierre fez uma longa pausa. Depois prosseguiu:

– Um dia, ao pé da grande pirâmide de Quéops, tive novo encontro com o


nosso Cristo, que repetiu a ordem de eu ir ao Brasil e encontrar-me com
Huberto Rohden. Desta vez fui. Há diversos anos que estou no Brasil. Primeiro
fui morar em São Paulo, para onde me chamara a voz. Residi diversos anos à
Rua Albuquerque Lins, quase defronte à casa de Ademar de Barros.

– Como? Na mesma rua onde eu residia nesse tempo?

– Lá mesmo.

– E por que não me veio visitar, se tinha ordem superior de se encontrar


comigo?

– Visitá-lo? Eu o visitava sempre, não fisicamente, mas espiritualmente. A


presença espiritual é muito mais real do que a presença física. Você mesmo já
disse isto em seus livros, que estão todos comigo. Só agora tive ordem do
nosso Cristo de o ver fisicamente, por causa do recado que tenho de lhe
transmitir, e que se refere ao seu físico.

Eu estava ansioso por saber desse misterioso recado; mas, não sei por que
motivo, não tive a coragem, ou a vontade, de lhe perguntar.

Chegamos à casa da fazenda, onde tomamos uma refeição frugal.

Fui hospedado, sozinho, numa casa nova, confortável, com luz elétrica e água
encanada, à beira de um rio. Pierre me ofereceu esta casa, exclusivamente
minha. Ocupei-a até sexta-feira da semana santa, mas não tomei posse,
porque eu já me havia despossuído de todas as posses. Pierre e sua esposa,
com uma filhinha recém-nascida, moravam em outra casa. Tomávamos as
refeições em comum. Era tudo tão estranho, tão irreal...

Havia dias que eu estava com esse homem enigmático, sem que ele me
tivesse revelado o verdadeiro motivo dessa inesperada chamada. Só no último
dia, na sexta-feira santa, quando me acompanhava até à estação de ônibus, é
que ele resolveu falar-me do motivo da chamada; assumiu uma atitude quase
solene e hierárquica e me disse pausadamente:

– Nosso Pai e nosso Cristo resolveram chamar você para trabalhar em outros
mundos; o seu estágio terrestre terminou.

– Quer dizer que vou morrer? – respondi calmamente, sem a menor surpresa.

– É isto mesmo, em linguagem comum. Mas não tem importância. Você vai
mudar de cenário de trabalho. Sua missão nesta terra terminou.

– Quando?

– Este ano ainda. Ponha em ordem as suas coisas.

Depois destas palavras e de um afetuoso abraço de despedida, embarquei e,


em vez de voltar a São Paulo, fui ao meu sítio “Nirvana”, perto de Jundiaí –
digo, ex-meu, porque dele já fizera doação à “Alvorada”, para a construção
dum santuário de Retiro Espiritual.

Era no mês de abril, e eu tinha de partir deste mundo pelo fim do ano. No sítio,
fiz alguns dias de silêncio e meditação. Numa dessas noites, quando eu estava
submerso em sono profundo, no meu quarto, na chamada “Torre do Silêncio” –
acordo subitamente e vejo ao lado da cama uma grade de cadeia e uma voz
nítida dizia e repetia, através da grade: “Aquilo não vai acontecer mais... Não
vai acontecer”...

Voltei-me para o outro lado, e a voz vinha deste lado agora, mas não mais
através de grades de prisão, repetindo: “Aquilo não vai mais acontecer”...

Escrevi uma carta ao Pierre, narrando o fato e perguntando pelo sentido.


Respondeu-me que o que ele me dissera na semana santa pertencia agora ao
passado. Compreendi que o meu destino terrestre fora modificado, em virtude
da intervenção do meu livre-arbítrio, da minha autodeterminação, naqueles dias
de silêncio e meditação. Verifiquei empiricamente o que eu já sabia
teoricamente: que existe no homem um poder de substância própria capaz de
neutralizar os poderes das circunstâncias alheias. Mais tarde resumi nas
seguintes palavras esta verdade: “Eu afirmo a soberania da minha substância
divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas.”

Mas, nesse tempo, não tinha eu a menor idéia do que se ocultava por detrás
desses acontecimentos; enxergava o que ocorria no palco dos fatos históricos,
mas ignorava o que havia por detrás dos bastidores da realidade. Somente
mais tarde, em princípios de 1964, quando aconteceu o resto, é que comecei a
compreender a trama total, a secreta entrosagem das coisas. Eu, pelas leis
físicas, devia morrer em 1963 – mas o fator-metafísico modificou a física...
***

Em janeiro de 1964, após uma análise de sangue, cheguei a saber que eu


estava às portas da morte; desde 1963, estava com uma sobrecarga de uréia
no sangue, quatro vezes mais alta do que a normal. O médico do laboratório
que fez a análise, ao verificar essa sobrecarga mortífera, pôs as mãos na
cabeça e exclamou: O senhor devia estar debaixo da terra há muito tempo!
Nunca vi homem vivo com essa carga de uréia no sangue... Se o senhor não
tivesse uma vitalidade de touro, já estaria morto...

Pensei em Pierre. Como é que ele sabia disto, da presença da morte no meu
sangue?... Sabia?... Sabia, não por análise, como o médico, mas por intuição...
Sabia que eu, normalmente, devia morrer ainda em 1963... Mas o meu Eu
superior também sabia, antecipadamente, que, por certos motivos, a morte ia
ser superada: “Aquilo não vai mais acontecer”...

O tempo, entre 1963 e 1964, existia para o meu ego – não existe para o meu
Eu. O ego vive no mundo das ilusões – o Eu vive no mundo da verdade. Do
ego ilusório pode-se apelar para o Eu verdadeiro.

A sobrecarga de uréia no meu sangue era devida à presença de um tumor


dentro da bexiga, relacionado com prostatite, que obstruía quase totalmente a
saída.

Desta situação mortífera nada suspeitava eu, embora me sentisse mal nos
últimos tempos; e, por obra de forças elementais maléficas, originadas por uma
entidade macumbeira, me foi acintosamente ocultada essa situação. Eu era
condenado a morrer – e teria morrido em 1963, de uremia, que já estava em
inícios e me levaria à morte dentro de poucos dias, como me disse mais tarde o
médico – se não tivesse havido outra força neutralizante, que ajudou a quebrar
o feitiço da macumbeira.

Mas... aqui entramos em regiões penumbrais e que, por motivos especiais, são
tabu e não podem ser postos em letra de fôrma e apresentados em público.
Pessoa, dentro do nosso movimento cósmico da “Alvorada”, atuou como força
catalisadora, quebrando as forças maléficas, que queriam a minha morte.
Cheguei a saber, mais tarde, que a minha morte era decretada pelas forças
maléficas e que até o lugar do meu sepultamento já estava marcado. Mas, “a
luz brilha nas trevas, e as trevas não a prenderam”.

O médico que fez a análise de sangue me deu uma injeção cavalar para que
eu atingisse, vivo, uma cidade onde pudesse ser operado – pois eu me achava
numa estação de águas, no interior. Receava o médico que eu, com essa
sobrecarga de uréia, não resistisse à viagem.

Resisti. E ainda no mesmo dia da chegada fui submetido aos preparativos para
a operação, que me libertou dos venenos e restituiu à normalidade orgânica.
Inúmeras vezes tenho sido interrogado sobre a realidade ou irrealidade do
“destino”.

Existe, é certo, o destino cósmico, ontológico; o Universo obedece a leis


imutáveis, no plano cósmico. Mas é igualmente certo que o destino humano é
mutável pelo poder da nossa autodeterminação, que funciona dentro do
cosmodeterminismo. Dentro do grande destino cósmico posso eu traçar o meu
pequeno destino humano. Existe em mim o “poder de ser causa própria”.

Por isso, não morri – quando devia morrer...

Esse Pedro (Pierre), como aquele outro no Tabor da Palestina, achava


certamente que eu devia ter a minha tenda – aliás, uma casa confortável, que
ele me oferecera – nas beatíficas alturas do Tabor da contemplação mística,
longe dos Getsêmanes e Gólgotas da vida humana.

Eu, porém, ninguém sabe por que, optei por outra alternativa e regressei ao
sansara da vida agitada, em vez de me isolar no Nirvana da vida contemplativa
– e nos separamos para sempre.

Parece que também aqui atuaram aqueles poderes secretos que, como
sempre, atuaram por detrás dos bastidores invisíveis da minha vida histórica.

Um cientista jesuíta escreveu na sua revista um artigo impressionante sobre o


capítulo “Por que não morri em 63” e chegou à conclusão parapsicológica de
que o homem pode com o seu livre-arbítrio modificar o destino natural da sua
vida.
Eu –
E os Discos Voadores

Em janeiro de 1967 estava eu fazendo conferências em Recife. O Dr. João


Vasconcelos, conhecido médico e psiquiatra, diretor duma “Casa de Repouso”,
convidou-me para um almoço em sua residência. Estavam presentes outros
médicos e cientistas.

Durante a refeição, ele me perguntou, à queima-roupa e com grande surpresa


minha:

– Que relações tem o sr. com os discos voadores?

Respondi que não me constava de relação alguma com esses misteriosos


aparelhos. Recomendou-me então o Dr. Vasconcelos que falasse com a irmã
dele, Dra. Odete, que também é médica e psiquiatra.

Nessa mesma noite, no salão de conferências, dirigi-me à Dra. Odete


Vasconcelos, contando-lhe a estranha conversa que tivera com seu irmão.
Estava presente também uma tal Da. Lígia, amiga de Da. Odete, e que se
achava a par do assunto.

O que a Dra. Odete me contou, e Da. Lígia confirmou, foi, em resumo, o


seguinte:

Viajavam as duas, juntamente com muitos outros passageiros, numa das


barcas que nesse tempo iam do Rio à ilha de Paquetá. Na mesma barca havia
um homem de meia-idade, que usava um estranho capacete branco na cabeça
e levava na mão um esplêndido aparelho eletrônico com antenas contrácteis. O
seu trajo era tão estranho que chamou a atenção de alguns dos passageiros.
Usava sandálias novinhas, que estavam ainda com o selo de preço. Alguns
rapazes começaram a fazer chacota do homem, dizendo que estava fazendo
carnaval fora de tempo; ao que o estranho replicou, em mau português: “É fácil
zombar de coisas que não se compreendem.”

Alguém perguntou-lhe por que usava aquele esquisito capacete branco, que
parecia ser de matéria plástica, ao que o desconhecido respondeu:

– Para me proteger das irradiações negativas da vossa terra.


– Da vossa terra? Desta terra do Rio de Janeiro?

– Não, do vosso planeta Terra; pois eu não sou daqui.

Alguns se riram destas palavras; outros queriam saber donde ele era. O
estranho, porém, nada revelou, limitando-se a afirmar que não era daqui, da
nossa Terra.

Alguém perguntou por que usava aquele aparelho com antenas. Respondeu
que dele necessitava para receber e mandar mensagens de lá para cá e de cá
para sua gente.

A situação se tornava cada vez mais enigmática. Quando alguns achavam que
estava abusando da credulidade dos passageiros, o estranho se prontificou
para dar uma demonstração da verdade do que dizia.

Neste momento, disse Dra. Odete, aconteceu algo que ninguém pôde explicar.
O estranho correu o olhar em derredor, emitindo algo corno vibrações
magnéticas, que partiam dos olhos dele e entravam pelos olhos dos que o
fitavam. Houve momentos de pânico; alguns pediram que deixasse de fazer o
que planejara; receavam que a barca fosse a pique, ou houvesse desmaios a
bordo.

Ao que o estranho desistiu da prometida demonstração, que, ao que alguns


pensam, consistiria no fato de ele desmaterializar o seu corpo físico e ficar
presente apenas em corpo astral, que não é visível aos nossos olhos. Dra.
Odete e Da. Lígia afirmam que, ao fitarem os olhos dele, levavam como que
choques elétricos.

Ao ver o medo dos seus companheiros de travessia, o estranho desistiu das


demonstrações, mas, olhando para Dra. Odete, disse pausadamente:

– Mantenho relações com muitas pessoas da vossa terra, inclusive com seu
conhecido Professor Huberto Rohden, que reside em São Paulo.

Ao ouvir pronunciar o meu nome, assim de improviso, Dra. Odete levou um


choque tão grande que quase perdeu os sentidos...

A barca chegou à ilha de Paquetá, onde o misterioso passageiro desembarcou


e desapareceu sem deixar vestígio.

Em consequência disto, originou-se o boato de que eu mantinha relações com


inquilinos de discos voadores, que tão frequentemente visitam o nosso planeta.

Respondi aos interessados que, na zona do meu consciente, nada sei de


semelhantes relações. Só se houver mensagens na zona do inconsciente ou
do cosmoconsciente...
No tocante a discos voadores em geral, após longos anos de observações e
experiências, julgo poder avançar o seguinte:

1 – Os discos voadores não vêm de planeta algum; vêm do espaço cósmico,


interplanetário e interestelar. É por demais ingênuo admitir que todos os seres
vivos e inteligentes necessitem, para seu habitat, de um bloco de matéria
densa, como nós, terrígenos; por que não poderia haver habitantes no espaço,
mesmo fora da atmosfera?

2 – Os ocupantes desses aparelhos têm corpo astral, feito de “matéria


descongelada”, ou seja, pura energia; quando entram no âmbito material da
nossa terra, materializam-se ligeiramente, bem como seus aparelhos, que são
da mesma substância astral, não sujeitos à lei da gravidade.

3 – Usam como força propulsora dos seus aparelhos o magnetismo sideral,


devidamente bipolarizado, assim como nós usamos a eletricidade, bipolarizada
em positiva e negativa, para mover os nossos dínamos – com a diferença de
que a energia usada pelos cosmonautas astrais funciona independente de
qualquer suporte material.

4 – Os cosmonautas astrais são entidades altamente inteligentes. Visitam


nosso planeta com intenções pacíficas ou hostis. Conseguem os seus intentos
sem recorrer a nenhuma violência. As nossas recentes experiências nucleares
estão envenenando os espaços interplanetários e intersiderais. Os discos
voadores estão controlando o grau de intoxicação radioativa para darem outro
curso às nossas experiências.

5 – Schweitzer, Gandhi, Einstein, Oppenheimer e outros serviram de


receptores e retransmissores mentais a esses seres superiores; foram
mentalmente influenciados, consciente ou inconscientemente e sem detrimento
do seu livre-arbítrio, para alertarem a humanidade telúrica do perigo que a
contaminação radioativa representa para nós e nossos vizinhos.

Mensagens mentais eram, ainda há pouco, objeto de crença. Hoje fazem parte
da parapsicologia. Mas essas mensagens sempre foram possíveis e, para
determinadas pessoas, são reais. Depende do grau da receptividade cerebral.

O nosso planeta Terra parece ser uma espécie de escola primária, ou mesmo
um jardim de infância, em comparação com outras entidades, que talvez se
achem no plano de Universidade Cósmica.

Violências e doenças são sinais de evolução inferior.

Há no cosmos seres inteligentes que já aboliram todas as espécies de


violência, e alguns conseguiram também abolir ou reduzir a um mínimo as
doenças.
Quanto mais um ser se cosmifica, mais se guia pelo espírito, e tanto menos
pelos expedientes materiais.

Será que algum de nós tem certeza da paternidade exclusiva das suas idéias e
das suas intuições?

Será que nós não somos “inspirados” – mesmo sem ter relações conscientes
com seus colegas cósmicos?...

Por que não poderiam as entidades extratelúricas servir-se de habitantes


telúricos para realizarem os seus planos superiores, pelo bem da Humanidade
Cósmica?...
Por que Dona K.
não se Suicidou

Dona K. não se dá com o marido, que só fala em Texaco, pensa em Texaco,


de que é agente. Todo o conteúdo da vida terrestre de dona K. era sua filha
única. Mas esta acaba de morrer. A vida de dona K. ficou vazia, totalmente
vazia. E para que prolongar tão triste vacuidade?

Dona K. resolveu acabar com essa vida insuportável – mas bem às


escondidas, no fundo dum matagal de Campos do Jordão, onde o casal tinha
uma casa de veraneio.

Numa hora fatídica, escondeu o revólver do marido no fundo da mala e partiu


para Campos do Jordão. Enquanto aguardava a meia-noite, para ir ao fundo do
mato e dar um tiro na cabeça, a fim de apodrecer num lugar só conhecido dos
urubus; uma amiga lhe entrega um livro meu, intitulado Porque sofremos. É
claro que essa amiga nada sabia de dona K.; apenas a via triste e perturbada.

Dona K., enquanto aguardava a meia-noite, abriu mecanicamente o livro, não


propriamente para ler, mas apenas para matar o tempo, antes de se matar a si
mesma. E, sem saber nem querer, começa a ler, e continua a ler coisas
estranhas sobre o porquê e o para quê do sofrimento humano. Passou da
meia-noite... E o revólver com todas as balas intactas. Chegou a madrugada, e
dona K., ainda lendo, lendo, lendo...

No dia seguinte, voltou a São Paulo, com o revólver no fundo da mala...

Mas, na próxima noite, ela ouve novamente a voz da falecida filha, que, desde
o dia da morte, lhe falava de noite, enquanto a mãe dormia. (Dona K. não é
espírita, ela é oficialmente católica, embora raras vezes vá à igreja). Nessa
noite, a voz da filha foi mais incisiva do que nunca:

– Mamãe, que é que você ia fazer ontem, em Campos do Jordão?

– ?...

– Por que mamãe se sente tão infeliz, quando eu sou tão feliz?

– ?...
– Infeliz é aquela mãe que você vai encontrar amanhã, porque a filha dessa
mãe é muito infeliz.

Na manhã seguinte, dona K. se levanta com uma terrível dor de dente.


Telefona para o seu dentista – mas esse está ausente, de férias. Abre a lista
telefônica, na seção de dentistas, e telefona ao primeiro nome que lhe cai sob
os olhos.

E este era, precisamente, o meu dentista. Dona K. pede que a atenda com a
máxima urgência, e explica as razões. Mas o meu dentista costuma ter todas
as horas tomadas já com duas semanas de antecedência. Entretanto, diz a
secretária do dentista, ocorreu uma desistência justamente nesse dia; Dona K.
pode vir às 9,30 hs.

E antes das 9,30 dona K. está sentada na salinha de espera, ao lado de outra
senhora. E essa outra senhora, desconhecida, vendo que dona K. está de luto,
pergunta se faleceu seu marido.

– Não – responde dona K. – Faleceu minha única filha... minha filha adorada...

– Oxalá – responde a outra – minha filha também morresse duma vez.

– Não diga isto! – exclama dona K.

– É porque a Sra. não sabe o que aconteceu com minha filha. Ela era noiva de
um médico, aqui em São Paulo. Quase em vésperas do casamento, ela foge
para o Rio com um aventureiro, de quem se apaixonou... Isto foi no ano
passado. Agora foi abandonada pelo aventureiro, e estava grávida. Praticou
aborto, e está respondendo a um processo por causa desse aborto. Não seria
melhor mesmo que morresse duma vez?

Dona K. calou-se, pensativa. E compreendeu as misteriosas palavras da filha,


que lhe falara duma mãe realmente infeliz, por ser tão infeliz sua filha.

Neste momento, a secretária do dentista chama dona K. Esta, já sentada na


cadeirinha do gabinete dentário, sempre com o meu livro nas mãos, enxuga as
lágrimas.

– A Sra. está muito triste – observa a secretária tagarela.

– Estou, sim, porque faleceu minha única filha, minha filha adorada. Já estou
um pouco consolada, porque encontrei um livro maravilhoso, que me dá forças.
Desejaria tanto falar com o autor deste livro; mas já me informaram que o autor
é um filósofo alemão falecido há muito tempo.28
28. Muitos me consideram alemão, por causa do meu sobrenome “Rohden”, quando, na
realidade, sou brasileiro nato, embora nato, embora neto de antepassados alemães. Dona K.
julga que meu livro Porque Sofremos seria tradução de algum original alemão.
– Que livro é esse, e qual o autor? – perguntou a secretária.

Dona K. lhe mostrou o livro Porque Sofremos, com o meu nome.

– Huberto Rohden – respondeu a secretária – é cliente do nosso dentista e, por


sinal, tem hora marcada hoje, às 5 horas da tarde.

– Como? Que está dizendo? Esse homem vive ainda? E mora em São Paulo?
A Sra. tem o telefone dele?

– Tenho, sim. Olhe, aqui está o telefone do Professor Rohden.

Nessa mesma tarde fui chamado a me encontrar com a ex-suicida dona K.,
que, no meio de muitas lágrimas, me contou tudo que acabo de escrever, e
muito mais, porque ela fala que nem cachoeira.

***

Agora não espere o leitor que eu vá explicar o inexplicável.

Como é que a falecida jovem sabia da tentativa de suicídio da mãe? Como


sabia daquela mãe infeliz, do dia seguinte? De que modo provocou a dor de
dente da mãe? Por que é que dona K. devia acertar precisamente com o nome
do meu dentista, nesse dia marcado, quando há centenas, talvez milhares de
dentistas na lista telefônica de São Paulo?

Vivemos envoltos em mistérios...

Não sabemos 1% daquilo que julgamos saber – 99% são mistério...

“O homem – esse desconhecido”...


Nas Penumbras
da Parapsicologia

1 – Mentalidade materializada

Anos atrás, fui convidado para dar uma série de conferências em Campo
Grande, Estado de Mato Grosso. Numa dessas palestras havia eu mencionado
a estranha magia mental de Moisés, que, segundo a Bíblia, materializou, pelo
poder da mente, forças imateriais (“matéria descongelada”, diria Einstein), a fim
de obrigar o faraó a deixar partir o povo hebreu escravizado. Mas os magos do
Egito neutralizaram nove das dez pragas lançadas por Moisés. Por fim
conseguiu Moisés materializar o chamado “anjo exterminador”, entidade astral
mente-guiada que, numa única noite, matou todos os primogênitos dos
egípcios, fazendo phase (omissão) com os hebreus, cujas portas estavam
assinaladas com sangue de cordeiro.

Depois da conferência, uma jovem viúva quis saber de mim se o que


acontecera ao marido dela não era coisa semelhante à que ocorreu no Egito. E
passou a contar-me uma ocorrência estranha e horripilante, presenciada por
ela, por sua mãe e por muitas outras testemunhas presentes à morte do
coronel, que fora seu marido. Em resumo, dera-se o seguinte: Pouco após o
casamento da moça com o jovem militar, foi este vítima de um desastre, que o
manteve durante diversos anos consecutivos entre a vida e a morte. Toda vez
que a agonia do oficial atingia o paroxismo da veemência, enchia-se todo o
quarto dele de grande número de aranhas e baratas pretas, que saíam da
cabeça dele e, depois do acesso de agonia, desapareciam, retornando para
dentro da cabeça do coronel. Sendo que eu havia mencionado, na minha
conferência, o processo de materialização de entidades astrais, quis a jovem
viúva saber se havia analogia entre aquilo que Moisés fizera intencionalmente
e aquilo que ocorrera com seu marido automaticamente. Cheguei à conclusão
de que, em certas circunstâncias, os nossos pensamentos e sentimentos
aparecem em forma material, seja consciente seja inconscientemente. Se
matéria, como diz Einstein (e eu estive com ele mais de um ano), é energia
congelada, então não é impossível que a energia mental ou emocional se
condense ou congele, ocasionalmente, em substância material. Os magos do
Tibet, como descreve Alexandra David-Neel em seu livro Místicos e Magos do
Tibet, e como menciona Evans-Wentz na obra O Livro Tibetano da Grande
Libertação, ainda hoje em dia conseguem materializar, em forma visível e
tangível, as energias do mundo astral e mental.

Donde vinham aquelas aranhas e baratas pretas que enchiam o quarto do


militar torturado? Não vinham da cabeça dele? E não voltavam para lá, como
para sua fonte? Certamente, não havia aranhas e baratas no cérebro dele, mas
havia em seus nervos a matéria-prima, embora informe, dessas formas, havia a
vibração mental, que, através do astral, chegava à zona material, onde se
tornava perceptível aos sentidos. O mental e o astral são muito mais reais do
que o material; mas, devido à primitividade dos nossos sentidos, o muito real
não é por nós percebido; só percebemos algo quando o potencial da sua
realidade baixa a uma semi-realidade. Ou, no dizer de Aldous Huxley, os
nossos sentidos são válvulas de retenção e redução. O pleni-real não é objeto
adequado para os nossos sentidos; somente o semi-real, o pouco real, talvez
mesmo o pseudo-real, é que é apanhado pelos nossos sentidos como real.
Neste sentido, o materialista, que considera real somente o que é material, vive
numa espécie de jardim de infância da realidade. Mas, como ele ignora a sua
própria ignorância, o materialista associa à ignorância a sua arrogância,
arvorando-se em supremo e único “realista” e fazendo do seu irrealismo infantil
uma “ciência”.

2 – Judas Iscariotes protesta contra as nossas vibrações negativas

Faz parte do movimento da “Alvorada” realizar, anualmente, tríduos de silêncio


e meditação, de que participam grupos seletos de alunos dos nossos cursos de
Filosofia Cósmica. Quando tínhamos ainda os nossos ashrams próprios para
esses Retiros Espirituais, reuníamo-nos em hotéis situados em lugares
apropriados. O grupo do Rio Grande do Sul costumava fazer o seu Retiro anual
num hotel em plena mata da serra de São Francisco de Paula, perto de
Gramado.

No fim de um desses tríduos, um grupo devocional dos retirantes achou que


devíamos encerrar o Retiro com a cerimônia da celebração da Santa Ceia do
Cristo. Mas, como isto não fazia parte do programa do Retiro, o grupo
devocional resolveu, com permissão minha, convidar 11 pessoas,
reservadamente, para tomarem parte nesta cerimônia, que seria realizada, bem
cedinho, na manhã do encerramento, no fundo de um bosque, diante duma
sugestiva gruta de Lourdes, ao som duma fonte borbulhante. Os 11 convidados
representavam os 11 apóstolos fiéis, excluindo Judas, porque os organizadores
da cerimônia achavam que o traidor não devia figurar nesse grupo.

Estava tudo devidamente combinado – quando, na véspera do encerramento,


uma senhora vidente que fazia parte dos retirantes, mas nada sabia do grupo
dos devocionais, vem ter comigo, pálida e trêmula de pavor, quase incapaz de
falar. Finalmente, perguntou-me o que se estava tramando para a manhã
seguinte. Perguntei-lhe a que vinha tanto pavor e tão estranha atitude. Contou-
me que estava no seu quarto, em profunda meditação, quando lhe apareceu
Judas, todo magoado, e perguntou por que ele fora excluído do número dos
que, na Santa Ceia, iam representar os discípulos do Cristo. E fez ver à nossa
vidente, com imensa tristeza, que, havia quase 20 séculos, a cristandade lhe
dificultava o acesso ao divino Mestre, pelo fato de irradiar vibrações negativas,
considerando-o traidor, quando, havia muito tempo, ele, o traidor de então,
deixara de ser traidor do divino Mestre.

Expliquei à vidente de que se tratava, pois ela de nada sabia. Mas o que fazer?
Deixei de ser ego-pensante por uns momentos e permiti ser cosmo-pensado:
aceitaríamos para o grupo dos devocionais mais uma pessoa, caso alguém se
apresentasse espontaneamente como o décimo segundo. Daí a pouco, um
homem da nossa turma veio ter comigo, indagando de que se tratava e,
sabendo da idéia da Santa Ceia mas ignorando o resto, perguntou se podia
tomar parte na cerimônia. Aceitei-o. E ele, até hoje, não sabe que preencheu o
lugar de Judas Iscariotes, o ex-traidor.

No dia seguinte, ainda bem escuro (pois era em pleno inverno) o grupo
devocional de 12 pessoas, mais eu, cada um com a sua velinha acesa dirigiu-
se para o fundo do mato, onde, ao pé da gruta, ao som da fonte borbulhante,
fiz a consagração do pão e do vinho, consoante a ordem do Mestre “fazei isto
em memória de mim”, e distribuí aos presentes os elementos consagrados.

Era tão solene, tão indescritível a sobrenaturalidade do ambiente noturno que


todos, homens e mulheres, estavam banhados em lágrimas e tiveram, parece,
o seu primeiro vislumbre extramaterial. Voltaram, ainda noite, para o hotel, em
profundo silêncio, sintonizados com o Infinito...

Todos, também Judas, se sentiam verdadeiros discípulos do Cristo...

3 – Mensagens de outros mundos

No me livro autobiográfico Por um Ideal, narrei parte das minhas experiências


realizadas com dois grandes médiuns europeus, com Maria Silbert, em Graz,
Áustria, e com Rudi Schneider, em Braunau, também na Áustria.

Por muitos anos, depois de regressar ao Brasil não mais tomei parte em
reuniões dessa natureza, que faziam parte da nossa filosofia e parapsicologia.
Não encontrava, aqui no Brasil, oportunidade de estudar cientificamente,
filosoficamente, fenômenos dessa natureza; e reuniões de outro caráter não
me interessavam.
Nesses últimos anos, porém, voltei a tomar parte em algumas dessas reuniões,
a fim de completar o quadro dos meus estudos de Filosofia Univérsica. Durante
anos a fio, realizava eu, semanalmente, e depois quinzenalmente, aulas de
Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho no Rio de Janeiro. Certo dia, atendi
ao convite de uns amigos para tomar parte em reuniões de estudo, que, para
mim, faziam parte integrante de parapsicologia, embora para outros talvez
tivessem outro caráter.

Nessas nossas reuniões, vi confirmado o que eu já sabia de tempos antigos,


através dos meus estudos na Europa.

Da. Yolanda nos servia de ponte ou intermediária entre a zona material e


imaterial do cosmos.

Durante todas essas reuniões, em casa de um amigo e aluno do Curso de


Filosofia Cósmica da “Alvorada”, no Rio de Janeiro, travei conhecimento direto
com diversas entidades, das quais mencionarei apenas duas, que apareciam
com o nome de “Atanásio” e “Dolores”. O primeiro se apresentava como tendo
sido, no mundo material, um jovem jogador de futebol, enquanto a outra
funcionara como bailarina espanhola, comunicando-se somente através dessa
língua. Toda vez que Atanásio aparecia na sessão, ligeiramente materializado,
vinha logo ter comigo e me saudava amigavelmente, afirmando que, lá no
mundo astral dele, eu era muito conhecido.

Fiz, e fizemos, todo o possível para termos plena certeza da realidade objetiva
da presença desses fenômenos, porque o que nos interessava sobretudo não
era esta ou aquela doutrina ou interpretação, mas a objetividade dos próprios
fenômenos; e esta, posso afirmar, está fora de qualquer dúvida. Não se tratava
de truques, nem de auto-sugestão, como, aliás, eu já sabia em virtude das
nossas experiências em Graz e Braunau, presididas então pelo nosso
professor de Cosmologia, padre Aloísio Gatterer, jesuíta, autor de diversas
obras sobre o assunto. Tenho aqui o livro dele, em alemão: O Ocultismo
Científico e suas Relações com a Filosofia Moderna. O padre Gatterer admite a
realidade objetiva dos fenômenos, embora lhes dê interpretação que não é a
mais corrente aqui no Brasil.

Quando Atanásio vinha ter comigo, eu tomava entre as minhas as mãos dele e
lhe fazia uma série de perguntas, que ele respondia, com aquela voz meio
assobiada. Uma noite lhe perguntei por que ele falava assim, ao que me
respondeu que Yolanda, que lhe fornecia o material, não lhe dera material
suficiente para formar uma boca perfeita. Atanásio aparecia sempre só com as
mãos e parte do rosto perceptíveis; o resto ficava na zona astral, da energia
imaterial não-congelada”.

Numa dessas noites perguntei a Atanásio se tinha morrido, pois constava que
perecera no campo de futebol, em consequência de um acidente. Respondeu-
me, galhofeiro como sempre, que, se tivesse morrido, não estaria aí a falar
comigo; só perdera a sua roupagem material, mas não a vida, pois a vida não
pode morrer.

Indaguei se estava com vontade de voltar à terra, em corpo material, porquanto


aqui se falava muito em desejos de reencarnação. “Deus me livre! – exclamou
ele. – Aqui é muito melhor do que na terra”.

Quis saber de Atanásio se ele se considerava imortal, ao que ele me


respondeu com um “não” categórico, acrescentando que lá, no mundo dele,
ninguém era imortal. E acrescentou: “Vou morrer ainda muitas vezes”.

Perguntei-lhe de que ia morrer, ao que me respondeu: “De exaustão”.


Perguntei o que ele entendia por “exaustão”, o que Atanásio não soube
explicar. Recorri então à analogia do relógio, que pára quando expira a energia
acumulada na mola retesada; o relógio tem de parar forçosamente, mesmo que
não tenha defeito. “É exatamente isto”, exclamou Atanásio, e louvou a clareza
e simplicidade com que eu e os meus livros diziam com facilidade as coisas
difíceis.

Quis saber de Atanásio se, lá no mundo dele, a gente comia como aqui, ao que
ele me respondeu que todos comiam, mas não como aqui, onde o nosso corpo
tem de se alimentar com substâncias materiais. A comida deles era de outro
caráter. Para ajudá-lo, perguntei se o alimento dos astrais era algo como geléia
real (sou apicultor e lido muito com essa substância misteriosa). Respondeu-
me que era algo parecido. Depois acrescentou: “Aliás, isto de geléia real é
apenas uma das muitas substâncias que os homens da terra ainda vão
descobrir para sua alimentação”.

– Atanásio – perguntei-lhe uma noite –, que é que você sabe de Deus?

– De Deus... de Deus... O senhor sabe muito mais de Deus do que eu.

– Mas – prossegui – você não gostaria de saber algo sobre Deus?

– Vou ver se me interesso...

Antigamente, na minha infância e adolescência, tive de aprender de mestres


tão ignorantes como eu que, quando o homem morre, se encontra com Deus
(ou então com o diabo), e, de relance, sabe de coisas que lhe eram
desconhecidas aqui na terra. Atanásio, no tempo das nossas experiências,
havia morrido mais de trinta anos atrás – e nada sabia de Deus (nem do diabo).
A sua vidinha superficial prosseguia nos mesmos moldes em que correra aqui
na terra. Aliás, é uma das idéias mais absurdas que a morte me possa fazer o
que a vida não me fez. Nascer e morrer são meras facticidades objetivas, que,
por si sós, não afetam o nosso destino real. Somente um viver, uma vivência
mais intensa, em outra dimensão de consciência, é que nos põe em contato
com outros mundos mais reais. Nascer e morrer são alo-determinismos que
dependem de fatores alheios ao nosso verdadeiro ser; nascemos por obra e
mercê de nossos pais; vivemos fisicamente graças aos alimentos que
assimilamos: morreremos em consequência de uma doença, de um acidente
ou da velhice. Nada disto atinge a nossa verdadeira realidade, que é o nosso
livre-arbítrio, a nossa autodeterminação, esse misterioso e glorioso “poder de
ser causa própria”.

Muitos, nos arraiais do espiritismo ou do espiritualismo, me levam a mal não


dar importância à reencarnação. Tenho dito a todos os interessados que não
sou contra o fato da reencarnação, que aceitarei, quando devidamente
provado; mas nego e sempre negarei o seu valor. Sei, com Einstein e com
todos os que sabem pensar logicamente, que “do mundo dos fatos não há
nenhum caminho para o mundo dos valores; porque estes vêm de outra
região”. Valor é uma criação do meu livre-arbítrio, que não me acontece à
minha revelia; fato é apenas um acontecimento histórico, do qual eu sou objeto
passivo, mas não sujeito ativo e atuante. Dos valores eu sou autor, dos fatos
sou apenas expectador.

Bem sei que os reencarnistas logo intervêm, dizendo: Mas o fato da


reencarnação oferece uma oportunidade para a criação de valores...

É por esta razão que, anos atrás, respondendo a uma entrevista da imprensa
de Recife, eu disse que não acreditava na “filosofia” do espiritismo, afirmação
essa que muitos nunca me perdoaram. Afirmar que a reencarnação oferece
nova oportunidade para a criação de valores, é falta de lógica, de filosofia, de
coerência. Como se essa oportunidade não existisse sem a reencarnação!...
Será que os valores dependem da matéria, do corpo físico, que é ferro, cálcio,
fosfato, hidrogênio, oxigênio, etc.? A criação de valores depende unicamente
do meu livre-arbítrio, quer dentro quer fora da matéria. Em qualquer parte do
cosmos, em qualquer ambiente – material, etérico, astral, causal, mental, etc. –
funciona o meu livre-arbítrio. O respectivo ambiente pode facilitar ou dificultar o
exercício do meu livre-arbítrio, criador de valores, mas nenhum ambiente o
pode impossibilitar. Em qualquer ambiente, dentro ou fora do mundo material,
posso afirmar, como o poeta inglês do “Invictus”: “Eu sou o senhor do meu
destino, eu sou o comandante da minha vida”.

Em resumo: podemos aceitar o fato histórico da reencarnação, se for provado –


mas não podemos fazer da reencarnação um fator de valores, “porque os
valores vêm de outra região”. Essa “região”, de que fala Einstein, é a
autodeterminação do meu livre-arbítrio, que não depende de nenhum fato
objetivo; a minha substância Eu é independente das circunstâncias do ego.

Em nossas reuniões costumava aparecer invariavelmente a dançarina


espanhola Dolores, pondo as mãozinhas e um perfumoso lencinho de gaze no
rosto dos presentes e segredar-Ihes aos ouvidos palavras de simpatia: “Me
gusta usted”, “buenas noches”, etc. Numa dessas noites, pedi-lhe que me
emprestasse o seu lencinho perfumado, a que se negou, até, por fim, permitir
que eu o levasse comigo a São Paulo, até à próxima reunião. Guardei-o em
casa por mais de um mês, pensando que ela tivesse esquecido o empréstimo.
Qual nada! Na próxima reunião, no Rio, Dolores insistiu na devolução do seu
pañuelo, e, como eu não me desse por achado, mo tirou do bolso à força. Se o
cérebro material fosse o órgão do pensamento e da memória, como pensam os
materialistas, como poderiam essas entidades pensar e lembrar-se, quando
eles não têm vestígio de cérebro material?

Certa vez, pedi a Dolores que me buscasse, como prova da sua presença real,
um botão de rosa; ela hesitou por uns momentos; mas, em breve, me entregou
dois botões, de tamanho diferente, que levei para casa. Colheu-os, certamente,
no jardim da casa do nosso amigo onde estávamos, mas ninguém compreende
por onde os tenha introduzido, quando todas as portas estavam fechadas, e as
chaves conosco. Nem janela aberta havia. Desmaterialização e
rematerialização? Em teoria, sabemos que “matéria é energia congelada”, mas
ignoramos como o congelado se descongela e se recongela.

4 – Quem é o Dr. Fritz de Arigó?

Anos atrás esteve aqui um grupo de cientistas americanos, chefiados pelo


médico Dr. Puharish, autor de alguns livros altamente científicos. Pediram-me
que lhes servisse de cicerone e intérprete durante as investigações
parapsíquicas que iam realizar no Brasil. Viajei com eles no Rio de Janeiro e
em São Paulo. Realizamos sessões científicas com Da. Yolanda e outros
médiuns. Depois eles foram a Congonhas do Campo, perto de Belo Horizonte,
onde tiveram longas entrevistas e realizaram experiências com Arigó. O Dr.
Puharish foi operado por Arigó, com um canivete, de um lipoma no braço
direito, operação que os médicos americanos se tinham recusado fazer, por
estar o lipoma preso a um nervo, que poderia ser afetado e paralisar o braço.
Arigó fez a operação, em poucos segundos, com um canivete, sem assepsia
nem anestesia – e deu certo, com imensa estupefação do médico e da sua
equipe. Quiseram levar Arigó para os Estados Unidos, mas ele não aceitou. Os
cientistas americanos prometeram voltar, e de fato voltaram, alguns anos
depois, munidos dos mais modernos aparelhos de pesquisa.

É voz geral que o médico alemão Fritz, falecido há anos, é que realiza as
estranhas operações através do veículo de Arigó.

Assisti a diversas dessas operações, sobretudo de olhos, realizadas em


Congonhas.
Um dia, estava eu com alguns amigos meus de São Paulo, em Congonhas,
esperando na longa fila para ser atendido, a pedido de outra pessoa, que
necessitava de uma receita. De repente, o rapaz que fazia de “secretário”
anunciou que Arigó ia fechar o expediente, e só retornaria do dia seguinte. Nós
não podíamos voltar no outro dia. Tirei da minha pasta um papel e, lá mesmo,
em pé, na fila, escrevi umas linhas em alemão, ao Dr. Fritz, fazendo ver que eu
tinha necessidade de ser atendido nesse mesmo dia. Entreguei o bilhete ao
“secretário”, que o jogou sobre a mesa de Arigó. Imediatamente Arigó disse
que o Dr. Fritz mandava entrar o Professor Rohden com toda a gente dele. E
nós, com imenso espanto de todos, fomos admitidos, por ordem do Dr. Fritz. É
claro que Arigó não entendeu o meu pedido, escrito em alemão...

***

Nenhum homem sensato nega estes e outros fatos – mas ninguém os sabe
explicar satisfatoriamente. As duas hipóteses mais conhecidas – a espírita e a
científica – continuam a ter os seus grandes pontos de interrogação. A própria
equipe americana confessou esse impasse. A dificuldade está no seguinte: o
homem continua a ser o grande “desconhecido”, de que escreveu Aléxis Carrel.
Por mais que se tenha dito e escrito sobre o homem, ninguém sabe até hoje o
que é, afinal de contas, esse ser estranho. Não conhecemos a nossa
verdadeira origem. Não sabemos por que só nós, e mais ninguém, possuímos
inteligência analítica. Não sabemos, pela ciência, qual o nosso futuro e qual o
nosso destino. Uns poucos sabem o que é homem, mas esses poucos não o
dizem; porque o que se pode dizer ou pensar não é a verdade; a verdade é
aquilo que não se pode dizer nem pensar – os árreta rémata (ditos indizíveis)
de que fala Paulo de Tarso, depois de ter sido arrebatado ao “terceiro céu”.

O meu antigo professor universitário, Dr. Aloisio Gatterer, defende a teoria


científica, parapsíquica, baseada na permanência do nosso Eu central e na
impermanência dos nossos egos periféricos. Quando os nossos egos (nossas
alteridades, diria Bergson) se acham firmemente integrados em nosso Eu
central (nossa identidade); quando as nossas personas várias são coesas com
a nossa individualidade una, quando o homem é um Universo de perfeita
harmonia – tudo funciona normalmente. Mas, quando os nossos egos perdem
a sua firme coesão com o nosso Eu, então começam eles a funcionar como
personas ou máscaras independentes, aparecendo como indivíduos
autônomos. Parece que as nossas personas múltiplas, simultâneas ou
sucessivas, podem funcionar, nesse caso como se fossem outras tantas
individualidades.

E não poderia acontecer que essas minhas personalidades múltiplas, quando


dissociadas da minha individualidade única, em estado de transe
subconsciente, sejam invadidas até por outras personalidades, alheias ao meu
Eu verdadeiro?
A parapsicologia, essa caçula das nossas ciências, espera poder solver, um
dia, este e outros enigmas – mas terá a parapsicologia suficiente lastro para
atingir a raiz última do fenômeno humano?...

Se, algum dia, a Filosofia Univérsica tiver lucificado o homem, ainda hoje tão
opaco, ou, apenas ligeiramente iluminado – então talvez possamos projetar luz
mais abundante sobre esses problemas penumbrais do presente.
Cristo Histórico
ou Cristo Interno?

É do conhecimento do público em geral, dos meus alunos e leitores que, por


mais de 5 decênios, dou conferências, ministro cursos sobre filosofia, oriento
retiros espirituais e, sobretudo, escrevo livros. Já me “aconteceram” cerca de
algumas dezenas. Retirei da relação do catálogo mais de 30, por não
corresponderem ao meu pensamento atual.

Em 1970, logo após minha viagem ao Oriente, encontrava-me sem editor. Um


ano antes eu havia procurado três casas editoras, duas de São Paulo e uma de
Belo Horizonte, oferecendo os meus livros, já que a Livraria Freitas Bastos, do
Rio de Janeiro, que me editava, estava voltando às obras jurídicas e não tinha
mais interesse por livros de filosofia. Todos os diretores dessas editoras me
receberam muito bem, foram muito gentis, mas pediram-me para voltar em
outra ocasião; de momento estavam com a programação editorial do ano
totalmente tomada.

Foi então que me apareceu – caído do céu –, um antigo leitor e aluno meu, do
Rio Grande do Sul, mas que há anos estava morando aqui em São Paulo,
oferecendo-se para editar os meus livros. Dei-lhe o manuscrito das minhas
viagens ao Oriente Minhas Vivências na Palestina, no Egito e na Índia.

Por decisão do editor o livro foi lançado na Associação Cristã de Moços – ACM,
da rua Nestor Pestana, em São Paulo, em julho de 1970, com um jantar para
180 talheres, e cujas fotos estão guardadas aqui em casa.

Um fato estranho aconteceu, poucos dias após eu haver entregue os originais


do citado livro ao meu novo editor.

Numa quarta-feira, antes de eu ir para a Casa de Retiro Betânia, o ashram,


como alguns costumam chamar, localizado no município de Jundiaí, a 70
quilômetros da Capital de São Paulo, o meu editor me telefonou, pedindo para
me ver e falar de vários assuntos. Logo ele chegou à minha casa, um pouco
agitado, mas como sempre muito eficiente. Trinta minutos depois, antes de nos
despedirmos – acho que esse era o principal motivo de sua visita –, ele me
contou, muito emocionado, um sonho que tivera na noite anterior.
Passo, a seguir, a descrever, com a fidelidade possível, usando as suas
próprias palavras, o que o meu editor me relatou, naquela manhã de quarta-
feira de 1970, às 9 horas da manhã.

“Professor Rohden, à noite passada tive um sonho muito estranho. Penso que
é simbólico. Parece ter relação com o meu trabalho de editor. Sonhei, com
incrível nitidez de imagens, que eu havia chegado a uma estalagem antiga, à
beira da estrada. Era uma casa de madeira, grande, muito sólida. Tinha um
clima de construção da Idade Média. Vi-me dentro de uma sala muito ampla,
parecida com um refeitório de mosteiro, onde havia uma mesa tosca, de
madeira, muito comprida, talvez com uns 20 metros. Eu entrei por trás e vi,
sentado à cabeceira da mesa, de costas para mim, um homem vestido com um
hábito de monge, de cor cinza. Um capuz cobria-lhe a cabeça. Eu estava atrás
da pessoa. Não lhe via o rosto. Mas sentia que aquele ser sentado à minha
frente era alguém diferente, de uma dignidade impressionante.

Não havia mais ninguém na grande sala. Então compreendi, de repente, que
aquele ser, sentado à cabeceira daquela mesa, com grande majestade
espiritual, de costas para mim, leve e ao mesmo tempo sólido como uma rocha,
era Jesus, o Cristo. Eu ‘sentia’ a certeza disso. Em seguida ouvi uma voz
silenciosa, saída de dentro de mim, mas era o homem à minha frente que
pronunciara: ‘Sente-se. O banquete está servido.’ Eu me admirei, pois não
havia nada sobre a mesa. Então eu compreendi, no sonho: é uma mensagem,
é uma mensagem de plenitude e colheita. E isso se relaciona com os livros do
professor Rohden. Depois, tudo se esvaziou. De manhã, ao acordar, as
imagens do sonho não saíam da minha cabeça, até agora. Parecia tudo muito
real. Eu estou cheio de um grande espanto.”

Aqui termina a narração do sonho do meu aluno e editor, contado naquela


manhã de 1970, em minha casa da rua Alegrete, em São Paulo.

Ficamos longo tempo em silêncio. Depois eu lhe disse algumas palavras e logo
o carro, que me levaria ao ashram, chegou. Despedimo-nos e cada um foi para
o seu lado.

Hoje, muitos anos depois, conto o que naquela manhã não contei ao meu
editor e a ninguém:

– Eu também havia sonhado, na mesma noite, com poucas variações, o


mesmo sonho!
DADOS BIOGRÁFICOS

Huberto Rohden

Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).

De regresso ao Brasil, trabalhou como professor, conferencista e escritor.


Publicou mais de 65 obras sobre ciência, filosofia e religião, entre as quais
várias foram traduzidas para outras línguas, inclusive para o esperanto;
algumas existem em braile, para institutos de cegos.

Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.

De 1945 a 1946 teve uma bolsa de estudos para pesquisas científicas, na


Universidade de Princeton, New Jersey (Estados Unidos), onde conviveu com
Albert Einstein e lançou os alicerces para o movimento de âmbito mundial da
Filosofia Univérsica, tomando por base do pensamento e da vida humana a
constituição do próprio Universo, evidenciando a afinidade entre Matemática,
Metafísica e Mística.

Em 1946, Huberto Rohden foi convidado pela American University, de


Washington, D.C., para reger as cátedras de Filosofia Universal e de Religiões
Comparadas, cargo este que exerceu durante cinco anos.

Durante a última Guerra Mundial foi convidado pelo Bureau of lnter-American


Affairs, de Washington, para fazer parte do corpo de tradutores das notícias de
guerra, do inglês para o português. Ainda na American University, de
Washington, fundou o Brazilian Center, centro cultural brasileiro, com o fim de
manter intercâmbio cultural entre o Brasil e os Estados Unidos.

Na capital dos Estados Unidos, Rohden frequentou, durante três anos, o


Golden Lotus Temple, onde foi iniciado em Kriya-yoga por Swami Premananda,
diretor hindu desse ashram.

Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.

Em 1952, fundou em São Paulo a Instituição Cultural e Beneficente Alvorada,


onde mantinha cursos permanentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia,
sobre Filosofia Univérsica e Filosofia do Evangelho, e dirigia Casas de Retiro
Espiritual (ashrams) em diversos estados do Brasil.

Em 1969, Huberto Rohden empreendeu viagens de estudo e experiência


espiritual pela Palestina, Egito, Índia e Nepal, realizando diversas conferências
com grupos de iogues na Índia.

Em 1976, Rohden foi chamado a Portugal para fazer conferências sobre


autoconhecimento e autorrealização. Em Lisboa fundou um setor do Centro de
Autorrealização Alvorada.

Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.

Quando estava na capital, Rohden frequentava periodicamente a editora


responsável pela publicação de seus livros, dando-lhe orientação cultural e
inspiração.
À zero hora do dia 8 de outubro de 1981, após longa internação em uma clínica
naturista de São Paulo, aos 87 anos, o professor Huberto Rohden partiu deste
mundo e do convívio de seus amigos e discípulos. Suas últimas palavras em
estado consciente foram: “Eu vim para servir à Humanidade”.

Rohden deixa, para as gerações futuras, um legado cultural e um exemplo de


fé e trabalho, somente comparados aos dos grandes homens do século XX.

Huberto Rohden é o principal editando da Editora Martin Claret.


Relação de obras do
Prof. Huberto Rohden

Coleção Filosofia Universal

O pensamento filosófico da Antiguidade


A filosofia contemporânea
O espírito da filosofia oriental

Coleção Filosofia do Evangelho

Filosofia cósmica do Evangelho


O Sermão da Montanha
Assim dizia o Mestre
O triunfo da vida sobre a morte
O nosso Mestre

Coleção Filosofia da Vida

De alma para alma


Ídolos ou ideal?
Escalando o Himalaia
O caminho da felicidade
Deus
Em espírito e verdade
Em comunhão com deus
Cosmorama
Por que sofremos
Lúcifer e Lógos
A grande libertação
Bhagavad Gita (tradução)
Setas para o infinito
Entre dois mundos
Minhas vivências na Palestina, Egito e Índia
Filosofia da arte
A arte de curar pelo espírito. Autor: Joel Goldsmith (tradução)
Orientando
“Que vos parece do Cristo?”
Educação do homem integral
Dias de grande paz (tradução)
O drama milenar do Cristo e do Anticristo
Luzes e sombras da alvorada
Roteiro cósmico
A metafísica do cristianismo
A voz do silêncio
Tao Te Ching de Lao-tse (tradução)
Sabedoria das parábolas
O Quinto Evangelho segundo Tomé (tradução)
A nova humanidade
A mensagem viva do Cristo (Os quatro Evangelhos – tradução)
Rumo à consciência cósmica
O homem
Estratégias de Lúcifer
O homem e o Universo
Imperativos da vida
Profanos e iniciados
Novo Testamento
Lampejos evangélicos
O Cristo cósmico e os essênios
A experiência cósmica
Panorama do cristianismo
Problemas do espírito
Novos rumos para a educação
Cosmoterapia

Coleção Mistérios da Natureza

Maravilhas do Universo
Alegorias
Ísis
Por mundos ignotos

Coleção Biografias

Paulo de Tarso
Agostinho
Por um ideal – 2 vols. autobiografia
Mahatma Gandhi
Jesus Nazareno
Einstein – o enigma do Universo
Pascal
Myriam
Coleção Opúsculos

Catecismo da filosofia
Saúde e felicidade pela cosmo-meditação
Assim dizia Mahatma Gandhi (100 pensamentos)
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