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FACILITADOR: Joncilei Mendes

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. A Natureza da Missão (Missio Dei) – O quê?


2. Os Agentes da Missão – Quem?
3. A Integralidade da Missão – Como?
4. O Contexto da Missão – Onde? e Quando?
5. O Propósito da Missão (Glória de Deus) – Por quê?

LIÇÃO 1 – A Natureza da Missão (Missio Dei)


Introdução
Uma Declaração de missão é uma declaração do
propósito de uma empresa ou organização.
Esta declaração deve orientar as ações da organização, explicitar seu objetivo geral, proporcionar um senso de
direção, e orientar a tomada de decisões.
 “Ajudar as pessoas ao redor do mundo a planejar e ter a viagem perfeita.”(Trip Advisor)
 “Nós poupamos o dinheiro das pessoas para que possam viver melhor.” (Walmart)
 “Refrescar o mundo… Inspirar momentos de otimismo e felicidades… Criar valor e fazer a diferença.” (Coca-Cola)
 “Melhorar a vida das pessoas através da inovação significativa.” (Phillips)
 “Organizar a informação do mundo e fazê-la universalmente acessível e útil.” (Google)

 Qual seria a declaração de Missão da igreja? Uma que seria coerente com o chamado e
propósito de sua existência no mundo:
_______________________________________________________________________________________________
____________________________________(Igreja de Cristo) (Texto Bíblico:_________)

I. ENTENDENDO A MISSÃO DE DEUS


A. Definição de Missão: Significado Etimológico: A palavra “missão” vem da expressão latina missione,
que se origina por sua vez do verbo mittere, que significa: ação, tarefa, ordem, mandato, compromisso,
incumbência, encargo ou obrigação de enviar missionários. No grego corresponde á palavra apostolé que, em
português é “apóstolo” e significa “alguém enviado por ordem de outrem para realizar uma tarefa”.
B. A Missão de Deus: A missão, antes de ser considerada uma tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de
Deus. Esta perspectiva nos guarda contra toda atitude de independência. Se a missão é de Deus, então é dele
que a igreja deve depender na sua participação na tarefa. Se a missão é de Deus, temos a segurança de que é
Deus quem está comandando a expansão do seu reino, e isto nos dá plena convicção de que ele realizará os
seus propósitos.
 Através de toda a revelação bíblica se torna patente que o principal agente é Deus. É Deus quem é o agente
na criação, quem age quem escolhe, e quem se revela. Ele é ativo não só na criação, mas também nos
julgamentos, na libertação do seu povo do Egito, nas exortações dos seus profetas e na promessa de
restauração vindoura. Ele é o único e verdadeiro Deus e deseja que sua glória seja conhecida nos céus e nas
extremidades da terra.
 Esta atividade missionária de Deus na Bíblia é bem percebida pelo uso dos termos “chamar” e “enviar”. Deus
é sempre mostrado como o Deus que chama alguém e o envia a alguém. O Pai envia ao Filho ao mundo na
encarnação (João 1:14); O pai guia ao Filho durante seu ministério (João 5:31); O Filho envia a igreja ao
mundo depois de sua ressurreição (João 20:21). O Filho envia o Espírito ao mundo em Pentecoste (Atos 2: 1-
4).
C. Qual é esta Missão de Deus? “É a ação restauradora e transformadora de Deus
agindo através do Seu povo (igreja) por meio da proclamação do Evangelho
(evangelização) e da demonstração prática do Evangelho (trabalho de transformação
GLOBAL) para trazer a realidade do Reino de Deus e da paz de Deus (Shalom) na Terra,
visando restaurar todos os relacionamentos corrompidos pelo pecado.”

II. AS IMPLICAÇÕES DA MISSÃO SENDO DIVINA


1. Ela não pode ser abortada – Trata-se do plano divino traçado na eternidade e trazido à
execução no tempo pleno e perfeito. Ninguém pode frustrar uma obra divina.
2. É Deus quem chama e capacita – Como plano divino depende essencialmente de Deus e
não do homem. Por isso repousa no poder e propósito divino e não na capacidade humana. A Bíblia
mostra que todos a quem Deus chamou Ele capacitou (Isaías, Moisés,GIdeão,etc.). Nossa preocupação
não deve ser se somos capazes, mas se
seremos obedientes. Ele garante o sucesso
da missão.
3. A soberania divina é que determina os resultados – Ao contrário do que muitos
pensam o resultado das missões não pode ser medido por números ou estratégias missionárias, ou ainda
atribuídos apenas ao esforço e trabalho dos missionários. Há a responsabilidade humana de todo cristão ir
e pregar, e a do não cristão que ouve, de crer, mas é sempre Deus que fará a semente do evangelho
germinar, crescer e produzir frutos.
4. A Igreja é a sua principal agência missionária – A estreita relação de ser igreja de
Jesus e ser enviada por Jesus nos moldes de sua própria missão (Jo 17:18), é vista como insolúvel, pois não
existe nenhuma outra igreja senão a Igreja enviada ao mundo e não há outra missão a não ser a da Igreja
de Cristo.
III. AS DIMENSÕES DA MISSÃO DE DEUS – Para compreender bem a missão de Deus
precisamos voltar ao início de tudo, no relato da criação em Gênesis onde vemos Deus criando tudo o que existe
para cumprir os seus propósitos soberanos. Encontramos ali o estado original das coisas e o ambiente
harmônico de toda a boa criação de Deus. Também é ali no relato da criação que vemos como este ambiente e
realidade harmônica são afetadas pela queda do homem no pecado.
A. Dimensão Espiritual (Relação entre o homem e Deus) – O ser humano foi criado a imagem e
semelhança de Deus. Ele tem em seu DNA espiritual os traços do caráter de Deus. Deus havia criado o
homem e a mulher com propósitos e responsabilidades bem definidas: missão:
 Serem férteis e multiplicarem-se (Gn 1:28).
 Cuidar e cultivar o jardim do Éden (2:15);
 Dar nomes a todos os animais do campo e todas as aves do céu (Gn2:19-20);
 Desde o princípio fica clara a relação entre o Criador-criatura nesse ambiente e
para que esse estado harmônico existisse e se mantivesse, era necessária a
obediência desse casal, pois caso contrário, a desobediência teria uma trágica
consequência: a morte! (Gn 2:17).
 Adão e Eva desobedecem a Deus comendo do fruto proibido e o relacionamento de
intimidade que gozavam com Deus é substituído por um relacionamento distorcido
de vergonha e medo de Deus (Gn 3:8-11)
 A Missão de Deus hoje é promover em Cristo a restauração da harmonia na relação
entre o homem e Deus. (Jo 3:16-17; Lc 19:10; Rm 5:1-11)
B. Dimensão Social (Relação entre o homem e seu semelhante) – Adão foi criado para cuidar
do jardim, nomear os animais e acima de tudo para refletir a imagem de Deus. Deus é uma diversidade em
unidade. Pai, Filho e Espírito, um Deus Triúno. Um homem solitário não conseguiria refletir a imagem de um
Deus comunitário. Por isso Deus cria a mulher. Uma auxiliadora a sua altura para cumprir a Missão de cuidar
da criação e multiplicar-se.
 Por causa da desobediência de Eva e Adão, o relacionamento que era marcado por
igualdade e cumplicidade no cumprimento da missão é substituído por subjugação e
opressão do homem em relação à mulher. Tem início a guerra dos sexos e a
animosidade entre os gêneros. Também o conflito entre o homem e os seus
semelhantes é fruto desta queda (Gn 4:1-26)

 A Missão de Deus hoje é promover em Cristo a restauração da harmonia na


relação entre o homem e o seu semelhante (Mc 12:30-31;Ef 2:11-22;Rm 1:16-17;Gl
3:28).
C. Dimensão Global (Relação homem e a criação) - O relacionamento do ser humano com seu
ecossistema era harmônico. Em cinco dias Deus criou todas as coisas e no sexto presenteia ao ser humano
oferecendo-lhe o cuidado e cultivo do mundo. O homem seria o representante de Deus na terra para
proteger, usufruir e cuidar dela. Esta é a nossa identidade, parceiros de Deus na missão da criação, provendo
um cuidado benevolente e amoroso pela
criação de Deus.
 Infelizmente o pecado também afetou a relação do ser humano com a natureza –
“maldita é a terra por sua causa”. (Gn 3:17-19). Antes o homem devia cuidar e cultivar
a terra, hoje, porém ele a explora de forma destrutiva e não renovável.
 A Missão de Deus hoje é promover em Cristo a restauração da harmonia na
relação entre o homem e a criação (Rm 8:19-22;Ef 1:9-10;Cl 1:17-20; Ap 21:1-5).
IV. A PLENITUDE DA MISSÃO DE DEUS – A Missão de Deus é muito ampla,
transformadora e inclusiva. Deus não está preocupado apenas com um aspecto da existência humana ou uma
parcela da humanidade (A Igreja), mas vemos Deus ativamente restaurando todos os relacionamentos e todas as
condições essenciais para uma vida plena em Jesus (Jo 10:10) e por meio do povo de Jesus. Observe estes textos
no Novo Testamento.

 “ E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas.Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o
ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos
embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois,
rogamos que vos reconcilieis com Deus.(2Co 5:17-21)

 Cristo é o agente reconciliador de Deus. E qual é a tarefa deste Cristo-agente? Reconciliar o mundo com Deus.
Note novamente: o mundo! E agora a tarefa do Cristo-agente passa a ser a tarefa do povo de Deus, o povo-
agente. E esse povo-agente agora tem a mensagem da reconciliação como representantes (embaixadores) de
Cristo. A tarefa desse povo-agente é a mesma do Cristo-agente. Qual? “Por amor a Cristo lhes suplicamos:
Reconciliem-se com Deus”.
 “a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi
designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de
que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade.”
(At 3:20-21)
 Novamente perceba que Lucas, em plena harmonia com Paulo, fala da restauração de tudo. Tudo o que?
Ora, tudo o que Deus criou! Novamente perceba a presença do re = restauração.

 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação,pois nele foram criadas todas as coisas
nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as
coisas foram criadas por ele e para ele.Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do
corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
supremacia.Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,e por meio dele reconciliasse
consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu
sangue derramado na cruz. (Cl 1:15-20)

 Paulo parece não querer deixar dúvidas quanto à amplitude da missio Dei: “por meio dele reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”. E para que ninguém
tenha dúvida sobre essa amplitude, Paulo categoricamente fala dessas “todas as coisas, tanto as que estão na
terra como as que estão nos céus”. Uma reconciliação cósmica!

 “Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem.
Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade
e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés.
O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque ele "tudo sujeitou debaixo de seus pés". Ora, quando se
diz que "tudo" lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo.
Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe
sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos”.( 1 Coríntios 15:23-28)
 Paulo enfatiza a expressão todas as coisas.
Assim, somos agentes de um fenômeno maior: a missão de Deus. O papel desses agentes, no cumprimento
dessa missão, na linguagem Paulina, significa: restaurar-reconciliar-redimir-reconcialiar.

ALGUMAS CONCLUSÕES:

 Somos agentes de um fenômeno muito maior: A Missão de Deus. A Missão


de Restaurar tudo e todos.
 A Missão é maior que a igreja, o indivíduo, nossa localidade e nossa
religiosidade.
 A Nossa prioridade é o discernimento ao invés do ativismo. Discernir o que
Deus está fazendo em nosso meio e nos juntarmos a Ele.
 A obra Redentora de Deus vai além do espiritual, individual e futuro. Inclui
o material, coletivo e o presente.

LIÇÃO 2 – Os agentes da Missão


Introdução
“Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”. (João 17:16-18)

Deus tem a missão de restaurar este mundo caído e corrompido pelo pecado. Ele mesmo tomou a iniciativa e
agiu de forma restauradora e redentora. Ele enviou Seu Filho Jesus para concluir este processo redentor e Jesus
por sua vez, envia a igreja como comunidade propagadora e promotora desta obra de Redenção e restauração do
mundo. A Missão de Deus não é apenas a salvação do individuo, mas a redenção da humanidade. Não é apenas a
salvação da alma, mas também a salvação do corpo, não apenas no plano espiritual e metafísico, mas na
realidade material do planeta e da humanidade. O
plano redentor de Deus não mira apenas na
eternidade futura, mas transforma a realidade presente. Como igreja, somos agentes de algo maior, de uma
missão completa – Uma missão integral – A Missão de Deus.
I- A COMUNIDADE DA MISSÃO: A IGREJA
A. A Missão e a Igreja – Vimos anteriormente que a missão é anterior a Igreja. Deus é quem
primeiramente e ativamente envolvido e realizando a missão. A igreja é a agente desta missão de Deus na
terra. Explorar estes dois conceitos sobre a missão e a igreja nos ajuda a entender melhor esta relação da
igreja e a missão de Deus.
1. A Missão tem uma igreja – A visão Bíblica da igreja não é de uma instituição estática que
determina a sua própria missão. Pelo contrário, Deus tem uma missão neste mundo e Deus está
envolvido em Sua missão; Ele está chamando e enviando pessoas engajadas nesta missão e eles são a
igreja. Nessa perspectiva, missão não é primariamente a atividade da igreja, mas de Deus. A ênfase não é
que Jesus deu à Igreja uma missão. Em vez disso, a ênfase é que Jesus convidou a Igreja a participar na
missão preexistente de Deus.
2. A Missão é a Igreja – A missão não pertence a igreja. Não é algo que a igreja “faz”. É uma
característica do Deus trino, que é assumida pela igreja como uma marca da sua identidade. Missão então
não é o que a igreja faz, mas o que a igreja “é”, como criada a imagem e semelhança da T rindade. A igreja
é missão.
 (Mateus 5:13) - A Igreja é o Sal da Terra – Leva sabor e preservação do sabor de Deus no mundo.
 (Mateus 5:14-16) - A Igreja é a Luz do mundo – Leva luz às trevas deste mundo pecador
 (2 Coríntios 5:20)-A Igreja é embaixadora de Cristo – Promove a reconciliação do mundo com Deus
em Cristo.
 (1 Pedro 2:9-10) - A Igreja é geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido-
Anuncia as virtudes de Deus ao mundo.
 Nós somos a evidência visível de atividade invisível de Deus no mundo.
II. A HISTÓRIA DO DESVIO DA MISSÃO: A PROFISSIONALIZAÇÃO
E A PRIVATIZAÇÃO DA IGREJA
A. Cristianismo como Religião oficial do Império Romano – Constantino legalizou a fé cristã em 312
d.C. e nos anos posteriores a igreja cristã obteve mais influência,poder e riquezas ao seu dispor. Em 391-392
d.C. Teodósio oficializou o cristianismo como religião oficial do Império e a igreja passou de marginalizada e
ilegal a uma posição dominante,de clandestina e inferior a uma posição de superioridade econômica e
socialmente. Surge agora o termo “Cristandade” ou “ Cristianismo” para designar a fé e igreja cristã. A igreja
que antes era uma comunidade de estrangeiros agora fazia parte de uma igreja estabelecida num estado
declaradamente cristão.
B. Os efeitos desta institucionalização da Igreja – A nova posição de poder trouxe alguns efeitos na
autocompreensão da igreja.

1. Perda de identidade – Agora em uma cultura pretensamente cristã a igreja perdeu a percepção de ser uma
comunidade contracultural que anunciava e encarnava a mensagem do Reino. Ao invés de continuar sendo
uma comunidade profético-crítica da cultura dominante a igreja passou a ser cada vez mais moldada pela
cultura.
2. Desvio da Missão – A Missão da igreja que antes era de ser luz em meio a uma cultura de trevas agora
passava ser o seu próprio bem-estar e manutenção; o cuidado pastoral e a manutenção interna da instituição
passaram a definir a missão e identidade da igreja institucional.
3. Manutenção do Status Quo- A Igreja deixa de ser instrumento de promoção do reino de Deus e dos
propósitos redentores de Deus e se torna braço e agente da política do Estado. Membra das Elítes de poder
dentro do “Império Cristão” ao lado de autoridades políticas, econômicas, militares, sociais e intelectuais
estabelecidas.
C. O Iluminismo como nova força
moldadora da Igreja Cristã – O Cristianismo histórico terminou por volta do século 18 e surge o
Iluminismo como Nova alternativa para vida pública baseada no humanismo racionalista, e a fé cristã começa
a se mover do centro da vida pública para as margens da vida privativa.
O iluminismo trouxe à tona a revolução cartesiana e a entronização do método científico. Tudo o que não
podia ser confirmado e comprovado pelo método científico não poderia ser encarado como verdade. A igreja
e a fé cristã agora precisavam encontrar lugar nesta nova cosmovisão da cultura Ocidental. Como o Evangelho
e as afirmações da fé cristã não podiam ser comprovados pelo método científico, sua mensagem foi
considerada como simples valores privados, opiniões subjetivas e preferências pessoais. Mesmo a mensagem
do Evangelho sendo considerada atraente por alguns, a sua reivindicação de verdade universal não pode ser
levada a sério e nem deve ter lugar na formação da vida pública de uma nação.
D. Os efeitos do iluminismo na identidade e missão da igreja – A igreja novamente muda a sua
compreensão e a sua ênfase missionária por causa do Iluminismo.
1. Nova redefinição de identidade - A igreja deixa de ser uma instituição que encarna a ordem social de Deus
em favor das nações e passa ser considerada como uma comunidade voluntária para funcionar como espaço
privado de valor, opiniões e preferências.
2. Nova redefinição de espiritualidade – Se agora no Iluminismo a igreja não era mais definida pelas fronteiras
políticas e territoriais, o que a manteria unida? A experiência religiosa individual! Surge então um novo tipo
de espiritualidade e uma nova forma de viver e fazer igreja. A igreja do Pós-Iluminismo (nós hoje) enfatiza
agora o relacionamento individual e pessoal com Deus.
3. Nova Redefinição do Evangelho- A mensagem do Evangelho deixar de ser o anúncio da chegada do reino de
Deus redimindo e transformando toda a criação e passa a ser o resgate do relacionamento pessoal entre
Deus e o ser humano. (Aceite Jesus como seu salvador pessoal).
4. Nova Redefinição de Missão – A Missão da igreja agora era a conversão através do conhecimento (estudar a
Bíblia!) se proteger do mundo e se manter homogênea (igreja de gente como a gente). Educação era mais
importante que as experiências, os rituais eram mais importantes do que proclamar uma fé pública e as duas
horas de culto semanal definem a vida cristã dedicada e fiel.
A igreja institucional estava mais preocupada em quem atraímos para vir até nós do que em transformar o
mundo ao nosso redor.
E. Um novo tipo de Igreja que perdura até hoje – A Igreja a gosto do freguês. Nós já vimos
que é trágico quando a igreja deixa de ser a comunidade contracultural que objetiva influenciar e formar a
cultura ao invés de ser moldada por ela. O iluminismo conduziu o Ocidente ao avanço tecnológico e
econômico e consequentemente ao Consumismo. Hoje é muito comum ver esta dinâmica consumista nas
igrejas, que oferecem o tipo de igreja que o cliente está buscando. Um verdadeiro “MERCANTILISMO
ESPIRITUAL”.
III.O MODELO TRADICIONAL DE MISSÃO: AS DICOTOMIAS
A. O Conceito de Missão – No modelo tradicional a missão é concebida essencialmente como um cruzar de
fronteiras geográficas com o propósito de levar o evangelho do “mundo ocidental cristão” para os campos
missionários do mundo não cristão (países pagãos). Em outras palavras, missão tinha apenas o sentido de
missão transcultural (outro país, outra língua e outra cultura).

B. O Propósito da Missão – Neste conceito o propósito da missão era “salvar almas” e “plantar igrejas”.
O papel da igreja local era ficou reduzido a prover pessoas para missões e dar apoio espiritual e financeiro.
C. Prioridades da Missão:
 Crescimento de Igrejas
 Multiplicação de Igrejas
D. A Base Bíblica da Missão – A fundamentação Bíblica da missão neste modelo era a Grande comissão. Os
textos de Mc 16:15; Mt 28:18-20 e At 1:8 era a base Bíblica da urgência desta missão.
E. Os resultados da Missão Tradicional – Este Paradigma tradicional de fazer missão trouxe dois tipos de
resultados para a obra de Deus.
a. Resultados positivos - Graças a paixão por
Cristo e pelas almas este modelo de Missão impulsionou a expansão do cristianismo pelo mundo a fora até
que o Evangelho chegou até nós. Este modelo de missão inspirou grandes servos de Deus que deixaram suas
terras e de forma sacrificial dedicaram suas vidas em prol do Reino de Deus.
b. Resultados negativos – Por outro lado, este modelo trouxe alguns efeitos negativos para a igreja e a obra
missionária. Criou algumas Dicotomias que alienaram e limitaram a obra missionária da igreja:
 A Dicotomia entre quem recebe e quem faz Missão- O trabalho missionário era tido como algo que
acontece de cima para baixa e da esquerda para a direita. Nações desenvolvidas enviam missionários para
países pobres e pagãos. Estes países eram encarados como quem precisa receber o evangelho, raramente
como quem pode levar o evangelho.
 A Dicotomia entre Clero e Leigos – Neste modelo quem está realizando a missão são os missionários e
pastores e os membros comuns ficavam excluídos do que Deus estava realizando no mundo. Quem não tem
um chamado para pregar o Evangelho transculturalmente ficava isento da missão.
 A Dicotomia entre lar e campo missionário – O País onde se realiza a missão é sempre visto como um
“trabalho”, um lugar para se ministrar, mas o verdadeiro lar é a pátria, a terra natal. Quando se entende que
a missão foi cumprida, o missionário retorna a sua terra. Chegando, a sua terra é visto como lugar para se
descansar e ganhar a vida, missão sempre fica restrito a outra terra.
IV. O NOVO PARADIGMA MISSIONAL: MISSÃO INTEGRAL
A.O Novo Conceito de Missão – A Missão é compreendida no contexto da Teologia
(a natureza e o propósito de Deus), e não mais da Eclesiologia (plantar igrejas) nem da Soteriologia
(a salvação de pessoas). A igreja como primeiro ambiente do reinado de Deus e manifestação da presença
de Deus no mundo.
B.Nova Base Bíblica Missional: De uma ênfase exacerbada
em uma passagem bíblica para uma ênfase na mensagem
bíblica total. Para além da Grande Comissão. Missão
 Lucas 4.18-21
 João 20.21
 Efésios 1.20-23 Grande
C. A Estrutura da Missão: De um entendimento exclusivo Comissão para um
entendimento inclusivo da missão de Deus
 Os cristãos não detém o monopólio da Missão de Deus.
D. O Objetivo da Missão- O propósito primeiro da missão

da igreja não pode, por consequência, ser simplesmente

a implantação de igrejas e a salvação de almas; pelo contrario, ele deverá ser o serviço à missão de Deus,
representar a Deus no e diante do mundo.
 “Em sua missão, a igreja é testemunha da plenitude da promessa do reino de Deus e é participante da
batalha contínua entre esse reinado e os poderes das trevas e do mal”.

E. A Comunidade da Missão: Da Maioria para a minoria.


 Não importa o tamanho, mas a efetividade: Sal
F. Novos Princípios e Valores Missionais:
 Expansão do reino e não apenas conversões e multiplicação de igrejas - A missão da igreja é
a continuidade da missão histórica de Jesus nos Evangelhos. Ela essencialmente é o estabelecimento e
expansão do Reino de Deus. A nossa missão aqui e agora é a manifestação do Reino como uma realidade
presente em Jesus Cristo em pessoa e ação, na pregação do evangelho e na realização de obras de justiça e
misericórdia.
 Equilíbrio entre Palavra e obras – A igreja manifesta a presença visível do reino através das obras que
prática e da proclamação do Evangelho (Mt 5:16). Desta forma as boas obras, não se tornam um mero
apêndice da missão, mas uma parte integral da manifestação presente do Reino: elas apontam para o Reino
que já veio e para o Reino que está por vir.
Observe a ênfase Bíblica para a prática das
boas obras pela igreja:
 Tito 2:14;3:8,14
 Efésios 2:8-10
 2Tessaloncenses 2:16-17
 Atos 1:1 e Lucas 24:19 (Exemplo de Jesus)
G. Novos Resultados da Missão:
1. Reciprocidade Missionária - Pelo menos em princípio, todas as igrejas enviam e todas as igrejas
recebem. Em outras palavras, todas as igrejas têm algo a ensinar e algo a aprender com outras igrejas. O
caminho que a missão segue não é de mão única — não vai dos países “cristãos” para os “pagãos” — é uma
via de mão dupla. Um exemplo disto é o movimento missionário com base nos países do hemisfério sul, que
hoje envia um número crescente de missionários transculturais inclusive a países do hemisfério norte.
2. Extensão do campo missionário - O mundo todo é um “campo missionário” e cada necessidade
humana é uma oportunidade de ação missionária. A igreja local é chamada a manifestar o reino de Deus
em meio aos reinos do mundo não só pelo que diz, mas também pelo que é e por tudo o que faz em
resposta às necessidades humanas que a rodeiam. A proclamação do evangelho inclui tudo o que fazemos
movidos pelo Espírito de Jesus, pois, “vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas
e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36).
3. Inclusão de novos missionários - Todo cristão é um missionário e chamado a seguir a Jesus Cristo e a
comprometer-se com a missão de Deus no mundo. Os benefícios da salvação são inseparáveis de um estilo
de vida missionário e isto implica, entre outras coisas, o exercício do sacerdócio universal dos crentes em
todas as esferas da vida humana segundo os dons e ministérios que o Espírito de Deus outorgou livremente a
seu povo. A tarefa dos “pastores e mestres” é o “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu
serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).
4. Estilo de vida missional - A vida cristã em todas as suas dimensões, em nível pessoal e comunitário, é o
testemunho primordial da soberania universal de Jesus Cristo e do poder transformador do Espírito Santo.
A missão vai muito além das palavras: tem a ver com a qualidade de vida — ela se demonstra na vida que
restaura o propósito original de Deus para a relação do ser humano com o Criador, com o próximo e com a
criação.
CONCLUSÃO
A missão da igreja é na verdade a missão de Deus. Deus tem uma missão e esta missão precisa
encontrar uma igreja no mundo que a realize. Somos este tipo de Igreja? Que se dedica a cumprir a
missão de Deus para este mundo e não cria uma missão própria?
Alguém disse uma vez: “Não peça que Deus abençoe o que você está fazendo, mas descubra o que Deus
está fazendo e junte-se a Ele, pois isto já é abençoado.”
Isto define bem o nosso alvo, discernir e descobrir a missão de Deus e nos unir a Ele na realização desta
missão. Sendo a missão Dele, receberemos Dele a direção, a capacitação e o sucesso que só a obra de
Deus pode desfrutar.
PERSPECTIVAS ELESIÁSTICAS DA MISSÃO

Igreja Institucional Igreja Missional

Igreja é lugar. Pessoas “vão a igreja” (Templo) Igreja são as pessoas. Eu “sou a igreja” (comunidade)

Pastores percebidos como “pastores da igreja” Pastores são percebidos como


“pastores da comunidade”.

Foco principalmente na proclamação do Evangelho Proclamação e demonstração do Evangelho.


(kerygma-Grande Comissão) (Grande Comissão e “Maior Mandamento
(kerygma,Diaconia Marturia”)

Focada em “programas” da igreja (Ortodoxia) Focada em pessoas transformadas (Ortopraxia)

Missão como programa da Igreja Missão como Identidade da Igreja


(faz “missões”) (igreja é a missão)

Indicador de crescimento é “números”. Indicador de crescimento é saúde integral das


pessoas.

Estrutura complexa Estrutura simples e funcional


(que preserva o “status quo”) (potencializadora de criatividade)

Igreja representada como “Instituição” Igreja representada como “organismo vivo”.

Liderança baseada na Igreja Liderança baseada em valores do Reino.


(diretores executivos) (Líderes servidores)

Louvor como atração para atrair “buscadores” Louvor como reflexão e disciplina espiritual de
crescimento.

Líderes lideram uma “instituição” religiosa. Líderes lideram “um movimento” da Missão de Deus.

As pessoas são “membros” da igreja. Pessoas são “líderes missionais” da Obra de Deus.

Os membros percebem a igreja como “atração”. A igreja é um espaço para “encarnar” a missão de
Deus.

Igreja como centro de “informação”. Igreja como processo de “formação para


transformação”

Igreja como abastecedora Igreja é “provocadora” desafia o “crescimento de


(enche o tanque com o sermão a cada semana) dentro para fora” com disciplinas espirituais
integradas a vida cotidiana.

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