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CAPA LIVRO

Curso de Extensão e
Aperfeiçoamento em
Gestão Cultural

Gestão Cultural
Eixo III
Material Didático
Elaboração do Conteúdo
Cátia Lubambo
Francisco Humberto Cunha Filho
Selma Santiago
Suzane Christine Luz Fernandes

Revisão
Ana Lygia Almeida Cunha
Suzane Christine Luz Fernandes

Capa, Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica


Caio Arapiraca

Assistente Editorial
Julia Rodrigues

Conselho Editorial
José Miguel Martins Veloso(presidente)
Maria Cristina Ataíde Lobato
Selma Dias Leite

Diretora da EditAedi:
Cristina Lucia Dias Vaz

Copyright © 2014 Editora EditAedi


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser repro-
duzida, por qualquer processo, sem a permissão expressa dos editores.

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Curso de Extensão e

Caderno 3
Aperfeiçoamento em
Gestão Cultural

Gestão Cultural
Eixo III

editAedi
Assessoria de Educação a Distância UFPA

Belém-Pa
2014
Ministério da Cultura
Universidade Federal do Pará
Pró-Reitoria de Extensão
Diretoria de Apoio Cultural
Assessoria de Educação a Distância
Instituto de Letras e Comunicação
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa

Presidente
Dilma Vana Rousseff

Ministra da Cultura
Marta Suplicy

Universidade Federal do Pará - Reitor


Carlos Edilson de Almeida Maneschy

Universidade Federal do Pará - Vice-Reitor


Horácio Schneider

Pró-Reitor de Extensão
Fernando Arthur Freitas Neves

Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa


Sinfronio Brito Moraes

Assessoria de Educação a Distância


José Miguel Veloso

Instituto de Letras e Comunicação


Otacílio Amaral Filho

Núcleo de Altos Estudos Amazônicos


Fábio Carlos da Silva
Créditos Técnicos
Coordenação Geral
Fernando Arthur Freitas Neves

Coordenação Executiva
Vânia Helena da Silva Nogueira

Coordenação de Tutoria
Ana Lygia Almeida Cunha

Coordenação Pedagógica em EaD


Suzane Christine Luz Fernandes

Coordenação em Tecnologia da Computação


Silvério Sirotheau Corrêa Neto
Princípios e
modelos de
Execução gestão pública Gestão
financeira e estratégica da
orçamentária cultura

Legislação e Gestão
instrumentos compartilhada
jurídicos no
âmbito da Gestão Cultural e autogestão
cultura

Informações e Modelos
indicadores articulados
culturais Ferramentas e público-pricado
práticas de
gestão
Este livro é parte integrante do material didático-pedagógico do Curso de
Extensão e Aperfeiçoamento em Gestão Cultural, promovido pelo Ministério da
Cultura (MinC), realizado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do
Pará em parceria com a Assessoria de Educação a Distância o Instituto de Letras e
Comunicação e o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos e gerenciado financeiramen-
te pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa.
Desenvolvido na forma semipresencial, integrando ações educativas presen-
ciais e a distância, o Curso objetiva a formação de gestores e conselheiros em Cultu-
ra, tendo como um dos seus pressupostos norteadores a conceituação abrangente
de cultura como expressão simbólica, direito de cidadania e como vetor de desen-
volvimento. Propõe uma trajetória a ser construída e referenciada pelas instituições
e agentes envolvidos, em prol de ações e de políticas de cultura que causem impac-
to no desenvolvimento local, em bases sustentáveis.
Apresentação

Nesta etapa do nosso estudo, realizado a distância, que compreende o Eixo


Temático 3, correspondente ao Módulo IV do Curso de Extensão e Aperfeiçoamento
em Gestão Cultural, que tratará assuntos referentes a Gestão Cultural. Este eixo
tem como premissa apresentar os conceitos e os instrumentos específicos da área
cultural com relação à gestão pública e sua aplicabilidade em organizações culturais
do setor, os quais constituirão os conteúdos das temáticas das oito aulas elaboradas
para este módulo, que indicam leituras complementares e questões para reflexões
e debates, nos seguintes assuntos:

• Princípios e modelos de gestão pública – Busca-se promover reflexões sobre


os principais aspectos conceituais e teóricos da análise de políticas públicas, propi-
ciando uma visão integrada de suas dimensões, a partir do questionamento, o que
se toma por política e por política pública?
• Gestão compartilhada e autogestão – Abordam-se questões que forneçam base
para a discussão sobre gestão compartilhada e autogestão. Ao longo do estudo do
conteúdo são apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por algumas
informações empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indicação de
leituras complementares.
• Modelos de articulação público-privada – Suscitam-se reflexões sobre ques-
tões centrais que fundamentem a discussão sobre parceria púbico-privada no seg-
mento da cultura. Serão apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por
algumas informações empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indi-
cação de textos para leitura complementar.
• Gestão estratégica da cultura - Planejamento – Realizam-se reflexões sobre
as diversas possibilidades de gestão estratégica para a cultura, a partir do reconhe-
cimento da criatividade no gerenciamento de programas, projetos e equipamentos
culturais, observando diversas experiências contemporâneas nas áreas da gestão
cultural pública e privada.
• Ferramentas e práticas de gestão – Proporciona-se subsídios conceituais e ope-
racionais atualizados quanto ao uso das ferramentas e à práxis da gestão direciona-
da à área da cultura, de forma a capacitar os gestores culturais para tomar decisões,
executar políticas, planos, programas, projetos e ações culturais, em função da ins-
titucionalização da cultura como setor produtivo e da implementação das políticas
públicas para o setor.
• Informação e indicadores culturais – Analisam-se critérios e parâmetros refe-
renciais acerca da produção, coleta e registro de informações específicos do setor
cultural que estejam disponíveis para consulta e que possam ser tratados como
indicadores de avaliação de políticas culturais, de programas e de projetos.
• Direitos culturais no Brasil – Compreende o que o direito brasileiro entende
por cultura e por Direitos Culturais, estabelecendo diferença entre direitos e garan-
tias culturais, distinguindo, assim, de outros conceitos que com eles são confundi-
dos.
• Execução orçamentária e Financeira – Proporcionam-se subsídios conceituais
e operacionais atualizados quanto aos processos relacionados ao sistema de pla-
nejamento orçamentário brasileiro e à gestão financeira e orçamentária do setor
público.

Desejamos a todos uma boa leitura e participação em nossas discussões e


que os conteúdos apresentados abram novas perspectivas de ação junto às práticas
culturais em que estão inseridos.

Bom Curso!

A coordenação
Os Autores

Cátia Wanderley Lubanbo

Sou pesquisadora titular da Fundação Joaquim Nabuco, localizada no Recife,


e nesses últimos 25 anos tenho me movido pelo princípio de que a conjugação en-
tre pesquisa e formação constitui dinâmica imprescindível à geração e à propagação
de conhecimento.
Especificamente afinada com o tema do eixo de que faz parte este material
didático, apresento-me como docente permanente do Mestrado em Gestão Pública
para o Desenvolvimento do Nordeste da Universidade Federal de Pernambuco, com
atuação na área de Políticas Públicas e ênfase em Estudos do Poder Local. Desenvol-
vi, no âmbito do pós-doutorado recente, na Fundação Getúlio Vargas-SP, pesquisa
sobre Gestão Territorial. Atualmente, atuo como Responsável Estadual para a pes-
quisa Governança Metropolitana da PROREDES/IPEA.

Francisco Humberto Cunha Filho

Sou o Professor Humberto Cunha e minha formação acadêmica é no campo


do Direito: meu bacharelado foi na Universidade de Fortaleza – UNIFOR (onde sou
professor, atualmente), meu mestrado na Universidade Federal do Ceará - UFC e
meu doutorado na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Desde 1995 que
investigo a relação entre direito e cultura. Também tenho alguma experiência como
gestor cultural, pois já fui Secretário de Cultura de Guaramiranga e Conselheiro de
Cultura no Estado do Ceará.
Selma Maria Santiago Lima

Sou gestora cultural, atriz, diretora, dramaturga e professora da área de Ges-


tão Cultural. Possuo os títulos de bacharel em Sociologia, mestre em Gestão Cultu-
ral pela Universidade de Barcelona e especialista em Gestão de Produtos e Serviços
Culturais pela Universidade Estadual do Ceará. Sou professora de Gestão Cultural,
convidada, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, do SENAC/DF e da Univer-
sidade Federal do Pará. Para o Ministério da Cultura, atuei enquanto coordenadora
de Formação em Economia Criativa e da Ação Microprojetos Mais Cultura. Fui con-
sultora da UNESCO para apresentação de metodologia de identificação de Polos
Criativos. No Estado do Ceará, coordenei a área de Formação em Gestão Cultural
do Instituto Dragão do Mar e a área de Programação e Formação em Teatro do Cen-
tro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Fui assessora especial da Secretaria de Cultura
de Fortaleza e, na Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, coordenei a implanta-
ção do Projeto Cultura em Movimento – Secult Itinerante – e o Projeto Secult nos
Bairros. Atuou ainda enquanto pesquisadora e professora convidada de diversas
instituições do terceiro setor e de iniciativas públicas em municípios cearenses.

Suzane Christine Luz Fernandes

Sou graduada em Economia e mestre em Gestão e Desenvolvimento Regio-


nal e especialização em Planejamento e Gestão da Educação Fundamental, em In-
formática na Educação e em Mídias na Educação. Desenvolvo atividades técnicas e
docentes (formação inicial e continuada, na modalidade presencial e a distância)
relacionadas às temáticas de planejamento e gestão pública em elaboração de pro-
jetos e captação de recursos, avaliação de programas e projetos, e em tecnologia
de informação e comunicação na educação. Sou técnica da Secretaria de Educação
(SEDUC) do Estado do Pará e estou cedida desde 2007 à Universidade Federal do
Pará, onde desempenho atividades técnico-pedagógicas na Assessoria de Educação
a Distância (AEDI) com ênfase na ação avaliativa dos cursos ofertados a distância.
A experiencia profissional vivenciada na Assessoria de Planejamento (AS-
PLAN) da SEDUC possibilitou o desenvolvimento de habilidades na área de elabo-
ração de projetos para captação de recursos; programação e orçamento público;
e produção de diagnósticos educacional. Ainda na SEDUC, integrei a equipe de
implantação do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) Belém, pelo Programa
Nacional de Informática na Educação (ProInfo) e fui gestora da Coordenadoria de
Tecnologia Aplicada à Educação (CTAE), respondendo pelas ações dos Programas
TV Escola, Salto para o Futuro, Proinfo e Mídias na Educação desenvolvidos em
parceria com o Governo Federal.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...

(Fernando Pessoa)
Agradecimentos

Primeiramente a Deus, por ser essencial as nossas vidas, autor dos nossos
destinos, nosso guia, sempre presente na hora das tomadas de decisões.
Agradecemos a todos que estiveram presente nessa trajetória acadêmica:
Ao Prof. Fernando Arhtur de Freitas Neves, que acreditou e confiou na equi-
pe da DAC –PROEX.
Ao Professor José Marcio Barros e equipe que foram responsáveis pela con-
cepção do curso junto ao MINC.
A Profª Angela Andrade que tecnicamente contribuiu decisivamente na etapa
inicial de articulação e aprovação da proposta formativa no MINC.
A Professora Jane Sampaio que colaborou na elaboração da proposta peda-
gógica e Nalva Saba na área administrativa na UFPA.
E a todos que contribuíram para a realização deste projeto de formação do
Curso de Extensão e Aperfeiçoamento em Gestão Cultural: Equipe de Professores,
orientadores, coordenadores, palestrantes, tutores, suporte técnicos e administra-
tivos.
E em especial aos professores e técnicos respectivamente : Ana Lygia , Su-
zane Fernandes , Cincinato Marques , Josimar , Paulo Paixão, Leonardo Coelho de
Souza , Selma Santiago , Ivaize Rodrigues , Denise , Maria José , Silvério Sirotheau,
Francinaldo Rocha e a bolsista Josilane Moreira que contribuíram com a realização
acadêmica e administrativa.
Ao Minc Nacional e Minc Regional que estiveram presentes acompanhando
, propondo e contribuindo para uma melhor realização.
E aos e órgãos internos da UFPA (PROEX, , AEDI, NAEA,ILC, ICED e Fadesp).

A Coordenação
Sumário

Aula 1 23
Princípios e modelos de gestão pública

Aula 2 27
Gestão compartilhada e autogestão

Aula 3 39
Modelos de articulação público-privada

Aula 4 49
Gestão estratégica da cultura - Planejamento

Aula 5 65
Ferramentas e práticas de gestão

Aula 6 91
Informação e indicadores culturais

Aula 7 121
Legislação e Direito Cultural - Organização de instituições culturais

Aula 8 135
Execução orçamentária e Financeira.
Aula 1

Princípios e
Modelos de
Gestão Pública
Cátia Wanderley Lubambo

Objetivos
Nossa Aula 1 tem como objetivo promover reflexões sobre os principais
aspectos conceituais e teóricos da análise de políticas públicas, propiciando uma
visão integrada de suas dimensões. Nessa perspectiva, a primeira questão que se
coloca é o que se toma por política e por política pública?

Vamos dar início a nosso trabalho refletindo sobre o significado que assu-
mem alguns termos muito utilizados na área de atuação do gestor cultural: política,
política pública, bem público e bem privado. Tal reflexão será útil para alcançarmos
uma compreensão adequada da gestão pública, que é o objeto de nosso trabalho
nesta primeira aula.
Podemos dizer que a palavra política, numa acepção ampla, refere-se à re-
solução pacífica de conflitos. Mas a ideia de conflito pressupõe uma diversidade
de disputas e constitui um conjunto de relações de convivência que se destinam à
superação de eventuais conflitos. É justamente aí que se torna necessária a ação o
Estado.
O que quero dizer é que o estudo da formulação e da implementação de
políticas públicas corresponde à análise do Estado em ação, ou seja, do Estado
não como categoria abstrata, mas como um ator (ou um conjunto de atores) que
produz políticas públicas.
Mais amplamente, então, podemos dizer que o termo política pública pode
ser definido como o Estado em ação.
Por outro lado, numa acepção mais restrita, a política pública refere-se ao
conjunto de decisões e ações postas em prática pelo Estado, relativas à alocação
(distribuição) de bens ou valores nos diversos setores. As ações são estrategicamen-
te selecionadas de forma a viabilizar a implementação das decisões tomadas.
Pois bem, a dimensão pública da política vem a ser dada pelo seu caráter
imperativo (autoridade do poder público) e pela característica não rival do bem
ofertado: ser público.
O que chamamos de bens públicos (RUA, 1999) são considerados aqueles
cujo consumo não pode ser individualizado pela impossibilidade intrínseca de se
excluírem outros atores não-participantes da troca ou do acesso a seus benefícios.
Dessa forma, o consumo deste tipo de bem é de natureza não rival, uma vez que o
consumo do bem por um consumidor não diminui o quantum que, potencialmen-
te, outros podem consumir (por exemplo, a saúde pública, a segurança nacional,
etc.).
Os bens privados, diferentemente, são aqueles cujo consumo pode ser indi-
vidualizado por meio das opções e escolhas do consumidor, ou seja, o consumidor
revela, individualmente, suas preferências de consumo na busca de sua satisfação
no mercado. Nesse caso, o consumo é rival e a exclusão de outros consumidores
pode ser realizada.
Após apresentar esses conceitos, cuja revisão considero importante neste iní-
cio de nosso estudo, lanço um questionamento para reflexão e discussão no fórum
de nosso ambiente na plataforma Moodle:

Tratar o conceito de público-alvo para uma política de atendimento priori-


tário no âmbito de uma ação pública seria comprometer a noção de bem público?

Mas, afinal, o que se entende por gestão pública?


Proponho, a partir deste ponto, uma reflexão para se identificar fatores expli-
cativos centrais que podem ser associados ao desempenho dos governos.
As diferenças encontradas entre governos distintos no que diz respeito ao

24
Aula 1 - Princípios e Modelos de Gestão Pública

desempenho da gestão pública estão definidas por fatores específicos, alguns deles
bastante conhecidos e outros que ainda se procura desvendar. Isso revela não só
a variedade de contextos históricos locais, como também a diversidade de arran-
jos institucionais e políticos que o Estado e a sociedade vêm construindo. Alguns
estudos indicam que fatores estruturais como o desempenho fiscal dos governos
determinam a possibilidade maior ou menor de sucesso de um governo local. Ou-
tros trabalhos apresentam fatores associados diretamente ao nível e à natureza das
demandas e à consequente forma de provisão social como sendo fundamentais ao
bom desempenho (ou não) da gestão. Outros estudos ainda sugerem que as inves-
tigações prossigam na perspectiva das efetivas condições político-institucionais da
implementação das políticas públicas nos diferentes níveis da federação. A implan-
tação do próprio Sistema Nacional de Cultura, que propõe a articulação das três
esferas governamentais e a sociedade civil, é um caso bem ilustrativo dos ditames
daquelas condições referidas.
Diante da evidência de tantos fatores distintos que parecem importar para o
desempenho da gestão pública, propõem-se metodologicamente as seguintes ques-
tões:

- Existe uma correlação entre os atributos da gestão e o resultado do seu


desempenho?
- Que atributos seriam estes?
- Quais destes atributos teriam uma maior “determinância” no resultado da
gestão?

Essas questões funcionarão como guia na leitura do artigo cuja referência


apresento abaixo e que indico para a complementação do que tratamos nesta aula.
O texto consta em nosso ambiente no Moodle como leitura complementar.

LUBAMBO, Cátia W. (2006). Desempenho da Gestão Pública: que variáveis


compõem a aprovação popular em pequenos municípios? Sociologias (UFRGS),
v.08, p.86 - 125.

Se você já leu o artigo indicado para leitura complementar, já percebeu


que é evidente a multiplicidade de modelos de gestão pública que se apresentam,
em função da presença ou não de fatores de diversas naturezas. Com base nesse
pressuposto, apresento, a seguir, um modelo simplificado de gestão (LUBAMBO
25
e COELHO, 2005) que propõe uma organização das dinâmicas da esfera pública.

Neste ponto dos nossos estudos, proponho que sejamos capazes de apresen-
tar uma definição de capacidade de gestão pública, tendo como base os principais
agentes que se envolvem numa ação de política cultural. Comecemos pelo nível
municipal, para depois ampliar nosso foco para a dimensão da unidade da federa-
ção e, posteriormente, para o plano nacional.

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Referências bibliográficas
LUBAMBO, Cátia W. (2006). Desempenho da Gestão Pública:
que variáveis compõem a aprovação popular em pequenos municípios?
Sociologias (UFRGS), v.08, p.86 - 125.
LUBAMBO, C. W.; COELHO, D. B. (2005). Atores Sociais e Estra-
tégias de Participação no Programa Governo nos Municípios. Petrópo-
lis: Vozes, v. 1. 152p.
RUA, Maria das Graças (1999). Análise de Políticas Públicas: con-
ceitos básicos in Maria das Graças Rua e Maria Izabel Valladão de Car-
valho (orgs). O estudo da política: estudos selecionados. Paralelo 15,
pp. 231-261.

Sugestões de leitura

LÓPEZ, Jesus Mejías (2008). Estructuras y princípios de gestión del


patrimônio cultural municipal. Gijón – Espanha: Ediciones Trea, p. 09 a
36.
SOUZA, Celina (2006). Políticas Públicas: uma revisão da literatura
in Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16 jul/dez, pp.20-45.
Aula 2

Gestão compartilhada e
autogestão
Cátia Wanderley Lubambo

Objetivos
Na Aula 2, serão focalizadas as principais questões que lastreiam a discussão
sobre gestão compartilhada e autogestão. Ao longo do estudo de seu conteúdos
serão apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por algumas informa-
ções empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indicação de leituras
complementares.

Partindo do conteúdo estudado na aula anterior, buscaremos, nesta Aula 2,


aprofundar a discussão a respeito de um aspecto particular da administração das
políticas públicas ou, retomando os conceitos anteriores, um aspecto específico do
Estado em ação. A abordagem da gestão compartilhada e da autogestão encontra
fundamento no debate conceitual e teórico de um conceito bastante usual da análi-
se de políticas públicas. Trata-se do conceito de governança.
A compreensão do conceito de governança nos permitirá não apenas alcan-
çar os fundamentos da gestão compartilhada e da autogestão, mas também enten-
der a essência comum entre distintos modelos de organização no âmbito público.
Não obstante, antes de adentrarmos na definição de governança, cabe fazer uma
pequena análise preliminar das ideias de gestão compartilhada e de autogestão.
Espera-se que, após essa breve reflexão, você, aluno, possa conhecer esses concei-
tos inscritos na lógica mais ampla abarcada pelo conceito de governança e alguns
outros conceitos complementares que auxiliarão sua compreensão.
A própria etimologia desses dois conceitos já nos permite diversas inferên-
cias sobre seu significado. À primeira vista, a autogestão transmite uma ideia de
independência e autossuficiência, podendo chegar quase ao isolamento. Num ou-
tro extremo, a gestão compartilhada respalda uma imagem de interdependência,
multidisciplinariedade e integração. Esses tipos de organização do espaço público
parecem, portanto, representar dois extremos opostos de um mesmo espectro.
Entretanto, ao longo dessa aula, vamos nos concentrar no conceito de go-
venança como elemento teórico unificante, que permite aliar essas duas formas
distintas de gestão dentro da dinâmica mais ampla de organização pública, ou, para
ser mais precisa, de governança pública. A forma como a ideia de governança alia a
autonomia dos gestores e instituições (autogestão) às demandas complexas e mul-
tidisciplinares da realidade contemporânea por meio da integração de serviços e
informações (Gestão Compartilhada) é o tema desta aula.
Após essa pequena digressão, passemos ao nosso objeto de estudo. Em que
consiste o conceito de governança?
São várias as acepções desse termo. Vejamos algumas delas:

• “Governança é a nova gestão pública ou gerencialismo.” (Kernaghan, Marsons


and Borins, 2000)
• “Governança é a estrutura das instituições políticas.” (National Research Council,
1999)
• “Governança consiste em abordagens de governo mais orientadas ao mercado.”
(Kettle 1993; Nye and Donahue, 2000)
• “Governança é o desenvolvimento de capital social, da sociedade civil e de altos
níveis de participação cidadã.” (Hirst, 2000; Kooiman, 2001; Soresen, 2004)
• “Governança é cooperação interjurisdicional e gerenciamento de redes.” (Frede-
rickson, 1999; O’Toole, 2003; Peters and Pierre, 1998)
• “Governança é globalização e racionalização.” (Pierre, 2000)

Vemos que não precisamos sair do debate acadêmico para encontrar defini-
ções distintas e muitas vezes opostas do conceito de governança. Esta imprecisão
conceitual reflete não apenas a riqueza do debate em torno desse conceito, mas a
atual imprecisão acerca do próprio papel do Estado e das formas de gestão de suas
políticas. O conceito de governança pública se apoia em dois outros conceitos que
vêm passando por mudanças cada vez mais intensas e nele se refletem tais mudan-
28
Aula 2 - Gestão compartilhada e autogestão

ças.
De um lado, a expansão (histórica e teórica) da democracia liberal promove
constantes abalos na estrutura de legitimidade do Estado (componente democráti-
co), assim como constantes mudanças nas fronteiras da legitimidade de suas ações
(componente liberal). No outro extremo, a constante evolução nas técnicas de ad-
ministração e gestão de pessoas também têm se dado com impressionante rapidez,
ambas potencializadas pelas ferramentas tecnológicas e pela evolução da psicologia
comportamental.
Consequentemente, os diversos conceitos de governança expressam diver-
sos posicionamentos acerca de cada um desses temas, gerando distintas consequ-
ências para a gestão pública e, consequentemente, para a gestão cultural. A própria
ideia da valorização da cultura e da sua gestão por parte do Estado advém de uma
posição bastante específica do papel e das bases de legitimidade do Estado, que não
é nada consensual. Entretanto, essa diversidade deve ser vista como riqueza e não
confusão, para que possamos dela extrair o conceito de governança que subsidiará
nossos estudos.
Em casos como este, em que o objeto de estudo é de difícil definição, é
aconselhável começar por definir o que não pode ser chamado de governança, para
então podermos tratar do seu conteúdo constitutivo. O termo governança estabe-
lece nexos empíricos e conceituais com outros termos, dos quais, não obstante, é
distinto. Uma confusão frequente se dá entre os seguintes conceitos:

Governo x Governança x Governabilidade


Enquanto o termo governo se refere à “estrutura e à função das instituições
públicas”, a governabilidade consiste na “capacidade política de governar derivada
da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade” e a gover-
nança pode ser definida como “a forma como o governo é operado”.
Para contarmos com uma visão mais ampla, podemos definir Governança
como:

Governança, nesta perspectiva, seria a ação de incorporar a política


nas discussões sobre o desenvolvimento, ultrapassando uma acepção cen-
trada no governo, focada na eficiência obtida por meio de programas de ajustes,
para chegar a uma acepção centrada na sociedade, na ideia e na mediação
política entre sociedade civil, mercado e Estado, o que nos faz refletir sobre gover-
nabilidade.

29
A grande inovação que incorpora o conceito de governança é justamente o
abandono de uma estrutura rígida do Estado e sua substituição por uma concepção
flexível e adaptável do mesmo, de acordo com o contexto em que está inserido.
Isso justifica que distintas concepções sejam harmonizadas dentro do mesmo con-
ceito. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a governança pública trabalha com a
ideia de uma abordagem interdisciplinar e intersetorial das demandas da população
(gestão compartilhada), ela o faz promovendo a autonomia e a capacidade de de-
cisão dos diversos atores localizados na cadeia de processos das políticas públicas
(autogestão). O mesmo pode ocorrer ser exportado para a gestão cultural, tanto de
maneira global, quanto nos seus diversos programas específicos.
A ideia de governança coloca como foco da gestão pública a interação entre o
Estado, o mercado com todos os seus elementos e as diversas entidades da socieda-
de civil. É justamente esse foco nas interações, e não mais na estrutura adminsitrati-
va estanque, que permite a ampla variação das concepções de governança, sem que
isso invalide o conceito subsidiário das mesmas. A ideia de governança permite uma
aproximação muito mais fiel do Estado à complexidade da realidade e das tarefas e
responsabilidades assumidas por este nas sociedades contemporâneas.

A governança, mesmo com a suas fragilidades, é o conceito mais útil dispo-


nível para descrever e explicar as forças e articulações entre as três esferas centrais
apresentadas no diagrama acima. Entretanto, ainda que conceitualmente harmo-
niosas, tais forças e articulações se estabelecem em arenas políticas de disputas, de
negociações ou de consensos.
Introduziremos agora um segundo conceito, que nos ajudará a compreen-
der melhor esse quadro de interações. A noção de arenas de políticas públicas tem
sido uma das ideias clássicas que orientam estudos e análises de políticas públicas.
30
Aula 2 - Gestão compartilhada e autogestão

Theodore Löwi, em 1964, apresentou um modelo que distinguia três arenas para o
Estado em ação: a distributiva, a redistributiva e a regulatória.
Em 1985, Löwi incorporou ao seu modelo a arena constituent para dar con-
ta de políticas públicas voltadas à produção das “regras sobre as regras”, as quais
estabelecem e regulamentam a divisão de poderes, autoridades e competências das
diversas organizações no interior da estrutura burocrática. Ou seja, a arena consti-
tuent refere-se às políticas públicas voltadas para a “organização do Estado”.
No seu percurso analítico, Löwi distingue duas funções centrais do Estado
em ação: as distributivas e as não-distributivas.
As “funções” distributivas correspondem às arenas distributivas e redistribu-
tivas. O Estado e suas organizações implementam políticas voltadas para distribuir
e redistribuir benefícios entre grupos, tendo como questão central quem perde e
quem ganha com a implementação de tais políticas.
As “funções” não-distributivas correspondem às arenas regulatórias e cons-
tituent. O Estado e suas organizações implementam políticas voltadas à produção
de regras. Como as clientelas são difusas ou muito amplas, as agências estão menos
ligadas ao problema de quem ganha e quem perde e o ambiente político possui um
menor grau de conflito.
O autor postula, ainda, que as organizações tendem a se comportar de modo
diferente, a depender da natureza dessas funções. Dentro desta perspectiva, cada
uma das arenas políticas acarreta características e comportamentos próprios por
parte dos atores.

Uma sugestão de pesquisa individual pode ser feita neste ponto de nosso
estudo. Observe as seguintes questões:

- Quais são os atores no âmbito da esfera governamental que se revelam


centrais na sua atuação profissional no campo da cultura?
- Quais são os atores no âmbito do setor privado que se revelam centrais na
sua atuação profissional no campo da cultura?
- Quais são os atores no âmbito da sociedade civil que se revelam centrais
na sua atuação profissional no campo da cultura?

31
Pesquisa

Faça um exercício de (re)composição, em abstrato, dessa rede de


atores e de suas estratégias de ação. Em seguida, analise os fatores
que as condições atuais de governança colocam para os agentes.

Proponho, neste ponto de nossa trajetória, que sejamos capazes de apresen-


tar uma definição para gestão compartilhada. Para isso, podemos observar a figura
de uma rede, na qual os nós são os atores que apresentam as principais demandas
que se envolvem numa ação de política cultural. Visualizar situações em nível mu-
nicipal, em nível estadual e também no plano regional tornará a proposição ainda
mais próxima da realidade. Abaixo segue um diagrama que procura representar a
Matriz Institucional para Gestão Compartilhada do Parque Histórico Nacional
dos Guararapes, localizado na Região Metropolitana do Recife e que serve como
uma ilustração bastante adequada.

Diagrama elaborado por Gisela A. Montenegro durante atividade do Curso


de Mestrado Profissional em Gestão Pública. UFPE, 2013.

32
Aula 2 - Gestão compartilhada e autogestão

Proponho que façamos, agora, analogias com exemplos vivenciados em nos-


sos municípios.

Como se compõe a matriz de atores e que estratégias estes desenvolvem em cada


um desses exemplos?

Apresento um caso de gestão compartilhada que discutiremos na plataforma


Moodle, por meio da ferramenta chat:

CASAS DE CULTURA POPULAR – RN


O programa Casas de Cultura Popular (CCP) foi implantado em 29 muni-
cípios do Estado do Rio Grande do Norte. As CCP são equipamentos gerenciados
pela Fundação José Augusto. O modelo evidencia formas de gestão compartilhada
que têm contribuído para o desenvolvimento da cultura local, integrado à classe
artística e à administração pública.
Questões centrais para o debate: as ações realizadas nas CCP são de interes-
se da sociedade civil? As CCP atendem à proposta pela qual foi elaborada? Estudo
exploratório de Auricéia Lima (2012) indica que as Casas de Cultura Popular são
equipamentos de real transformação político-sociais da sociedade civil e de desen-
volvimento cultural.

33
Fonte: Fundação José Augisto/Casa de Cultura Popular

34
Referências bibliográficas
FREDERICKSON, H. GEORGE, 1999. “The Repositioning of Ameri-
can Public Administration.” PS: Political Science, pp. 701-11
HIRST, PAUL. 2000. “Democracy and Governance.” in Debating Go-
vernance: Authority, Steering, and Democracy, Jon Pierre, ed., Oxford:
Oxford University Press, 13-35.
KOOIMAN, J. ed. Modern Governance. London: SAGE.
KERNAGHAN, KENNETH, BRIAN MARSON AND SANFORD BO-
RINS. 2000. The New Public Organization. Toront: Institute of Public Ad-
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LIMA, AURICÉIA, 2012. Casas de Cultura Popular: uma gestão
compartilhada, participativa e descentralizada. Trabalho de Conclusão
do Curso de Formação de Gestores Culturais dos Estados do Nordeste.
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O’TOOLE, LAURENCE J. JR. 2003. “Intergovernmental Relations in
Implementation” in Handbook of Public Administration, eds. B. Guy Pe-
ters and Jon Pierre.
PETERS, B. GUY AND JON PIERRE. 1998. “Governance Without Go-
vernment? Rethinking Public Administration.” Journal of Public Adminis-
tration Research and Theory 8: 227-43.
PIERRE, JON, ed. 2000. Debating Governance: Authority, Steering,
and Democracy. Oxford: Oxford University Press.
SORENSEN, GEORG 2004. The Transformation of the State: Beyond
the Myth of Retreat. London: Palgrave Macmillan.

Sugestões para leitura

FRANCO, M. e FERREIRA, T. (2007). Um estudo de caso sobre as


organizações que aprendem in COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
E GESTÃO, 2007, VOL. 13, N.º 2, 169-189. http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/cog/
v13n2/v13n2a03.pdf
MAJONE, Giandomenico (1999) Do Estado positivo ao Estado regula-
dor: causas e conseqüências de mudanças no modo de governança in Revis-
ta do Serviço Público Ano 50 Número 1 Jan-Mar. http://www.enap.gov.br/index.
php?option=com_docman&task=doc_view&gid=2707
TENÓRIO, F. Cidadania in TENÓRIO, F. (2007) (Org) Cidadania e Desenvol-
vimento Local. Rio de Janeiro; FGV; Ijuí: Ed. Unijuí.
Aula 3

Modelos de
Articulação
Público-Privada
Cátia Wanderley Lubambo

Objetivos
Nossa Aula 3 tem como objetivo suscitar reflexões sobre questões centrais
que lastreiam a discussão sobre PARCERIA PÚBICO-PRIVADA NO SEGMENTO DA
CULTURA. Serão apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por algu-
mas informações empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indica-
ção de textos para leitura complementar.

No Brasil, o termo “parceria” tem figurado, especialmente nas últimas déca-


das, como uma espécie de panaceia, como alternativa para os impasses da gestão
pública. Comumente ocorre em discursos e projetos das mais diferentes procedên-
cias, entre as quais a área da cultura. As parcerias público-privadas (PPP) emergem
como um mecanismo potencial de suporte, criado como alternativa para suprir as
deficiências do Estado em momentos de colapso entre o aumento da demanda por
serviços públicos e a insuficiência de recursos para satisfazê-las.
Nossa aula será divida em duas partes. A primeira reúne as principais contri-
buições conceituais relacionadas ao tema das parcerias, tendo início com a contex-
tualização geral da administração pública municipal. Na segunda parte, buscaremos
introduzir comentários pontuais sobre o assunto e finalizaremos com a proposição
de um conceito de parceria público-privada

Parte I – Contextualização
I.1 Apontamentos sobre a reforma do Estado

A chamada crise do Estado origina-se no momento em que se evidencia “o es-


gotamento das bases da regulação estatal e política construída nos chamados ‘Trinta
Anos Gloriosos’” (SILVA, 1998: 5), quando predominou o chamado Estado do Bem-
-Estar Social ou Welfare State. Para Silva (1998), cinco movimentos concomitantes
caracterizam esse momento: 1) mudança das bases produtivas e de financiamento
das economias nacionais e subnacionais; 2) alterações na articulação econômica e
geopolítica entre as nações; 3) transformações nas formas e nos mecanismos de
organização e representação de interesses; 4) alterações no formato da estrutura
social e nos níveis de desigualdade e heterogeneidade prevalecentes; e 5) transfor-
mações no formato dos espaços regionais e nacionais.
De forma resumida, pode-se afirmar que fatores de ordem social e econô-
mica geraram uma espécie de abismo entre a capacidade de ação do Estado e as
expectativas da sociedade e do mercado, e uma das principais causas para isso,
segundo as correntes mais conservadoras predominantes naquele momento, era a
ineficiência do próprio Estado, devido à amplitude, ao excesso e, muitas vezes, à
contradição no exercício das suas responsabilidades.
No extremo, tais medidas implicariam o desmonte estrutural do estado buro-
crático e a organização de um estado gerencial, cujas “palavras de ordem” passariam
a ser eficiência e foco nos resultados. Esse diagnóstico deu origem ao receituário
de uma reforma que consistiria, basicamente, no trinômio estabilização, liberaliza-
ção e privatização. A despeito desse cenário, o movimento de redefinição do papel
do Estado vem sendo gradativamente implementado e está na base das discussões
sobre parcerias público-privadas, constituindo um dos fatores determinantes para a
atualidade do debate sobre PPP. Pois, se num primeiro momento, a simples ideia de
discutir a participação do Estado parecia extravagante, hoje se admite (e até mesmo
se estimula) o aumento da participação dos demais setores sociais nos negócios
públicos – um forte indício de que o assunto ainda tende a se difundir.
Sem prejuízo de outras propostas, mais criativas e inovadoras, nem preten-
dendo oferecer uma resposta única à questão, de todas as opções atualmente exis-

40
Aula 3 - Modelos de Articulação Público-Privada

tentes para o equacionamento da crise financeira é a terceira alternativa aquela que


se destaca como a mais oportuna no atual contexto. Ou seja, é a partir da transfe-
rência ou do compartilhamento de atividades e responsabilidades tradicionalmente
ligadas ao setor público para o setor privado ou semi-privado que se vislumbram
perspectivas de minimizar o impasse descrito anteriormente. E aí está um outro
forte argumento para a ascensão das PPP.

I.2 Origens do debate sobre parcerias

No Brasil, bem como em outros países, antes mesmo da formação dos Es-
tados nacionais, já se praticavam acordos entre o setor público e a iniciativa pri-
vada. As expedições exploratórias de navegação, o próprio sistema de capitanias
hereditárias e parte significativa da infraestrutura ferroviária, de telecomunicações
e iluminação pública implantada no país ao longo da história podem ser entendidos
como exemplos embrionários de PPP. Destacam-se também as irmandades e ordens
religiosas que “cuidam de assistência social, cemitérios, orfanatos e educação, re-
cebendo dotações de cofres públicos e contribuições privadas” (PASIN e BORGES,
2003: 179). Pasin e Borges (2003) consideram operações como a Hidrelétrica de
Itaipu e a de Machadinho, bem como os programas de financiamento a universida-
des privadas, como tipos de PPP.
A Constituição de 88, embora não faça menção explícita ao termo parceria,
prevê em diversos artigos formas de relacionamento entre os setores público e pri-
vado ou autoriza a exploração de determinadas atividades, notadamente aquelas
ligadas à prestação de serviços nos setores de telecomunicações, radiodifusão, na-
vegação aérea, aeroespacial e infraestrutura aeroportuária, transporte ferroviário
e aquaviário, transporte rodoviário, portos marítimos, e ainda previdência, saúde,
educação, etc.
Assim, as parcerias atendem tanto à necessidade do Estado quanto à vontade
do setor privado. Todavia, se, de um lado, o conflito de interesses é inevitável, resta
saber em que medida esse arranjo poderá ser efetivamente favorável ao interesse
público, sendo este o ponto mais polêmico do debate sobre a emergência das PPP.
A questão central para nossa reflexão é:

Compreender em que medida esse processo de “interação” entre as partes reflete


um avanço na forma de gestão da coisa pública ou um retrocesso no sentido do patrimo-
nialismo, da promiscuidade entre o público e o privado ou de um retorno ao liberalismo.

41
No âmbito jurídico, Di Pietro (2002: 34) afirma que “o vocábulo parceria é
utilizado para designar todas as formas de sociedade que, sem formar uma nova
pessoa jurídica, são organizadas entre os setores público e privado para a conse-
cução de fins de interesse público”. Mas existem, de fato, diversos grupos sociais,
fora do âmbito empresarial e governamental, com os quais o poder público pode e
tem formalizado acordos e parcerias, entre as quais se destacam as organizações so-
ciais, as organizações não-governamentais e outras entidades de direito privado sem
fins lucrativos. Considerando simplesmente a natureza jurídica das partes envolvi-
das, estes acordos também poderiam ser chamados de parcerias e são inúmeros os
exemplos de cooperações entre essas partes, de modo que são vários os arranjos e
as formas de parcerias (FARAH, 2000).
Assim, a partir dessas considerações, identificam-se três níveis de parcerias
possíveis: 1) parceria público-público, 2) parceria público-social e 3) parceria pú-
blico-privada. A primeira é aquela firmada entre organizações e entidades ligadas
à esfera pública, ainda que em setores e níveis hierárquicos distintos. O segundo
tipo refere-se aos arranjos feitos por quaisquer entidades da esfera pública com as
organizações sociais, incluindo organizações não-governamentais (ONG), organiza-
ções da sociedade civil de interesse público (OSCIP), cooperativas, associações de
moradores, entidades de classe, etc.
A parceria público-privada, como o próprio nome sugere, prevê que um de-
terminado acordo será realizado, especificamente, entre entidades ligadas à esfera
pública e organizações privadas. Assim, conforme mencionado, relações formais ou
informais estabelecidas entre os poderes públicos, entes da federação, instituições
públicas ou países podem ser objeto de convênios, acordos, termos de compromis-
so ou quaisquer outros instrumentos jurídicos, mas não se configuram, para fins
desta reflexão, como parcerias público-privadas.
Destaca-se ainda outra forma de parceria, relativamente inovadora no âmbito
da gestão pública, por meio da qual o setor privado ou as organizações sociais as-
sumem ou dividem voluntariamente determinadas atividades com o setor público.
Esse tipo de experiência, no caso do setor empresarial, demonstra uma predispo-
sição de alguns segmentos em participar de programas de desenvolvimento social
com foco, sobretudo, na ideia de responsabilidade social, que tende a agregar valor
à imagem das empresas.
Por fim, outra definição possível é extraída da Lei das PPP (Lei nº 11.079,
30/12/2004), segundo a qual parceria público-privada é um “contrato administra-
tivo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa” (Art. 2º), sendo
a primeira a concessão de serviços públicos ou obras públicas que envolvem, “adi-
cionalmente à tarifa cobrada dos usuários, uma contraprestação pecuniária do par-
42
Aula 3 - Modelos de Articulação Público-Privada

ceiro público ao parceiro privado” (§ 1º); e a segunda, “o contrato de prestação de


serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que
envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens” (§ 2º).

Parte II – Conceitos e Definições


II.1 Em busca de um conceito

Considerando a diversidade de conceitos e interpretações para o termo,


entende-se por parceria público-privada um acordo formal de cooperação en-
tre o setor público e a iniciativa privada para a implantação de projetos ou
realização de atividades de interesse público, cuja responsabilidade pelo fi-
nanciamento, investimento e execução é proporcionalmente compartilhada
pelos dois entes, em termos de riscos e benefícios, sendo estes advindos da
utilização ou exploração do próprio objeto.
Neste ponto de nossa reflexão, proponho considerar na seguinte perspectiva
o conceito de PPP:

Acordo formal de cooperação entre o setor público e a iniciativa privada para im-
plantação de projetos ou realização de atividades de interesse público, cuja responsabili-
dade pelo financiamento, investimento e execução é proporcionalmente compartilhada
pelos dois entes, em termos de riscos e benefícios, sendo esses advindos da utilização ou
exploração do próprio objeto.

Para pensar em PPP na área da Cultura

Proponho uma pesquisa para identificar em seus municípios casos


de parcerias público-privadas, realizadas no âmbito municipal na
área da cultura, nos quais foram celebrados arranjos locais entre o
setor público e o privado.

Para identificar casos de PPP, você poderá considerar três fontes: atas de reu-
niões do Conselho de Cultura; matérias em jornal de grande circulação local, que

43
mencionem algum tipo de cooperação entre os setores público e privado para a
consecução de um projeto; depoimentos de gestores, técnicos e representantes
dos setores público e privado, por meio da aplicação das cinco perguntas a seguir,
relativas ao tema:

1) O que você entende por parceria público-privada?


2) Você acredita no instrumento como alternativa para viabilizar projetos de melho-
ria da gestão cultural?
3) Você destaca algum projeto realizado no município que possa ser considerado
como PPP?
4) Quais as principais dificuldades que você vislumbra para a realização de parce-
rias?
5) Quais as oportunidades que você identificava no âmbito da gestão local?

É importante lembrar-se de que nem todo acordo entre a prefeitura e um


empreendedor privado, mesmo quando se trata de realizar uma intervenção de
interesse público, pode ser considerado uma parceria se não for sistêmico nem
autossustentável (gerencial e financeiramente), se não mobilizou um número sig-
nificativo de atores e/ou não gerou compromissos de médio e longo prazo, etc. A
ênfase neste tipo de ação decorre, possivelmente, do grau de visibilidade que a
mesma proporciona para os seus patrocinadores (ou “parceiros”).
Outro dado relevante a ser observado é que, por meio da aplicação das leis
de incentivo cultural, esse tipo de iniciativa permite às empresas deduzir do impos-
to de renda parte do investimento realizado, ou seja, uma parcela da ação aparen-
temente financiada pelo setor privado, a rigor, utiliza recursos públicos. São exem-
plos típicos de iniciativas de patrocínio cultural e/ou responsabilidade social
que podem ser aceitas como formas bem sucedidas de cooperação entre o
poder público e a iniciativa privada, mas não convém serem reconhecidas
como parcerias público-privadas.
É possível, por fim, que, na busca dos depoimentos, a abrangência do con-
ceito de parceria público-privada, a depender do interlocutor, varie desde ideias
de ajuste e responsabilidade, com conotação mais voltada para as questões das
obrigações, responsabilidades e contrapartidas, até a ideia de cooperação, compar-
tilhamento e interesse mútuos. Todavia, a despeito da constatação acima, também
é possível afirmar que alguns desses arranjos são formas embrionárias de PPP
e que se constituem movimentos de cooperação intersetorial que sinalizam um
movimento positivo de renovação e diversificação das práticas tradicionais
de atuação do poder público, alternativo às soluções extremas do Estado onipre-
44
Aula 3 - Modelos de Articulação Público-Privada

sente/provedor e do Estado liberalizante/regulador.


As múltiplas categorias evidenciadas na pesquisa certamente não abrangerão
a totalidade dos arranjos cooperativos entre os setores público e privado no âmbito
da gestão da cultura. Contudo, para que sejam tomadas como PPP, precisam ser
dotadas de características particulares, mencionadas ao longo deste texto, mas que
podem ser sintetizadas a partir dos seguintes parâmetros:

1) PPP são acordos voluntários e formais de cooperação entre os setores pú-


blico e privado.
2) PPP têm como principal objetivo a implantação de projetos ou a realização
de atividades de interesse público.
3) PPP envolvem recursos e a responsabilidade pelo financiamento, investi-
mento e execução são proporcionalmente compartilhadas pelos atores.
4) PPP pressupõem riscos e benefícios, advindos da utilização ou exploração
do objeto da parceria.
5) PPP são construídas de forma compartilhada, pressupõem liberdade de
adesão e equidade de poder decisório.
6) PPP demandam a criação de uma entidade específica, com autonomia fi-
nanceira e gestão profissional compartilhada, bem como aporte de garantias,
de ambos os setores.
7) Nas PPP, a situação “com projeto” é, seguramente, mais vantajosa do que
a situação “sem projeto”.

II.2 Comentários Finais

As reflexões aqui apresentadas seguem na direção de constatar que as par-


cerias público-privadas podem ser importantes instrumentos de suporte à gestão
pública como um todo e na área cultural, em especial junto ao gerenciamento de
equipamentos públicos e à viabilização de projetos de formação e capacitação. É
importante ressaltar que apesar das PPP emergirem na gestão local como alternativa
ao contingenciamento dos recursos, elas não devem ser adotadas como solução
nem se aplicam a todos os casos. Logo, não podem ser vistas apenas como fórmula
para “deixar de gastar”, mas, sobretudo, como alternativas para promover o desen-
volvimento cultural de maneira coordenada e sustentável.
Importa ressaltar que a defesa de expansão dos projetos de PPP não significa,
necessariamente, uma proposta de privatização integral da coisa pública. Os casos

45
de sucesso de parcerias público-privadas abundam tanto quanto os de fracassos – o
que ocorre, aliás, em quase todos os tipos de política pública. Os fatores determi-
nantes para um ou outro resultado decorrem de um grande número de variáveis,
controláveis ou não, a depender da sua natureza e do grau de informação sobre es-
tas. Todavia, o que se percebe é que quanto mais inovadora parece uma ideia, mais
arriscada se mostra a sua implementação e, portanto, mais cuidados são exigidos.
A análise de outras experiências é um bom procedimento para evitar incorrer nos
erros já cometidos pelos outros, mas não é suficiente para evitar os próprios erros.
O domínio do objeto a ser trabalhado, a seriedade, a lisura na condução dos proces-
sos e o comprometimento das partes envolvidas são fatores essenciais em qualquer
tipo de projeto e igualmente aplicáveis às parcerias público-privadas.

46
Referências bibliográficas
BRITO, Manuelita Falcão. Ensaio de parcerias público-privadas
como instrumentos de gestão e desenvolvimento urbano. Dissertação
de mestrado apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão de Políti-
cas Públicas, da Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2005.
DI PIETRO, Maria Sylvia Z. Parcerias na administração pública:
concessão, permissão, franquia, terceirização e outras formas. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.
FARAH, Marta F. S. Parcerias, novos arranjos institucionais e po-
líticas públicas locais. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, vol. 18,
abril de 2000.
PASIN, Jorge A. B.; BORGES, Luiz F. X. A nova definição de par-
ceria público-privada e sua aplicabilidade na gestão da infra-estrutura
pública. Revista do BNDES, vol. 10, n. 20. Rio de Janeiro, dezembro de
2003, p. 173-196.
SILVA, Pedro L. B. Reforma do Estado e política social no Brasil:
êxitos, problemas e desafios da coordenação intergovernamental. Ca-
derno de Pesquisa, n. 31, NEEP/Unicamp, Campinas, 1998.

Sugestões de Leitura

CALOIA, Angelo. Finanças públicas e privadas na organização da


intervenção pública. In: LODOVICI, E. S.; BERNAREGGI, G. M. (orgs.).
Parceria público-privada: cooperação financeira e organizacional entre o
setor privado e administrações públicas locais. São Paulo: Summus, 1993.
Vol. 1, p. 53-60.
CANCLINI, Nestor G. Consumidores e cidadãos: conflitos multicul-
turais da globalização. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999.
MATTAR, Hélio. Os novos desafios da responsabilidade social em-
presarial. Reflexão, Ano 2, n. 5. São Paulo: Instituto Ethos, julho de 2001.
Aula 4

Gestão estratégica da
cultura - planejamento
Selma Maria Santiago Lima

Objetivos
- Proporcionar uma reflexão sobre as diversas possibilidades de gestão estratégica
para a cultura, a partir do reconhecimento da criatividade no gerenciamento de
programas, projetos e equipamentos culturais.
- Promover a discussão em torno de diversas experiências contemporâneas nas áre-
as da gestão cultural pública e privada.
- Compreender as relações entre desenvolvimento local e gestão estratégica da cul-
tura, refletindo sobre o papel do gestor cultural nos programas, projetos e equipa-
mentos culturais.
- Ter conhecimentos básicos para desenvolver uma gestão estratégica da cultura nos
âmbitos público e privado.

Bases conceituais para a gestão estratégica da cultura


O estudo da gestão estratégica teve sua forma definida pela primeira vez
após a Fundação Ford e a Carnegie Corporation patrocinarem, nos anos 50, a pes-
quisa no currículo das escolas de negócios. Um resumo dessa pesquisa, chamada de
relatório Gordon-Howell, recomendou que o ensino de negócios tivesse uma natu-
reza mais ampla e incluísse um curso de capacitação em uma área chamada de po-
lítica de negócios (GORDON e HOWELL, 1959). Tal curso deveria ter características
muito distintas. Em vez de apresentar aos estudantes problemas de negócios para
análise em áreas específicas, tais como marketing ou finanças, enfatizaria o desen-
volvimento de conhecimentos na identificação, análise e solução de problemas do
mundo real em amplas e importantes áreas de negócios. Assim, daria aos estudantes
a oportunidade de exercitar qualidades de julgamento que não são explicitamente
exigidas em qualquer outro curso.
O relatório também recomendou que o novo curso de política se concen-
trasse em integrar o conhecimento já adquirido em outros cursos e promovesse o
desenvolvimento das habilidades dos estudantes usando aquele conhecimento. O
conceito de administração estratégica tem evoluído e continuará a evoluir, tendo
já passado também pela fase em que, especialmente em organizações menores, foi
(e ainda é, em alguns casos) dominado pelo responsável pelo empreendimento ou
grupo, o que infelizmente ainda está bem distante das estruturas horizontalizadas
que a sociedade experimenta, nos dias atuais, de processos mais participativos e
colaborativos. E é com base nesta visão que propomos a aplicação das ferramentas
de um planejamento estratégico para a área das organizações culturais.
Ainda buscando um conceito para os termos que utilizamos, observamos que
planejamento advém do próprio sentido da palavra planejar, que estará sempre
ligada a uma ação futura e concreta. Planejar é otimizar os recursos disponíveis
a partir de bases reais de oportunidades. Mas, em consulta a autores, podemos
identificar o planejamento como sendo o “conjunto de ações coordenadas entre si,
que concorrem para a obtenção de um certo resultado”. (TURRA, 1975). Ou, ainda,
“uma tomada de decisões dentre possíveis alternativas, visando a atingir os resulta-
dos previstos de forma mais eficiente e econômica.” (PARRA, 2002). Na verdade, a
cada dia necessitamos mais de elaboradas técnicas de planejamento. O planejamen-
to possibilita ao homem dimensionar seus sonhos, traçar estratégias, identificar os
meios e organizar e disciplinar a sua ação para alcançá-los.
Na medida em que a sociedade se torna mais complexa, os problemas se
ampliam e exigem respostas também mais complexas, gerando assim uma maior
necessidade de reflexão, planejamento e pactuação. Daí a necessidade de desenvol-
ver “estratégias”, palavra que designa o planejamento das ações, sua execução e a
conquista de uma posição vantajosa que permite dominar um determinado territó-
rio. Para desenvolver uma estratégia, basicamente necessitamos voltar nosso olhar
para nós mesmos (o interior da organização, nossos pontos fortes e fracos, o que
desejamos alcançar) e para os outros (o cenário que nos rodeia e as dificuldades
externas a serem vencidas).

50
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento

Gestão Estratégica da Cultura

Metodologia de gerenciamento de variáveis (de ordem técnica, política e fi-


nanceira) que permite estabelecer a direção a ser seguida na condução das ações
institucionais, buscando um maior grau de interação com a sociedade e a satisfação
de suas demandas e necessidades na área cultural, orientando o desenvolvimento
integral dos indivíduos.

Planejamento estratégico
Qualquer organização atuante nos dias de hoje vive a realidade das grandes
mudanças que se desenvolvem a velocidades surpreendentes, principalmente com
o advento da globalização, que nos apresenta diversos aspectos (positivos e nega-
tivos). Se, no final do século XX, era importante a internacionalização das organi-
zações, no início do XXI, esta continua sendo uma condição necessária, mas não
mais suficiente.
Na atual sociedade da informação, a questão não é meramente, ou principal-
mente, questão de transformação tecnológica, mas essencialmente de uma trans-
formação total, que implica grandes mudanças nos processos de organização e pla-
nejamento. Considerando estes conceitos e ambientes, identificamos, a seguir, um
conjunto de características que consideramos necessárias à construção de planos
estratégicos em cultura:

a) maior responsabilidade dos gestores com maior capacidade de decisão do setor


cultural, que deverão obter uma condição de credibilidade que venha a possibilitar
a gestão estratégica no dia a dia dos diferentes níveis de gestores culturais;
b) a proposta do plano estratégico deve unir esforços por meio de uma pactuação
e articular ações de diversos atores culturais, por meio de uma participação demo-
crática e conseguindo um dinamismo do setor cultural absolutamente necessário
para a qualificação e a inovação das diferentes ações propostas;
c) propostas que levem a uma integração social, ao desenvolvimento local e cultural
dos cidadãos, a exemplo dos consórcios municipais como solução estratégica de
desenvolvimento regional;
d) priorização das ações a partir de critérios seletivos com indicação de objetivos e
projetos que sejam realmente necessários e importantes.

51
O ambiente cultural, pela sua natureza – criatividade artística livre de or-
denamentos e regulações –, e, muitas vezes, pela organização da cultura feita por
pessoas desta natureza artística, carece, ainda mais que outros ambientes, de pla-
nejamento e estratégias para sua gestão. Neste ponto, quando resolvemos agir
sobre uma determinada realidade no ambiente da organização cultural visando a
transformá-la, precisamos otimizar os meios que temos para efetuar essa transfor-
mação, compartilhando nossos desejos, interesses e vontades com outras pessoas,
identificadas com as mesmas causas ou com a busca de soluções para os mesmos
problemas, os parceiros nas diversas etapas da nossa ação, e dando uma dimensão
coletiva aos nossos anseios.

Pactuação

“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, sonho que se sonha
junto é realidade”. (Raul Seixas)

Apresentamos, a seguir, a descrição detalhada de um bom planejamento es-


tratégico e uma série de etapas necessárias, que devem ser consideradas, seja qual
for a natureza da iniciativa (pública, privada, do terceiro setor) ou o seu porte (pe-
quena, média ou grande), ou até mesmo de um profissional autônomo, como no
caso de muitos artistas que gerenciam suas carreiras.
Atente para esta ferramenta, de suma importância para o desenvolvimento
de projetos ou outras ações pontuais, como o desenho de planos de cultura para
gestões públicas ou privadas, que devem permanecer válidos mesmo que sejam al-
terados os cenários políticos ou econômicos, já que as variações devem ser previstas
no próprio planejamento.

52
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento

Fonte: http://blogs.diariodonordeste.com.br/roberto/ceara/o-palco-da-babel/

Etapas de um planejamento estratégico aplicado a iniciativas culturais


A elaboração de planejamento estratégico em cultura tem como objetivo pla-
nejar (conceber, prever, propor). A participação ampla é de fundamental importân-
cia, desde a fase de análise da situação e identificação de problemas, pois a vivência
do grupo-objetivo é indispensável para formular as propostas mais adequadas, reu-
nindo toda a informação disponível para definir o melhor, mais curto e mais seguro
caminho para se alcançar as metas.
A seguir, apresentamos uma proposta metodológica para a realização de um
planejamento estratégico em uma iniciativa cultural, composto por diversas etapas
que se complementarão na constituição de um documento final que será o orienta-
dor das atividades futuras da instituição/iniciativa.

1 - Definição dos objetivos


- Definir ações, objetivos e metas de forma compartilhada; diretrizes e estratégias de
ação, competências e responsabilidades.
- Identificar valores orientadores da ação; forças, fraquezas, limitações; potenciali-
dades; parceiros e oportunidades.
- Coordenar esforços para o alcance dos resultados desejados; otimizar os recursos
humanos, financeiros e materiais disponíveis.

2 - Definição da missão da iniciativa (organização, grupo, instituição, artista)


A missão serve de critério geral para orientar a tomada de decisões, para
definir objetivos, e auxilia na escolha das decisões estratégicas. Expressa a razão
de ser da iniciativa e as atividades ou serviços que presta. Define o que ela é hoje,

53
seu propósito e como pretende atuar no dia a dia. A missão responderá à pergunta
“para que esta iniciativa existe?”.
Na missão devemos explicitar os principais alvos da organização, indicar uma
direção consistente para a organização, direcionar a locação apropriada dos recur-
sos organizacionais e fundamentar os demais níveis do planejamento.
É importante, ainda, que o parágrafo que determina uma missão possa indi-
car também a identidade da iniciativa (imagem que faz de si própria e pela qual quer
ser reconhecida); sua razão de ser (necessidades culturais que pretende satisfazer);
sua singularidade (o que a torna distinta das demais) e sua especificação (o que faz,
com o que faz e onde faz).

3 - Projeção da visão de futuro


Trata-se do nosso sonho, aonde queremos chegar dentro de um determinado
período de tempo. Ela incorpora as ambições da iniciativa e descreve o quadro fu-
turo que se quer atingir. Dá, assim, forma e direção ao futuro da instituição. Melhor
detalhando, a visão de futuro identifica as aspirações da iniciativa, criando um clima
de envolvimento e comprometimento com o seu futuro. A definição de onde se
pretende chegar permite entender com clareza o que é preciso mudar ou como pre-
cisa mudar para que a visão de futuro seja concretizada. Uma visão compartilhada
possibilitará a união de seus recursos humanos e o impulso necessário à busca dos
seus objetivos, apesar das dificuldades.
É um ponto importante em uma gestão estratégica, por ajudar a dar clareza e
compartilhar os desejos da iniciativa, a definir o foco das ações, a definir melhor os
grandes desafios que a instituição terá de enfrentar e a traçar as diretrizes.

4 - Levantamento diagnóstico
Todo planejamento tem de ter como base o conhecimento da realidade, ne-
cessitando, portanto, de um levantamento diagnóstico. Antes de formular obje-
tivos e estabelecer estratégias, cabe ao gestor cultural conhecer as características,
as condições e os problemas da realidade na qual vai atuar. Para tanto, há que se
buscar e sistematizar o maior número de informação que lhe permita uma análise
dos diversos aspectos: geográfico, econômico, político, educacional e cultural.
O diagnóstico é o resultado do estudo sistematizado da realidade e deverá
fornecer dados objetivos para o desenvolvimento da ação e elementos para a análi-
se dos cenários interno e externo.

5 - Análise de cenários interno e externo


O processo de gestão estratégica tem início com a análise do ambiente da
54
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento

iniciativa, isto é, a identificação dos riscos e das oportunidades presentes e futuras.


A iniciar pelo macro–ambiente, isto é, o conjunto de fatores superestruturais de
natureza externa que interferem no funcionamento da organização na forma de
oportunidades ou ameaças, deve-se observar:

a) Oportunidades - Situações macro-ambientais atuais e futuras que, se adequada-


mente aproveitadas, podem influenciar positivamente a instituição/iniciativa.
b) Ameaças - Situações macro-ambientais atuais e futuras que podem afetar nega-
tivamente.

Devemos, ainda, observar o micro–ambiente, que é o conjunto de caracterís-


ticas da própria iniciativa, de seu sistema e subsistema, envolvendo processos, mé-
todos, técnicas de trabalho, valores, cultura, estilos gerenciais, relações de poder,
métodos de tomada de decisão, comunicação, etc. No micro-ambiente, devemos
identificar pontos fracos e fortes:

c) Pontos fracos - São características micro-ambientais, tangíveis ou não, que de-


vem ser SUPERADAS. Nesta análise, devemos eleger, por ordem de prioridade, os
pontos fracos com vistas à transformação.
d) Pontos fortes - São características micro-ambientais, tangíveis ou não, que de-
vem ser POTENCIALIZADAS.

6 - Definição de estratégias de ação, objetivos e metas


A quinta etapa do processo é a formulação da estratégia. Esta é definida como
um curso de ação com vistas a garantir que a iniciativa cultural alcance seus objeti-
vos. Formular estratégias é projetar e selecionar uma série de procedimentos que
levem à realização dos objetivos estabelecidos. O enfoque central está em como
lidar satisfatoriamente com o ambiente externo ou, se for o caso, com as iniciativas
concorrentes. Assim que o ambiente tenha sido analisado e a diretriz organizacional
estipulada, a gestão é capaz de traçar cursos alternativos de ação em um esforço
conhecido para assegurar o sucesso da iniciativa.
Após as melhorias estabelecidas, devemos ficar atentos ao controle estratégi-
co, um tipo especial de controle organizacional que se concentra na monitoração
e avaliação do processo de gestão estratégica no sentido de melhorá-lo continua-
mente.

55
Fonte: http://agenciapolis.wordpress.com/2011/09/23/por-dentro-da-profissao-
-producao-cultural/

Fatores a serem considerados na elaboração do planejamento estratégico


• Metodologia adotada
• Normas a serem obedecidas
• Valores a serem agregados
• Impacto social pretendido/projetado
• Objetivos a serem alcançados
• Metas a serem atingidas
• Definição de atribuições e responsabilidades
• Equipe técnica necessária (interna)
• Atividades que dependem de terceiros (equipe externa ou mista)
• Recursos disponíveis
• Recursos necessários
• Retorno esperado
• Tempo estabelecido para os resultados
• Possíveis problemas
• Grau de risco e de incerteza

Instrumentos de acompanhamento e avaliação


Finalizando nosso processo de gestão estratégica da cultura, devemos não
só observar nossa realidade, apontar diretrizes, estratégias e soluções, implementar
melhorias, como também criar e aplicar instrumentos de acompanhamento e avalia-

56
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento

ção que serão parceiros na melhoria contínua da iniciativa cultural.


Neste sentido, é importante observar os seguintes aspectos: necessidades
latentes do público; mecanismos para identificar e analisar tendências; mecanis-
mos de monitoramento da ação; acesso à informação e confiabilidade das fontes
de informação; mecanismos de comunicação com a sociedade; trabalhar na trans-
versalidade com outros órgãos municipais; estabelecer parcerias; definir instâncias
de avaliação entre a equipe gestora e a equipe executiva e observar e analisar as
orientações do planejamento estratégico.

Indicadores de resultados
Para se proceder ao monitoramento e à avaliação de ações culturais é neces-
sária a criação de indicadores de resultados, que existem em diversos outros seg-
mentos da sociedade, mas que ainda necessitam ser aprimorados para o ambiente
cultural. Para isso, o gestor deve buscar desenvolver pesquisas com a população e
com parceiros (artistas, gestores de equipamentos culturais, empresas, etc) sobre a
atuação de sua iniciativa cultural.
Outro ponto de observação que pode nos levar a desenvolver indicadores
na área cultural é encontrado por meio da investigação e criação de mecanismos
de melhoria contínua de produtos e serviços a partir de reclamações/sugestões, ou,
ainda, de fóruns sistêmicos com as categorias artísticas para avaliação de impacto,
que podem ser realizados em feiras, congressos, eventos setoriais, mostras, festi-
vais, exposições, consertos e outros.

Quadro plano de ação estratégica


A elaboração do plano de gestão estratégica para um equipamento/ progra-
ma / projeto / grupo / manifestação cultural pode ser feita de diversas maneiras.
Apresentamos, a seguir, um modelo de elaboração de plano de ação baseado na
técnica do 5w1h, que é comumente utilizado, e sua efetivação auxiliará o gestor
cultural a não deixar de lado informações importantes para o documento final.

57
58
Plano de Ação – 5w 1h
O Que ( What) Quem ( Who) Quando ( When) Onde ( Where) Porque ( Why) Como (How)

Ação a ser desenvol- Responsável Período ou data a Local/locais da ação Motivo da ação Descrever etapa 1
vida ser realizado Descrever etapa 2

- O que fazer? (O que - Quem vai fa- - Quando fazer? - Onde fazer? (Onde - Por que fazer? - Como fazer? (Como
será feito? Quais as zer? (Quem re- (Quando cada tare- cada etapa será exe- ( Justificativa deverá ser realizada
etapas?) alizará a tarefa? fa será executada? cutada?) para executar a cada tarefa/etapa?
- Quais os resultados Defina os res- Qual o tempo - Onde a atividade tarefa.) Qual o método?)
dessa atividade? ponsáveis). necessário?) será executada? - Por que essa - Como essa ativida-
- Quais atividades são - Quem execu- - Quando será o iní- - Onde serão feitas as atividade é ne- de será executada?
dependentes dessa? tará determina- cio da atividade? reuniões presenciais cessária? - Como acompanhar
- Quais atividades são da atividade? - Quando será o tér- da equipe? - Por que essa o desenvolvimento
necessárias para o iní- - Quem depen- mino? atividade não dessa atividade?
cio desta? de da execução - Quando serão as pode fundir com - Como A, B e C vão
- Quais os insumos ne- dessa atividade? reuniões presen- outra atividade? interagir para execu-
cessários? - Essa ativida- ciais? - Por que A, B e tar essa atividade?
de depende de C foram escolhi-
quem para ser dos para execu-
iniciada? tar essa ativida-
de?
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento

Proposta de Exercício: Elaborar um plano de gestão estratégica em grupo


Tópicos:
1. Descrição do equipamento / programa / projeto / grupo / manifestação
cultural / artista individual
1.1. Breve histórico
1.2. Características básicas

2. Definição do âmbito/aspecto a ser a alterado


2.1. Aspecto que deve ser resolvido (problema)
2.2. Meta a ser alcançada
2.3. Prazo para alcançar a meta estabelecida

3. Apresentação do Quadro de Plano de Ação, baseado no modelo 5w1h

Reflexões Finais

O planejamento não pode ser entendido apenas como “o ato de elaborar


planos”.
Elaborar planos representa apenas um aspecto da ação pública. É preciso ter
visão de futuro e apontar prioridades. Mas só isso não basta!
A ação de planejamento não se esgota na elaboração de um plano.

Resumo da aula
Vimos a necessidade de uma gestão estratégica para as instituições de natu-
reza cultural, partindo de um breve histórico que nos mostrou como os conceitos
de planejamento e estratégia foram sendo estabelecidos ao longo dos anos e incor-
porando em sua realização a participação ampliada dos agentes, ou seja, a demo-
cratização nos processos decisórios tanto de iniciativas culturais do setor público,
como privadas.
Observamos ainda que o planejamento não pode ser separado da sua exe-
cução e que planejar é importante, mas é fundamental induzir a coordenação, ou
seja, coordenar os esforços para que as atividades e ações sejam desenvolvidas de
maneira integrada.
Além disso, destacamos que o processo de planejamento estratégico tem que

59
ser visto como um processo político (e não meramente técnico). Isso significa com-
preender o planejamento para além do “plano no papel” e pensar nas prioridades
estabelecidas pelo gestor e sua equipe para suas ações, as escolhas realizadas, a
participação de atores e grupos de interesse nesse processo, etc.
Finalmente, apresentamos uma metodologia com as etapas e as característi-
cas de um planejamento estratégico, seus instrumentos de acompanhamento e ava-
liação, e alertamos para a necessidade de implantação de indicadores de resultados
para que os processos sejam efetivamente bem sucedidos.

60
Referências bibliográficas
ALBRECHT, Karl. Programando o futuro. São Paulo : Makron Books,
1994.
GORDON, R. A.; HOWELL, J. E. Higher education for business. New
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TURRA, Glória Maria Godoy, et al. Planejamento de Ensino e Avalia-
ção, Porto Alegre, PUC. EMMA, 1975.

Bibliografia complementar
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maio/ago. 2000
CERTO, Samuel; PETER, J. Paul. Administração estratégica. São Pau-
lo : Makron Books, 1993.
COELHO NETO, José Teixeira Usos da Cultura – Políticas de Ação
Cultural – Rio de Janeiro – Paz e Terra, 1986
CUNHA FILHO, Francisco Humberto, Teoria e Prática da Gestão
Cultural, Ed. UNIFOR, Fort, 2002.
FERNANDES, Karina Ribeiro. A Constituição de Redes Organiza-
cionais como nova forma de Gestão das Organizações do Terceiro Setor.
Disponível em http://integracao.fgvsp.br/ano7/06/administrando.htm
FRANCO CAMARGO, Mariângela (Org) - Gestão do Terceiro Setor
do Brasil – São Paulo – Futura, 2001.
MANITO, Felix. Planificación estratégica de la cultura. Iberautor
Promociones Culturales, Madri, 2008
MELGUIZO, Jorge. Medellín, la transformación desde la Cultura.
Informe para o I Congresso Internacional Lugares de Cultura. Santiago de
Compostela: 2009.
MIRALLES, Eduard. Más allá de la gestión cultural: algunas estrate-
gias para una(s) nueva(s) política(s) pública(s) para la cultura. Barcelona,
2006 Disponível em http://www.xing.com/net/gestionycultura/gestion-cul-
tural-51300/mas-alla-de-la-gestion-cultural-algunas-estrategias-para-una-s-
-nueva-s-politica-s-publica-s-para-la-cultura-4542366
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na: Prefeitura de Barcelona, 2008.
SOARES, Ana Paula Macedo. Consórcios Intermunicipais de Cultu-
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SOARES, Ana Paula Macedo. CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS DE CULTU-
RA. Publicado originalmente como DICAS nº 113 em 1998. Disponível em http://
federativo.bndes.gov.br/dicas/D113.htm
UNESCO. Marco Estratégico para a UNESCO no Brasil. Brasília, Outubro de
2006
Aula 5

Ferramentas e
Práticas de
Gestão
Suzane Christine Luz Fernandes

Objetivos
Proporcionar subsídios conceituais e operacionais atualizados para o uso das
ferramentas e a práxis da gestão direcionada à área da cultura, de forma a capaci-
tar os gestores culturais a tomar decisões, executar políticas, planos, programas,
projetos e ações culturais, em função da institucionalização da cultura como setor
produtivo e da implementação das políticas públicas para o setor.

Nesta aula, serão observados aspectos considerados primordiais à gestão cul-


tural, tendo em vista a sua atuação na esfera da produção simbólica, por isso o foco
no processo gerencial. A preocupação com a sustentabilidade e com a prática do
diálogo entre os agentes culturais é fundamental para garantir uma boa realização
cultural, considerando que a práxis da gestão da cultura é composta por três fun-
ções principais, que são complementares, porém específicas: a produção criativa, a
comunicação e a administração financeira.
Fonte: http://annyarantes.arteblog.com.br/image/130995877056-jpg/

Os desafios do gestor cultural

A concepção tridimensional (simbólica, cidadã e econômica) que fundamen-


ta a política nacional de cultura (Figura 1), a forma compartilhada de gestão dessa
política entre o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil e as metas
estabelecidas no Plano Nacional de Cultura (2010 a 2010) estão redimensionando
a forma de pensar e fazer cultura no Brasil, respondendo, assim, às demandas dos
novos desafios do nosso tempo. E isso reflete a necessidade de reconhecimento e
valorização dos profissionais que atuarão nesse processo de articulação e imple-
mentação das ações que nortearão o desenvolvimento do campo cultural no país.

Figura 1: Dimensões da política nacional de cultura


Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério da Cultura (2011)

66
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Ainda vista como uma carreira emergente, a função de gestor cultural deman-
da qualificação profissional, tendo em vista as especificidades originárias dessa nova
forma de relacionamento entre os atores sociais e da nova lógica de configuração
das atividades culturais, que, de acordo com Boas (2005), exige uma série de conhe-
cimentos que proporcionem uma atuação reflexiva, crítica e especializada.
Além do desenvolvimento do senso crítico e da consciência de sua função, o
gestor dessa área necessita compreender e interagir com essa ação tridimensional
atribuída à cultura nacional (simbólica, cidadã e econômica), que se individualiza
e ao mesmo tempo se complementa, requerendo da gestão cultural uma atitude
adaptativa em relação às atividades sociais e profissionais que se constroem.
Tendo em vista que as organizações culturais são heterogêneas, de diver-
sos tamanhos e possuem características, estrutura e objetivos diferentes (com ou
sem fins lucrativos e governamentais), Zubiría e Tabares (1998) afirmam que, para
quaisquer que sejam a natureza e o tamanho da organização, a gestão cultural se
consolida quando se compreende que as aspirações e os propósitos de produzir
serviços e bens culturais possibilitam o crescimento institucional e, sobretudo, o
reconhecimento social, ao serem aceitos pela comunidade, conferindo ao gestor a
competência de identificar processos administrativos que atribuem à gestão quatro
funções básicas:

Figura 2: Funções básicas do processo administrativo

Tais funções deverão ser conduzidas por um modelo de gestão direcionado


ao desenvolvimento que seja amplo, flexível e participativo, em que o gestor cultu-
ral possa identificar e interpretar as mensagens do entorno cada vez mais rápido, de
modo a traduzi-las em ações internas que orientem a atuação dos colaboradores e
que permitam fazer uso de uma gama de opções de ferramentas de gestão, dispo-
nibilizadas para apoiar e melhorar o alcance do trabalho cultural na comunidade.
Nessa perspectiva, Zubiría e Tabares (1998) e Cunha (2013) propõem que
seja utilizado um modelo baseado nos elementos do planejamento estratégico, cuja
metodologia pode ser adaptada segundo a necessidade situacional e o porte da
67
instituição, que, independentemente do modelo a ser adotado, deve utilizar ele-
mentos que são determinantes ao planejamento, conforme exemplificam os autores
(Quadro 1):

Exemplo 1: Zubiría e Tabares Exemplo2: Cunha

1- Definir o O QUE: trata-se de evidenciar 1- A elaboração de diagnóstico da realida-


a concretização das aspirações dos envol- de institucional no que se refere ao seu
vidos diretamente na organização cultural ambiente interno e externo (sugere-se fa-
(gestor, representantes da comunidade e zer o exercício da FOFA, que consiste em
colaboradores). Esta pergunta se apoia da uma dinâmica de trabalho a ser realizada
definição clara do fim a alcançar, a longo, com equipe envolvida no planejamento
médio e curto prazos. com o objetivo de identificar, a partir de
2- Avaliar com clareza e objetividade a situ-
um debate aberto, quais são as fortalezas e
ação presente da organização, identifican- fraquezas no ambiente interno, e as opor-
do os aspectos do entorno e do seu nível tunidades e ameaças no ambiente externo,
interno que podem afetar os resultados, que orientarão não somente o diagnóstico,
observando o afastamento do ponto de mas também a elaboração de ações estraté-
partida do trabalho de forma a estabelecer gicas para minimizar os pontos negativos e
um novo período. fortalecer as suas potencialidades);
3- Definir o COMO: refere-se à definição 2- A definição da missão, da visão de futuro,
de estratégias, políticas e diferentes açõesdo foco de atuação e inovação;
a seguir para a obtenção dos resultados 3- A formulação de objetivos e resultados
propostos. esperados;
4- A sustentabilidade (como);
5- Os prazos de execução (quando);
6- A definição de estratégias (o que e quais)
e, por fim,
7- Criar as condições ideais que permitam a
sua implementação.
Quadro 1: Exemplos de modelo de elementos do planejamento estratégico
Fonte: Zubiría e Tabares (1998); Cunha (2013)

Com os elementos-chave do planejamento estratégico definidos, ficam asse-


gurados o reconhecimento da capacidade da organização proponente da ação cul-
tural e a configuração dos critérios para orientar as decisões fundamentais durante
todo o processo de execução. Diante disso, os próximos passos se constituirão em

68
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

etapas (Quadro 2) que culminarão na constituição e na execução do plano.

Atenção!

O plano é o guia de trabalho do gestor: estabelece os parâmetros e as orien-


tações para o desenvolvimento de programas e projetos.

Etapas Caracterização

1- Formulação do plano Trata-se da elaboração do plano propria-


mente dito mediante a definição e o con-
senso da missão e da visão da organização,
do diagnóstico, da identificação dos fins,
das estratégias e do pressuposto.
2- Implantação do plano O gestor deve liderar um programa de difu-
são e comunicação para que seja compre-
endido como um programa de trabalho de
todos, com a elaboração de cronogramas
de trabalho que identifique as responsa-
bilidades, o tempo previsto e os recursos
requeridos.
3- Administração do plano Refere-se à coordenação, ao acompanha-
mento e à avaliação da execução utilizando
ferramentas para avaliação dos resultados.
Esta é uma das etapas em que mais se falha,
o que pode se evidenciar em muitos pla-
nos excelentes, mas sem continuidade ou
cujas ações são sensivelmente dissociadas
do que pretende a organização e da reali-
dade local.
Quadro 2: Etapas constitutivas do planejamento estratégico
Fonte: Zubiría e Tabares (1998)

No Brasil, o planejamento, além de um instrumental de gestão, é visto como


69
elemento de efetividade política, pois, como todos sabem, de acordo com a polí-
tica nacional de cultura, estados e municípios deverão elaborar os seus planos de
cultura objetivando a implementação das políticas públicas de longo prazo para a
proteção e a promoção da diversidade cultural.

Fonte: http://www.ganesha.org.br Fonte: http://www.olinda.pe.gov.br/cultura

No Brasil, o planejamento, além de um instrumental de gestão, é visto como


elemento de efetividade política, pois, como todos sabem, de acordo com a polí-
tica nacional de cultura, estados e municípios deverão elaborar os seus planos de
cultura objetivando a implementação das políticas públicas de longo prazo para a
proteção e a promoção da diversidade cultural.
Apesar da certeza de que os gestores culturais necessitam conhecer e fazer
uso das ferramentas de planejamento estratégico, Boas (2005) alerta para o fato de
esses futuros profissionais conhecerem profundamente a criação artística, terem
sensibilidade e informação sobre as suas diversas linguagens e da necessidade de
desenvolvimento do senso crítico de que a atividade cultural não é similar às ativi-
dades comerciais e de que o produto/produção cultural é a execução continuada
do planejamento, “continuada no sentido de incentivar ações mais permanentes
com resultados efetivos, em detrimento das ações pontuais que se encerram em si
mesmas” (p. 105).
Essa nova dimensão de cultura, que se constrói na contemporaneidade, re-
conhece a existência de bens simbólicos e da produção simbólica como parte de
um projeto de política cultural que considera a multiplicidade de expressões como
referência institucional, que, segundo Mamberti (2009), deriva da necessidade de
se conceber, conceituar e perceber as linguagens e as expressões culturais como
processos simultâneos de permanência e mutação.
Nesta perspectiva, e diante do universo multicultural do território nacional,
que estabelece uma rede de significados díspares de cultura, a gestora cultural Clau-
dia Taddei (2012a) define a gestão cultural da seguinte maneira: “gerir ambiências
distintas que coexistem num único empreendimento, operando na lógica da di-
mensão simbólica e pensando nos efeitos deflagrados” (texto digital).
70
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

A experiência de Taddei (CEMEC, 2012), em 11 anos de atuação na área de


planejamento cultural, indica que as ferramentas utilizadas na sua prática são um hí-
brido de ferramentas de gestão social e ferramentas de administração empresarial,
adaptadas conforme as particularidades de cada projeto.

Atenção!

As práticas da gestão social (ferramentas do terceiro setor) possibilitam abar-


car a riqueza e a complexidade da atuação cultural; e as práticas da gestão admi-
nistrativa empresarial, na sua forma mais contemporânea, fornecem ferramentas
interessantes para uma atuação mais “horizontalizada”, enfatizando um trabalho
mais colaborativo e autônomo.

Para saber mais

• Sobre ferramentas de gestão do terceiro setor, acesse os seguintes


sites:
http://www.pucminas.br/gepn/arquivos/Edicao1/ART-002-
Ed01-2010.pdf
http://www.convibra.com.br/2007/congresso/artigos/226.pdf
http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/3Es/3es_2009/2009_3
ES494.pdf
• Sobre ferramentas de gestão empresarial, acesse os seguintes
sites:
http://www.e7consultoria.com/Brand/artigos/as-ferramentas-da-
qualidade
http://www.fumec.br/revistas/index.php/pretexto/article/view/412
http://www.youtube.com/watch?v=VsSMW_H-_40 ( Vídeo - Gestão
Empresarial – MasterQual)

A gestão cultural e a produção simbólica

Intrínseco à área da cultura, o caráter da produção simbólica se constitui no


fator diferencial da gestão cultural em relação às demais áreas produtivas.
71
A produção simbólica é originária das expressões simbólicas próprias de
diferentes grupos sociais e sofre variação conforme o contexto social e histórico,
que, mediante a capacidade criativa do homem, estabelece o efeito da criação de
um produto cultural.
Gerir esse produto simbólico que suscita dessas multiambiências requer que
os métodos de gestão sejam adaptados a especificidades. De acordo com Taddei
(2012a), dois aspectos são determinantes para a dimensão do planejamento cultu-
ral: o processo dialógico (prática do diálogo) e a sustentabilidade.

O que é o processo dialógico?

O processo dialógico compreende a construção de caminhos capazes de


fazer dialogar, entre si, gestores e colaboradores (stakeholders – patrocinadores,
mídia e a comunidade local) que participarão da criação de produtos culturais, a
troca de valores (liberdade de criação e interferências) e parcerias, de modo a tor-
narem esses produtos sustentáveis e profissionalizados (ABREU, 2004; BOAS, 2005;
TADDEI, 2012b).
A dialógica estabelecida entre os stakeholders Taddei (2012b) denomina de
lógica do “e”, que se constitui num ação processual de comunicação não mecânica
em que se evidencia o entendimento das necessidades de um e as vontades do
outro que se constrói colaborativamente e se efetiva pela ocorrência de um fluxo
dialogal (Figura 3).
Para Taddei (2012b), essa base dialógica confere significativa importância à
gestão cultural quando possibilita a) promover a interação e a atuação cooperada,
b) expressar a habilidade orgânica (interpessoais, pessoais e conceituais) da gestão
diante de contextos de constantes mudanças, quando regula a qualidade dos rela-
cionamentos e c) tornar-se um importante veículo para a superação das dificulda-
des, que se originam, na maioria das vezes, no âmbito relacional.

72
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Figura 3: Processo dialógico da lógica do “e”


Fonte: Adaptado de Taddei (2012b, p. 2)

A lógica do “e” também se expressa da seguinte maneira:


eu venço + você vence = “e”, ou seja, nenhum ganha, ambos se complementam.

No contexto da cultura, a ação colaborativa do processo dialógico se estabe-


lece desde o processo criativo do produto cultural que se pretende obter, ou seja,
da intuição do criador (abstrata, subjetiva) até a formação do material objetivo e
comunicável (concreto), estando presente durante todo o ciclo de vida da atividade
cultural realizada.

Para saber mais

Leia o texto escrito por Luis Alberto de Abreu, que, mediante relato
de experiência da criação de um espetáculo teatral, aponta reflexões
sobre o processo colaborativo, no site http://www.sesipr.org.br/
nucleodedramaturgia/FreeComponent9545content77392.shtml

73
Para que aconteça a colaboratividade no processo dialógico, Taddei (2012b)
sugere que sejam observados os seguintes elementos (Quadro 3):

Elementos Caracterização

Importância da “cena”/ele- •Uma ideia clara tem um peso significativamente maior


mento concreto do que uma sensação difusa; uma imagem nítida, perfei-
tamente comunicável, tem maior valor do que uma ideia
ou uma sensação.
Eficiência • Criadores acreditam que é uma forma de criação efi-
ciente, rica e satisfatória para alcançar resultados artís-
ticos.
• Um sistema de criação polifônico que possa servir
como base e objeto de estudo para outros grupos e pes-
soas interessadas.
Princípios norteadores • Importantes para balizar o caminho percorrido, evitan-
do cair no subjetivismo vazio e abrir uma reflexão teórica
sobre uma prática.
• Diferentes regras são fundamentais para lidar com ele-
mentos imponderáveis naturais à criação artística.

Processo dialógico/ múlti- • É o modus operandi baseado na confrontação e no


plas interferências surgimento de novas ideias, sugestões e críticas.
• Uma relação criativa baseada em múltiplas interferên-
cias.
• Fomenta o impulso criativo dos indivíduos dentro do
grupo, preservando a permeabilidade de ideias.
• A interferência na criação alheia é um momento extre-
mamente delicado; momento de maior foco de tensão,
quando se atribui mais riqueza no trabalho.

74
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Crítica como método do • A crítica é a interferência mais aguda e necessária, de-


processo dialógico vendo ocorrer de forma especial.
• Um olhar crítico sobre o próprio trabalho com o com-
panheiro é fundamental para o desenvolvimento do pro-
cesso.
• A crítica no processo colaborativo tem de ser feita em
“perspectiva”, ou seja, conhecendo e levando em con-
sideração o objetivo que o “criador” procura alcançar,
afastando-se da simples avaliação de resultados.
• O crítico, além de discuti-lo e aprofundá-lo, deve fazer
propostas para solucionar o problema.
Horizontalidade • Busca prescindir de qualquer hierarquia pré-estabele-
cida.
• Todos colocam experiência, conhecimento e talento a
serviço da construção coletiva.
Preservação das funções • É necessário preservar as funções de cada artista. De
um lado, existe total liberdade de criação e interferência,
mas, de outro, é vedado a um “criador” assumir as fun-
ções do outro.
• A responsabilidade de cada um alcança não só uma
área específica de criação, mas também colabora com a
área do parceiro.
Grau de amadurecimento • Responde às seguintes perguntas: Como promover o
do grupo livre trânsito da criação entre os participantes sem eli-
minar a demarcação dos territórios de criação? Qual o
limite de interferência no trabalho alheio?
• A maneira como essa interferência se dá depende do
grau de amadurecimento do grupo e da confiança entre
os envolvidos no processo.
Participação do público • Reintrodução do público como a ser considerado num
processo de “criação artística”.
• O público é o fio que o conduz ao universo de sua
cultura.
• A cultura, o tempo e o espaço histórico tornam-se las-
tros do fazer artístico, recuperam o contexto cultural.

75
Reformulações constantes • Só uma nova “cena” tem o poder de refutar a “cena”
anterior; tudo deve ser testado em “cena”, sejam ideias,
propostas ou simples sugestões.
• A “cena” tem o poder de modificar o canovaccio/ro-
teiro mestre, aprofundar o tema ou até provocar uma
revisão na abordagem do assunto escolhido.

Quadro 3: Elementos do processo dialógico colaborativo


Fonte: Adaptado de Taddei (2012b)

Segundo Taddei (2012b), para que haja a superação das situações de con-
flito durante o processo dialógico, deverá ser aplicado o Método Transcend1 , de
forma que se traduzam benefícios para todos os envolvidos no processo dialógico,
mediante acordo, possibilitando a) criar uma nova realidade, b) tornar reversível
a situação, c) permitir liberdade de escolha e d) requerer criatividade, diálogo e
negociação.

Sugestão para o fórum de discussão

Para a gestão de negócios culturais, qual a importância da relação entre a


produção simbólica e o processo colaborativo? Reflita, forme sua opinião e discuta
o assunto com seus colegas e tutores no fórum. Para fortalecer seus argumentos e a
discussão, caso necessário, poste textos e/ou links relacionados.

Para saber mais

Saiba mais sobre o Método transcend de Johan Galtung


acessando os seguintes links na Internet:
http://www.transcend.org/
http://informatizarte.com.ar/blog/?p=2012

1 Método criado por Johan Galtung para a resolução e a prevenção de conflitos.


76
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

O que é o processo de sustentabilidade?

O processo de sustentabilidade da produção simbólica da cultura perpassa a


aplicabilidade dos seguintes aspectos (TADDEI, 2012b):
• Pensar na continuidade e nos efeitos que podem ser causados a uma ação/ativi-
dade cultural;
• Evitar ônus ao ambiente externo e à posteridade;
• Ter consciência das bases e dos potenciais conceituais, técnicos, estruturais e
legais;
• Renovar, no sentido de trazer algo novo e recriar em qualidade, motivação, dire-
ção, viabilidade, capacidade e na legitimidade do projeto;
• Buscar autonomia e recursividade, sobrevivendo com recursos próprios;
• Atuar de forma colaborativa, mediante o estabelecimento de parcerias.

Percepção de sustentabilidade na gestão de projetos

Sustentabilidade é uma palavra que possui significados e pode ser aplicada


em diversos contextos da sociedade (econômicos, sociais, culturais e ambientais).
No caso de nossa estudo a gestão de projetos será compreendida “como o conjunto
de forças (ideias, relações e recursos) que são capazes de manter um projeto vivo,
renovado, desenvolvendo-se”. (BRASIL, PETROBRAS, 2010) Site, texto digital.

Ao se analisarem as condições de sustentabilidade dos produtos relativos à


área da cultura, os seguintes princípios deverão ser observados: a) ecologicamente
correto, b) economicamente viável, c) socialmente justo e d) culturalmente aceito.
No âmbito do planejamento, é determinante observar os seguintes aspectos (Qua-
dro 4):

77
Aspectos Caracterização

Ambiência a) Ambiência interna:


- há ambiente favorável ao desenvolvimento do projeto;
- existe adequação entre os objetivos do projeto e os da
instituição;
- o projeto pode trazer mudanças na rotina da instituição;
- existem garantias de legitimidade interna e respaldo
dos tomadores de decisão.
b) Ambiência externa:
- o projeto vai interferir numa realidade social?
- fundamental realizar pesquisa de campo, entrevistar
moradores, envolver a comunidade;
- processo de legitimação junto aos envolvidos direta-
mente e indiretamente.
Recursos São todos os bens/insumos e serviços utilizados na rea-
lização das atividades do projeto, ou seja, os seus “nu-
trientes”, por isso deverão estar bem dimensionados,
sabendo-se identificar quais são, onde encontrá-los, e
sabendo-se localizar as possíveis fontes de recursos para
custeá-los, objetivando garantir a sua viabilidade econô-
mica e avaliando custos diretos e indiretos, tempo de
trabalho empreendido, custo derivado e fornecedores.
Parcerias Pode ser um meio eficiente de manter a sobrevivência de
um projeto/atividade; torna-se interessante para ambos,
pois se compartilham desafios, visões e objetivos.
Planejamento Consiste em definir a rota, o caminho a seguir, mediante
a simulação de uma situação futura. Um processo sis-
temático que pressupõe autoconhecimento e formação
dinâmica de juízo a respeito do futuro do projeto. Cami-
nho do conhecimento x Caminho da escolha.

78
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Avaliação É o braço do gestor, trata-se de uma prática contínua,


realizada em qualquer etapa do projeto para o seu apri-
moramento e a ampliação do grau de integração entre os
envolvidos, intervindo nos seguintes níveis:
- diagnosticar uma ação/situação;
- ampliar a efetividade de uma ação – qualidade;
- aumentar a confiança/comprometimento com o empre-
endimento
Quadro 4: Aspectos observáveis na relação Planejamento x Sustentabilidade
Fonte: Taddei (2012b)

A sustentabilidade é demonstrada pela relação que o projeto estabelece com


a comunidade do seu entorno, cuja participação traz legitimidade ao projeto. É
demonstrada também pela relação que ele estabelece com seus parceiros. Susten-
tabilidade é também a excelência da sua gestão financeira. (BRASIL, PETROBRAS,
2010) Site, texto digital.

Complementando

Para o estabelecimento de parcerias objetivando a sustentabilidade de um


produto cultural, conforme orienta a gestora cultural Claudia Taddei (2012b), deve-
-se observar o seguinte:

a) A forma como podem ocorrer


- troca de experiências,
- acordos de cooperação técnica,
- oferta de serviços e recursos,
- benefício para o projeto no todo ou de uma atividade específica.
b) Seus pressupostos básicos são
- consciência dos potenciais, necessidades e limites internos,
- gerar benefícios mútuos (manter a autonomia e não criar dependência),
- ter visão compartilhada,
- identificar a complementaridade das atividades.

79
Para refletir mais sobre a dimensão do planejamento cultural

Participe do fórum de discussão com seus colegas e tutores sobre o conteúdo


abordado nesta aula a respeito dos aspectos determinantes para a dimensão do planeja-
mento cultural, o processo dialógico e a sustentabilidade.

A práxis da gestão cultural

O reconhecimento da especificidade do processo de gestão vivenciado por


Taddei, ante a produção simbólica, indica que a práxis da gestão cultural está estru-
turada em três funções distintas e, ao mesmo tempo, complementares: a) a produ-
ção criativa, b) a comunicação e c) a administração financeira (Figura 3).

Figura 4: Funções da gestão cultural


Fonte: Taddei (2012a)

A produção criativa se origina do respeito à criação simbólica, que se pro-


cessa pela análise reflexiva (inteligência e compreensão). De acordo com Turino
(2004), as pessoas se percebem pela cultura e por ela estabelecem relações entre
si, definem valores e significados, por isso a criação se constitui como objetivo que
completa uma política cultural ao ser expressa das seguintes formas: a) por meio
da reflexão e da análise, desdobrando-se em comportamentos e condutas, e b) pelo
fazer artístico. Compete ao gestor estabelecer critérios para garantir a expressão
80
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

criativa fortalecendo a cidadania cultural e a percepção econômica da cultura.


A comunicação pelo diálogo está relacionada à dimensão do planejamento
cultural pertinente ao processo dialógico quando da efetivação dos fluxos de com-
partilhamento que convalidam a ação colaborativa, que tem na horizontalidade das
relações entre os participantes, mediante múltiplas interferências, a produção cria-
tiva. “Quanto maior for o domínio de análise simbólica que as pessoas têm sobre a
produção social, maior será a sua capacidade de articulação na sociedade” (Torino,
2004, texto digital).
A administração de recursos transparentes está associada ao gerencia-
mento orçamentário, físico e financeiro do processo produtivo (planejamento), em
que, de forma eficiente e eficaz, se identifiquem todas as necessidades do projeto
(produto cultural), ou seja, os fatores que possibilitarão e/ou limitarão sua execu-
ção, garantindo “nutrientes” a sua operacionalidade. A transparência administrativa
deve estar presente tanto no processo dialógico como no avaliativo, pois corrobora
qualitativamente para o sucesso operacional (Figura 4) (TADDEI, 2012a).

Figura 5: Dimensão qualitativa da transparência administrativa


Fonte: Taddei (2012a)

Complementando

Na gestão, o foco deve ser no processo, no resultado ou em ambos. Porém,


deve-se enfatizar o foco no processo por se acreditar que ele é determinante para
que se alcancem bons resultados, além de permitir que enriqueçamos e ampliemos
o espectro de resultados. Se atuarmos com foco exclusivo em resultados pré-esta-
belecidos, correremos o risco de deixar de lado uma série de efeitos e desdobra-
mentos decorrentes da prática cultural e de sua produção simbólica. O foco em re-
sultados é importante para nortear as ações, mas o foco no processo é fundamental
para dar mais clareza à complexidade e melhorar a qualidade das práticas culturais
(Taddei, em entrevista à Rede Cemec, em 2012).

81
Ciclo de vida de um projeto cultural

Um projeto é considerado a menor unidade do processo de planejamento


(plano, programa e projeto). Um projeto bem elaborado oferece segurança ao ges-
tor, pois representa a operacionalização de um programa, ao descrever em detalhes
as atividades e ações a serem executadas, constituindo-se num instrumento técnico
capaz de orientar qualquer ação (REIS, 2004; BARATA, FERNANDES, 2011).
De acordo com a ISO 10006 de 1997, o projeto refere-se a um processo úni-
co, constituído de um grupo de atividades coordenadas e controladas, com datas
para início e término, empreendido para alcance de um objetivo conforme requisi-
tos específicos, incluindo limitações de tempo, custo e recursos, e isto requer um
gerenciamento específico e especializado.

Gestão de projetos: “administração voltada para o empreendedorismo e para a percepção


estratégica do projeto e seus efeitos”. (Taddei, 2012a, texto digital)

A definição de projeto como um processo indica duas características que são


imprescindíveis à gestão: a temporalidade (início e fim) e um propósito definido
(Figura 6). Isto faz com que se estabeleça o ciclo de vida de criação de um produto
(bem ou serviço).

Figura 6: Características de um projeto


Fonte: Silva (UNITAU/MGDR-013, 2008. Arquivo digital, slide 15)

Para Taddei (2012b), o ciclo de vida de um projeto cultural está estruturado


da seguinte maneira (Figura 7):

82
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Figura 7: Ciclo de vida de um projeto cultural


Fonte: Taddei (2012b)

Complementando

“As ferramentas que utilizamos na nossa prática cultural são um híbrido entre
ferramentas de gestão social e ferramentas de administração empresarial. As ferra-
mentas são ainda muito adaptadas às particularidades de cada projeto e levam em
conta as experiências práticas vivenciadas em 11 anos de atuação no setor cultural.
Adotamos um método de trabalho que inclui uma avaliação bastante extensa não
apenas quanto aos resultados e efeitos tangíveis, mas também quanto aos intangí-
veis. Estes balanços, além de sintetizar os ‘ganhos’ tangíveis e intangíveis de cada
experiência, nos auxiliam na continuidade dos projetos ou no desenvolvimento de
novos projetos. Cito algumas ferramentas de gestão que julgo serem as mais impor-
tantes: planejamento e avaliação continuados e comunicação pelo diálogo (tanto
junto ao público interno quanto ao público externo) (Claudia Taddei, em entrevista
à Rede Cemec, em 2012).

Os instrumentos de gestão dos sistemas públicos de cultura

A política nacional de cultura determina que, para a implementação do Sis-


tema Nacional Cultural (SNC), nos três níveis governamentais (federal, estadual e
municipal), os principais instrumentos de gestão se caracterizam como ferramen-
tas de planejamento técnico e financeiro e se constituem em quatro instrumentais
(Quadro 5):

83
Quadro 5: Instrumentos de gestão dos sistemas públicos de cultura
Fonte: Brasil. Ministério da Cultura (2011)

84
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão

Esse instrumental de gestão pública, legalmente instituído, ao ser elaborado,


define a política cultural do ente público, que, embasada na criação de projetos e
propostas planejadas de forma colaborativa, entre o governo, a iniciativa privada
e as organizações da sociedade civil, promove a gestão de práticas culturais na so-
ciedade, preservando e promovendo a cultura local. Para tanto, os entes federados
precisarão organizar sua política local numa perspectiva da cultura como fator de
desenvolvimento econômico, social e humano.

Acesse o Plano Nacional de Cultura, e obtenha a informações sobre como fazer um Plano de
Cultura, no link: http://www.cultura.gov.br/plano-nacional-de-cultura-pnc-

85
86
Referências bibliográficas
ABREU, L. A. Processo Colaborativo: Relato e Reflexões sobre
uma Experiência de Criação. Revista de relatos, reflexões e teoria
teatral. Santo Andre. SP: Escola Livre de Teatro de Santo André. Cader-
nos da ELT, nº 2, Jun 2004. Disponível em: www.sesipr.org.br/nucle-
odedramaturgia/FreeComponent9545content77392.shtml. Acesso em:
Mar 2014.
BOAS, R. V. Gestão Cultural. In: Organização e Produção da
Cultura. RUBIM, L. (Org). Coleção Sala de Aula. Salvador: EDUFBA;
FACOM/CULT, 2005, p. 99 – 116.
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cionalização e Implementação do Sistema Nacional de Cultura.
Brasília: MinC, 2011, Disponível em: www.cultura.gov.br. Acesso em:
Jan 2014.
CEMEC. Rede Cemec. Claudia Taddei. Ferramentas de gestão
para a produção simbólica. Entrevista a Gustavo Seraphim. São Pau-
lo, SP: Cemec. Rede Cemec [2012?]. Texto digital. Disponível em: http://
redecemec.com/ferramentas-de-gestao-para-a-producao-simbolica.
Acesso em: Mar 2014.
CUNHA, M. H. Gestão Cultural. Coleção Política e Gestão Cul-
turais. Bahia: Secretaria da Cultura, 2013.
MAMBERTI, S. Produção Simbólica e Diversidade Cultural: Pro-
dução de arte e bens simbólicos. Conferência Nacional de Cultura.
Material de apoio. Brasília: Funarte. Nov 2009. Texto digital. Disponível
em: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/producao-simbolica-e-diversidade-
-cultural-producao-de-arte-e-bens-simbolicos/. Acesso em: Mar 2014.
REIS, O. Projetos para o desenvolvimento. Belém: EDUFPA,
2004.
TADDEI, C. Ferramentas de gestão e acompanhamentos de pro-
jetos culturais. Gestão Cultural: Práxis. São Paulo: CEMEC, 2012a.
29 slides: color. Slides gerados a partir do slideshare.net. Disponível
em: http://pt.slideshare.net/redecemec/claudia-taddei-curso-cemec-
-jun2012. Acesso em: Mar 2014.
___________. Metodologias de execução, supervisão e
acompanhamento de processos culturais. São Paulo: CEMEC,
2012b. 26 slides: color. Slides gerados a partir do slideshare.net. Dispo-
nível em: http://pt.slideshare.net/redecemec/apresentao-claudia-taddei.
Acesso em: Mar 2014.
TEIXEIRA, J. B FERNANDES, S. C. L. Elaboração de projetos e captação de
recursos. Texto base dos módulos. Curso Elaboração de Projetos e Captação
de Recursos. Belém: UFPA. FADESP, 2011.
TURINO, C. Uma gestão cultural transformadora. Revista Princípios. n.º
100. Edição 71, nov/dez/jan, 2003-2004, p. 73-77. Disponível em: http://www.
fmauriciograbois.org.br/cultura/index.php?option=com_content&view=artic
le&id=10:gestao-cultural&catid=2:debate&Itemid=5. Acesso em: Mar 2014.
ZUBIRÍA, S; TABARES, M. La Administración de Organizaciones Cultura-
les. Formación en Administración y Gestión Cultural. Colombia: Organizaci-
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files.wordpress.com/2008/04/formacion-en-administracion-y-gestion-cultural.
pdf. Acesso em: Mar 2014.
INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION. ISO 10006: Quality ma-
nagement - Guidelines to quality in project management. s.l.p., ISO, 1997.
Aula 6

Informação e
indicadores culturais
Suzane Christine Luz Fernandes

Objetivos
- Analisar critérios e parâmetros referenciais específicos do setor cultural que
estejam disponíveis para consulta e que possam ser usados como indicadores de
avaliação de políticas culturais, de programas e de projetos.
- Discutir acerca da produção, da coleta e do registro de informações, bus-
cando garantir níveis de comparabilidade nacionais como subsídio para a avaliação
dos resultados das ações propostas, estimulando a formação e a geração de dados
e informações locais.
- Apresentar e analisar instrumentos orientadores para um sistema de acom-
panhamento e monitoramento contínuo do processo de desenvolvimento de polí-
ticas culturais, dos seus planos, programas e projetos.
- Fornecer uma breve introdução acerca da metodologia de pesquisas socio-
culturais: quantitativas e qualitativas.

O processo de mobilização social que se estabeleceu no Brasil, a partir de


2003, em função de uma nova conjuntura socio-histórica das políticas públicas em
cultura (Figura 1) culminou com a aprovação da Emenda Constitucional nº 48,
em julho de 2005. Tal emenda acrescentou ao artigo 215 da Constituição Federal
(CF) de 1988, que trata dos direitos culturais, o § 3º, determinando a realização
do Plano Nacional de Cultura (PNC), mediante a promulgação da Lei nº 12.343 de
02 de dezembro de 2010. Esta instituiu o PNC, com duração até 2020, e com ele a
criação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC), e, pos-
teriormente (em 2011), a implantação do Sistema Nacional de Cultura (SNC), que
estabeleceu as bases da gestão cultural compartilhada (Governo Federal, os estados,
os municípios, o Distrito Federal e a sociedade civil), tendo em vista a elaboração de
planos territoriais e setoriais, o monitoramento e revisão do PNC, na perspectiva do
estabelecimento de um novo plano.

Figura 1: Contexto histórico e perspectivas do Plano Nacional de Cultura 2010-


2020 - Fonte: Brasil. Ministério da Cultura (2013, p.146 e 147)

Diante desse conjunto de circunstâncias para a construção de uma nova go-


vernança e gestão cultural no país, nesta aula conheceremos as principais fontes de
informações e instrumentos de aferição quantitativa que subsidiarão a elaboração
de planos territoriais e setoriais, o monitoramento e a revisão do PNC, além da
construção futura de um novo plano de cultura, considerando os seguintes tópicos:

a) as fontes de informações das estatísticas culturais produzidas no Brasil,


b) os indicadores de avaliação de políticas, programas e projetos culturais nacionais
c) o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC).

92
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

As fontes de informações e dados culturais produzidos no Brasil


A formação de uma plataforma integradora de informações do campo da cul-
tura no nível nacional é fato recente e se constituiu legalmente a partir da aprovação
da Lei nº 12.343, em dezembro de 2010, que instituiu o PNC e criou o Sistema Na-
cional de Informações e Indicadores Culturais. Até então, conforme afirma Calabre
(2009, p. 5), “[...] no caso da cultura, o país sofria do problema da inexistência de
informações de tal natureza”.
Essa inexistência de informação sistematizada havia se tornando um dos
principais problemas da pesquisa na área. Assim, em 2003, o Ministério da Cultura
(MinC), em regime de cooperação técnica com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), utilizando
seus próprios bancos de dados, deu início a uma série de levantamentos estatísticos
para a compilação e a produção de dados primários relativos ao setor da cultura,
que contribuirão para o monitoramento e a implementação do Plano Nacional de
Cultura (2010 – 2020).

Instrumentos de informações do setor cultural


O IBGE é o órgão responsável pela produção das estatísticas oficiais do go-
verno brasileiro e disponibiliza à população uma série de estudos e pesquisas socio-
econômicas desenvolvidas em todo o território nacional. Dentre os principais ins-
trumentos informacionais produzidos por este órgão governamental, destacam-se

a) o Censo Demográfico, que corresponde a uma pesquisa decenal, e abrange


todo o universo da população brasileira
b) Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada anualmente,
para atualização das informações do Censo Demográfico a partir de uma amostra
da população.

Atenção!

Tais pesquisas possibilitam conhecer a distribuição da população no territó-


rio brasileiro e quantificar a demanda populacional por bens e serviços públicos e
privados e permitem acompanhar a evolução dessa população ao longo do tempo.
Seus resultados podem ser classificados em informações categorizadas por regiões,
estados e/ou municípios, sendo consideradas fundamentais para a elaboração de
diagnósticos, políticas, planos e projetos de qualquer natureza.
93
No que se refere às pesquisas direcionadas à obtenção de informações restri-
tas ao setor cultural, para a sistematização de uma base de dados oficiais do governo
brasileiro, resultantes do convênio firmado entre o Ministério da Cultura e o IBGE,
considerem-se as informações contidas no Quadro 1:

Pesquisa/fontes de infor- Caracterização


mações culturais
Pesquisa de Informações Realizada anualmente, desde 2001, para registros admi-
Básicas Municipais (MU- nistrativos relativos à gestão pública municipal, possibili-
NIC) – inclusão de um ta estabelecer um perfil geral dos municípios brasileiros.
bloco de coleta de dados No que se refere, especificamente, à coleta de dados do
do setor cultural setor cultural, verifica-se:
• No ano de 2005, ocorreu a inclusão de um bloco de in-
formações que aferiu a existência de equipamentos cul-
turais e reuniu dados referentes às atividades artísticas e
artesanais presentes nos municípios.
• Em 2006, foi publicado um suplemento completo so-
bre cultura, possibilitando a construção efetiva de um
primeiro quadro da gestão pública municipal de cultu-
ra no Brasil, constituindo-se, a partir daí, em um campo
permanente da pesquisa.
Desde então, o campos da pesquisa compreendem recur-
sos humanos, legislação, instrumentos de planejamento
e gestão, tecnologias de informação e comunicação,
transporte, cultura, assistência social, segurança pública,
meio ambiente, segurança alimentar e nutricional.

94
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

Sistema de Informações Pesquisa que, desde 2004, tem por objetivo organizar e
e Indicadores Culturais sistematizar informações para a construção de indicado-
(SNIIC) res relacionados ao setor cultural brasileiro, a partir das
informações existentes nas pesquisas sociais e econômi-
cas do próprio Instituto***, para o desenvolvimento de
uma base consistente e contínua de informações relacio-
nadas ao setor cultural e a construção de indicadores de
modo a fomentar estudos e pesquisas setoriais de maior
profundidade, fornecendo aos órgãos governamentais e
privados subsídios para o planejamento e a tomada de
decisão relacionada a investimentos, ações e políticas no
setor.
• Em 2006, levantaram-se informações referentes ao ano
de 2003, quando também se realizou a primeira publica-
ção de resultados, que apontou informações relaciona-
das aos principais aspectos da oferta e da demanda de
bens e serviços culturais, dos gastos das famílias e dos
gastos públicos com cultura, consolidados nacionalmen-
te.
• Em 2013, foi publicado o resultado da sistematização
do período de 2007 a 2010.
Os resultados das estatísticas e indicadores de cada perí-
odo divulgado estão disponíveis em impresso e CD-ROM
que acompanha a publicação, como também no portal
do IBGE na Internet.

Quadro 1: Principais fontes de informações do setor cultural produzidas pelo


IBGE - Fonte: Calabre (2009); IBGE (2013).

*** Para a construção do SNIIC foram utilizadas as seguintes pesquisas regulares do IBGE: Estatísticas do
Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA-Empresa), Pesquisa
Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Pesquisa de Orçamento Familiar (POF),
Estatísticas Econômicas das Administrações Públicas (APU), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD). (CALEBRE, 2009, p. 6).
95
Complementando

O IBGE possui outros produtos (pesquisas, registros administrativos e pu-


blicações) disponíveis na Internet, considerados importantes fontes de dados e in-
formações que podem ser utilizados por diversos programas governamentais. Para
saber mais sobre estes produtos, acesse o site www.ibge.gov.br.

Atenção
As informações levantadas pelos estudos estatísticos do IBGE poderão cons-
tituir relevantes indicadores para o seu diagnóstico cultural, a depender do nível de
detalhamento da intervenção que se pretende realizar.

Existem outras bases de dados e fontes de informações?


Outras instituições públicas nacionais, a partir do monitoramento de suas
ações, produzem informações estatísticas referentes aos estados e municípios e as
disponibilizam, periodicamente, na Internet (Quadro 2). Tais informações poderão
ser úteis à gestão e à política cultural, caso haja necessidade do cruzamento de
dados para o desenvolvimento de ações que perpassam a dimensão transversal da
cultura.

Fonte Site na Internet Conteúdo

Órgãos estaduais de esta- www.anipes.org.br Acesso aos sites dos órgãos esta-
tísticas (ANIPes – Associação duais que produzem informações
Nacional das Institui- estatísticas e indicadores específi-
ções de Planejamen- cos
to e Pesquisas )

Ministério da Saúde www.datasus.gov.br Principais indicadores e dados es-


tatísticos relacionados à saúde no
Brasil, nos estados e municípios

96
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

Ministério da Educação www.inep.gov.br Dados nacionais referentes às es-


tatísticas e ao desempenho edu-
cacional por nível de escolaridade
Ministério do Trabalho www.mte.gov.br Estatísticas mensais do Cadastro
Geral de Empregados e Desem-
pregados, empresas e trabalho
Ministério do Desenvolvi- www.mds.gov.br Indicadores de pobreza e indigên-
mento Social cia e acesso aos sites dos progra-
mas de transferência de renda
Ministério das Cidades www.cidades.gov.br Sistema de Nacional de informa-
ções sobre as cidades
Secretaria do Tesouro Na- www.stn.fazenda. Transferência de recursos, execu-
cional (STN) gov.br ção orçamentária, receitas e des-
pesas municipais
Instituto Nacional de Pes- www.dpi.inpe.br Imagens de satélites com dife-
quisas Espaciais (INPE) rentes resoluções para acompa-
nhamento da ocupação urbana,
monitoramento ambiental, dentre
outras informações
Instituto Nacional de Esta- www.inep.gov.br Retrato das desigualdades, bole-
tísticas Aplicadas (INEP) tim de conjuntura econômica e
social, acompanhamento e análise
das políticas sociais.
* ANIPes – Associação Nacional das Instituições de Planejamento e Pesquisas
Quadro 2: Outras fontes de informações e dados governamentais produzidos no
Brasil - Fonte: Jannuzzi (2009)

97
Atividade 1

Acesse os sites acima mencionados e confira as informações


referentes ao seu município. Identifique os dados que forem
pertinentes à elaboração de um diagnóstico cultural.

Complementando

No contexto da produção de informações para a gestão e a política cultural,


destaca-se a iniciativa do Instituto Itaú Cultural, com a criação do Observatório Itaú
Cultural, em 2006, que tem fomentado discussões entre especialistas nacionais e
internacionais em função de organizar, produzir e difundir informações críticas so-
bre o setor, por meio da análise de pesquisas (quantitativas e qualitativas) e do
estudo de experiências culturais concretas. Em 2008, conforme registra a Revista
Observatório Itaú Cultural (2008), foram promovidos dois seminários internacio-
nais sobre os indicadores culturais, tendo em vista que este tema tornou-se uma das
principais problemáticas de pesquisa no campo da cultura. O primeiro encontro
abordou a experiência brasileira na produção de indicadores culturais. O segundo
permitiu que se conhecessem experiências concretas da Espanha e que se estabele-
cessem bases para um intercâmbio de informações. Os resultados dos seminários e
debates, bem como os textos apresentados pelos participantes, estão disponíveis no
site da Instituição (www.itaucultural.org,br) e em revista impressa.

98
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

Indicadores de avaliação de políticas, programas e projetos culturais no


Brasil

O que é um indicador?

Segundo dicionários da língua portuguesa, o termo indicador significa “que


indica” (FERREIRA, 2001, p. 384), ou seja, o que torna patente, revela, aponta, ex-
põe, podendo o termo também assumir o sentido do que propõe, sugere, designa.
No contexto técnico-científico, não há uma definição específica para este termo,
pois trata-se de um instrumento estatístico utilizado para mensuração e correspon-
de a uma variável que representa um dado estatístico em um determinado período
de tempo, em um determinado local e a outras características. O período de tempo
pode referir-se a um momento no tempo ou a um intervalo de tempo (BRASIL,
2009).

Segundo Ferreira, Cassiolato e Gonzales (2009 apud BRASIL. MINISTÉRIO


DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTO E GESTÃO, 2010, p. 21),

o indicador é uma medida, de ordem quantitativa ou qualitativa, dotada


de significado particular e utilizada para organizar e captar as informações
relevantes dos elementos que compõem o objeto da observação. É um recurso
metodológico que informa empiricamente sobre a evolução do aspecto
observado.

Ao ser utilizado como ferramenta de gestão para monitoramento e avaliação,


possibilita identificar avanços ou retrocessos das ações implementadas, comparan-
do seus resultados em função dos objetivos e metas estabelecidas. Em se tratando
de políticas públicas,

[...] os indicadores são instrumentos que permitem identificar e medir aspectos


relacionados a um determinado conceito, fenômeno, problema ou resultado de
uma intervenção na realidade. A principal finalidade de um indicador é traduzir,
de forma mensurável, determinado aspecto de uma realidade dada (situação
social) ou construída (ação de governo), de maneira a tornar operacional
a sua observação e avaliação (BRASIL/ MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO
ORÇAMENTO E GESTÃO, 2010).

Segundo o sociólogo francês Paul Tolila (REVISTA OBSERVATÓRIO ITAÚ CUL-


TURAL, 2008),

99
o indicador é construído por meios científicos, mas não é ele mesmo um objeto
científico no sentido próprio do termo. Pode ser visto como instrumento de
diálogo entre as instâncias do poder e outros componentes da sociedade.
Estabelece conexões, nem sempre evidentes, entre o campo do conhecimento
e o do discurso, entendido aqui, ainda que de maneira muito restrita, como
ideologia. É parte de um processo em constante transformação, sobretudo
quando se pretende que o indicador se torne mais próximo da representação
de processos sociais complexos [...]. (p. 11-12).

De acordo com o professor Enrique Saraiva, da Fundação Getúlio Vargas


(FGV/Rio), quanto às características, os indicadores podem ser estruturados da se-
guinte maneira:

• estratégicos: quando se referem a metas;


• de sustentabilidade: quando aferem a consecução de propósitos de políticas;
• de resultado: quando avaliam o desempenho de programas e projetos
determinados;
• de atividade: quando apontam características de desempenho. (REVISTA
OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL, 2008, p. 31).

Atenção!

Conforme o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (BRASIL. MI-


NISTÉRIO DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTO E GESTÃO, 2010), de forma mais
agregada, os indicadores pode assumir as seguintes funções básicas:

• Função descritiva: consiste em aportar informação sobre uma determinada


realidade empírica, situação social ou ação pública, como, por exemplo, a quanti-
dade de famílias em situação de pobreza e
• Função valorativa: também chamada avaliativa, implica agregar informação
de juízo de valor à situação em foco, a fim de avaliar a importância relativa de de-
terminado problema ou verificar a adequação do desempenho de um programa,
como, por exemplo, o número de famílias em situação de pobreza em relação ao
número total de famílias.
Se os indicadores devem refletir a realidade que se deseja medir, as funções
acima mencionadas permitirão que os indicadores sejam amplamente utilizados
nos diferentes momentos do ciclo de gestão, ou seja, nos mais diversos estágios da
elaboração e da implementação de políticas, planos, programas, a saber:

• ex-ante: no diagnóstico de situação, para subsidiar a definição do proble-


ma, o desenho de uma política e a fixação das referências que se deseja modificar,
100
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

• in curso: para monitoramento e avaliação da execução, revisão do planeja-


mento e correção de desvios e
• ex-post: para avaliação de alcance de metas, dos resultados no público alvo
e dos impactos verificados na sociedade (p. 24).

Quando se trata, especificamente, da utilização de indicadores direcionados


ao campo da cultura e da gestão cultural, o professor José Carlos Durand (REVISTA
OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL, 2008) afirma que podem ser úteis em duas esfe-
ras de atuação distintas e que, muitas vezes, não dialogam entre si:

• na gestão pública ou privada da cultura;


• na interpretação do meio cultural, ou seja, para a compreensão dos fenômenos
culturais (p. 31).

Além de serem importantes por atribuírem significados aos dados tratados na


gestão e na política da cultura, quando mensuram, quantificam e qualificam a pro-
dução cultural, os indicadores contribuem para a definição do escopo de atuação e
das prioridades e para a avaliação da efetividade das ações implementadas. Nolasco
(2010) observa que

a área cultural ainda apresenta algumas dificuldades, já que é permeada por


particularidades nem sempre tangíveis ou mensuráveis. Dessa maneira, os
indicadores culturais sempre serão demonstrações “parciais” da realidade. Isso
não diminui a sua importância (p.30).

Atenção!

O fato é que, diante do contexto histórico e da perspectiva de fortalecimento


de uma nova política de cultura no Brasil, a implantação de uma plataforma inte-
gradora de informações para o setor cultural está fortemente associada à dimensão
quantitativa das atividades econômicas geradoras de bens e serviços, uma vez que
a criação, a produção e a comercialização de conteúdos considerados intangíveis e
culturais em sua natureza, que estão protegidos pelo direito autoral, podem assu-
mir a forma de bens e serviços e de indústrias quando o trabalho e o conhecimento
estimulam a criatividade e incentivam a inovação dos processos de produção e co-
mercialização (BRASIL, IBGE, 2013).

101
Para a sistematização das informações e dos indicadores considerados pri-
mários à revitalização do setor cultural, o IBGE destacou “temas que vão desde o
impacto econômico da cultura e de seus diversos setores até a distribuição regional
dos equipamentos culturais” (NOLASCO, 2010, p.31) e que, mediante a observação
de séries históricas, a partir de 2003, foram categorizados em cinco áreas temáticas:
1) Oferta da Cultura; 2) Demanda por Cultura; 3) Indicadores Culturais, 4) Finan-
ciamento da Cultura; 5) Gestão Pública da Cultura (BRASIL. IBGE, 2010).
Esta classificação temática dos dados (Apêndice 1) possibilita a verificação
de dados estatísticos e indicadores, em séries históricas, de grande valia e utilidade
para pesquisadores e profissionais da área cultural, que poderão qualificar suas res-
pectivas atividades e realizar estudos mais analíticos frente aos números (BRASIL.
IBGE, 2010).

Atividade 2

Leia o Apêndice 1 desta aula e, partindo dos dados estatísticos


e indicadores descritos, procure fazer um mapeamento
(levantamento) da realidade do seu município, indicando o
quantitativo correspondente a cada informação existente.

O Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais

A sistematização das informações e dos indicadores culturais, iniciada pelo


IBGE em 2003, possibilitou a criação do Sistema Nacional de Informações e Indi-
cadores Culturais (SNIIC), que, segundo o MinC (BRASIL, 2011), tem o objetivo de
integrar os cadastros culturais e os indicadores a serem coletados pelos municípios,
os estados e o Governo Federal, para gerar informações e estatísticas da realidade
cultural brasileira, disponibilizando à população informações claras, confiáveis e
atualizadas sobre o campo da cultura, para subsidiar o planejamento e a tomada de
decisão referentes às políticas públicas culturais, pesquisas e estudos sobre a área,
como também, para a realização de zoneamentos culturais para conhecimento da
diversidade cultural brasileira e transparência dos investimentos públicos no setor
cultural.

102
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

Atenção!

Em se tratando, especificamente, da gestão pública, as informações geradas


a partir dos dados e análises qualitativas e quantitativas fornecidos pelo SNIIC fa-
vorecerão as operações de gerenciamento, monitoramento e avaliação das políticas
governamentais que estão sendo implementadas

O papel do SNIIC na Política Nacional de Cultura

O Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais, em conjunto


com o Sistema Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Cultura, constituem os
instrumentais básicos para o fortalecimento e a implementação da Política Nacional
de Cultura. A ação integrada desses três instrumentos de políticas públicas, de acor-
do com o IBGE (BRASIL, 2010), ocorre da seguinte forma:

o SNC, como chave central para a organização e articulação dos gestores


públicos, favorecerá a consolidação do PNC, que, por sua vez, estabelecerá
objetivos, políticas, diretrizes e metas para a preservação e o fortalecimento das
expressões culturais, e, finalmente, o SNIIC se integrará a ambos com a função
de atuar tanto nos processos organizativos dos atores que compõem o SNC
como no acompanhamento da evolução das metas do PNC, sempre por meio da
geração de informações e de indicadores (p. 33).

Essa relação harmoniosa se faz necessária na medida em que a política na-


cional de cultura fortalece o seu espaço de atuação, que está estruturada em três
dimensões (Figura 2), que se complementam: a cultura como expressão simbólica,
como direito de cidadania e como campo potencial para o desenvolvimento econô-
mico com sustentabilidade.

Figura 2: A tridimensionalidade da Política Nacional de Cultura


Fonte: Brasil. MinC (2012, p.9)
103
Para Luz (2010), o PNC representa um grande avanço para a política pública
de cultura no Brasil:

Nele, a sociedade brasileira grafa textualmente princípios norteadores da


política cultural brasileira, as atribuições do poder público, as diretrizes para
o financiamento, disponibilizando sistemas de monitoramento e avaliação,
paradigmas que nortearão os gestores públicos e privados na próxima década
em nosso país (p. 28).

Em dezembro de 2011, foram elaboradas as metas do Plano Nacional de Cul-


tura, descritas em cinco capítulos, estabelecendo-se as 14 diretrizes, 36 estratégias e
275 ações a serem executadas em longo prazo, que propõem o redimensionamento
da forma de pensar e fazer a gestão pública da cultura no Brasil, a adoção de uma
governança participativa e compartilhada entre a União, estados e municípios que
garanta a diversidade artística e cultural e o acesso aos bens culturais à população,
além do desenvolvimento socioeconômico sustentável e territorializado.
Nessa conjuntura, para completar a sustentação da política nacional de cul-
tura, em 2012, foi implantado efetivamente o Sistema Nacional de Cultura (SNC),
que, segundo o MinC, se constituiu, institucionalmente, no passo político mais im-
portante nacionalmente:

No plano nacional, o passo mais importante, no campo político e institucional,


já foi dado com a aprovação e promulgação pelo Congresso Nacional da Emenda
Constitucional nº 71/2012, que institui o Sistema Nacional de Cultura. Essa
emenda constitucional assegura juridicamente a implementação do Sistema
Nacional de Cultura, com definição da sua natureza, de objetivos, princípios,
estrutura e componentes (BRASIL/MINC, 2012, p.11).

O SNC é um instrumento de gestão compartilhada de políticas públicas de


cultura entre os entes federados e a sociedade civil, mediante a implantação de
sistemas locais de cultura (estaduais e municipais), de forma a fortalecer as políticas
culturais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, por meio
da institucionalização e ampliação da participação social, em função da promoção
do desenvolvimento humano, social e econômico, do pleno exercício dos direitos
culturais e do amplo acesso a bens e serviços culturais pela população, objetivando
assegurar a continuidade das políticas públicas de cultura como políticas de Estado.

Cada sistema de cultura é constituído por uma coordenação (órgão gestor);


instâncias de articulação, pactuação e deliberação (conselho, conferência
e comissões intergestores); instrumentos de gestão (plano, sistema de
financiamento, sistema de informações e indicadores e programa de formação);
sistemas setoriais de cultura (sistemas de patrimônio cultural, sistema de
museus, sistema de bibliotecas e outros que venham a ser constituídos) (BRASIL/
104
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

MINC, 2013, p. 10).

Na perspectiva de um sistema integrado da dimensão cultural do país, o SNC,


com a determinação legal pautada na política nacional de cultura, de normas e
procedimentos pactuados que integram a sociedade civil e os entes federados, o
Ministério da Cultura (BRASIL/MINC, 2012) orienta que cada um dos sistemas de
gestão cultural (esferas federal, estadual, municipal e distrital) seja constituído pe-
los seguintes elementos:
Para o MINC, é importante que estes elementos do SNC estejam presentes
nos sistemas de gestão cultural, com exceção das Comissões Intergestores, que fa-
zem parte apenas das instâncias federal e estadual. No entanto, evidencia-se o fato
de que nem todos os municípios possuem as condições materiais, técnicas e polí-
ticas necessárias para implantar todos os componentes, como é o caso do Sistema
de Informações e Indicadores Culturais, dos Sistemas Setoriais e do Programa de
Formação na área da Cultura, devendo-se, pois, interagir com esses componentes
nas esferas estaduais e nacional, a fim de se manterem integrados ao processo geral
de implantação do SNC (BRASIL/MINC, 2012).

Figura 3: Elementos constitutivos Sistema de Gestão Cultural


Fonte: Brasil/MinC (2012, p. 26)

105
Atenção

Nessa conjuntura, o Ministério da Cultura observa que os pequenos e mé-


dios municípios, em geral, não têm condições ou necessidade de instituir imedia-
tamente estes componentes nos seus Sistemas Municipais de Cultura. No entanto,
estes poderão constituí-los com no mínimo cinco elementos, a saber: Secretaria
de Cultura (ou órgão equivalente), Conselho Municipal de Política Cultural, Con-
ferência Municipal de Cultura, Plano Municipal de Cultura e Sistema Municipal de
Financiamento da Cultura (com Fundo Municipal de Cultura).

Assim, o SNC surge como o mecanismo institucional capaz de viabilizar esse


modelo de gestão, articulando e integrando os três entes federados e a sociedade
civil, mediante a elaboração de planos de cultura, nos três níveis da federação. Tais
planos formam um dos pilares fundamentais desse sistema, junto com o fortaleci-
mento dos órgãos responsáveis pela gestão cultural, dos conselhos, das conferên-
cias e dos sistemas de financiamento da cultura.
Dessa forma, o SNC torna-se a chave central para a organização e a articula-
ção dos gestores públicos em favor da consolidação do PNC, que, por sua vez, esta-
belece os objetivos, as políticas, as diretrizes e as metas para a preservação e o for-
talecimento das expressões culturais, e, finalmente, o SNIIC, que se integra ambos
com a função de atuar tanto nos processos organizativos dos atores que compõem
o SNC como no acompanhamento da evolução das metas do PNC, sempre por meio
da geração de informações e de indicadores (BRASIL, 2013).

Para saber mais sobre o SNIIC

Acesse os sites: www.cultura.gov.br, http://www.cultura.gov.br/snc e http://


sniic.cultura.gov.br/.

106
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais

Complementando

Sobre o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais:


Art. 9º Fica criado o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais
- SNIIC, com os seguintes objetivos:

I - coletar, sistematizar e interpretar dados, fornecer metodologias e estabelecer


parâmetros à mensuração da atividade do campo cultural e das necessidades
sociais por cultura, que permitam a formulação, monitoramento, gestão e
avaliação das políticas públicas de cultura e das políticas culturais em geral,
verificando e racionalizando a implementação do PNC e sua revisão nos prazos
previstos;
II - disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para
a caracterização da demanda e oferta de bens culturais, para a construção
de modelos de economia e sustentabilidade da cultura, para a adoção de
mecanismos de indução e regulação da atividade econômica no campo cultural,
dando apoio aos gestores culturais públicos e privados;
III - exercer e facilitar o monitoramento e avaliação das políticas públicas de
cultura e das políticas culturais em geral, assegurando ao poder público e à
sociedade civil o acompanhamento do desempenho do PNC.

A criação deste sistema de dados culturais unificado e descentralizado, retro-


alimentável de forma coletiva pelas esferas governamentais, iniciativa privada e a so-
ciedade civil, se estabelece “dentro dos princípios de rede colaborativa e dos novos
paradigmas de governo na era da informação, que são gerenciamento eletrônico,
transparência e responsabilidade do cidadão na autogestão da vida social” (BRASIL,
2013 – Site do MinC).
A plataforma do SNIC também se dispõe a coletar, armazenar, e difundir os
dados e informações sobre agentes e objetos culturais em âmbito nacional median-
te o Registro Aberto da Cultura (RAC), que é um dos seus módulos constitutivos.

O RAC/SNIIC está baseado em três conceitos centrais: usuário-informante,


agente cultural e objeto cultural. O usuário informante é qualquer cidadão que
se disponha a prestar informações sobre a cultura brasileira. O agente cultural
é qualquer profissional ou instituição que mantenha relação com o mundo
da cultura (Ex: fundações, institutos, empresas, artistas). O objeto cultural é
toda e qualquer externalidade física mantida por um agente cultural cadastrado
(Ex.: um teatro, um cinema, um grupo folclórico). O princípio básico do
SNIIC, portanto, é que cada objeto cultural tem um agente cultural vinculado
e um usuário-informante. Assim, fica estabelecida uma cadeia lógica dos três
conceitos que une órgãos e instituições, gestores ou mantenedores de objetos
culturais e qualquer cidadão brasileiro que cadastre as informações que lhes são
pertinentes.

107
Para garantir a identificação única e a rastreabilidade de um agente cultural ou
de um objeto cultural, é gerado no sistema e associado a eles um número (Nº
SNIIC) (BRASIL, MINC, 2013, p. 13).

De livre acesso à sociedade brasileira pela Internet (www.minc.gov,br), o


SNIIC torna-se a fonte referência de informações do segmento cultural no país. Des-
sa forma, assume um papel muito importante nas políticas públicas, quando per-
mite a interação do cidadão com o Estado ao promover a transparência das ações
e dos investimentos culturais. A função de atuar nos processos organizacionais dos
atores sociais e acompanhar a execução das metas do PNC, mediante a geração de
informações e de indicadores, evidencia sua ação de complementaridade aos de-
mais instrumentos (o SNC e o PNC) da política nacional de cultura.

Resumindo

A pesquisa realizada pelo IBGE, de natureza quantitativa e direcionada à mo-


dernização da gestão das políticas públicas de cultura, disponibilizou, por meio
de seus bancos de dados, um levantamento técnico-científico das informações e
dos indicadores vinculados à área cultural, no intuito de implantar uma platafor-
ma integradora de informações, o Sistema Nacional de Informações e Indicado-
res Culturais, utilizado como um repositório de dados sobre a cultura nacional,
compartilhado, de forma pública e transparente, por todos os segmentos sociais, e
para o monitoramento e a avaliação do ciclo das políticas, dos planos, programas
e projetos culturais em todas as instâncias administrativas, disponibilizando, assim,
instrumento oficial de gestão de informações culturais do governo brasileiro.

108
Referências bibliográficas

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São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2008.
Apêndice 01

Classificação das informações e indicadores culturais


1 - Oferta da cultura
Caracterização:
Aponta os dados relativos à infraestrutura cultural no Brasil, abrangendo praticamente
todos os segmentos culturais, classificados em doze grupos de atuação.
Classificação: Equipamentos • Cinema • Videolocadora• Loja de disco, CD/
culturais DVD • Biblioteca pública • Livraria• Museu•
Teatro • Centro cultural.
Grupos artísticos • Associação literária • Cineclube • Orques-
tra • Banda• Dança • Coral• Teatro • Artes•
Escola de samba• Bloco carnavalesco• Circo•
Desenho e pintura• Musical• Capoeira• Artesa-
nato• Manifestação tradicional popular.
Oferta de cursos de • Artes cênicas • Teatro • Música • Regência •
graduação Designe moda • Gravura • Pintura • Desenho
e plástica • Radialismo • Jornalismo • Bibliote-
conomia• Museologia • Dança • Artes visuais•
Cinema.
Oferta de cursos de • Circo • Vídeo • Cinema • Fotografia • Gestão
capacitação cultural • Literatura • Artes plásticas • Teatro •
Música • Artesanato• Dança • Manifestações
tradicionais populares • Patrimônio/Conserva-
ção e restauração .
Atividades culturais: • Música • Dança • Teatro • Vídeo • Cinema
Festival ou Mostra • Gastronomia • Manifestação tradicional popu-
lar.
Feiras • Livros • Moda • Agropecuária • Artes • Ar-
tesanatos.
Exposições • Artes plásticas • Acervo histórico • Artesanato
• Fotografia • Artes visuais.
Concurso • Dança • Dramaturgia • Música • Cordel •
Fotografia • Vídeo • Cinema • Literatura.
Classificação: Meios de comunica- • Rádio AM • Rádio FM • Rádio comunitária •
ção Geradora de TV • TV comunitária • Provedor
de Internet • Jornal impresso local • Revista im-
pressa local.
Artesanato • Madeira • Barro • Pedras preciosas • Pedras
• Vidro • Conchas • Metal • Couro • Renda
• Bordado • Tecelagem • Tapeçaria • Frutas e
sementes • Fibras vegetais • Culinária típica •
Fios e fibras • Material reciclável.
Patrimônio • Bens tombados .
Outros • Índice de habitantes por equipamentos (Tea-
tro, Cinema, Museu e Biblioteca Pública) • Índi-
ce de concentração as capitais (Teatro, Cinema,
Museu e Biblioteca Nacional).
2 - Demanda por cultura
Caracterização:
Aponta dados relacionados à área de consumo, economia da cultura e práticas culturais,
a partir da utilização pública dos meios de comunicação, mediante perguntas-chave diri-
gidas aos participantes da pesquisa.
Classificação: Jornal • Lê pelo menos um título uma vez por semana?
Televisão • Assistiu durante 5 horas ou mais nos últimos
sete dias?
TV por assinatura • Assistiu durante 5 horas ou mais nos últimos
sete dias?
Revista • Lê pelo menos um título uma vez por mês?
Cinema • Frequenta pelo menos uma por mês?
Internet • Acessou nos últimos sete dias?
Rádio • Ouviu alguma emissora nos últimos 7 dias?
3 - Indicadores culturais
Caracterização:
Aponta os dados relacionados aos agregados macroeconômicos: consumo, investimento
e gastos do governo pelo lado do dispêndio; remuneração e salários, pessoal ocupado e
número de empresas pelo lado da oferta; além de valor adicionado e consumo interme-
diário pelo lado da produção.
Classificação: Indicadores Cultu- • Dados gerais da participação das atividades
rais de Produção culturais no valor bruto da produção, consumo
intermediário e valor adicionado
• Participação do valor adicionado das ativida-
des industriais culturais
• Participação do valor adicionado das ativida-
des comerciais culturais
• Participação do valor adicionado das ativida-
des de serviços culturais
• Participação do consumo intermediário das
atividades industriais culturais
• Participação do consumo intermediário das
atividades comerciais culturais
• Participação do consumo intermediário das
atividades de serviços culturais
• Participação do valor bruto da produção das
atividades industriais culturais
• Participação do valor bruto da produção das
atividades comerciais culturais
• Participação do valor bruto da produção das
atividades de serviços culturais
• Participação das atividades culturais no custo
total e receita líquida
• Participação dos custos totais das atividades
industriais culturais
• Participação dos custos totais das atividades
comerciais culturais
•Participação dos custos totais das atividades de
serviços culturais
Classificação: Indicadores Cultu- • Participação das atividades industriais cultu-
rais de Produção rais na receita líquida
• Participação das atividades comerciais cultu-
rais na receita líquida
• Evolução das atividades de serviços culturais
na receita líquida
Indicadores Cultu- • Participação do setor cultural na economia
rais de Oferta brasileira
• Evolução da participação do setor cultural na
economia brasileira
• Participação do pessoal ocupado por número
de empresas
• Participação do número de empresas das ativi-
dades industriais culturais
• Participação do número de empresas das ativi-
dades comerciais culturais
• Participação do número de empresas das ativi-
dades de serviços culturais
• Participação do número de empresas segundo
setores nas atividades culturais
• Participação do pessoal ocupado das ativida-
des industriais culturais
• Participação do pessoal ocupado nas ativida-
des comerciais culturais
• Participação do pessoal ocupado nas ativida-
des de serviços culturais
• Participação do setor cultural no total geral da
economia
• Participação do pessoal ocupado por condição
de contribuição para a previdência
• Participação do pessoal ocupado por
• Participação do pessoal ocupado por faixa etá-
ria
• Participação do pessoal ocupado por horas tra-
balhadas semanais
• Participação do pessoal ocupado por posição
na ocupação do trabalho principal
Classificação: Indicadores Cultu- • Participação do pessoal ocupado segundo a raça
rais de Oferta • Participação porcentual do pessoal ocupado se-
gundo o sexo
• Participação do número de empresas segundo o
tamanho
• Evolução porcentual do número de empresas de
acordo com o tamanho
• Participação do pessoal ocupado segundo tama-
nho das empresas
• Evolução do pessoal ocupado segundo tamanho
das empresas
• Participação dos salários e outras remunerações
segundo o tamanho das empresas.
• Evolução do pessoal ocupado por empresa se-
gundo o tamanho
• Salários e outras remunerações segundo o tama-
nho das empresas
• Salário médio e custo do trabalho nos setores
econômicos total e cultural
• Salário médio e custo do trabalho –Indústria de
transformação
• Salário médio e custo do trabalho – Comércio
Salário médio e custo do trabalho – Serviços
• Evolução do salário médio mensal (salários mí-
nimos)
• Evolução do salário médio mensal na indústria
(salários mínimos)
• Evolução do salário médio mensal das atividades
comerciais culturais
• Evolução do salário médio das atividades de ser-
viços culturais (salários mínimos)
• Evolução do custo do trabalho
• Evolução do custo do trabalho da indústria
• Evolução do custo do trabalho das atividades co-
merciais culturais
• Evolução do custo do trabalho das atividades de
serviços culturais
Classificação: Indicadores Cultu- • Taxa de investimento da indústria do livro
rais de Dispêndio • Taxa de investimento das indústrias de música,
software, rádio e televisão
• Taxa de investimento das indústrias de cinema
e das outras atividades de artes e espetáculos
• Taxa de investimento das atividades culturais x
total geral da economia
• Taxa de margem de comercialização
• Participação das esferas do governo nos gastos
públicos com cultura no Brasil
• Participação das despesas com cultura no orça-
mento total brasileiro
• Despesas por Unidade de Federação
• Despesas por Unidade de Federação Esfera
estadual
• Despesas por Unidade de Federação Esfera
municipal
• Despesa consolidada por funções correlatas
• Despesa de consumo monetária e não-mone-
tária média mensal familiar
• Despesa de consumo monetária e não-mone-
tária média mensal familiar - Distribuição por-
centual
• Despesa de consumo monetária e não-mone-
tária média mensal familiar, sem a inclusão da
telefonia no grupo cultura
• Despesa de consumo monetária e não-mone-
tária média mensal familiar, sem a inclusão da
telefonia no grupo cultura – Proporção
• Despesa em reais per capita com cultura por
região
• Rendimento total médio mensal familiar e des-
pesa monetária e não-monetária média mensal
familiar com o grupo cultura, em reais, e porcen-
tual da despesa como grupo com relação à ren-
da, segundo as características das famílias, Brasil
4 - Financiamento da cultura
Caracterização:
Aponta dados relacionados ao financiamento do setor cultural, especificamente no âmbi-
to da renúncia fiscal, no tocante aos projetos apresentados ao Ministério da Cultura, bem
como com relação à aprovação e captação destes, nos seguintes segmentos: artes cênicas,
artes integradas, artes plásticas, audiovisual, humanidades, música e patrimônio cultural,
também contempla informações acerca dos investidores culturais pessoa física e jurídica,
assim como constam informações relativas ao financiamento/patrocínio dos municípios
brasileiros no que concerne à produção de filmes, das peças teatrais, de publicações
culturais, festas populares e eventos
Classificação Valores e montante Informações periódicas a partir do ano 2000.
de projetos
Captação de mece- • Por região
nato • Por segmento cultural (artes cênicas, artes in-
tegradas, audiovisual, artes plásticas, humanida-
des, música e patrimônio cultural).
Investidores • Pessoa física e jurídica por região
Financiamento mu- • Municípios com financiamento ou patrocínio
nicipal à cultura do poder público municipal em: produção de fil-
mes, peças teatrais, publicações culturais, festas
populares e eventos.
5 - Gestão pública da cultura
Caracterização:
Aponta dados acerca da gestão cultural no setor público dos municípios brasileiros.
Classificação: Conselho Municipal • Tipos de Conselho Municipal de Cultura
de Cultura (CMC) • Conselho Municipal de Cultura por região
Conselho Municipal • Tipos e Quantidade de Conselho Municipal de
de Preservação de Cultura por região
Patrimônio Cultural • Representatividade dos Conselhos Municipais
de Cultura por região
• Formas de escolha dos representantes dos
Conselhos Municipais de Cultura
• Representação dos Conselhos Municipais de
Cultura
Classifica- Plano Munici- • Plano Municipal/Intermunicipal de Cultura por região
ção: pal de Cultura • Municípios que tiveram o Plano Municipal/Intermuni-
cipal elaborado em conjunto com a sociedade civil
• Distribuição dos estados com existência de Plano Mu-
nicipal ou Intermunicipal de Cultura

Legislação • Legislação municipal de fomento à cultura por região


Municipal de • Municípios que utilizaram a legislação municipal de
Fomento à fomento à cultura nos últimos dois anos, por região
Cultura • Distribuição dos estados com legislação municipal de
fomento à cultura
• Objeto da legislação municipal de fomento à cultura
• Concessões de descontos mais utilizados nos municí-
pios que aplicaram a legislação municipal de fomento à
cultura
Legislação • Legislação municipal de proteção ao patrimônio cultu-
Municipal de ral (material e imaterial) por região
Proteção ao • Natureza do bem tombado pela legislação de proteção
Patrimônio ao patrimônio cultural material
Cultural • Distribuição dos estados com legislação municipal de
proteção ao patrimônio cultural (material e imaterial)
Recursos • Municípios com recursos municipais destinados à cul-
Destinados a tura
Cultura por • Distribuição dos estados com recursos municipais des-
Origem tinados à cultura
• Municípios com recursos estaduais destinados à cul-
tura
• Distribuição dos estados com recursos estaduais des-
tinados à cultura
• Municípios com recursos da União destinados à cul-
tura
• Distribuição dos estados com recursos da União des-
tinados à cultura
Classificação: Órgão Gestor da • Secretaria municipal exclusiva de cultura por
Cultura região
• Órgão gestor de cultura nos municípios
• Distribuição dos estados com secretaria muni-
cipal exclusiva de cultura
Recursos Humanos • Escolaridade do gestor
da Cultura • Escolaridade do gestor – Acumulado
• Escolaridade dos estatutários
• Escolaridade dos celetistas
• Escolaridade dos comissionados
• Escolaridade dos funcionários sem vínculo
permanente
Turismo Cultural • Implementação de turismo cultural nos muni-
cípios por região
• Fase/execução do projeto de turismo cultural
• Atividades relacionadas aos projetos de turis-
mo cultural
• Distribuição dos estados com implementação
de turismo cultural nos municípios
Fonte: BRASIL/MinC (2010)
Aula 7

Direitos culturais
no Brasil
Francisco Humberto Cunha Filho

Objetivos
- Compreender o que o direito brasileiro entende por cultura e por Direitos
Culturais.
- Fazer a diferença entre direitos e garantias culturais.
- Distinguir os Direitos Culturais de outros conceitos que com eles são con-
fundidos.

Introdução
Desde 10 de dezembro de 1948, ao adotar e proclamar a Resolução 217 A,
na qual está a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Assembleia Geral das
Nações Unidas chamou a atenção para um novo e delicado núcleo de direitos, assim
tidos por estarem relacionados e envoltos na subjetividade e nos muitos significa-
dos da palavra cultura: os Direitos Culturais - DsCs. Em pelo menos dois artigos faz
expressa referência aos DsCs, sendo que em um deles prevalece a abordagem gene-
ralista e, no outro, a mais restrita; correspondem, tais alusões, à principal dicotomia
que persiste como entrave para uma unificação conceitual.
A compreensão mais ampla está no Artigo XXII, pelo qual “toda pessoa, como
membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço
nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade”.
O entendimento mais restrito figura nos dois itens do Artigo XXVII: “1. Toda
pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de
fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda
pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qual-
quer produção científica, literária ou artística da qual seja autor”.
No primeiro caso, os Direitos Culturais relacionam-se com a ideia de respeito
aos modus vivendi peculiares aos distintos povos destinatários e signatários da de-
claração; no outro, a atividades mais específicas, cujos núcleos podem ser extraídos,
com variações gramaticais, do próprio texto: arte, ciência e literatura.
Considerando que as declarações de direitos são espécies de faróis para a
produção das normas jurídicas nos países que formam a comunidade internacional,
o objetivo desse escrito é o de dimensionar se, e em que medida, há influência da
Declaração de 1948, da ONU, sobre o comando existente na Constituição Brasileira
de que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais...”
(parte inicial do Art. 215), tentando ‘medir’ a dimensão ofertada à expressão em
destaque. Ademais, a partir do entendimento obtido, traçar um perfil do atual está-
gio dos direitos culturais em nosso país.

Culturalismo Jurídico, Multiculturalismo e Direitos Culturais


Os muitos sentidos da palavra cultura estimulam a aproximação e até a con-
fusão de expressões de grafias próximas, mas de substâncias distintas. Nas mais
achegadas relações do Direito com a Cultura, pelo menos três delas precisam ser
evidenciadas, no sentido de precisar-lhes os significados, de modo a evitar que uma
seja empregada no lugar da outra, o que inevitavelmente gera caos em termos co-
municacionais e, principalmente, científicos.
A primeira dessas expressões é culturalismo jurídico, portadora de uma
abrangência tão colossal que fornece base para uma teoria que explica todo o Di-
reito (ciência) e todos os direitos (bens jurídicos), a partir da cultura, para tanto
tomada em sua dimensão antropológica (REALE, 2000). Para essa teoria, por conse-
guinte, falar em direitos culturais é uma tautologia, porque todos eles o são.
Multiculturalismo, por seu turno, é uma derivação da ideia culturalista, para
territórios específicos ou especificados, por meio da qual se defende a coexistên-
cia de povos, comunidades e grupos lastreados em valores e expressões culturais
distintas (LOPES, 2010). A sua preocupação, portanto, não é com o conjunto dos

122
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil

direitos culturais, mas com um, que é específico em termos de identificação, porém
genérico enquanto abrangência: o direito à diversidade.
Direitos Culturais, em sentido diverso aos apresentados, pressupõem a es-
pecificação, se não de um rol, ao menos de categorias de direitos relacionados com
a cultura, compreendida a partir de núcleos concretos formadores de sua substân-
cia, como as artes, a memória coletiva e o fluxo dos saberes (CUNHA FILHO, 2004).
As interconexões entre os três conceitos levam às seguintes observações: cul-
turalismo jurídico é teoria; multiculturalismo é ideologia; Direitos Culturais são
práxis. Evidenciam-se, em decorrência, graus de concretude e materialização dife-
renciados e crescentes do primeiro para o último.
Assim, não se pode confundir culturalismo jurídico e tampouco multicul-
turalismo com Direitos Culturais, pois a abrangência e significados dos primeiros
aniquilariam a dimensão mais concreta do outro. Contudo, por paradoxal que apa-
rente, há um direito cultural específico às práticas multiculturalistas, bem como à
concepção que explica as relações sociais a partir do culturalismo.

Direito à cultura, direito da cultura e Direitos Culturais


É possível que as terminologias acima ensaiadas fiquem mais evidentes com
o comparativo das três expressões que dão título a este tópico.
Inicialmente, há consideráveis diferenças entre os significados de direito à
cultura e Direito da Cultura; o primeiro, mais uma vez remete aos aspectos ge-
néricos e abstratos da convivência humana. Em princípio se refere a “um” direito,
embora que de dimensão grandiloquente e amorfa; corresponde, na linguagem da
ONU, à prerrogativa de participar na vida cultural da comunidade. Com efeito, o
direito à cultura constitui proteção contra mudanças abruptas e ilegítimas, mesmo
porque até as próprias restrições ao seu acesso, decorrentes, por exemplo, de se-
gregações punitivas (prisões e outros castigos), integram o amálgama cultural que
lhe dá substância. Pedro (2001, p. 212), ao mesmo tempo sintetiza, e o localiza no
mundo jurídico: “O direito à cultura se contextualiza nos direitos culturais, como
uma de suas principais manifestações, e os direitos culturais, por seu turno, nos
direitos humanos” (livre tradução).
A outra expressão – Direito da Cultura – permite vislumbrar “o” direito que
rege relações específicas e tangíveis, a partir de elementos palpáveis do universo
cultural observado. Pontier, Ricci e Bourdon (1990, p. 90) sustentam que o desen-
volvimento de políticas públicas específicas forjou a criação do referido direito, que
passou a ser evidentemente necessário, por pelo menos três motivos: (1) tornou-se
imperioso regulamentar os serviços públicos de cultura, que passaram a ser ofer-

123
tados; (2) a ação estatal criou o respectivo poder de polícia cultural, exercível sob
disciplina e controle; e (3) o impulso das políticas gerou mais fluxos e relações cul-
turais, das quais decorreu natural crescimento quantitativo e qualitativo de litígios
culturais, que passaram a exigir parâmetros para a solução.
Monnier e Forey (2009, p. 18 e 19) comungam com esse entendimento e
precisam que o Direito da Cultura passou a receber tratamento de disciplina au-
tônoma, na França, somente a partir dos anos 1990. Mesmo reconhecendo a he-
terogeneidade e multiplicidade de objetos, mencionam alguns, como exemplos:
os monumentos históricos, os arquivos, os vestígios arqueológicos, as criações do
espírito, a língua, os livros.
Sem prejuízo da observação de Pedro (2001, p. 215), de que o conceito,
menos que uma categoria jurídica de aplicação direta, presta-se mais a identificar
um grupo de Direitos Fundamentais, no Brasil, desde 2007, a Universidade de
Fortaleza – UNIFOR - tem disciplina específica, com versões diferenciadas para a
graduação e pós-graduação – mestrado e doutorado em Direito - (CUNHA FILHO;
TELLES; COSTA, 2008), designada com a expressão que faz deferência à literalidade
do texto constitucional do país: Direitos Culturais. Contudo, na dimensão teórica
e na aplicação efetiva, praticamente equivale a Direito da Cultura, por versar sobre
as relações jurídicas específicas em três grandes campos: artes, memória coletiva e
fluxo de saberes.

Constituição cultural: liberdades, prestações e estímulos


A Constituição brasileira é abundante no tratamento da cultura; isso fica
evidente no fato de que em todos os seus títulos há alguma ou até mesmo farta
disciplina jurídica sobre o assunto. Poderia, por isso, ser chamada de “constituição
cultural”, mas também pelo fato de possuir seção específica para o tema, em cujo
artigo inaugural – 215 - se lê que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Na verdade, se não fosse o encantamento brasileiro pela retórica e pela proli-
xidade, o texto do artigo transcrito poderia terminar na parte em destaque, porque
os complementos nada mais são do que manifestações específicas de direitos cultu-
rais. Contudo, possuem uma utilidade, evidenciada em palavras substanciais neles
contidas: acesso, apoio, incentivo, valorização e difusão. A serventia é a de exibir
que o Estado, ao garantir o exercício dos DsCs, tem múltiplos papéis, ajustáveis
conforme o direito a que se refere. Em gênero, podem consistir em abstenções e
atuações; estas podem ser divididas em prestações e estímulos que, por seu turno,

124
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil

são positivos ou negativos, conforme se queira incrementar ou inibir certas práticas.


Sendo certa a categorização feita por Silva (1993, p.280) relativa aos Direitos
Culturais, compreendendo-os como: “a) o direito à criação cultural, compreendidas
as criações científicas, artísticas e tecnológicas; b) direito de acesso às fontes da
cultura nacional; c) direito de difusão da cultura; d) liberdade de formas de ex-
pressão cultural; e) liberdade de manifestações culturais; f ) direito-dever estatal de
formação do patrimônio cultural brasileiro e de proteção dos bens de cultura (...)”,
quando se trata de garantir as liberdades culturais, a abstenção é o recomendado;
se o foco é assegurar possibilidades equânimes de criação e difusão, atuações e
prestações são necessárias.
Consequência inevitável, nesse caso, é alguma interferência, nem que seja a
de minimamente observar conteúdos e capacidade operacional de quem é incen-
tivado, tudo porque os apoios e estímulos são feitos segundo os preceitos cons-
titucionais – impregnados de valores- e com recursos públicos, que precisam ser
fiscalizados quanto ao emprego previsto. Relativamente aos valores, mesmo sem
referência direta às normas positivadas, é precisa e preciosa a síntese de Teixeira
Coelho (2008, p. 12) ao pugnar que a cultura seja “um dique contra o obscuran-
tismo da religião, da ideologia e da economia, alavanca da governabilidade laica,
republicana, e de uma qualidade de vida que preserve o mundo”.
Porém, insiste-se, o direcionamento de estímulos somente é admissível den-
tro de estritas balizas constitucionais, porque a regra básica, para o setor enfocado,
determina que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença.

Direitos e deveres culturais em gênero


Apesar de, no Brasil, serem quase sinônimas as expressões Direito da Cultu-
ra e Direitos Culturais, a última carrega a desvantagem de induzir ao pensamento
de que as relações jurídicas do setor contemplam apenas “direitos”, levando à falsa
impressão sobre a inexistência de “deveres” culturais; quando muito, cogita-se que
eventuais deveres são de responsabilidade apenas do Estado. Contudo, há algo que
de tão básico na teoria jurídica é de domínio de quase todas as pessoas, mesmo as
leigas: aos direitos correspondem deveres (BOBBIO, 2000), sendo que estes são de
responsabilidade das pessoas indicadas na legislação; e em termos de cultura, além
do Estado, são muitas (SILVA, 2007, p. 95).
Uma rápida observação de como se configuram os grandes núcleos dos di-
reitos culturais – artes, memória coletiva e fluxo de saberes – permite vislumbrar o
estágio desta relação.

125
Relativamente às artes, com status de direito fundamental, é assegurado, nos
termos da lei, o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas re-
presentações sindicais e associativas. É a explícita manifestação do aspecto patrimo-
nialista, de direito de propriedade, sobre a criação do intelecto. Contudo, a mesma
Constituição genericamente determina que a propriedade atenderá a sua função
social, o que obviamente se refere a qualquer tipo de domínio, inclusive o intelectu-
al. Em palavras que indicam a forma de operacionalizar simultaneamente as normas
transcritas: os criadores, ao tempo em que têm direitos enquanto proprietários,
na mesma condição, têm deveres; os destinatários de suas obras, também. Não é à
toa que um dos grandes desafios do momento é a reconstrução da legislação rela-
tiva aos direitos autorais, atualmente com pendores mais favoráveis à propriedade,
sem a devida medida para com a função social respectiva ( WACHOWICZ; SANTOS,
2010).
No campo mais tradicional do resguardo da memória coletiva, o do tom-
bamento, desde 1937 é clara - ao menos normativamente - a correlação direitos-
-deveres culturais, evidente na conservação do direito de propriedade ao dono do
bem tombado, excetuadas as possibilidades de destruir, modificar sem autorização,
submeter-se a fiscalizações e controles, além de, em caso de alienação, ofertar a pre-
ferência ao poder público. Mas este equilíbrio é quase sempre apenas normativo,
pois as grandes tendências são de tentar impedir a concretização do tombamento e/
ou de seus efeitos, ou de tentar que seja comutado em desapropriação.
No domínio da proteção do patrimônio cultural imaterial, o equilíbrio tam-
bém é dificultoso; aceitam-se, com tranquilidade, por exemplo, compensações e
reconhecimentos públicos aos chamados tesouros vivos; mas se dos mesmos se
pede repasse de saberes, fazeres e viveres, dúvidas são levantadas quanto à possível
obrigação.
Também não há boa recepção quando se pondera sobre o conteúdo e a for-
ma de tais saberes, fazeres e viveres, estimulando os que se compatibilizam com os
assim designados dogmas constitucionais valorizadores de bens como dignidade
humana, igualdade sem discriminações negativas, respeito à natureza, e, por óbvio,
desestimulando os que atuam em sentido antagônico. De fato, velar por estes bens
corresponde ao dever que todos e cada um têm para aprimorar as relações huma-
nas.

126
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil

Rol e categorização dos direitos culturais


Há algumas tentativas de elaborar o rol exaustivo dos direitos culturais, cujo
bom intuito, certamente, é o de facilitar e fazer conhecer os mesmos. Contudo, em
temos científicos, esse tipo de empreitada corresponde a um modelo antigo de ob-
servar a realidade, quando a dinâmica da vida social era bem menos célere e pouco
afetada por novidades, o que permitia audácias simplificadoras como, por exemplo,
a de tentar reger a humanidade por apenas dez mandamentos.
Nos tempos correntes, uma relação dos direitos culturais lembraria o tear
de Penélope, urdido durante o dia, mas passível de ser desfeito à noite (MÉNARD,
1991); não propriamente por sabotagem, mas em virtude de duas causas principais:
a dinâmica de criação, extinção e modificação dos direitos na contemporaneidade,
bem como a frequente programaticidade das normas do setor.
Quanto ao primeiro aspecto – a dinâmica jurídica – o legislador tem o poder
de, a qualquer momento, alterar a legislação, excetuadas algumas cláusulas (por
isso mesmo, chamadas de pétreas), de modo a valer sempre a norma mais nova
sobre as antigas.
A programaticidade de muitas das normas de direitos culturais, por seu
turno, significa a possibilidade de adaptação da forma de concretizá-las, segundo
distintos programas políticos. Desse modo, por exemplo, quando a Constituição
brasileira determina que “a lei estabelecerá incentivos para a produção e o conheci-
mento de bens e valores culturais”, o legislador, em dado momento, pode entender
que os referidos incentivos advirão de renúncia fiscal; noutro, pode avaliar que o
mais adequado é que o Estado diretamente os forneça.
Vê-se que relacionar os direitos culturais corresponde a esforço braçal e inin-
terrupto para atualização, razão pela qual, sem abandonar a consciência da impor-
tância de ao menos se ter noção sólida dos existentes, passou-se à idéia de conhecer
não o “rol”, mas as “categorias”, a exemplo do que fez José Afonso da Silva (ver o
trecho acima transcrito), ou, ainda, Peter Häberle (1993, p. 211-212), ao analisar
constituições de países europeus, fazendo alusões a: “liberdade de prática da ciên-
cia e da arte”, “liberdade de ensino”, “direito à instrução”, “liberdade para apren-
der”, “liberdade dos pais para educar a prole”, “liberdade de ação das associações
culturais”, “tutela da propriedade intelectual”, “alfabetização de adultos”, “partici-
pação na radiodifusão”, “proteção ao patrimônio histórico e artístico” e “proteção
da natureza”.

Garantias aos direitos culturais


Por relação exaustiva ou por categorias, conhecer os direitos culturais não é
127
um fim, mas apenas um instrumento para viabilizar a sua concretização. Nesse do-
mínio, é conveniente lembrar que no Brasil é relativamente fácil reconhecer norma-
tivamente novos direitos; difícil mesmo é dar efetividade a estes, como aos antigos.
Essa prática remete à necessidade de, tão intensamente quanto os direitos,
conhecerem-se e categorizarem-se as garantias culturais (BARROSO, 2000, p.121).
Elas são os elementos dos quais os titulares dos direitos podem e devem se valer
para verem os mesmos migrando da simples previsão em textos legais para o mun-
do dos fatos. Obviamente, as garantias de direitos circundam o mundo jurídico, mas
o extrapolam, por serem também de natureza política e social.
Na Constituição brasileira, a preocupação ficou evidenciada nas três altera-
ções que afetaram a seção destinada à cultura, por meio das Emendas Constitucio-
nais – EC nº 42/2003, 48/2005 e 71/2012 que, ao invés de seguirem a tradição de
criar novos direitos, se preocuparam em definir garantias aos já existentes.
As duas últimas, v.g., ao instituir, respectivamente, “o Plano Nacional de
Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à
integração das ações do poder público”, e o “Sistema Nacional de Cultura”, de fato
almejam a continuidade das políticas culturais, além de somar e integrar esforços e
recursos dos poderes públicos responsáveis pelas mesmas.
No mesmo sentido, a EC nº 42/2003, ao facultar “aos Estados e ao Distrito
Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cen-
to de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos
culturais”, visa criar o esteio pecuniário necessário à efetivação dos direitos cultu-
rais. Essa Emenda, contudo, fornece a certeza de que as garantias jurídicas não são
suficientes para o propósito perseguido, isso porque, mesmo autorizados, nenhum
Estado e tampouco o Distrito Federal usaram a permissão constitucional de criar
verbas vinculadas a um fundo de cultura. Certamente faltou a pressão dos interes-
sados sobre seus representantes para que os entes referidos editassem as normas
necessárias ao incremento das verbas favoráveis às políticas culturais; se isso tivesse
ocorrido, representaria acionamento das garantias políticas e sociais.

Resumo
No Brasil, pode-se concluir que

(1) os Direitos Culturais não se confundem com culturalismo jurídico (uma


teoria) e, tampouco com multiculturalismo (uma ideologia); mas, entre os primei-
ros, está a prerrogativa de entender as relações sociais a partir da cultura, bem como
a convivência simultânea de distintas matizes e matrizes culturais;

128
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil

(2) Direitos Culturais, no Brasil, é expressão quase sinônima de Direito da


Cultura; direito à cultura é fórmula vinculada à antropologia, possuidora de dimen-
são tão abrangente, ao ponto de ser impossível o seu descumprimento em termos
absolutos;
(3) o Estado tem múltiplos papéis na missão de garantidor do pleno exercí-
cio dos Direitos Culturais, passíveis de síntese no asseguramento de liberdades, na
entrega de bens e serviços e realização de estímulos positivos e negativos, conforme
os limites constitucionais;
(4) os Direitos Culturais vêm inexoravelmente acompanhados dos respecti-
vos deveres culturais, de responsabilidade não apenas do Estado, mas de múltiplos
atores sociais;
(5) a melhor forma de conhecer direitos e deveres culturais não é a constru-
ção de um rol, mas o entendimento de suas categorias, pois a fórmula de criação
das leis e o caráter programático das normas culturalistas lhes dão feição dinâmica;
(6) tão importante quanto conhecer os Direitos Culturais, é ter ciência do
instrumental potencialmente assegurador de sua efetivação: as garantias culturais.
Ademais, o acionamento das garantias é o que pode transformar o prestígio consti-
tucional, mas quase retórico, em efetivo incremento dos Direitos Culturais, que são
grandiosos por fornecerem a possibilidade de desenvolvimento do ser humano em
suas distintas dimensões.

129
Referências
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de de suas Normas: Limites e Possibilidades da Constituição Brasilei-
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WACHOWICZ, Marcos; SANTOS, Manoel Joaquim Pereira dos (Org.) Estudos
de direito do autor e a revisão da lei dos direitos autorais. Florianópolis: Fun-
dação Boiteux, 2010.
Aula 8

Execução orçamentária
e financeira
Suzane Christine Luz Fernandes

Objetivos
- Proporcionar subsídios conceituais e operacionais atualizados quanto aos
processos relacionados ao sistema de planejamento orçamentário brasileiro e à ges-
tão financeira e orçamentária do setor público.

Nesta aula, serão observados aspectos considerados primordiais para o re-


conhecimento do orçamento como instrumento de gestão pública essencial para o
desempenho governamental, pois refletem a origem das receitas e os gastos a serem
financiados em função do bem estar da sociedade. Compreender como se efetiva o
processo de execução financeira e orçamentária perpassa a elaboração do planeja-
mento orçamentário com qualidade. Planejamento este que se constitui no ato de
maior responsabilidade do Legislativo e se traduz em ações efetivas do executivo.

O que é orçamento público?


O orçamento público pode ser compreendido de duas formas: a) no sentido
amplo, é um documento legal (aprovado por lei) que contém a previsão de receitas
e a estimativa de despesas a serem realizadas por um governo em um determinado
exercício (geralmente, um ano); b) na visão global, é a forma como a gestão pú-
blica organiza o dinheiro arrecadado pelas suas fontes de financiamento e decide
como gastar, visando a atender às necessidades da sociedade (SOUSA, 2011).
Segundo Tavares (2005, p.10), “o orçamento não é, stricto sensu, uma lei
(embora precise de força legal), mas sim, um programa de trabalho do governo”, e,
como programa, demanda as especificidades de um bom planejamento, ao prever
o custeio dos serviços públicos, os planos de investimentos e de arrecadação de
tributos.

Atenção!

No Brasil, o orçamento público é formalizado por meio de lei proposta pelo


Poder Executivo e apreciada pelo Poder Legislativo na forma definida pelo Art. 165
da Constituição Federal de 1988.

Nos tempos modernos, este instrumento, cuja criação se confunde com a


própria origem dos parlamentos, passou a ser situado como técnica vinculada ao
instrumental de planejamento. Na verdade, ele é muito mais do que isso, assume
caráter de instrumento múltiplo, ou seja, político, econômico, programático (no
sentido de planejamento), gerencial (no sentido de administração e controle) e
financeiro.

Conceituando

Orçamento público é o documento em que são previstas as receitas arreca-


dadas e as despesas a serem realizadas pelas instituições públicas, num período
determinado (normalmente, um ano civil), com especificação de suas principais
fontes de financiamento e das categorias de despesa.

Enquanto instrumento de gestão pública, o orçamento apresenta duas di-


mensões:

[...] a dimensão da legalidade e a dimensão da legitimidade, uma vez que


expressa um pacto, na relação Estado/Sociedade Civil, para que o Estado,
enquanto organismo de força, aproprie-se de recursos oriundos da sociedade, a
serem aplicados para o Bem Comum (TAVARES, 2005, p. 10).
136
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

A política pública brasileira se instrumentaliza por meio de planos, progra-


mas e projetos, que, segundo Tavares (2005), demanda o planejamento público
e a aliança entre orçamento e planejamento, que faz surgir o que se denomina
orçamento-programa: “uma técnica de planejamento financeiro já utilizada pelas
empresas, que estrutura as informações de modo a evidenciar os objetivos a alcan-
çar e os meios destinados a atingi-los” (p.12).
Diante disso, um orçamento tecnicamente bem elaborado deve atender às
dimensões mencionadas (legalidade e legitimidade), visto que deve refletir um pla-
nejamento que possibilite alcançar resultados satisfatórios para a sociedade nas di-
versas áreas da atuação governamental.

Complementando

Relação entre planejamento e orçamento

A Constituição Federal de 1988 evidencia a intrínseca relação existente en-


tre planejamento e orçamento, pois estabelece as bases de um novo processo de
planejamento nacional: a) a adoção de sistema de planejamento constituído por
planos e programas nacionais, regionais e setoriais, b) a consolidação de um Plano
Plurianual de médio prazo e c) o princípio de que o detalhamento deve ser feito
anualmente por meio de uma Lei Orçamentária Anual, elaborada e executada de
acordo com o disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias, também de periodicida-
de anual (SANTOS, 2010).
Para Santos (2010), o planejamento orçamentário a médio e a longo prazos
assume um importante papel ao “organizar a programação de gastos por área de
atuação governamental, compatibilizando o conteúdo dos planos setoriais com as
orientações estratégicas do governo” (p. 21). Os planos, os programas e as políticas
elaboradas para as diversas áreas de governo, na maioria das vezes, decorrem de
leis federais, no caso do setor cultural, vinculado às diretrizes do Plano Nacional de
Cultura, instituído pela Lei nº 12.343 de 02 de dezembro de 2010.

137
Legislação pertinente ao planejamento orçamentário:
(http://www.orcamentofederal.gov.br/legislacao)

• Constituição Federal de 1988: Art. 165 a 169.


• Lei Federal n° 4.320, de 17 de março de 1964.
• Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - CTN.
• Decreto nº 93.872, de 24 de dezembro de 1986.
• Decreto Federal n° 2.829, de 29/10/1998.
• Lei Complementar n° 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade
Fiscal - LRF): Art. 5°.
• Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001.
• Decreto nº 7.675, de 20 de janeiro de 2012: Art. 17 do Anexo I.
• Manual Técnico de Orçamento – MTO 2014.
Portarias específicas do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e
(MPOG) e do Ministério da Fazenda (MF). Endereço eletrônico: http://www.siop.
planejamento.gov.br/sioplegis/pesquisa.php

Composição do Sistema Orçamentário Brasileiro


Conforme determina a Constituição Federal (CF) de 1988, o sistema orça-
mentário é composto por três instrumentos de ação do Estado:

Figura 1: Elementos constitutivos Sistema de Gestão Cultural

1) Plano Plurianual (PPA): Previsto no artigo 165 da Constituição Federal e


regulamentado pelo Decreto 2.829, de 29 de outubro de 1998, o PPA é o instrumen-
to de planejamento de médio prazo (quatro anos) do Governo Federal, Estadual ou
Municipal, que estabelece, de forma regionalizada (no caso do Governo Federal),
as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública para as despesas de
capital e outras, delas decorrentes, e para as relativas aos programas de duração
continuada.

138
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Atenção!

A elaboração do PPA pelo Poder Executivo compreende todos os órgãos da


Administração Pública. Cada setor encaminha ao órgão central de planejamento sua
proposta correspondente a cada programa, indicando a definição do problema, os
objetivos, o público alvo e a estratégia de implementação do programa e os indica-
dores de desempenho para aferir eficiência, eficácia e efetividade das ações, para
que seja enviado ao Poder Legislativo até o dia 31 de agosto do primeiro ano de
mandato do governante e para vigorar do segundo ano até o fim do primeiro ano
do mandato seguinte.

2) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): Instituída pela Constituição de


1988, a LDO é o instrumento norteador da elaboração dos orçamentos fiscal e da
seguridade social e de investimento do Poder Público, incluindo os poderes Execu-
tivo, Legislativo, Judiciário, as empresas públicas e autarquias que compõem a Lei
Orçamentária Anual (LOA), na medida em que, para cada exercício, dispõe sobre as
prioridades e metas da Administração Pública Federal, a estrutura e organização dos
orçamentos, as diretrizes para elaboração e execução dos orçamentos da União e
suas alterações, a dívida pública federal, as despesas da União com pessoal e encar-
gos sociais, a política de aplicação dos recursos das agências financeiras oficiais de
fomento, as alterações na legislação tributária da União e a fiscalização pelo Poder
Legislativo sobre as obras e serviços com indícios de irregularidades graves.

Atenção!

A Constituição declara, expressamente, que a primeira sessão legislativa (in-


tervalo de 2 de fevereiro a 17 de julho) não será interrompida sem a aprovação do
projeto de lei de diretrizes orçamentárias (art. 57, § 2º).

3) Lei Orçamentária Anual (LOA): O Orçamento Geral da União (OGU) é


139
formado pelo orçamento fiscal, da seguridade e de investimento das empresas esta-
tais federais. Existem princípios básicos que devem ser seguidos na elaboração e no
controle do orçamento que estão definidos na Constituição, na Lei 4.320/1964, no
PPA e na LDO. Na LOA, o governo define as prioridades contidas no PPA e as metas
que deverão ser atingidas naquele ano. A Lei Orçamentária disciplina todas as ações
governamentais, pois nenhuma despesa pública pode ser executada fora do orça-
mento. Por isso, é considerado o mais importante instrumento de planejamento da
gestão pública. A Lei Orçamentária brasileira estima as receitas e autoriza as despe-
sas de acordo com a previsão de arrecadação. Se, durante o exercício financeiro,
houver necessidade de realização de despesas acima do limite que está previsto na
Lei, o Poder Executivo submete ao Congresso Nacional, às Assembleias Legislativas
ou às Câmeras Municipais, conforme a esfera institucional, projeto de lei de crédito
adicional.

Funções do Orçamento Público


Tendo por base as reflexões de Musgrave (1980), as funções do Estado relati-
vas à política orçamentária são três (Quadro 1):
Função Objetivos
Função alocativa Oferecer bens e serviços públicos que não são ou não
possam ser ofertados pelo setor privado, ou que seriam
ofertados em condições ineficientes; criar condições fa-
voráveis para que o setor privado ofereça tais produtos à
sociedade, eliminando ou reduzindo riscos ou custos que
não possam ser suportados pelos produtores, realizando
investimentos ou intervenções regulatórias, corrigindo
ou mitigando as imperfeições da economia e interferindo
sobre as externalidades, de forma a reduzir os efeitos ne-
gativos e ampliar os efeitos positivos.
Função distributiva Promover intervenções na economia com o objetivo de
tornar a sociedade menos desigual em todos os seus as-
pectos, tanto em relação ao acesso à renda quanto no que
diz respeito ao acesso a bens e serviços públicos e aos
benefícios gerais da vida em sociedade.

140
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Função estabilizadora Promover o equilíbrio de preços, a manutenção do em-


prego e a estabilidade geral da sociedade.

Quadro 1: Classificação das funções do Estado relativas na política orçamentária -


Fonte: Musgrave (1980)

Princípios orçamentários
Os princípios orçamentários são normas e regras norteadoras estabelecidas
legalmente para orientar a elaboração e a execução do orçamento público com
maior eficácia de controle da gestão pública, tendo em vista sua racionalidade, efi-
ciência e transparência, válidas para todos os poderes e para todos os entes federa-
tivos (Quadro 2).

Princípios Orçamentários Caracterização


Princípio da unidade ou totalidade O orçamento deve ser unificado e nele de-
verão estar agrupadas todas as receitas e
despesas a serem realizadas no exercício
financeiro (Art. 2º Lei Nº 4.320/64).
Princípio da universalidade Todas as receitas e despesas relativas ao
exercício financeiro devem estar evidencia-
das na proposta orçamentária (Art. 2º, da
Lei 4.320/64, recepcionado e normatizado
pelo § 5º do Art. 165 da CF).
Princípio da anualidade ou periodicida- O orçamento fica restrito ao exercício fi-
de nanceiro para o qual foi elaborado (Art. 2º
e Art. 34º da Lei 4.320/64).
Princípio da exclusividade Devem ser tratadas na lei orçamentária
somente matérias de natureza financeira,
quais sejam a fixação de despesas e a previ-
são de receitas. Excetuam-se a autorização
para a abertura de créditos adicionais su-
plementares e a contratação de operações
de crédito, ainda que por antecipação de
receita, conforme determina a legislação (§
8°do art. 165 da CF).

141
Princípio do orçamento bruto Os valores apresentados na Lei Orçamen-
tária Anual (LOA), tanto para as receitas
quanto para as despesas, devem figurar pe-
los valores brutos, vedando-se, dessa for-
ma, a inclusão de receitas e despesas pelos
valores líquidos (art. 6º da Lei nº 4.320, de
1964).
Princípio da não vinculação da receita Veda-se a vinculação de receita de impostos
de impostos a determinado órgão, fundo ou despesa,
salvo exceções previstas em lei. Este prin-
cípio visa ao recolhimento ao caixa único
do tesouro.
Quadro 2: Princípios Orçamentários
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)

Receita pública
As receitas públicas são ingressos2 financeiros no patrimônio público. São
consideradas ingressos todas as entradas de bens ou direitos, em determinado perí-
odo de tempo, que a administração pública utiliza para financiar seus gastos, incor-
porados ou não ao seu patrimônio. Em sentido amplo, desdobram-se em receitas
orçamentárias, quando representam disponibilidade de recursos financeiros para
o erário, e ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas
compensatórias. Em sentido estrito, são públicas apenas as receitas orçamentárias
(BRASIL. MP, 2013)

Classificação das receitas públicas


A Lei nº 4.320/64, em seu Art. 11, determina que as receitas públicas sejam
classificadas em duas categorias econômicas. Esta Lei também delibera a origem dos
recursos financeiros que pertencem a cada tipo de receita (Figura 2):

142
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Figura 2: Esquema da Classificação das Receitas Públicas, incorporando-se Catego-


ria Econômica e Origem - Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(2013, p. 21)

a) Receitas orçamentárias são os recursos financeiros que ingressam du-


rante o exercício orçamentário, alteram o patrimônio público, aumentando o seu
saldo patrimonial, e são utilizados pelo Estado para executar as políticas públicas,
os programas e as ações no atendimento às demandas da sociedade. Em obediência
ao princípio orçamentário da universalidade, devem estar previstas na LOA, que se
constitui em receita corrente e receita de capital.

Lei 4320 de 1964, Art. 11

§ 1º: “São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial,


agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financei-
ros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atende
despesas classificáveis em Despesas Correntes.”
§ 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros
oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recur-
sos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender des-
pesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente.
§ 3º - O superávit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais
das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo nº 1,
não constituirá item de receita orçamentária.

143
b) Receitas extraorçamentárias têm caráter temporário, não integram o or-
çamento público e constituem passivos exigíveis do tesouro, de tal forma que o seu
pagamento não está sujeito à autorização legislativa. É o caso de depósito em cau-
ção, Antecipação de Receitas Orçamentárias – ARO –, emissão de moeda e outros.

Classificação da receita orçamentária


As receitas orçamentárias são classificadas segundo os seguintes critério31 : 1)
natureza; 2) identificador de resultado; 3) fonte/destinação de recursos.

1) Classificação da receita orçamentária por natureza: Possibilita


identificar a origem do recurso segundo o fator gerador e o detalhamento dos erá-
rios que ingressam nos cofres públicos, conforme o art. 11 da Lei 4320 de 1964.
Subdivididos em seis níveis classificatórios (Quadro 3), constituem um código nu-
mérico identificador de oito dígitos, descritor da receita orçamentária requerida.
Essa codificação aponta o menor nível de detalhamento das informações orçamen-
tárias sobre as receitas públicas, sendo utilizada por todos os entes da Federação
(União, estados e municípios), no auxílio à elaboração do orçamento público e em
análises econômico-financeiras.

Nível Fator Caracterização


1º Categoria econômica Mensura o impacto das decisões do Governo na eco-
nomia nacional (formação de capital, custeio, investi-
mentos, etc.).
2º Origem Mensura o impacto das decisões do Governo na eco-
nomia nacional (formação de capital, custeio, investi-
mentos, etc.).
3º Espécie Vinculado à Origem, é composta por títulos que per-
mitem qualificar com maior detalhe o fato gerador dos
ingressos de tais receitas.
4º Rubrica É o detalhamento das espécies de receita. A rubrica
busca identificar, dentro de cada espécie de receita,
uma qualificação mais específica.

3 A classificação orçamentária da receita, no âmbito da União, é normatizada por meio de Portaria da SOF, ór-
gão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A normatização da classificação válida para estados
e municípios é feita por meio de portaria interministerial (SOF e STN) (BRASIL. MP, 2013, p. 18).
144
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

5º Alínea Funciona como uma qualificação da rubrica. Apresenta


o nome da receita propriamente dita e que recebe o
registro pela entrada de recursos financeiros.
6º Subalínea Constitui o nível mais analítico da receita.
Quadro 3: Codificação da natureza da receita orçamentária por nível de classifica-
ção - Fonte: Santos (2010)

Exemplificando

Detalhamento da classificação da receita orçamentária para o Código


1.1.1.2.04.10 (Figura 3), que faz referência ao Imposto de Renda de Pessoas Físicas,
recolhido dos trabalhadores:

Figura 3: Detalhamento da estrutura de codificação da natureza da receita orça-


mentária por nível de classificação - Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão (2013, p. 19)

145
2) Classificação da receita orçamentária por identificador de resultado
primário: Divide-se em duas categorias (Quadro 4):

Categorização Característica
Receitas primárias Refere-se, predominantemente, às receitas correntes.
Receitas financeiras São aquelas que não contribuem para o resultado primário
ou não alteram o endividamento líquido do Governo (setor
público não financeiro) no exercício financeiro correspon-
dente, proveniente de natureza financeira, junto ao setor
privado interno e/ou externo.
Quadro 4: Classificação da receita orçamentária por identificador de resultado primário -
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)

3) Classificação da receita orçamentária por fonte/destinação de recur-


sos: Estabelecida para assegurar que as receitas garantidas por determinação legal
sejam convenientemente aplicadas em programas e ações conforme a finalidade a
que se destinam, agindo como mecanismo integrador entre a receita e a despesa e
de controle de duplicidade e fonte de recursos mediante código de fonte/destina-
ção de recursos (código de três dígitos). O primeiro dígito representa o grupo de
fonte enquanto o segundo e o terceiro representam a especificação da fonte. Ver
exemplos (Quadro 5):

1º Dígito (Grupo da 2º e 3º Dígitos (Especificação da Fonte


Fonte) Fonte)
1 - Recursos do Tesouro - 12 - Recursos Destinados à Manutenção 112
Exercício Corrente e Desenvolvimento do Ensino
2 - Recursos de Outras Fon- 93 - Produto da Aplicação dos Recursos 293
tes - Exercício Corrente à Conta do Salário-Educação
3 - Recursos do Tesouro - 12 - Recursos Destinados à Manutenção 312
Exercícios Anteriores e ao Desenvolvimento do Ensino

6 - Recursos de Outras Fon- 93 - Produto da Aplicação dos Recursos 693


tes - Exercícios Anteriores à Conta do Salário-Educação

146
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

9 - Recursos Condiciona- 00 - Recursos Ordinários 900


dos

Quadro 5: Exemplos de fontes/destinação de recursos


Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013, p. 24)

Para saber mais sobre as fontes e suas respectivas naturezas de receita, aces-
se o “Ementário de Classificação das Receitas Orçamentárias da União” no ende-
reço eletrônico http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/
arquivos-receitas-publicas/receitas-publicas.

Estágios de execução da receita orçamentária


O modelo de orçamentário do setor público brasileiro segue a ordem de
ocorrência dos fenômenos econômicos, que, segundo o Ministério do Planejamen-
to, Orçamento e Gestão (Brasil, MPOG, 2013), sistematicamente inicia-se com a
etapa de previsão e termina com a de recolhimento (Figura 4), detalhadas no Qua-
dro 6.

Figura 4: Etapas da receita orçamentária - Fonte: Brasil. Ministério do Planeja-


mento, Orçamento e Gestão (2013, p. 25)

Etapas Descrição
Previsão É a estimativa de quanto se espera arrecadar durante o
exercício financeiro. A projeção das receitas é fundamen-
tal na determinação das despesas na LOA, na execução do
orçamento e na determinação das necessidades de finan-
ciamento do Governo.

147
Lançamento É o ato da repartição competente, que verifica a proce-
dência do crédito fiscal e a pessoa devedora e inscreve o
débito desta (Lei nº 4.320/64).
Arrecadação Está vinculada aos pagamentos realizados diretamente
pelos contribuintes ou devedores aos agentes arrecada-
dores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente
público.
Recolhimento Consiste na entrega do produto da arrecadação pelos
agentes arrecadadores ou instituições financeiras auto-
rizadas na conta específica do ente público, responsável
pela administração e pelo controle da arrecadação, além
da programação financeira.
Quadro 6: Fases de execução da receita orçamentária
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)

Complementando

É possível que uma ou mais etapas da receita orçamentária não ocorra,


exceto nos casos de arrecadação de receitas não previstas e de doação em
espécie recebida pelos entes públicos.

Despesa pública
A despesa pública é o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pessoa
de direito público, para o funcionamento dos serviços públicos. Nesse sentido, a
despesa é parte do orçamento, ou seja, são as autorizações e classificações dos gas-
tos com as várias atribuições e funções governamentais.
Santos (2010, p. 85) descreve a despesa pública como

[...] todos os gastos com a manutenção dos órgãos e das entidades e a prestação
de serviços públicos (chamadas de despesas correntes) e com a realização de
obras e compra de equipamentos (chamadas de despesas de capital), além
da concessão de empréstimos, constituição de empresas e do pagamento dos
serviços da dívida, quando houver.

148
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Classificação orçamentária das despesas públicas


As classificações orçamentárias permitem a visualização da despesa sob di-
ferentes enfoques ou abordagens, conforme o ângulo de que se pretende analisar
(Figura 5). Cada uma delas possui uma função ou finalidade específica e um obje-
tivo original que justificam sua criação e pode ser associada a uma função básica a
que procura responder (Quadro 7). Tal como as receitas, as despesas orçamentárias
recebem codificação específica para serem organizadas no orçamento.

Figura 5: Estrutura completa da programação das despesas orçamentárias -


Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2011, p. 43)

149
Classificação Caracterização
Esfera Orçamentária Tem por finalidade identificar se o orçamento é Fiscal (F), da
Seguridade Social (S) ou de Investimento das Empresas Estatais
(I), conforme disposto no § 5º do art. 165 da CF.
- Orçamento Fiscal: referente aos Poderes da União, seus
fundos, órgãos e entidades da Administração direta e indireta,
inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
- Orçamento de Investimento: orçamento das empresas em
que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do
capital social com direito a voto; e
- Orçamento da Seguridade Social: abrange todas as entida-
des e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indi-
reta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos
pelo Poder Público.

Institucional Responde à indagação “quem” é o órgão responsável pela pro-


gramação?
Aponta a estrutura organizacional responsável pela alocação
dos créditos orçamentários (executor da despesa), e está es-
truturada em dois níveis hierárquicos, reconhecidos por um
código de cinco dígitos, onde os dois primeiros referem-se ao
órgão orçamentário e os três seguintes à unidade orçamen-
tária (UO).

150
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Funcional Responde à indagação “em que área” de governo a despesa será


realizada?
Constituída de cinco dígitos, separa as dotações orçamentárias
em funções e subfunções prefixadas, que mostram a agrega-
ção dos gastos públicos por área de ação governamental, pois
estes variam de acordo com a esfera de Governo (Federal, Es-
tadual e Municipal).
a) Função - é representada pelos dois primeiros dígitos da clas-
sificação funcional e pode ser traduzida como o maior nível de
agregação das diversas áreas de atuação do setor público.
b) Subfunção – é indicada pelos três últimos dígitos da
classificação funcional, representa um nível de agregação
imediatamente inferior à função e deve evidenciar cada
área da atuação governamental, por intermédio da agre-
gação de determinado subconjunto de despesas e identi-
ficação da natureza básica das ações que se aglutinam em
torno das funções.
A atual classificação funcional foi instituída pela Portaria no 42,
de 14 de abril de 1999.

151
Programática Responde à indagação “para que” (com finalidade) os recursos
são alocados?
Refere-se às realizações governamentais estabelecidas para o
período do PPA, de modo a expressar a especificidade de um
programa de trabalho como componente orçamentário:
- Programa: é o instrumento de organização da atuação gover-
namental que articula um conjunto de ações que concorrem
para a concretização de um objetivo comum preestabelecido,
mensurado por indicadores instituídos no plano, visando à so-
lução de um problema ou o atendimento
de determinada necessidade ou demanda da sociedade.
- Ação: é a operação da qual resultam produtos (bens ou servi-
ços), que contribuem par atender ao objetivo de um programa.
Incluem-se também no conceito de ação, as transferências obri-
gatórias ou voluntárias a outros entes da Federação e a pessoas
físicas e jurídicas, na forma de subsídios,
subvenções, auxílios, contribuições, entre outros, e os finan-
ciamentos. Conforme suas características, as ações podem ser
classificadas como: atividades, projetos ou operações especiais,
detalhadas em subtítulos, utilizados para especificar a localiza-
ção física do gasto.
Natureza da Despesa Responde a seguinte indagação “o que” será adquirido e “qual”
o efeito econômico da realização da despesa?
O conjunto de informações que formam o código de classifi-
cação da natureza da despesa, composto por seis algarismos,
mostra a categoria econômica da despesa, o grupo a que ela
pertence, a modalidade de aplicação e o elemento.
Quadro 7: Classificação da despesa orçamentária - Fonte: Sousa (2011); Brasil.
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2011)

O detalhamento do código referente à classificação segundo a natureza da


despesa (Quadro 8) aponta indicações sobre os efeitos que os gastos públicos têm
sobre a economia.

152
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

1º dígito: Categoria Econômica da Despesa: corresponde ao tipo de des-


pesa: a) Despesas Correntes – destinam-se à manutenção e ao fun-
cionamento dos serviços legalmente criados e são essencialmente
operacionais; b) Despesas de Capital – têm por finalidade concor-
rer para a formação de um bem de capital, como, por exemplo, as
obras de asfaltamento, as construções de rodovias, de escolas, de
hospitais e outras.
2º dígito: Grupo de Natureza da Despesa (GND): agrega as despesas em
categorias que expressam a finalidade do gasto e se constitui em
seis grupos específicos, sendo três referentes a despesas correntes
e outros três referentes a despesas de capital:

Despesas corren- 1 - Pessoal e Encargos


tes 2 - Juros e Encargos da Dívida
3 - Outras Despesas Correntes
Despesas de capi- 4 - Investimentos
tal 5 - Inversões Financeiras
6 - Amortização da Dívida

153
3º/4º Modalidade de Aplicação (MA): indica se os recursos autoriza-
dígitos: dos na LOA são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no
âmbito da mesma esfera de Governo ou por outro ente da Federa-
ção e suas respectivas entidades. A modalidade também permite
a eliminação de dupla contagem no orçamento. Seus critérios de
classificação e codificação são os seguintes:
20 - Transferências à União
30 - Transferências ao Estado e ao Distrito Federal
40 - Transferências aos Municípios
50 – Transferências a Inst. Privadas sem Fins Lucrativos
60 - Transferências a Instituições Privadas com Fins Lucrativos
70 - Transferências a Instituições Multigovernamentais
71 - Transferências a Consórcios Públicos
80 – Transferências ao Exterior
90 - Aplicações Diretas
91 – Aplicação Direta Decorrente de Operações entre Órgãos, Fun-
dos e Entidades Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
Social
99 – A definir

5º/6º Elemento de Despesa: identifica os objetos de gasto, tais como


dígitos: vencimentos e vantagens fixas, juros, diárias, material de consumo,
serviços de terceiros prestados sob qualquer forma, subvenções
sociais, obras e instalações, equipamentos e material permanente,
auxílios, amortização e outros que a administração pública utiliza
para a consecução de seus fins. É representado pelos dois últimos
dígitos da natureza da despesa. A Portaria Interministerial nº 163/01
determina a lista dos elementos de despesa.
Quadro 8: Classificação e codificação da natureza da despesa
Fonte: Tavares (2005); Santos (2010)

Atenção!

A Lei nº 4.320/64, a Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, e a Portaria Inter-


ministerial nº 163/01 constituem a legislação que trata especificamente da classifica-
ção da despesa orçamentária

154
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Estágios de execução da despesa orçamentária


Após a aprovação da LOA que estabeleceu as dotações orçamentárias e fi-
nanceiras do PTA, tem início o processo de execução orçamentária propriamente
dita. No entanto, essa execução depende do comportamento financeiro no caixa
do governo, pois, nas finanças públicas, “o orçamento público não é apenas uma
peça de orientação; é ele próprio que, ao ser executado, comanda toda a execução
financeira” (TAVARES, 2005, p. 44).
A relação de interdependência da execução orçamentária com a execução
financeira pública necessita da observância de que o ano financeiro para o setor
público corresponde ao período de um ano civil (de 1º de janeiro a 31 de dezem-
bro) e de procedimentos operacionais de regulamentação e controle das despesas
e receitas públicas (Quadro 9).

Registro dos cré- Diz respeito à autorização para o gasto de um montante de recursos
ditos e dotações em um determinado elemento de despesa, em consonância com a
lei orçamentária e mediante a quantidade de recursos financeiros
em crédito. O registro de créditos e dotações possibilita o acompa-
nhamento da evolução dos saldos dessas dotações e a reavaliação
da previsão de receitas e despesas diante das metas fiscais a serem
cumpridas, mediante o uso do QDD (Quadro de Detalhamento da
Despesa), que é o instrumento que demonstra onde estão alocados
os recursos empenhados às atividades de uma instituição pública.
Programação fi- A lei 4.320/64, em seu art. 47, determina que, após a promulgação
nanceira de de- da LDO, com base nos limites nela fixados, o Poder Executivo esta-
sembolso belecerá uma programação por quotas que funcionará como fluxo
de caixa, de forma a ajustar a realização das despesas com o compor-
tamento efetivo das receitas e ajudar as Unidades Orçamentárias a
disciplinarem seus gastos ao longo do exercício. Essa programação
financeira deverá tornar-se um instrumento básico do planejamento
e da gestão governamental. A forma e a sistemática de acompanha-
mento e controle do cumprimento da programação de desembolso
variam de acordo com o tamanho e o grau de descentralização das
organizações.

155
C u m p r i m e n t o A Lei 8.666/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constitui-
das exigências ção Federal de 1988, instituiu as normas para o processo de licitação
de licitação e contratos da administração pública, pertinentes a obras e serviços
de publicidade, compras, alienações e locação, no âmbito dos Pode-
res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Essa
lei orienta as esferas administrativas para a efetivação das despesas,
mediante as seguintes modalidades:
• Concorrência – é a modalidade mais ampla da licitação, permite
a participação de quaisquer interessados, desde que preencham as
condições necessárias de habilitação.
• Tomada de Preço – é a licitação por meio de consulta a interessa-
dos previamente cadastrados à participação do certame.
• Convite (Carta) – acontece por meio de convite a, pelo menos,
três fornecedores do ramo pertinente ao objeto da licitação, cadas-
trados ou não, escolhidos pela unidade administrativa.
• Concurso – ocorre para escolha de trabalho técnico, científico
ou artístico, mediante a instituição de prêmio ou remuneração aos
vencedores.
• V. Leilão – é a licitação para venda de bens móveis ou imóveis
inservíveis ou produtos penhorados ou apreendidos.
Além dessas modalidades, há duas outras formas derivadas de lici-
tação:
• Pregão eletrônico – é utilizado para aquisição de bens e serviços
comuns, cujas características possam ser objetivamente especifica-
das no edital.
• Suprimento de fundos – é o adiantamento concedido ao ser-
vidor para atender a despesas eventuais que exijam pronto paga-
mento em espécie ou que sejam sigilosas ou, ainda, que sejam de
pequena importância.
A legislação de licitação também determina que o edital licitatório a
ser publicado defina os critérios de julgamento das propostas, que
podem ser menor preço, melhor técnica, técnica e preço, e maior
lance ou oferta.

156
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Realização de Após os procedimentos licitatórios, os órgãos públicos passam a exe-


empenho, liqui- cutar os três estágios clássicos da despesa:
dação e paga- 1) Empenho – é a reserva de parte da dotação orçamentária para
mento fazer frente ao pagamento dos fornecedores contratados, pois ne-
nhum órgão pode realizar despesa sem prévio empenho.
2) Liquidação – é o reconhecimento de que os bens ou serviços
adquiridos foram entregues conforme previa o contrato e que, por-
tanto, o contratado é credor da Administração Pública e tem direito
ao pagamento correspondente – trata-se do direito adquirido pelo
credor.
3) Pagamento – é a emissão de uma ordem de pagamento (cheque,
ordem bancária ou outro meio de pagamento) em favor do credor.
No final de um exercício financeiro, se a despesa que está empenha-
da não foi paga, a respectiva dotação é inscrita em restos a pagar
(RP), facultando ao gestor continuar realizando a despesa no exer-
cício seguinte.
Quadro 9: Estágios de execução da despesa orçamentária - Fonte: Tavares (2005);
Santos (2010)

Atividade 1

Procure ver, em seu município, o Plano Plurianual, a LDO e o


orçamento previsto para o setor cultural em 2013. Faça uma análise
avaliativa, observando o programado e o executado e apontando
os resultados das ações governamentais para a sociedade.

Orçamento e financiamento da cultura

O financiamento da Política Nacional de Cultura é detalhado no processo de


planejamento, por meio do orçamento plurianual e anual, que expressa a projeção
das receitas e autoriza os limites de gastos nos projetos e atividades propostos pelo
órgão gestor 41, e aprovados pelos conselhos de cultura52 com base na legislação,
4 Os órgãos gestores dos sistemas de cultura são organismos da administração pública responsáveis pelas
políticas da área, respeitando os limites de cada âmbito de atuação dos entes federativos (BRASIL. MINC, 2011,
p, 46).
5 Os Conselhos de Política Cultural são instâncias colegiadas permanentes, de caráter consultivo e deliberativo,
integrantes da estrutura básica do órgão da Administração Pública responsável pela política cultural, em cada
157
nos princípios e instrumentos orçamentários e na instituição de fundos de Cultu-
ra, conforme os programas e ações estabelecidas e implementadas nos planos de
Cultura.

Complementando

De acordo com a legislação, a política nacional de financiamento público da


cultura está estruturada pelos seguintes instrumentos:

a) Orçamento do Ministério da Cultura e suas instituições vinculadas;


b) Lei nº 8.313/1991 (Lei Rouanet), que instituiu o Programa Nacional de In-
centivo à Cultura (Pronac), que, por sua vez, dispõe de três mecanismos destinados
ao fomento e incentivo a projetos culturais: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), a
renúncia fiscal (mecenato) e os Fundos de Investimento nas Artes (Ficarts);
c) Lei nº 11.437, que estabelece dois mecanismos destinados ao financiamen-
to de programas e projetos voltados para o desenvolvimento das atividades audiovi-
suais: o Fundo Setorial do Audiovisual e os Fundos de Financiamento da Indústria
Cinematográfica Nacional – Funcines.

Para saber mais sobre os mecanismos destinados ao financiamento nacional


de programa e projetos pertinentes ao setor cultural, acesse o link http://www2.
cultura.gov.br/site/2007/11/25/mecanismos-de-apoio/.

A recomendação aos governos de estados e nações, pela Organização das Na-


ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é que seja assegurado,
no mínimo, 1% do orçamento nacional. Segundo o MinC, o orçamento do Ministé-
rio da Cultura corresponde a 0,44% do Orçamento Geral da União, e encontra-se
em tramitação na Câmara Federal para aprovação da Proposta de Emenda Constitu-
cional (PEC) nº 150/2003. Esta PEC propõe a destinação para a área da cultura de
2% da arrecadação da União, 1,5% da arrecadação dos estados e 1% da arrecadação
dos municípios, visando a assegurar, por meio do mecanismo da vinculação cons-
esfera de governo, tendo na sua composição, no mínimo, 50% de representantes da Sociedade Civil, eleitos
democraticamente, conforme deliberado na I Conferência Nacional de Cultura e no Plenário do Conselho
Nacional de Política Cultural, relativo à proposta do Plano Nacional de Cultura (BRASIL. MINC, 2011, p, 46).
158
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

titucional de receitas, o montante mínimo necessário para os investimentos em


cultura e, por conseguinte, ao funcionamento do SNC (BRASIL. MINC. 2011).
O Ministério da Cultura ressalta que o §1º do Artigo 1º dessa PEC determina
que dos 2,0% destinados à União, 1% fique com o Governo Federal e 1% seja re-
passado aos outros entes federados, sendo 0,5% aos estados e ao Distrito Federal
e 0,5% aos municípios, viabilizando, desta forma, o processo de repasses fundo a
fundo, considerado o mecanismo fundamental do SNC.

Para saber mais sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº


150/2003 e acompanhar sua tramitação na Câmara Federal, acesse o link: http://
www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=131237.

Considerando a ótica republicana e federalista do Estado brasileiro, a legis-


lação estabelece que cada sistema público de cultura garanta recursos mínimos,
essenciais ao funcionamento de suas estruturas, e que estes sejam compostos por
múltiplos mecanismos. Tendo em vista o estabelecimento da repartição de recursos
e o caráter autônomo dos entes federados, devem ser firmados: a) uma pactuação61
para a repartição de competências e atribuições entre os agentes das políticas pú-
blicas de cultura, b) a disponibilização de editais públicos72 de seleção de projetos
culturais nas três esferas de governo e c) o aperfeiçoamento dos mecanismos de
renúncia fiscal e dos fundos e investimento privado nas artes.

6 Refere-se a um instrumento de pactuação federativa que contempla um protocolo de intenções


(compromissos, competências e atribuições) e o estabelecimento de critérios e regras para descentralização de
ações e de recursos públicos da cultura.
7 O uso de editais pelos entes públicos refere-se à seleção pública para apoiar projetos e premiar iniciativas
culturais.
159
Atividade 2: Forúm de discussão

A Cultura é uma boa opção de investimento para a geração de


trabalho, renda e inserção social para os Municípios e, atualmente,
pode ser estimulada por meio de programas e leis que favorecem
a captação de recursos por gestores, produtores culturais e artistas
objetivando a institucionalização da área como setor produtivo.
Diante dessa conjuntura:
a) aponte o que está sendo realizado, nesse sentido, em seu
município;
b) leia os relatos de seus colegas e troque experiências com eles,
contribuindo com o avanço dessa nova concepção de cultura;
c) discuta com seus colegas e tutores sobre este assunto no fórum
específico para esta atividade.

Complementando

- Quanto ao financiamento público municipal de cultura...

O Município, como ente federativo autônomo, possui liberdade para optar


por diversas linhas de financiamento de projetos culturais, quais sejam:
• Fundo Municipal de Cultura (FMC),
• leis de incentivo à Cultura – LIC – a, na esfera estadual,
• lei federal, como, por exemplo, a Lei no 8.313 de 1996,
• editais amparados pelo Fundo Nacional de Cultura – FNC – e
• parcerias com a iniciativa privada, mediadas por produtores culturais in-
dependentes.
Quanto à constituição do fundo municipal de cultura, cada Município de-
verá criar o seu, por meio de lei, estabelecendo o seguinte:
• sistema de aporte e disponibilização de recursos,
• a possibilidade de constituir parcerias com a iniciativa privada e recursos
advindos de outras esferas de poder,
• as formas de gerenciamento e a utilização dos recursos e
• obrigatoriedade e formas de prestação de contas de todas as ações que
venham a ser financiadas.
Fonte: Confederação Nacional de Municípios – CNM (2012)
160
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira

Resumindo
Nesta aula, observamos que a execução financeira e orçamentária dos entes
públicos está relacionada à programação orçamentária que é estabelecida para um
determinado exercício financeiro. Nessa conjuntura, o orçamento público torna-se
um instrumento de planejamento governamental em que são previstas as receitas e
definidas as despesas para a execução da lei orçamentária anual, mediante o seguin-
te processo: 1) elaboração de projeto de lei; 2) aprovação do projeto de lei pelo
legislativo; 3) execução, acompanhamento e avaliação da lei orçamentária pelo exe-
cutivo, para que a gestão governamental possa mostrar um bom desempenho no
que diz respeito à origem das receitas e aos gastos a serem financiados, em função
do bem estar da sociedade.

Sites relacionados

- http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil/: SigaBrasil, sistema de


informações que permite diversas consultas aos planos e orçamentos públicos.

- http://www.portaltransparencia.gov.br/: possibilita pesquisas sobre a exe-


cução orçamentária e financeira do Governo Federal, com atualização diária dos
dados.

161
162
Referências bibliográficas

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 48, de 10


de agosto de 2005. Constituição da República Federativa do Brasil.
Documento digital.
_______. Confederação Nacional de Municípios – CNM. Cultura:
a organização do Sistema Municipal – Brasília: CNM, 2012.
_______. Lei nº 4.320 de 17 de março de 1964. Documento digi-
tal.
_______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secre-
taria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Edição
2014. Brasília: MPOG, 2013. Disponível em: www.orcamentofederal.gov.
br. Acesso em: fev 2014.
_______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Se-
cretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Ver-
são 2011. Brasília: MPOG, 2010. Disponível em: www.orcamentofederal.
gov.br. Acesso em: fev 2014.
_______. Confederação Nacional de Municípios – CNM. Cultura:
a organização do Sistema Municipal – Brasília: CNM, 2012.
MUSGRAVE, R. A. Finanças Públicas: teoria e prática. São Paulo:
Edusp, 1980.
SANTOS, R. C. Plano plurianual e orçamento público. Floria-
nópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] :
CAPES : UAB, 2010.
SOUSA, E. C. F. Planejamento e execução orçamentária. Material
cedido à Assessoria de Educação a Distância da Universidade Federal do
Pará pelo autor. Belém. 2010.
TAVARES, A. C. Orçamento. - Belém: EDUFPA, 2004.v.3. Textos Di-
dáticos do I Curso de Especialização em Planejamento e Gestão do Desen-
volvimento Regional (PLANEAR).
editAedi
Assessoria de Educação a Distância UFPA

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