Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Curso de Extensão e
Aperfeiçoamento em
Gestão Cultural
Gestão Cultural
Eixo III
Material Didático
Elaboração do Conteúdo
Cátia Lubambo
Francisco Humberto Cunha Filho
Selma Santiago
Suzane Christine Luz Fernandes
Revisão
Ana Lygia Almeida Cunha
Suzane Christine Luz Fernandes
Assistente Editorial
Julia Rodrigues
Conselho Editorial
José Miguel Martins Veloso(presidente)
Maria Cristina Ataíde Lobato
Selma Dias Leite
Diretora da EditAedi:
Cristina Lucia Dias Vaz
Editora EditAedi
Rua Augusto Corrêa, 01 - Guamá.
66075-110 - Belém - PA - Brasil
Fones: (91) 3201-7613/ 3201-7834
Email: editora.aedi@gmail.com
Curso de Extensão e
Caderno 3
Aperfeiçoamento em
Gestão Cultural
Gestão Cultural
Eixo III
editAedi
Assessoria de Educação a Distância UFPA
Belém-Pa
2014
Ministério da Cultura
Universidade Federal do Pará
Pró-Reitoria de Extensão
Diretoria de Apoio Cultural
Assessoria de Educação a Distância
Instituto de Letras e Comunicação
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa
Presidente
Dilma Vana Rousseff
Ministra da Cultura
Marta Suplicy
Pró-Reitor de Extensão
Fernando Arthur Freitas Neves
Coordenação Executiva
Vânia Helena da Silva Nogueira
Coordenação de Tutoria
Ana Lygia Almeida Cunha
Legislação e Gestão
instrumentos compartilhada
jurídicos no
âmbito da Gestão Cultural e autogestão
cultura
Informações e Modelos
indicadores articulados
culturais Ferramentas e público-pricado
práticas de
gestão
Este livro é parte integrante do material didático-pedagógico do Curso de
Extensão e Aperfeiçoamento em Gestão Cultural, promovido pelo Ministério da
Cultura (MinC), realizado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do
Pará em parceria com a Assessoria de Educação a Distância o Instituto de Letras e
Comunicação e o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos e gerenciado financeiramen-
te pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa.
Desenvolvido na forma semipresencial, integrando ações educativas presen-
ciais e a distância, o Curso objetiva a formação de gestores e conselheiros em Cultu-
ra, tendo como um dos seus pressupostos norteadores a conceituação abrangente
de cultura como expressão simbólica, direito de cidadania e como vetor de desen-
volvimento. Propõe uma trajetória a ser construída e referenciada pelas instituições
e agentes envolvidos, em prol de ações e de políticas de cultura que causem impac-
to no desenvolvimento local, em bases sustentáveis.
Apresentação
Bom Curso!
A coordenação
Os Autores
(Fernando Pessoa)
Agradecimentos
Primeiramente a Deus, por ser essencial as nossas vidas, autor dos nossos
destinos, nosso guia, sempre presente na hora das tomadas de decisões.
Agradecemos a todos que estiveram presente nessa trajetória acadêmica:
Ao Prof. Fernando Arhtur de Freitas Neves, que acreditou e confiou na equi-
pe da DAC –PROEX.
Ao Professor José Marcio Barros e equipe que foram responsáveis pela con-
cepção do curso junto ao MINC.
A Profª Angela Andrade que tecnicamente contribuiu decisivamente na etapa
inicial de articulação e aprovação da proposta formativa no MINC.
A Professora Jane Sampaio que colaborou na elaboração da proposta peda-
gógica e Nalva Saba na área administrativa na UFPA.
E a todos que contribuíram para a realização deste projeto de formação do
Curso de Extensão e Aperfeiçoamento em Gestão Cultural: Equipe de Professores,
orientadores, coordenadores, palestrantes, tutores, suporte técnicos e administra-
tivos.
E em especial aos professores e técnicos respectivamente : Ana Lygia , Su-
zane Fernandes , Cincinato Marques , Josimar , Paulo Paixão, Leonardo Coelho de
Souza , Selma Santiago , Ivaize Rodrigues , Denise , Maria José , Silvério Sirotheau,
Francinaldo Rocha e a bolsista Josilane Moreira que contribuíram com a realização
acadêmica e administrativa.
Ao Minc Nacional e Minc Regional que estiveram presentes acompanhando
, propondo e contribuindo para uma melhor realização.
E aos e órgãos internos da UFPA (PROEX, , AEDI, NAEA,ILC, ICED e Fadesp).
A Coordenação
Sumário
Aula 1 23
Princípios e modelos de gestão pública
Aula 2 27
Gestão compartilhada e autogestão
Aula 3 39
Modelos de articulação público-privada
Aula 4 49
Gestão estratégica da cultura - Planejamento
Aula 5 65
Ferramentas e práticas de gestão
Aula 6 91
Informação e indicadores culturais
Aula 7 121
Legislação e Direito Cultural - Organização de instituições culturais
Aula 8 135
Execução orçamentária e Financeira.
Aula 1
Princípios e
Modelos de
Gestão Pública
Cátia Wanderley Lubambo
Objetivos
Nossa Aula 1 tem como objetivo promover reflexões sobre os principais
aspectos conceituais e teóricos da análise de políticas públicas, propiciando uma
visão integrada de suas dimensões. Nessa perspectiva, a primeira questão que se
coloca é o que se toma por política e por política pública?
Vamos dar início a nosso trabalho refletindo sobre o significado que assu-
mem alguns termos muito utilizados na área de atuação do gestor cultural: política,
política pública, bem público e bem privado. Tal reflexão será útil para alcançarmos
uma compreensão adequada da gestão pública, que é o objeto de nosso trabalho
nesta primeira aula.
Podemos dizer que a palavra política, numa acepção ampla, refere-se à re-
solução pacífica de conflitos. Mas a ideia de conflito pressupõe uma diversidade
de disputas e constitui um conjunto de relações de convivência que se destinam à
superação de eventuais conflitos. É justamente aí que se torna necessária a ação o
Estado.
O que quero dizer é que o estudo da formulação e da implementação de
políticas públicas corresponde à análise do Estado em ação, ou seja, do Estado
não como categoria abstrata, mas como um ator (ou um conjunto de atores) que
produz políticas públicas.
Mais amplamente, então, podemos dizer que o termo política pública pode
ser definido como o Estado em ação.
Por outro lado, numa acepção mais restrita, a política pública refere-se ao
conjunto de decisões e ações postas em prática pelo Estado, relativas à alocação
(distribuição) de bens ou valores nos diversos setores. As ações são estrategicamen-
te selecionadas de forma a viabilizar a implementação das decisões tomadas.
Pois bem, a dimensão pública da política vem a ser dada pelo seu caráter
imperativo (autoridade do poder público) e pela característica não rival do bem
ofertado: ser público.
O que chamamos de bens públicos (RUA, 1999) são considerados aqueles
cujo consumo não pode ser individualizado pela impossibilidade intrínseca de se
excluírem outros atores não-participantes da troca ou do acesso a seus benefícios.
Dessa forma, o consumo deste tipo de bem é de natureza não rival, uma vez que o
consumo do bem por um consumidor não diminui o quantum que, potencialmen-
te, outros podem consumir (por exemplo, a saúde pública, a segurança nacional,
etc.).
Os bens privados, diferentemente, são aqueles cujo consumo pode ser indi-
vidualizado por meio das opções e escolhas do consumidor, ou seja, o consumidor
revela, individualmente, suas preferências de consumo na busca de sua satisfação
no mercado. Nesse caso, o consumo é rival e a exclusão de outros consumidores
pode ser realizada.
Após apresentar esses conceitos, cuja revisão considero importante neste iní-
cio de nosso estudo, lanço um questionamento para reflexão e discussão no fórum
de nosso ambiente na plataforma Moodle:
24
Aula 1 - Princípios e Modelos de Gestão Pública
desempenho da gestão pública estão definidas por fatores específicos, alguns deles
bastante conhecidos e outros que ainda se procura desvendar. Isso revela não só
a variedade de contextos históricos locais, como também a diversidade de arran-
jos institucionais e políticos que o Estado e a sociedade vêm construindo. Alguns
estudos indicam que fatores estruturais como o desempenho fiscal dos governos
determinam a possibilidade maior ou menor de sucesso de um governo local. Ou-
tros trabalhos apresentam fatores associados diretamente ao nível e à natureza das
demandas e à consequente forma de provisão social como sendo fundamentais ao
bom desempenho (ou não) da gestão. Outros estudos ainda sugerem que as inves-
tigações prossigam na perspectiva das efetivas condições político-institucionais da
implementação das políticas públicas nos diferentes níveis da federação. A implan-
tação do próprio Sistema Nacional de Cultura, que propõe a articulação das três
esferas governamentais e a sociedade civil, é um caso bem ilustrativo dos ditames
daquelas condições referidas.
Diante da evidência de tantos fatores distintos que parecem importar para o
desempenho da gestão pública, propõem-se metodologicamente as seguintes ques-
tões:
Neste ponto dos nossos estudos, proponho que sejamos capazes de apresen-
tar uma definição de capacidade de gestão pública, tendo como base os principais
agentes que se envolvem numa ação de política cultural. Comecemos pelo nível
municipal, para depois ampliar nosso foco para a dimensão da unidade da federa-
ção e, posteriormente, para o plano nacional.
26
Referências bibliográficas
LUBAMBO, Cátia W. (2006). Desempenho da Gestão Pública:
que variáveis compõem a aprovação popular em pequenos municípios?
Sociologias (UFRGS), v.08, p.86 - 125.
LUBAMBO, C. W.; COELHO, D. B. (2005). Atores Sociais e Estra-
tégias de Participação no Programa Governo nos Municípios. Petrópo-
lis: Vozes, v. 1. 152p.
RUA, Maria das Graças (1999). Análise de Políticas Públicas: con-
ceitos básicos in Maria das Graças Rua e Maria Izabel Valladão de Car-
valho (orgs). O estudo da política: estudos selecionados. Paralelo 15,
pp. 231-261.
Sugestões de leitura
Gestão compartilhada e
autogestão
Cátia Wanderley Lubambo
Objetivos
Na Aula 2, serão focalizadas as principais questões que lastreiam a discussão
sobre gestão compartilhada e autogestão. Ao longo do estudo de seu conteúdos
serão apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por algumas informa-
ções empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indicação de leituras
complementares.
Vemos que não precisamos sair do debate acadêmico para encontrar defini-
ções distintas e muitas vezes opostas do conceito de governança. Esta imprecisão
conceitual reflete não apenas a riqueza do debate em torno desse conceito, mas a
atual imprecisão acerca do próprio papel do Estado e das formas de gestão de suas
políticas. O conceito de governança pública se apoia em dois outros conceitos que
vêm passando por mudanças cada vez mais intensas e nele se refletem tais mudan-
28
Aula 2 - Gestão compartilhada e autogestão
ças.
De um lado, a expansão (histórica e teórica) da democracia liberal promove
constantes abalos na estrutura de legitimidade do Estado (componente democráti-
co), assim como constantes mudanças nas fronteiras da legitimidade de suas ações
(componente liberal). No outro extremo, a constante evolução nas técnicas de ad-
ministração e gestão de pessoas também têm se dado com impressionante rapidez,
ambas potencializadas pelas ferramentas tecnológicas e pela evolução da psicologia
comportamental.
Consequentemente, os diversos conceitos de governança expressam diver-
sos posicionamentos acerca de cada um desses temas, gerando distintas consequ-
ências para a gestão pública e, consequentemente, para a gestão cultural. A própria
ideia da valorização da cultura e da sua gestão por parte do Estado advém de uma
posição bastante específica do papel e das bases de legitimidade do Estado, que não
é nada consensual. Entretanto, essa diversidade deve ser vista como riqueza e não
confusão, para que possamos dela extrair o conceito de governança que subsidiará
nossos estudos.
Em casos como este, em que o objeto de estudo é de difícil definição, é
aconselhável começar por definir o que não pode ser chamado de governança, para
então podermos tratar do seu conteúdo constitutivo. O termo governança estabe-
lece nexos empíricos e conceituais com outros termos, dos quais, não obstante, é
distinto. Uma confusão frequente se dá entre os seguintes conceitos:
29
A grande inovação que incorpora o conceito de governança é justamente o
abandono de uma estrutura rígida do Estado e sua substituição por uma concepção
flexível e adaptável do mesmo, de acordo com o contexto em que está inserido.
Isso justifica que distintas concepções sejam harmonizadas dentro do mesmo con-
ceito. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a governança pública trabalha com a
ideia de uma abordagem interdisciplinar e intersetorial das demandas da população
(gestão compartilhada), ela o faz promovendo a autonomia e a capacidade de de-
cisão dos diversos atores localizados na cadeia de processos das políticas públicas
(autogestão). O mesmo pode ocorrer ser exportado para a gestão cultural, tanto de
maneira global, quanto nos seus diversos programas específicos.
A ideia de governança coloca como foco da gestão pública a interação entre o
Estado, o mercado com todos os seus elementos e as diversas entidades da socieda-
de civil. É justamente esse foco nas interações, e não mais na estrutura adminsitrati-
va estanque, que permite a ampla variação das concepções de governança, sem que
isso invalide o conceito subsidiário das mesmas. A ideia de governança permite uma
aproximação muito mais fiel do Estado à complexidade da realidade e das tarefas e
responsabilidades assumidas por este nas sociedades contemporâneas.
Theodore Löwi, em 1964, apresentou um modelo que distinguia três arenas para o
Estado em ação: a distributiva, a redistributiva e a regulatória.
Em 1985, Löwi incorporou ao seu modelo a arena constituent para dar con-
ta de políticas públicas voltadas à produção das “regras sobre as regras”, as quais
estabelecem e regulamentam a divisão de poderes, autoridades e competências das
diversas organizações no interior da estrutura burocrática. Ou seja, a arena consti-
tuent refere-se às políticas públicas voltadas para a “organização do Estado”.
No seu percurso analítico, Löwi distingue duas funções centrais do Estado
em ação: as distributivas e as não-distributivas.
As “funções” distributivas correspondem às arenas distributivas e redistribu-
tivas. O Estado e suas organizações implementam políticas voltadas para distribuir
e redistribuir benefícios entre grupos, tendo como questão central quem perde e
quem ganha com a implementação de tais políticas.
As “funções” não-distributivas correspondem às arenas regulatórias e cons-
tituent. O Estado e suas organizações implementam políticas voltadas à produção
de regras. Como as clientelas são difusas ou muito amplas, as agências estão menos
ligadas ao problema de quem ganha e quem perde e o ambiente político possui um
menor grau de conflito.
O autor postula, ainda, que as organizações tendem a se comportar de modo
diferente, a depender da natureza dessas funções. Dentro desta perspectiva, cada
uma das arenas políticas acarreta características e comportamentos próprios por
parte dos atores.
Uma sugestão de pesquisa individual pode ser feita neste ponto de nosso
estudo. Observe as seguintes questões:
31
Pesquisa
32
Aula 2 - Gestão compartilhada e autogestão
33
Fonte: Fundação José Augisto/Casa de Cultura Popular
34
Referências bibliográficas
FREDERICKSON, H. GEORGE, 1999. “The Repositioning of Ameri-
can Public Administration.” PS: Political Science, pp. 701-11
HIRST, PAUL. 2000. “Democracy and Governance.” in Debating Go-
vernance: Authority, Steering, and Democracy, Jon Pierre, ed., Oxford:
Oxford University Press, 13-35.
KOOIMAN, J. ed. Modern Governance. London: SAGE.
KERNAGHAN, KENNETH, BRIAN MARSON AND SANFORD BO-
RINS. 2000. The New Public Organization. Toront: Institute of Public Ad-
ministration of Canada.
LIMA, AURICÉIA, 2012. Casas de Cultura Popular: uma gestão
compartilhada, participativa e descentralizada. Trabalho de Conclusão
do Curso de Formação de Gestores Culturais dos Estados do Nordeste.
MINC/FUNDAJ/UFRPE. UFRPE, Recife.
LÖWI, Theodore J. (1964). “American business, public policy, case
studies and political theory”. World Politics, 16:677-715.
LÖWI, Theodore J. (1985). “The state in politics: the relation betwe-
en policy and administration” in NOLL, Roger G. (ed.), R e g u l a t o r y
policy and the social sciences. Berkely, University of California Press, pp.
67-105.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL 1999
O’TOOLE, LAURENCE J. JR. 2003. “Intergovernmental Relations in
Implementation” in Handbook of Public Administration, eds. B. Guy Pe-
ters and Jon Pierre.
PETERS, B. GUY AND JON PIERRE. 1998. “Governance Without Go-
vernment? Rethinking Public Administration.” Journal of Public Adminis-
tration Research and Theory 8: 227-43.
PIERRE, JON, ed. 2000. Debating Governance: Authority, Steering,
and Democracy. Oxford: Oxford University Press.
SORENSEN, GEORG 2004. The Transformation of the State: Beyond
the Myth of Retreat. London: Palgrave Macmillan.
Modelos de
Articulação
Público-Privada
Cátia Wanderley Lubambo
Objetivos
Nossa Aula 3 tem como objetivo suscitar reflexões sobre questões centrais
que lastreiam a discussão sobre PARCERIA PÚBICO-PRIVADA NO SEGMENTO DA
CULTURA. Serão apresentados e discutidos conceitos básicos, ilustrados por algu-
mas informações empíricas relevantes na área da cultura e reforçados pela indica-
ção de textos para leitura complementar.
Parte I – Contextualização
I.1 Apontamentos sobre a reforma do Estado
40
Aula 3 - Modelos de Articulação Público-Privada
No Brasil, bem como em outros países, antes mesmo da formação dos Es-
tados nacionais, já se praticavam acordos entre o setor público e a iniciativa pri-
vada. As expedições exploratórias de navegação, o próprio sistema de capitanias
hereditárias e parte significativa da infraestrutura ferroviária, de telecomunicações
e iluminação pública implantada no país ao longo da história podem ser entendidos
como exemplos embrionários de PPP. Destacam-se também as irmandades e ordens
religiosas que “cuidam de assistência social, cemitérios, orfanatos e educação, re-
cebendo dotações de cofres públicos e contribuições privadas” (PASIN e BORGES,
2003: 179). Pasin e Borges (2003) consideram operações como a Hidrelétrica de
Itaipu e a de Machadinho, bem como os programas de financiamento a universida-
des privadas, como tipos de PPP.
A Constituição de 88, embora não faça menção explícita ao termo parceria,
prevê em diversos artigos formas de relacionamento entre os setores público e pri-
vado ou autoriza a exploração de determinadas atividades, notadamente aquelas
ligadas à prestação de serviços nos setores de telecomunicações, radiodifusão, na-
vegação aérea, aeroespacial e infraestrutura aeroportuária, transporte ferroviário
e aquaviário, transporte rodoviário, portos marítimos, e ainda previdência, saúde,
educação, etc.
Assim, as parcerias atendem tanto à necessidade do Estado quanto à vontade
do setor privado. Todavia, se, de um lado, o conflito de interesses é inevitável, resta
saber em que medida esse arranjo poderá ser efetivamente favorável ao interesse
público, sendo este o ponto mais polêmico do debate sobre a emergência das PPP.
A questão central para nossa reflexão é:
41
No âmbito jurídico, Di Pietro (2002: 34) afirma que “o vocábulo parceria é
utilizado para designar todas as formas de sociedade que, sem formar uma nova
pessoa jurídica, são organizadas entre os setores público e privado para a conse-
cução de fins de interesse público”. Mas existem, de fato, diversos grupos sociais,
fora do âmbito empresarial e governamental, com os quais o poder público pode e
tem formalizado acordos e parcerias, entre as quais se destacam as organizações so-
ciais, as organizações não-governamentais e outras entidades de direito privado sem
fins lucrativos. Considerando simplesmente a natureza jurídica das partes envolvi-
das, estes acordos também poderiam ser chamados de parcerias e são inúmeros os
exemplos de cooperações entre essas partes, de modo que são vários os arranjos e
as formas de parcerias (FARAH, 2000).
Assim, a partir dessas considerações, identificam-se três níveis de parcerias
possíveis: 1) parceria público-público, 2) parceria público-social e 3) parceria pú-
blico-privada. A primeira é aquela firmada entre organizações e entidades ligadas
à esfera pública, ainda que em setores e níveis hierárquicos distintos. O segundo
tipo refere-se aos arranjos feitos por quaisquer entidades da esfera pública com as
organizações sociais, incluindo organizações não-governamentais (ONG), organiza-
ções da sociedade civil de interesse público (OSCIP), cooperativas, associações de
moradores, entidades de classe, etc.
A parceria público-privada, como o próprio nome sugere, prevê que um de-
terminado acordo será realizado, especificamente, entre entidades ligadas à esfera
pública e organizações privadas. Assim, conforme mencionado, relações formais ou
informais estabelecidas entre os poderes públicos, entes da federação, instituições
públicas ou países podem ser objeto de convênios, acordos, termos de compromis-
so ou quaisquer outros instrumentos jurídicos, mas não se configuram, para fins
desta reflexão, como parcerias público-privadas.
Destaca-se ainda outra forma de parceria, relativamente inovadora no âmbito
da gestão pública, por meio da qual o setor privado ou as organizações sociais as-
sumem ou dividem voluntariamente determinadas atividades com o setor público.
Esse tipo de experiência, no caso do setor empresarial, demonstra uma predispo-
sição de alguns segmentos em participar de programas de desenvolvimento social
com foco, sobretudo, na ideia de responsabilidade social, que tende a agregar valor
à imagem das empresas.
Por fim, outra definição possível é extraída da Lei das PPP (Lei nº 11.079,
30/12/2004), segundo a qual parceria público-privada é um “contrato administra-
tivo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa” (Art. 2º), sendo
a primeira a concessão de serviços públicos ou obras públicas que envolvem, “adi-
cionalmente à tarifa cobrada dos usuários, uma contraprestação pecuniária do par-
42
Aula 3 - Modelos de Articulação Público-Privada
Acordo formal de cooperação entre o setor público e a iniciativa privada para im-
plantação de projetos ou realização de atividades de interesse público, cuja responsabili-
dade pelo financiamento, investimento e execução é proporcionalmente compartilhada
pelos dois entes, em termos de riscos e benefícios, sendo esses advindos da utilização ou
exploração do próprio objeto.
Para identificar casos de PPP, você poderá considerar três fontes: atas de reu-
niões do Conselho de Cultura; matérias em jornal de grande circulação local, que
43
mencionem algum tipo de cooperação entre os setores público e privado para a
consecução de um projeto; depoimentos de gestores, técnicos e representantes
dos setores público e privado, por meio da aplicação das cinco perguntas a seguir,
relativas ao tema:
45
de sucesso de parcerias público-privadas abundam tanto quanto os de fracassos – o
que ocorre, aliás, em quase todos os tipos de política pública. Os fatores determi-
nantes para um ou outro resultado decorrem de um grande número de variáveis,
controláveis ou não, a depender da sua natureza e do grau de informação sobre es-
tas. Todavia, o que se percebe é que quanto mais inovadora parece uma ideia, mais
arriscada se mostra a sua implementação e, portanto, mais cuidados são exigidos.
A análise de outras experiências é um bom procedimento para evitar incorrer nos
erros já cometidos pelos outros, mas não é suficiente para evitar os próprios erros.
O domínio do objeto a ser trabalhado, a seriedade, a lisura na condução dos proces-
sos e o comprometimento das partes envolvidas são fatores essenciais em qualquer
tipo de projeto e igualmente aplicáveis às parcerias público-privadas.
46
Referências bibliográficas
BRITO, Manuelita Falcão. Ensaio de parcerias público-privadas
como instrumentos de gestão e desenvolvimento urbano. Dissertação
de mestrado apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão de Políti-
cas Públicas, da Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2005.
DI PIETRO, Maria Sylvia Z. Parcerias na administração pública:
concessão, permissão, franquia, terceirização e outras formas. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.
FARAH, Marta F. S. Parcerias, novos arranjos institucionais e po-
líticas públicas locais. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, vol. 18,
abril de 2000.
PASIN, Jorge A. B.; BORGES, Luiz F. X. A nova definição de par-
ceria público-privada e sua aplicabilidade na gestão da infra-estrutura
pública. Revista do BNDES, vol. 10, n. 20. Rio de Janeiro, dezembro de
2003, p. 173-196.
SILVA, Pedro L. B. Reforma do Estado e política social no Brasil:
êxitos, problemas e desafios da coordenação intergovernamental. Ca-
derno de Pesquisa, n. 31, NEEP/Unicamp, Campinas, 1998.
Sugestões de Leitura
Gestão estratégica da
cultura - planejamento
Selma Maria Santiago Lima
Objetivos
- Proporcionar uma reflexão sobre as diversas possibilidades de gestão estratégica
para a cultura, a partir do reconhecimento da criatividade no gerenciamento de
programas, projetos e equipamentos culturais.
- Promover a discussão em torno de diversas experiências contemporâneas nas áre-
as da gestão cultural pública e privada.
- Compreender as relações entre desenvolvimento local e gestão estratégica da cul-
tura, refletindo sobre o papel do gestor cultural nos programas, projetos e equipa-
mentos culturais.
- Ter conhecimentos básicos para desenvolver uma gestão estratégica da cultura nos
âmbitos público e privado.
50
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento
Planejamento estratégico
Qualquer organização atuante nos dias de hoje vive a realidade das grandes
mudanças que se desenvolvem a velocidades surpreendentes, principalmente com
o advento da globalização, que nos apresenta diversos aspectos (positivos e nega-
tivos). Se, no final do século XX, era importante a internacionalização das organi-
zações, no início do XXI, esta continua sendo uma condição necessária, mas não
mais suficiente.
Na atual sociedade da informação, a questão não é meramente, ou principal-
mente, questão de transformação tecnológica, mas essencialmente de uma trans-
formação total, que implica grandes mudanças nos processos de organização e pla-
nejamento. Considerando estes conceitos e ambientes, identificamos, a seguir, um
conjunto de características que consideramos necessárias à construção de planos
estratégicos em cultura:
51
O ambiente cultural, pela sua natureza – criatividade artística livre de or-
denamentos e regulações –, e, muitas vezes, pela organização da cultura feita por
pessoas desta natureza artística, carece, ainda mais que outros ambientes, de pla-
nejamento e estratégias para sua gestão. Neste ponto, quando resolvemos agir
sobre uma determinada realidade no ambiente da organização cultural visando a
transformá-la, precisamos otimizar os meios que temos para efetuar essa transfor-
mação, compartilhando nossos desejos, interesses e vontades com outras pessoas,
identificadas com as mesmas causas ou com a busca de soluções para os mesmos
problemas, os parceiros nas diversas etapas da nossa ação, e dando uma dimensão
coletiva aos nossos anseios.
Pactuação
“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, sonho que se sonha
junto é realidade”. (Raul Seixas)
52
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento
Fonte: http://blogs.diariodonordeste.com.br/roberto/ceara/o-palco-da-babel/
53
seu propósito e como pretende atuar no dia a dia. A missão responderá à pergunta
“para que esta iniciativa existe?”.
Na missão devemos explicitar os principais alvos da organização, indicar uma
direção consistente para a organização, direcionar a locação apropriada dos recur-
sos organizacionais e fundamentar os demais níveis do planejamento.
É importante, ainda, que o parágrafo que determina uma missão possa indi-
car também a identidade da iniciativa (imagem que faz de si própria e pela qual quer
ser reconhecida); sua razão de ser (necessidades culturais que pretende satisfazer);
sua singularidade (o que a torna distinta das demais) e sua especificação (o que faz,
com o que faz e onde faz).
4 - Levantamento diagnóstico
Todo planejamento tem de ter como base o conhecimento da realidade, ne-
cessitando, portanto, de um levantamento diagnóstico. Antes de formular obje-
tivos e estabelecer estratégias, cabe ao gestor cultural conhecer as características,
as condições e os problemas da realidade na qual vai atuar. Para tanto, há que se
buscar e sistematizar o maior número de informação que lhe permita uma análise
dos diversos aspectos: geográfico, econômico, político, educacional e cultural.
O diagnóstico é o resultado do estudo sistematizado da realidade e deverá
fornecer dados objetivos para o desenvolvimento da ação e elementos para a análi-
se dos cenários interno e externo.
55
Fonte: http://agenciapolis.wordpress.com/2011/09/23/por-dentro-da-profissao-
-producao-cultural/
56
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento
Indicadores de resultados
Para se proceder ao monitoramento e à avaliação de ações culturais é neces-
sária a criação de indicadores de resultados, que existem em diversos outros seg-
mentos da sociedade, mas que ainda necessitam ser aprimorados para o ambiente
cultural. Para isso, o gestor deve buscar desenvolver pesquisas com a população e
com parceiros (artistas, gestores de equipamentos culturais, empresas, etc) sobre a
atuação de sua iniciativa cultural.
Outro ponto de observação que pode nos levar a desenvolver indicadores
na área cultural é encontrado por meio da investigação e criação de mecanismos
de melhoria contínua de produtos e serviços a partir de reclamações/sugestões, ou,
ainda, de fóruns sistêmicos com as categorias artísticas para avaliação de impacto,
que podem ser realizados em feiras, congressos, eventos setoriais, mostras, festi-
vais, exposições, consertos e outros.
57
58
Plano de Ação – 5w 1h
O Que ( What) Quem ( Who) Quando ( When) Onde ( Where) Porque ( Why) Como (How)
Ação a ser desenvol- Responsável Período ou data a Local/locais da ação Motivo da ação Descrever etapa 1
vida ser realizado Descrever etapa 2
- O que fazer? (O que - Quem vai fa- - Quando fazer? - Onde fazer? (Onde - Por que fazer? - Como fazer? (Como
será feito? Quais as zer? (Quem re- (Quando cada tare- cada etapa será exe- ( Justificativa deverá ser realizada
etapas?) alizará a tarefa? fa será executada? cutada?) para executar a cada tarefa/etapa?
- Quais os resultados Defina os res- Qual o tempo - Onde a atividade tarefa.) Qual o método?)
dessa atividade? ponsáveis). necessário?) será executada? - Por que essa - Como essa ativida-
- Quais atividades são - Quem execu- - Quando será o iní- - Onde serão feitas as atividade é ne- de será executada?
dependentes dessa? tará determina- cio da atividade? reuniões presenciais cessária? - Como acompanhar
- Quais atividades são da atividade? - Quando será o tér- da equipe? - Por que essa o desenvolvimento
necessárias para o iní- - Quem depen- mino? atividade não dessa atividade?
cio desta? de da execução - Quando serão as pode fundir com - Como A, B e C vão
- Quais os insumos ne- dessa atividade? reuniões presen- outra atividade? interagir para execu-
cessários? - Essa ativida- ciais? - Por que A, B e tar essa atividade?
de depende de C foram escolhi-
quem para ser dos para execu-
iniciada? tar essa ativida-
de?
Aula 4 - Gestão Estratégica da Cultura - Planejamento
Reflexões Finais
Resumo da aula
Vimos a necessidade de uma gestão estratégica para as instituições de natu-
reza cultural, partindo de um breve histórico que nos mostrou como os conceitos
de planejamento e estratégia foram sendo estabelecidos ao longo dos anos e incor-
porando em sua realização a participação ampliada dos agentes, ou seja, a demo-
cratização nos processos decisórios tanto de iniciativas culturais do setor público,
como privadas.
Observamos ainda que o planejamento não pode ser separado da sua exe-
cução e que planejar é importante, mas é fundamental induzir a coordenação, ou
seja, coordenar os esforços para que as atividades e ações sejam desenvolvidas de
maneira integrada.
Além disso, destacamos que o processo de planejamento estratégico tem que
59
ser visto como um processo político (e não meramente técnico). Isso significa com-
preender o planejamento para além do “plano no papel” e pensar nas prioridades
estabelecidas pelo gestor e sua equipe para suas ações, as escolhas realizadas, a
participação de atores e grupos de interesse nesse processo, etc.
Finalmente, apresentamos uma metodologia com as etapas e as característi-
cas de um planejamento estratégico, seus instrumentos de acompanhamento e ava-
liação, e alertamos para a necessidade de implantação de indicadores de resultados
para que os processos sejam efetivamente bem sucedidos.
60
Referências bibliográficas
ALBRECHT, Karl. Programando o futuro. São Paulo : Makron Books,
1994.
GORDON, R. A.; HOWELL, J. E. Higher education for business. New
York : Columbia University Press, 1959.
PARRA, Nélio. Planejamento de currículo. Escola. São Paulo: Thom-
son, 1972.
TURRA, Glória Maria Godoy, et al. Planejamento de Ensino e Avalia-
ção, Porto Alegre, PUC. EMMA, 1975.
Bibliografia complementar
ALDAY, Hernan E. Contreras. Rev. FAE, Curitiba, v.3, n.2, p.9-16,
maio/ago. 2000
CERTO, Samuel; PETER, J. Paul. Administração estratégica. São Pau-
lo : Makron Books, 1993.
COELHO NETO, José Teixeira Usos da Cultura – Políticas de Ação
Cultural – Rio de Janeiro – Paz e Terra, 1986
CUNHA FILHO, Francisco Humberto, Teoria e Prática da Gestão
Cultural, Ed. UNIFOR, Fort, 2002.
FERNANDES, Karina Ribeiro. A Constituição de Redes Organiza-
cionais como nova forma de Gestão das Organizações do Terceiro Setor.
Disponível em http://integracao.fgvsp.br/ano7/06/administrando.htm
FRANCO CAMARGO, Mariângela (Org) - Gestão do Terceiro Setor
do Brasil – São Paulo – Futura, 2001.
MANITO, Felix. Planificación estratégica de la cultura. Iberautor
Promociones Culturales, Madri, 2008
MELGUIZO, Jorge. Medellín, la transformación desde la Cultura.
Informe para o I Congresso Internacional Lugares de Cultura. Santiago de
Compostela: 2009.
MIRALLES, Eduard. Más allá de la gestión cultural: algunas estrate-
gias para una(s) nueva(s) política(s) pública(s) para la cultura. Barcelona,
2006 Disponível em http://www.xing.com/net/gestionycultura/gestion-cul-
tural-51300/mas-alla-de-la-gestion-cultural-algunas-estrategias-para-una-s-
-nueva-s-politica-s-publica-s-para-la-cultura-4542366
Observatório Internacional de Democracia Participativa. Barcelo-
na: Prefeitura de Barcelona, 2008.
SOARES, Ana Paula Macedo. Consórcios Intermunicipais de Cultu-
ra. Disponível em http://federativo.bndes.gov.br/dicas/D113.htm.
SOARES, Ana Paula Macedo. CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS DE CULTU-
RA. Publicado originalmente como DICAS nº 113 em 1998. Disponível em http://
federativo.bndes.gov.br/dicas/D113.htm
UNESCO. Marco Estratégico para a UNESCO no Brasil. Brasília, Outubro de
2006
Aula 5
Ferramentas e
Práticas de
Gestão
Suzane Christine Luz Fernandes
Objetivos
Proporcionar subsídios conceituais e operacionais atualizados para o uso das
ferramentas e a práxis da gestão direcionada à área da cultura, de forma a capaci-
tar os gestores culturais a tomar decisões, executar políticas, planos, programas,
projetos e ações culturais, em função da institucionalização da cultura como setor
produtivo e da implementação das políticas públicas para o setor.
66
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Ainda vista como uma carreira emergente, a função de gestor cultural deman-
da qualificação profissional, tendo em vista as especificidades originárias dessa nova
forma de relacionamento entre os atores sociais e da nova lógica de configuração
das atividades culturais, que, de acordo com Boas (2005), exige uma série de conhe-
cimentos que proporcionem uma atuação reflexiva, crítica e especializada.
Além do desenvolvimento do senso crítico e da consciência de sua função, o
gestor dessa área necessita compreender e interagir com essa ação tridimensional
atribuída à cultura nacional (simbólica, cidadã e econômica), que se individualiza
e ao mesmo tempo se complementa, requerendo da gestão cultural uma atitude
adaptativa em relação às atividades sociais e profissionais que se constroem.
Tendo em vista que as organizações culturais são heterogêneas, de diver-
sos tamanhos e possuem características, estrutura e objetivos diferentes (com ou
sem fins lucrativos e governamentais), Zubiría e Tabares (1998) afirmam que, para
quaisquer que sejam a natureza e o tamanho da organização, a gestão cultural se
consolida quando se compreende que as aspirações e os propósitos de produzir
serviços e bens culturais possibilitam o crescimento institucional e, sobretudo, o
reconhecimento social, ao serem aceitos pela comunidade, conferindo ao gestor a
competência de identificar processos administrativos que atribuem à gestão quatro
funções básicas:
68
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Atenção!
Etapas Caracterização
Atenção!
72
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Leia o texto escrito por Luis Alberto de Abreu, que, mediante relato
de experiência da criação de um espetáculo teatral, aponta reflexões
sobre o processo colaborativo, no site http://www.sesipr.org.br/
nucleodedramaturgia/FreeComponent9545content77392.shtml
73
Para que aconteça a colaboratividade no processo dialógico, Taddei (2012b)
sugere que sejam observados os seguintes elementos (Quadro 3):
Elementos Caracterização
74
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
75
Reformulações constantes • Só uma nova “cena” tem o poder de refutar a “cena”
anterior; tudo deve ser testado em “cena”, sejam ideias,
propostas ou simples sugestões.
• A “cena” tem o poder de modificar o canovaccio/ro-
teiro mestre, aprofundar o tema ou até provocar uma
revisão na abordagem do assunto escolhido.
Segundo Taddei (2012b), para que haja a superação das situações de con-
flito durante o processo dialógico, deverá ser aplicado o Método Transcend1 , de
forma que se traduzam benefícios para todos os envolvidos no processo dialógico,
mediante acordo, possibilitando a) criar uma nova realidade, b) tornar reversível
a situação, c) permitir liberdade de escolha e d) requerer criatividade, diálogo e
negociação.
77
Aspectos Caracterização
78
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Complementando
79
Para refletir mais sobre a dimensão do planejamento cultural
Complementando
81
Ciclo de vida de um projeto cultural
82
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Complementando
“As ferramentas que utilizamos na nossa prática cultural são um híbrido entre
ferramentas de gestão social e ferramentas de administração empresarial. As ferra-
mentas são ainda muito adaptadas às particularidades de cada projeto e levam em
conta as experiências práticas vivenciadas em 11 anos de atuação no setor cultural.
Adotamos um método de trabalho que inclui uma avaliação bastante extensa não
apenas quanto aos resultados e efeitos tangíveis, mas também quanto aos intangí-
veis. Estes balanços, além de sintetizar os ‘ganhos’ tangíveis e intangíveis de cada
experiência, nos auxiliam na continuidade dos projetos ou no desenvolvimento de
novos projetos. Cito algumas ferramentas de gestão que julgo serem as mais impor-
tantes: planejamento e avaliação continuados e comunicação pelo diálogo (tanto
junto ao público interno quanto ao público externo) (Claudia Taddei, em entrevista
à Rede Cemec, em 2012).
83
Quadro 5: Instrumentos de gestão dos sistemas públicos de cultura
Fonte: Brasil. Ministério da Cultura (2011)
84
Aula 5 - Ferramentas e Práticas de Gestão
Acesse o Plano Nacional de Cultura, e obtenha a informações sobre como fazer um Plano de
Cultura, no link: http://www.cultura.gov.br/plano-nacional-de-cultura-pnc-
85
86
Referências bibliográficas
ABREU, L. A. Processo Colaborativo: Relato e Reflexões sobre
uma Experiência de Criação. Revista de relatos, reflexões e teoria
teatral. Santo Andre. SP: Escola Livre de Teatro de Santo André. Cader-
nos da ELT, nº 2, Jun 2004. Disponível em: www.sesipr.org.br/nucle-
odedramaturgia/FreeComponent9545content77392.shtml. Acesso em:
Mar 2014.
BOAS, R. V. Gestão Cultural. In: Organização e Produção da
Cultura. RUBIM, L. (Org). Coleção Sala de Aula. Salvador: EDUFBA;
FACOM/CULT, 2005, p. 99 – 116.
BRASIL. Ministério da Cultura (Minc). Estruturação, Institu-
cionalização e Implementação do Sistema Nacional de Cultura.
Brasília: MinC, 2011, Disponível em: www.cultura.gov.br. Acesso em:
Jan 2014.
CEMEC. Rede Cemec. Claudia Taddei. Ferramentas de gestão
para a produção simbólica. Entrevista a Gustavo Seraphim. São Pau-
lo, SP: Cemec. Rede Cemec [2012?]. Texto digital. Disponível em: http://
redecemec.com/ferramentas-de-gestao-para-a-producao-simbolica.
Acesso em: Mar 2014.
CUNHA, M. H. Gestão Cultural. Coleção Política e Gestão Cul-
turais. Bahia: Secretaria da Cultura, 2013.
MAMBERTI, S. Produção Simbólica e Diversidade Cultural: Pro-
dução de arte e bens simbólicos. Conferência Nacional de Cultura.
Material de apoio. Brasília: Funarte. Nov 2009. Texto digital. Disponível
em: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/producao-simbolica-e-diversidade-
-cultural-producao-de-arte-e-bens-simbolicos/. Acesso em: Mar 2014.
REIS, O. Projetos para o desenvolvimento. Belém: EDUFPA,
2004.
TADDEI, C. Ferramentas de gestão e acompanhamentos de pro-
jetos culturais. Gestão Cultural: Práxis. São Paulo: CEMEC, 2012a.
29 slides: color. Slides gerados a partir do slideshare.net. Disponível
em: http://pt.slideshare.net/redecemec/claudia-taddei-curso-cemec-
-jun2012. Acesso em: Mar 2014.
___________. Metodologias de execução, supervisão e
acompanhamento de processos culturais. São Paulo: CEMEC,
2012b. 26 slides: color. Slides gerados a partir do slideshare.net. Dispo-
nível em: http://pt.slideshare.net/redecemec/apresentao-claudia-taddei.
Acesso em: Mar 2014.
TEIXEIRA, J. B FERNANDES, S. C. L. Elaboração de projetos e captação de
recursos. Texto base dos módulos. Curso Elaboração de Projetos e Captação
de Recursos. Belém: UFPA. FADESP, 2011.
TURINO, C. Uma gestão cultural transformadora. Revista Princípios. n.º
100. Edição 71, nov/dez/jan, 2003-2004, p. 73-77. Disponível em: http://www.
fmauriciograbois.org.br/cultura/index.php?option=com_content&view=artic
le&id=10:gestao-cultural&catid=2:debate&Itemid=5. Acesso em: Mar 2014.
ZUBIRÍA, S; TABARES, M. La Administración de Organizaciones Cultura-
les. Formación en Administración y Gestión Cultural. Colombia: Organizaci-
ón de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura. Sép-
tima Entrega, Octubre de 1998. Texto digital. Disponível em: http://gestcultural.
files.wordpress.com/2008/04/formacion-en-administracion-y-gestion-cultural.
pdf. Acesso em: Mar 2014.
INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION. ISO 10006: Quality ma-
nagement - Guidelines to quality in project management. s.l.p., ISO, 1997.
Aula 6
Informação e
indicadores culturais
Suzane Christine Luz Fernandes
Objetivos
- Analisar critérios e parâmetros referenciais específicos do setor cultural que
estejam disponíveis para consulta e que possam ser usados como indicadores de
avaliação de políticas culturais, de programas e de projetos.
- Discutir acerca da produção, da coleta e do registro de informações, bus-
cando garantir níveis de comparabilidade nacionais como subsídio para a avaliação
dos resultados das ações propostas, estimulando a formação e a geração de dados
e informações locais.
- Apresentar e analisar instrumentos orientadores para um sistema de acom-
panhamento e monitoramento contínuo do processo de desenvolvimento de polí-
ticas culturais, dos seus planos, programas e projetos.
- Fornecer uma breve introdução acerca da metodologia de pesquisas socio-
culturais: quantitativas e qualitativas.
92
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
Atenção!
94
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
Sistema de Informações Pesquisa que, desde 2004, tem por objetivo organizar e
e Indicadores Culturais sistematizar informações para a construção de indicado-
(SNIIC) res relacionados ao setor cultural brasileiro, a partir das
informações existentes nas pesquisas sociais e econômi-
cas do próprio Instituto***, para o desenvolvimento de
uma base consistente e contínua de informações relacio-
nadas ao setor cultural e a construção de indicadores de
modo a fomentar estudos e pesquisas setoriais de maior
profundidade, fornecendo aos órgãos governamentais e
privados subsídios para o planejamento e a tomada de
decisão relacionada a investimentos, ações e políticas no
setor.
• Em 2006, levantaram-se informações referentes ao ano
de 2003, quando também se realizou a primeira publica-
ção de resultados, que apontou informações relaciona-
das aos principais aspectos da oferta e da demanda de
bens e serviços culturais, dos gastos das famílias e dos
gastos públicos com cultura, consolidados nacionalmen-
te.
• Em 2013, foi publicado o resultado da sistematização
do período de 2007 a 2010.
Os resultados das estatísticas e indicadores de cada perí-
odo divulgado estão disponíveis em impresso e CD-ROM
que acompanha a publicação, como também no portal
do IBGE na Internet.
*** Para a construção do SNIIC foram utilizadas as seguintes pesquisas regulares do IBGE: Estatísticas do
Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA-Empresa), Pesquisa
Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Pesquisa de Orçamento Familiar (POF),
Estatísticas Econômicas das Administrações Públicas (APU), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD). (CALEBRE, 2009, p. 6).
95
Complementando
Atenção
As informações levantadas pelos estudos estatísticos do IBGE poderão cons-
tituir relevantes indicadores para o seu diagnóstico cultural, a depender do nível de
detalhamento da intervenção que se pretende realizar.
Órgãos estaduais de esta- www.anipes.org.br Acesso aos sites dos órgãos esta-
tísticas (ANIPes – Associação duais que produzem informações
Nacional das Institui- estatísticas e indicadores específi-
ções de Planejamen- cos
to e Pesquisas )
96
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
97
Atividade 1
Complementando
98
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
O que é um indicador?
99
o indicador é construído por meios científicos, mas não é ele mesmo um objeto
científico no sentido próprio do termo. Pode ser visto como instrumento de
diálogo entre as instâncias do poder e outros componentes da sociedade.
Estabelece conexões, nem sempre evidentes, entre o campo do conhecimento
e o do discurso, entendido aqui, ainda que de maneira muito restrita, como
ideologia. É parte de um processo em constante transformação, sobretudo
quando se pretende que o indicador se torne mais próximo da representação
de processos sociais complexos [...]. (p. 11-12).
Atenção!
Atenção!
101
Para a sistematização das informações e dos indicadores considerados pri-
mários à revitalização do setor cultural, o IBGE destacou “temas que vão desde o
impacto econômico da cultura e de seus diversos setores até a distribuição regional
dos equipamentos culturais” (NOLASCO, 2010, p.31) e que, mediante a observação
de séries históricas, a partir de 2003, foram categorizados em cinco áreas temáticas:
1) Oferta da Cultura; 2) Demanda por Cultura; 3) Indicadores Culturais, 4) Finan-
ciamento da Cultura; 5) Gestão Pública da Cultura (BRASIL. IBGE, 2010).
Esta classificação temática dos dados (Apêndice 1) possibilita a verificação
de dados estatísticos e indicadores, em séries históricas, de grande valia e utilidade
para pesquisadores e profissionais da área cultural, que poderão qualificar suas res-
pectivas atividades e realizar estudos mais analíticos frente aos números (BRASIL.
IBGE, 2010).
Atividade 2
102
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
Atenção!
105
Atenção
106
Aula 6 - Informação e Indicadores Culturais
Complementando
107
Para garantir a identificação única e a rastreabilidade de um agente cultural ou
de um objeto cultural, é gerado no sistema e associado a eles um número (Nº
SNIIC) (BRASIL, MINC, 2013, p. 13).
Resumindo
108
Referências bibliográficas
Direitos culturais
no Brasil
Francisco Humberto Cunha Filho
Objetivos
- Compreender o que o direito brasileiro entende por cultura e por Direitos
Culturais.
- Fazer a diferença entre direitos e garantias culturais.
- Distinguir os Direitos Culturais de outros conceitos que com eles são con-
fundidos.
Introdução
Desde 10 de dezembro de 1948, ao adotar e proclamar a Resolução 217 A,
na qual está a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Assembleia Geral das
Nações Unidas chamou a atenção para um novo e delicado núcleo de direitos, assim
tidos por estarem relacionados e envoltos na subjetividade e nos muitos significa-
dos da palavra cultura: os Direitos Culturais - DsCs. Em pelo menos dois artigos faz
expressa referência aos DsCs, sendo que em um deles prevalece a abordagem gene-
ralista e, no outro, a mais restrita; correspondem, tais alusões, à principal dicotomia
que persiste como entrave para uma unificação conceitual.
A compreensão mais ampla está no Artigo XXII, pelo qual “toda pessoa, como
membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço
nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade”.
O entendimento mais restrito figura nos dois itens do Artigo XXVII: “1. Toda
pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de
fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda
pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qual-
quer produção científica, literária ou artística da qual seja autor”.
No primeiro caso, os Direitos Culturais relacionam-se com a ideia de respeito
aos modus vivendi peculiares aos distintos povos destinatários e signatários da de-
claração; no outro, a atividades mais específicas, cujos núcleos podem ser extraídos,
com variações gramaticais, do próprio texto: arte, ciência e literatura.
Considerando que as declarações de direitos são espécies de faróis para a
produção das normas jurídicas nos países que formam a comunidade internacional,
o objetivo desse escrito é o de dimensionar se, e em que medida, há influência da
Declaração de 1948, da ONU, sobre o comando existente na Constituição Brasileira
de que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais...”
(parte inicial do Art. 215), tentando ‘medir’ a dimensão ofertada à expressão em
destaque. Ademais, a partir do entendimento obtido, traçar um perfil do atual está-
gio dos direitos culturais em nosso país.
122
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil
direitos culturais, mas com um, que é específico em termos de identificação, porém
genérico enquanto abrangência: o direito à diversidade.
Direitos Culturais, em sentido diverso aos apresentados, pressupõem a es-
pecificação, se não de um rol, ao menos de categorias de direitos relacionados com
a cultura, compreendida a partir de núcleos concretos formadores de sua substân-
cia, como as artes, a memória coletiva e o fluxo dos saberes (CUNHA FILHO, 2004).
As interconexões entre os três conceitos levam às seguintes observações: cul-
turalismo jurídico é teoria; multiculturalismo é ideologia; Direitos Culturais são
práxis. Evidenciam-se, em decorrência, graus de concretude e materialização dife-
renciados e crescentes do primeiro para o último.
Assim, não se pode confundir culturalismo jurídico e tampouco multicul-
turalismo com Direitos Culturais, pois a abrangência e significados dos primeiros
aniquilariam a dimensão mais concreta do outro. Contudo, por paradoxal que apa-
rente, há um direito cultural específico às práticas multiculturalistas, bem como à
concepção que explica as relações sociais a partir do culturalismo.
123
tados; (2) a ação estatal criou o respectivo poder de polícia cultural, exercível sob
disciplina e controle; e (3) o impulso das políticas gerou mais fluxos e relações cul-
turais, das quais decorreu natural crescimento quantitativo e qualitativo de litígios
culturais, que passaram a exigir parâmetros para a solução.
Monnier e Forey (2009, p. 18 e 19) comungam com esse entendimento e
precisam que o Direito da Cultura passou a receber tratamento de disciplina au-
tônoma, na França, somente a partir dos anos 1990. Mesmo reconhecendo a he-
terogeneidade e multiplicidade de objetos, mencionam alguns, como exemplos:
os monumentos históricos, os arquivos, os vestígios arqueológicos, as criações do
espírito, a língua, os livros.
Sem prejuízo da observação de Pedro (2001, p. 215), de que o conceito,
menos que uma categoria jurídica de aplicação direta, presta-se mais a identificar
um grupo de Direitos Fundamentais, no Brasil, desde 2007, a Universidade de
Fortaleza – UNIFOR - tem disciplina específica, com versões diferenciadas para a
graduação e pós-graduação – mestrado e doutorado em Direito - (CUNHA FILHO;
TELLES; COSTA, 2008), designada com a expressão que faz deferência à literalidade
do texto constitucional do país: Direitos Culturais. Contudo, na dimensão teórica
e na aplicação efetiva, praticamente equivale a Direito da Cultura, por versar sobre
as relações jurídicas específicas em três grandes campos: artes, memória coletiva e
fluxo de saberes.
124
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil
125
Relativamente às artes, com status de direito fundamental, é assegurado, nos
termos da lei, o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas re-
presentações sindicais e associativas. É a explícita manifestação do aspecto patrimo-
nialista, de direito de propriedade, sobre a criação do intelecto. Contudo, a mesma
Constituição genericamente determina que a propriedade atenderá a sua função
social, o que obviamente se refere a qualquer tipo de domínio, inclusive o intelectu-
al. Em palavras que indicam a forma de operacionalizar simultaneamente as normas
transcritas: os criadores, ao tempo em que têm direitos enquanto proprietários,
na mesma condição, têm deveres; os destinatários de suas obras, também. Não é à
toa que um dos grandes desafios do momento é a reconstrução da legislação rela-
tiva aos direitos autorais, atualmente com pendores mais favoráveis à propriedade,
sem a devida medida para com a função social respectiva ( WACHOWICZ; SANTOS,
2010).
No campo mais tradicional do resguardo da memória coletiva, o do tom-
bamento, desde 1937 é clara - ao menos normativamente - a correlação direitos-
-deveres culturais, evidente na conservação do direito de propriedade ao dono do
bem tombado, excetuadas as possibilidades de destruir, modificar sem autorização,
submeter-se a fiscalizações e controles, além de, em caso de alienação, ofertar a pre-
ferência ao poder público. Mas este equilíbrio é quase sempre apenas normativo,
pois as grandes tendências são de tentar impedir a concretização do tombamento e/
ou de seus efeitos, ou de tentar que seja comutado em desapropriação.
No domínio da proteção do patrimônio cultural imaterial, o equilíbrio tam-
bém é dificultoso; aceitam-se, com tranquilidade, por exemplo, compensações e
reconhecimentos públicos aos chamados tesouros vivos; mas se dos mesmos se
pede repasse de saberes, fazeres e viveres, dúvidas são levantadas quanto à possível
obrigação.
Também não há boa recepção quando se pondera sobre o conteúdo e a for-
ma de tais saberes, fazeres e viveres, estimulando os que se compatibilizam com os
assim designados dogmas constitucionais valorizadores de bens como dignidade
humana, igualdade sem discriminações negativas, respeito à natureza, e, por óbvio,
desestimulando os que atuam em sentido antagônico. De fato, velar por estes bens
corresponde ao dever que todos e cada um têm para aprimorar as relações huma-
nas.
126
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil
Resumo
No Brasil, pode-se concluir que
128
Aula 7 - Direitos Culturais no Brasil
129
Referências
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetivida-
de de suas Normas: Limites e Possibilidades da Constituição Brasilei-
ra. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política
e as lições dos clássicos; organizado por Michelangelo Bovero. Tradução
de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
COELHO, Teixeira. A cultura e seu contrário: cultura, arte e po-
lítica pós-2001. São Paulo: Iluminuras, Itaú Cultural, 2008.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Cultura e democracia na
constituição federal de 1988: a representação de interesses e sua aplica-
ção ao programa nacional de apoio à cultura. Rio de Janeiro: Letra Legal,
2004.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto; TELLES, Mário Ferreira de
Pragmácio; COSTA, Rodrigo Vieira (Org,). Direito, arte e cultura. Forta-
leza: SEBRAE-CE, 2008.
HÄBERLE, Peter. Le Libertà Fondamentali Nello Stato Constitu-
zionale. Roma: La Nuova Itália Scientifica, 1993.
LOPES, Ana Maria D’Ávila. A Contribuição da Teoria do Multicul-
turalismo para a Defesa dos Direitos Fundamentais dos Indígenas
Brasileiros. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arqui-
vos/anais/manaus/estado_dir_povos_ana_maria_lopes.pdf> Acesso em
07 nov. 2010
MÉNARD, René. Mitologia Greco-Romana. Tradução Aldo Della
Nina. São Paulo: Opus, v.3,1991.
MONNIER, Sophie; FOREY, Elsa (com a participação de KULIG,
Gaëlle): Droit de la Culture. Paris: Gualino, 2009.
PEDRO, Jesús Prieto de. Derecho a la cultura e industrias culturales.
In: Economia y cultura: la tercera cara de la moneda. Bogotá: Convê-
nio Andrés Bello, 2001.
PONTIER, Jean-Marie; RICCI, Jean-Claude; BOURDON, Jacques.
Droit de la Culture. Paris: Daloz, 1990.
REALE, Miguel. Cinco Temas do Culturalismo. São Paulo: Editora
Saraiva, 2000.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direto Constitucional Positivo.
São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 1993.
SILVA, Vasco Pereira. A Cultura a que tenho direito: Direitos Fun-
damentais e Cultura. Coimbra: Almedina, 2007.
WACHOWICZ, Marcos; SANTOS, Manoel Joaquim Pereira dos (Org.) Estudos
de direito do autor e a revisão da lei dos direitos autorais. Florianópolis: Fun-
dação Boiteux, 2010.
Aula 8
Execução orçamentária
e financeira
Suzane Christine Luz Fernandes
Objetivos
- Proporcionar subsídios conceituais e operacionais atualizados quanto aos
processos relacionados ao sistema de planejamento orçamentário brasileiro e à ges-
tão financeira e orçamentária do setor público.
Atenção!
Conceituando
Complementando
137
Legislação pertinente ao planejamento orçamentário:
(http://www.orcamentofederal.gov.br/legislacao)
138
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Atenção!
Atenção!
140
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Princípios orçamentários
Os princípios orçamentários são normas e regras norteadoras estabelecidas
legalmente para orientar a elaboração e a execução do orçamento público com
maior eficácia de controle da gestão pública, tendo em vista sua racionalidade, efi-
ciência e transparência, válidas para todos os poderes e para todos os entes federa-
tivos (Quadro 2).
141
Princípio do orçamento bruto Os valores apresentados na Lei Orçamen-
tária Anual (LOA), tanto para as receitas
quanto para as despesas, devem figurar pe-
los valores brutos, vedando-se, dessa for-
ma, a inclusão de receitas e despesas pelos
valores líquidos (art. 6º da Lei nº 4.320, de
1964).
Princípio da não vinculação da receita Veda-se a vinculação de receita de impostos
de impostos a determinado órgão, fundo ou despesa,
salvo exceções previstas em lei. Este prin-
cípio visa ao recolhimento ao caixa único
do tesouro.
Quadro 2: Princípios Orçamentários
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)
Receita pública
As receitas públicas são ingressos2 financeiros no patrimônio público. São
consideradas ingressos todas as entradas de bens ou direitos, em determinado perí-
odo de tempo, que a administração pública utiliza para financiar seus gastos, incor-
porados ou não ao seu patrimônio. Em sentido amplo, desdobram-se em receitas
orçamentárias, quando representam disponibilidade de recursos financeiros para
o erário, e ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas
compensatórias. Em sentido estrito, são públicas apenas as receitas orçamentárias
(BRASIL. MP, 2013)
142
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
143
b) Receitas extraorçamentárias têm caráter temporário, não integram o or-
çamento público e constituem passivos exigíveis do tesouro, de tal forma que o seu
pagamento não está sujeito à autorização legislativa. É o caso de depósito em cau-
ção, Antecipação de Receitas Orçamentárias – ARO –, emissão de moeda e outros.
3 A classificação orçamentária da receita, no âmbito da União, é normatizada por meio de Portaria da SOF, ór-
gão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A normatização da classificação válida para estados
e municípios é feita por meio de portaria interministerial (SOF e STN) (BRASIL. MP, 2013, p. 18).
144
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Exemplificando
145
2) Classificação da receita orçamentária por identificador de resultado
primário: Divide-se em duas categorias (Quadro 4):
Categorização Característica
Receitas primárias Refere-se, predominantemente, às receitas correntes.
Receitas financeiras São aquelas que não contribuem para o resultado primário
ou não alteram o endividamento líquido do Governo (setor
público não financeiro) no exercício financeiro correspon-
dente, proveniente de natureza financeira, junto ao setor
privado interno e/ou externo.
Quadro 4: Classificação da receita orçamentária por identificador de resultado primário -
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)
146
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Para saber mais sobre as fontes e suas respectivas naturezas de receita, aces-
se o “Ementário de Classificação das Receitas Orçamentárias da União” no ende-
reço eletrônico http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/
arquivos-receitas-publicas/receitas-publicas.
Etapas Descrição
Previsão É a estimativa de quanto se espera arrecadar durante o
exercício financeiro. A projeção das receitas é fundamen-
tal na determinação das despesas na LOA, na execução do
orçamento e na determinação das necessidades de finan-
ciamento do Governo.
147
Lançamento É o ato da repartição competente, que verifica a proce-
dência do crédito fiscal e a pessoa devedora e inscreve o
débito desta (Lei nº 4.320/64).
Arrecadação Está vinculada aos pagamentos realizados diretamente
pelos contribuintes ou devedores aos agentes arrecada-
dores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente
público.
Recolhimento Consiste na entrega do produto da arrecadação pelos
agentes arrecadadores ou instituições financeiras auto-
rizadas na conta específica do ente público, responsável
pela administração e pelo controle da arrecadação, além
da programação financeira.
Quadro 6: Fases de execução da receita orçamentária
Fonte: Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013)
Complementando
Despesa pública
A despesa pública é o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pessoa
de direito público, para o funcionamento dos serviços públicos. Nesse sentido, a
despesa é parte do orçamento, ou seja, são as autorizações e classificações dos gas-
tos com as várias atribuições e funções governamentais.
Santos (2010, p. 85) descreve a despesa pública como
[...] todos os gastos com a manutenção dos órgãos e das entidades e a prestação
de serviços públicos (chamadas de despesas correntes) e com a realização de
obras e compra de equipamentos (chamadas de despesas de capital), além
da concessão de empréstimos, constituição de empresas e do pagamento dos
serviços da dívida, quando houver.
148
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
149
Classificação Caracterização
Esfera Orçamentária Tem por finalidade identificar se o orçamento é Fiscal (F), da
Seguridade Social (S) ou de Investimento das Empresas Estatais
(I), conforme disposto no § 5º do art. 165 da CF.
- Orçamento Fiscal: referente aos Poderes da União, seus
fundos, órgãos e entidades da Administração direta e indireta,
inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
- Orçamento de Investimento: orçamento das empresas em
que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do
capital social com direito a voto; e
- Orçamento da Seguridade Social: abrange todas as entida-
des e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indi-
reta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos
pelo Poder Público.
150
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
151
Programática Responde à indagação “para que” (com finalidade) os recursos
são alocados?
Refere-se às realizações governamentais estabelecidas para o
período do PPA, de modo a expressar a especificidade de um
programa de trabalho como componente orçamentário:
- Programa: é o instrumento de organização da atuação gover-
namental que articula um conjunto de ações que concorrem
para a concretização de um objetivo comum preestabelecido,
mensurado por indicadores instituídos no plano, visando à so-
lução de um problema ou o atendimento
de determinada necessidade ou demanda da sociedade.
- Ação: é a operação da qual resultam produtos (bens ou servi-
ços), que contribuem par atender ao objetivo de um programa.
Incluem-se também no conceito de ação, as transferências obri-
gatórias ou voluntárias a outros entes da Federação e a pessoas
físicas e jurídicas, na forma de subsídios,
subvenções, auxílios, contribuições, entre outros, e os finan-
ciamentos. Conforme suas características, as ações podem ser
classificadas como: atividades, projetos ou operações especiais,
detalhadas em subtítulos, utilizados para especificar a localiza-
ção física do gasto.
Natureza da Despesa Responde a seguinte indagação “o que” será adquirido e “qual”
o efeito econômico da realização da despesa?
O conjunto de informações que formam o código de classifi-
cação da natureza da despesa, composto por seis algarismos,
mostra a categoria econômica da despesa, o grupo a que ela
pertence, a modalidade de aplicação e o elemento.
Quadro 7: Classificação da despesa orçamentária - Fonte: Sousa (2011); Brasil.
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2011)
152
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
153
3º/4º Modalidade de Aplicação (MA): indica se os recursos autoriza-
dígitos: dos na LOA são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no
âmbito da mesma esfera de Governo ou por outro ente da Federa-
ção e suas respectivas entidades. A modalidade também permite
a eliminação de dupla contagem no orçamento. Seus critérios de
classificação e codificação são os seguintes:
20 - Transferências à União
30 - Transferências ao Estado e ao Distrito Federal
40 - Transferências aos Municípios
50 – Transferências a Inst. Privadas sem Fins Lucrativos
60 - Transferências a Instituições Privadas com Fins Lucrativos
70 - Transferências a Instituições Multigovernamentais
71 - Transferências a Consórcios Públicos
80 – Transferências ao Exterior
90 - Aplicações Diretas
91 – Aplicação Direta Decorrente de Operações entre Órgãos, Fun-
dos e Entidades Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
Social
99 – A definir
Atenção!
154
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Registro dos cré- Diz respeito à autorização para o gasto de um montante de recursos
ditos e dotações em um determinado elemento de despesa, em consonância com a
lei orçamentária e mediante a quantidade de recursos financeiros
em crédito. O registro de créditos e dotações possibilita o acompa-
nhamento da evolução dos saldos dessas dotações e a reavaliação
da previsão de receitas e despesas diante das metas fiscais a serem
cumpridas, mediante o uso do QDD (Quadro de Detalhamento da
Despesa), que é o instrumento que demonstra onde estão alocados
os recursos empenhados às atividades de uma instituição pública.
Programação fi- A lei 4.320/64, em seu art. 47, determina que, após a promulgação
nanceira de de- da LDO, com base nos limites nela fixados, o Poder Executivo esta-
sembolso belecerá uma programação por quotas que funcionará como fluxo
de caixa, de forma a ajustar a realização das despesas com o compor-
tamento efetivo das receitas e ajudar as Unidades Orçamentárias a
disciplinarem seus gastos ao longo do exercício. Essa programação
financeira deverá tornar-se um instrumento básico do planejamento
e da gestão governamental. A forma e a sistemática de acompanha-
mento e controle do cumprimento da programação de desembolso
variam de acordo com o tamanho e o grau de descentralização das
organizações.
155
C u m p r i m e n t o A Lei 8.666/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constitui-
das exigências ção Federal de 1988, instituiu as normas para o processo de licitação
de licitação e contratos da administração pública, pertinentes a obras e serviços
de publicidade, compras, alienações e locação, no âmbito dos Pode-
res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Essa
lei orienta as esferas administrativas para a efetivação das despesas,
mediante as seguintes modalidades:
• Concorrência – é a modalidade mais ampla da licitação, permite
a participação de quaisquer interessados, desde que preencham as
condições necessárias de habilitação.
• Tomada de Preço – é a licitação por meio de consulta a interessa-
dos previamente cadastrados à participação do certame.
• Convite (Carta) – acontece por meio de convite a, pelo menos,
três fornecedores do ramo pertinente ao objeto da licitação, cadas-
trados ou não, escolhidos pela unidade administrativa.
• Concurso – ocorre para escolha de trabalho técnico, científico
ou artístico, mediante a instituição de prêmio ou remuneração aos
vencedores.
• V. Leilão – é a licitação para venda de bens móveis ou imóveis
inservíveis ou produtos penhorados ou apreendidos.
Além dessas modalidades, há duas outras formas derivadas de lici-
tação:
• Pregão eletrônico – é utilizado para aquisição de bens e serviços
comuns, cujas características possam ser objetivamente especifica-
das no edital.
• Suprimento de fundos – é o adiantamento concedido ao ser-
vidor para atender a despesas eventuais que exijam pronto paga-
mento em espécie ou que sejam sigilosas ou, ainda, que sejam de
pequena importância.
A legislação de licitação também determina que o edital licitatório a
ser publicado defina os critérios de julgamento das propostas, que
podem ser menor preço, melhor técnica, técnica e preço, e maior
lance ou oferta.
156
Aula 8 - Execução Orçamentária e Financeira
Atividade 1
Complementando
Complementando
Resumindo
Nesta aula, observamos que a execução financeira e orçamentária dos entes
públicos está relacionada à programação orçamentária que é estabelecida para um
determinado exercício financeiro. Nessa conjuntura, o orçamento público torna-se
um instrumento de planejamento governamental em que são previstas as receitas e
definidas as despesas para a execução da lei orçamentária anual, mediante o seguin-
te processo: 1) elaboração de projeto de lei; 2) aprovação do projeto de lei pelo
legislativo; 3) execução, acompanhamento e avaliação da lei orçamentária pelo exe-
cutivo, para que a gestão governamental possa mostrar um bom desempenho no
que diz respeito à origem das receitas e aos gastos a serem financiados, em função
do bem estar da sociedade.
Sites relacionados
161
162
Referências bibliográficas