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27, 28 e 29 de outubro de 2009

XVII Congresso de Iniciação Científica I Congresso de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação

DEMOCRACIA E SISTEMA REPRESENTATIVO EM ROUSSEAU


Mariana Fidelis Jerônimo de Oliveira1 ; Luiz Vicente Vieira2
1
Estudante do Curso de Filosofia – CFCH – UFPE; E-mail: fidelis.mariana@hotmail.com,
2
Docente/pesquisador do Depto de Filosofia – CFCH – UFPE. E-mail: lvvieira@hotmail.com.

Sumário: Este trabalho procura explorar o pensamento político de Jean-Jacques Rousseau,


partindo de uma interpretação comparativa, em relação aos teóricos contratualista de sua
época, rumo à utilização de todo arcabouço teórico que nos oferece, principalmente na
obra “Contrato Social”, em vistas a análise das bases conceituais do modelo de democracia
e de representatividade presentes no sistema político moderno. Tomando a teoria política
de Rousseau como um contraponto em relação às especulações contratualistas liberais,
procedemos uma reconstrução de seu conceito de Democracia, sustentado por
considerações acerca do Estado, Povo, Governo, Soberania e, sobretudo sobre a Vontade
Geral, analisando as críticas daí advindas ao sistema político moderno.

Palavras–chave: contratualismo; democracia; Rousseau; sistema representativo

INTRODUÇÃO
Atualmente é raro encontrarmos um regime político ocidental que fuja a denominação de
democrático, apesar de grandes diferenças, e divergências políticas que pode se
estabelecer. Essas ambigüidades abrem espaço para uma polissemia que nos leva a
perguntar o que de fato está por baixo deste conceito tão polivalente que fundamenta nosso
modelo político atual, motivos suficientes para que a questão da democracia - a
problematização sobre sua definição e sobre sua efetivação na realidade política
contemporânea - esteja intermitentemente aberta a discussões. Na busca por estas
respostas, voltamo-nos a suas origens, mais especificamente a partir do pensamento de um
dos autores mais importantes da filosofia política moderna, Jean-Jacques Rousseau. Esta
investigação tem como objetivo explorar seu pensamento político, partindo de uma
interpretação comparativa, em relação aos teóricos contratualista de sua época, rumo à
utilização de todo arcabouço teórico que nos oferece numa análise das bases conceituais do
modelo de democracia e de representatividade presentes no sistema político moderno, a
partir dos conceitos de povo, representação e soberania.

MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada tendo com método a pesquisa bibliográfica em obras de referência
sobre o tema, por meio de uma leitura e interpretação dos textos numa perspectiva
comparativa e crítica. Num primeiro momento se detendo a teoria política contratualista, a
partir de Hobbes e Locke, a fim de, num segundo momento contrapô-la ao pensamento
rousseauniano, desenvolvido principalmente a partir da obra “Contrato Social”, sendo
complementada pela bibliografia secundária e por outros escritos de natureza sócio-política
do autor, tais como “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens” e o “Discurso sobre as Ciências e as Artes”.

RESULTADOS
Se podemos falar em resultados, diríamos que foram alcançados os resultados esperados na
reconstrução dos principais elementos teórico-filosóficos que estão na base do sistema
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político liberal, mais especificamente a partir do pensamento político de Hobbes e Locke, e


ainda na reconstrução do conceito de Democracia de Rousseau, como uma República no
sentido mais original do termo. Puderam ser resgatadas ainda as críticas advindas do
pensamento de Rousseau principalmente em relação aos conceitos de povo, soberania e
representação.

DISCUSSÃO
Os pensadores mais significantes da Contratualismo, como Hobbes, Locke e Rousseau
buscavam, cada um a sua maneira, o momento em que os homens formaram as sociedades
através de um contrato entre eles, saindo de um “Estado de Natureza” e fundando um
“Estado Civil”. Só as condições sob as quais houvera sido firmado tal pacto é que
poderiam fundamentar uma forma de organização política mais justa e legítima que a
medieval. O conceito de povo que transparece a partir da teoria hobbesiana. Está
submetido à noção de indivíduo, isto é, aparece como conseqüência de um pacto acordado
pelos indivíduos. Há ainda implícito em sua formulação a instituição da Representação, já
que o Soberano é tomado como representante dos direitos de cada individuo. Ao contrário
das concepções hobbesianas, para Locke, os indivíduos do estado natural não são seres
isolados, senão que, mediados pela Razão, estabelecem relações e associações entre si. O
problema é que devido a sua condição de liberdade natural, o homem pode escolher em
seguir ou não as regras sugeridas pela razão. E isso provoca a necessidade de uma instância
que, unindo os indivíduos, esteja além deles e possa cobrar e garantir que tais acordos
sejam realizados e cumpridos com sucesso. Assim é que homens abrem mão de seus
direitos primitivos a favor do poder legislativo da sociedade, que os garantirá através de
leis. Fica aí submersa a noção de representação, já que o poder legislativo é delegado pelo
povo a seu representante, que fica encarregado de cumprir suas atividades sempre
respeitando o limite estabelecidos por seus fim: o bem para o povo. Isto é, o Estado só
aparece e é necessário por ser uma instituição que possui legitimamente, através do
contrato estabelecido, a força para defender a propriedade de cada um. Assim, são
características gerais do pensamento político de Locke: 1) Defesa do Liberalismo, em
relação ao direito inquestionável à propriedade; 2) Defesa de um Estado Constitucionalista;
3) Restrição do campo de atuação política do Estado: sua função é como que secundária na
sociedade, reduz-se a garantia do direito à propriedade. Locke e Montesquieu colocam em
suas teorizações a base de constituição dos sistemas políticos modernos: o
constitucionalismo moderno do Estado de Direito, baseado tanto na organização da divisão
de poderes, quanto no inexorável direito da propriedade. Porém, no século XVIII, outra
especulação política foi feita discordando tanto da divisão do poder soberano, quanto da
instituição da propriedade privada, mas ainda assim defendendo a Liberdade e a Igualdade.
Este é o conteúdo do pensamento político de Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778). Dentro
desta tradição contratualista, Rousseau assume a posição de um pensador crítico em
relação aos pressupostos de seu tempo, principalmente àqueles que se encontram na base
do sistema político liberal No “Contrato Social”, de 1762 nosso pensador assumiria uma
postura mais propositiva, pretendendo responder a questão: Que tipo de sociedade que,
baseada em princípios legítimos, preservaria a liberdade e a igualdade dos homens,
conservando assim, sua natureza? Desde o início do escrito, Rousseau esclarece a intenção
de pensar as bases legítimas para a formação e o desenvolvimento da sociedade.
Percebemos justamente neste conceito de Vontade Geral o ponto de divergência entre
Rousseau e os demais contratualistas. Isto porque a justificação da formação do Estado não
está no próprio contrato estabelecido, este pacto é apenas uma conseqüência do principio
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realmente fundador da sociedade: a Vontade Geral. A obediência a esta vontade coletiva,


pública, é o verdadeiro critério para a definição da legitimidade de quaisquer atos dento do
corpo social. Nesse sentido, a Soberania é o elemento que garante por direito o predomínio
da vontade geral, a superioridade do público em relação ao privado. Se é a autoridade
soberana que impõem, pelo lado dos súditos, a obrigação da obediência, então só o corpo
político pode ser investido deste poder, pois só assim está garantida a liberdade dos
homens em serem senhores de si mesmos. Devendo obedecer apenas às leis que se fundam
na vontade geral, que tem origem nos próprios indivíduos, não é a imposição de uma lei
heterônoma. A soberania popular, desta maneira, garante a liberdade dos homens. A partir
de todo arcabouço teórico que o desenvolvimento desses conceitos nos oferece, podemos
enfim delinear o conceito de Democracia presente no “Contrato Social”. Primeiramente
destacamos os princípios que guiam a constituição deste modelo democrático: Igualdade e
Liberdade. Aparece implícito também como característica necessária a constituição de uma
Democracia a superioridade da coisa pública em relação à privada ou particular. Por fim,
destacaríamos ainda como mais uma característica do conceito de seu conceito de
Democracia a necessidade da participação direta do povo na constituição do poder
legislativo. Esta é uma condição de possibilidade para a Liberdade de um Estado, para a
sua constituição como verdadeira Democracia. De forma que, o sistema representativo é
criticado por Rousseau por aproximar cada vez mais o poder legislativo às vontades
particulares dos parlamentares e, com isso, afastar um Estado da vontade geral. Rousseau
põe em evidência a contradição que fundamenta o sistema representativo: o poder
legislativo pertence à soberania popular e, pelas características mesmas da Soberania, não
pode ser representado, alienado ou delegado. Esta é a base da critica rousseauniana ao
Sistema Representativo que atinge a noção de soberania presente tanto na teoria absolutista
de Hobbes, quanto na liberal de Locke: em nenhuma das formulações o Estado é livre,
porque a soberania não é popular.

CONCLUSÕES
Concluímos aqui, na qualidade de um trabalho de pesquisa ao nível da graduação, que de
fato a reconstrução do pensamento político rousseauniano, através do confronto com as
proposições contratualistas dominantes de seu tempo, nos oferece uma larga base de
referencial teórico critico para a avaliação das dificuldades encontradas atualmente nas
discussões a respeito da questão da Democracia. Isto porque as críticas rousseaunianas
referem-se a seus conceitos mais fundamentais e basilares: povo, soberania e
representação. Certamente que a própria teoria rousseauniana e o modelo político que
propõe, sofrem também inúmeras críticas, como por exemplo, a acusação de que seu
pensamento é demasiado teórico, se funda em conceitos abstratos e carecem de
substancialidade e aplicabilidade. Mas, diante das dificuldades e do esvaziamento em que o
modelo democrático atual se encontra, o repensar e refundar suas bases em vista de uma
vida em sociedade mais justa e igualitária passa, sem dúvida, pela obre deste pensador.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus familiares e amigos que contribuíram de alguma forma durante este ano
em que o trabalho foi desenvolvido.
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REFERÊNCIAS
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