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Ô da Rua! O Transeunte e o Advento da Modernidade em São Paulo / Fraya Frehse.

São Paulo, Edusp,


2011; 632 pp.; ilustrações; 23 cm; Prefácio de José de Souza Martins; Texto da Orelha por Lilia Moritz
Schwarcz.

FONTE: Com base em fotografias, relatos memorialísticos e de viagem, diários e cartas, crônicas e
notícias de jornal, (PERSPECTIVA) Fraya Frehse fez da rua do centro histórico de São Paulo um posto
de observação privilegiado para investigar o urbano que emerge na cidade entre o início do século XIX e
do XX. Rastrear imagens da rua criadas por viajantes, (ex-)estudantes da Academia de Direito, ex-
meninas de elite, jornalistas e fotógrafos contemporâneos em busca de indícios de transformações nas
regras de comportamento corporal e de interação social nessas ruas entre 1808 e 1917, revela uma
sociedade em que os pedestres tendem cada vez mais a circular como transeuntes, mas também a
interagir mobilizando, ao lado da impessoalidade moderna, a pessoalidade antiga e estamental. O que faz
da rua paulistana um espaço eminentemente cerimonial engolfado pela modernidade.

QUESTÃO: investigar o que o advento da modernidade fez com o dia a dia dos pedestres
nesses espaços públicos.

OBJETO: as regras de civilidade dos pedestres nas ruas e praças se consolidaram como
objetos empíricos

REFERÊNCIAL: Lefebvre e Goffman (Nessas imagens, que concernem ao que Goffman


(1963:14) chama de “idioma corporal”, busquei indícios de representações socialmente mais
abrangentes sobre relações socioespaciais dos pedestres nas ruas e largos do centro histórico
paulistano)

MÉTODO: etnografia das ruas do passado imaginadas por informantes diversos

FONTE: documentos de época variados evidências de como se alteraram, com a crise da


escravidão africana no país – abolida em 1888 -, as regras de civilidade dos pedestres nas
ruas e praças da cidade. trabalhei com imagens das ruas e largos centrais da cidade contidas
em documentos textuais e visuais variados, que abrangem de relatos de viajantes brasileiros e
estrangeiros a fotografias de rua também de locais e de estrangeiros, passando por relatos
memorialísticos, cartas e diários de antigos estudantes de Direito (na primeira instituição de
ensino superior da cidade, a chamada “Academia de Direito”), além de memórias esparsas de
velhas senhoras da elite paulistana, afora notícias e crônicas de jornais capitaneados por
opiniões públicas nacionais e imigrantes.

OBJETIVOS:
-problematizar criticamente uma representação bastante comum nas ciências sociais e na
historiografia: a São Paulo que emerge do processo histórico se consolidaria como “cidade
moderna”, marcada por ruas e praças agitadas por multidões frementes, também modernas.
-questionar como os pedestres paulistanos viveram – simbolicamente, pela mediação de
imagens - dia a dia nos espaços públicos centrais o advento da modernidade na cidade.
- buscar a historicidade de tais representações fez delas mediações reveladoras de regras de
civilidade que passaram por transformações sui generis entre as décadas de 1880 e 1910.

RESULTADOS:
- O transeunte pôde virar realidade nas ruas e praças paulistanas marcado por modos de
comportamento corporal e de interação social específicos: a passagem física regular pelas ruas
e a permanência física momentânea nas praças; de outro, a impessoalidade como regra
principal de convivência social nesses espaços.
- em São Paulo o advento da modernidade veio acompanhado da tendência de que os
pedestres passem a circular cada vez mais pelas ruas de maneira impessoal; mas isso sem
abdicar, dependendo das circunstância, de ali se deixar ficar por longos períodos de tempo, em
meio a vínculos sociais marcados por aquilo que chamei – apoiando-me na reflexão de Mauss
sobre a pessoa e de Roberto DaMatta (1997a, 1997b) sobre os dilemas do individualismo no
Brasil – de pessoalidade (uma regra de interação pautada na relevância constante de
posicionamentos simbólicos dos indivíduos no espaço social)
- a circulação impessoal e seu contraponto fenomênico, a permanência momentânea e
impessoal nas praças públicas, está longe de consolidar-se como uma norma nos espaços
públicos do centro histórico paulistano, a despeito do vigor de transformações econômicas,
sociais, culturais e mesmo urbanísticas relacionadas ao moderno, na São Paulo da virada do
século XX.
- Prevalece nas ruas mesmo o que chamei de civilidade transitiva, de trânsito constante entre
regras historicamente estamentais e modernas de comportamento corporal e de interação
social

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