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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 29.515/15


ACÓRDÃO

N/M “MSC MAGNIFICA”. Despejo de lixo no mar, causando poluição. Ação


dolosa do representado. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 1º de dezembro de 2013, em viagem de Lisboa ao Recife o N/M “MSC
MAGNIFICA” lançou ao mar sacos plásticos contendo lixo, oriundo de suas atividades dentro
das águas jurisdicionais brasileiras, provocando poluição.
Consta dos autos que, a Capitania dos Portos do Paraná tomou conhecimento que o
N/M “MSC MAGNIFICA”, bandeira do Panamá, navio de passageiros, 95128 AB, operado pela
MSC Crociere S.A., sob comando de Giuseppe Maresca, lançou ao mar sacos plásticos contendo
lixo oriundo de suas atividades regulares de transporte de passageiros, dentro das águas
jurisdicionais brasileiras. Os denunciantes, Sr. Sérgio da Silva Oliveira e Sra. Maria Cláudia da
Silva, que eram passageiros desta embarcação na época do fato, residem no Estado do Paraná,
daí a escolha da mencionada capitania para instaurar o IAFN.
Os denunciantes embarcaram no N/M “MSC MAGNIFICA” no Porto de Lisboa,
Portugal, em 26/11/2013, com escala em Recife em 04/12/2013, dentre outras cidades,
posteriormente, e desembarque no Porto de Santos, “Brasil. O casal ficou hospedado a bordo em
cabine com varanda de n° 10232, no deck 10. Durante a navegação, a passageira Claudia ouvia
barulhos que se repetiram nas madrugadas. Até que no dia 01/12/2013 ela foi até a varanda de
sua cabine e viu palets de madeira e sacos plásticos de lixo sendo atirados de bordo para o mar.
Os denunciantes filmaram este procedimento de alijamento de lixo no mar nos dias
01/12/2013 e 2/12/2013. Consta dos autos DVD (fl. 628) contendo vídeos nos quais verifica-se o
descarte de sacos pretos de lixo no mar. No primeiro vídeo (M2U00393) é possível ver dezenas
de sacos plásticos sendo lançados ao mar. Analisando estes vídeos, nota-se através do ruído que
os sacos faziam ao cair na água que eles continham latas e garrafas.
Nas madrugadas que se seguiram, os denunciantes continuaram a escutar o barulho
do lixo sendo lançado ao mar, contudo, não viram o material ser efetivamente lançado do navio.
Assim, de acordo com os denunciantes, sacos de plástico, contendo lixo do navio, foram jogados
a noite no mar entre os dias 01/12/2013 e 03/12/2013. Foi verificado que a partir das 13 h do dia
02/12/2013 a embarcação já não mais se encontrava em alto mar, mas sim em águas
jurisdicionais brasileiras.
De acordo com Zidaric Vieri, Environmental Officer a bordo do N/M “MSC
MAGNIFICA”, ele decidiu jogar os sacos plásticos de lixo no mar porque acreditava que no
Porto de Recife a embarcação sofreria inspeção da ANVISA e o lixo não estava devidamente

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acondicionado a bordo. Tal operação foi realizada sem o conhecimento do comandante do N/M
“MSC MAGNÍFICA” (fl. 106).
De acordo com o Laudo de Exame Pericial de fls. 511/514, foi verificado o
seguinte:
I) que no navio os procedimentos de coleta de lixo estavam sendo feitos da maneira
correta.
II) que o MSC “MAGNIFICA” possui um sistema de coleta e separação de lixo
organizado e feito de forma eficiente, há placas, indicadores e latas de lixo específicas para cada
grupo de lixo e resíduo gerado por um navio de passageiros do tipo cruzeiro.
III) que o navio possui cozinha com indicações em vários locais sobre a separação e
os procedimentos que devem ser tomados com os restos de alimentos, além de toda pia possuir
uma trituradora e sistema de sucção que chega direto ao compartimento de armazenamento de
lixo (Garbage Storage). Neste compartimento os restos de alimentos são triturados e somente
são despejados fora do limite de 12 milhas náuticas, os papéis são queimados e as cinzas
separadas para que sejam recolhidas no próximo porto; plásticos e alumínios são separados e
compactados em blocos de l m3 e os demais são postos em sacos plásticos marcados para serem
recolhidos.
IV) que foram registrados através de fotos os locais de onde foram jogados os sacos
de lixo, o primeiro lançamento de lixo foi realizado a partir do compartimento de amarração de
popa do navio e depois, próximo ao local de permanência das balsas de sobrevivência.
V) que foi realizada verificação no Diário de Bordo (Log Book) (fl. 528) do
passadiço e foram plotados os pontos escritos no livro em mapa para verificar a posição e
coerência das posições registradas. O mesmo procedimento foi realizado para o livro de registro
de descargas de lixo (fl. 529) e depois foram sobrepostas a fim de realizar a verificação. O
resultado presente no Anexo 05 (fl. 534) mostra que de fato os dados conferem. Foi verificado se
as coordenadas nos livros conferem com o traçado na carta náutica, de número 4215, utilizada no
navio na época, o resultado é visto no Anexo 06 (fl. 535). vi) que foi verificado a que distância o
navio estava da costa brasileira quando ocorreram as filmagens. No Anexo 07 (fl. 540) mostra as
posições do navio nesse período, evidenciando que a partir do dia 02/12/2013, as 13h10min a
embarcação já encontrava-se dentro das 200 milhas da costa, a contar do arquipélago de São
Pedro e São Paulo. Foi verificado na denúncia que sacos de lixo plásticos estavam sendo
despejados no mar, mesmo não havendo certeza de seu conteúdo, o fato contradiz o Anexo V da
MARPOL, Regra 3 sobre Alijamento de lixo fora das áreas especiais, item (1), sub-item (a), em
que diz “é proibido o lançamento no mar de todos os tipos de plásticos, inclusive, mas não
restringindo-se a estes,..., sacos plásticos para lixo e ...”, visto no Anexo 08.
Os peritos concluíram que a causa determinante do incidente sob análise foi o

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despejo de sacos plásticos no mar determinada pelo oficial responsável pelo lixo do navio
(Environmental Officer).
O Encarregado do IAFN, em seu relatório de fls. 630/642, apontou no “Plano de
Gestão do Lixo” consta que a pessoa responsável pela implementação da gestão do lixo a bordo
é do Environmental Officer, ou seja, em que pese a recomendação expressa da empresa MSC
Crociere S.A. sobre os procedimentos de gestão de lixo o Environmental Officer descumpriu
com as determinações, que, em consequência, houve poluição ambiental, não mensurada.
A conclusão do Encarregado foi de que é possível responsável direto pelo presente
incidente o Environmental Officer a bordo do N/M “MSC MAGNIFICA”, Zidaric Vieri.
A Procuradoria Especial da Marinha, em uniformidade com o relatório, ofereceu
representação em face do indiciado com fulcro nos arts. 14, alínea “a”e 15, alínea “e”, da Lei nº
2.180/54.
Citado o representado foi regularmente defendido.
A defesa baseou-se na negativa geral.
Na fase de instrução nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa determinante do
fato da navegação, caracterizado pela poluição causada por N/M decorreu de ação intencional do
representado, descumprindo os procedimentos do próprio navio.
O presente processo é de fácil solução, uma vez que o fato da navegação está
provado por prova material incontroversa, produzidas por pessoas desinteressadas, quais sejam
as gravações apresentadas pelos passageiros, demonstrando o lançamento do lixo no mar.
E mais, o próprio representado reconheceu sua responsabilidade, afirmando sua
decisão de jogar os sacos plásticos com lixo no mar porque acreditava que o navio sofreria uma
inspeção da ANVISA, ao chegar no porto e o lixo não se encontrava regularmente acondicionado
à bordo.
Assim, com a referida operação era realizada sem conhecimento do comandante ou
do armador do navio, deve ser julgado totalmente procedente a representação, responsabilizando-
se o representado devido às suas condutas dolosas.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza
e extensão do fato da navegação: poluição causada por lançamento de sacos de lixo de N/M; b)
quanto à causa determinante: ação dolosa do representado; c) decisão: julgar o fato da
navegação, como decorrente da ação intencional do representado, condenando-o à pena de multa
de R$ 1.000,00 (mil reais), acumulada com a pena de suspensão para o exercício profissional,

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como marítimo, em águas brasileiras, pelo prazo de 6 (seis) meses, além do pagamento das
custas processuais, na forma dos artigos 15, alínea “e” e 121, inciso VII, da Lei nº 2.180/54; e d)
medidas preventivas e de segurança: oficiar o Ministério Público sobre o fato, dando ciência do
acórdão.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 19 de outubro de 2017.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 23 de fevereiro de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE
Digitalmente

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2018.05.10 10:10:39 -03'00'

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