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DINÂMICA DA

MATÉRIA ORGÂNICA
DO SOLO
EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS

Modelagem Matemática e Métodos Auxiliares


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Agropecuária Oeste
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DINÂMICA DA
MATÉRIA ORGÂNICA
DO SOLO
EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS

Modelagem Matemática e Métodos Auxiliares

Editores: Renato Roscoe


Fábio Martins Mercante
Júlio Cesar Salton

Dourados, MS
2006
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Embrapa Agropecuária Oeste


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Comitê de Publicações da Unidade

Presidente: Renato Roscoe


Secretário-Executivo: Júlio Cesar Salton
Membros: Augusto César Pereira Goulart, Clarice Zanoni Fontes, Edvaldo Sagrilo,
Eli de Lourdes Vasconcelos, Francisco Marques Fernandes, Guilherme Lafourcade
Asmus, Márcia Mayumi Ishikawa e Walder Antonio de Albuquerque Nunes

Supervisão editorial, Revisão de texto e Editoração eletrônica:


Eliete do Nascimento Ferreira
Normalização bibliográfica: Eli de Lourdes Vasconcelos
Foto da capa: Renato Roscoe

1ª edição
(2006): online

Todos os direitos reservados.


A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei Nº 9.610).

CIP-Catalogação-na-Publicação.
Embrapa Agropecuária Oeste.

Roscoe, Renato
Dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas:
modelagem matemática e métodos auxiliares / Editores: Renato Roscoe, Fábio
Martins Mercante, Júlio Cesar Salton.  Dourados: Embrapa Agropecuária
Oeste, 2006.
304 p. : il. color. ; 21 cm.

ISBN 85-7540-014-2

1. Solo - Matéria orgânica - Modelagem. 2. Matéria orgânica - Solo -


Modelagem. I. Mercante, Fábio Martins. II. Salton, Júlio Cesar. III. Embrapa
Agropecuária Oeste. IV. Título. V. Série.

© Embrapa 2006
Autores dos Capítulos

Alexandre Fonseca d'Andréa


Eng. Agrôn., Professor, Dr.,
Centro Federal de Educação Tecnológica de Urutaí,
Departamento de Desenvolvimento Educacional,
Coordenação Geral de Ensino,
Fazenda Palmital Km 2,5 , Zona Rural, 75790-000 - Urutaí, GO.
Telefone: (64) 465-1900, Fax: (64) 465-1900
E-mail: alexdandrea@gmail.com

Arminda Moreira de Carvalho


Eng. Agrôn., Pesquisadora, Dra.,
Embrapa Cerrados,
Caixa Postal 08223, 73310-970 - Planaltina, DF.
Fone: (61) 388-9898, Fax: (61) 388-9879
E-mail: arminda@cpac.embrapa.br

Beáta Emöke Madari


Eng. Agrôn., Pesquisadora, Ph.D.,
Embrapa Arroz e Feijão,
Caixa Postal 179, 75375000 - Santo Antonio de Goiás, GO.
Fone: (62) 3533-2110, Fax: (62) 3533-2100
E-mail: madari@cnpaf.embrapa.br

Bruno José Rodrigues Alves


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Agrobiologia,
Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropédica, RJ.
Fone: (21) 2682-1500, Fax: (21) 2682-1230
E-mail: alves@cnpab.embrapa.br
Carlos Alberto Silva
Universidade Federal de Lavras,
Departamento de Ciência do Solo,
Caixa Postal 3037, 37200-000 - Lavras, MG.
Telefone: (35) 3829-1122, Fax: (35) 3829-1100
E-mail: csilva@ufla.br

Cláudia Pozzi Jantalia Sisti


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Departamento de Fitotecnia,
BR 465, km 7, 23890-000 - Seropédica, RJ.
Telefax: (21) 2682-1353, Fax (21) 3787-3684

David V. de Campos
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Departamento de Solos,
BR 465, km 7, 23890-000 - Seropédica, RJ.
Fone: (21) 2682-1308, Fax: (21) 2682-1308

Eduardo de Sá Mendonça
Eng. Agrôn., Ph.D., Professor Adjunto da
Universidade Federal de Viçosa,
Departamento de Solos,
Avenida P. H. Rolfs s/n - Campus UFV, 36571-000, Viçosa, MG.
Fone: (31) 3899-1047, Fax: (31) 3899-2648
E-mail: esm@.ufv.br.

Fábio Bueno dos Reis Júnior


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Cerrados,
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Fábio Martins Mercante


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Agropecuária Oeste,
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Flávia Aparecida de Alcântara
Eng. Agrôn., Pesquisadora, Dra.,
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Iêda de Carvalho Mendes


Eng. Agrôn., Pesquisadora, Dra.,
Embrapa Cerrados,
Caixa Postal 08223, 73310-970 - Planaltina, DF.
Fone: (61) 388-9898, Fax: (61) 388-9879
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Júlio Cezar Franchini dos Santos


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Soja,
Caixa Postal 231, 86001-970 - Londrina, PR.
Fone: (43) 3371-6000, Fax (43) 3371-6100
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Júlio Cesar Salton


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Agropecuária Oeste,
Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.
Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811
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Luiz Fernando Carvalho Leite


Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Meio-Norte,
Caixa Postal 01, CEP 64006-220 - Teresina, PI.
Fone: (86) 3225-1141/3214-3000, Fax: (86) 3225-1142
E-mail: luizf@cpamn.embrapa.br

Mariangela Hungria
Eng. Agrôn., Pesquisadora, Dra.,
Embrapa Soja,
Caixa Postal 231, 86001-970 - Londrina, PR.
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Marx Leandro Naves Silva
Eng. Agrôn., Dr.,
Universidade Federal de Lavras,
Departamento de Ciência do Solo, UFLA-DCS.
Caixa Postal 3037, 37200-000 - Lavras, MG.
Telefone: (35) 3829-1122, Fax: (35) 3829-1100
E-mail: marx@ufla.br

Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado


Eng. Agrôn., Pesquisadora, Ph.D.,
Embrapa Arroz e Feijão,
Caixa Postal 179, 75375000 - Santo Antonio de Goiás, GO.
Fone: (62) 3533-2110, Fax: (62) 3533-2100
E-mail: pmachado@cnpaf.embrapa.br

Renato Roscoe
Eng. Agrôn., Pesquisador, Ph.D.,
Embrapa Agropecuária Oeste,
Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.
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Robert Michael Boddey


Pesquisador, Ph.D,
Embrapa Agrobiologia,
Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropédica, RJ.
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Rômulo Penna Scorza Júnior


Eng. Agrôn., Pesquisador, Ph.D.,
Embrapa Agropecuária Oeste,
Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.
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Segundo Urquiaga
Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Agrobiologia,
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Apresentação

A manutenção de sistemas agrícolas produtivos, garantindo o


suprimento de alimentos, fibras e energia para a sociedade, sem
prejudicar a capacidade de sustentação e sobrevivência das gerações
futuras, representa grande desafio para a humanidade. Nesse contexto,
a conservação do solo e da água ganha especial destaque, por
representarem os recursos básicos da produção agrícola.

A matéria orgânica está envolvida com os diversos processos


químicos, físicos e biológicos relacionados com qualidade do solo. A
dinâmica da matéria orgânica do solo (MOS) determina o fluxo de
matéria e energia no sistema solo, definindo entre a tendência a
situações sustentáveis ou a processos de degradação. O entendimento
dessa função reguladora da MOS é fundamental na busca de sistemas
conservacionistas.

Diante de sua grande complexidade estrutural e dinâmica, o


estudo da MOS exige a combinação de técnicas específicas de análise
e abordagens integradoras, através de ferramentas de modelagem
matemática e simulação de sistemas. Essas abordagens vêm sendo
empregadas em vários ecossistemas, com destaque para a região
temperada. Trabalhos em solos tropicais e subtropicais vêm
aumentando significativamente nos últimos anos, mas ainda não há
uma tentativa de sintetizar as informações e conhecimentos obtidos até
o momento.
O presente livro, ao trazer informações valiosas sobre a dinâmica
da matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas, enfatizando
técnicas modernas de análise e de simulação de sistemas, é uma
importante contribuição para a geração de conhecimentos visando à
manutenção de produtividades elevadas, ao mesmo tempo em que se
preservam os recursos naturais.

Neste sentido, a Embrapa Agropecuária Oeste, juntamente com


seus parceiros nessa importante publicação, espera que esse material
contribua para o uso sustentável dos sistemas agrícolas tropicais e
subtropicais.

Mário Artemio Urchei


Chefe-Geral
Embrapa Agropecuária Oeste
Prefácio

Este livro foi idealizado a partir do workshop “Modelagem da


Matéria Orgânica do Solo no Sistema Plantio Direto” realizado na
Embrapa Agropecuária Oeste, em fevereiro de 2003, quando se notou a
falta de um material que sintetizasse os conhecimentos sobre matéria
orgânica do solo (MOS) em ambientes tropicais e subtropicais.
Inicialmente, pretendia-se elaborar uma publicação que contemplasse
os diversos aspectos relacionados à modelagem matemática e
simulação de sistemas. Ao longo de três anos, o material foi evoluindo e
ficou clara a necessidade de nivelamento do conhecimento sobre
alguns métodos auxiliares utilizados na definição dos parâmetros
essenciais aos simuladores. Desta forma, este livro foi organizado em
duas partes. Na Parte 1, quatro capítulos discutem a dinâmica da
matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas, com ênfase à
modelagem matemática e simulação de sistemas. Os dois primeiros
são de contextualização e revisão conceitual, sendo os dois seguintes
voltados para a discussão sobre as ferramentas de modelagem e
simulação de sistemas.
O Capítulo 1 concentra-se no embasamento teórico sobre como
a dinâmica da MOS está relacionada com a sustentabilidade dos
sistemas de produção e como o tipo de manejo pode influenciá-la.
Discute-se, ainda, como a modelagem matemática e a simulação de
sistemas podem auxiliar na melhoria desse entendimento.
No Capítulo 2 discute-se a questão de mudanças climáticas
globais e como o solo de sistemas agrícolas conservacionistas, a
exemplo do sistema plantio direto, pode servir de reservatório para o
carbono atmosférico, principal responsável pelo aumento do efeito
estufa causado pela atividade antrópica. Utilizando o sistema plantio
direto como modelo, discute-se a viabilidade de contabilizar o seqüestro
de carbono no solo como atividade mitigadora em tratados
internacionais. Destaca-se a necessidade de utilização de simuladores
da dinâmica da MOS para que tal mecanismo compensatório seja
adequadamente monitorado e incorporado em inventários de
emissões.

Uma discussão sobre as bases teóricas da simulação de


sistemas complexos e as diferentes abordagens utilizadas pelas
ferramentas de modelagem matemática é feita no Capítulo 3.

No Capítulo 4, são apresentados os principais simuladores da


dinâmica da MOS em uso atualmente, destacando as suas
características e pressupostos. Especial atenção é dispensada ao
simulador Century, por se tratar do mais utilizado e com as melhores
perspectivas para adaptação a condições tropicais.
A Parte 2 do livro compreende seis capítulos, organizados de
forma a revisar o estado da arte sobre importantes procedimentos
metodológicos, fundamentais ao entendimento da dinâmica da MOS e à
correta parametrização dos simuladores.

No Capítulo 5 discutem-se as principais vantagens e


desvantagens de diferentes métodos de fracionamento físico da MOS.
Os reservatórios mensuráveis são comparados aos teóricos dos
simuladores da dinâmica da MOS, discutindo-se as possibilidades de
padronização de um esquema de fracionamento que permita a efetiva
validação dos reservatórios simulados.
As bases da utilização do isótopo estável do 13C na definição de
parâmetros da dinâmica da MOS são revisadas no Capítulo 6, sendo
apresentados vários exemplos de aplicação da técnica.
O Capítulo 7 apresenta uma revisão sobre biomassa microbiana
do solo, englobando os principais estudos publicados para condições
brasileiras. Comparam-se as duas principais metodologias de
determinação da biomassa microbiana, destacando suas vantagens e
desvantagens, os principais pontos onde há necessidade de avanço no
conhecimento e propondo um procedimento padrão para os estudos de
MOS.
No Capítulo 8 discutem-se os principais métodos utilizados para
estimar as emissões de CO2 do solo, utilizando uma série de exemplos
para diferentes sistemas de uso da terra, em condições brasileiras.
O Capítulo 9 e o Capítulo 10 discutem duas importantes técnicas
de caracterização estrutural da MOS, a ressonância magnética nuclear
13
do C e a pirólise associada à cromatografia gasosa e espectrometria
de massa. São revisados trabalhos realizados com solos brasileiros, os
quais contribuem para o entendimento do comportamento e da
dinâmica da MOS, em ambientes tropicais e subtropicais.
Os trabalhos apresentados no presente livro demonstram que as
metodologias de análise da MOS e as ferramentas de modelagem
matemática e simulação de sistemas têm elevado potencial para
aumentar a compreensão de sua dinâmica em solos tropicais e
subtropicais. Há a necessidade, no entanto, de maior padronização de
métodos e um esforço concentrado na expansão dos trabalhos com
simuladores promissores, como o Century.

Os Editores
Sumário

PARTE 1.
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em
Sistemas Conservacionistas:
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas

1. Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo


Renato Roscoe, Robert Michael Boddey, Júlio Cesar Salton 17

2. O Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto:


Possibilidades de Contabilização
Renato Roscoe 43

3. Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas: uma


Importante Ferramenta na Pesquisa Agropecuária
Rômulo Penna Scorza Júnior 63

4. Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da


Matéria Orgânica do Solo
Eduardo de Sá Mendonça, Luiz Fernando Carvalho Leite 75
PARTE 2.
Métodos Auxiliares Utilizados no Entendimento
da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo

5. Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de


Compartimentos Mensuráveis para Uso em Simuladores da
Dinâmica da Matéria Orgânica
Renato Roscoe, Beáta Emöke Madari, Pedro Luiz Oliveira de
Almeida Machado 107

6. Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da


Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo
Bruno José Rodrigues Alves, David V. de Campos, Cláudia Pozzi
Jantalia Sisti, Segundo Urquiaga, Robert Michael Boddey 133

7. Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da


Matéria Orgânica
Renato Roscoe, Fábio Martins Mercante, Iêda de Carvalho
Mendes, Fábio Bueno dos Reis Júnior, Júlio Cezar Franchini dos
Santos, Mariangela Hungria 163

8. Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e


Influência do Uso da Terra
Alexandre Fonseca d'Andréa, Marx Leandro Naves Silva, Carlos
Alberto Silva 199

9. Ressonância Magnética Nuclear de 13C em Estudos de


Caracterização Estrutural da Matéria Orgânica do Solo
Flávia Aparecida de Alcântara, Arminda Moreira de Carvalho 243

10. Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e


Espectrometria de Massa Aplicada a Estudos de Caracteri-
zação Química da Matéria Orgânica do Solo
Flávia Aparecida de Alcântara 281
1
Sistemas de Manejo e
Matéria Orgânica do Solo

Renato Roscoe
Robert Michael Boddey
Júlio Cesar Salton

Resumo - A matéria orgânica do solo (MOS) desempenha funções


fundamentais para o adequado funcionamento do solo, estando envolvida em
processos físicos, químicos e biológicos. Na degradação do solo, a perda de
MOS representa o ponto de partida, influenciando diversos outros atributos,
em uma reação em cadeia. O sistema plantio direto (SPD) tende a preservar a
MOS, principalmente por reduzir a sua taxa de decomposição e, quando
adequadamente adotado (incluindo a rotação de culturas), por promover uma
maior entrada de resíduos no sistema. A integração lavoura-pecuária (ILP), ao
incluir ciclos de cultivos de forrageiras no esquema de rotação, aumenta a
quantidade de resíduos aportados ao SPD e, em conseqüência, aumenta a
MOS. O presente capítulo tem como objetivo revisar os principais aspectos
relacionados ao papel da matéria orgânica no fluxo de matéria e energia para
o solo, e analisar as conseqüências do uso de diferentes sistemas de manejo,
sobre este fluxo. Discute-se como o manejo inadequado do solo pode
provocar a perda de MOS e promover a sua degradação, e como, por outro
lado, a utilização de sistemas conservacionistas pode proporcionar um fluxo
adequado de matéria e energia aos agroecossistemas, favorecendo
processos de ordenação e qualidade do solo. A partir de uma análise dos
dados disponíveis na literatura, observa-se que o plantio convencional tem o
potencial de reduzir os teores totais de MOS ou, em alguns casos, somente
18 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

nos seus reservatórios mais dinâmicos, mas sempre favorecendo a perda de


qualidade do solo. O SPD apresenta-se como uma alternativa para se evitar
perdas de MOS, podendo até mesmo promover o seu acúmulo, o que
depende sobremaneira da utilização de rotação de culturas. O sistema de
rotação deve conter culturas ou plantas de cobertura, que produzam elevada
quantidade de resíduos e ao mesmo tempo proporcionem um balanço positivo
de N no sistema. Um balanço negativo de N parece impedir o acúmulo de
MOS. A ILP representa uma alternativa interessante de manejo dos solos,
principalmente nas regiões com ocorrência de clima que impõe dificuldades
para formação de massa seca para cobertura do solo no SPD.
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 19

Management Systems and Soil


Organic Matter

Abstract - Soil organic matter (SOM) has fundamental functions related


to an adequate soil functioning, being involved in physical, chemical, and
biological processes. During soil degradation, losses of SOM represent the
starting point, affecting several parameters in a typical chain reaction. No-
tillage systems (NTS) tend to preserve SOM, mainly because they reduce
SOM decomposition rate and, when NTS is properly adopted (including crop
rotation), increase residue production in the system. Pasture and crop
integrated systems (PCI) include grass production in the rotation, increasing
the amount of plant residue to NTS. In this chapter, we reviewed the major
aspects related to organic matter role on matter and energy fluxes in soil, and
evaluated the consequences of different management systems on those
fluxes. We also discussed how the inadequate soil management can cause
SOM losses and promote soil degradation, and how, on the other hand, the use
of conservationist systems may provide an adequate organic matter flux in the
agro ecosystem, favoring ordination processes and soil quality. Analyzing
literature data, we observed that conventional tillage has the potential of
reducing total SOM or, in specific situations, only some of its more reactive
fractions, but always provokes soil quality losses. NTS represents a good
alternative to avoid SOM losses or even increase its content, which strongly
depends on crop rotation. The rotation system should include cash crops and
cover-crops with high residue production and should maintain a positive N
balance in the system. A negative N balance seems to limit SOM accumulation.
The PCI represents an interesting alternative of soil management, especially
in regions where climate conditions difficult the maintenance of soil mulching.
20 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Introdução
A importância da matéria orgânica do solo (MOS) para os diversos processos
físicos, químicos e biológicos é amplamente reconhecida na literatura. A MOS
desempenha diversas funções no ambiente, estando ligada a processos
fundamentais como a ciclagem e retenção de nutrientes, agregação do solo e
dinâmica da água, além de ser a fonte básica de energia para a atividade
biológica. Sua perda pode interferir drasticamente nesses processos,
dificultando o desempenho das funções do solo, provocando desequilíbrios no
sistema e, conseqüentemente, desencadeando o processo de degradação.

Em decorrência do grande impacto dos sistemas de uso do solo nas


condições ambientais, sistemas conservacionistas têm sido propostos com o
intuito de reduzir as modificações no ambientes necessárias ao processo de
produção de alimentos, fibras e energia. Neste contexto, destaque tem sido
dado ao sistema plantio direto (SPD) e à integração lavoura-pecuária (ILP),
como alternativas de produção sustentável para as regiões tropical e
subtropical. Esses sistemas combinam a ausência do revolvimento do solo e
elevado aporte de resíduos, seja pela rotação de culturas anuais ou mesmo
pela combinação de lavouras com pastagens. Tratam-se de sistemas
extremamente conservacionistas, com efeitos diretos na redução da erosão.
Devido a esse caráter e às vantagens decorrentes dos menores custos de
produção e maior praticidade, a adoção do SPD tem crescido
exponencialmente no Brasil nos últimos 30 anos. De uma área inexpressiva
em 1975, estima-se que tenham sido cultivados no Brasil, na safra 2003/2004,
mais de 20 milhões de hectares sob SPD (Federação Brasileira..., 2005).

No SPD, os teores de MOS podem ser preservados, pois há uma redução na


taxa de decomposição, em função da não-fragmentação dos resíduos e do
não-revolvimento do solo. Desta forma, os resíduos permanecem na
superfície, tendo uma menor área de contato com o solo. Entretanto, não
somente a redução na taxa de decomposição se faz importante, mas também
a capacidade do sistema em suprir carbono para o solo. Para que haja um
efetivo acúmulo de MOS no sistema, deve-se ter uma taxa de entrada de C
superior à taxa de decomposição. Buscam-se, portanto, esquemas de rotação
que resultem em elevada produção de resíduos. Como em condições
tropicais essa elevada produção de resíduos tem-se mostrado um problema,
cresce a utilização de gramíneas forrageiras com o intuito de formar cobertura
de solo, ao mesmo tempo em que possibilita a diversificação da produção
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 21

agrícola, inserindo animais no sistema. A ILP combina a vantagem de


fornecer grandes quantidades de resíduos para formação de cobertura do
solo para a lavoura subseqüente sob SPD. Ao mesmo tempo, períodos com
culturas anuais bem manejadas melhoram as condições das pastagens, com
aumento da fertilidade do solo, permitindo maior carga animal e produção de
biomassa.
O presente capítulo tem como objetivo revisar os principais aspectos
relacionados ao papel da matéria orgânica no fluxo de matéria e energia para
o solo, e analisar as conseqüências do uso de diferentes sistemas de manejo
sobre esse fluxo. Discute-se como o manejo inadequado do solo pode
provocar a perda de MOS e promover a sua degradação, e como, por outro
lado, a utilização de sistemas conservacionistas pode proporcionar um fluxo
adequado de matéria e energia para os agroecossistemas, favorecendo os
processos de ordenação e a qualidade do solo.

O Sistema Solo e a Matéria Orgânica


Adiscott (1995) descreve o solo como um sistema aberto, onde o fluxo de
matéria e energia é controlado por seus processos internos e, sobretudo, por
suas relações com o ambiente externo (Fig. 1). As características atuais do
solo são resultantes de um longo processo de formação, no qual são
combinados os fatores: material de origem, clima, topografia, organismos e
tempo (Resende et al., 1997). O material de origem serve de base para a
formação da fração mineral, constituída por partículas de tamanho variado
(areia, silte e argila), contendo uma combinação de minerais primários e
secundários. Seguindo o processo de intemperismo, os minerais primários
(aqueles encontrados nas rochas de origem) vão sendo gradativamente
transformados em minerais secundários. Nos solos tropicais, a fração argila é
dominada por minerais secundários de baixa atividade, como argilas
silicatadas do grupo das caulinitas e óxidos e hidróxidos de Fe e Al. A fração
areia, por sua vez, é dominada por minerais primários resistentes ao
intemperismo, como o quartzo, e por concreções ferruginosas (em solos
muito ricos em Fe). A fração silte tem uma composição intermediária. A
matéria orgânica do solo (MOS) é composta por todo o carbono orgânico
presente no solo, sendo considerados três importantes reservatórios: a MOS
transitória, composta, sobretudo, por resíduos de plantas e organismos do
22 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

solo de fácil decomposição e materiais orgânicos produzidos pela microbiota


e raízes (ácidos de baixo peso molecular e polissacarídeos); a MOS
humificada, composta por materiais recalcitrantes, os quais passaram por um
processo intenso de transformação, como ácidos húmicos e fúlvicos, além de
matérias carbonizados; e a biomassa, formada pela meso e macrofauna, além
da microbiota do solo (Roscoe, 2005).

Água, CO2,
energia

macroagregados
fotossíntese

Matéria
Energia
MOS
transitória
MOS
po
Biota do solo
tem
MOS
CO2 oxidação humificada
energia decomposição níveis
microagregados
de
ordem

tempo
C plexos
Complexos
organo-minerais

água erosão
matéria lixiviação
o
energia
inte
Fração mineral temp
(areia, silte,argila)
mp e
rism
o
Sistema Solo Material matéria

de
origem

Fig. 1. Representação esquemática do processo de ordenação do solo, destacando os


principais sub-processos e fluxos de energia e matéria.
Quando o fluxo de entrada de energia e matéria no Sistema Solo resulta em saldo positivo, ocorre
a organização do sistema em um nível de ordem superior. Quando o fluxo é reduzido e o saldo é
negativo, ocorre o inverso, com organização do sistema em um nível de ordem inferior.
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 23

Como um sistema aberto, o solo interage com outros sistemas externos, como
as plantas e o clima (atmosfera e energia solar), conforme a Fig. 1. As plantas
são as responsáveis em transformar a energia luminosa do sol e a matéria
fornecida pela atmosfera na forma de CO2 e água (proveniente das chuvas,
mas que deve ser armazenada no solo para o seu aproveitamento pelas
plantas), em energia química e compostos orgânicos, através da fotossíntese.
O solo pode absorver diretamente energia solar, a qual é extremamente
importante para regulação da temperatura e o processo de evaporação.
Entretanto, a principal fonte de energia e matéria para a biota do sistema solo
vem da deposição de resíduos de plantas e animais e de exsudatos
radiculares (Roscoe, 2005). Os diversos resíduos que entram no solo são
gradativamente transformados em MOS, podendo interagir com a fração
mineral no processo de agregação do solo. Em uma primeira etapa, ocorre a
interação da fração mineral com MOS humificada, formando complexos
organo-minerais. Em uma segunda fase, com a inclusão de mais MOS
humificada e parte de MOS transitória, há a formação de microagregados.
Finalmente, os últimos são unidos uns aos outros, formando
macroagregados. A energia necessária para a formação desses agregados
maiores vem, sobretudo, do crescimento de raízes e hifas fúngicas e da ação
mecânica de organismos da macrofauna (formação de túneis, retrabalho em
mandíbulas e trato intestinal), sendo que a estabilização, por sua vez, é
promovida por MOS transitória (principalmente polissacarídeos). Nessa
reação em cadeia tem-se, como resultado, o incremento no grau de
ordenação do solo e de complexidade das relações no Sistema Solo; tal
processo possibilita o surgimento de propriedades emergentes, que conferem
maior capacidade ao sistema resistir a perturbações, como melhor infiltração
e armazenamento de água, maior aeração, menor resistência ao crescimento
de raízes, melhores condições para o desenvolvimento da biota do solo e das
próprias plantas (Bayer, 2004). O processo de ordenação do solo depende
diretamente da atividade biológica, a qual é a responsável por intermediar o
fluxo de energia e matéria no sistema, a partir da transformação dos resíduos
orgânicos.

Processos dissipativos ocorrem, por sua vez, quando há um


comprometimento do fluxo de energia e matéria ao sistema, com ruptura de
agregados e ao aumento na taxa de oxidação da MOS (Fig. 1). Como
conseqüência, tem-se uma redução na energia armazenada e alterações na
organização dos componentes do sistema em um nível inferior, culminando
24 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

em compactação, baixa resistência à erosão, menor infiltração e retenção de


água e, conseqüentemente, menor produtividade do sistema vegetal
(Roscoe, 2005).

A Matéria Orgânica do Solo e o Processo


de Degradação do Solo
Em ambientes tropicais, o processo de degradação dos solos encontra-se
intimamente relacionado à dinâmica da matéria orgânica (Feller & Beare,
1997). Diversos autores têm ressaltado que a conversão da vegetação nativa
em área de produção agrícola pode reduzir drasticamente os teores de MOS,
devido ao menor suprimento de resíduos e ao aumento na taxa de
decomposição, assim como a elevação nas perdas das camadas superficiais
do solo por erosão (Andreux, 1996; Feller & Beare, 1997; Bayer & Mielniczuk,
1999; Christensen, 2000, 2001; Carter, 2001). Desta forma, há uma redução
no fluxo de matéria e energia no solo, favorecendo processos dissipativos
(Fig. 1). Em virtude de suas importantes funções nos processos físicos,
químicos e biológicos no solo, a perda de MOS retro-alimenta o processo de
degradação, promovendo a desorganização do sistema (Fig. 1), resultando
em menores produções de biomassa e maiores perdas de nutrientes, água e
solo (Fig. 2).
Os sistemas convencionais de cultivo, envolvendo aração e gradagem, são
considerados os de maior poder de degradação, resultando na maioria das
vezes na redução dos teores de MOS (Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al.,
1999). Segundo Bayer & Mielniczuk (1999), as perdas da MOS são
favorecidas, principalmente, pelo revolvimento do solo e conseqüente
destruição dos agregados, maior fragmentação e incorporação dos resíduos
vegetais e diminuição da cobertura do solo, que resultam em alterações na
temperatura, umidade e aeração do solo. Silva et al. (1994) trabalharam com
220 amostras de três diferentes classes de solo da região do Cerrado,
cultivados continuamente com soja e utilizando grade pesada. Os autores
observaram elevadas perdas de MOS em cinco anos de cultivo. As reduções
foram de 80% em relação aos teores iniciais para Neossolos Quartzarênicos
(< 15% de argila), 76% para Latossolos Vermelho Amarelos textura média
(15-30% de argila) e 41% para Latossolos Vermelho Amarelos argilosos
(> 30% de argila). Entretanto, nem todos os estudos registram perdas de
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 25

Manejo inadequado do
agro-
agro-ecossistema Monocultivo
Solo descoberto
Uso de grades de discos

Menor suprimento de Redução da produtividade


Matéria Orgânica das plantas
Menor
aporte de C
(energia) ao solo Menor cobertura do
solo

Redução da MO transitória
(MOP ou MO leve)
Redução da Menor atividade Desagregação e
CTC biológica dispersão do solo
Redução da MO humificada
(MO em COM ou pesada)
Selamento Aumento no arraste
Redução da estabilidade superficial de partículas
Menor formação dos agregados
de agregados
Redução da
Redução da infiltração
permeabilidade e
aeração

Maior Erosão
Perda de escorrimento
nutrientes superficial

Perda de água

Fig. 2. Esquema representativo do processo de degradação do solo ligado à perda de


matéria orgânica. O uso do agro-ecossistema de forma inadequada reduz a
fotossíntese e o aporte de carbono ao solo, resultando na perda de MOS e da cobertura
do solo. O solo descoberto recebe a ação direta das gotas de chuva, desencadeando o
processo de erosão e contribuindo para perda de água e nutrientes. A redução da MOS
afeta os processos de formação e estabilização de agregados do solo, atividade
biológica e ciclo de nutrientes, contribuindo para a perda de nutrientes, solo e água.
Essas perdas, por sua vez, retro-alimenta o processo de degradação, reduzindo o
potencial produtivo do agro-ecossistema (este feedback positivo é representado pelas
setas em semicírculo).

MOS com o cultivo convencional. Freitas et al. (2000) não registraram perdas
de MOS após 25 anos de cultivo de culturas diversas (hortaliças, arroz, milho e
feijão), em um Latossolo Vermelho distrófico. Roscoe & Buurman (2003),
também em um Latossolo Vermelho distófico muito argiloso, observaram
estoques de carbono similares em áreas sob vegetação nativa de cerrado
sensu-stricto e cultivadas com milho e feijão em sucessão por 30 anos. A alta
estabilidade da matéria orgânica em Latossolos muito argilosos vem sendo
atribuída à presença de altos teores de oxi-hidróxidos de ferro e alumínio, que
complexariam a MOS, estabilizando-a (Resende et al., 1997; Roscoe et al.,
26 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

2000a). Isso pode ser evidenciado pelas altas percentagens de C nas frações
pesadas (densidade > 1,7 g cm-3), aquelas representadas pela MOS ligada à
matriz mineral (Gregorich & Ellert, 1993). Geralmente, em torno de 90% do C
encontra-se nesta fração em Latossolos argilosos (Roscoe et al., 2001;
Roscoe & Machado, 2002).

Mesmo sem haver decréscimo acentuado nos teores de MOS, a ocorrência de


reduções em alguns de seus compartimentos pode desencadear o processo
de degradação. No estudo de Roscoe & Buurman (2003), embora não tenham
detectado alterações nos teores totais de MOS após 30 anos de cultivo, os
autores detectaram significativa redução nos estoques de C na fração leve
livre (densidade < 1,7 g cm-3) da MOS, ressaltando que a fração orgânica que
não estava ligada à fração mineral (livre) foi a mais sensível às alterações no
ambiente. Segundo Roscoe & Buurman (2003), o erro experimental nas
medições dos teores totais de MOS foi, em termos absolutos, maior que as
variações observadas nas frações leves, mascarando o efeito de redução do
C orgânico nessa fração específica, na área cultivada. Outros estudos
mostraram que o sistema de plantio convencional reduz significativamente a
biomassa microbiana e a atividade enzimática do solo (Roscoe et al., 2000b).
A redução de frações mais ativas da MOS, como a fração leve livre e o C na
biomassa microbiana, pode afetar diversas de suas funções no solo. A
manutenção da produção de polissacarídeos, por exemplo, é fundamental
para a manutenção da agregação (Golchin et al., 1997), sendo que estes
compostos são transitórios no solo e são degradados rapidamente
(Stevenson & Cole, 1999). A manutenção de seus níveis depende da atividade
biológica. Portanto, uma redução nas frações leve livre e C na biomassa
microbiana, que representam as frações mais ativas da MOS, favoreceria a
desorganização do sistema, deslocando-o para um nível de ordem inferior,
resultando em uma menor estabilidade de agregados, desencadeando o
processo de degradação (Fig. 1 e 2).

Conforme observado, não somente os teores totais de MOS são importantes


para o entendimento dos processos de degradação do solo. Faz-se
necessário o estudo detalhado de suas diferentes frações, relacionando
alterações quantitativas e qualitativas dessas frações, aos distúrbios
provocados em suas funções na manutenção da qualidade do solo. Quando
se faz tal análise, pode-se concluir que os sistemas convencionais de cultivo
promovem degradação e perda de qualidade do solo, mesmo em Latossolos
ricos em oxi-hidróxidos de ferro e alumínio, nos quais são observadas
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 27

alterações pequenas (ou mesmo nenhuma redução) nos teores totais de


MOS.

Sistemas Conservacionistas como


Alternativa à Degradação
O sistema plantio direto (SPD) representa uma alternativa de manejo
altamente conservacionista, apresentando vantagens como o controle da
erosão hídrica e a melhoria na qualidade do solo e da água. Por não revolver o
solo, deixando os resíduos vegetais na superfície, o SPD interfere menos na
taxa de decomposição da MOS, o que favorece a manutenção e até o acúmulo
da mesma (Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al., 1999). Como a MOS está
relacionada a importantes atributos de qualidade do solo, como atividade
biológica, ciclagem de nutrientes, agregação do solo, dinâmica da água,
resistência à erosão, etc., sua preservação, através do SPD, constitui-se em
uma das principais vantagens da adoção desse sistema.

Resultados de pesquisa, no entanto, não têm sido conclusivos quanto ao


acúmulo de C no SPD. Enquanto em alguns trabalhos observaram-se
incrementos significativos nos teores de MOS, quando comparados a
sistemas convencionais (Bayer & Mielniczuk, 1997a,b; Tognon et al., 1997;
Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al., 1999; Bayer et al., 2000a,b), em outros
estudos nenhuma diferença significativa foi observada entre os tratamentos
(Maria & Castro, 1993a,b; Freitas et al., 2000; Roscoe et al., 2000b; Roscoe &
Buurman, 2003). A discrepância nos resultados de pesquisa vem sendo
atribuída às diferenças entre as condições experimentais e ao que se
convenciona chamar de SPD. Primeiramente, muitos trabalhos avaliam
sistemas com tempos de usos diferentes. O acúmulo de MOS no SPD tende a
ocorrer lentamente, sendo necessários alguns anos para que se mostrem tais
tendências (Bayer & Mielniczuk, 1999). Outro fator é o clima, sendo que os
resultados referentes à Região Sul do Brasil geralmente apresentam
incrementos significativos nos teores de C para SPD (Bayer & Mielniczuk,
1997a,b; 1999). Isso pode estar relacionado às condições climáticas da região
subtropical, onde as taxas de decomposição de C são menores, em
comparação com a região tropical como ocorre no Cerrado a na Amazônia
(Feller & Beare, 1997; Bayer & Mielniczuk, 1999). Experimentos realizados na
região do Cerrado, em geral, não apresentam teores significativamente
28 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

maiores de C para o SPD em comparação ao sistema convencional, o que


vem sendo atribuído à maior intensidade do processo de decomposição da
MOS, em função das altas temperaturas (Freitas et al., 2000; Roscoe et al.,
2000b; Roscoe & Buurman, 2003).

Outro fator a ser considerado para explicar os diferentes resultados obtidos


entre a Região Sul e o Cerrado seria o histórico de utilização das áreas. A
produção de grãos no Cerrado é um fenômeno relativamente recente e,
freqüentemente, as áreas convertidas para lavouras substituíram pastagens,
em sua maioria de Brachiaria spp. Existe ampla literatura científica, tanto na
Amazônia (e.g.; Koutika et al., 1997; Trumbore et al., 1995; Neill et al., 1997;
Bernoux et al., 1999) como nas regiões da Mata Atlântica e do Cerrado
(Corazza et al., 1999; Freitas et al., 2000; Tarré et al., 2001; Boddey et al.,
2002), que mostra que as pastagens promovem a manutenção dos estoques
do MOS no solo, e no caso de pastagens mantidas produtivas com boas
práticas de manejo (adubação de manutenção e lotação animal apropriada),
às vezes superam àqueles originalmente observados no solo sob a vegetação
nativa. Em contraste, na Região Sul, a maioria das áreas onde foram
conduzidos esses estudos encontrava-se sob plantio convencional (PC) e os
estoques do C no início dos estudos eram inferiores aos níveis encontrados no
solo sob a vegetação nativa. Quando os solos continuaram sob PC, os níveis
de MOS abaixaram numa taxa bem menor, em comparação com áreas
recentemente desmatadas ou após vários anos de pastagem. Desta forma, a
implantação do SPD, em solos manejados sob PC há muitos anos tenderia a
acumular C mais rapidamente, enquanto em regiões do Cerrado, onde as
áreas estavam sobre vegetação nativa ou pastagens, seria mais demorado
para os estoques do C sob SPD superassem o da vegetação anterior.

Também é importante considerar a produção de massa vegetal e aporte de


resíduos. Na Região Sul, os cultivos de outono/inverno, com espécies para
cobertura do solo, vêm sendo utilizados com sucesso, devido ao regime de
chuvas mais bem distribuído, quando comparado à região do Cerrado. Nesta,
as culturas de safrinha são relativamente recentes e as semeaduras de
inverno viabilizam-se somente sob irrigação, na maior parte da região. Isso
garante um maior potencial para a produção de resíduos nos sistemas de
rotação da Região Sul. Não obstante, mesmo neste ambiente, tratamentos
que não incluam, no esquema de rotação de culturas, materiais com alto
aporte de resíduos, tendem a apresentar incrementos discretos nos estoques
de C, ou mesmo ausência de qualquer diferença em relação a sistemas
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 29

convencionais (Bayer & Mielniczuk, 1997a,b; 1999). É importante considerar


também que nestas condições as taxas de decomposição dos resíduos são
maiores, favorecidas pela presença de umidade no solo. Sendo assim, não
basta dispor uma cultura dentro do sistema de rotação com alto aporte de
resíduos. Na realidade, o sistema de culturas como um todo que deve retornar
quantidades elevadas de resíduos para o solo, de forma a possibilitar saldo
positivo no balanço entre entrada e saída de C no solo. Bayer (1996) obteve
quantidades crescentes de material orgânico fornecidos por sistemas de
rotação envolvendo aveia/milho (14 Mg ha-1), aveia + trevo/milho (18 Mg ha-1) e
aveia + trevo/milho + caupi (21 Mg ha-1). Bayer & Mielniczuk (1997a) relataram
que, nas áreas com esses tratamentos e sob SPD por 5 anos, houve aumento
no teor de MOS seguindo a mesma ordem. Comparando o tratamento com
menor aporte de resíduos (sucessão aveia/milho), sob sistema convencional,
ao de maior aporte (rotação aveia + trevo/milho + caupi), sob SPD, os autores
observaram uma diferença de 6 Mg ha-1 de carbono em favor do SPD, na
camada de 0-17,5 cm.
Entretanto, nem sempre maiores quantidades de resíduos culturais
depositadas resultam em uma maior acumulação de MOS no solo. Por
exemplo, Maria et al. (1999) comparou os efeitos na acumulação de MOS (0-
30 cm) de 9 anos de milho ou soja no verão, ambos com aveia no inverno sob
SPD e PC. Apesar dos rendimentos de milho (5,6 a 5,7 Mg ha-1) terem sido
mais do que o dobro dos rendimentos de soja (2,1 a 2,4 Mg ha-1), esta
contribuição muito maior de resíduos do milho não proporcionou uma
acumulação maior de MOS sob PC, nem sob SPD. Em ambas as sucessões
sob SPD e PC os níveis de MOS diminuíram em todos os tratamentos.
Resultados recentes (Alves et al., 2002, 2003; Sisti et al., 2004) indicaram que
o balanço de nitrogênio no sistema é um determinante crucial na acumulação
de MOS sob SPD. Os resultados de Alves et al. (2002) mostraram que, além
de a soja manejada sob SPD ser capaz de acumular até 80 % do seu N da
fixação biológica de nitrogênio (FBN), a proporção do N da cultura exportada
é, freqüentemente, muito semelhante, deixando, no solo, baixas quantidades
de N para as culturas subseqüentes. É óbvio que a MOS contém não somente
carbono, mas também outros nutrientes, sendo nitrogênio quantitativamente
o mais importante. Para acumular 1 Mg ha-1 de C no solo na forma de MOS é
necessário pelo menos 80 kg N ha-1 (Alves et al., 2002). Como após o cultivo
da soja o saldo é praticamente nulo de N para a formação de MOS, é
improvável que o solo sob sucessões de soja/trigo ou soja/aveia acumule
MOS ao longo do tempo. Machado et al. (2001) e Freixo et al. (2002)
30 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

registraram resultados semelhantes na avaliação dos estoques de MOS sob


sucessões de soja/trigo manejadas com SPD em dois estudos de longo prazo
conduzidos na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) e Embrapa Soja (Londrina
PR). Isso foi confirmado no mesmo experimento de longo prazo em Passo
Fundo por Sisti et al. (2004), mas em outros tratamentos no mesmo
experimento onde foi incorporada nas rotações a leguminosa ervilhaca no
inverno, registrou-se uma diferença em estoque do C de 17 Mg C (0-100 cm)
em favor do SPD, quando comparado ao PC, em um período de 13 anos.
Quase todos os outros estudos feitos no Rio Grande do Sul (Bayer e
Mielniczuk, 1997; Bayer e Bertol, 1999; Amado et al., 1999, 2001; Bayer et al.,
2000a,b; Diekow et al., 2005), que registraram maiores estoques de MOS sob
SPD comparado a PC, uma leguminosa fixadora de N2, além da soja, estava
presente nas rotações sob estudo. No caso do estudo de Maria et al. (1999)
mencionado anteriormente, uma das sucessões foi soja/aveia e a outra
milho/aveia. Mesmo tendo sido o milho adubado com 91 kg N ha-1, o N retirado
no grão provavelmente foi mais de 70 kg N ha-1 (5,6 Mg ha-1 x 1,3% N);
portanto, assumindo que teriam algumas perdas de N do fertilizante ou da
mineralização rápida dos resíduos de soja (de baixa ralação C:N), em ambos
as sucessões o balanço do N teria sido nulo. Isso sugere que, para uma maior
obtenção de resíduos e, conseqüentemente, um acúmulo de MOS, o sistema
de rotação deve incluir culturas com alto aporte de resíduos (como as
gramíneas) e outras que teriam a função de inserir nitrogênio no sistema (as
leguminosas). O que explicaria tal tendência seria o fato de as gramíneas
serem extremamente responsivas a nitrogênio. Assim, tendo uma boa
quantidade de N entrando no sistema através das leguminosas, a produção
de biomassa das gramíneas subseqüentes estariam sendo favorecidas.

Em contraste à Região Sul, a menor duração da estação de chuvas da região


do Cerrado raramente permite que sejam incluídas outras leguminosas além
da soja no esquema de rotações. Por esse motivo, é muito pouco provável que
as rotações apresentem um balanço anual de N positivo e portanto um
acúmulo de MOS. Embora o SPD conserve mais a MOS do que o PC, espera-
se que, caso não sejam adicionadas via fertilizantes quantidades de N
superiores às exportadas nos grãos, o SPD somente mantenha os níveis
existentes. No entanto, quando as quantidades de C aportadas são elevadas,
como no caso de pastagens de braquiária, expressivos aumentos no estoque
de C no solo foram verificados para Latossolos de Mato Grosso do Sul, com a
rotação soja-pastagem em PD (Salton et al, 2005).
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 31

Os resultados anteriores sugerem que o aporte de resíduos é um componente


fundamental no processo de manutenção e acúmulo de MOS no SPD.
Entretanto, é limitado o que se sabe sobre o potencial produtivo de diferentes
espécies, em sistemas de rotações/sucessões de cultura no SPD. São
poucas as informações quantitativas e, sobretudo, qualitativas. Resultados
preliminares, obtidos em campos experimentais da Embrapa Agropecuária
Oeste (Dourados, MS), demonstraram que os teores de lignina e
hemicelulose na palhada de aveia podem variar significativamente entre o
sistema convencional (grade pesada), SPD e integração lavoura
(SPD)/pastagem (Mercante et al., dados não publicados). Estudos adicionais
são necessários para elucidar o potencial de produção dos diferentes
resíduos e como os mesmos estariam influenciando a dinâmica da MOS no
SPD.
Mesmo sem alterar os teores de C, o SPD pode alterar a distribuição relativa
de suas frações ou reservatórios funcionais, interferindo na qualidade do solo
e nas produtividades das culturas. O fracionamento físico da MOS possibilitou
a execução de vários trabalhos em diferentes ambientes, demonstrando entre
outras coisas a sensibilidade da fração lábil, que corresponde à MO
particulada ou leve, respectivamente para os métodos granulométricos ou
densimétricos. Variações no estoque desta fração podem detectar alterações
na qualidade do sistema de manejo adotado, o que nem sempre é perceptível
ao avaliar apenas o estoque de COT no solo (Diekow et al., 2005; Salton,
2005).
Roscoe et al. (2000b) avaliaram, em um Latossolo Vermelho distrófico muito
argiloso, o efeito do sistema de preparo do solo no teor de MOS, atividade da
enzima urease, teores de nitrogênio na biomassa, recuperação do N-uréia
aplicado e produtividade de milho. Os autores observaram que, embora não
houvesse diferença no teor de matéria orgânica entre os tratamentos, o SPD
apresentou os maiores valores para as demais variáveis avaliadas, quando
comparado a dois outros sistemas convencionais (arado de disco e de
aiveca). A atividade da urease correlacionou-se positivamente com a
produção de matéria seca total e produção de grãos de milho, sendo que as
produtividades máximas de milho foram maiores para o SPD (6.177 kg ha-1) do
que para os demais sistemas (4.640-5.045 kg ha-1).

Estudos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste, num Latossolo


Vermelho distroférrico típico, demonstraram teores de C da biomassa
microbiana mais expressivos no sistema natural (mata nativa), seguido pelo
32 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

sistema integrado lavoura-pecuária, SPD, pastagem contínua e sistema


convencional de cultivo. Análises em três épocas de avaliação (florescimento,
pré-plantio e plantio de culturas de inverno) evidenciaram uma redução nos
teores de C da biomassa microbiana no sistema convencional em relação ao
SPD, em torno de 10%, 28% e 10%, respectivamente, embora nenhuma
alteração no teor total de C foi observada (Mercante et al., 2000). De maneira
similar, Balota et al. (1998) observaram, em solos do Paraná, que o SPD
proporcionou maiores incrementos na biomassa microbiana, na respiração
basal e na relação entre o C microbiano e C orgânico total do solo.
Uma alternativa promissora para a região tropical refere-se à combinação de
ciclos de culturas anuais com pastagens (integração lavoura-pecuária - ILP),
garantindo grandes aportes de resíduo e elevada taxa de acúmulo de MOS
(Vilela et al. 2003; Salton, 2005). Nas pastagens bem manejadas, as elevadas
produções de resíduos, associadas ao não-distúrbio do solo, favorecem o
processo de acúmulo de MOS (Roscoe, 2005). A produtividade das pastagens
e, consequentemente, a sua produção de resíduos, está associada a vários
fatores como os inerentes à própria espécie, sistema radicular, níveis de
adubação, disponibilidade de N (Fagundes et al, 2005) e, principalmente, ao
manejo das pastagens (Schunke, 2000; Franzluebbers, 2005). Silva et al.
(2004), estudando o acumulo de carbono em pastagens sob diferentes tipos
de manejo em solos de Cerrado, observaram taxas de acúmulo variando de
negativas (-0,87 Mg ha-1 ano-1 de C) a altamente positivas (3 Mg ha-1 ano-1 de
C). Segundo os autores, pastagens bem manejadas, com adubação de
manutenção e consórcio com leguminosas, favorecem o acúmulo de C no
solo, enquanto pastagens degradadas e superpastejadas tendem a perder
carbono. Na ILP, as culturas antecessoras à pastagem podem favorecer a sua
produtividade, pois há uma tendência de melhor aproveitamento dos
nutrientes residuais das adubações pelas forrageiras (Machado et al., 1999).
Salton (2005), trabalhando com três experimentos de longa duração em Mato
Grosso do Sul, obtiveram uma seqüência relativa ao acúmulo de carbono no
solo, em função de diversos sistemas de uso, partindo de valores negativos
para soja em sistema convencional, passando por valores neutros com a ILP e
culminando com valores superiores à vegetação nativa para pastagens bem
manejadas (Fig. 3). Esse trabalho ilustra bem a possibilidade de elevação nos
níveis de carbono no solo através da adoção de sistemas de manejo
integrando lavouras e pastagens.
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 33

120

110

100

90

80

70

60

0
L-PC L-PD S4P4 S1P3 S2P2 PP PP + L
Produção de fitomassa/Fluxo de energia

Fig. 3. Valores relativos de estoques médios de carbono orgânico (COT) no solo, em


sistemas de manejo ordenados em função do aporte de C via fitomassa (fluxo de
energia), em experimentos de longa duração na região Centro Oeste do Brasil.
Fonte: Salton, (2005).
Vegetação natural = 100%, as barras indicam o valor do desvio padrão da média, quando
n>1. L-PC: soja em plantio convencional; L-PD: soja em plantio direto; S4P4: rotação soja por
4 anos pastagem (P. maximum) por 4 anos; S1P3: rotação soja por 1 ano pastagem (B.
brizantha) por 3 anos; S2P2: rotação soja por 2 anos pastagem (B. decumbens) por 2 anos; PP:
pastagem permanente (B. decumbens); e PP+L: pastagem permanente (B. decumbens)
consorciada com leguminosa.
34 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Considerações Finais
O cultivo convencional promove uma significativa perturbação na dinâmica e
no desempenho das funções da MOS, podendo reduzir os seus teores totais
ou, como em solos argilosos ricos em oxi-hidróxidos de Fe e Al, somente de
algumas de suas frações mais dinâmicas, como a leve-livre ou particulada e a
biomassa microbiana. Tal perturbação pode desencadear o processo de
degradação e de perda da qualidade do solo.

O sistema plantio direto, devido a sua característica de não-revolvimento do


solo, tem o potencial de reduzir os efeitos danosos do sistema convencional,
preservando a MOS. Entretanto, esse potencial é afetado por particularidades
do sistema de manejo adotado, as quais resultam no aporte e na qualidade
dos resíduos adicionado ao sistema. Evidências apontam para uma efetiva
manutenção da MOS em sistemas de rotação com elevado aporte de
resíduos, envolvendo culturas de inverno. Os trabalhos avaliados sugerem,
ainda, que as maiores quantidades de resíduos estão sempre relacionadas à
presença de mais de uma cultura fixadora de nitrogênio no esquema de
rotação. Sucessões contendo somente soja, seguida de aveia ou milho
safrinha, parecem não fornecer nitrogênio suficiente para o sistema. Cabe
ressaltar que o balanço positivo de N no sistema irá favorecer o acúmulo de
MOS, não pelo maior aporte de resíduos da própria leguminosa fixadora, mas
sim pela maior produtividade das gramíneas presentes no esquema de
rotação, visto que essas são extremamente responsivas ao N. Em esquemas
de rotação onde não ocorra o devido suprimento de N pela fixação biológica é
necessária a utilização de fertilizantes minerais para a manutenção de
balanço positivo de N no sistema.

A integração lavoura pecuária surge como uma alternativa interessante para


áreas onde há dificuldades de estabelecimento de sistemas de rotação de
culturas que sejam capazes de fornecer grandes aportes de resíduos para o
solo, situação observada para a maior parte do Centro-Oeste do Brasil.
Entretanto, vale ressaltar que, mesmo nesses sistemas, o suprimento de
resíduos é dependente de um manejo adequado das pastagens.
Sistemas de Manejo e Matéria Orgânica do Solo 35

Referências
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Seqüestro de Carbono no
2
Sistema Plantio Direto:
Possibilidades de Contabilização

Renato Roscoe

Resumo - Nas últimas duas décadas, os ecossistemas terrestres vêm


sendo considerados tão importantes quanto os oceanos na retirada e no
armazenamento de carbono da atmosfera, mitigando o efeito estufa. Embora
não seja considerado no âmbito do Protocolo de Kyoto como uma atividade
elegível para as compensações de emissões, o sistema plantio direto vem
sendo apontado como uma alternativa promissora no seqüestro de carbono
atmosférico, ao promover a manutenção e o aumento da matéria orgânica do
solo. Entretanto, existem ainda várias restrições metodológicas para uma
efetiva contabilização do seqüestro de carbono no solo sob sistema plantio
direto. Uma das alternativas viáveis para tal contabilização é a modelagem
matemática e simulação da dinâmica da matéria orgânica do solo. Desta
forma possibilitaria a inclusão do seqüestro de carbono no solo sob sistema
plantio direto nos inventários nacionais de emissões e a inclusão de tal
alternativa mitigadora em acordos internacionais. No entanto, avanços são
ainda necessários para adaptação dos simuladores para as condições
tropicais e subtropicais.
44 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Carbon Sequestration on No Tillage


System: Accounting Possibilities

Abstract - In the last two decades, terrestrial ecosystems have been


considered as important as oceans in fixing and accumulation atmospheric
carbon, mitigating greenhouse effect. Although not eligible as an activity for
emission compensation in the Kyoto Protocol, no-tillage system has been
considered as an promising alternative to atmospheric carbon sequestration,
since it promotes soil organic matter maintenance and increase. Nevertheless,
there are still several methodological restrictions for an effective assessment
of carbon sequestration under no-tillage system. Mathematical modeling and
simulation of soil organic matter dynamics has a great potential as a suitable
alternative for such a assessment, which would allow the inclusion of carbon
sequestration under no-tillage system in the national emission inventories.
This would allow the inclusion of such a mitigating alternative in international
agreements. However, improvements are still necessary for the adaptation of
models to tropical and subtropical conditions.
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 45

Introdução
As mudanças no ambiente causadas pelas atividades humanas têm
provocado sérios problemas ambientais, como a redução da biodiversidade e
a degradação do solo e da água. Mais recentemente, com o avanço dos
conhecimentos científicos, pesquisadores começaram a perceber que a
atividade humana tem afetado, ainda, a atmosfera. Estudos iniciados no final
da década de 70 e intensificados nos últimos 20 anos acumularam evidências
de que o homem vem causando alterações significativas na composição da
atmosfera, emitindo quantidades crescentes de gases causadores de efeito
estufa (GEE). O aumento da temperatura na superfície terrestre está
associado à elevação da concentração destes gases, o que gera alterações
significativas no clima do planeta.
Dentre os GEEs emitidos pelas atividades antropogênicas, o gás carbônico é
responsável por cerca de 70% do potencial de elevação da temperatura
terrestre. Nos últimos 250 anos, a concentração de CO2 na atmosfera
aumentou 31%, alcançando os atuais 366 ppm, mais alto nível observado nos
últimos 420 mil anos (Watson et al. , 2001).
O carbono emitido pelo homem vem, sobretudo, da queima de combustíveis
fósseis e da mudança no uso da terra. O petróleo, carvão mineral e gás natural
representam a base da produção de energia na sociedade atual, respondendo
por dois terços de toda a energia consumida mundialmente. Por essa razão,
as emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis
atingiram valores quatro vezes superiores à quantidade emitida pela mudança
no uso da terra, nas últimas duas décadas. Não obstante, ao longo da história
da humanidade, a substituição de florestas por pastagens ou culturas anuais
foi responsável por grandes reduções nos estoques de carbono nos
ecossistemas terrestres, ao longo da história da espécie humana. Como as
mudanças na matriz energética têm um custo econômico extremamente
elevado, acredita-se que a recuperação dos estoques de carbono em
ecossistemas terrestres, que sofreram perda ao longo de sua história de
utilização, possa mitigar os efeitos das atividades humanas, re-absorvendo
carbono no solo e na vegetação. Adotando-se estratégias conservacionistas,
os ecossistemas terrestres poderiam armazenar o excesso de carbono
emitido para a obtenção de energia, permitindo o desenvolvimento
tecnológico e a substituição da matriz energética por fontes renováveis.
46 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Neste contexto, tem-se avaliado o potencial de sistemas conservacionistas


em retirar o carbono da atmosfera, armazenando-o no solo. O sistema plantio
direto (SPD), por não promover o revolvimento do solo e a incorporação dos
resíduos vegetais, tende a preservar a matéria orgânica do solo, mantendo ou
até elevando os estoques de carbono neste reservatório. Entretanto, existem
processos importantes envolvidos, os quais determinam ou não o acúmulo de
carbono nos sistemas. O entendimento de tais processos, em um sistema
complexo como o solo, exige a integração de conhecimentos em uma
abordagem sistêmica.
Neste capítulo, apresenta-se o ciclo global do carbono e os processos
envolvidos em seu balanço nos ambientes terrestres. O objetivo foi o de
discutir o papel do sistema plantio direto no contexto da mitigação das
emissões de gases de efeito estufa, assim como, a importância da
modelagem matemática e simulação da dinâmica da matéria orgânica do solo
para o entendimento deste papel.

Ciclo Global do Carbono


As quantidades de CO2 na atmosfera resultam do balanço entre fontes e
sumidouros nos seus principais reservatórios: os ecossistemas terrestres, os
oceanos e a litosfera (Fig. 1). O maior reservatório de carbono na Terra
encontra-se nas rochas sedimentares, sendo estimado em 66 bilhões de Gt
de C (German Bundestag, 1989). Os fluxos de carbono entre a atmosfera e
esse imenso reservatório ocorrem lentamente, com taxas anuais
extremamente baixas. O CO2 atmosférico, por sua vez, pode ser absorvido
nos ecossistemas terrestres, principalmente, pela fotossíntese1 e, nos
oceanos, através da fotossíntese e da dissolução na forma de carbonatos
(Schlesinger, 1997; Wigley & Schimel, 2000). Nos ecossistemas terrestres, o
CO2 fixado pela vegetação segue vários caminhos, sendo parcialmente
consumido pela respiração dos próprios autotróficos e, posteriormente,
servindo de fonte básica de energia para os demais sistemas heterotróficos.
Esses organismos consomem parte do carbono pela respiração e repassam

(1)
Solos alcalinos também podem fixar pequenas quantidades de CO2 atmosférico na forma de
carbonatos. Porém este processo restringe-se a solos de regiões semi-áridas e tem uma
contribuição irrisória quando comparado à fotossíntese.
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 47

Atmosfera
-1
760 Gt
< 0,1 Gt ano

+ 6,3 Gt ano-1

- 2,3 Gt ano-1

- 2,3 Gt ano-1
+ 1,6 Gt ano-1

Ecossistemas Oceanos
Terrestres Águas Superficiais 700 Gt
2.000 Gt (Solos)
500 Gt (Biomassa) Águas Profundas
38.000 Gt
Combustíveis
Fósseis 0,2 Gt ano-1
5.000 Gt Sedimentos/Litosfera
66.000.000 Gt

Fig. 1. Ciclo biogeoquímico do carbono: o C flui entre a atmosfera, oceanos,


sedimentos e ecossistemas terrestres (biomassa + solo). Em seu ciclo geoquímico, as
moléculas de CO2 da atmosfera são dissolvidas nos oceanos na forma de carbonatos e
são lentamente depositadas como sedimentos, retornando naturalmente à atmosfera
somente com a movimentação de placas tectônicas, no processo de subducção,
levando um tempo médio de 400 milhões de anos. O C atmosférico pode ainda ser
absorvido por plantas e algas pela fotossíntese, entrando no ciclo biológico do C, no
qual o tempo de ciclagem é bem menor (100-1000 anos). As setas vermelhas
representam os fluxos criados pelo homem, pela mudança no uso da terra e pela
queima de combustíveis fósseis. Valores em Gt (bilhões de toneladas) representam os
tamanhos dos reservatórios de C e, em Gt ano-1, os fluxos anuais na década de 90.
Fonte: Watson et al. (2001).

outra parte para os diferentes níveis tróficos, terminando, finalmente, por ser
consumido pelo processo de decomposição, no qual, parte do carbono
acumula-se no solo, formando a matéria orgânica do solo (MOS). A MOS é
também decomposta, porém em taxas bastante lentas, o que permite que este
seja um importante reservatório de C nos sistemas terrestres. Por essa razão,
calcula-se que as quantidades de carbono armazenadas nos solos sejam
quatro vezes superiores às encontradas na vegetação (Watson et al., 2000).
O tempo de permanência do C nestes reservatórios terrestres varia entre dias
a alguns poucos milhares de anos (Wigley & Schimel, 2000).
48 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Nos oceanos, o CO2 pode seguir duas rotas principais, a orgânica, na qual é
fixado pela fotossíntese de algas, e a mineral, na qual se dissolve na forma de
ácido carbônico, com posterior precipitação de carbonatos. O C fixado na
forma orgânica segue a mesma rota daquele dos ecossistemas terrestres,
passando por diferentes níveis tróficos, sendo parcialmente perdido por
respiração e decomposição, em um ciclo relativamente rápido. Parte deste C
orgânico e, principalmente, os carbonatos (inorgânicos) vão sendo
lentamente acumulados no fundo dos oceanos, formando depósitos
sedimentares. Em condições naturais, o retorno para a atmosfera do carbono
aprisionado neste reservatório sedimentar ocorre somente através de
emissões vulcânicas e hidrotérmicas, o que leva em média 400 milhões de
anos (Schlesinger, 1997).

Balanço de Carbono
As emissões atuais de carbono para a atmosfera sofrem grande interferência
da atividade antrópica. Os maiores fluxos são decorrentes da queima de
combustíveis fósseis e da utilização de rochas carbonatadas para a produção
de cimento. A queima de combustíveis fósseis se refere à utilização de
petróleo, carvão e gás natural. Nas últimas duas décadas, a queima de
combustíveis fósseis e produção de cimento contribuíram com,
aproximadamente, 75% das emissões antropogênicas (Fig. 1), ou seja,
6,3 ± 0,6 Gt C ano-1 (Watson et al., 2001). O restante, 1,6 ± 0,8 Gt C ano-1, vem
da mudança no uso da terra, principalmente em função do desmatamento em
regiões tropicais (Watson et al., 2001).

Fazendo um balanço das emissões nos últimos 150 anos, observa-se que as
emissões devido a mudanças no uso da terra (136 ± 55 Gt C) foram, quase
que totalmente, equilibradas por processos de reabsorção pelos próprios
ecossistemas terrestres (Watson et al., 2000). Por outro lado, a queima de
combustíveis fósseis e produção de cimento emitiu o dobro (270 ± 30 Gt C)
para a atmosfera. Deste total, os oceanos conseguiram absorver cerca de um
terço, sendo o restante acumulado na atmosfera, elevando as concentreções
de CO2 de 285 ppm, antes da Revolução Industrial, para os 366 ppm atuais
(Watson et al., 2000).
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 49

Mitigando as Emissões
Na últimas duas décadas, os ecossistemas terrestres vêm funcionando como
um dreno de carbono tão eficiente quanto os oceanos, em termos
quantitativos (Watson et al., 2000), o que vem sendo atribuído,
principalmente, ao crescimento de florestas em altas latitudes (Sarmiento,
2000). Entretanto, as respostas destes ecossistemas a alterações no clima
podem afetar significativamente o seu potencial de seqüestro de C no próximo
século (Sarmiento et al., 1998; Sarmiento, 2000; Cox et al., 2000).
Mecanismos de feedback positivos e negativos estarão atuando neste
processo em função das mudanças climáticas globais (Sarmiento et al., 1998;
Sarmiento, 2000; Cox et al. 2000). O aumento da taxa de decomposição da
matéria orgânica do solo, em resposta a uma elevação da temperatura média
global, constitui o principal mecanismo favorável ao incremento das
emissões. Por outro lado, a “fertilização com CO2” aumentaria a taxa
fotossintética, favorecendo o seqüestro de carbono pelas vegetações. A
magnitude destes feedbacks foi testada por Cox et al. (2000) em uma série de
simulações nas quais os autores consideram as emissões do cenário IS92a
do IPCC (“business-as-usual”) e a ausência de políticas estimuladoras do
seqüestro de carbono em ecossistemas terrestres. Segundo os autores, os
ecossistemas terrestres funcionarão como um dreno de carbono até meados
do próximo século, quando, então, o processo de fertilização de CO2
alcançará um ponto de saturação. A partir daí, o aumento na taxa de
decomposição da MOS será o processo dominante e os ecossistemas
terrestres passarão a se comportar como uma fonte de CO2 para a atmosfera.
No balanço final, os biomas terrestres emitirão em torno de 170 Gt de carbono
entre 2000-2100.

Diante de tal cenário, cientistas vêm recomendando a adoção conjunta de


medidas mitigadoras, tanto para reduzir futuras emissões quanto para
aumentar a capacidade dos ecossistemas terrestres em seqüestrar carbono
(Watson et al., 2001). Na tentativa de se estimular o seqüestro de carbono,
tem-se direcionado a pesquisa em duas áreas básicas: (1) no entendimento
dos processos de emissão/absorção por diferentes ecossistemas naturais e
(2) na geração de alternativas de uso da terra que promovam o seqüestro de
CO2 por estes sistemas (Watson et al., 2000; Lal, 2004).
50 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

As previsões sobre os impactos de atividades mitigadoras nos estoques de


carbono nos solos são ainda pouco conclusivas (Batje, 1999). A falta de
informações mais precisas sobre processos específicos de proteção da MOS,
assim como a indisponibilidade de mapas mais detalhados de classes de
solos, impedem o aprimoramento das previsões (Batje, 1999). Baseado no
Mapa Mundial de Solos (FAO, 1995), no Zoneamento Agro-ecológico (FAO,
1999) e em experimentos locais sobre manejo do solo, Batje (1999) estimou
os potenciais de seqüestro de carbono para os próximos 25 anos, segundo
uma série de cenários nos quais medidas para a recuperação de áreas
degradadas ou melhoria do sistema de produção seriam adotadas (Tabela 1).
Globalmente, fluxos anuais médios de 0,17 a 1,29 Gt C ano-1 foram preditos. A
combinação mais plausível dos cenários seria a recuperação de áreas
degradadas e melhoria de manejo em áreas não degradadas (cenários D e F,
Tabela 1), o que geraria em média uma taxa de seqüestro de carbono em torno
de 0,8 Gt C ano-1 ou próximo a 20 Gt C nos primeiros 25 anos do século XXI.

Tabela 1. Projeções para taxa anual de seqüestro de C nos solos nos


próximos 25 anos, segundo diferentes cenários de adoção de estratégias de
recuperação de áreas degradadas e melhoria no manejo de áreas não
degradadas.

Aumento no estoque de C
Cenários -1
(Gt C ano ) (Gt C em 25 anos)
A) Recuperação de toda a área degradada,
1,29 32,2
independentemente do uso/cobertura
B) Recuperação de toda a área degradada,
excluindo regiões áridas, boreais e 0,93 23,4
polares
C) Recuperação de áreas degradadas na
0,41 10,2
agricultura somente
D) Recuperação de áreas degradadas, na
agricultura, pastagens extensivas e 0,52 13,0
florestas secundárias
E) Melhor manejo de áreas a grícolas não
0,17 4,3
degradadas
F) Melhor manejo de áreas não degradadas
na agricultura, pastagens extensivas e 0,28 6,9
florestas secundárias

Fonte: Batje (1999).


Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 51

Em uma vasta revisão sobre seqüestro de carbono no solo como estratégia


para mitigar o efeito estufa, Lal (2004) chegou a valores de fixação de carbono
no solo por práticas conservacionistas bem próximos aos de Batje (1999).
Segundo o autor, o potencial de seqüestro de carbono nos solos de todo o
Mundo seria de 0,9 ± 0,3 Gt C ano-1, ou entre 30 - 60 Gt nos próximos 50 anos.

O Papel do Sistema Plantio Direto


O sistema plantio direto (SPD) pode promover incrementos nos estoques de C
no solo, contribuindo para a sua retirada da atmosfera. Isso ocorre em função
da não-movimentação do solo e da não-incorporação dos resíduos, o que
garante uma menor taxa de decomposição (ver Capítulo 1). Estudos em
regiões temperadas têm demonstrado resultados discrepantes, variando
entre ausência de incremento a aumentos da ordem de 7,5 Mg ha-1-ano-1
(Janzen et al., 1998). Smith et al. (2000b), em uma projeção dos impactos do
SPD na redução das emissões globais de CO2 na Europa, utilizaram
incrementos médios anuais de C em solos sob SPD de 0,73% ano-1. Subak
(2000), revisando trabalhos sob seqüestro de C em solos dos EUA,
registraram incrementos médios de no máximo 0,10 Mg de C ha-1 ano-1. No
Brasil, os resultados mais promissores até o momento foram obtidos em
campos experimentais nas regiões subtropicais do Sul do País. Bayer et al.
(2001) obtiveram taxas de acúmulo de C entre 0,15 e 0,94 Mg de C ha-1 ano-1.
Os melhores resultados foram obtidos quando esquemas de
rotação/sucessão incluíram materiais com elevada produção de resíduos. Em
um dos experimentos analisados pelos autores, as taxas de acúmulo anual de
C na camada de 0-17,5 cm de profundidade foram em torno de três vezes
maiores nos sistemas com aveia + ervilhaca/milho + caupi, quando
comparados aos sistemas sob rotação aveia/milho (Tabela 2).

Diversos autores vêm ressaltando o caráter finito do potencial de seqüestro de


C em solos sob SPD (Janzen et al., 1998; Smith et al., 2000a,b; Subak, 2000;
Bayer et al., 2001). Esse potencial está relacionado com uma nova situação
de equilíbrio estabelecida no sistema, como resultado do balanço de entradas
e saídas de MOS. O SPD, quando aplicado em sua plenitude, ou seja,
incluindo diversificação e rotação de culturas, tende a aumentar o aporte de
resíduos (Bayer et al., 2001). Concomitantemente, há uma tendência de
redução da taxa de decomposição, diminuindo a perda de MOS do sistema.
52 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Tabela 2. Perda (-) e ganho (+) de C orgânico total (expressa em CO2) durante
13 anos, em um Argissolo vermelho, em função do sistema de cultivo (PC =
plantio convencional; PD=plantio direto) e do sistema de sucessão/rotação de
culturas (A = aveia; V = ervilhaca; M = milho; e C = caupi), fertilizados com
180 kg de N ha-1 ano-1.

Tratamentos COT
Diferença Saldo de CO2
Preparos Culturas Inicial 13o ano
-
------------------------------ Mg ha 1 ------------------------------
A/M 32,5 29,9 -2,7 -9,7
PC A+V/M 32,5 31,5 -1,1 -3,9
A+V/M+C 32,5 31,8 -0,8 -2,8

A/M 32,5 34,8 +2,6 +8,3


PD A+V/M 32,5 37,3 +4,8 +17,7
A+V/M+C 32,5 39,6 +7,1 +25,9

Fonte: adaptado de Bayer et al. (2001).

Portanto, quando há a adoção do SPD em ambientes que vinham, há muitos


anos, sendo cultivados em sistemas convencionais, ocorre um acúmulo de C
no solo. Esse acúmulo ocorrerá, no entanto, até que novo equilíbrio seja
estabelecido. Evidências para tal fato foram apresentadas por Bayer et al.
(2001) (Fig. 2). Nesse estudo, enquanto os teores de C tenderam a reduzir sob
o sistema de cultivo convencional, com a rotação aveia/milho, sob SPD e a
rotação aveia + ervilhaca/milho + caupi, aumentou até o nono ano de
experimento, tendendo a estabilizar-se posteriormente (Fig. 2). A
possibilidade de saturação no acúmulo de C no solo, para determinado
sistema de manejo, deve sempre ser incluída em análises do potencial de
seqüestro de C no SPD.
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 53

PC A/M
PD A+V/M+C
COT 0-17,5 cm (Mg ha-1)

36

33

30

27

0 2 4 6 8 10 12 14
Anos
Fig. 2. Estoque de C orgânico na camada de 0-17,5 cm de um Argissolo, submetido ao
sistema convencional com aveia/milho (PC A/M) e ao SPD com
aveia+ervilhaca/milho+caupi (PD A+V/M+C).
Fonte: Bayer et al. (2001).

Contabilização: Importância da Modelagem


A recente ratificação do Protocolo de Kyoto2, no qual os países desenvolvidos
assumiram metas de redução das emissões de gases causadores de efeito
estufa, cria a expectativa de que, em um futuro próximo, produtores rurais que
adotem o SPD possam obter compensações pela prestação de serviços
ambientais. Isso ocorreria caso o SPD adotado fosse eficiente em retirar CO2
da atmosfera. O Protocolo abre espaço para que atividades seqüestradoras
de carbono nos ecossistemas terrestres sejam contabilizadas no inventário
final de emissões de cada país. Desta forma, as emissões de um dado país

(2)
O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional no qual países do Anexo I da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre o Clima assumiram reduzir em média 5% de suas emissões
de gases causadores de efeito estufa, em relação aos níveis de 1990, no período entre 2008-
2012 (www.forumclimabr.org.br).
54 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

podem ser amortizadas pelo seqüestro de carbono em seu território,


possibilitando até mesmo o cumprimento das metas estabelecidas sem
efetivamente reduzir as emissões. Esta possibilidade é ainda ampliada pelo
chamado “comércio de emissões”, segundo o qual nações com excedentes
de créditos de emissão podem vender o seu direito de emitir para outros
países.
Em seu Artigo 3o, o Protocolo de Kyoto institui três princípios básicos para o
monitoramento de atividades promotoras do seqüestro de carbono:
transparência, viabilidade e verificabilidade. Segundo Subak (2000), existem
basicamente três formas de monitoramento dos fluxos de carbono para
elaboração de inventários nacionais: (1) uso de métodos instrumentais para
medir os fluxos de carbono diretamente entre o solo/vegetação e a atmosfera,
como torres meteorológicas; (2) amostragem em larga escala dos solos ao
nível de propriedade rural, sendo que cada proprietário poderia se beneficiar
de incentivos e compensações; e (3) integração de dados experimentais
sobre fluxos de carbono em determinados solos, associados a censos
regionais e mapas topográficos. As duas primeiras alternativas ferem o
princípio básico da “viabilidade”, conforme estabelecido pelo Protocolo.
Medidas diretas do fluxo de carbono exigem um monitoramento constante por
vários meses consecutivos, envolvendo sofisticada aparelhagem (Grace et
al., 1995a,b; Miranda et al., 1996), o que torna experimentos em larga escala
inviáveis. Da mesma forma, o monitoramento por amostragens de solo ao
nível de propriedades individuais assume dimensões orçamentárias
impraticáveis. Subak (2000) estimou o custo de um monitoramento de tal
natureza para solos dos Estados Unidos da América (EUA), sob SPD, em
1 bilhão de dólares. Segundo a autora, considerando um valor compensatório
de 50 a 100 dólares por tonelada de carbono fixada e uma estimativa de
seqüestro em sistemas agrícolas de 30 Mt C no período entre 2008-2012
(primeiro “targed period” do Protocolo de Kyoto), seriam gerados 1,5 a
3,0 bilhões de dólares. Esses valores demonstram que, entre um a dois terços
do retorno financeiro3 potencialmente atingível pelo seqüestro de carbono nos
solos agrícolas sob SPD seriam gastos somente no monitoramento dos
ganhos.

(3)
O retorno financeiro de atividades sequestradoras de carbono está relacionado com a
economia gerada pela não necessidade de se reduzir o crescimento na produção industrial
e/ou investir em fontes alternativas de energia (e.g. energia solar), as quais apresentam, em
geral, custos mais elevados (Subak, 2000).
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 55

Diante da impossibilidade de se utilizarem as duas primeiras opções


mencionadas anteriormente, a alternativa mais viável parece ser a integração
de dados experimentais locais, associados a censos regionais e mapas
topográficos. As recentes estimativas de seqüestro de carbono pelos solos,
tanto em escala de inventários nacionais (Dumanski et al., 1998; Lal et al.,
1998; Smith et al., 1997a,b,c; 2000a,b; Cannell et al., 1999; Eve et al., 2000)
como em escalas globais (Batje, 1999), baseiam-se em tais extrapolações a
partir de campos experimentais, considerando relações lineares entre os tipos
de manejo e os estoques de carbono no solo. Entretanto, na maioria destes
estudos as questões da “transparência” e “verificabilidade” ficam
comprometidas, pois as condições observadas nos campos experimentais
(e.g. tipo de solo, vegetação, clima, etc.) geralmente diferem daquelas
encontradas na maioria das localidades para onde os dados são extrapolados
(Falloon et al., 2001; Paustian, 2001).

Recentemente, ganhos consideráveis têm sido obtidos com a utilização de


simuladores da dinâmica do carbono (e.g. CENTURY, RothC), associados a
ferramentas de SIG (Sistemas de Informação Geográfica) (Falloon et al.,
1998, 1999, 2000, 2001). Isso ocorre porque os simuladores levam em
consideração variáveis de solo, vegetação, clima, etc., permitindo melhores
estimativas em localidades específicas (Falloon et al., 2001). Mesmo assim,
problemas estruturais e falta de parametrização desses simuladores, para
diversas regiões e tipos de solo, têm comprometido o uso generalizado dos
mesmos (Paustian, 2001).

A modelagem matemática e simulação da dinâmica de carbono nos


ecossistemas terrestres parece ser a opção mais promissora para um efetivo
monitoramento de atividades seqüestradoras de carbono (Paustian, 2001),
respeitando o princípio básico da “viabilidade” (Subak, 2000). Entretanto, para
se adequar aos princípios de “transparência” e “verificabilidade”, os
simuladores ainda necessitam de ajustes consideráveis (Falloon & Smith,
2000; Paustian, 2001), principalmente para ambientes tropicais.
56 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Considerações Finais
Embora o Protocolo de Kyoto não considere a fixação de carbono no solo
como um mecanismo mitigador das emissões, existe um grande potencial
para esse mecanismo. Com isso, acordos bilaterais vêm sendo assinados,
mesmo em paralelo ao Protocolo, com o objetivo de promover a fixação de
carbono no solo pelo sistema plantio direto (SPD). A efetiva inclusão deste
mecanismo em tratados internacionais depende, ainda, de refinamento
metodológico nas estimativas dos inventários nacionais.
Avanços em modelagem matemática e simulação da dinâmica da matéria
orgânica do solo em ambientes tropicais e subtropicais são ainda necessários
para se acessar, com maior segurança, os potenciais do SPD em retirar
carbono da atmosfera. Atualmente têm-se taxas anuais de fixação de carbono
em poucos experimentos pontuais, impedindo uma extrapolação segura para
outras áreas. Uma vez adaptados simuladores mais eficientes para as
condição tropicais e subtropicais, as extrapolações podem ser ponderadas
em função de variáveis que distinguem as condições experimentais das áreas
a serem simuladas. Além dos ganhos em relação à precisão dos inventários,
vale ressaltar que simulações mais próximas da realidade subsidiariam a
seleção de sistemas de sucessão/rotação de culturas mais adequadas ao
SPD, de forma a maximizar os outros benefícios gerados pela MOS. Isso
implicaria em ganhos de produtividade e maior eficiência no uso de
fertilizantes, reduzindo a necessidade de abertura de novas áreas e o
consumo de energia para produção dos insumos.

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a special report of the IPCC. Cambridge: IPCC: Cambridge University Press,
2000. 377 p.

WIGLEY, T. M. L.; SCHIMEL, D. S. The carbon cycle. Cambridge: Cambridge


University Press, 2000. 292 p. (Global Change Institute, 6).
Modelagem Matemática e
3
Simulação de Sistemas:
uma Importante Ferramenta na
Pesquisa Agropecuária

Rômulo Penna Scorza Júnior

Resumo - A modelagem matemática e a simulação de sistemas, como


ferramentas dentro da pesquisa agropecuária, possibilitam a integração e
organização do conhecimento sobre os processos que compõem um sistema
a ser estudado, permitindo conclusões mais completas e confiáveis. Neste
capítulo, abordam-se os principais objetivos da modelagem matemática e
simulação de sistemas dentro da pesquisa agropecuária, bem como as
vantagens e desvantagens na utilização dessas ferramentas. Com o objetivo
de esclarecer e incentivar o uso correto de alguns termos são apresentadas
suas definições, além de uma classificação dos modelos com relação as suas
funções e níveis de complexidade. São apresentadas também as principais
etapas para elaboração e teste de um simulador e modelos matemáticos.
64 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Mathematical Modelling and System


Simulation: an Important
Tool for Agriculture Research

Abstract - Mathematical modeling and system simulation, as tools for


agricultural research, allow the integration of processes for a specified system.
This integration occurs in a organized way that results in more reliable and
completed conclusions. In this chapter I show the main objectives of
mathematical modeling and simulation in the context of agricultural research,
and also the advantages and disadvantages of these tools. I also present
some term definitions with the aim to clarify and stimulate the correct use of
them. A broad model classification is presented based on model function and
complexity levels. At the end, the main steps to build and test a simulator and
mathematical model are presented.
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas 65

Introdução
Nas últimas décadas, os sistemas agrícolas de produção dominantes visavam
principalmente o aumento de produtividade, lucro e maior competitividade. No
entanto, percebeu-se ao longo do tempo que esses sistemas de produção
estavam causando a exploração indevida do meio ambiente e, portanto, a
degradação dos ecossistemas, como, por exemplo, degradação dos solos e
poluição dos recursos hídricos por pesticidas, fertilizantes e resíduos
orgânicos oriundos das atividades agropecuárias. Os possíveis riscos na
qualidade de vida de gerações futuras provenientes desses sistemas
agrícolas de produção passaram a ser considerados. Diante dessa realidade,
iniciou-se um novo modelo de desenvolvimento agrícola, baseado no
princípio da sustentabilidade. Por agricultura sustentável entende-se “o
manejo e conservação dos recursos naturais e a orientação de mudanças
tecnológicas e institucionais que assegurem a satisfação das necessidades
humanas para a presente e futuras gerações. É uma agricultura que conserva
o solo, a água e recursos genéticos animais, vegetais e microrganismos, não
degrada o meio ambiente e é tecnicamente apropriada, economicamente
viável e socialmente aceitável” (Kitamura, 2002). Diante do novo paradigma
de agricultura sustentável, enfatiza-se a importância da crescente relação
agricultura/homem/meio ambiente. Com intuito de assegurar a
sustentabilidade nessa relação é necessário o conhecimento dos fatores e
processos que regem essas relações e, portanto, a necessidade de se
visualizar o sistema estudado de forma holística. No entanto, dois problemas
surgem quando tentamos a visualização holística de um sistema: (i) sua
complexidade devido ao grande número de processos e mecanismos
envolvidos e (ii) a visão reducionista por parte dos pesquisadores, que na sua
maioria estuda os processos e mecanismos de forma isolada e com
interesses específicos. Provavelmente, este último problema esteja
relacionado à ausência de uma equipe multidisciplinar para se estudar todo o
sistema de forma integrada. Como conseqüência, conclusões bastante
simplistas são obtidas de estudos onde se tem uma visão reducionista do
problema estudado. A modelagem matemática e a simulação de sistemas,
como ferramentas dentro da pesquisa agropecuária possibilitam a integração
e organização do conhecimento sobre os processos que compõem um
sistema a ser estudado permitindo conclusões mais completas e confiáveis. A
modelagem matemática e a simulação de sistemas permitem que se evolua
para um estágio de desenvolvimento metodológico mais avançado, onde se
66 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

integra de forma organizada o conhecimento gerado em estudos


monodisciplinares (Pessoa et al., 1997).

Objetivos Gerais da Modelagem Matemática


e da Simulação de Sistemas
Dentre os objetivos gerais que a ferramenta modelagem matemática e
simulação de sistemas tem dentro da pesquisa agropecuária pode-se
destacar:
 integrar e sintetizar o conhecimento de forma organizada;
 sintetizar os processos que descrevem o sistema em estudo, bem como
suas interações;
 auxiliar no dimensionamento de novas linhas de pesquisa;
 auxiliar no planejamento e elaboração de novos experimentos (simulações
preliminares podem reduzir a quantidade de experimentos e, portanto,
permitir uma economia de tempo e recursos financeiros);
 avaliar o comportamento de fatores que possam induzir o aparecimento de
impactos negativos ou indesejáveis ao sistema;
 auxiliar na compreensão das particularidades dos processos que compõem
o sistema (isso porque muitos modelos matemáticos descrevem esses
processos de maneira bastante detalhada); e
 visualizar o comportamento futuro do sistema através da criação de
cenários alternativos que ainda não foram explorados experimentalmente.

Vantagens e Desvantagens da Utilização


da Modelagem Matemática e da
Simulação de Sistemas
Comparando-se a experimentação tradicional com a ferramenta modelagem
matemática e simulação de sistemas, esta última pode apresentar algumas
vantagens a saber:
 baixo custo (o custo de execução de um simulador, ou seja, de um
programa computacional é bem inferior ao custo de implementação e
condução de um experimento de campo ou laboratório. No entanto, o custo
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas 67

de criação e manutenção de um programa de computador pode ser alto,


dependendo do tempo gasto e do tamanho da equipe técnica envolvida);
 rapidez na obtenção dos resultados (geralmente o tempo de execução de
alguns simuladores é bem inferior ao tempo de duração de um experimento
de campo e/ou laboratório. Em algumas situações esses simuladores
fornecem resultados com tempo de execução em torno de alguns minutos);
 capacidade de gerar informação completa (isto somente é possível porque
esses simuladores são capazes de integrar o conhecimento de forma
organizada);
 possibilidade de criar cenários diversificados (cenários que ainda não
foram estudados experimentalmente devido à complexidade e
inviabilidade de sua instalação e condução); e
 possibilidade de identificação e proposição de cenários ideais (cenários
esses que mais se ajustam e refletem os objetivos esperados).

No entanto, esta ferramenta também pode apresentar algumas


desvantagens, a saber:

 necessidade de validação, ou seja, necessidade de comparação dos


valores simulados (preditos) com os valores experimentais (observados ou
medidos), com o objetivo de concluir se o simulador utilizado realmente
descreve o sistema estudado, indicando assim que os processos descritos
pelo simulador de fato refletem o sistema estudado; e
 pode apresentar várias soluções para um mesmo problema. Em algumas
situações pode-se ter várias combinações de dados de entrada que levem
aos mesmos valores simulados. Isto acontece principalmente quando se
obtém os dados de entrada através de calibração do simulador ou
modelagem inversa.

Terminologia
Sistema = conjunto estruturado de atributos que descrevem as principais
características de um problema e/ou situação real a ser estudada, bem como
as relações de dependência entre esses atributos. De uma maneira mais
simplista, pode ser definido como uma parte limitada da realidade que contém
elementos inter-relacionados (De Wit, 1993).
68 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Modelo = representação simplificada de um processo e/ou sistema em uma


determinada forma de linguagem.
Modelo matemático = representação de um processo em uma linguagem
matemática. Como exemplo, tem-se o modelo matemático que descreve a
variação da umidade volumétrica do solo em função da profundidade e do
tempo (conhecida comumente como equação de Richards):

     
  K   1  S (1)
t z   z 

onde q é a umidade volumétrica do solo (cm3 cm-3), t é o tempo (minuto), z é a


distância vertical (cm), K é a condutividade hidráulica não-saturada
(cm minuto-1), y é o potencial da água no solo (cm) e S corresponde à taxa de
absorção de água pelas raízes da planta (minuto-1) .

Simulador = apresenta um ou mais modelos matemáticos para a descrição


do sistema estudado. Neste caso, pode-se citar, como exemplo, o simulador
CENTURY (Parton et al., 1988) que integra inúmeros modelos matemáticos
para descrição de vários processos que descrevem o sistema “matéria
orgânica do solo”.

Classificação dos Modelos


Os modelos podem ser classificados conforme suas funções e níveis de
complexidade. Atualmente, existem diferentes propostas de classificação
para se agrupar os modelos conforme características comuns. Como o
propósito deste capítulo é mostar os aspectos gerais da ferramenta
modelagem matemática e simulação de sistemas, uma classificação mais
simples e, portanto, mais generalist, é apresentada.

1) Modelo conceitual = são modelos que apresentam de forma clara,


objetiva e organizada os principais processos que descrevem o sistema real a
ser estudado. Dessa maneira, esses modelos ajudam para uma visão
holística do sistema considerado, e a visualizar os processos mais relevantes
que serão estudados, bem como suas interrelações. A Fig. 1 mostra um
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas 69

exemplo de um modelo conceitual que descreve a partição da precipitação na


superfície do solo adotada pelo simulador CENTURY. De maneira geral, o
total de água proveniente da precipitação é particionado em infiltração,
evaporação e transpiração.

Precipitação

Transpiração

Evaporação

Infiltração

Fig. 1. Modelo conceitual mostrando a partição da precipitação na superfície do solo


adotada pelo simulador CENTURY.
Fonte: (Parton et al. (1988).

2) Modelo matemático = conforme definido anteriormente, corresponde à


descrição de um processo que compõe o sistema estudado utilizando-se da
linguagem matemática. Considerando apenas os modelos matemáticos,
alguns subtipos são apresentados:

2.1) Modelos descritivos ou empíricos = são os modelos mais difundidos no


meio agronômico. Correspondem a equações matemáticas que apenas
representam os dados experimentais de forma aceitável, sem nenhuma
preocupação em explicar os processos envolvidos. Como conseqüência,
70 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

qualquer extrapolação das conclusões para condições diferentes daquelas


em que o experimento foi realizado é extremamente perigosa. Dessa forma,
esses modelos apresentam uma limitação na sua capacidade preditiva. Como
exemplo, tem-se o modelo matemático utilizado para descrever a retenção da
água no solo em função do seu potencial matricial (Van Genuchten, 1980):

s r
     r  (2)
1     n 11 n

onde qr é a umidade volumétrica residual (cm3 cm-3), qs é a umidade


volumétrica saturada (cm3 cm-3) e a e n são parâmetros específicos de cada
solo e obtidos através do ajuste dos dados medidos à equação (2). Para cada
tipo de solo estudado, novos valores dos parâmetros a e n devem ser obtidos,
o que limita então a capacidade preditiva do modelo quando em condições
diferentes daquelas em que foram obtidos os dados experimentais.

2.2) Modelos explanatórios = são modelos que buscam descrever os dados


experimentais através da explicação dos processos e/ou mecanismos que
fazem parte do problema estudado. Na verdade, esses modelos somente são
possíveis porque pode-se estabelecer diferentes níveis de organização
dentro de um sistema. Esses níveis de organização, por sua vez, podem ser
distinguidos por diferentes níveis de integração nos quais os processos
ocorrem. Considerando o sistema solo, por exemplo, os diferentes níveis de
integração podem ser diferenciados com base na dimensão ou escala do
sistema. Partindo-se da menor escala para a maior tem-se: (i) molécula, (ii)
partículas de solo, (iii) agregados, (iv) perfil do solo, (v) pedon, (vi) gleba, (vii)
bacia hidrográfica e (viii) região. Os modelos explanatórios demandam pelo
menos dois níveis de integração. A Fig. 2 mostra um exemplo da aplicação de
um modelo explanatório para se estudar a dinâmica da matéria orgânica do
solo em condições de campo, com base em dados coletados sobre a sua
dinâmica em agregados do solo. Em síntese, os dados provenientes de
estudos em laboratório sobre a dinâmica da matéria orgânica em agregados
de solo são utilizados para alimentar um modelo explanatório (ou até mesmo
um simulador) que, por sua vez, irá explicar o comportamento da matéria
orgânica em uma escala maior em nível de campo. Como se observa na Fig. 2,
os modelos explanatórios utilizam-se de dois níveis de integração:
(i) o nível explicativo (agregados do solo) e (ii) o nível a ser explicado (campo).
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas 71

Comportamento da
matéria orgânica do
solo em nível de campo Nível a ser explicado

Dados de
clima,solo Modelo explanatório Modelo explanatório
e culturas

Comportamento da
matéria orgânica nos
agregados do solo Nível explicativo

Fig. 2. Esquema de um modelo explanatório para descrever o comportamento da


matéria orgânica do solo em nível de campo, baseando-se no conhecimento obtido em
estudos de laboratório, utilizando-se agregados do solo.
Fonte: Adaptado de Boesten (2000).

2.3) Modelos determinísticos = são também chamados de modelos não-


probabilísticos. Têm como característica principal a representação dos dados
de entrada através de valores únicos. Dessa forma, também geram valores
simulados únicos.

2.4) Modelos estocásticos = são também chamados de modelos


probabilísticos, já que os dados de entrada podem ser representados por
variáveis aleatórias. Entende-se por variáveis aleatórias aquelas que podem
ser representadas por uma distribuição de probabilidade, ou seja, designa-se
uma probabilidade para sua ocorrência. Conseqüentemente, os resultados
simulados correspondem a intervalos de valores e não apenas a valores
únicos.
72 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Principais Etapas para Elaboração e Teste


de um Simulador
As principais etapas para elaboração e teste de um simulador e/ou modelo
matemático são apresentadas na Fig. 3. Inicialmente, deve-se definir e ter
um conhecimento bem fundamentado do problema a ser estudado.
Posteriormente, há necessidade de se elaborar um modelo conceitual do
problema a ser estudado com objetivo de se visualizar os principais processos
e mecanismos que definem o sistema bem como suas inter-relações. Como
falado anteriormente, o modelo conceitual nos ajuda a ter uma visão holística
do sistema estudado. Na etapa seguinte, procura-se descrever os principais
processos do sistema em uma linguagem matemática que serão,
posteriormente, traduzidos para uma linguagem computacional objetivando a
elaboração de um programa que solucionará as equações matemáticas,
utilizando um procedimento de solução numérica estável. Este programa
computacional será alimentado com os dados de entrada, gerando os valores
simulados ou preditos. Esses dados de entrada devem ser obtidos em
condições experimentais que sejam semelhantes às do sistema estudado.
Em várias situações, a obtenção de alguns desses dados de entrada
experimentalmente é dificultada por limitações de custo e infra-estrutura.
Dessa forma, procura-se uma complementação com dados provenientes da
literatura. Os valores simulados são comparados com os valores observados
ou medidos. Após essa comparação, conclui-se se o simulador é capaz de
gerar uma descrição satisfatória do sistema estudado, ou seja, se o problema
estudado pode ser analisado utilizando-se a técnica da modelagem
matemática e simulação de sistemas. Caso a descrição do sistema estudado
pelo simulador não seja satisfatória, devem-se rever todos os passos
começando-se pela elaboração do modelo conceitual. Pode acontecer de se
omitir algum processo que seja importante para descrição do sistema
estudado, ou até mesmo que o modelo matemático utilizado para descrição
não seja o mais indicado. É importante ressaltar que a obtenção de dados de
entrada para o simulador, através de procedimentos experimentais,
corresponde a uma parte crucial no teste dos simuladores. Dessa maneira,
procedimentos experimentais inadequados (amostragem, procedimentos
analíticos, etc.) podem ser uma fonte de erro nas discrepâncias entre os
valores simulados e observados.
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas 73

Problema a ser estudado

Modelo conceitual

Modelo(s) matemático(s)

Dados de
Programa de computador
entrada

Valores simulados Valores medidos

Não Descrição satisfatória Sim

Fig. 3. Principais etapas para elaboração e teste de simuladores.


Fonte: adaptado de Boesten (2000).

Conclusões
Diante da necessidade de se obter conclusões mais completas e confiáveis
dos problemas estudados, utilizando-se de recursos financeiros, cada vez
mais escassos para pesquisa científica, a ferramenta modelagem matemática
e simulação de sistemas, tem exercido um papel fundamental na integração
do conhecimento de forma organizada e gerando informações rápidas com
baixo custo. Embora ainda não seja uma ferramenta bastante difundida na
pesquisa agropecuária brasileira, pesquisadores têm reconhecido o potencial
de utilização dessa ferramenta, bem como suas inúmeras vantagens quando
encarada de forma complementar à tradicional experimentação de laboratório
e campo. Um exemplo tem sido a utilização da modelagem matemática e
simulação, em estudos da dinâmica da matéria orgânica no solo, com o uso de
vários simuladores, tais como: RothC (Jenkinson, 1990), CANDY (Franko et
al., 1996), CENTURY (Parton et al., 1988) e DAISY (Hansen et al., 1991).
74 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Referências
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behaviour models for the soil/plant system. Weed Research, Oxford, v. 40,
p. 123-138, 2000.

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terminology. In: LEFFELAAR, P. A. (Ed.). On systems analysis and
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HANSEN, S.; JENSEN, H. E.; NIELSEN, N. E.; SVENDSEN, H. Simulation of


nitrogen dynamics and biomass production in winter wheat using the Danish
simulation model DAISY. Fertilizer Research, Hague, v. 27, p. 245-259, 1991.

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PARTON, W. J.; STEWART, J. W. B.; COLE, C. V. Dynamics of C, N, P and S


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1988.

PESSOA, M. C. P. Y.; LUCHIARI JUNIOR, A.; FERNANDES, E. N.; LIMA,


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Embrapa-CNPMA, 1997. 83 p. (Embrapa-CNPMA. Documentos, 8).

VAN GENUCHTEN, M. Th. A closed form equation for predicting the hydraulic
conductivity of unsaturated soils. Soil Science Society of America Journal,
Madison, v. 44, p. 892-898, 1980.
Modelagem Matemática e
4
Simulação da Dinâmica da
Matéria Orgânica do Solo

Eduardo de Sá Mendonça
Luiz Fernando Carvalho Leite

Resumo - A dinâmica da matéria orgânica do solo (MOS) é o resultado


da interação entre os diversos fatores ambientais e as interferências
antropogênicas. O adequado entendimento dessa dinâmica permite melhor
manejo do solo, uma vez que a MOS afeta diretamente a sua qualidade e
produtividade. O crescente volume de informações sobre os diversos
processos envolvidos na dinâmica da MOS, além do grande avanço na
capacidade de processamento de dados, tem propiciado o desenvolvimento
de eficientes simuladores dessa dinâmica. Vários simuladores vêm sendo
utilizados com bons resultados em diversos ecossistemas, principalmente em
ambientes temperados. A universalização dos simuladores, no entanto,
necessita de maior desenvolvimento para áreas tropicais e subtropicais.
Neste capítulo serão revisados os principais aspectos relacionados com a
modelagem matemática e simulação da dinâmica da matéria orgânica do
solo, sendo discutidos os principais simuladores existentes, suas vantagens e
limitações, assim como as possibilidades de sua utilização em ambientes
tropicais e subtropicais. Dentre os simuladores disponíveis o Century
apresenta-se como um dos mais promissores, demonstrando ótimo potencial
para simular a dinâmica da MOS em diversos agroecossitemas. Todavia,
ajustes são necessários para aumentar a acurácia do simulador, com a
possível inclusão de novas variáveis de entrada e adequação das taxas de
decomposição dos compartimentos de carbono às condições tropicais e
subtropicais.
76 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Mathematic Modelling and


Simulation of Soil Organic
Matter Dynamics

Abstract - Soil organic matter (SOM) dynamics results from the


interaction among the different environmental factors and anthropogenic
interferences. The adequate understanding of these processes allows a better
soil management, since soil organic matter affects directly soil quality and
productivity. The increasing amount of information on processes involved in
SOM dynamics has given the opportunity of developing efficient simulation
models. Several models have been used with good results in various
ecosystems, mainly on temperate environments. The universalization of those
models, however, demands an better development to tropical and subtropical
areas. In this chapter, the major aspects of modeling soil organic matter
dynamics will be revised, discussing the characteristics of the principal
available models, their advantages and limitations, as well as their possibilities
for tropical and subtropical environments. Among the available options,
Century represents one of the most promising models, showing a good
potential to simulate SOM dynamics in several ecosystems. Nevertheless,
several adjustments are needed to increase the accuracy of the model, with
the possible inclusion of new input variables and the modification of
decomposition rates of the different SOM pools under tropical and subtropical
conditions.
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 77

Introdução
O solo é considerado um sistema vivo e dinâmico, onde são encontrados
milhares de organismos e pequenos animais intimamente associados à
matéria orgânica, utilizando-a como fonte de energia e de nutrientes
necessários as biossínteses celulares, principalmente dos microrganismos. A
energia e os nutrientes disponíveis aos microrganismos são provenientes dos
resíduos vegetais e animais e estão contidos numa ampla variedade de
compostos orgânicos tais como carboidratos, lignina, proteínas, lipídios e
substâncias húmicas. Conseqüentemente, a fração orgânica do solo
representa um sistema complexo, constituído de diversas substâncias, sendo
sua dinâmica determinada pela incorporação de material vegetal e animal ao
solo e pela transformação destes, por meio da ação de distintos grupos de
microrganismos, de enzimas e da fauna do solo.
A dinâmica da matéria orgânica do solo (MOS) afeta diretamente a qualidade
e produtividade do solo e tem sido objeto de estudo desde o início da Ciência
do Solo. Com o aperfeiçoamento dos métodos experimentais, os
pesquisadores foram acumulando gradativamente informações importantes
sobre a dinâmica do C e do N do solo, o que aumentou a capacidade de
manejar a MOS. Simultaneamente, modelos conceituais, envolvendo os
processos relacionados à dinâmica da MOS, passaram a ser desenvolvidos.
Diversos pesquisadores enfocaram processos individuais, mas faltavam as
ferramentas e os conhecimentos necessários para compreender o complexo
ambiente solo de uma forma integrada. No entanto, os avanços observados
na tecnologia dos computadores, sensoriamento remoto, procedimentos de
amostragem e métodos analíticos de laboratório permitiram avanço
significativo no conhecimento dos processos de C e N e suas interações.
Os simuladores da dinâmica da MOS surgiram, inicialmente, considerando
um único compartimento, evoluindo posteriormente para modelos teóricos
mais complexos, com vários reservatórios e processos integrados.
Acoplaram-se simuladores de vegetação, fluxos de água e nutrientes no solo
e, mais recentemente, sistemas de informação geográficas, tornando-os mais
complexos e permitindo a universalização dos mesmos. Com isso, as
ferramentas passaram a não somente a ajudar no entendimento dos
processos e componentes que controlam a dinâmica da MOS e de seus
compartimentos em solos cultivados, mas também a realizar predições
acerca de efeitos de mudanças ambientais, testar cenários específicos e
desenvolver estratégias para mitigar os efeitos negativos dessas mudanças.
78 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

A universalização dos simuladores, no entanto, exige o levantamento de


dados e informações sobre os diversos ecossistemas do planeta, para que os
mesmos possam ser adequadamente parametrizados. A maioria dos
trabalhos, até o momento, focou em ambientes de clima temperado, sendo
muito pouco feito para áreas tropicais. Neste capítulo são revisados os
principais aspectos relacionados à modelagem matemática e simulação da
dinâmica da matéria orgânica do solo, sendo discutidos os principais
simuladores existentes, suas vantagens e limitações, assim como o estado da
arte em ambientes tropicais.

Composição da Matéria Orgânica do Solo


A matéria orgânica do solo (MOS) pode ser classificada em matéria orgânica
viva e morta. A matéria orgânica viva, que raramente ultrapassa o teor de 4%
do carbono orgânico total do solo (COT), pode ser subdividida em três
compartimentos: raízes (5%-10%), macrorganismos ou fauna do solo (1%-
30%), e microrganismos (60%-80%). O componente morto da matéria
orgânica pode contribuir com cerca de 98% do COT, podendo ser subdividido
em matéria macrorgânica e húmus. A matéria macrorgânica, ou fração leve,
geralmente é a menor fração da matéria orgânica morta, contendo cerca de
10%-30% do teor total de carbono orgânico do solo. Em solos do Rio Grande
do Sul, Bayer et al. (1999) verificaram que essa fração da MOS representou
10%-16% do COT, em virtude das condições climáticas favoráveis (altas
temperaturas e umidade) à atividade microbiana. Por outro lado, em Minas
Gerais, em um Argissolo Vermelho-Amarelo sob plantio direto, plantio
convencional e Floresta Atlântica, o carbono da fração leve representou 9%,
11% e 33% do COT, respectivamente, para a camada de 0-10 cm (Leite et al.,
2003). Basicamente, essa fração é composta por resíduos de plantas em
vários estágios de decomposição. Alterações nos estoques de matéria
orgânica leve do solo são indicativos em curto prazo dos efeitos dos sistemas
de manejo do solo.

O húmus é um compartimento que consiste de substâncias húmicas e não-


húmicas. As substâncias não-húmicas podem contribuir com 30% desse
compartimento e são grupos de compostos orgânicos bem caracterizados,
tais como carboidratos, lipídios, ácidos orgânicos, pigmentos e proteínas. As
substâncias húmicas, que contribuem com cerca de 70% do compartimento
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 79

húmus, consistem de moléculas humificadas em arranjos complexos, não


bem caracterizadas quimicamente. Esse compartimento é o principal
componente da MOS, consistindo na reserva orgânica do solo e, por isso, a
maior parte da pesquisa com matéria orgânica está voltada para o estudo
dessa fração.

O material humificado consiste de uma série de polieletrólitos de coloração


amarelada à preta, com grande peso molecular e muito ácido. Essas
substâncias são formadas por reações secundárias de síntese e têm
propriedades distintas dos biopolímeros de organismos vivos, incluindo a
lignina das plantas superiores. No solo, podem ser adsorvidas pelos colóides
argilosos, formando complexos argilo-húmico, ou reagir, por exemplo, com os
íons Ca2+ e Al3+, ficando, nessas condições, mais resistentes à biodegradação.
Algumas frações húmicas do solo podem subsistir durante alguns anos e
chegar, até mesmo, a 20 mil anos. Por outro lado, há casos em que a duração
da fração húmica do solo é muito curta, como, por exemplo, em solos tropicais,
com baixos teores de argila.

Compartimentalização da
Matéria Orgânica do Solo
Definir a qualidade, disponibilidade e atividade dos nutrientes nos substratos
orgânicos em diferentes compartimentos do solo é a chave para entender e
descrever os processos de mineralização-imobilização dos nutrientes na
forma orgânica. Independente da forma orgânica do nutriente, a matéria
orgânica dos diferentes tipos de solos difere quanto à qualidade e habilidade
de suprir nutrientes às plantas. Assim, a tentativa de compartimentalizar a
MOS pode ser um bom instrumento para se compreender o seu potencial de
fornecimento de nutrientes. Com base em vários trabalhos, Duxbury et al.
(1989) sugeriram a organização da MOS em compartimentos protegidos e
não-protegidos (Tabela 1).
Os compartimentos não-protegidos BIO (biomassa microbiana) e LAB (lábil)
se caracterizam pela biomassa microbiana e pelos resíduos vegetais e
microbianos parcialmente decompostos e seus respectivos produtos de
transformação. O tamanho desses compartimentos está diretamente
relacionado com o aporte de material orgânico e sua taxa de decomposição. O
80 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Tabela 1. Compartimentos da matéria orgânica do solo, generalizando a taxa


de ciclagem e hipótese dos controles primários do tamanho dos
compartimentos.

Tempo de Controle do tamanho


Compartimentos
Ciclagem dos compartimentos
.NÃO-PROTEGIDO
2,5 anos em clima
Disponibilidade de
- BIO (biomassa microbiana) temperado e 0,25 ano
substrato (CA)
em clima tropical úmido
20 anos em clima
Clima e disponibilidade
- LAB (lábil) temperado e 5 anos em
de substrato (CA) (CI)
clima tropical úmido

. PROTEGIDO

- Matéria orgânica
Mineralogia e textura do
quimicamente protegida 1.000 anos
solo (CI) (CP)
(proteção coloidal)

Sistemas de preparo do
- Matéria orgânica Dependente do manejo
solo, quebra de
fisicamente protegida do solo (resistência
agregados, textura do
(proteção estrutural) física)
solo (CP)
CA = Compartimento ativo - macroagregados; CI = Compartimento intermediário -
microagregados dentro de macroagregados; CP = Compartimento passivo - intra
microagregados.
Fonte: Adaptado de Duxbury et al. (1989).

compartimento BIO pode representar até 4% do COT. Leite et al. (2003)


avaliaram, em um Argissolo Vermelho-Amarelo, a proporção carbono da
biomassa microbiana em relação ao carbono orgânico total (CMIC/COT) e
verificaram, na profundidade de 0-10 cm, maiores valores para o solo sob
Floresta Atlântica (2,6%) e sob plantio direto (2,3%) em relação ao solo sob
preparo convencional (2,2%). Esta tendência também foi observada, em um
Latossolo Roxo do Paraná, sob sistema plantio direto (1,18% a 1,68%) e
convencional (1,16% a 1,48%), nas profundidades de 0-5, 5-10 e 10-15 cm
(Balota et al., 2004). O compartimento BIO é o de menor tempo de ciclagem da
MOS e é composto por células vegetativas em plena atividade funcional, o que
o torna um importante reservatório de nutrientes potencialmente disponíveis
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 81

às plantas. Portanto, é esperado que a ciclagem dos nutrientes nos


compartimentos não-protegidos (BIO e LAB) seja alta, fazendo com que os
tamanhos destes compartimentos de carbono e de nutrientes sejam menores
em regiões tropicais do que em regiões temperadas. Por outro lado, sistemas
de manejo, como o plantio direto, que priorizam o aporte de matéria orgânica
ao solo, devem favorecer um aumento significativo desses compartimentos.
Os nutrientes presentes nos compartimentos BIO e LAB têm uma taxa de
ciclagem rápida, ficando prontamente disponíveis às plantas ou sendo
perdidos por lixiviação (principalmente o nitrogênio), dependendo do
sincronismo entre taxa de mineralização e absorção de nutrientes pelas
plantas. Atualmente, pode-se assumir que cerca de 5% do carbono (C) e
nitrogênio (N) totais do solo estão estocados em células vivas.
Os tamanhos dos compartimentos físico e quimicamente protegidos estão
relacionados com o manejo, a textura e a mineralogia do solo (Tabela 1). A
maior parte da matéria orgânica e dos nutrientes do solo está nesses
compartimentos. O tempo de ciclagem dos nutrientes é controlado pelo grau
de proteção, intra e inter-microagregados, e pelo grau de interação do
nutriente com a matéria orgânica. Os nutrientes que interagem com a matéria
orgânica por meio de ligações eletrostáticas estarão prontamente disponíveis
para serem absorvidos pelas plantas, enquanto aqueles que formam quelatos
com a matéria orgânica quimicamente protegida terão um tempo de ciclagem
maior. O tempo de ciclagem varia muito com o manejo e de como o nutriente
pode interagir com a matéria orgânica. Como exemplos, tem-se o N orgânico
que pode estar na forma aminada ou participando do anel heterocíclico; ou o
Ca do sítio de troca, ligado por ligações eletrostáticas, ou o Ca fortemente
ligado à matéria orgânica de uma forma não disponível às plantas, formando
quelatos com as substâncias húmicas; ou mesmo o P imobilizado nas células
microbianas.

No Rio Grande do Sul, Bayer et al. (1999) avaliaram a estabilidade da MOS em


três solos diferentes, submetidos ao sistema plantio direto e ao preparo
convencional. As taxas de decomposição (K2) da MOS no SPD, calculadas
como a relação adição anual efetiva (AK1) de C/conteúdo de C no solo
(0-17,5 cm), variaram de 4,9% no Argissolo Vermelho-Amarelo a 2,9% no
Argissolo Vermelho-Escuro e 1,2% no Latossolo Vermelho distroférrico e
foram inversamente proporcionais aos teores de argila, óxidos de ferro e
caulinita desses solos. No Argissolo Vermelho-Escuro a taxa de
decomposição do MOS no preparo convencional foi 86% maior que a
82 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

verificada no plantio direto. Entretanto, no Latossolo Vermelho distroférrico,


que apresentava teores bem mais elevados de argila, caulinita e óxidos de
ferro, a taxa de decomposição da MOS no preparo convencional foi apenas
17% mais elevada que a do sistema plantio direto. Estes resultados
evidenciaram o maior efeito (em termos relativos) dos sistemas de manejo no
teor de matéria orgânica em solos mais arenosos e o importante papel da
estabilização física da matéria orgânica em solos tropicais e subtropicais
(Bayer et al., 1999).

No sistema plantio direto, o aporte constante de resíduos orgânicos ao solo


favorecerá a ciclagem, independente da forma com que o nutriente esteja
ligado à matéria orgânica do solo. Contudo, quando o aporte orgânico é
dominado por material de baixa taxa de decomposição (ex.: materiais ricos em
lignina ou polifenóis e, ou, de elevada relação C/N), ocorrerá o favorecimento
do processo de humificação e, conseqüentemente, acúmulo de matéria
orgânica e de nutrientes nos compartimentos protegidos. Os nutrientes
presentes nesses compartimentos servirão como reserva do solo, pois terão
baixa taxa de mineralização e, conseqüentemente, menor disponibilidade às
plantas. Por outro lado, quando no aporte orgânico há predomínio de
materiais vegetais de rápida decomposição, haverá favorecimento no
aumento dos compartimentos BIO e LAB, acarretando uma ciclagem mais
rápida dos nutrientes.
Estes compartimentos podem ser determinados por meio de métodos
analíticos, como por exemplo, técnicas de fracionamento, por granulometria
ou por densidade, ou por modelos de simulação de longa duração (2.000-
3.000 anos).

Modelagem da Dinâmica da
Matéria Orgânica do Solo
Histórico
Um dos primeiros simuladores de dinâmica da MOS foi o desenvolvido a partir
do trabalho de mineralização potencial de Stanford & Smith (1972), embora
trabalhos mais antigos esboçassem os primeiros esforços de modelagem da
dinâmica da MOS, como os trabalhos de Jenny (1941), Henin & Dupuis (1945)
e Olson (1963). Entre as principais modificações ocorridas nos últimos 30
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 83

anos nos estudos de dinâmica da MOS está o desenvolvimento de modelos


de simulação da dinâmica da matéria orgânica e dos processos associados
em um agroecossistema. Isto se tornou possível por meio da adoção de
computadores com velocidade e memória suficientes, possibilitando
simulação de sistemas e subsistemas do solo integrados (Shaffer et al., 2001).

A origem dos simuladores da dinâmica da MOS, com uso de computador,


ocorreu no início dos anos 70, com a criação de modelos de ciclagem de C e N,
reportado por Dutt et al. (1972), nos Estados Unidos e Beek & Frissel (1973)
na Europa. Esses modelos foram os primeiros a associar C e N e relacionar os
subprocessos de um sistema solo-cultura-nutriente em um simulador
integrado. A partir disso, diversos simuladores da dinâmica da MOS foram
surgindo, tais como aqueles desenvolvidos por Hunt (1978) e Anderson
(1979). Nos anos 80, o interesse na modelagem agrícola aumentou devido à
importância crescente da temática ambiental e, por isso, outros simuladores
de dinâmica de MOS foram criados em consonância com os simuladores de
crescimento de culturas, tais como o NCSOIL (Molina et al., 1983), EPIC
(William & Renard, 1985), CERES (Ritchie et al., 1986) e CENTURY (Parton et
al., 1987), nos Estados Unidos; e PAPRAN (Seligman & Van Keulen, 1981) e
SOILN (Johnsson et al., 1987) na Europa. No final dos anos 80 e início dos
anos 90, foram desenvolvidos outros simuladores, com maior grau de
refinamento e que incluíam submodelos de dinâmica de N, como por exemplo,
DAISY (Hansen et al., 1990), VERBERNE (Verberne et al., 1990), SUNDIAL
(Bradybury et al., 1993), CENTURY (Parton & Rasmussen, 1994), CANDY
(Franko et al., 1996), DNDC (Li, 1996), ROTHC (Coleman & Jenkinson, 1996),
SOILN (Eckersten et al., 1996) e ECOSYS (Grant, 1997). Após a década de
90, a modelagem foi modificada e otimizada com o desenvolvimento de
interfaces gráficas; aumento no enfoque das interações dos processos com o
ambiente; aplicação do sistema de modelagem Stella; e a introdução dos
simuladores interativos com internet (Shaffer et al., 2001).

Compartimentos e estrutura dos modelos de MOS


O monitoramento das mudanças de uma forma de C para outra e de um
compartimento ambiental para outro tem sido usado como base para simular a
dinâmica das transformações do C orgânico do solo e os processos de
ciclagem de C. Como as técnicas analíticas tornaram-se mais sofisticadas, os
simuladores também passaram a ser mais refinados. Jansson (1958), usando
84 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

isótopo 15N para monitorar as transformações do N do solo, foi o primeiro a


propor que a MOS pudesse ser dividida em fases (ou compartimentos) ativas
e passivas. Jenkinson & Rayner (1977) aplicaram os mesmos princípios para
as transformações do C orgânico do solo e assumiram que os compostos de C
em um compartimento teriam reatividades similares. Com o advento de
técnicas para estimativa da biomassa microbiana do solo, a maioria dos
simuladores passou a incluir pelo menos três compartimentos de reatividades
diferentes: ativo ou lábil, com tempo de ciclagem muito rápido (< 10 anos),
intermediário (100 a 1.000 anos) e passivo (> 1.000 anos). Por não terem
identidade física ou representar diferentes frações químicas no solo, é
extremamente difícil caracterizar adequadamente a natureza física e química
desses compartimentos, embora diversas tentativas tenham sido feitas para
se avaliar fracionamentos e técnicas analíticas capazes de mensurá-los. Em
geral, o compartimento ativo tem sido associado a soma do C da biomassa
microbiana, obtida pelos processos de fumigação-extração ou irradiação-
extração, e o C extraído pelo K2SO4, das amostras não fumigadas ou não
irradiadas (Metherell et al., 1993; Motavalli et al., 1994). Para o compartimento
intermediário ou lento, tem sido sugerido que a matéria orgânica particulada,
obtida por meio de fracionamento por granulometria (Cambardella & Elliot,
1992), ou o carbono da fração leve, identificado por meio de flotação em
líquido de alta densidade (Janzen et al., 1992), possam representá-lo nos
estudos em solos tropicais (Capítulo 5). O compartimento passivo tem sido
obtido por diferença, i.e. o COT menos a soma dos compartimentos ativo e
lento, desde que, não há ainda, um método analítico que possa ser associado
ao compartimento teórico, pressuposto nos modelos de simulação. Por outro
lado, nos estudos de Leite et al. (2003), observaram-se valores muito
próximos do compartimento passivo obtido por diferença e àquele
determinado pela soma das substâncias húmicas, o que pode indicar a
necessidade de se testar essa associação, para validação deste pressuposto,
em outros ambientes.

O número de compartimentos nos simuladores da dinâmica da MOS pode


variar. Alguns simuladores consideram a MOS unicompartimental, como o
proposto por Henin & Dupuis (1945) e aplicado por Woodruff (1949) para o
nitrogênio. Outros simuladores, como o Century, apresentam maior
complexidade e consideram a MOS distribuída em vários compartimentos. A
vantagem dos simuladores unicompartimentais reside na sua maior
simplicidade, uma vez que consideram a matéria orgânica como sendo
uniforme no solo. Esta simplificação facilita a sua aplicação e a verificação das
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 85

predições, levando à obtenção de taxas de mineralização médias e,


conseqüentemente, taxas de perda de C e N específicas para cada local. Além
disso, as facilidades na obtenção dos dados e nos cálculos de estimativas são
vantagens associadas ao uso desse tipo de simulador. Por outro lado, a
mesma simplificação gerada por considerar essa matéria orgânica uniforme,
constitui-se numa limitação, pois há diversos processos ocorrendo
simultaneamente e há compostos com tempos variáveis de permanência no
solo, em função dos mecanismos de estabilização (Parton et al., 1987;
Fernandes, 2002).
Os fluxos de C entre os compartimentos formam a estrutura dos simuladores
da dinâmica da MOS. Cada compartimento é caracterizado pela sua posição
na estrutura do simulador e pela sua taxa de decomposição. Estas taxas são
usualmente expressas por cinética de primeira ordem em relação à
concentração (C) do compartimento, dada por:

dC/dt= -kC, (1)

onde t é tempo. A taxa constante k de cinética de primeira ordem é associada


ao tempo requerido para reduzir pela metade a concentração do
compartimento quando não existe aporte. A meia vida dos compartimentos
(h=(ln2)/k), ou seu tempo de reciclagem (t =1/k) são algumas vezes usados ao
invés de k para caracterizar a dinâmica dos compartimentos; quanto menor a
taxa constante de decomposição, maior a meia vida, o tempo de reciclagem e
a estabilidade do compartimento orgânico.
A estrutura dos simuladores é fundamentada na pressuposição de que os
compartimentos da MOS são anéis de uma cadeia ligada por fluxos de C,
constituindo-se assim em um catenário de seqüência de substratos. Esta
seqüência representa o C deslocando-se dos resíduos vegetais e animais
para a biomassa microbiana do solo e para compartimentos orgânicos de
maior estabilidade (Fig. 1).

Na maior parte dos simuladores, o fluxo de saída de qualquer compartimento


orgânico é dividido para um compartimento microbiano, para outro
compartimento orgânico e, sob condições aeróbicas, para CO2. Essa divisão
simula as atividades anabólicas e catabólicas simultâneas e o crescimento de
população microbiana a partir do uso de determinado substrato e ocorre com
base em duas características: eficiência microbiana (utilização) e fator de
86 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

estabilização (humificação), que controlam o fluxo do C decomposto para os


compartimentos da biomassa e do húmus, respectivamente. Outras formas
de parametrização têm sido propostas. Por exemplo, o produto da
decomposição de cada compartimento orgânico do simulador RothC é
alocado para os compartimentos BIO, HUM e CO2 e tem relação direta com o
conteúdo de argila (Fig. 2). Em alguns simuladores a divisão dos fluxos de
entrada para as formas lábeis e resistentes é realizada a partir da
especificação de determinada variável. No simulador Century os resíduos
superficiais são divididos em compartimentos estruturais e metabólicos de
acordo com a relação lignina/nitrogênio (L/N) (Fig. 3).

Aporte Atmosférico

Queda da
Lo –
liteira

L – Liteira sobre e K1
no solo Mineralização

K3 – Transformação
por microrganismos

F – CHS, complexos de substância K2


húmicas com resíduos orgânicos
não decompostos

K4 – Consumo pela K5 – Consumo


micro(meso)fauna pela macrofauna
K6
H – húmus ligado a
minerais de argila

Lixiviação
Fig. 1. Compartimentos e fluxos do simulador SOMM.
Fonte: Chertov & Komarov, (1996).
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 87

DPM
Aporte CO2
Decomposição
Orgânico
RPM BIO CO2
Decomposição
BIO
HUM Decomposição

HUM
IOM

DPM - material vegetal decomposto HUM -matéria orgânica humificada


RPM - material vegetal resistente IOM - matéria orgânica inerte
BIO - biomassa microbiana

Fig. 2. Compartimentos e fluxos de carbono no simulador RothC.


Fonte: Coleman, & Jenkinson (1996).

Parte aérea Parte Raiz

Fm = 0.85 - 0.018 x LN
(1 - Fm) (1 - Fm) Fm

ESTRUTURAL ESTRUTURAL
METÁBOLICO METÁBOLICO
Lignina Celulose A Lignina Celulose A
K1 K2
LC A A K6
A CO2 LC
CO2 K5 K2 A
K1 CO2 0.55
0.6 LC
LC 0.3 CO2
CO2 CSA =
K4 0.55
CO2 MICROBIANO DA 0.6 (1 -CSP - 0.55)
A
0.3 SUPERFÍCIE ATIVO

K3 Tm = (1 - 0.75 x T)
CSA = (1 - CAP - CA L - F1) A

CO2
LENTO F1 = 0.85 - 0.68 x T)
C Al =
CO2 .
A
(H2O30/18) x (0.01 + 0.04 x TS )
0.55
L/N = Lignina / Nitrogênio K7

A = Fator de decomposiçãoabiótico
T = Conteúdosilte + argila CSP =0.003 - 0.009 x TC
CAP =0.003 + 0.032 x TC LIXIVIADO
TS = Conteúdo de areia
Tc = Conteúdo de argila
PASSIVO
Ls = Fração do Carbono Estrutural que é A
lignina CO2
K8
0.55
Lc = Exp(-3 x Ls)
H2O30 = água lixiviada na camada
abaixo de 30 cm
KL = Taxa de decomposição máxima
(ano -1)
Fm = Fração do resíduo metabólico
KI = 3.9, 4.8, 7.3, 6.0, 14.8, 18.5, 0.2,
0.0045 (ano -1)

Fig. 3. Compartimentos e fluxos de carbono no simulador Century.


Fonte: Parton et al. (1987).
88 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Nem todos os processos de decomposição induzem o crescimento


microbiano. No Century, a fração lignina dos resíduos vegetais é alocada
diretamente para o compartimento lento com liberação líquida de CO2, mas
sem qualquer contribuição concomitante para os compartimentos
microbianos, por isso, simulando a atividade de exoenzimas (Fig. 3). O
simulador Verberne pressupõe que os microrganismos mortos são compostos
de três frações: material microbiano não protegido; o mesmo material, mas
protegido contra imediata decomposição e compostos recalcitrantes. Estas
frações são decompostas pelos microrganismos com formação de CO2 e
biomassa microbiana. Por outro lado, há fluxos de C a partir do compartimento
recalcitrante para o compartimento protegido e do compartimento protegido
para os compartimentos estáveis, sem produção de CO2, ou crescimento
microbiano. As atividades de exoenzimas não são simuladas nos modelos
RothC e NCSOIL.

O C da biomassa microbiana representa pequena fração do COT (1%-5%),


embora seja fundamental pela rápida reciclagem e participação na maioria
dos processos metabólicos. Apesar do papel central, os simuladores utilizam
diferentes representações dos compartimentos microbianos e dos fluxos
associados. O RothC representa a biomassa microbiana como um único
compartimento (BIO). O NCSOIL utiliza dois compartimentos diferenciados
pelas taxas de decomposição. O Century distingue entre os microrganismos
responsáveis pela decomposição dos resíduos vegetais e os microrganismos
do solo que utilizam os resíduos do sistema radicular e a MOS como fonte de
energia e nutrientes. A maior complexidade é estabelecida pelo Verberne, no
qual cada solo tem a capacidade de proteger a população microbiana da
decomposição. Os microrganismos protegidos apresentam taxa de
decomposição de 0,5% dia-1 e os não protegidos decompõe-se em taxa maior,
70% dia-1.

Problemas associados aos simuladores de MOS


Apesar dos benefícios, os simuladores da dinâmica da MOS apresentam
também problemas, principalmente quando se pretende aplicá-los em nível
regional. O problema mais referenciado é a utilização de modelos para
condições diferentes daquelas usadas para a parametrização. A maior parte
dos modelos foi originalmente desenvolvida para uso em ecossistemas
específicos e uma faixa limitada de tipos de solos. Estas dificuldades, no
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 89

entanto, podem ser superadas pela identificação dos pontos críticos do


modelo e a avaliação feita com dados da região com a qual se pretende
estudar, certificando-se de que o desempenho é satisfatório e, se necessário,
calibrando para condições específicas dos locais.
A simulação da dinâmica do C orgânico em profundidade torna-se ineficiente
na maioria das vezes, pois muitos dos simuladores são parametrizados para
profundidades superficiais. O RothC, por exemplo, foi originalmente
desenvolvido para simular os primeiros 23 cm de solo, enquanto Century foi
criado para simular a profundidade de 0 a 20 cm. Em alguns estudos com o
RothC assumiu-se que a maioria do carbono concentrava-se nas camadas
mais superficiais do solo, mas aplicou-se o modelo com mesma taxa de
reciclagem de matéria orgânica até a profundidade de 1 m (Smith et al., 1999).
As diferenças na dinâmica do C orgânico em profundidade causam sérias
implicações na dinâmica total da matéria orgânica de um ecossistema.
Todos os simuladores da dinâmica da MOS são altamente dependentes da
qualidade e da quantidade de aporte de C para o sistema solo. A qualidade da
liteira é freqüentemente expressa pela relação C:N ou lignina:N, ou ajustada
empiricamente a partir de uma relação específica material resistente/material
decomponível (McGill, 1996). Para estimar a quantidade de C retornado ao
solo, fator crítico na determinação acurada da dinâmica da MOS, alguns
simuladores (ex.: Century) apresentam submodelos simples de produtividade
primária líquida (PPL) que fornecem aporte de C para várias culturas, outros
(ex.: Sundial) tem valores de aportes de C para várias espécies vegetais,
obtidos por meio da literatura, enquanto outros (ex. RothC), requerem que o
aporte de C pela planta seja informado. Para quaisquer dessas aproximações,
pequenos erros na quantidade de C da planta retornado ao solo pode induzir
grandes erros na predição da dinâmica da MOS. Por esta razão, o C da planta,
retornado ao solo, deve ser estimado efetivamente em qualquer aplicação do
modelo.
Inicialmente, os simuladores são testados com dados coletados de
experimentos detalhados e bem controlados, embora nem sempre haja
disponibilidade de informações minuciosas para todos os locais que se
pretende simular. Se por um lado é possível coletar dados de boa qualidade
para características do solo, por meio de amostragem de solo e para dados de
uso de solo e recentes mudanças no uso da terra, a partir de sensoriamento
remoto (fotografia aérea e imagens de satélites), é freqüentemente mais difícil
obter informações confiáveis acerca do histórico do manejo. Os detalhes do
90 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

histórico do uso da terra são essenciais para estabelecer tamanhos dos


compartimentos iniciais de MOS, pois áreas cultivadas há dez anos terão, por
exemplo, características bem diferentes daquelas cultivadas há duzentos
anos (Smith et al., 1999).

Além desses problemas, em alguns simuladores, como o Century, o número


de variáveis a ser parametrizado é muito grande e para algumas é difícil obter
os dados experimentais, mesmo por meio da literatura. Ainda, as variáveis de
saída são muitas e em diferentes submodelos, o que também dificulta sua
utilização.

O Simulador Century
Pressupostos
O Century, versão 5.0, foi desenvolvido com o objetivo de simular a dinâmica
de C e de nutrientes (N, P e S) e tem sido amplamente testado e aplicado em
diversos biomas naturais e cultivados, tipos de solos e climas (Falloon &
Smith, 2002). As principais variáveis de entrada do modelo são: temperatura
do ar, precipitação mensal, conteúdo de lignina do material vegetal, conteúdo
de N, P e S do material vegetal, textura do solo, aporte de N do solo e da
atmosfera e teor inicial de C, N, P e S nos diferentes compartimentos do solo.
O modelo contém vários submodelos, tais como, o submodelo de água, o
submodelo de produção vegetal e o submodelo de dinâmica da MOS.
O submodelo de MOS consiste de três compartimentos: a) ativo, que está
relacionado com os microrganismos e seus produtos, e que apresenta tempo
de reciclagem de um a cinco anos; b) intermediário ou lento, material
resistente de lignina e produtos microbianos estabilizados no solo, com tempo
de reciclagem de 20 a 40 anos; e c) passivo, associado à matéria orgânica
física e quimicamente protegida, com tempo de reciclagem de 200 a 500 anos.

No Century, a decomposição dos resíduos vegetais é decorrente da atividade


microbiana, com perda de CO2 devido à respiração microbiana. O material
vegetal é dividido em estrutural (compartimento mais recalcitrante de difícil
decomposição) e metabólico (compartimento prontamente decomponível
pela ação microbiana). A divisão dos resíduos nesses compartimentos é
controlada pela relação lignina:N. Quanto maior essa relação, maior a
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 91

proporção de carbono do resíduo que é alocado no compartimento estrutural.


A fração lignina não é alocada para o compartimento ativo, mas incorporada
diretamente ao compartimento lento da MOS, quando o material estrutural se
decompõe. Essa alocação da lignina para MOS lenta é baseada em dados de
incubação, determinados em laboratório com material de lignina marcado,
que evidenciam pequena fração (< 2 %) da lignina encontrada na biomassa
microbiana, com a maior parte (70%) sendo estabilizada no solo (Stott et al.,
1983). Além da lignina, algumas plantas tropicais apresentam altos teores de
polifenóis, especialmente sob condições de estresse ambiental (Palm, 1995).
Esses compostos podem competir com os microrganismos pelo N,
acarretando redução na taxa inicial de decomposição do material vegetal.
Talvez simuladores como o Century, que objetivem simular a dinâmica da
MOS em região tropical, possam melhorar sua capacidade preditiva com a
incorporação dessa informação. Similarmente à lignina, a textura do solo
apresenta papel importante no fluxo de C entre os compartimentos. A taxa de
reciclagem da MOS ativa decresce linearmente com o aumento do conteúdo
de silte mais argila, enquanto a eficiência de estabilização da MOS lenta
aumenta. A formação da MOS passiva e os fluxos de C da MOS ativa para
MOS passiva e da MOS lenta para a MOS passiva são dependentes do
conteúdo de argila. Maiores detalhes dos pressupostos e das equações que
controlam o fluxo de C nos compartimentos de MOS no modelo Century,
podem ser observados no trabalho de Leite & Mendonça (2003).
Os submodelos de N, P e S são semelhantes aos do C. Em cada
compartimento da MOS tem uma faixa de relação C:nutriente que permite a
ciclagem, baseada no modelo de McGill & Cole (1981). O N é estabilizado em
associação direta com o C. Dessa forma, a relação C:N que controla o
processo é mais estreita do que C:P e C:S. A relação C:nutriente é função da
quantidade de cada elemento no compartimento lábil inorgânico. Essa
relação regula a partição entre os processos de mineralização e imobilização.
A taxa de decomposição é reduzida se a quantidade de um elemento é
insuficiente para atender a demanda de imobilização promovida pelo
microbiota do solo.
92 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Simulações com o modelo Century em solos


tropicais
São escassos os estudos com o modelo Century em solos subtropicais e
tropicais. Há apenas alguns trabalhos em que são feitas simulações, em longo
prazo, da dinâmica da MOS sob diferentes sistemas agrícolas e quase
nenhum que compare os estoques de COT e de C nos compartimentos ativo,
lento e passivo, medidos por meio de métodos analíticos e simulados pelo
Century.
No trabalho de Leite et al. (2004), em um Argissolo Vermelho-Amarelo, em
Viçosa, MG, o modelo Century simulou a dinâmica da MOS, desde a
derrubada da Floresta Atlântica, em 1930, e conseqüente adoção da
agricultura convencional, até o período experimental (1984-2000), com
aplicação dos tratamentos (plantio direto, arado de disco, grade pesada +
arado de disco e grade pesada), e estendendo-se até o ano de 2050. Em todos
os sistemas, inclusive no plantio direto, foi observado declínio nos estoques
de COT e dos compartimentos de C, o que indicou a necessidade de
mudanças nas estratégias de manejo, como por exemplo a inclusão de
culturas de cobertura de elevado aporte de resíduos (Fig. 4). Houve redução
também nos estoques de N total e dos compartimentos de N (ativo, lento e
passivo), embora no sistema plantio direto tenha-se observado uma
tendência de recuperação desses estoques (Fig. 5).

Parton et al. (1989) utilizaram o Century para simular a dinâmica da MOS em


uma floresta no Havaí (EUA), uma pradaria na Tanzânia e um
agroecossistema tropical no Peru. Os autores observaram similaridade entre
os estoques de C orgânico total, medidos e simulados pelo modelo. No
entanto, em um dos locais (Tanzânia), Parton et al. (1989) observaram
subestimação pelo simulador dos estoques de C orgânico total e atribuíram à
mineralogia diferente daquela usada na parametrização do Century.
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 93

Fig. 4. Simulação pelo modelo Century da dinâmica do carbono orgânico total


(COT) e dos compartimentos de carbono (C) em um Argissolo Vermelho-Amarelo,
em Viçosa,MG. PD: plantio direto; AD: arado de disco; GPAD: grade pesada +
arado de disco; GP: grade pesada.

Fonte: adaptado de Leite et al. (2004).


94 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Fig. 5. Simulação pelo modelo Century da dinâmica do nitrogênio total (NT) e dos
compartimentos de nitrogênio (N) em um Argissolo Vermelho-Amarelo, em
Viçosa,MG. PD: plantio direto; GPAD: grade pesada + arado de disco.

Fonte: adaptado de Leite et al. (2004).


Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 95

No Brasil, Fernandes (2002) observou em um Argissolo Vermelho, no Rio


Grande do Sul, sob sistemas de preparo e de culturas, que os estoques de
COT, simulados pelo modelo Century, foram super e subestimados em
relação aos estoques medidos no solo sob sistema convencional (aração e
gradagem) e no solo sob sistema plantio direto, respectivamente. Nos estudos
de Leite et al. (2004), os estoques de COT nos solos sob sistemas de preparo,
medidos e simulados pelo modelo Century, foram similares, especialmente no
solo sob sistema plantio direto. Por outro lado, nos solos sob sistema
convencional os estoques de C orgânico, simulados pelo modelo, foram
maiores do que aqueles medidos, embora esta diferença tenha sido de até 6%
(Tabela 2). A superestimação dos estoques de C em solos sob sistema
convencional pode ser devido ao coeficiente de preparo, usado no modelo
como variável de entrada, não representar de maneira suficiente o distúrbio e
o conseqüente aumento na decomposição da MOS, provocado pelas etapas
de aração e gradagem, como reportado também por Fernandes (2002).

Tabela 2. Estoques de carbono orgânico total medidos (COTm) e simulados


pelo Century (COTs) em dois agroecossistemas no Brasil.

Referência e Tratamento COTm COTs Diferença


-1
---------- Mg ha ------- (%)
Fernandes (2002)
Preparo Convencional – Aveia/milho 29,94 33,59 + 12
(PCAM)
Preparo Convencional – Aveia + 34,89 33,72 -3
ervilhaca/milho + caupi (PCAVMC)
Plantio Direto – Aveia/milho (PDAM) 36,45 34,16 -6
Plantio Direto – Aveia + ervilhaca/milho + 42,38 34,22 - 19
caupi (PDAVMC)
Leite et al. (2004)
Plantio Direto 38,55 38,45 0
Arado de Disco 31,22 32,65 +4
Grade Pesada + Arado de Disco 30,98 31,22 +1
Grade Pesada 31,26 33,60 +7
96 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Com relação às estimativas para os compartimentos de C, medidos e


simulados pelo modelo Century, os trabalhos de Motavalli et al. (1994) e de
Leite et al. (2004) são ainda as principais referências. Em solos florestais na
Colômbia, no Peru e no Brasil, com diferentes mineralogias, Motavalli et al.
(1994) observaram que os estoques de C da biomassa microbiana mais o C
solúvel foram maiores do que os estoques de C estimados para o
compartimento ativo. No Brasil, nos locais de Valença, Ouro Preto e Una, em
solos com mineralogias oxídicas, os valores estimados pelo simulador foram
46%, 49% e 61% inferiores aos obtidos pelas medições laboratoriais,
respectivamente (Tabela 3). De forma similar, Leite et al. (2004) constataram
subestimação dos estoques de C simulados pelo modelo para o
compartimento ativo de 72% e 52% nos solos sob sistemas plantio direto e
convencional, respectivamente. Estes resultados são atribuídos aos fatores
que controlam o fluxo de C para o compartimento ativo. O modelo Century
inclui umidade do solo, temperatura do solo, textura do solo e manejo como
reguladores do compartimento ativo; entretanto, o crescimento microbiano é
modulado ainda pela disponibilidade de substrato (matéria orgânica) e
propriedades químicas (i.e. pH) que não são considerados pelo modelo. Além
disso, os mecanismos associados à exsudação de C pelas raízes e seu
metabolismo microbiano não são bem definidos e a falta desses mecanismos
pode também contribuir para diminuição a eficiência da capacidade preditiva
do simulador.
Em Motavalli et al. (1994), os estoques de C no compartimento lento,
simulados pelo modelo, foram superestimados (219%-495%) em relação
aqueles obtidos pelo C da fração leve, o que foi atribuído ao compartimento
lento conter outras substâncias, além do C da fração leve, e a ineficiência do
método de extração em isolar completamente a fração leve dos solos
estudados. Por outro lado, no trabalho de Leite et al. (2004) houve
subestimativa dos estoques de C simulados pelo Century em relação aos
estoques medidos, também por meio do C da fração leve, embora as
diferenças tenham sido de menor magnitude (12%-16%), o que sugere,
diferentemente do trabalho de Motavalli et al. (1994) que esta fração pode ser
associada ao compartimento lento pressuposto no simulador, em solos
tropicais (Tabela 3).
Tabela 3. Estoques de C nos compartimentos ativo, lento e passivo, medidos através de fracionamento da matéria
orgânica do solo e simulados pelo modelo Century

Referência/ Ativo Lento Passivo


Tratamento (1)
Medido Simulado Diferença Medido Simulado Diferença Medido Simulado Diferença
Motavalli et -1 -1 -1
----- (Mg ha ) ----- --- (%) --- ----- (Mg ha ) ----- --- (%) --- ----- (Mg ha ) ----- --- (%) ---
al. (1994)
Floresta –
0,90 0,49 - 46 6,30 20,1 + 219 24,0 10,6 - 56
Valença
Floresta –
0,63 0,31 - 49 2,27 125 + 448 15,2 5,8 - 62
Ouro Preto
Floresta –
0,85 0,52 - 61 2,80 16,7 + 495 29,5 16,0 - 46
Una
Leite et al -1 -1 -1
----- (Mg ha ) ----- --- (%) --- ----- (Mg ha ) ----- --- (%) --- ----- (Mg ha ) ----- --- (%) ---
(2004)
Plantio
0,82 0,23 - 72 2,57 2,24 - 12 35,1 36,0 +3
Direto
Arado de
0,63 0,30 - 52 3,27 2,82 - 14 27,3 28,5 +8
Disco
Grade
Pesada +
0,65 0,31 - 52 2,87 2,92 +2 27,4 27,9 +2
Arado de
Disco
Grade
0,58 0,28 - 53 3,27 2,75 - 16 27,4 30,6 + 12
Pesada
(1)
Motavalli et al. (1994): ativo - medido pela soma do carbono na biomassa, determinado pelo método da fumigação-extração, e o carbono
solúvel medido por ...; lento - fração leve obtida a partir do fracionamento densimétrico, utilizando solução de NaI, densidade 1,8 g dm-3;
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo

passivo - obtido por diferença. Leite et al. (2004): ativo - carbono na biomassa, determinado pelo método da irradiação-extração e fator de
correção de 0,33; lento - fração leve obtida a partir do fracionamento densimétrico, utilizando solução de NaI, densidade 1,8 g dm-3;
passivo - obtido por diferença.
97
98 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

A subestimação dos estoques de C simulados pelo modelo Century em


relação aos estoques medidos, tanto no compartimento ativo quanto no
compartimento lento, observado no trabalho de Leite et al. (2004), pode ser
explicada pela ausência no modelo de importantes mecanismos químicos que
ocorrem em solos tropicais ácidos como, por exemplo, a interação MOS-
alumínio trocável.

Limitações do simulador Century para uso em


solos tropicais com ênfase no sistema plantio
direto
O Century tem apresentado potencial para simular a dinâmica da MOS em
diversos agroecossistemas. No entanto, o simulador tem algumas limitações,
especialmente para uso em regiões tropicais, que impedem melhor ajuste
entre valores observados e simulados, e que, portanto, necessitam ser
consideradas:
a) a dinâmica de MOS nos solos tropicais é mais acelerada do que nos solos
temperados. Como definir o tamanho dos compartimentos nos solos
tropicais? A maior parte dos solos tropicais (Oxisols) apresenta ± 80% da
MOS nas substâncias húmicas e estas são compostas por ± 50%-60% de
humina. Portanto, o compartimento lento pode ser muito menor do que é
colocado pelo modelo e tem ciclagem mais rápida e o compartimento
passivo é mais expressivo, fazendo com que a MOS funcione mais como
dreno do que como fonte de nutrientes para as plantas. No sistema plantio
direto, o não-revolvimento do solo aumenta o tamanho dos
compartimentos físico e quimicamente protegidos quando comparado
com o sistema convencional, favorecendo o aumento do caráter dreno da
MOS. Este compartimento está relacionado com a melhoria das
condições biológicas existentes no sistema plantio direto, aumentando os
estoques de MOS, o que está relacionado com a formação de substâncias
húmicas mais recalcitrantes e acarreta aumento na demanda de N pelo
compartimento passivo. Para aumentar a capacidade preditiva e facilitar a
produção de dados experimentais a serem usados pelo modelo, pode-se
redefinir os compartimentos de MOS da seguinte forma:
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 99

lento: fração ácidos fúlvicos + carboidratos;


ativo: carbono orgânico solúvel, biomassa microbiana e matéria orgânica
leve;
passivo: fração huminas + fração ácidos húmicos;

b) como simular a dinâmica de MOS em profundidades maiores do que


20cm? Esse problema pode ser observado principalmente para sistemas
agrícolas que não revolvem o solo, em que os resíduos são acumulados
na superfície do solo como no sistema plantio direto;
c) em alguns trabalhos, o teor de polifenóis influenciou a taxa de
decomposição de plantas tropicais (Palm, 1995; Palm et al., 2001). Assim,
como colocar estas informações no modelo? Assumindo que os polifenóis
podem interferir, principalmente, no estágio inicial da decomposição do
material vegetal, a taxa de decomposição da fração metabólica deve ser
reduzida. Quanto? Para o sistema plantio direto, esse problema não deve
ser observado, pois normalmente trabalha-se com culturas de ciclo curto
que, em geral, apresentam baixos teores de polifenóis. É mais
preocupante para sistemas de cultura perenes;

d) o teor de lignina do resíduo varia durante o processo de decomposição,


como estimar esta variação para cada situação de cultura e manejo?

e) o Century não permite simular consórcio de culturas, principalmente


quando os resíduos são misturados. Esse problema torna-se significativo
em ambientes tropicais, onde a prática do uso de consórcio de culturas é
muito intensa. Considerando que o sistema plantio direto tem como
prerrogativa a melhoria ambiental, o uso de cultivos múltiplos deve ser
estimulado. Nessas situações, o modelo não tem como simular a
diversidade de culturas numa mesma área;
f) as constantes da taxa de decomposição são os mesmos para os
diferentes ecossistemas. Contudo, o tempo de reciclagem da biomassa
microbiana (compartimento ativo) varia muito entre os diferentes
sistemas, não podendo ser explicada pelas diferentes condições de
temperatura e umidade do solo, indicando que há necessidade de ajustes
nas taxas de ciclagem do compartimento ativo para cada situação
estudada. Espera-se que, decorrente do aporte constante de material
orgânico e da melhoria das condições físicas e químicas do solo, a taxa de
ciclagem do compartimento ativo em sistema plantio direto seja alta;
100 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

g) considerando que a fração argila é fundamental na proteção física e


química da MOS, contribuindo para o aumento do compartimento passivo,
e que as interações substâncias húmicas-argila são influenciadas pelo
pH, tipo de cátions presentes no sítio de troca, superfície específica das
argilas, densidade de cargas e carga elétrica superficial, há necessidade
de se incluir, no modelo Century, a mineralogia da fração argila dos solos.
Espera-se que, em sistema plantio direto, conduzido de forma adequada,
maior aporte orgânico e diversificação de material vegetal, e sem
agrotóxico, a MOS tenha sua influência acentuada; e
h) os efeitos do pH de solos ácidos sobre o C orgânico incluem reduzida
solubilidade dos compostos orgânicos, alterações em interações organo-
mineral em solos com carga variável, aumento da quantidade de cátions
fisiologicamente tóxicos (Al+3 e Mn-2), modificações na atividade e
composição de microrganismos e enzimas. Assim, em ambientes nos
quais umidade e temperatura do solo não são limitantes, o pH deve ser
considerado na simulação da dinâmica de MOS, visto que, a acidez
trocável do solo pode ser considerada um fator de preservação da MOS
(Mendonça & Rowell, 1994; Mendonça, 1995). Contudo, os resultados
apresentados com o Century em solos tropicais indicam que essas
características só influenciam no estágio inicial da decomposição, não
influenciando na dinâmica da MOS em longo prazo. Estudos devem ser
feitos visando determinar importância da interação MO-Al na
estabilização da matéria orgânica de solos tropicais. Talvez, o teor de
argila mascare o efeito dessa interação. Em sistema plantio direto,
decorrente do constante aporte orgânico, espera-se que a acidez trocável
seja neutralizada pelos ácidos orgânicos liberados na decomposição do
material vegetal.

Considerações Finais
Os simuladores, especialmente o Century, têm sido considerados
ferramentas importantes para integrar o conhecimento acerca da dinâmica da
MOS. Em solos tropicais, o modelo Century tem sido pouco validado, embora
tenha demonstrado potencial para simular a dinâmica da matéria orgânica em
diversos agroecossistemas. Por outro lado, alguns ajustes são necessários
para aumento da acurácia do simulador, tais como a inclusão de novas
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 101

variáveis de entrada e a adequação de taxas de decomposição dos


compartimentos de carbono, para valores mais adequados aos solos
tropicais.
É importante, no entanto, que se mantenha em foco a necessidade de se
ampliar o conhecimento de forma a utilizarmos os modelos para prever o
efeito de um determinado uso agrícola sobre as características dos ambientes
tropicais, sem a necessidade de calibrá-los para uma situação específica.

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Fracionamento Físico do Solo na
5
Obtenção de Compartimentos
Mensuráveis para Uso em Simuladores
da Dinâmica da Matéria Orgânica

Renato Roscoe
Beáta Emöke Madar
Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado

Resumo - Uma das mais significativas limitações dos simuladores da


dinâmica da matéria orgânica do solo (MOS) é o fato de tais programas
considerarem somente reservatórios teóricos, não mensuráveis. O
fracionamento físico do solo, baseado em técnicas granulométricas e
densimétricas, permite a separação de frações da matéria orgânica com
grandes possibilidades de uso na modelagem e simulação de sua dinâmica no
ambiente. A utilização de tais frações como reservatórios nos simuladores,
viabiliza a efetiva validação das simulações, uma vez que passam a ser
mensuráveis. Neste capítulo são discutidas as principais técnicas de
fracionamento físico e o seu embasamento teórico, enfatizando suas
vantagens e desvantagens, considerando-se as características peculiares
dos solos tropicais. A partir dessa análise, sugere-se o uso de fracionamento
envolvendo uma combinação de métodos densimétricos e granulométricos
para a separação de reservatórios modeláveis, a serem inseridos em
simuladores da dinâmica da MOS.
108 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Physical Fractionation of Soil to


Obtain Measurable Compartments
to Be Used in Symulators of
Soil Organic Matter Dynamics

Abstract - One of the most important limitations of current simulation


models of soil organic matter (SOM) dynamics is the presence of theoretical
pools, which are not measurable. Physical fractionation of soil, based on
gravimetric and densimetric techniques, allows separation of SOM fractions
with high possibilities to be used in the simulation of its dynamics. Using these
fractions as pools in the models would allow an effective validation of the
simulations, since they would be measurable. In this chapter, we will discuss
the major physical fractionation techniques and their theoretical background,
emphasising their advantages and disadvantages, taking into account the
peculiar characteristics of tropical soils. From this analysis, we suggested a
protocol of physical fractionation, involving granulometric and densimetric
methods, to separate pools to be inserted in simulation models of soil organic
matter dynamics.
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 109

Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) compreende uma série de componentes,
com variado grau de complexidade e diversidade estrutural, podendo ou não
estar associada à matriz do solo ou mesmo protegida em locais inacessíveis à
microbiota (Hassink & Whitmore, 1997; Clapp & Hayes, 1999; Six et al., 2002).
Trata-se de um conjunto heterogêneo de materiais orgânicos, diferindo em
composição, grau de disponibilidade para a microbiota e função no ambiente
(Carter, 2001). Espera-se, portanto, que, em função dessa heterogeneidade,
diferentes compartimentos da MOS tenham dinâmicas distintas.
Simuladores da dinâmica da MOS levam em consideração tal complexidade e
heterogeneidade, considerando em sua estrutura reservatórios com tempo de
ciclagem diferentes (Jenkinson et al., 1991; Parton et al., 1987; Paustian,
2001). Entretanto, tais reservatórios são teóricos, não podendo ser
efetivamente mensuráveis (Christensen 2001; Arah & Gaunt, 2001; Gaunt et
al., 2001). Assim, não é possível a validação das simulações desses
reservatórios, o sendo, somente, para valores totais de MOS. Esta tem sido
considerada uma das maiores limitações dos atuais simuladores da dinâmica
da MOS (Arah & Gaunt, 2001; Gaunt et al., 2001).
Diversos autores têm demostrado que técnicas de fracionamento físico do
solo possibilitam a separação de matéria orgânica com diferente composição
e grau de associação com a matriz do solo (Christensen, 2001, Roscoe &
Machado, 2002). Essas frações parecem ser suficientemente distintas umas
das outras para que tenham diferente dinâmica no ambiente (Baldock et al.,
1992; Christensen, 2001; Gaunt et al., 2001). Isso implica em uma grande
possibilidade de utilizá-las como reservatórios modeláveis nos simuladores
da dinâmica da MOS (Gaunt et al., 2001).
Várias técnicas vêm sendo utilizadas para o fracionamento físico do solo em
estudos de MOS, faltando, no entanto, uma padronização de procedimentos
(Gregorich & Ellert, 1993; Roscoe & Machado, 2002), envolvendo gravimetria
e densimetria, separadamente ou em conjunto.
Existe forte tendência em se adotar métodos físicos para o fracionamento de
solo em estudos da MOS (Turchenek & Oades, 1979; Stevenson & Elliott,
1989; Balesdent et al., 1991; Gregorich & Ellert, 1993; Golchin et al., 1997;
Feller & Beare, 1997; Elliott & Cambardella, 1991; Cambardella, 1997;
Christensen, 1992, 1996, 2000; Six et al., 2002). Os métodos físicos são
110 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

considerados menos destrutivos e mais relacionados com a função e


estrutura da MOS in situ, quando comparados aos métodos químicos
(Christensen, 1992, 1996, 2000; Feller et al., 1999; Six et al., 2002). Tais
métodos podem ser densimétricos ou granulométricos, ou uma combinação
de ambos. Diversos esquemas de fracionamento encontram-se descritos na
literatura, atendendo às diferentes necessidades de quantificação do carbono
nos compartimentos da MOS, variáveis em relação ao uso e manejo do solo.

O objetivo desta revisão foi descrever e avaliar os principais métodos físicos


de fracionamento do solo, utilizados em estudos de matéria orgânica,
enfatizando as possibilidades de uso e fatores limitantes. Discute-se os
métodos físicos, pois acredita-se que estes estejam mais relacionados com as
características da MOS em seu estado natural.

Um Modelo Considerando Localização e


Proteção da MOS
Inicialmente, na busca de reservatórios mensuráveis da MOS a serem
inseridos em simuladores de sua dinâmica, faz-se necessária a elaboração de
um modelo conceitual, contemplando a natureza desses possíveis
reservatórios e o seu grau de interação com a matriz mineral. Na literatura,
são encontrados diversos modelos descritivos do arranjo espacial das
partículas minerais e orgânicas no solo (Oades, 1984; Oades & Waters, 1991;
Golchin et al., 1994, 1997; Christensen, 1996a,b, 2000). Tais modelos têm
sido usados como base conceitual para a separação de frações da MOS, com
potencial para serem utilizadas em substituição aos reservatórios não
mensuráveis dos simuladores de dinâmica da MOS atualmente em uso
(Roscoe & Machado, 2002).
Os reservatórios mensuráveis mais interessantes para os simuladores,
seriam aqueles que apresentassem diferentes dinâmicas, em função, por
exemplo, da intensidade de proteção e estabilização da MOS. Tais
mecanismos resumem-se em três categorias: recalcitrância intrínseca das
moléculas orgânicas, oclusão dentro de agregados e ligação/complexação
com a matriz mineral (Christensen, 1996a).
A recalcitrância intrínseca das moléculas orgânicas está relacionada com a
diferença em complexidade dos diversos compostos orgânicos que a
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 111

compõem, exigindo aparatos enzimáticos específicos para a sua


decomposição (Stevenson & Cole, 1999). Moléculas mais complexas, como
lignina, cutina e suberina, tendem a sofrer um processo mais lento de
decomposição comparativamente a moléculas mais simples, como
carboidratos e proteínas, sendo mais recalcitrantes no ambiente (Baldock et
al., 1992; Schulten & Leinweber, 2000). A recalcitrância intrínseca da molécula
a ser decomposta é um mecanismo de proteção que atua em todos os
reservatórios da MOS no solo, independente da sua localização na matriz do
solo e sua ligação/complexação com as partículas minerais.
A localização da MOS no interior de agregados pode limitar a sua
disponibilidade para os organismos decompositores (Christensen, 2001). Isso
ocorreria porque, no interior dos agregados, a difusão de água, ar e/ou
nutrientes pode ser dificultada, restringindo o ataque de microrganismos,
assim como o acesso de enzimas (Burns, 1982; Nannipieri et al., 1990; Collins
et al., 1997; Hassink & Whitmore, 1997).
A associação entre moléculas orgânicas e argilas silicatadas e/ou óxidos e
hidróxidos de ferro e alumínio promove uma eficiente proteção contra a
decomposição (Schulten & Leinweber, 2000; Christensen, 2001).
Mecanismos de adsorção e ligações químicas diversas na superfície das
argilas (e.g. pontes catiônicas e de hidrogênio, interações eletrostáticas,
forças de Van der Waals) tornam os resíduos orgânicos mais resistentes ao
ataque microbiano, sendo apontados como uma das razões para o relativo
acúmulo de MOS em solos argilosos (Hassink & Whitmore, 1997; Schulten &
Leinweber, 2000).

Buscando considerar tais mecanismos de proteção, pode-se estabelecer


vários modelos descritivos da distribuição da MOS em reservatórios
mensuráveis. Levando-se em consideração trabalhos de Oades & Waters
(1991), Christensen (1996a, b, 2001), Golchin et al. (1997), Resende et al.
(1997), Ferreira et al. (1999) e Roscoe & Machado (2002), propõe-se um
modelo descritivo para a organização da MOS, em função da estruturação e
grau de interação com a matriz do solo, o qual considera os diferentes tipos de
mecanismo de proteção da MOS (Fig. 1).
112 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Agregados Secundários

Agregados Primários A
COM B
Tamanho Areia C

A
COM B
Tamanho Silte C

A
COM B
Tamanho Argila C

MONC-Oclusa A
B

MONC-Oclusa A
Solo B

MONC-Livre A

Fig. 1. Modelo descritivo do arranjo espacial de partículas minerais e orgânicas do


solo. O solo é constituído por agregados secundários e matéria orgânica não
complexada livre (MONC-livre). Os agregados secundários, por sua vez, resultam da
união de agregados primários, aprisionando matéria orgânica não-complexada
oclusa (MONC-oclusa). Os agregados primários resultam da união de complexos
organo-minerais (COM), partículas primárias e MONC-oclusa. As letras próximas a
cada fração representam os mecanismos de proteção contra a decomposição:
A, recalcitrância; B, oclusão; e C, complexação/ligação com as partículas minerais.
Maiores detalhes encontram-se no texto.
Fonte: Roscoe & Machado (2002), baseado em Christensen (1996a, b, 2000, 2001).
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 113

Em tal modelo, postula-se que a MOS pode estar complexada com a matriz
mineral, neste caso formando complexos organo-minerais (COM). Tais COM
representam o primeiro nível de organização das partículas minerais e
orgânicas do solo, comportando-se como a unidade estrutural básica. Os
COM podem se juntar uns aos outros, formando os agregados do solo, um
segundo nível hierárquico de organização das partículas. A matéria orgânica
não complexada, por sua vez, pode estar livre (MONC livre) ou ser protegida
no interior de agregados, quando é chamada de oclusa (MONC oclusa). Os
agregados podem ser primários ou secundários. Os primeiros seriam
agregados mais estáveis, sendo dificilmente afetados pelo manejo. Seriam
estabilizados por MOS altamente humificada e por óxidos e hidróxidos de Fe e
Al. Os agregados primários, por sua vez, se juntariam em agregados
secundários em um terceiro nível hierárquico de organização. Os secundários
seriam agregados mais frágeis e altamente dependentes do manejo, sendo
estabilizados por orgânicos transitórios no solo, como polissacarídeos e
gomas, produzidos pela microbiota. A MONC-oclusa poderia, portanto, estar
protegida dentro dos agregados primários ou dos secundários, apresentando
grau de proteção superior nos primários.

Em termos de dinâmica e grau de decomposição dos diferentes reservatórios


representados na Fig. 1, geralmente observam-se maiores taxas de
decomposição e menor grau de humificação para a MONC-livre, onde
somente a recalcitrância intrínseca estaria atuando como mecanismo de
proteção. A MONC-oclusa ocupa uma posição intermediária, sendo que, além
da recalcitrância, a oclusão nos agregados estaria atuando na proteção. A
MONC-oclusa em agregados secundários estaria mais disponível que em
agregados primários, em virtude da maior estabilidade dos últimos. Os COM
são constituídos, geralmente, por materiais mais humificados e com baixas
taxas de decomposição, sendo estabilizados pela ligação direta entre as
frações orgânicas e minerais (Baldock et al., 1992; Golchin et al., 1997;
Christensen, 1996a). Nos COM estariam atuando os três mecanismos de
proteção da MOS.
114 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Hierarquia de Agregação, Grau de Proteção


e Tipo de Solo
O modelo apresentado na Fig. 1 relaciona-se diretamente com a hipótese
hierárquica de formação e estabilização de agregados descrita por Golchin et
al. (1997), na qual um terceiro nível hierárquico de agregação ocorreria em
solo onde a MOS é o principal agente agregante. Agregados menores que
250 m (microagregados) juntar-se-iam formando os macroagregados
(> 250 m). Assim, seriam admitidos duas classes de agregados, os micro e
macroagregados, os quais corresponderiam, respectivamente, aos
agregados primários e secundários (Fig. 1). No entanto, Oades & Waters
(1991) postulam que a hipótese hierárquica de agregação não se aplica a
todos os solos. Segundo os autores, em Oxissolos, os macroagregados
tendem a se desfazer diretamente em COM, sem passar por microagregados.
Tal observação é pertinente e está relacionada com peculiaridades da
mineralogia dos Latossolos, solos dominantes nas regiões tropicais, em
combinação com a ação da matéria orgânica viva e morta do solo. Estudos
recentes conduzidos por Castro Filho et al. (1998) e Madari et al. (2003)
constataram, para profundidades superficiais (0-5 e 0-10 cm), mais
suscetíveis à erosão hídrica, não haver hierarquia de agregação em Latossolo
de Londrina, PR, sob floresta remanescente, plantio direto e sob aração e
gradagens leves. Alguns Latossolos, nas camadas superficiais (0-5 cm), têm
alta capacidade para formar macroagregados maiores que 4,0 ou 6,0 mm
bastante estáveis (Madari et al., 2003). A maioria dos estudos é feita para
classes de agregados até 2,0 ou 4,0 mm. Suspeita-se que a formação de
agregados para classes maiores que 4,0 ou 6,0 mm ocorra por etapas devido
ao efeito da matéria orgânica (raízes e hifas de micorrizas vesículo-
arbusculares) em interação com partículas de argila e silte por meio de
mucilagens.
Os solos tropicais são amplamente dominados por argilas de baixa atividade
(Resende et al., 1997). A caulinita (argila silicatada 1:1) forma a base da
composição mineralógica da fração argila na maioria destes solos, sendo
variáveis os teores de óxidos e hidróxidos de Fe e Al. Alguns solos
extremamente intemperizados podem ter a fração argila dominada por
gibbsita (hidróxido de Al) ao invés de caulinita, apresentando carga residual
positiva em horizontes sub-superficiais (Oliveira et al., 1992; Resende et al.,
1997).
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 115

Os óxidos (oxi-hidróxidos de Fe e Al) tendem a afetar os teores e estabilidade


da MOS de duas formas: (1) pela formação de COM de alta estabilidade
devido à interação eletrostática das cargas positivas dos óxidos e cargas
negativas da MOS; e (2) através de mudanças na estrutura do solo com a
formação de agregados. A pHs naturalmente encontrados nos solos tropicais,
os oxi-hidróxidos apresentam quantidades relativamente altas de cargas
positivas (Oades et al., 1989). Estas cargas interagem com grupos funcionais
da MOS (i.e. carboxílicos e fenólicos), os quais apresentam cargas negativas
nas mesmas condições de pH (Six et al., 2002). Os complexos formados
apresentam alta estabilidade e podem tornar o material orgânico indisponível
para a microbiota (Oades et al., 1989; Six et al., 2002).

Por outro lado, e retornando às críticas de Oades & Waters (1991) ao modelo
hierárquico de formação e estabilização de agregados, os teores de óxidos
podem influenciar marcantemente a estrutura dos solos tropicais (Resende et
al., 1997; Ferreira et al. 1999). Os solos ricos em oxi-hidróxidos de Fe e Al
tendem a apresentar uma estrutura tipicamente granular em seu horizonte B
(Oliveira et al., 1992; Resende et al., 1997). Evidências confirmando tal
hipótese foram obtidas por Ferreira et al. (1999) ao demonstrar que a estrutura
de Latossolos da Região Sudeste do Brasil relaciona-se intimamente com a
mineralogia da fração argila. Enquanto solos com menores teores de óxidos
apresentaram estrutura em blocos no horizonte B, aqueles com elevados
teores apresentaram estrutura granular típica, com diâmetro médio inferior a
1 mm. Segundo o modelo de agregação proposto pelos autores, a MOS seria
um agente agregante secundário em relação aos óxidos em solos ricos nestes
minerais, sendo mais importante para solos com caráter caulinítico1. Os
óxidos seriam os principais responsáveis pela desorganização das partículas
de argila em escala microscópica, impedindo a orientação face-a-face dos
cristais de caulinita (Resende et al., 1997). Essa desorientação impediria a
formação de plasma denso, favorecendo o surgimento da estrutura granular
típica, depois de repetidos ciclos de umedecimento e secagem (Resende et
al., 1997). Entretanto, existem evidências de que tais estruturas podem ter
origem biogênica, uma vez que apresentam forte semelhança com coprólitos
de minhoca e estruturas retrabalhadas por cupins e formigas (Trapnell &
Webster, 1986; Jungerius et al., 1999). Embora maiores estudos sejam

(1)
Solos cauliníticos são solos que apresentam um Kr, relação molecular SiO2/(Al2O3 +
Fe2O3), maior que 0,75. Solos são ditos oxídicos quando o Kr é inferior a este valor
(Embrapa, 1999).
116 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

necessários, as evidências apontam para uma integração de processos


biológicos e físico-químicos na formação e estabilização das estruturas
granulares dos Latossolos. As mesmas seriam formadas pela atividade da
fauna do solo, em ambientes ricos ou pobres em óxidos, mas permaneceriam
estáveis somente em solos ricos nesses constituintes.

Independentemente do seu processo de formação e estabilização, a


estruturação típica dos solos ricos em óxidos não seguiria um arranjo
hierárquico em macro e microagregados, conforme descrito por Golchin et al.
(1997). Entretanto, esta seria uma análise correta para o horizonte B destes
solos, onde predominam tais estruturas (Ferreira et al., 1999). Quando se
analisa o horizonte A da maioria dos Latossolos, nota-se uma tendência das
estruturas granulares típicas servirem de base para a formação de estruturas
em bloco (Resende et al., 1997; Roscoe & Machado, 2002; Madari et al.,
2003). Assim, as estruturas granulares funcionariam como microagregados,
ou agregados primários, e as estruturas em blocos seriam os
macroagregados, ou agregados secundários (Fig. 1). Desta forma, o modelo
apresentado na Fig. 1 seria aplicável, também, a solos ricos em óxidos, porém
propõe-se que o limite de tamanho entre agregados primários e secundários
seja alterado, para 250 ÿm em solos pobres de óxidos e 1.000  m para os
Latossolos.
À semelhança do que acontece para os microagregados em solos pobres em
óxidos, a estrutura granular dos solos ricos nesses componentes são
extremamente resistentes e dificilmente sofrem alterações pelo cultivo (Resck
et al., 1999; Roscoe et al., 2001; Roscoe & Buurman, 2003). Roscoe et al.
(2000) demonstraram que a estrutura granular de um Latossolo Vermelho
distrófico, muito argiloso, apresentava elevada resistência à dispersão ultra-
sônica. Para este mesmo solo, os autores demonstraram que somente 1% a
2% do carbono orgânico total estava protegido dentro dessas estruturas
(Roscoe et al., 2001; Roscoe & Buurman, 2003). Em um estudo
complementar, Roscoe et al. (2004), utilizando ressonância magnética
nuclear e o isótopo estável 13C, demonstraram que o material orgânico ocluso
nas estruturas granulares típicas desse latossolo apresentavam um elevado
grau de humificação e ciclavam mais lentamente até mesmo que o material
orgânico presente nos complexos organo-minerais. Freixo et al. (2002),
utilizando espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier,
obtiveram resultados semelhantes aos encontrados por Roscoe et al. (2004)
para um Latossolo Vermelho distrófico de Passo Fundo, RS, e um Latossolo
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 117

Vermelho-Amarelo de Santo Antônio de Goiás, GO. Essas observações


confirmam que tais estruturas são extremamente estáveis e sugerem que a
MOS associada às mesmas, seja ela oclusa ou presente em COM, pode ser
considerada recalcitrante. Com isso, do ponto de vista da dinâmica da MOS,
tais unidades estruturais representariam um único reservatório homogêneo.

Em um segundo nível hierárquico de organização das partículas de solo, as


estruturas granulares primárias dos solos ricos em óxidos são unidas umas às
outras por materiais orgânicos transitórios (principalmente polissacarídeos),
formando agregados secundários (Fig. 1). Esses agregados secundários
seriam formados principalmente pela atividade biológica, em processos como
a aglomeração de coprólitos, a ação de cupins ao construírem suas câmaras,
a compressão gerada pela atividade de minhocas e raízes, o enovelamento
de raízes e hifas fúngicas, a nucleação de agregados primários em torno de
fragmentos de raízes ou outros materiais orgânicos frescos nos primeiros
estágios de decomposição. No interior desses agregados, materiais
orgânicos não complexados (ou matéria orgânica leve) podem ser
empacotados em locais inacessíveis à ação biológica. Esse material,
portanto, seria protegido fisicamente e teria uma taxa de decomposição
menor que a matéria orgânica não complexada livre. Como tais estruturas são
altamente sensíveis ao manejo (Resck et al., 1999; Roscoe & Machado,
2002), o material protegido dentro das estruturas secundárias dos solos ricos
em óxidos poderiam ter sua dinâmica alterada pelas práticas agrícolas, o que
parece acontecer em escala bem menor com o material orgânico ocluso nas
estruturas primárias (Roscoe et al., 2001; Roscoe & Buurman, 2003). Por
outro lado, devido à sua oclusão, essa fração da MOS empacotada dentro dos
agregados secundários teria uma taxa de decomposição mais lenta do que a
MOS não complexada livre. Isso levaria à conclusão de que não somente o
modelo hierárquico de agregação proposto por Gregorich et al. (1997) para
solos pobres em óxidos, mas também o modelo de proteção física da MOS
nos diferentes tipos de agregados, seriam aplicáveis integralmente a solos
ricos em óxidos, desde que se alterasse o limite entre macro e
microagregados, como comentado anteriormente.

Existe, no entanto, um componente extremamente importante a ser


considerado nessa discussão. Em função da arquitetura granular das
estruturas primárias e do seu tamanho médio de 600 mm (Ferreira et al. 1999),
nos solos ricos em óxidos, o tamanho dos poros nas estruturas secundárias
poderia permitir o livre trânsito de microrganismos e enzimas, não sendo tais
118 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

estruturas eficientes para a proteção da MOS oclusa nas mesmas. Isso


representaria uma diferença básica entre esses solos e aqueles pobres em
óxidos, uma vez que, nos últimos, os microagragados tenderiam a formar
estruturas secundárias bem mais compactas, que, por essa razão, limitariam
a decomposição do material orgânico ocluso. Responder a essa questão
ainda representa um desafio para a pesquisa em dinâmica da MOS.
Diante do exposto, o fracionamento físico do solo parece constituir uma
importante ferramenta para o entendimento da dinâmica da MOS, tanto em
solos ricos em óxidos quanto em solos pobres nesses constituintes. Devido à
diferença de dinâmica entre as frações, essas poderiam facilmente constituir
reservatórios mensuráveis a serem inseridos em simuladores da dinâmica da
MOS. Até o momento, as evidências apontam para a existência de três
reservatórios bastante distintos: fração leve livre (matéria orgânica não
complexada fora de agregados secundários); fração leve oclusa (matéria
orgânica não complexada dentro de agregados secundários ou
macroagregados); e fração pesada (material orgânico presente em
complexos organo-minerais, microagregados ou estruturas primárias).
Entretanto, maiores estudos serão necessários para definir se realmente as
frações leve livre e oclusa de solos ricos em óxidos são de fato dinamicamente
diferentes.

Métodos de Fracionamento Físico do Solo


Os métodos de fracionamento físico do solo envolvem basicamente dois
grupos de procedimentos: os métodos granulométricos e os densimétricos
(para uma revisão aprofundada destes métodos, nos referimos a Roscoe &
Machado, 2002). Ambos vêm sendo amplamente utilizados, separadamente
ou combinados, em estudos que visam decifrar as funções e a dinâmica da
MOS nos ecossistemas e sistemas agrícolas.
Os métodos granulométricos envolvem a separação da MOS em função do
seu próprio tamanho ou do de partículas às quais está associada.
Compreendem dois grupos de métodos: (1) aqueles que buscam a separação
de agregados por tamanho e estabilidade, ou seja, a obtenção dos COM
secundários representados na Fig. 1; e (2) aqueles que visam a recuperação
de frações com diâmetro médio equivalente ao das partículas primárias (areia,
silte e argila), ou seja, os COM primários (Fig. 1).
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 119

No primeiro grupo de métodos granulométricos, os agregados são separados


em função do seu tamanho e de sua estabilidade a estresses mecânicos, seja
pelo atrito entre os próprios agregados e a grade das peneiras com diferentes
aberturas (peneiramento seco); ou pelo trabalho dessas mesmas forças
associadas ao atrito da água passando pelos agregados em repetidos fluxos,
causados pela oscilação de peneiras de diferentes tamanhos de aberturas em
um recipiente com água (peneiramento úmido) (Kemper & Rosenau, 1986).
Estudos recentes conduzidos em Latossolo Vermelho distroférrico, Castro
Filho (1998, 2002) e Madari et al. (2003) mostraram a capacidade do solo em
formar macroagregados, especialmente agregados > 8,0 mm e com elevada
importância para o acúmulo de carbono orgânico intra-agregado. Esses
métodos separam os agregados em diferentes classes de tamanho, podendo
a MOS presente em cada uma das classes ser quantificada ou esses
agregados passarem por um segundo processo de fracionamento,
envolvendo método granulométrico de separação em partículas primárias ou
o densimétrico. A simples quantificação da MOS presente em cada um dos
agregados não traz informações relevantes em termos de dinâmica, pois não
existem evidências de que a MOS estaria ciclando, em tempos diferentes, nas
diversas classes de agregados presentes, a não ser nos agregados maiores e
menores que o limite entre macro e micro agregados ou agregados primários
e secundários (Roscoe & Machado, 2002). Além disso, mesmo essa divisão
não teria muito significado se não fossem executadas operações posteriores
para o fracionamento desses agregados. Os agregados secundários, por
exemplo, estariam carregando consigo as frações leves livre e oclusa, além
da MOS presente nos agregados primários que as compõem. Os métodos de
separação dos agregados em classes de diferente tamanho representam,
portanto, um procedimento preliminar em estudos de dinâmica da MOS, mas
certamente muito relevante pelo fato de oferecer um retrato mais próximo da
realidade. As amostras são coletadas no campo procurando-se preservar ao
máximo a estrutura in situ (Fig. 2).

Após coleta de amostras no campo utilizando-se peneira de 19 mm, as


amostras são transferidas para laboratório onde passam por peneiramento
úmido para separação em classes de agregados mais abrangentes que as
propostas por Kemper & Roseneau (1986), ou seja, utiliza-se uma série de
peneiras para obter 9 classes de macro e microagregados: > 8, 4 a 8, 2 a 4, 1 a
2; 0,5 a 1; 0,25 a 0,5; 0,125 a 0,25; 0,053 a 0,125 e < 0,053 mm (Fig. 3 e 4).
120
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Fig. 2. Procedimento de amostragem de agregados no campo utilizando peneira de 19 mm e permitindo, assim, melhor
representatividade da estrutura do solo. Os agregados que passam pela peneira 19 mm são transferidos para laboratório onde se
faz o peneiramento úmido para a obtenção das classes de agregados.
Fonte: Madari et al., 2003.
8 mm
4 mm
2 mm
macroagregados
1 mm
0,5 mm
0,25 mm
0,125 mm
microagregados
0,053 mm

Fig. 3. Equipamento para peneiramento úmido e separação das classes de agregados.


Fonte: Beáta Madari.
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis

Fig. 4. Fotos de agregados das classes de 4 a 8 mm (A), 1 a 2 mm (B) e 0,125 a 0,053 mm (C).
Fonte: Beáta Madari.
121
122 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Outro grupo de métodos granulométricos envolve a separação da MOS em


frações que equivalem às classes de tamanho das partículas utilizadas em
análises texturais (Roscoe & Machado, 2002). Nesses casos, pode-se tomar
os diversos agregados provenientes de um dos procedimentos descritos
anteriormente, ou mesmo terra fina seca ao ar (material de solo destorroado e
passado em peneira de 2 mm). Quando se utiliza as diferentes classes de
agregados, o volume de informação é maior, mas como o método,
normalmente, não permite separar o material leve ocluso dos que estão fora
dos agregados, essas informações extras contribuem de forma limitada para o
entendimento da dinâmica da MOS. Portanto, em estudos de dinâmica, caso
sejam utilizados métodos somente granulométricos, recomenda-se a
utilização, diretamente, de terra fina seca ao ar.
As frações correspondentes ao tamanho areia (> 0,05 mm) seriam as mais
dinâmicas e, de certa forma, seriam equivalentes à matéria orgânica não
complexada (MONC) livre e oclusa, descrita na Fig. 1. Evidentemente, podem
ocorrer partículas de MONC nas frações com tamanho inferior a 0,05 mm,
mas essas estariam em quantidades bastante reduzidas. As frações inferiores
a 0,05 mm seriam dominadas por complexos organo-minerais (Fig. 1).
Esse grupo de métodos granulométricos envolve duas etapas: dispersão do
solo e separação das classes. Na primeira, o solo deve ser completamente
disperso, evitando que agregados mantenham-se intactos nas frações mais
grosseiras, ou seja, nas classes de tamanho areia (> 0,05 mm). Para tanto, são
utilizados procedimentos de dispersão baseados no uso de agitação mecânica
ou energia ultra-sônica, na presença ou não de agentes dispersantes (como
NaOH ou Na4P2O7). Um dos sérios problemas desse método está exatamente
ligado ao processo de dispersão. Solos argilosos e ricos em óxidos podem
necessitar de grandes quantidades de energia para se dispersarem
completamente (Sá et al., 1999; Roscoe et al., 2000). Isso decorre da alta
estabilidade da estrutura granular típica desses solos (Resende et al., 1997). Na
maioria das vezes, valores de energia tão elevados são conseguidos somente
com a utilização de ultra-som (Sá et al., 1999; Roscoe et al., 2000). Balesdent et
al. (1991) ressaltam que um inconveniente de se utilizar níveis elevados de
energia ultra-sônica é a possibilidade de fragmentação da MONC presente na
classe de tamanho areia, redistribuindo-a nas demais frações granulométricas.
Isso provocaria a contaminação de frações dinamicamente mais recalcitrantes
por materiais mais lábeis da MONC. Desta forma, para estudos de dinâmica da
MOS em solos argilosos ricos em óxidos esse método teria limitações.
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 123

Os métodos densimétricos baseiam-se na diferença de densidade dos


constituintes orgânicos e minerais do solo (Roscoe & Machado, 2002). A
densidade dos materiais orgânicos não ultrapassa 1,5 g dm-3, enquanto a de
constituintes minerais é em média 2,65 g dm-3 (Gregorich & Ellert, 1993).
Desta forma, soluções com densidades intermediárias a esses valores podem
ser utilizadas na separação das frações orgânicas que não estão ligadas à
matriz mineral (fração leve, equivalente à MONC), das que estão constituindo
COM. Vários líquidos densos têm sido utilizados para esse fim, envolvendo
uma gama de soluções orgânicas e salinas, além de soluções coloidais de
sílica (Gregorich & Ellert, 1993; Christensen, 1992; Magrid et al., 1996). As
densidades variam de 1,4 a 2,2 g cm-3, sendo a mais recomendada entre 1,6 e
1,8 g cm-3 (Roscoe & Machado, 2002). Os líquidos orgânicos têm sido evitados
por causar contaminação nas frações a serem separadas e por sua alta
toxicidade, o que aumenta o risco no manuseio. As suspensões de sílica
apresentam a grande vantagem de não ser tóxica aos microorganismos do
solo, possibilitando avaliações biológicas posteriores ao fracionamento
densimétrico. Por outro lado, como desvantagem a densidade máxima que
alcançam é de 1,4 g cm-3 e a sua aplicação em solos argilosos tem
apresentado problemas de floculação da sílica com argilas em dispersão. Os
sais mais utilizados são o iodeto de sódio (NaI), que atinge uma densidade
máxima de 1,8 g cm-3, e o politungstato de sódio [Na6(H2W12O40)], que pode
gerar soluções com até 3,1 g cm-3 (Six et al., 1999a,b; Shang & Tiessen, 2001).
Outra vantagem é a possibilidade de recuperação destes sais por processos
relativamente simples de filtragem em uma combinação de resinas aniônicas
e catiônicas com carvão ativado (Six et al., 1999b). Trabalhos recentes,
utilizando um Argissolo Vermelho distrófico, textura franco-argilosa, e um
Latossolo Vermelho distroférrico, textura muito argilosa, demonstraram que o
NaI tende a subestimar as quantidades da fração leve, obtendo recuperações
dessa fração significativamente inferiores às obtidas com solução de
politungstato de sódio na mesma densidade (Conceição et al., 2005; Boeni et
al., 2005). Embora os autores não concluam sobre os possíveis processos
envolvidos, as evidências apresentadas nos trabalhos colocam em cheque a
utilização do NaI em fracionamentos densimétricos da MOS.

Os métodos densimétricos são utilizados para a separação das frações leves


(MONC) e pesadas (COM), sendo que a fração leve pode ser separada antes
da dispersão do solo (MONC livre) e depois da dispersão (MONC oclusa)
(Fig. 1). Portanto, os procedimentos envolvem etapas de dispersão e de
separação de frações. Os esquemas de separação de frações pesada, leve
124 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

livre e leve oclusa podem ser conduzidos a partir de terra fina seca ao ar
(Gregorich & Ellert, 1993) ou a partir de frações de agregados provenientes de
fracionamentos granulométricos (Six et al., 1988). No primeiro caso, quando
se toma terra fina seca ao ar, considera-se somente a fração oclusa em
agregados menores que 2 mm (malha da peneira utilizada em procedimentos
padrão de análise de solo). Perde-se, portanto, informações sobre o material
ocluso em agregados maiores. Isso se torna crítico para Latossolos, pois as
estruturas menores que esse limite são, em sua grande maioria, as granulares
típicas desses solos. Como discutido anteriormente, tais estruturas são
extremamente estáveis e sofrem pouco com o manejo, o que sugere que o
carbono associado às mesmas constitua um único reservatório dinâmico,
independente de ser leve oclusa ou COM (Roscoe & Buurman, 2003; Roscoe
et al., 2004).
Fracionamentos que considerem o segundo nível de agregação, apresentado
na Fig. 1, necessariamente devem tomar amostras de solo intactas e não terra
fina seca ao ar. As amostras devem ser coletadas em blocos indeformados e
serem cuidadosamente destorroadas, passando em peneira de 19 mm ainda
com a umidade de campo. Uma vez no laboratório, as amostras devem ser
secas ao ar e então utilizada para peneiramento úmido ou seco, seguindo
metodologia para análise de estabilidade de agregados (Kemper & Rosenau,
1986). As diferentes classes de agregados obtidas passariam por
fracionamento densimétrico, separando o material livre e ocluso. Desta
maneira, seriam obtidas uma fração leve livre (somatório de todas as frações
leves livres separadas de cada classe de agregados), diversas frações leves
oclusas (o número seria função das classes de agregados consideradas) e a
fração pesada (somatório de todas as obtidas). O significado dinâmico das
frações oclusas em diferentes classes de tamanho de agregados ainda deve
ser comprovado. Essas frações seriam dinamicamente distintas, somente se
os processos de formação e estabilização desses agregados fossem
diferentes. Segundo o modelo descrito na Fig. 1, distinguir-se-iam dois
reservatórios de fração oclusa, um dentro dos agregados primários (ou
microagregados) e outro nos secundários (ou macroagregados).

Para os solos pobres em óxidos, os quais apresentam um limite entre as


classes de agregados geneticamente distintos de 250 mm (Edwards &
Bremner, 1967), a fração oclusa dinamicamente interessante seria aquela
oclusa em agregados maiores que este limite. Neste caso, até mesmo
estudos utilizando TFSA poderiam estar acessando boa parte do reservatório
Fracionamento Físico do Solo na Obtenção de Compartimentos Mensuráveis 125

ocluso nos macroagregados que sofreriam alterações em função do manejo.


Para solos ricos em óxidos, no entanto, o limite parece ser maior, ou seja 1000
 m. Somente a MOS oclusa nos agregados maiores que este limite sofreriam
influência do manejo, o que sugere que esse seja o limite ideal para a distinção
de reservatórios dinâmicos da fração oclusa.

Considerações Finais
A elucidação dos processos envolvendo a MOS e a agregação do solo poderia
ajudar em muito o entendimento da dinâmica da MOS, além de possibilitar o
refinamento de modelos conceituais, como o ilustrado na Fig. 1. Os diferentes
reservatórios dinâmicos, hipotetizados nesse modelo, poderiam ser utilizados
como compartimentos mensuráveis da MOS em modelos matemáticos
alternativos aos atualmente em uso (Arah & Gaunt, 2000; Gaunt et al., 2001).
Outra alternativa seria a inclusão de sub-rotinas envolvendo tais reservatórios
em modelos já existentes, como o Century.

O refinamento da modelagem da MOS em solos tropicais e subtropicais seria


extremamente relevante para o entendimento de seu papel nas alterações
causadas pela adoção do SPD. Reciprocamente, o melhor entendimento
destas alterações poderia subsidiar previsões sobre as potencialidades de
seqüestro de carbono em diferentes tipos de solo sob Sistema Plantio Direto,
no âmbito do Protocolo de Quioto. As simulações mais precisas da MOS em
diferentes condições subsidiaria, ainda, a seleção de sistemas de
sucessão/rotação de culturas mais adequados ao SPD, de forma a maximizar
os benefícios gerados pela MOS.
O fracionamento densimétrico parece melhor atender a demanda por
separação de reservatórios da MOS dinamicamente diferentes,
principalmente se combinado a procedimentos granulométricos de separação
de agregados primários e secundários.
126 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

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6
Emprego do Isótopo Estável 13C
para o Estudo da Dinâmica da
Matéria Orgânica do Solo

Bruno José Rodrigues Alves


David V. de Campos
Cláudia Pozzi Jantalia Sisti
Segundo Urquiaga
Robert Michael Boddey
Resumo - O uso de isótopos em estudos da dinâmica da matéria
orgânica do solo (MOS) iniciou-se com o emprego do isótopo radioativo 14C.
Apesar de extremamente eficiente, tais estudos têm limitações, principalmente
em relação aos elevados custos. Após a descoberta da existência de
discriminação diferenciada do isótopo estável 13C entre plantas de ciclos
fotossintéticos distintos, a utilização da abundância natural desse isótopo
passou a ser empregada em estudos da dinâmica da MOS. A técnica é mais
utilizada quando uma vegetação predominada por plantas de um determinado
ciclo fotossintético é substituída por plantas de ciclo fotossintético diferente. Na
maioria dos casos, a substituição tem sido de plantas C3 por plantas C4.
Equações simples de balanço de massas permitem acessar as quantidades de
materiais derivados de cada tipo de planta em um determinado tempo.
Conhecendo-se o período de substituição das vegetações, pode-se derivar as
constantes de decomposição da matéria orgânica total ou de suas frações. A
técnica pode, ainda, ser utilizada em algumas situações onde há mistura de
vegetações, desde que haja subsídios suficientes para utilização de modelos
específicos. O presente capítulo discute essas possibilidades, à luz de
exemplos práticos de experimentos onde a técnica foi utilizada. São
apresentados os procedimentos de cálculos e discutidas as limitações.
Conclui-se que a técnica constitui-se em importante ferramenta para o estudo
da dinâmica da MOS, sendo útil na parametrização dos modelos de simulação
de sua dinâmica.
134 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Use of 13C Isotopes to Study Soil


Organic Matter Dynamics

Abstract - The use of isotopes in studies of soil organic matter (SOM)


dynamics started with the utilization of the stable radioactive isotope 14C.
Although extremely useful, those studies were limited by the high costs of the
analysis. After discovering the existence of differential discrimination of the
stable isotope 13C between plants of different photosynthetic pathways, the
utilization of the natural abundance o this stable isotope started to be used in
SOM dynamic studies. The technique is used when a vegetation dominated by
plants of a given photosynthetic pathway is replaced by plants of a different
photosynthetic pathway. In most of the studies, the substitution has been from
C3 to C4 plants. Simple mass balance equations allow estimates of quantities
of the different plant material, in a given period of time. Knowing this period of
time, one may derive the decomposition constants of the total SOM or of one of
its fractions. The technique may also be used in some cases where there is a
mix of vegetations, since the adequate data is available to allow the application
of specific models. The present chapter discusses these possibilities in the
light of practical examples when the technique was used. Calculations are
presented and the limitations discussed. It is concluded that the technique
constitute an important tool in studies of SOM dynamics, been important in the
parameterization of simulation models.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 135

Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) tem grande influência sobre as
propriedades químicas e físicas dos solos tropicais e, por isso, é considerada
componente chave para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A
decomposição de resíduos vegetais e animais que chegam ao solo, que
podem contribuir para o acúmulo de matéria orgânica no solo, reúne
processos biológicos que são componentes essenciais do ciclo do C. Durante
o processo de decomposição destes resíduos orgânicos, alguns compostos
escapam da ação biológica através da interação com colóides minerais do
solo, ou pelas próprias características estruturais que lhes conferem
recalcitrância, e passam a formar o húmus ou a matéria orgânica coloidal do
solo. Assim, a qualidade e a quantidade dos resíduos orgânicos implicarão em
maior ou menor acumulação de MOS.

O entendimento da dinâmica da MOS representa um desafio metodológico


para a comunidade científica. Medições diretas do acúmulo ou redução da
MOS, ou de suas frações no solo, exigem o acompanhamento por vários
anos, em experimentos de longa duração. Tais experimentos são escassos, o
que dificulta a obtenção de valores precisos sobre constantes de
decomposição, essenciais à parametrização e calibração de simuladores da
dinâmica da MOS.
As técnicas isotópicas representam uma ferramenta fundamental para
contornar a escassez de experimentos de longa duração e permitir a obtenção
de parâmetros de dinâmica da MOS. Inicialmente, optou-se pela utilização de
isótopos radioativos, em particular a abundância natural do 14C, amplamente
utilizado em estudos paleontológicos. Entretanto, os elevados custos da
determinação dos teores naturais de 14C em amostras de solo, em estudos de
dinâmica da MOS, tornaram a técnica bastante restrita. Estudos utilizando
materiais enriquecidos com 14C têm um custo menor e têm contribuído para o
entendimento da dinâmica de frações mais lábeis da MOS e para a elucidação
de processos específicos.

Uma alternativa extremamente interessante para tais estudos surgiu com a


descoberta de que o isótopo estável 13C poderia ser utilizado como um
traçador natural de materiais orgânicos provenientes de diferentes grupos de
plantas. Com custos significativamente inferiores, a utilização deste isótopo
tem possibilitado a realização de uma série de trabalhos, onde são derivados
136 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

parâmetros da dinâmica da MOS, em estudos sobre a influência dos


diferentes sistemas de produção.
O objetivo do presente capítulo foi revisar as principais possibilidades de
utilização da técnica baseada na abundância natural do isótopo estável 13C para
estudos da dinâmica da matéria orgânica do solo, buscando evidenciar as suas
possibilidade de uso como importante ferramenta na definição de parâmetros a
serem utilizados em modelos matemáticos e simuladores dessa dinâmica.

A abundância Natural do 13C


Na natureza, existem dois isótopos estáveis do C que se encontram em
proporções estáveis em diferentes tipos de materiais. O 12C é o mais leve e
apresenta a maior proporção em relação ao total de C na natureza (98,89%).
O 13C representa apenas 1,11% do total. Essas proporções se mantêm
relativamente estáveis em qualquer resíduo orgânico. No entanto, com o
advento de espectrômetros de massas mais sensíveis, observou-se que
quando o C passa de um estado físico-químico para outro, freqüentemente
ocorre uma discriminação entre os dois isótopos, ou seja, um isótopo muda de
estado preferencialmente, ou mais rapidamente, em relação ao outro. Isto faz
com que ocorra uma variação na casa dos milhares, na proporção 13C/12C.

As análises da composição isotópica de C são feitas medindo-se a relação de


13
C/12C das amostras em relação a um padrão internacional. O resultado é
expresso em termos da diferença de 13C em relação ao padrão. Devido à baixa
concentração de CO2 na atmosfera (~370 mL L-1) e aos grandes fluxos de CO2
que ocorrem (como o produto da queima de biomassa e de combustíveis
fósseis, no processo de fotossíntese e na respiração de plantas e
microrganismos), a abundância natural do CO2 na atmosfera mostra
variações espaciais e temporais significativas. Desta forma, os valores
atmosféricos não podem ser utilizados como padrão de referência, da mesma
maneira que a abundância natural de 15N do N2 atmosférico é utilizada para o
padrão desse isótopo estável (Junk & Svec, 1958; Mariotti, 1983).

O padrão internacional para o carbono é uma rocha calcária dolomítica


(Belemnita), encontrada em uma formação geológica denominada Pee Dee,
na Carolina do Norte, EUA, cuja abreviação é PDB (Pee Dee Belemnite). Essa
rocha tem uma relação molar de 13C/12C (R) de 0,01124. Os desvios em relação
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 137

ao padrão são conhecidos como unidades (letra grega delta minúscula) e,


como são valores muito pequenos, convencionou-se expressá-los em partes
por mil (‰).

A composição isotópica das plantas em relação ao padrão PDB é determinada


pela equação:

R -R 
δ 13CPDB(‰)   amostra PDB   1000 (1)
 RPDB 

onde R é a relação molar 13C/12C. Como a relação molar 13C/12C das plantas é
inferior a do PDB, o d 13CPDB das plantas é negativo.

Usando-se essa terminologia, os valores de d13C do CO2 atmosférico situam-


se em torno de -7‰ dPDB13C e as plantas têm valores variando de 11 a 35 ‰
dPDB13C (Farquhar et al., 1989). Ao longo do presente texto, será utilizado o
termo 1 delta como equivalente a 1 ‰ dPDB13C.
As maiores diferenças na composição isotópica de C nos tecidos vegetais são
observadas entre espécies que têm ciclo de carboxilação C3 e as que têm ciclo
C4. Sendo que as plantas do ciclo C3 (ou de Calvin) fixam o CO2 atmosférico
através da enzima RUBISCO (Ribulose bifosfato carboxilase/oxigenase), e as
do grupo C4, fixam CO2 através da enzima PEP carboxilase (fosfoenolpiruvato
carboxilase). A PEP carboxilase apresenta alta afinidade (baixo Km) pelo CO2
(Magalhães, 1985). Como a RUBISCO apresenta uma menor afinidade pelo
CO2, essa enzima discrimina o isótopo pesado de carbono, 13C, em relação ao
isótopo leve, 12C, muito mais do que a PEP carboxilase. Assim, as plantas de
ciclo C3 acumulam menos 13C. A discriminação envolvida nesse processo foi
relatada para diversos grupos de plantas por Smith & Epstein (1971). Nesse
estudo, os autores observaram que uma significativa discriminação isotópica
ocorria com intensidades diferentes entre plantas de ciclo fotossintético C3 e
C4, as quais foram separadas em diferentes grupos (Fig. 1).
Plantas de ciclo C3, como as dicotiledôneas, discriminam mais intensamente o
13
C e, por isso, apresentam variações na abundância isotópica de 13C, que vão
de -20 a -34 deltas (em média -27 deltas). Exemplares deste grupo com maior
abundância de 13C pertencem a ambientes mais secos e, supostamente,
devem apresentar alguma evolução no sistema fotossintético, afetando o
aproveitamento do CO2 atmosférico.
138 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Monocotyledoneae
Algae
Dicotyledoneae
Bryophyta, Gymnospermae

II

III

-8 -14 -20 -26 -32


13
 C
Fig. 1. 13C em diferentes grupos de plantas.
Fonte: Adaptado de Smith & Epstein (1971).

As plantas de ciclo C4, em sua maioria monocotiledôneas, discriminam menos


o 13C e apresentam valores que variam de -9 a -17 deltas (em média -13
deltas). Devido à diferença média de 14 deltas, os ciclos fotossintéticos
podem ser identificados com base na análise da variação da abundância
isotópica do 13C.
Por outro lado, adaptações que levam a maiores relações 13C/12C parecem ser
uma resposta da vida sob condições mais limitantes, como sob os ambientes
xéricos e aquáticos. As briófitas podem apresentar um sinal isotópico
semelhante a plantas C3 ou C4, dependendo das condições de disponibilidade
de água. As algas podem ter como fonte de C o bicarbonato dissolvido na
água, o que poderia explicar valores mais altos de 13C encontrados para
alguns representantes desta família (Fig. 1). Em condições de estresse
hídrico, plantas de ciclo C3 tendem a discriminar menos o 13C, o que tem sido
utilizado como uma ferramenta para seleção de variedades mais adequadas
para climas mais áridos (Pate, 2001).
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 139

Dinâmica do C do Solo Avaliada


13
através
do Isótopo C
O uso da abundância natural de 13C para estudo da origem do C do solo
pressupõe que a matéria orgânica do solo reflete o material vegetal do qual se
derivou (uma marcação “in situ”). Ocorre uma discriminação isotópica do 13C
durante a decomposição do resíduo, que altera levemente a marcação
isotópica da matéria orgânica do solo e o grau com que isso ocorre está
relacionado com a composição química dos resíduos.
Compostos como proteínas, açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos têm
valores similares de 13C e são facilmente decomponíveis. Lipídeos e
carotenóides, porém, são empobrecidos em 13C, tanto em espécies C3 como
C4, e têm decomposição mais lenta (Whelan et al., 1970). Celulose e
hemicelulose compõem de 57% a 77% do tecido de plantas herbáceas e são
tipicamente enriquecidas em 13C, com valores de 1 a 2 deltas superiores ao
material total da planta. Plantas arbóreas possuem de 17% a 31% de lignina
na sua biomassa do tecido lenhoso, que possui maior teor de carbono (> 50%)
do que a celulose, sendo, por isso, responsável por uma maior porcentagem
do C total. A lignina é um composto de difícil decomposição e empobrecido em
13
C em relação à celulose (Benner et al., 1987), o que é um outro fator para
determinar a marcação final da matéria orgânica do solo. Não obstante, tem
sido observado que na maioria dos casos a discriminação isotópica pela
decomposição é pequena e varia entre 1 a 2 deltas (Balesdent & Mariotti,
1987; Martin et al., 1990).
Um exemplo de tal enriquecimento pode ser observado nos dados obtidos em
um perfil de floresta no sul da Bahia, onde o solo foi amostrado até
100 cm (Tarré et al., 2001). Os resultados mostraram que houve um gradual
enriquecimento no isótopo mais pesado (13C) com a variação da profundidade
no perfil, sendo -27,5 ‰ no intervalo 0-5 cm e -24,8 ‰ no intervalo 80-100 cm
(Fig. 2).

O primeiro trabalho a utilizar a abundância natural de 13C para avaliar as


contribuições individuais de plantas C3 e C4 foi o de Cerri et al. (1985). Neste
trabalho, foi examinada a perda de C derivado da mata ao redor de Piracicaba,
SP, após 12 e 50 anos da introdução da cultura de cana-de-açúcar. Na
cronosseqüência estudada, o estoque de C do solo (0-70 cm) sob a mata foi
126 Mg ha-1, bem maior do que sob as plantações de cana-de-açúcar (de
140 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

78 e 92 Mg C ha-1, respectivamente, para os canaviais de 12 e 50 anos). Até a


profundidade de 30 cm, a abundância de 13C do C total do solo sob a floresta foi
constante e de aproximadamente -25 ‰, mas após 40 cm de profundidade
encontrou-se um aumento até -18 ‰, na profundidade de 70 cm, sugerindo
que em épocas anteriores a vegetação natural da área possuía uma
proporção significativa de plantas do ciclo C4. Resultados semelhantes foram
relatados por Pessenda et al. (2001) para um sítio na mesma região
(Jaguariúna, SP). Na camada 0 a 20 cm dos solos sob a cana-de-açúcar, de
12 e 50 anos de idade, a abundância de 13C foi de -23,7 e -20,7 ‰,
respectivamente, mostrando a contribuição significativa do C derivado da
cana nestes solos. Os autores calcularam que a contribuição de C derivada de
cana-de-açúcar foram de 11% e 36 %, respectivamente.

0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 80
80 - 100

-10 -15 -20 -25 -30


13
C ‰ PDB
Fig. 2. Abundância natural de 13C no perfil do solo sob uma área da Mata Atlântica no
Município de Itabela, extremo sul da Bahia.
Fonte: Tarré et al. (2001).
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 141

Esta técnica já foi empregada com sucesso em vários estudos, tanto no clima
tropical como em regiões de clima temperado, para estudar a dinâmica de
carbono do solo a longo prazo, onde o padrão fotossintético da vegetação
original foi modificada (Balesdent & Mariotti, 1987; Martin et al., 1990;
Skjemstad et al., 1990; Jastrow et al., 1996).
No trabalho de Tarré et al. (2001), a matéria orgânica do solo sob floresta
recebeu, por um longo tempo, carbono enriquecido em 13C da pastagem
(aproximadamente -12 ‰) e teve sua composição isotópica modificada até
30 cm de profundidade (Fig. 3).

0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 80
80 - 100

-10 -15 -20 -25 -30


13C ‰
PDB

Fig. 3. Abundância de 13C no perfil de um solo sob pastagens de Brachiaria humidicola.


Fonte: Tarré et al. (2001).

Através de um modelo simples e sabendo-se a composição isotópica inicial do


solo sob a vegetação nativa (C3) e sob a Brachiaria (C4), foi possível calcular a
quantidade de C derivado das duas fontes vegetais, utilizando as seguintes
equações (Balesdent et al., 1988; Vitorello et al., 1989):

  13C   13C A  (2)


% MOS F   13 B   100
  CF   C A 
13
142 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

%MOSA = 100 - %MOSf (3)

Onde, %MOSF é a proporção da matéria orgânica do solo derivada da


vegetação nativa (C3), que possui uma marcação natural d13CF;d13CA é a
marcação natural da vegetação C4; d13CB é a marcação natural do C do solo
sob a nova vegetação.

Aplicando esta equação aos dados mostrados na Fig. 3, Tarré et al. (2001)
determinaram que após 9 anos do estabelecimento da pastagem de
B. humidicola, quase metade (44%) do C presente na camada 0-5 cm do solo
foi derivado da Brachiaria, mas em profundidades maiores de 40 cm, esta
contribuição foi desprezível (Fig. 4).

0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
C derivado da vegetação da floresta (C3)
60 - 80
C derivado da Brachiaria (C4)
80 - 100

0 5 10 15 20 25 30
-3
Conteúdo de C no solo (kg C m )

Fig. 4. Quantidades de carbono derivado da floresta e da Brachiaria no solo sob uma


pastagem de B. humidicola, estabelecida há nove anos na estação ESSUL/CEPLAC
no Município de Itabela, no extremo sul da Bahia.
Fonte: Tarré et al. (2001).
Valores são médias de nove repetições. Barras de erro indicam erro padrão das médias.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 143

Num estudo utilizando essa técnica, Roscoe et al. (2000) mostraram como a
incidência de fogo na região do Cerrado, provocou um aumento na proporção
dos resíduos de gramíneas C4 no solo. Após 21 anos, o solo sob duas áreas
com crescente incidência de fogo não mostrou diferenças nos estoques de
MOS até 100 cm de profundidade, mas a abundância de 13C no perfil foi
radicalmente alterada em comparação com o Cerrado (sensu stricto) de baixa
incidência de fogo (Fig. 5). Utilizando a mesma técnica de cálculo empregada
por Tarré et al. (2001 - Equação 2), concluíram que mais de um terço do
estoque do C do solo (67,5 Mg ha-1) foi substituído por resíduos derivados de
gramíneas de C4.

13C (‰)
-28 -26 -24 -22 -20 -18
0

20

40

Cerrado 1
60 Cerrado 2
Cerrado 3
80

100
-28 -26 -24 -22 -20 -18
Fig. 5. Abundância natural de 13C (13C) do solo em três áreas adjacentes, sob
Cerrado sensu-stricto, após 21 anos com diferentes incidências de queimadas, Sete
Lagoas, MG. Área “Cerrado 1” e “Cerrado 2” sofreram poucas queimadas, e “Cerrado
3”, freqüentes queimadas.
Fonte: Adaptado de Roscoe et al. (2000).
144 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Nos estudos da dinâmica da C no solo, existe grande interesse nas taxas de


deposição e degradação das várias frações de MOS. Em situações onde uma
vegetação de ciclo C3 ou C4 é removida e substituída por uma vegetação de
outro ciclo, a análise da abundância natural do 13C do C total do solo permite o
estudo da dinâmica da matéria orgânica originada de cada espécie,
independentemente. Um bom exemplo de estudo neste sentido foi publicado
por Moraes et al. (1996), que avaliaram a abundância natural de 13C do solo
numa cronosseqüência de pastagens na Amazônia, com cinco idades
diferentes, variando de 2 a 20 anos, na Fazenda Nova Vida em Rondônia
(Fig. 6). Combinando-se os dados do conteúdo de C na camada de 1 a 20 cm
de profundidade, foi possível visualizar a decomposição do C derivado da
floresta (C3) e o acúmulo do C derivado da Brachiaria (Fig. 7). Os autores
usaram um modelo matemático simples para descrever a degradação do C
derivado da floresta com dois compartimentos de C; um estável, de tempo
médio de residência infinito, e um outro de decomposição exponencial
chamado 'biodegradável':

Cdf = Cdfs + Cdfb[exp(-kf·t)] (4)

onde Cdf é a quantidade do C no solo derivado da floresta (plantas C3) como


uma função do tempo (t); Cdfs a fração estável deste C com um tempo médio
de residência infinito; e kf é a constante de decomposição do C biodegradável
(Cdfb) derivado da floresta.

Os autores usaram uma equação semelhante para o acúmulo de C derivado


da Brachiaria (Cdp):

Cdp = Cdp[1 exp.(-kp·t)] (5)

onde Cdp é limite máximo de acúmulo do C derivado da Brachiaria e kp é a taxa


de acumulação deste C.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 145

13
 C (‰)
-30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16 -14
0

10

15 Floresta
Pastagem 3 anos
Pastagem 5 anos
20
Pastagem 9 anos
Pastagem 13 anos
25 Pastagem 20 anos

30
-30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16 -14

Fig. 6. Abundância natural de 13C do solo sob a floresta e sob uma seqüência de
pastagens estabelecidas entre 3 e 20 anos num Latossolo Podzólico vermelho-
amarelho na Fazenda Nova Vida, Rondônia. Valores são médias de quatro repetições.
Fonte: Adaptada de Moraes et al. (1996).

3
k g C m- 2

1 Ctotal = Cdfl + Cdp


Cdfl = 2,12 + 1,69e-0,13
Cdp = 2,49 . (1 - e-0,12)
0

0 5 10 15 20
Idade da pastagem (anos)
Fig. 7. Dinâmica do carbono total (Ctotal) do solo, do C derivado da floresta (Cdfl) e do
C derivado da pastagem de Brachiaria (Cdp) numa cronosseqüência de 20 anos num
Latossolo Podzólico vermelho-amarelho na Fazenda Nova Vida, Rondônia.
Fonte: Adaptado de Moraes et al. (1996).
146 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Os resultados deste estudo mostraram vários aspectos do mecanismo de


mudança do estoque de C, em pastagens instaladas após o desmatamento da
floresta:

1) A perda do C derivado da floresta foi inicialmente rápida e eventualmente


estabilizou em taxas muito baixas. O modelo utilizado pressupõe que a taxa
de decomposição do C (g g-1) do compartimento biodegradável é constante
(neste caso, o tempo médio de residência aproxima-se de oito anos), mas
como a quantidade de C desta fração diminui, a curva da decomposição é
exponencial e atinge zero após um tempo infinito, deixando somente a
fração estável do C (Cdfs).
2) A taxa de acúmulo de C derivado da Brachiaria foi inicialmente rápida e
depois diminuiu. Supõe-se que a deposição de matéria orgânica pela
Brachiaria (liteira e raízes) é constante, mas a sua decomposição bruta
aumenta proporcionalmente à quantidade total depositada até o momento
em que se atinge um equilíbrio (Cdp¥) entre as taxas de deposição e
decomposição.

3) Como a taxa bruta de decomposição do C da floresta foi mais baixa do que a


taxa bruta de deposição do C da Brachiaria, o efeito global neste caso foi
que o C total do solo aumentou com o tempo.

O fato de que os coeficientes de determinação das curvas de mudanças de


Cdf e Cdp foram muito altos (r2 = 0,99) sugere que o modelo foi apropriado,
mas deve-se destacar que, normalmente, os modelos de decomposição de
matéria orgânica são mais complexos, com vários compartimentos de C com
diferentes taxas específicas de decomposição (e.g. Parton et al., 1987;
Vanlauwe et al., 1996; Urquiaga et al., 1998).
Num outro estudo recente de Campos (2003), foram avaliadas três áreas
numa cronosseqüência de Mata Atlântica original e áreas de pastagens e
cana-de-açúcar num Argissolo arenoso (>84% areia) dos Tabuleiros do norte
do Espírito Santo (Conceição da Barra). A cronosseqüência era constituída de
uma área onde a floresta (C3) foi removida e substituída há 20 anos por
Brachiaria decumbens (ciclo C4), e a área onde a floresta foi removida e
substituída há 20 anos com B. decumbens e que após 8 anos foi novamente
substituída por cana-de-açúcar (também de ciclo C4). Após a implantação da
cana-de-açúcar, o canavial foi renovado com aração profunda e sulcos de
40 cm de profundidade, o que significa que o solo nesta área sofreu uma
grande perturbação física (revolvimento) por três vezes (uma vez na
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 147

implantação, e em duas renovações do canavial) durante um período de 12


anos, antes da amostragem das áreas. Os resultados mostraram que sob 22
anos de pastagem houve um aumento significativo no estoque (0-100 cm) de
C do solo (8,8 Mg C ha-1) em comparação com a mata original (62,0 Mg C ha-1).
No entanto, na área que foi de pastagem por 8 anos seguida por 12 anos de
cana-de-açúcar, o estoque de C do solo foi de 50,9 Mg C ha-1, sendo 18%
menor do que aquele sob a mata original (Fig. 8). Com os dados da
abundância de 13C, foi possível avaliar nesta cronosseqüência a dinâmica do
C derivado da floresta, e das plantas cultivadas de Brachiaria e cana-de-
açúcar. Sob a pastagem, após 20 anos, o C derivado da floresta diminui em
9%, mas onde o solo foi intensivamente revolvido sob a cultura de cana a
quantidade do C derivado da mata original diminui 35%. Portanto, o emprego
da análise de abundância natural de 13C do solo revelou que a grande queda
no estoque da MOS sob a cana-de-açúcar, em comparação com a braquiária,
foi principalmente por causa do estímulo da decomposição da MOS original da
mata provocada por aração e sulcamento e não porque as quantidades de
resíduos de cana foram menores do que aquelas da pastagem.
80
C-C4
C-C3
60

40

20

0
mata pasto cana
Cobertura
Fig. 8. Estoque de carbono até a profundidade de 1,0 m, e quantidades derivadas da
vegetação da floresta (C-C3) e das culturas C4 (C-C4), em solo sob a cobertura de mata
secundária, sob pastagem de Brachiaria brizantha de 22 anos de idade e sob uma área
que foi de pastagem de B. decumbens por 10 anos seguida por cana-de-açúcar por
12 anos. Usina Alcon, Município de Conceição da Barra, ES. Valores são médias de
quatro repetições.
Fonte: Campos (2003).
148 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Em sistemas onde a matéria orgânica nativa do solo de origem C3 (por


exemplo, no caso de áreas cuja vegetação nativa era uma floresta) é
substituída por matéria orgânica derivada de culturas de ciclos C3 e C4 em
consórcio ou em rotação, estudos da dinâmica das três fontes do C do solo
(florestas, cultura C3 e cultura C4) ficam mais complexos ou, às vezes,
impossível. Uma forma de estimar a contribuição dos resíduos da espécie C3
foi proposta por Cadisch & Giller (1996), para avaliar o papel das leguminosas
forrageiras em pastagens de braquiária. Neste caso, é essencial que exista no
experimento (ou cronosseqüência) um tratamento onde foi implantada
somente a cultura de ciclo C4, simultaneamente com o consórcio das culturas
C3 e C4. Inicialmente, avalia-se o estoque de C no solo derivado da mata
original sob a cultura C4 (braquiária) em monocultura, utilizando o
procedimento explicado anteriormente (Equação 2). Em seguida, é suposto
que, após o mesmo período, o estoque de C originalmente da mata, no solo
sob pastagem, é igual aquele sob a pastagem consorciada. Em outras
palavras, supõe-se que a introdução da leguminosa na pastagem não cause
efeito significativo na taxa de decomposição do C derivado da mata.
A proporção da matéria orgânica do solo derivada da espécie C3 (%MOSl) é
calculadautilizando a equação desenvolvida por Cadisch & Giller (1996):

1  13 13
C( g ) 13 
%MOSl   C( gl )  Cg  ( Cl  13C( g ) ) (6)
 Cl  13C g
13
 C( gl ) 

Onde, %MOSl é a proporção da matéria orgânica do solo derivada da espécie


C3, que possui uma marcação natural d13Cl; d 13Cg é a marcação natural na
espécie C4 e d13C(g) a marcação do solo sob esta espécie; d13C(gl) é a marcação
natural do C do solo sob o consórcio; C(g) e C(gl) são, respectivamente, o
conteúdo de C do solo sob a espécie C4 e sob o consórcio.
Esta mesma técnica foi empregada por Sisti et al. (2003), que estudaram as
mudanças dos estoques de C e N do solo sob três rotações de culturas (R1 -
trigo/soja, R2 - trigo/soja - ervilhaca/milho, e R3 - trigo/soja - aveia preta/soja -
ervilhaca/milho), manejadas com plantio direto (PD) ou plantio convencional
(PC - arado de discos), 13 anos após o início do experimento. A matéria
orgânica do solo sob vegetação nativa original neste sítio (Embrapa Trigo,
Passo Fundo, RS) era derivada de uma mistura de plantas C3 e C4, e a
abundância natural de 13C do C derivado da mata original foi estimado em
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 149

-15,5‰ (na camada 0-30 cm) através da aplicação de técnica desenvolvida por
Balesdent et al. (1990). Como a rotação 1 foi constituída somente por culturas
do ciclo C3 (trigo e soja, abundância natural de 13C ~-28 ‰) foi possível calcular
o estoque do C (0-30 cm) no solo, derivado da vegetação nativa original.
Utilizando á técnica de Cadisch & Giller (1996) e empregando a suposição de
que a presença de outras culturas adicionais como milho (C4) ou ervilhaca e
aveia (C3) não teriam nenhum efeito na taxa de decomposição dessa MOS,
foram calculadas as quantidades de C no solo, derivadas de todas as culturas.
Nas rotações sob PD, os resultados suportam a suposição de Cadisch & Giller
(1996), mas foi evidente que, quando o solo foi revolvido nos tratamentos de
PC, houve um grande efeito da composição das culturas presentes na rotação,
sobre a taxa de decomposição da MOS derivada da vegetação nativa original.

Dinâmica do C em Frações Físicas do Solo,


Avaliada Através do Isótopo 13C
Desde o início do século XIX, as técnicas usadas para o estudo da MOS foram
dominadas pela tentativa de caracterização química. Entretanto, houve
alguns pesquisadores (provavelmente o primeiro foi Schloesing em 1874,
citado por Feller, 1999) que investigaram o fracionamento granulométrico,
questionando a distribuição da matéria orgânica entre as frações areia e
argila, discutindo assim as propriedades físicas do solo e sua relação com a
MOS. Subseqüentemente, investigou-se o fracionamento densimétrico,
separando frações leves e pesadas do solo em soluções, ou suspensões, de
densidade entre 1,2 e 1,8 g cm-3. As frações da MOS associadas às partículas
mais grossas do solo (areia), ou as chamadas frações leves da MOS, se
caracterizam por ser material vegetal pouco decomposto, de alta relação C:N.
Estas, em comparação às chamadas frações pesadas da MOS, ou associada
a partículas mais finas (associadas a silte ou argila), mostraram uma taxa de
degradação maior (Christensen, 1992).

Atualmente, existem vários protocolos para a realização do fracionamento


físico da MOS, alguns baseados somente no fracionamento granulométrico
(MOS associada à areia, silte e argila), e outros onde, primeiramente, é
conduzida uma separação de frações leve e pesada da MOS (fracionamento
densimétrico), seguido por um fracionamento granulométrico desta última
fração da MOS.
150 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Nos últimos 20 anos, foram desenvolvidos vários modelos objetivando a


previsão das taxas de acúmulo ou decomposição do MOS, e o fornecimento
de nutrientes para culturas ou vegetação natural através da mineralização
dessa fonte. Para a modelagem da dinâmica de decomposição da MOS, estes
modelos (e.g. Century - Parton et al., 1987; e RothC - Jenkinson, 1990;
Coleman & Jenkinson, 1996) consideram a MOS como composta por vários
compartimentos (“pools”) de diferentes graus de degradabilidade/
recalcitrância. Esses compartimentos utilizados nos modelos são puramente
teóricos e não coincidem com as frações físicas separadas por fracionamento
densimétrico/granulométrico. Em muitas situações, os modelos têm descrito
de forma bem aceitável a dinâmica de MOS em diversos agro-ecossistemas e
ecossistemas naturais (florestas e pastagens), mas uma das maiores
dificuldades é a parametrização do modelo, devido ao fato de que os
compartimentos da MOS não são mensuráveis. Apesar da proposta de
separação das frações físicas do solo com diferentes graus de
degradabilidade/recalcitrância, apresentada em várias publicações, ainda
não se tentou integrar esta idéia em modelos viáveis.
No processo de decomposição da MOS, os microorganismos mostram uma
pequena preferência pelo isótopo mais leve (Blair et al., 1985), 12C, o que
resulta num pequeno enriquecimento de 13C dos resíduos mais “humificados”.
Portanto, em solos sob uma vegetação com determinado metabolismo
fotossintético (e.g C3, típico de florestas), normalmente se encontra que as
frações leves, ou aquelas associadas a areia, são menos enriquecidas com
13
C. Num estudo da abundância natural de 13C de frações granulométricas do
solo sob área de floresta, próxima a Piracicaba,SP, Bonde et al. (1992)
encontraram que na camada 0 a 12 cm, a abundância de 13C das frações de
MOS associadas à areia foram aproximadamente 1,2 ‰ mais negativas
(menos enriquecidas em 13C) do que a MOS associada à argila. A MOS
associada ao silte mostrou-se com uma marcação de 13C intermediária
(Tabela 1.). Assim, pode-se dizer que a abundância natural de 13C tem
potencial para refletir a recalcitrância da MOS do solo.

A técnica de 13C tem ainda mais utilidade, em estudos do solo sob seqüências
de vegetação com diferentes ciclos fotossintéticos. Trabalhos pioneiros deste
tipo foram feitos no Brasil, em uma seqüência de floresta (C3) seguida por
cana-de-açúcar (C4), no Estado de São Paulo (Vitorello et al., 1989; Bonde et
al., 1992); em seqüências de floresta/mata seguida por pastagens de
Brachiaria (C4) na Amazônia (Feigl et al., 1995), na região dos Cerrados
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 151

Tabela 1. Abundância natural de 13C (‰) de frações granulométricas de solo


retirado nas camadas de 0 a 6 e 6 a 12 cm, sob uma floresta, e na camada 0 a
10 cm, sob áreas de cana-de-açúcar estabelecidas há 12 e 50 anos, em
Piracicaba, SP.

Fração
Vegetação/
Profundidade Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
(<2 m) (2-20 m) (20 a 63 m) (63 a 200 m) (200-2000 um)
Floresta
0 - 6 cm -25,9 ± 0,6 -26,6 ± 0,1 -26,8 ± 0,2 -27,1 ± 0,2 -27,1 ± 0,2
6 - 12 cm -25,7 ± 0,1 -26,6 ± 0,2 -27,0 ± 0,5 -27,0 ± 0,7 -26,9 ± 0,9
Cana
(12 anos)
0 - 10 cm -24,8 ± 0,1 -23,9 ± 0,2 -24,1 ± 0,1 -22,9 ± 0,3 -21,3 ± 2,4

Cana
(50 anos)
0 - 10 cm -23,0 ± 0,2 -21,2 ± 0,2 -21,5 ± 0,1 -21,7 ± 0,1 -22,7 ± 1,0

Valores são médias de três repetições ± erro padrão da média.


Fonte: Bonde et al. (1992).

(Roscoe et al., 2001); e mais recentemente na região da Mata Atlântica


(Campos, 2003). Bonde et al. (1992) mostrou que em solos utilizados para
cana-de-açúcar a 12 ou 50 anos, as frações granulométricas mais grossas
mostraram valores de 13C menos negativos do que aqueles das frações mais
finas (Tabela 1). Estes resultados podem ser explicados pela diferente
dinâmica das frações físicas. Frações finas como argila e silte conservaram
mais o carbono (C3) velho, originado da floresta (-26 ‰), com pouca
participação do C (C4) da cana-de-açúcar (~-13 ‰). Portanto, após 12 anos da
instalação da cana-de-açúcar, o C associado às frações argila e silte exibiram
abundância natural de d13C de -24,8 e -23,9 ‰, respectivamente. Após 50
anos com a cultura da cana-de-açúcar, essas frações mais finas mostraram
maiores contribuições do C da cana, sendo de -23,0 e -21,2 ‰, respectiva-
mente. Em contraste, o C associado à fração areia foi ligeiramente mais
positivo em 13C, entre -24,1 a -21,3 ‰, no canavial de 12 anos de idade, e entre
-21,5 e -22,7 ‰, no canavial estabelecido há 50 anos. Estes dados mostraram
que o C original da floresta foi menos conservado nestas frações e foi mais
facilmente substituído pelo C da cana-de-açúcar (Tabela 2).
152 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Tabela 2. Estimativas da proporção (%) de carbono derivado da vegetação da


floresta em frações granulométricas do solo sob áreas de cana-de-açúcar
estabelecidas há 12 e 50 anos, respectivamente, em Piracicaba, SP.

Vegetação/ Fração
Profundidade Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
(<2 m) (2-20 m) (20 a 63 m) (63 a 200 m) (200-2000 mm)

Cana
(12 anos)
0 - 10 cm 61 37 36 7 17

Cana
(50 anos)
0 - 10 cm 51 28 32 6 10

Valores são médias de três repetições ± erro padrão da média.


Fonte: Bonde et al. (1992).

Existem muitas variações nas técnicas utilizadas por diferentes


pesquisadores para o fracionamento físico do solo (ver Capítulo 5). A
utilização da pré-separação densimétrica seguida pelo fracionamento
granulométrico, conforme descrito por Sohi et al. (2001), por exemplo, parece
produzir frações mais contrastantes em sua dinâmica de carbono, em
comparação com as técnicas que somente empregam o fracionamento
granulométrico, o que é evidenciado pelo emprego do 13C. Esse protocolo foi
aplicado por Campos (2003) à cronosseqüência de floresta seguida por
Brachiaria e por cana-de-açúcar, descrita anteriormente (Seção 3. Fig. 8).
Inicialmente, as amostras do solo foram agitadas levemente com uma solução
de iodeto de sódio (densidade 1,8 g cm-3), para a separação da fração leve
livre. Em seguida, a suspensão foi agitada com ultra-som por 15 minutos
(1.500 J g-1), para desintegrar agregados estáveis. A fração leve (chamada
fração leve intra-agregado) foi separada por centrifugação a 8.000 g por 30
minutos. Na seqüência, a fração pesada foi separada por peneiramento e
decantação nas frações areia (25 a 2.000 mm), silte (2 a 25 mm) e argila
(<2 mm) (Tabela 3).
Tabela 3. Quantidades de carbono (Mg ha-1), e constantes de decomposição(1), derivado da vegetação original da
floresta (Cdfl) nas frações físicas(2) da MOS (0-30 cm) sob uma pastagem (Brachiaria decumbens) instalada há 22
anos, e de uma área com uma seqüência de B. decumbens por 10 anos seguida por cana de açúcar, por 12 anos.

Cdfl nas frações do solo sob: Estimativa


´k´ do Cdfl ´k´ do Cd fl
Pastagem Pastagem 10 do Cdfl sob a
Fração Floresta sob a sob a a cana-
de 22 anos  cana -de- pastagem
original pastagem de-açúcar
anos açúcar 12 anos após 10 anos

Mg ha-1 ano-1

Leve livre 2,68 1,28 1,04 1,92 0,0336 20,6)(3) 0,0511 (13,6) (3)
Leve intra-
0,97 0,75 0,75 0,86 0,0117 (59,2) 0,0114 (60,8)
agregado
Areia 2,08 1,01 0,82 1,50 0,0328 (21,1) 0,0503 (13,8)
Silte 6,15 4,65 4,58 5,42 0,0127 (54,5) 0,0140 (49,5)
Argila 9,58 7,62 5,13 8,63 0,0104 (66,6) 0,0433 (16,0)
(1)
Constante de decomposição ´k´ do modelo simples exponencial (Olson, 1963).
(2)
Fracionamento física do solo seguindo o procedimento de Sohi et al. (2002).
(3) ½ ½
Valores em parênteses são meia vida (t ) do Cdfl na fração, onde t = ln(2)/k.
Médias de quatro repetições.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo

Fonte: Campos (2003).


153
154 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

No solo sobre a área de floresta, a abundância natural de 13C da fração leve era
típica de resíduos de vegetação C3, e mostrou poucos sinais de
enriquecimento em razão da sua decomposição (Fig. 9a). Normalmente, a
abundância natural do 13C no C associado às frações argila e silte é maior
(aproximadamente +2‰), por conter matéria orgânica mais humificada. No
entanto, surpreendentemente, a abundância de 13C do C associado à fração
areia do estudo em questão indicou conter um C mais humificado, em
comparação às demais frações, o que possivelmente seria explicado pelo fato
que grande parte desta fração consista de agregados de material que não
foram desintegrados pela ação do ultra-som.

Os dados de d13C do solo sob a pastagem de braquiária estabelecida há 22


anos (Fig. 9b) mostrou claramente uma grande contribuição do C da
Brachiaria (C4 - d13C ~-12,5 ‰) em todas as frações. Como era esperado, a
fração leve livre mostrou maior contribuição de C de origem C4 (d13C entre -16 e
-20‰) e a fração areia mostrou uma abundância de 13C muito semelhante. A
proporção do C derivado da braquiária nas frações argila e silte foi
consideravelmente menor, mostrando que o C original da floresta ficou mais
conservado e/ou menores proporções do C da braquiária foram integradas
nestes compartimentos. A abundância natural de 13C na fração leve intra-
agregado foi em geral semelhante a das frações de argila e silte, mostrando
que a agregação protegeu a MOS nativa e que o C da braquiária,
recentemente incorporado no solo através dos resíduos, foi integrado nesses
agregados muito lentamente.
Os dados de 13C do solo, sob a área que esteve durante 10 anos coberta por
braquiária, seguida por 12 anos de cana-de-açúcar, foram mais difíceis de
interpretar. Nesse tratamento, o solo foi revolvido na instalação e na
renovação do canavial. Embora os resíduos da cana e da braquiária possuam
praticamente a mesma abundância natural de 13C (-12‰), as proporções de C
de origem C3 e C4 nas diferentes frações foram muito diferentes daquelas da
pastagem de braquiária, onde o solo não foi perturbado. As maiores
proporções do C de origem C4 foram encontradas nas frações argila, silte e
areia (d13C entre -19 e -23‰). Para a fração areia este resultado foi esperado,
mas esperava-se que as frações argila e silte fossem menos dinâmicas e
conservassem mais o C nativo de origem C3 da floresta do que a fração leve
livre (d13C -22 a -27‰). Uma explicação para este fato seria a de que a
pulverização do solo desintegrou os agregados (perda de C de origem C3) e
estimulou a formação de novos agregados com C de origem C4.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 155

13
 C (‰)
-32 -30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16
0
A. Floresta

10

15

20

25

30
B. Brachiaria
5

10 F. leve
F. leve intra-
agregado
15
F. areia
20 F. silte
F. argila
25

30
C. Cana-de-açúcar

10

15

20

25

30
-32 -30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16
13
 C (‰)
13
Fig. 9. Abundância natural de C das frações físicas do solo até 30 cm de profundidade
sob (A) floresta, (B) pastagem de Brachiaria brizantha de 22 anos de idade e (C) área
que foi de pastagem de B. decumbens por 10 anos seguida por cana-de-açúcar por 12
anos. Usina Alcon, Município de Conceição da Barra, ES. Valores são médias de
quatro repetições.
Fonte: Campos (2003).
156 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

A técnica de abundância natural de 13C fica mais poderosa para a


interpretação da dinâmica do C nas várias frações físicas do solo, quando os
dados de d13C são combinados com as quantidades de C presentes em cada
fração. No caso do estudo de Campos (2003), os dados foram computados
para o conteúdo de C em cada fração, até 30 cm de profundidade (Fig. 10). A
maior quantidade do C do solo em toda cronosseqüência (floresta, Brachiaria,
cana-de-açúcar) foi estocada na fração argila estando entre 8 e 10 Mg ha-1.
Do estoque original de C da vegetação de floresta (9,6 Mg ha-1), sobraram
7,6 Mg ha-1 (uma redução de 20,5 %), após 22 anos de pastagem de B.
decumbens. Utilizando a suposição de que a degradação desta fração
obedece a um modelo simples exponencial do tipo Xt = X0.e-kt, onde Xt é o C
presente após ´t´ anos, X0 é o C originalmente presente no tempo zero, e ´k´ é
a constante de decomposição (Olson, 1963), encontrou-se um valor para a
constante ´k´ de -0,0104 ano-1, que significa uma meia-vida de 66,6 anos
(Tabela 3). A cana-de-açúcar foi estabelecida há 10 anos após o
desmatamento e instalação da pastagem. Utilizando o valor de ´k´ computado
para o C derivado da floresta (Cdfl) nesta fração do solo sob a Brachiaria, foi
possível calcular a quantidade deste C presente 10 anos após a instalação da
pastagem, quando foi estabelecida a cultura da cana-de-açúcar. Segundo
este cálculo, o C derivado da mata na fração argila neste tempo foi de 8,63 Mg
ha-1 e, durante os 12 anos seguintes, diminuiu para 5,13 Mg ha-1, o que
representou uma queda de 40,5%. Nessa fração, a constante de
decomposição do C derivado da floresta (´k´) aumentou mais de quatro vezes,
mostrando que o revolvimento do solo promoveu uma grande perda de Cdfl
associada às partículas de argila. O revolvimento do solo também promoveu
um aumento na taxa de decomposição do Cdfl nas frações leve livre e areia,
mas não alterou as quantidades do Cdfl associadas às frações leve intra-
agregado e silte.

Conclusões
Os resultados apresentados neste trabalho mostram o poder da análise de
abundância natural de 13C no C total dos solos e em suas frações físicas, para
estudos da dinâmica do C em sistemas pastoris e agrícolas. O Brasil tem
muitos sítios onde a vegetação nativa (principalmente de sistema
fotossintético C3) foi substituída por espécies C4, o que permite a execução de
estudos para avaliar a dinâmica de resíduos orgânicos recentes no solo e a
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 157

decomposição do C original. Em sistemas de rotações de culturas, seja sob


plantio direto ou convencional, existem dificuldades para emprego da técnica
de 13C devido à presença de culturas C3 como soja, trigo, aveia e adubos
verdes nas rotações. Entretanto, com a aplicação de modelos como o de
Balesdent et al. (1990), pode-se superar esta limitação para estudar a
dinâmica do C no solo, conforme mostrado no trabalho de Sisti et al. (2003).

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7
Biomassa Microbiana do Solo:
Fração mais Ativa da Matéria Orgânica
Renato Roscoe
Fábio Martins Mercante
Iêda de Carvalho Mendes
Fábio Bueno dos Reis Júnior
Júlio Cezar Franchini dos Santos
Mariângela Hungria
Resumo - Os parâmetros de biomassa e respiração microbiana, assim
como os índices derivados de sua avaliação, têm sido propostos como
indicadores das propriedades e das mudanças que ocorrem na matéria
orgânica do solo. A biomassa microbiana, juntamente com a meso e
macrofauna do solo, são responsáveis por diversas transformações que
ocorrem com a matéria orgânica do solo, sendo fundamentais para a
regulação dos fluxos de matéria e de energia entre os seus diversos
compartimentos. O objetivo do presente capítulo foi revisar os conceitos sobre
a biomassa microbiana do solo, buscando o entendimento de seu papel
funcional, e na dinâmica da matéria orgânica, com ênfase nas transformações
que ocorrem em solos tropicais e subtropicais. Estabeleceu-se, ainda, uma
discussão sobre os princípios, vantagens e desvantagens das duas
metodologias mais utilizadas para a determinação da biomassa microbiana
do solo: o método do clorofórmio-fumigação-incubação (CFI) e o método do
clorofórmio-fumigação-extração (CFE). Conclui-se que a biomassa
microbiana desempenha um papel fundamental na dinâmica e no acúmulo da
matéria orgânica do solo, particularmente nas condições tropicais. Quanto às
metodologias, ambas são importantes como ferramentas para a pesquisa,
mas há uma tendência de utilização do método do CFE como padrão entre os
laboratórios de microbiologia do solo no Brasil. Entretanto, há ainda a
necessidade de padronização dos procedimentos metodológicos e de uma
melhor definição do coeficiente Kec para as condições brasileiras.
164 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Soil Microbial Biomass: the Most


Active Organic Matter Fraction

Abstract - The parameters of microbial biomass, respiration and their


derivative indexes have been proposed as indicators of the properties and
dynamics of the soil organic matter. Microbial biomass, together with the
meso- and macrofauna are responsible for several transformations that occur
with the soil organic matter, playing a major role in the regulation of matter and
energy fluxes among the soil pools. The objective of this chapter was of
revising the concepts about soil microbial biomass, aiming at understanding its
role in soil functioning and in the organic matter dynamics, with an emphasis on
the transformations occurring in tropical and subtropical soils. The basic
principles, advantages and disadvantages of the two main methodologies
used for the evaluation of microbial biomass methods, the fumigation-
incubation and the fumigation-extraction are also discussed. We concluded
that the microbial biomass is fundamental to the dynamics and accumulation of
soil organic matter, particularly in the tropics. In relation to the methodologies,
both methods are important and useful; however, there is a tendency of using
the fumigation-extraction as a standard method among the Brazilian
laboratories. However, it is still necessary to establish standard procedures as
well as to define appropriated values of the coefficient Kec for the Brazilian
conditions.
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 165

Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) apresenta diversos compartimentos
funcionais, dos quais a biomassa microbiana, juntamente com a meso e
macrofauna, constituem a parte viva. Sua atividade regula o fluxo de matéria e
energia entre os diversos compartimentos da MOS (Capítulo 1), sendo
responsável pelo processo de decomposição dos resíduos, mineralizando
parte dos mesmos, além de transformar, sintetizar e modificar moléculas mais
recalcitrantes, formando a fração húmica do solo (humificação).
A biomassa microbiana do solo (BMS) representa o reservatório mais ativo da
MOS, atuando diretamente no balanço de nutrientes, particularmente para o
N, P e S. Através de sua atividade metabólica atua na liberação dos nutrientes
presentes nos resíduos orgânicos, disponibilizando-os para as plantas e
podendo desempenhar, ainda, o papel de reservatório temporário. O balanço
entre mineralização e imobilização de nutrientes pela BMS define não
somente o sincronismo no processo de liberação dos elementos para as
plantas, mas também atua na regulação de processos de perda dos mesmos
no sistema solo.
Os diversos sistemas de uso da terra afetam, de forma diferenciada, a
biomassa microbiana, o que pode intensificar ou retardar processos de
decomposição, mineralização e humificação no solo. Tais processos regulam
a expressão de propriedades emergentes importantes, como a formação e
estabilização de agregação, formação do sistema poroso, fluxo de nutrientes,
manutenção da diversidade, simbioses e antagonismos.

Sendo um atributo facilmente determinado no solo, além de ser importante


variável no entendimento da dinâmica da matéria orgânica, a BMS tem sido
utilizada como indicador de qualidade do solo. Alterações relativamente
pequenas nas condições do sistema solo, as quais desencadearão processos
mais complexos de melhoria ou perda na sua qualidade, podem ser
percebidas com a análise desse atributo e de seus índices derivados.
O objetivo do presente capítulo foi revisar os conceitos sobre a biomassa
microbiana, buscando o entendimento de seu papel no biofuncionamento do
solo e a dinâmica da matéria orgânica, com ênfase em solos tropicais e
subtropicais. Estabeleceu-se, ainda, uma discussão sobre as principais
metodologias utilizadas na sua determinação, enfatizando-se os princípios,
166 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

vantagens e desvantagens das duas metodologias mais utilizadas para a


determinação da biomassa microbiana: o método do clorofórmio-fumigação-
incubação (CFI) e o método do clorofórmio-fumigação-extração (CFE).

Biomassa Microbiana do Solo (BMS)


A biomassa microbiana é considerada a parte viva e mais ativa da matéria
orgânica do solo, constituída por fungos, bactérias, actinomicetos,
protozoários, algas e microfauna, excluindo-se raízes e animais inferiores a
5 x 103 µm3 (De-Polli & Guerra, 1999; Gama-Rodrigues, 1999; Tótola & Chaer,
2002). A biomassa microbiana representa, em média, 2 a 5% do C orgânico
(Jenkinson & Ladd, 1981) e de 1% a 5% do N total do solo (Smith & Paul,
1990), atuando em processos que vão desde a formação do solo
(intemperização das rochas), até a decomposição de resíduos orgânicos,
ciclagem de nutrientes, biorremediação de poluentes e metais pesados, entre
outros.
A biomassa microbiana controla a decomposição e o acúmulo de matéria
orgânica no ambiente, regulando o fluxo de matéria e energia no solo, assim
como a dinâmica dos nutrientes minerais (Capítulo 1). Pode variar
significativamente, em função das condições ambientais, como
disponibilidade de C, N, P e S, umidade, aeração, pH, mineralogia e textura do
solo.

Vale ressaltar, no entanto, que a estimativa da BMS deve ser distinguida de


sua atividade, uma vez que não se trata de uma medida da atividade dos
microrganismos do solo, mas sim da massa microbiana viva total do solo, em
um determinado momento, considerando-se a população microbiana como
uma entidade única (De-Polli & Guerra, 1999).

Em geral, os maiores valores são encontrados nos sistemas naturais,


destacando-se os ambientes onde há um maior fluxo de resíduos (Tabelas 1, 2
e 3). Em uma compilação de dados obtidos para solos brasileiros, observa-se
que, para os sistemas naturais, foram registrados valores entre 101 e
-1
1.520 mg C kg de solo, sendo que somente em ambientes com teores muito
baixos de carbono orgânico total foram observados valores inferiores a
350 mg C kg-1 de solo (Tabela 1). Formações mais densas tendem a
apresentar maiores valores de BMS, mesmo em ecossistemas bastante
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 167

distintos como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Floresta de Araucária.


Oliveira et al. (2001), para uma mesma região do Bioma Cerrado, observaram
uma tendência de redução da BMS (Tabela 1), na passagem de uma mata de
galeria (1.201 - 1.253 mg de C kg-1 solo), para um Cerradão (914 - 970 mg de
C kg-1 solo) e, posteriormente, Campo Sujo (571 - 696 mg de C kg-1 solo).
Observa-se, ainda, que há uma tendência de maiores valores de BMS para
solos da Região Sul, onde o clima mais ameno favorece o acúmulo de matéria
orgânica do solo (Baretta et al., 2005; Nogueira et al., 2006).
Em áreas sob pastagem cultivada (Tabela 2), os dados disponíveis apontam
para valores, em média, 51% inferiores aos observados para as vegetações
nativas (Tabela 1). Observaram-se valores entre 66 e 739 mg de C kg-1 solo,
com uma média de 287 mg de C kg-1 solo. Em áreas cultivadas (Tabela 3),
principalmente com culturas anuais, a média dos dados compilados foi 68%
inferior à observada para as áreas de vegetação nativa, sendo que os valores
variam entre 46 e 591 mg de C kg-1 solo, com média de 187 mg de C kg-1 solo.

Correlações positivas entre o teor de carbono orgânico do solo e a biomassa


microbiana têm sido comumente reportadas em estudos específicos,
considerando um único solo ou ambientes bem próximos. Balota et al. (1998),
trabalhando em áreas com diversas rotações de culturas, sob plantio direto e
convencional, em um Latossolo Vermelho distroférrico de Londrina, PR,
encontraram correlação positiva entre as duas variáveis, sendo a relação
descrita pela equação: BMS = 78,9 CO - 977 (R2 = 0,88). Mercante et al.
(2004a), também em um Latossolo Vermelho distroférrico muito argiloso, de
Dourados, MS, sob diferentes sistemas de uso (plantio convencional, plantio
direto, integração lavoura-pecuária, pastagem e mata nativa), obtiveram
correlação positiva e altamente significativa (r = 0,87) entre a BMS e o carbono
orgânico do solo. Utilizando os dados das Tabelas 1, 2 e 3, envolvendo
diversos tipos de solo e ambientes, foi confirmada a correlação positiva entre a
BMS e a matéria orgânica do solo (Fig. 1), mostrando ser essa uma relação
bastante estreita.
168

Tabela 1. Carbono orgânico total (CO total), biomassa microbiana do solo (BMS) e quociente microbiano (qMIC), sob diferentes
vegetações nativas do Brasil.

Vegetação/Local CO total BMS- CFE1,2 BMS- CFI1,3 qMIC Referência


-1
(g kg -1 ) (mg C kg de solo) (%)
Floresta Amazônica
Floresta - Manaus, AM e Capitão Poço, PA 13 - 76 440 - 776 412 - 822 1,1 - 3,1 Pfenning et al. (1992)
Floresta - Rondônia, Manaus, AM, e 10 - 33 254 - 720 312 - 763 2,3 - 2,5 Feigl et al. (1995), Geraldes
Paragominas, PA et al. (1995)
Floresta - Manaus, AM 26 797 - 3,0 Moreira & Malavolta (2004)
Bioma Cerrado
Mata - Piracicaba, SP 35 758 1341 3,0 Pfenning et al. (1992)
Mata - Paulo de Faria, SP 24 428 - 1,8 Marchiori -Junior & Melo
(1999)
Mata - Itutinga, MG 17 381 - 2,2 Melloni et al. (2001)
Mata - Primavera do Leste, MT 32 596 - F.M. Mercante (dados não
1,9 publicados)
Mata - Dourados, MS 43 382 - 0,9 Mercante et al. (2004a)
Mata de Galeria - Planaltina, DF 42 1201 1253 2,9 Oliveira et al. (2001)
Cerradão - Planaltina, DF 35 970 914 2,7 “
Campo Sujo - Planaltina, DF 23 696 571 2,8 “
Mata de Galeria - (Planaltina, DF) 45 - 1352 3,0 Mendes & Vivaldi (2001)
Cerradão - (Planaltina, DF) 35 - 986 2,8 “
Cerrado - (Planaltina, DF) 35 - 433 1,2 Mendes et al. (2003)
Cerrado - (Dom Aquino, MT) 21 - 392 1,9 Matsuoka et al. (2003)
Cerrado - (Bacia do Alto Taquari, MS) 3 159 - 5,3 F.M. Mercante (dados não
publicados)
Cerrado - (Glória de Dourados, MS) 5 101 - 2,0 Mercante et al. (2004b)
Cerrado - (Ivinhema, MS) 11 348 - 3,2 Borges et al. (2006)
Cerrado - (Morrinhos, GO) 18 983 - 5,5 D’Andréa et al. (2002)
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Cerrado - (Piracanjuba, GO) 15 140 - 0,9 Oliveira et al. (2004)


Campo Cerrado - (Itutinga, MG) 16 451 - 2,8 Melloni et al. (2001)
Continua...
Continuação da Tabela 1.

Vegetação/Local CO total BMS- CFE1,2 BMS- CFI1,3 qMIC Referência


(g kg -1 ) (mg C kg -1 de solo) (%)
Pantanal
Cordilheiras - (Corumbá, MS) 20 513 - 2,6 F.M. Mercante ( dados não
publicados )
Campo Cerrado - (Corumbá, MS) 18 565 - 3,1 “
Baixada - (Corumbá, MS) 15 512 - 3,4 “
Paratudal ( Tabebuia aurea ) - (Corumbá, MS) 11 400 - 3,6 Dias et al. (2006)
Capão - (Corumbá, MS) 6 330 - 5,5 “
Mata Ciliar - (Corumbá, MS) 13 418 - 3,2 “
Região Sul
Floresta - (Londrina, PR) 28 - 34 683
- 936 - 2,4
- 2,8 Nogueira et al. (2006)
Floresta Araucária - (Lages, SC) 80 1520 - 1,9 Baretta et al. (2005)
Campo Nativo - (Lages, SC) 48 665 - 1,4 “
Campo Nativo - Eldorado do Sul, RS 20 - 62 0,3 Cattelan & Vidor (1990)
Várzea - Capão do Leão, RS 22 351 - 1,6 Santos et al. (2004)
Região Semi-Árida
Árida
Mata seca - Ubajara, CE 11 145 - 1,3 Xavier et al. (2006)
Mata seca - Chapada do Apoti, CE 17 330 - 1,9 Fialho et al. (005)
1
Biomassa microbiana do solo na profundidade de 0-5 cm (Pfenning et al., 1992; Oliveira et al., 2001; Baretta et al., 2005) e de 0-10 cm (demais
referências citadas).
2
Os valores de BMS-CFE foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para a eficiência
de extração, kec = 0,40. Os fatores de correção foram de 0,75 (=0,30/0,40) para os resultados de D'Andréa et al. (2002); 0,825 (=0,33/0,40), para
Geraldes et al. (1995), Mercante et al. (2004 a, b), Fialho et al. (2005), Borges et al. (2006), Dias et al. (2006), Nogueira et al. (2006) e Xavier et
al. (2006) , F.M. Mercante (dados não publicados); de 0,875 (=0,35/0,40) para Feigl et al. (1995) e Oliveira et al. (2001); de 0,95 (=0,38/0,40)
para Pfenning et al. (1992), Oliveira et al. (2004), Baretta et al. (2005), Santos et al. (2004); e de 1,125 (=0,45/0,40) para Moreira & Malvolta
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica

(2004).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos para padronizar os dados, utilizando-se o fator de correção do C respirado durante o período de
incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de 1,10 (=0,45/0,41) para Feigl et al. (1995),
Geraldes et al. (1995) e Mendes & Vivaldi (2001).
169
170
Tabela 2. Carbono orgânico total (CO total), biomassa microbiana do solo (BMS), e quociente microbiano
(qMIC), em solos sob pastagens cultivadas, em diferentes regiões do Brasil.

Vegetação/Local CO total BMS - CFE1,2 BMS - CFI1,3 qMIC Referência

(g kg-1) (mg C kg -1 de solo) (%)

Floresta Amazônica
Brachiaria humidicola, 8 anos (Manaus, AM) 30 107 572 1,1 Pfenning et al. (1992)
Brachiaria humidicola, 10 anos (Capitão Poço, 16 93 472 1,8 “
PA)
Panicum maximum e Brachiaria humidicola, 30 168 561 1,1 Geraldes et al. (1995)
15 anos (Paragominas, PA)
Panicum maximum, 10 anos (Paragominas, 24 340 328 1,4 “
PA)
Panicum maximum e Brachiaria brizantha , 4 27 623 739 2,5 “
anos (Paragominas, PA)

Cerrado
Andropogon sp. + Stylosanthes sp. 19 498 310 2,1 Oliveira et al. (2001)
(Planaltina, DF)
Brachiaria decumbens degradada 19 87 - 0,5 Oliveira et al. (2004)
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 2 anos 16 198 - 1,2 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 4 anos 21 147 - 0,7 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 7 anos 19 125 - 0,7 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria decumbens - regime extensivo 19 500 - 2,6 D’Andréa et al. (2002)
(Morrinhos, GO)
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Continua...
Continuação da Tabela 2.
Vegetação/Local CO total BMS - CFE1,2 BMS - CFI1,3 qMIC Referência

(g kg -1) (mg C kg -1 de solo) (%)

Panicum maximum , 20 anos (Paulo de 23 345 - 1,5 Marchiori -Júnior & Melo
Faria, SP) (1999)
Panicum maximum + Brachiaria 19 382 - 2,0 “
decumbens , 25 anos (Paulo de Faria,
SP)
Predominância da Brachiaria sp. Média de 15 66 - 0,4 F.M. Mercante (dados não
10 pastagens degrada das (Bacia do Alto publicados)
Taquari, MS)
Brachiaria decumbens, bem manejada, 9 17 216 - 1,3 Mercante et al. (2004a)
anos, média de 8 épocas - (Dourados,
MS)

Região Semi-Árida
Brachiaria spp. - Ubajara - CE 10 116 - 1,2 Xavier et al. (2006)
1
Biomassa microbiana do solo na profundidade de 0-5 cm (Pfenning et al., 1992; Oliveira et al., 2001; Xavier et al., 2006) e de
0-10 cm (Geraldes et al., 1995; Marchiori-Júnior & Melo, 1999; D'Andréa et al., 2002; Oliveira et al., 2004; Mercante et al., 2004a, F.M. Mercante,
dados não publicados).
2
Os valores de BMS-CFE foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para a eficiência de
extração, kec = 0,40. Os fatores de correção foram de 0,75 (=0,30/0,40) para os resultados de D'Andréa et al. (2002); 0,825 (=0,33/0,40), para
Geraldes et al. (1995), Mercante et al. (2004 a), F.M. Mercante (dados não publicados); e de 0,875 (=0,35/0,40) para Oliveira et al. (2001); e 0,95 9
=0,38/0,40), para Marchiori-Júnior & Melo (1999), Oliveira et al. (2004) e Xavier et al. (2006).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para o fator de
correção do C respirado durante o período de incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica

1,10 (=0,45/0,41) para Geraldes et al. (1995).


171
172
Tabela 3. Carbono orgânico total (CO total), biomassa microbiana do solo (BMS) e quociente microbiano (qMIC), em
solos sob áreas cultivadas, em diferentes regiões do Brasil.

CO BMS - BMS -
Vegetação/Local qMIC Referência
total CFE1,2 CFI1,3
-1 -1
(g kg ) (mg C kg de solo) (%)
Floresta Amazônica
Frutíferas - Manaus, AM 12 208 154 1,5 Pfenning et al. (1992)
Culturas perenes - Manaus, AM 14 166 167 1,2 “
Culturas anuais - Manaus, AM 12 269 343 2,6 “
Culturas perenes - Cupuaçu - Manaus, AM 24 567 - 2,4 Moreira & Malavolta
(2004)
Mata Atlântica
Hortaliças - Itaguaí,RJ 8 99 113 1,3 Gama-Rodrigues et al.
(1994)
Cerrado
Culturas anuais - 9 anos (Planaltina, DF) 17 256 224 1,4 Oliveira et al. (2001)
Culturas anuais - plantio convencional - 10 a 15 anos 16 195 - 1,2 D’Andréa et al. (2002)
(Morrinhos, GO)
Culturas anuais - plantio direto - 4 a 5 anos (Morrinhos, 19 322 - 1,7 “
GO)
Culturas anuais - plantio direto a 20 anos (Selvíria, MS) 17 84 - 0,5 Garcia et al. (2004)
Culturas anuais - plantio convencional a 10 anos (Paulo 16 136 - 0,9 Marchiori-Júnior & Melo
de Faria, SP) (1999)
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Culturas anuais - plantio direto - 77 locais na Bacia do 30 115 - 0,4 F.M. Mercante (dados
Alto Taquari, MS não publicados)
Continua...
Continuação da Tabela 3.
CO BMS - BMS -
Vegetação/Local qMIC Referência
total CFE1,2 CFI1,3
-1 -1
(g kg ) (mg C kg de solo) (%)
Culturas anuais - plantio convencional - 8 anos 16 157 - 1,0 Mercante et al. (2004a)
(Dourados,MS)
Culturas anuais - plantio direto - 8 anos (Dourados,MS) 16 191 - 1,2 “
Integração lavoura pecuária - plantio direto 2 anos + 2 15 179 - 1,2 “
anos pastagem - 8 anos (Dourados,MS)
Mandioca plantio convencional (Glória de Dourados, 3 46 - 1,5 Mercante et al. (2004b)
MS)
Mandioca plantio em palhada (Glória de Dourados, MS) 3 60 - 2,0 “
Culturas anuais - Dom Aquino, MT 13 - 97 0,7 Matsuoka et al. (2003)
Cultura da videira - Dom Aquino, MT 17 - 128 0,8 “
Culturas anuais - Convencional - Planaltina, DF 23 - 122 0,5 Mendes et al. (2003)
Culturas anuais - Plantio Direto - Planaltina, DF 33 - 209 0,6 “
Região Sul
Culturas anuais - Convencional - Londrina, PR 21 491 - 2,3 Nogueira et al. (2006)
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 24 591 - 2,5 “
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 22 - 49 0,2 Cattelan et al. (1997a)
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 18 - 33 - 173 0,2 - Cattelan et al. (1997b)
0,9
Culturas anuais - Convencional - Londrina, PR 18 - 20 - 170 0,1 - “
0,9
Culturas anuais - Eldorado do Sul, RS 16 - 38 0,2 Cattelan & Vidor (1990)
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica

Culturas anuais - Convencional - Londrina, PR 25 - 160 0,6 Balota el al. (1998)


Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 28 - 350 1,3 “
Continua...
173
174
Continuação da Tabela 3.
CO BMS - BMS -
Vegetação/Local 1,2 1,3 qMIC Referência
total CFE CFI
-1 -1
(g kg ) (mg C kg de solo) (%)

Culturas anuais - Convencional - solos de várzea - 13 170 - 1,3 Santos et al. (2004)
Capão do Leão, RS
Culturas anuais - Plantio Direto - solos de várzea - 13 298 - 2,3 “
Capão do Leão, RS
Culturas anuais - Convencional - Eldorado do Sul, RS - - 157 - Vargas et al. (2004)
Culturas anuais - Plantio Direto - Eldorado do Sul, RS - - 292 - “
Região Semi-Árida
Culturas perenes - Ubajara, CE 10 89 - 0,9 Xavier et al. (2006)
Culturas anuais - Ubajara, CE 8 76 - 1,0 “
Culturas anuais sob irrigação - Chapada do Apoti, CE 12 231 - 1,9 Fialho et al. (2005)
1
Biomassa microbiana do solo, na profundidade de 0-5 cm (Cattelan & Vidor, 1990; Pfenning et al., 1992; Gama-Rodrigues et al., 1994; Oliveira et
al., 2001; Matsuoka et al., 2003; Mendes et al., 2003; Santos et al., 2004; Vargas et al., 2004; Fialho et al., 2005; Xavier et al., 2006), de 0 - 8 cm
(Cattelan et al., 1997a,b), de 0-10 cm (Marchiori-Júnior & Melo, 1999; D'Andréa et al., 2002; Garcia et al., 2004; Moreira & Malavolta, 2004;
Mercante et al., 2004a,b; Nogueira et al., 2006; F.M. Mercante, dados não publicados); e de 0 -15 cm (Balota et al., 1998).
2
Os valores de BMS-CFE foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para a eficiência
de extração, kec = 0,40. Os fatores de correção foram de 0,75 (=0,30/0,40) para os resultados de D'Andréa et al. (2002); 0,825 (=0,33/0,40), para
Mercante et al. (2004 a, b), Nogueira et al. (2006) e Xavier et al. (2006), F.M. Mercante (dados não publicados); de 0,875 (=0,35/0,40) para
Oliveira et al. (2001); de 0,95 (=0,38/0,40) para Pfenning et al. (1992), Gama-Rodrigues et al. (1994), Marchiori-Júnior & Melo (1999), Garcia et
al. (2004) e Santos et al. (2004); e de 1,125 (=0,45/0,40) para Moreira & Malavolta (2004).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para o fator de
correção do C respirado durante o período de incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de
1,10 (=0,45/0,41) para Gama-Rodrigues et al. (1994), Geraldes et al. (1995), Balota et al. (1998) e Vargas et al. (2004).
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 175

1600 y = 17,3***x + 3,9


1400 R2 = 0,50***

1200
CBMS (mg kg -1 solo)

1000
800
600
400 Vegetação Nativa
Pastagens
200
Áreas Cultivadas
0
0 20 40 60 80 100
-1
COTotal (g kg solo)

Fig. 1. Biomassa microbiana do solo (BMS) em função do carbono orgânico


total, considerando áreas sob diferentes vegetações e sistemas de uso. Para
fonte dos dados ver Tabelas 1, 2 e 3.

A textura representa outro fator importante na determinação da BMS. Gama-


Rodrigues (1999) observou, em solos sob eucalipto, uma correlação positiva e
significativa entre a BMS e o teor de argila (BMS = 143,9 + 2,72 argila; R2 =
0,71). Relacionando os dados onde o teor de argila dos solos foi apresentado
nos trabalhos originais compilados nas Tabelas 1, 2 e 3, observou-se uma
correlação positiva e altamente significativa entre a BMS e o teor de argila
(Fig. 2). Essas observações confirmam as teorias sobre as quais teores mais
elevados de argila geralmente beneficiam processos de proteção da matéria
orgânica do solo, criando ambientes favoráveis à manutenção de populações
microbianas mais abundantes (Capítulo 1). Por atuarem nos processos de
mineralização/imobilização, os microrganismos do solo são considerados
fonte e dreno de nutrientes (Singh et al., 1989). Nos processos de
mineralização, formas orgânicas de N, P e S, dentre outros nutriente no solo,
são disponibilizadas para as plantas pela ação dos microrganismos que
liberam formas inorgânicas desses elementos no solo. Como os
microrganismos também possuem seus próprios requerimentos nutricionais,
parte dos nutrientes liberados durante o processo de decomposição pode ser
imobilizada na biomassa microbiana. Dentre os elementos que são
freqüentemente imobilizados na biomassa microbiana, destacam-se o N, P e
176 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

S (Saggar et al., 1991; Waring & Schlesinger, 1985). As quantidades médias


dos principais nutrientes presentes na BMS, na primeira camada de 20 cm de
solo, podem atingir valores de 2.200, 500, 83 e 23 kg ha-1, respectivamente de
C, N, P e S (Smith & Paul, 1990), o que ilustra bem a importância da mesma no
armazenamento de nutrientes. Esses valores são compatíveis com os
registrados como os limites máximos nos sistemas naturais brasileiros
(Tabela 1). Baretta et al. (2005) observaram valores de 1.520 kg de C ha-1 nos
primeiros 10 cm de profundidade de solos sob floresta de araucária, na Região
Sul, enquanto Oliveira et al. (2001) e Mendes & Vivaldi (2001) obtiveram
valores na ordem de 1.300 kg C ha-1, para solos sob mata de galeria, e Oliveira
et al. (2001), Mendes & Vivaldi (2001) e D'Andréa et al. (2002) valores
próximos a 1.000 kg C ha-1, em formas mais densas de cerrado, no Brasil
Central. Vale ressaltar que o C da BMS representa o reservatório mais
disponível da matéria orgânica do solo, com taxas de ciclagem de poucos
meses, o que sugere que o mesmo teria grande influência na dinâmica de
nutrientes mesmo para culturas anuais.

1200

1000
BMS (mg C kg -1 solo)

800

600

400
y = 1,26***x - 86,3
200 R2 = 0,69***

0
0 200 400 600 800 1000
-1
Teor de argila (g kg solo)

Fig. 2. Relação entre biomassa microbiana do solo (BMS) e o teor de argila.


Fonte: Dados compilados de Pfenning et al. (1992), Feigl et al. (1995), D'Andréa et al. (2002),
Oliveira et al. (2004) e Nogueira et al. (2006).
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 177

Alterações significativas na biomassa microbiana podem ser detectadas


precocemente, quando comparadas às mudanças na MOS. Sendo assim, a
avaliação da biomassa microbiana tem sido proposta como um indicador do
estado e das alterações da matéria orgânica do solo e sugerida como uma
medida sensível do aumento, ou decréscimo, de sua quantidade (Tótola &
Chaer, 2002). Seria possível adotar, pelo uso desse bioindicador, medidas de
correção que evitassem perdas da matéria orgânica, componente essencial
para a fertilidade dos solos brasileiros.
Conforme mencionado anteriormente, a BMS representa o compartimento
mais disponível da MOS. O cálculo da proporção que a BMS representa do
carbono orgânico total, conhecido como quociente microbiano (qMIC), é um
índice bastante utilizado para fornecer indicações sobre a dinâmica da MOS
(Tótola & Chaer, 2002). Solos tropicais, em geral, possuem uma percentagem
maior do C total na biomassa, em comparação a solos de clima temperado
(Moreira & Siqueira, 2002), o que sugere uma maior dinâmica da matéria
orgânica do solo nesses ambientes. Para solos brasileiros, foram observados
valores variando entre 0,3 a 5,5 (média de 3,3) em solos sob vegetação
natural (Tabela 1), entre 0,4 e 2,6 (média 1,4) em solos sob pastagens (Tabela
2) e entre 0,1 e 2,6 (média 1,2) em solos cultivados (Tabela 3). Segundo
Moreira & Siqueira (2002), esses valores dificilmente excedem 2% em solos
de clima temperado. Em condições estressantes (pH, deficiências
nutricionais, metais pesados, etc) para os microrganismos, a capacidade de
utilização do C é menor, conduzindo ao decréscimo do qMIC (Wardle, 1994).
Já com a adição de matéria orgânica de boa qualidade, ou com o término de
uma situação de estresse, ocorre um incremento na biomassa microbiana,
assim como no qMIC, ainda que os teores de C orgânico permaneçam
inalterados (Powlson et al., 1987). Os dados sistematizados para solos
brasileiros ilustram bem a tendência de redução nos valores médios de qMIC
com o aumento do estresse ao sistema, sendo registrados valores
decrescentes dos sistemas naturais (3,3), passando pela pastagem (1,4) e
chegando aos solos sob cultivo (1,2).

Como discutido anteriormente, determinações da biomassa microbiana total,


contudo, não fornecem indicações sobre os níveis de atividade das
populações microbianas do solo. Desse modo, torna-se importante utilizar
outras análises, que permitam avaliar a atividade microbiana, indicando o
estado metabólico das comunidades de microrganismos do solo (De-Polli &
Guerra, 1999; Tótola & Chaer, 2002).
178 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

A avaliação da quantidade de CO2 liberada pela respiração dos microrganismos


(também denominada C prontamente mineralizável ou respiração basal) é um
dos métodos mais tradicionais e mais utilizados para avaliar a atividade
metabólica da população microbiana do solo (Anderson, 1982; Zibilske, 1994).
Da mesma forma que outras atividades metabólicas, a respiração depende do
estado fisiológico das células e é influenciada por diferentes fatores, tais como:
umidade, temperatura e disponibilidade de nutrientes. Uma alta taxa de
respiração pode ser interpretada como uma característica desejável quando se
considera que a decomposição dos resíduos orgânicos irá disponibilizar
nutrientes para as plantas. No entanto, uma alta atividade respiratória também
pode resultar em decomposição intensa da matéria orgânica estável, a fração
húmica, levando ao comprometimento de processos químicos e físicos, como a
agregação, a capacidade de troca catiônica e capacidade de retenção de água,
podendo ocorrer, também, a perda de nutrientes. Portanto, como afirmado por
Islam & Weil (2000), taxas de respiração mais elevadas podem indicar tanto um
distúrbio, como um alto nível de produtividade do ecossistema, devendo ser
analisada em cada contexto.
O quociente metabólico (qCO2) é um índice que combina os resultados de
biomassa microbiana com as determinações das taxas de respiração,
representado pela taxa de respiração por unidade de biomassa microbiana
(Anderson & Domsch, 1985). Uma biomassa mais eficiente seria aquela que
perderia menos C na forma de CO2 com a respiração e incorporaria mais C aos
tecidos microbianos. Em amostras que apresentam os mesmos valores de
biomassa, aquela que mostra uma menor taxa de respiração (qCO2) é
considerada a mais eficiente. De acordo com Anderson & Domsch (1993),
quocientes metabólicos elevados são um indicativo de comunidades
microbianas em estágios iniciais de desenvolvimento, com maior proporção de
microrganismos ativos em relação aos inativos, ou ainda, um indicativo de
populações microbianas sob algum tipo de estresse metabólico.
A biomassa microbiana e a respiração basal, assim como seus índices
derivados qMIC e qCO2, são determinações importantes no estudo da
dinâmica e comportamento da MOS, sendo fundamentais ao entendimento de
processo necessários para a parametrização e adaptação de simuladores da
dinâmica da MOS às diversas condições ambientais. Trabalhos recentes têm
integrado essas variáveis, buscando índices de qualidade do solo (Tótola &
Chaer, 2002). Mercante et al. (2004a) utilizaram procedimentos estatísticos de
análise multivariada, determinando o índice de similaridade dos diferentes
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 179

sistemas de uso do solo, de acordo com os parâmetros microbiológicos (BMS,


respiração basal, quociente metabólico e quociente microbiano).
Comparando-se os quatro sistemas de manejo do solo (sistema convencional -
SC; sistema plantio direto - SPD; sistema integração lavoura-pecuária - SI e
pastagem contínua - PC) com a mata nativa (MN), em relação aos parâmetros
microbiológicos avaliados, o SI apresentou os maiores níveis de similaridade,
seguindo-se os sistemas PC, SPD e SC, respectivamente (Fig. 3). Os autores
observaram que o SC formou um grupo separado dos demais sistemas e mais
distante do sistema sob mata nativa. Por outro lado, os sistemas SI, PC e SPD
foram agrupados e apresentaram maior similaridade ao sistema sob mata
nativa, indicando, segundo os autores, serem estas, importantes práticas de
manejo para o equilíbrio da comunidade microbiana do solo e melhoria da
qualidade do solo.

SC

SPD

PC

SI

MN

0 20 40 60 80 100 120

Distância euclidiana (Dlink/Dmax)*100


Fig. 3. Dendograma dos diferentes usos do solo, mostrando a distância euclidiana, de
acordo com os parâmetros microbiológicos (Carbono da biomassa microbiana,
respiração basal, quociente metabólico e quociente microbiano), para os diferentes
sistemas de uso do solo e a vegetação nativa (SC= sistema convencional; SPD=
sistema plantio direto; PC= pastagem contínua; SI= sistema integrado lavoura-pecuária;
e MN= mata nativa). Dados referentes a seis avaliações (três no inverno e três no verão).
Fonte: Mercante et al. (2004a).
180 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Trabalhos como os relatados anteriormente demonstram a grande utilidade das


análises relacionadas à microbiota do solo, nos estudos que buscam entender
o funcionamento dos sistemas e o impacto de práticas de manejo. Entretanto, a
sua ampla utilização depende da padronização de métodos e condições
experimentais. Nesse sentido, os procedimentos de análise da BMS têm sido
amplamente discutidos. Na seção seguinte, são apresentadas as principais
metodologias utilizadas atualmente, sendo ressaltados pontos importantes
para a sua padronização em condições de solos tropicais.

Métodos de Determinação da
Biomassa Microbiana
Os métodos de determinação da BMS e de seus índices derivados vêm sendo
objeto de várias revisões, destacando-se Grisi (1984), Martens (1995), Wardle
(1997), De-Polli & Guerra (1999) e Cardoso (2004). No início, a BMS era
estimada por métodos de contagem em placas ou microscopia direta, sendo
extremamente trabalhosos e pouco produtivos. Grande salto foi dado com o
desenvolvimento de métodos baseados na estimativa da biomassa, através da
quantificação do C liberado das células vivas após o tratamento do solo com
reagentes químicos, que provocavam a morte e lise celular. Os trabalhos
pioneiros de Jenkinson (1966) demonstraram a eficiência do clorofórmio na
fumigação do solo, servindo de base para o desenvolvimento do método da
fumigação-incubação (Jenkinson & Powlson, 1976b). O método baseava-se no
princípio de que a BMS poderia ser estimada a partir de um pico (“flush”) de
produção de CO2 em solos fumigados com clorofórmio. Tal pico seria resultante
da decomposição do material liberado pelos microrganismos mortos na
fumigação, podendo ser resultante da atividade dos microrganismos
sobreviventes ou de organismos re-inoculados. Padronizou-se comparar
amostras fumigadas e não-fumigadas, por um determinado período de tempo
(10 dias a 25oC), sendo a diferença do C respirado, a estimativa da BMS. Em
seus trabalhos, Jenkinson & Powlson (1976a) chegaram a mencionar o fato de
que o tratamento com clorofórmio teria efeito na quantidade de C extraível por
um extrator fraco, como o K2SO4. Mas foi somente cerca de dez anos mais
tarde, que Vance et al. (1987) demonstraram que, alternativamente à
determinação do C pela medição da evolução do CO2 na incubação dos solos
fumigados e não-fumigados, seria possível detectar a diferença utilizando-se tal
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 181

extrator fraco. Os autores propuseram o método da fumigação-extração, onde


o C de solos fumigados e não fumigados eram extraídos por uma solução de
K2SO4, sendo a diferença, a estimativa da biomassa. Ambos os métodos
permitiram uma forte dinamização na determinação da BMS, tornando-a mais
rápida e precisa, o que possibilitou o rápido crescimento no número de
trabalhos na área.

De fato, ainda hoje, os métodos mais utilizados para a determinação da


biomassa microbiana são os de CFI (Jenkinson & Powlson, 1976 a, b) e CFE
(Vance et al., 1987), baseados na esterilização parcial de amostras de solos
pela fumigação com clorofórmio. Wardle (1997), realizou uma extensa revisão
avaliando a biomassa microbiana e verificou que, dos 58 estudos, 52,1%
haviam sido realizados utilizando o método clorofórmio-fumigação-incubação -
CFI (Jenkinson & Powlson 1976 a, b), 33,3% o método de clorofórmio-
fumigação-extração - CFE (Vance et al., 1987), 12,5% o método da respiração
induzida por substrato (Anderson & Domsch, 1978) e 2,1 % com observação e
contagem direta de células microbianas por microscopia direta. Mais
recentemente, Ferreira et al. (1999) propuseram a substituição da fumigação
com clorofórmio por um procedimento de irradiação por microondas, visando a
morte dos microrganismos antes da extração. Resultados coerentes têm sido
obtidos por diversos autores (Santos et al., 2004; Fialho et al, 2005; Xavier et al.,
2006), mas ainda não há relatos de trabalhos visando a padronização da
metodologia.
Ambos os métodos, CFE e CFI, apresentam limitações, vantagens e
desvantagens. A simplicidade e o fato de que valores de taxa de respiração
microbiana (liberação de CO2) também podem ser determinados, são as
principais vantagens do método CFI. Dentre suas limitações, destacam-se o
fato de que este método não deve ser utilizado em áreas que receberam
adições recentes de material orgânico (Martens, 1995) e em solos com pH em
água inferior a 5,0 (Powlson, 1994; Martens, 1995). Além disso, a escolha do
controle que melhor expresse o nível de respiração basal do solo representa
outro ponto crucial (Chaussod & Nicolardot, 1982; Martens, 1995;
Franzluebbers et al., 1999). No caso do método CFE, a principal vantagem é
que não há dependência do estado fisiológico da população microbiana do
solo. Quanto às desvantagens, destaca-se o fato de que na ausência de um
analisador total de carbono, os procedimentos analíticos para determinação do
C extraído das amostras são mais complexos e trabalhosos, envolvendo a
utilização de produtos como o dicromato de potássio (K2Cr2O7), que é tóxico.
182 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Um ponto extremamente importante para ambas as metodologias é o fato de a


determinação da BMS não ser completa, exigindo a utilização de fatores de
correção (Jenkinson & Powlson, 1976b; Vance et al., 1987). Para o método
CFI, o cálculo da BMS é feito a partir da equação:

CBMS = (Cf - Cnf)/kc (1)

onde, CBMS é o carbono na biomassa microbiana do solo; Cf é o carbono


respirado da amostra fumigada, em dez dias de incubação a 25oC; Cnf é o
carbono respirado da amostra não fumigada, em dez dias de incubação a
25oC; Kc é o fator de correção, representando a proporção do CBMS que é
efetivamente respirado em CO2 durante o período de incubação de dez dias, à
temperatura de 25oC (Jenkinson & Powlson, 1976b). Os valores de Kc foram
determinados a partir de experimentos nos quais quantidades conhecidas de
material de bactéria e/ou fungos eram mineralizados em condições
controladas. Valores variando entre 0,2 e 0,6 foram sumarizados por Martens
(1995), sendo que os valores recomendados foram de 0,45 a 25oC (Jenkinson,
1976) e de 0,41 a 22oC (Anderson & Domsch, 1978). Sampaio et al. (1986)
incubou material de três fungos (Rhyzopus sp., Tricoderma viride e Fusarium
moniliforme) em três solos brasileiros (Latossolo Vermelho Amarelo, Argisolo
Vermelho Amarelo e Aluvial), obtendo valores de kc variando entre 0,28 e 0,50,
sendo a média geral de 0,41, a temperaturas de 26 ± 2oC. Portanto, admite-se
que somente 41% a 45% do carbono da BMS é efetivamente mineralizado
durante o período de dez dias de incubação.
O método CFE, de maneira análoga, necessita da utilização de um fator de
correção kec. Esse fator é calculado por medições diretas de materiais
marcados com 14C (Sparling & West, 1988), ou através de comparações da
diferença do carbono extraível do solo fumigado e não fumigado, com a
biomassa obtida por outros métodos (Joergensen, 1996). A maioria dos
trabalhos considera como padrão o método CFI. No trabalho original, onde
Vance et al. (1987) descrevem a metodologia CFE, os autores encontraram
uma relação linear entre a diferença do carbono extraível do solo fumigado e
não fumigado, e a BMS determinada pelo método CFI, conforme a equação:

CBMS = 2,64 E C (2)


Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 183

onde, CBMS é o C na biomassa microbiana do solo determinado pelo método


CFI e EC é a diferença entre o C extraível da amostra fumigada menos a não
fumigada, pelo método de CFE. Essa relação equivale a um valor de Kec de
0,38. Joergensen (1996) revisou 18 trabalhos, nos quais o fator kec foi
determinado por diferentes métodos, obtendo valores variando entre 0,15 e
0,98, sendo a média de 0,46. Nos trabalhos sumarizados nas Tabelas 1, 2 e 3,
os valores de Kec variaram entre 0,30 e 0,38. Relacionaram-se, ainda, os
dados disponíveis em cinco trabalhos publicados com solos brasileiros, onde
os métodos CFI e CFE foram utilizados para o mesmo grupo de amostras
(Fig. 4). Observou-se uma relação altamente significativa entre os valores EC e
a CBMS, sendo obtido um valor de 0,40 para kec. Embora tal relação não seja
absoluta, pois valores específicos de kec poderiam ser estabelecidos para
cada tipo de solo ou condição ambiental (De-Polli & Guerra, 1999), sugere-se
que valores mais próximos ao publicado por Vance et al. (1987) devem ser
utilizados para solos brasileiros. Valores mais baixos, como o de 0,33
(Sparling & West, 1988), muito utilizado nos estudos sumarizados nas Tabelas
1, 2 e 3, tendem a gerar valores superestimados da BMS.
Vários trabalhos têm comparado a eficiência dos métodos CFI e CFE nas
determinações de biomassa microbiana. A maioria desses estudos foi
conduzida na Austrália e Nova Zelândia, onde grande parte dos solos possui
problemas de acidez. Wardle & Ghani (1995) observaram correlação elevada
entre os métodos CFI e CFE em solos sob pastagens nativas manejadas na
Nova Zelândia. Nas poucas vezes em que os dois métodos não se
correlacionaram, os autores atribuíram esse efeito ao fato de que os
coeficientes Kc e Kec, utilizados nessas determinações, variaram entre as
amostras. Sparling & Zhu (1993) também observaram boa correlação entre os
métodos CFE e CFI nos solos arenosos e ácidos do Oeste australiano, embora
o método CFE tenha apresentado maior variabilidade que o CFI.

No Brasil, alguns estudos também foram conduzidos, envolvendo


comparações entre os métodos CFE e CFI. Pfenning et al. (1992) observaram
uma correlação positiva ao avaliarem a eficiência dos métodos CFE e CFI em
solos da Amazônia. Os maiores coeficientes de variação foram obtidos com o
método CFI num Latossolo muito argiloso. De acordo com os autores, as
condições físicas do solo interferiram na homogeneidade da fumigação e na
capacidade de recolonização da microbiota após a fumigação do solo. Feigl et
al. (1995) compararam os métodos CFE e CFI em amostras de solo coletadas
em Latossolos e Podzólicos (Argissolos) da Amazônia sob vegetação de mata
184 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

nativa (profundidade 0 a 10 cm). Os autores concluíram que o método CFI


podia ser utilizado satisfatoriamente, contudo, o CFE apresentou maior
sensibilidade.

1600
y = 2,48***x
2
R = 0,79***
CBMS - CFI (mg C kg solo)

1200
-1

800

Pfenning et al (1992)
400 Rodrigues et al (1994)
Feigl et al (1995)
Oliveira et al (2001)
Geraldes et al (1995)
0
0 100 200 300 400 500 600
-1
EC - CFE (mg C kg de solo)

Fig. 4. Relação entre o carbono na biomassa microbiana, determinado pelo método


clorofórmio-fumigação-incubação (CFI), e o C extraído da biomassa microbiana (C
extraído da amostra fumigada menos o C extraído da não fumigada) pelo método
clorofórmio-fumigação-extração (CFE).
Fonte: dados compilados de Pfenning et al. (1992), Gama-Rodrigues et al. (1994), Feigl et al.
(1995), Oliveira et al. (2001) e Geraldes et al. (1995), totalizando 24 solos diferentes, com 88
observações (vegetação, tipos de uso, épocas e profundidades de amostragem). Os valores de C
na biomassa (CFI), dos trabalhos de Gama-Rodrigues et al. (1994), Feigl et al. (1995) e Geraldes
et al. (1995) foram corrigidos, multiplicando-se pelo fator 1,10 (=0,45/0,41), conforme proposto
por Joergensen (1996), para corrigir o valor de Kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et
al., 1986).

Gama-Rodrigues et al. (1994), em estudos conduzidos em três solos do Estado


do Rio de Janeiro e em duas profundidades, observaram correlação positiva e
significativa (r= 0,66) entre os dois métodos, quando compararam os teores de
carbono na biomassa microbiana determinados pelos métodos CFE e CFI, não
havendo diferença entre as duas profundidades.
Os dois métodos também foram comparados nas condições dos Cerrados,
caracterizados por solos intemperizados, com elevados teores de hidróxidos de
ferro e alumínio, baixa saturação de bases e baixo pH, sendo considerados
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 185

tanto solos incorporados ao processo agrícola, como solos sob vegetação


nativa (Oliveira et al., 2001). Nos ensaios conduzidos em áreas cultivadas da
Embrapa Cerrados, foram coletadas amostras de solo sob culturas anuais
contínuas e sob pastagem consorciada contínua. O solo foi coletado em duas
profundidades, 0 a 5 cm e 5 a 20 cm e em quatro épocas distintas: agosto de
1998 (época de seca), janeiro (época de chuvas) e agosto de 1999 e janeiro de
2000. Nessas áreas, os resultados obtidos com os métodos CFE e CFI foram
semelhantes, independentemente dos tratamentos e das épocas amostradas,
sendo que as pastagens consorciadas apresentaram maiores teores de CBM
do que as áreas sob culturas anuais. Contudo, a interação profundidades x
métodos foi significativa. Não houve diferença entre as profundidades 0 a 5 cm e
5 a 20 cm, quando se utilizou o método CFI, mas as diferenças obtidas com o
método CFE foram significativas. Nas áreas nativas, os métodos CFI e CFE
apresentaram as mesmas tendências, independente dos tratamentos,
profundidades ou épocas analisadas, sendo que a Mata de Galeria apresentou
níveis de C-BMS superiores aos do Cerradão e aos do Campo Sujo. As
interações profundidades x métodos e épocas x métodos foram significativas
devido ao fato de que as diferenças nos teores do C-BMS, nas profundidades e
épocas amostradas, foram mais acentuadas com o método CFE (Oliveira et al.,
2001).

Os métodos CFI e CFE também foram comparados em um Latossolo Vermelho


distroférrico eutrófico argiloso de Londrina, PR (argila, 710 g kg-1; silte, 82 g kg-1;
areia, 208 g kg-1), na camada de 0-10 cm, com pH 5,1 e teores de N e C, de 2,4 e
22,5 g dm-3, respectivamente. Foram analisados diversos sistemas de manejo
sob plantio direto e convencional. Em todas as coletas a BMS foi estimada por
CFI e CFE. Quando todos os dados obtidos foram correlacionados foi
constatada uma correlação positiva e significativa (r = 0,61, y = 280,78 +
0,37049x, p<0,001) entre os dois métodos (Brandão- Junior, 2005).

Considerando os dados dos trabalhos de Pfenning et al. (1992), Gama-


Rodrigues et al. (1994), Feigl et al. (1995), Oliveira et al. (2001) e Geraldes et al.
(1995) e transformando-os para um valor Kc de 0,41 (Anderson & Domsch,
1978; Sampaio et al., 1986) e kec de 0,40 (Fig. 4), observou-se uma relação
linear altamente significativa entre os valores da BMS estimados pelos métodos
CFI e CFE (Fig. 5). Tal resultado demonstra ser essa uma correlação robusta
para solos brasileiros, uma vez que as determinações foram feitas em solos
com textura e mineralogia diferentes, sob vegetações e sistemas de uso
variados.
186 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Kc = 0,41 & Kce = 0,40

1400

1200
solo)

1000
-1
C BMS CFI (mg kg

800

600

400
y = 1,02***x
200 r = 0,92***

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-1
CBMS CFE (mg kg de solo)

Fig. 4. Relação entre o C da biomassa medido pelos métodos clorofórmio-fumigação-


incubação (CFI) e clorofórmio-fumigação-extração (CFE), considerando os valores de
Kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1996) e Kec = 0,40, conforme
calibração realizada no presente estudo (Fig. 4).
Fonte: Dados modificados de Pfenning et al. (1992), Gama-Rodrigues et al. (1994), Feigl et al.
(1995), Oliveira et al. (2001) e Geraldes et al. (1995)

Foram discutidas, neste item, as principais vantagens e desvantagens dos


métodos CFI e CFE, podendo-se concluir que, diante da forte correlação entre
os métodos (Fig. 5), ambos são adequados. Entretanto, para cada situação, os
técnicos e cientistas devem considerar qual a metodologia mais apropriada.
Finalmente, deve ser mencionado que, na Reunião de Fertilidade e Biologia do
Solo (Fertbio), organizada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, em
Lages, SC, em 2004, os pesquisadores que trabalham com o intuito de
identificar bioindicadores de qualidade do solo reuniram-se e definiram sobre a
padronização de algumas condições mínimas entre os laboratórios, visando
permitir a construção de uma base nacional de dados. Principalmente pela
praticidade, menor tempo e trabalho envolvidos nas análises e boa
repetibilidade na maioria dos ensaios, o método CFE foi escolhido, com
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 187

amostragem de solo na camada de 0-10 cm. Essa decisão visou, também,


incentivar a adoção dessa análise em um número maior de laboratórios. O
maior desafio a essa metodologia, porém, consistirá em encontrar novos
métodos para a análise do C, evitando produtos tóxicos como o dicromato de
potássio, uma vez que há uma demanda mundial de análises utilizando uma
"química limpa". Para fins de pesquisa, o método CFI continua a ser útil em
diversas situações. Estudos para uma melhor definição do coeficiente Kec
devem ser ampliados, mas até o momento, com os dados disponíveis para
solos brasileiros, valores em torno de 0,40 parecem mais adequados. Vale
ressaltar, ainda, que, em qualquer método utilizado, as medidas devem ser
feitas sob condições totalmente padronizadas, a fim de permitir a
reprodutibilidade e comparação dos resultados. Segue-se uma breve descrição
dos métodos, como proposta de padronização.

Método do clorofórmio fumigação-incubação (CFI)


As determinações de biomassa microbiana pelo método CFI - clorofórmio
fumigação-incubação - geralmente utilizam os procedimentos descritos por
Jenkinson & Powlson (1976a), com algumas modificações. Após a coleta no
campo, quando necessário, o teor de umidade das amostras de solo (20 g) é
elevado a 100% da capacidade de retenção de água (equivalente ao teor de
H2O retido no solo a 6 KPa) e as mesmas são pré-incubadas, no escuro, por
sete dias, à temperatura ambiente (26ºC ± 2 ºC). A seguir, metade das amostras
é fumigada (F) por 48 horas em um dessecador contendo uma placa de Petri ou
outro recipiente com 25 mL de clorofórmio livre de álcool. Neste período, as
amostras não fumigadas (NF) são mantidas à temperatura ambiente. Após a
fumigação, as amostras F e NF são transferidas para recipientes de vidro com
tampas rosqueáveis e capacidade de 500 mL, contendo um frasco com 10 mL
de KOH 0,3 mol L-1. As amostras são então incubadas, no escuro, por dez dias,
à temperatura ambiente. A quantidade de CO2 liberada do solo é determinada
após titulação com HCl 0,1 mol L-1, usando fenolftaleína 1% como indicador.
Antes da titulação, são adicionados 3 mL de BaCl2 20%. O CBMS é
determinado pela diferença entre o CO2 liberado das amostras F e NF, no
período de dez dias após a fumigação, utilizando-se um fator de correção (Kc)
de 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986), ou seja, assume-se
que apenas 41% da biomassa microbiana presente no solo é convertida a CO2
durante os dez dias de incubação após a fumigação (Fig. 6).
188 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Biomasssa microbiana (CFI)

PRÉ-INCUBAÇÃO

Fumigação por 48 horas


Amostra não fumigadas
Dessecador
Bomba de
vácuo
Amostra
fumigadas solo solo solo solo Incubação
10 dias
CHCl 3

CO 2

KOH
CO2 das CO2 das
amostras amostras
fumigadas não fumigadas

Fig. 6. Esquema da determinação do carbono da biomassa microbiana pelo método


CFI.

Método do clorofórmio fumigação-extração (CFE)


As análises de CBM pelo método clorofórmio fumigação-extração (CFE)
baseiam-se nos trabalhos de Vance et al. (1987) e Tate et al. (1988). As
amostras de solo são pré-incubadas e fumigadas, conforme descrito para o
método CFI. Após a fumigação é feita a extração do C nas amostras fumigadas
e não fumigadas, utilizando 50 mL de K2SO4 0,5 mol L-1 e 10g de amostra de
solo, que são posteriormente submetidas à agitação horizontal (150 rpm), por
30 minutos. Em seguida, é feita a determinação do C por dicromatometria,
seguida de titulação com sulfato ferroso amoniacal. A estimativa da biomassa é
realizada a partir da equação:

CBIOM = (CF - CNF)/Kec (3)


Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 189

onde, CBIOM é o carbono da biomassa microbiana (g C g-1 de solo seco); CF é o


carbono microbiano da amostra fumigada (g C g-1 de solo seco); CNF é o carbono
microbiano na amostra não fumigada (g C g-1 de solo seco); e Kec é o coeficiente
de eficiência da extração (nesse caso 0,40, conforme demonstrado na Fig. 5), o
qual representa a quantidade de carbono proveniente da biomassa microbiana
que é extraível pelo K2SO4 após a fumigação.
A determinação do carbono extraído pelo K2SO4 do solo fumigado (CF) e não
fumigado (CNF), segue a relação utilizada por Gama-Rodrigues (1992):

CF ou CNF = (Vb-Va) . NFeSO4 . 0,003 . 50 . 106/ (8 . Ps (g)) (4)

onde: Vb representa o volume (mL) de sulfato ferroso gasto na titulação do


branco; Va, o volume (mL) de sulfato amoniacal gasto na titulação da amostra;
NFeSO4, a normalidade do sulfato padronizado, e Ps, o peso do solo seco (g)
(Fig. 7).

Fig. 7. Esquema da determinação do carbono da biomassa microbiana pelo método


CFE.
190 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Considerações Finais
As determinações da biomassa microbiana, assim como sua atividade e
índices derivados, são fundamentais ao entendimento de seu papel no
biofuncionamento do solo e na dinâmica da matéria orgânica. Os dados
revisados nesse capítulo demonstram que há um crescente volume de
informações para solos tropicais e subtropicais, em condições brasileiras.
Verificou-se que a biomassa microbiana representa uma fração importante do
carbono orgânico total do solo, apresentando valores superiores aos
comumente publicados para solos de clima temperado, o que sugere uma
maior dinâmica para a matéria orgânica do solo em condições tropicais e
subtropicais. Pôde ser observado, ainda, que as determinações da biomassa
microbiana e seus índices derivados representam uma poderosa ferramenta de
avaliação da qualidade do solo.

Estabeleceu-se, ainda, uma discussão sobre as principais metodologias


utilizadas na determinação da biomassa microbiana do solo, concluindo-se que
as duas metodologias mais utilizadas (clorofórmio-fumigação-incubação e
clorofórmio-fumigação-extração) são adequadas e fortemente correlacionadas
entre si. Entretanto, devido a questões de ordem prática, os cientistas da área
têm convergido para o método que utiliza a extração do carbono por um extrator
fraco. Nesse sentido, atenção especial deve ser dada ao fator de correção para
o carbono extraído (Kec), sendo recomendados mais estudos para confirmar se
o valor de 0,40, derivado dos dados publicados até o momento para solos
brasileiros, é realmente o mais adequado. Finalmente, ressalta-se a
necessidade de padronização dos procedimentos para que seja possível uma
melhor comparação entre os trabalhos publicados.
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 191

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8
Emissões de CO2 do Solo:
Métodos de Avaliação e
Influência do Uso da Terra

Alexandre Fonseca d’Andréa


Marx Leandro Naves Silva
Carlos Alberto Silva

Resumo - Atualmente, há um maior interesse em se estudar as trocas


gasosas entre o solo e a atmosfera, em especial com relação ao gás carbônico
(CO2). As emissões de CO2 do solo dependem da atividade de
microrganismos heterotróficos e da respiração de raízes de plantas e, em
escala global, constituem um importante componente do ciclo do carbono. A
influência do uso da terra sobre as perdas de CO2 do solo é significativa, o que
resulta em diferenças entre sistemas originalmente sob vegetação nativa e
agroecossistemas sob intervenção humana. Em áreas cultivadas, o manejo
intensivo e a realização de operações de movimentação do solo tendem a
acarretar maiores perdas de CO2, que podem variar em função de fatores
como irrigação, cobertura vegetal e adição de resíduos orgânicos. Apesar de
as emissões de CO2 do solo serem governadas, principalmente, pela
temperatura e umidade, em algumas situações, são outros os atributos do
solo que parecem exercer influência sobre os teores desse gás emitido. A falta
de um método padrão para a avaliação das emissões de CO2 do solo dificulta a
comparação de resultados obtidos com técnicas distintas. Em geral, as
medições diretas são feitas com sistemas que empregam campânulas
posicionadas sobre a superfície do solo para a captura do gás. As câmaras
podem conter, em seu interior, frascos com substâncias alcalinas ou estarem
200 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

conectadas a analisadores de gás por infravermelho, o que representou,


recentemente, um grande avanço, por permitir a obtenção de leituras precisas
em curto espaço de tempo. Nesta revisão, são descritas as características
dos principais métodos de avaliação das emissões de CO2 do solo, incluindo
suas vantagens, limitações, fontes de erro e aplicabilidade, e apresentados
resultados de pesquisas sobre perdas de CO2 do solo e seus fatores
condicionantes, em função do uso e manejo da terra, em regiões de climas
temperado e tropical.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 201

Soil CO2 Emission:


Evaluation Methods
and the Influence of Land Use

Abstract - Nowadays, there is a growing interest on studying the gas


exchange issues between soil and atmosphere, especially with relation to
carbon dioxide (CO2). On a local scale, soil CO2 emissions are connected to
heterotrophic microrganisms activity and plant root systems respiration, and,
on a broader perspective, they represent an important component of the
carbon global cycle. The influence of land use on soil CO2 losses is significant,
since the different soil management systems causes changes in the soil
attributes which exert influence on the decomposition of soil organic matter. An
intensive management with great soil movement tends to cause higher CO2
losses, which can be influenced by practices like irrigation, vegetation cover
and rates and types of organic residues applied to the soil. Although soil CO2
emissions are dependent of the temperature and moisture, in some situations,
other soil attributes seems to be more influent in the emission of this gas. In
addition, a lack of a standardized method for assessing soil CO2 emissions
makes results obtained by different techniques difficult to be compared.
Usually, direct measurements are done with chamber systems by using
alkaline solutions or connected to an infra-red gas analyzer, a recent
significant advance, which makes possible accurate measurements on short
term periods. In this revision are discussed the characteristics of the main soil
CO2 emissions assessment methods, including their advantages, limitations,
error sources and application, and are presented some research results
related to the soil CO2 losses and their conditioning factors, in different
management and use of land, on temperate and tropical region conditions.
202 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Introdução
O solo é o maior compartimento terrestre de carbono, contendo quantidades
do elemento, que superam as presentes na biomassa vegetal e na atmosfera
do planeta. A maior parte do carbono estocado no solo é constituída por
formas orgânicas, cuja quantidade, num dado momento, é o reflexo do
balanço entre as adições de resíduos e as perdas por erosão e processos de
oxidação de materiais orgânicos. A matéria orgânica é um elemento chave
para a qualidade do solo, contribuindo para a geração de cargas,
complexação de metais tóxicos e micronutrientes, redução da fixação de
fósforo e aumento do poder tampão, além de influenciar diretamente a
capacidade de retenção de água no solo e a melhoria do estado de
agregação, e interferir na quantidade e atividade dos componentes biológicos,
como microrganismos e enzimas (Haynes, 1984; Dick, 1994; Karlen & Stott,
1994; Stevenson, 1994).
Em ecossistemas com vegetação natural, existe uma tendência de
preservação da matéria orgânica do solo, enquanto as alterações no uso da
terra (como a substituição de sistemas naturais por áreas cultivadas) quase
sempre desencadeiam processos que levam à decomposição acelerada dos
compostos orgânicos, resultando em perdas de carbono do solo,
principalmente na forma de CO2, liberado para a atmosfera. Numa escala
global, a diminuição da matéria orgânica do solo por meio de processos
degradativos está relacionada à emissão de CO2 e outros gases de efeito
estufa, o que pode contribuir para alterações climáticas globais
(Scharpenseel, 1997). Métodos confiáveis de medição de perdas gasosas do
solo para a atmosfera são necessários para identificar sistemas de uso da
terra mais sustentáveis, do ponto de vista da preservação da matéria orgânica
do solo.

Dos métodos existentes para avaliação das emissões de CO2 do solo, os mais
comumente usados são os que empregam campânulas posicionadas sobre a
superfície do solo para a captura do gás. No entanto, a existência de
diferentes técnicas analíticas e as limitações na aplicação desta e de outras
metodologias afetam tanto a comparação, como a confiabilidade dos
resultados obtidos. Entender melhor as variáveis que influenciam as
medições, é necessário para aumentar a precisão das estimativas dos fluxos
de CO2 do solo para a atmosfera.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 203

Apesar da grande quantidade de carbono estocado no solo e na biomassa dos


vegetais, considera-se, atualmente, que a possibilidade de um seqüestro
líquido do carbono atmosférico pelo compartimento terrestre seja remota. Na
década de 80, por exemplo, as estimativas em nível global contabilizam um
balanço nulo de carbono entre os sistemas terrestres e a atmosfera. No
entanto, alguns estudos têm indicado boas chances, ao menos no curto prazo,
de o solo funcionar como sumidouro de carbono, quando da adoção de
sistemas de uso da terra com características conservacionistas. Assim, é
evidente a necessidade de um maior entendimento sobre a dinâmica de
carbono em ambientes naturais e modificados, em especial com relação às
emissões de CO2 do solo para a atmosfera.
O presente trabalho foi disposto em duas partes principais: na primeira, são
apresentados os principais métodos de avaliação das emissões de CO2 do
solo e sua aplicabilidade, com considerações a respeito das vantagens de uso
e limitações de cada um, e, na segunda parte, são mostrados alguns
resultados de pesquisas sobre a influência do uso da terra nos fluxos de CO2
do solo, indicando as práticas de preparo de solo e de cultivo que têm levado a
perdas de carbono do solo ou à sua preservação, tanto em regiões de clima
temperado, como nos trópicos.

Métodos de Avaliação das Emissões de


Co2 do Solo
O gás carbônico emitido do solo é produzido, predominantemente, por meio
de processos biológicos, como a decomposição de resíduos orgânicos e a
respiração de organismos do solo e do sistema radicular das plantas. As
trocas gasosas entre o solo e a atmosfera são governadas por dois
mecanismos principais: a difusão, um movimento do gás de uma zona de
maior concentração, para outra de menor, e o fluxo de massa, que ocorre
quando o gás se move junto com o ar em que está misturado, em resposta a
um gradiente de pressão (Ball & Simth, 1991). Quase todo o CO2 produzido no
solo é conduzido à superfície, e daí liberado, pelo processo de difusão
(Lundegårdh, 1927; Kimball & Lemon, 1971). O fluxo de massa é importante,
apenas, quando diferenças de pressão de ar são causadas por alterações na
pressão barométrica, na temperatura, ou no conteúdo de água do solo (Ball &
204 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Smith, 1991). A concentração de CO2 no solo é maior do que na atmosfera,


pela presença de raízes e organismos, fazendo com que haja um fluxo
ascendente do gás das camadas mais profundas até a superfície do solo (Ball
& Smith, 1991). A difusividade do gás carbônico no solo pode variar em função
de algumas propriedades, como textura, estrutura e teor de umidade, e, para
uma mesma taxa de emissão de CO2, o gradiente de concentração deverá ser
tanto menor quanto maior for o coeficiente de difusão do gás no solo (Nay et
al., 1994).
Muitas vezes, o fluxo de CO2 tem sido utilizado para avaliar a respiração do
solo, embora, nem sempre, essas medições representem o mesmo
fenômeno, uma vez que, fatores como as reações do ácido carbônico
(predominantemente em solos alcalinos, segundo Anderson, 1982) e a
própria difusão gasosa de CO2 no solo (um fenômeno de natureza física)
podem limitar a utilização dos dois termos como sinônimos (Kucera &
Kirkham, 1971). Assim, existe a necessidade de se interpretar criteriosamente
o significado dos valores calculados para o entendimento satisfatório dos
fatores que influenciam as perdas de CO2 do solo.

Fatores que afetam as emissões de CO2 do solo


As variáveis climáticas influenciam diretamente os fluxos de CO2 para a
atmosfera, já que a emissão de CO2 do solo depende, fundamentalmente, do
gradiente vertical de concentração do gás em profundidade, do gradiente
vertical de pressão do ar e da velocidade horizontal do vento à superfície do
solo (Longdoz et al., 2000). Desse modo, os principais fatores que afetam as
emissões de CO2 são a temperatura (do ar e do solo) e o teor de umidade do
solo (Anderson, 1982; Russell & Voroney, 1998; Duiker & Lal, 2000; Longdoz
et al., 2000; Janssens et al., 2001).

Aumentos na temperatura podem elevar exponencialmente as taxas de


respiração do solo (Fang & Moncrieff, 2001; Yim et al., 2002). Em diversos
trabalhos, têm sido encontradas relações significativas entre a temperatura do
solo ou do ar e as emissões de CO2: Janssens et al. (2001) verificaram que até
80% das variações temporais nas emissões de CO2 foram explicadas por
variações na temperatura, em situação de baixo estresse hídrico; Longdoz et
al. (2000) encontraram que 73% da variação nos fluxos de CO2 ocorreu em
função da temperatura; Duiker & Lal (2000) calcularam que 60% das
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 205

variações nas emissões de CO2 foram explicadas pela temperatura média


diária do solo a 5 cm de profundidade; Yim et al. (2002) verificaram
correlações positivas entre o fluxo médio diário de CO2 e a temperatura média
diária do ar e do solo no horizonte A. Russell & Voroney (1998) sugeriram a
utilização de medições de temperatura do solo a 10 cm, por ser uma
profundidade de leitura padrão em muitas estações meteorológicas e
unidades de pesquisa ao redor do mundo, o que facilita a comparação de
resultados.
Por causa das diferenças de temperatura em diversas regiões do globo, a
produção de CO2 no solo também é variável, geograficamente. Em regiões
mais quentes, a taxa de respiração do solo é intensificada e, anualmente, a
emissão de carbono pode chegar a 1.400 Mg km-2 (14 Mg ha-1), em localidades
presentes em regiões tropicais (Raich et al., 2003). Além das diferenças
espaciais, a sazonalidade da temperatura ao longo do ano também impõe
uma oscilação, no tempo, sobre a magnitude das emissões de CO2 do solo.
Em termos médios, o fluxo anual de CO2 do solo é maior em baixas latitudes,
mas em junho (solstício de verão no Hemisfério Norte), as emissões podem
ser maiores em alguns países localizados fora da zona tropical (Fig. 1).

Em região de clima temperado, Maljanen et al. (2002) verificaram um padrão


claro de variação diurna nas emissões de CO2, no verão, em áreas cultivadas
de solos orgânicos, com fluxos maiores por volta do meio-dia e mínimos à
noite (Fig. 2). Houve uma estreita relação entre emissão de CO2 e temperatura
do ar, indicando que a atividade biológica nas camadas superficiais do solo,
cuja temperatura segue a do ar, foi responsável pela produção da maioria do
gás carbônico. Adicionalmente, neste estudo, foi identificada uma defasagem
de algumas horas entre as oscilações na temperatura do ar e nos fluxos de
Co2.
206 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

(a)

Média anual das emissões globais de CO 2 (1980 - 1994)

(b)

Emissões globais de CO 2 em Junho (1980 - 1994)

(c)

Emissões globais de CO 2 em Dezembro (1980 - 1994)

Fig. 1. Padrões de variação das emissões globais de CO2 do solo. Média anual de 1980
a 1994 e médias dos meses de junho e dezembro, no mesmo período. As legendas
indicam valores expressos em Mg de carbono por km2 de solo. (a) média anual; (b)
média do mês de junho; (c) média do mês de dezembro.
Fonte: Raich et al. (2003).
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 207

2000 30
(a) descoberto
T 25
CO2
1500
20

1000 15

10
500

Temperatura do ar (ºC)
5
CO2 (mg m h )
-1

0
-2

2000 (b) cevada 30

25
1500
20

1000 15

10
500
5

0 0
0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0

Hora do dia

Fig. 2. Variações diárias (em cinco dias) dos fluxos de CO2 e temperatura do ar, em
região temperada e no verão, para um solo orgânico agrícola descoberto (a) e
cultivado com cevada (b).
Fonte: adaptado de Maljanen et al. (2002).

No Brasil, Lira et al. (1999) verificaram que as médias mensais das emissões
de gás carbônico do solo em sistemas florestais variaram ao longo do ano,
sendo observados fluxos mais altos nos meses mais quentes (entre outubro e
fevereiro), o que foi atribuído a condições favoráveis à atividade dos
microrganismos do solo (Fig. 3). No mesmo país, La Scala Junior et al.
(2000b) mostraram haver interferência da precipitação pluviométrica sobre os
fluxos de CO2 do solo, pois os padrões de variabilidade das emissões foram
alterados no curto prazo, após a ocorrência de um período chuvoso. A
influência da umidade, no entanto, é diferente da temperatura, pois, a partir de
um certo teor de água no solo, a resposta dos fluxos de CO2 é decrescente, até
um valor próximo de zero, perto do ponto de umidade de saturação (Janssens
et al., 2001). Isso ocorre porque um alto conteúdo de água no solo implica em
208 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

pequena proporção de poros preenchidos por ar, o que dificulta a troca de


gases, além de tornar mais lenta a decomposição de resíduos orgânicos,
diminuindo a produção de CO2 (Duiker & Lal, 2000). Por outro lado, em solos
com teor muito baixo de água, existem restrições para a produção de CO2 por
limitações à atividade microbiana, apesar da grande quantidade de poros
ocupados por ar.

120
TA
110 TC
TE
100
TF
CO2 (mg m h )
-1

90 TG
-2

80
70
60
50
40
30
jun/97 jul/97 ago/97 set-97 out/97 nov/97 dez/97 jan/98 fev/98

Meses

Fig. 3. Médias mensais da emissão de CO2 do solo em sistemas com eucalipto.


TA: testemunha (sem corte); TC: cultivo mínimo (corte raso com manutenção dos
resíduos); TE: corte raso com remoção dos resíduos e serrapilheira; TF: manejo
intensivo (corte raso com incorporação dos resíduos por duas gradagens); TG: corte
raso com queima dos resíduos.
Fonte: Lira et al. (1999).

Elevações rápidas no teor de umidade do solo (e.g. irrigação) podem resultar


num aumento dos fluxos de CO2 para a atmosfera, pela simples substituição
do ar rico em gás carbônico pela água, e num estímulo quase imediato (já em 1
hora) da atividade dos microrganismos, em resposta à maior disponibilidade
de água (Reicosky et al., 1999). Um aumento nos fluxos de CO2 também foi
verificado, após dias de chuva, por Longdoz et al. (2000). No entanto, o teor de
umidade do solo permaneceu baixo, devido à reduzida condutividade
hidráulica, confinando a água a uma camada superficial de poucos
centímetros, mas espessa o suficiente para liberar do solo o ar rico em Co2.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 209

Edwards (1975) já havia indicado que, em florestas, a influência da umidade


sobre os fluxos de CO2 pode ser devida a efeitos sobre a aeração do solo e da
serrapilheira, e que equações preditivas das emissões de CO2 baseadas na
umidade devem levar em conta a existência de uma faixa de variação ótima de
umidade, fora da qual os fluxos são reduzidos. Resultados como esses,
justificam estudos sobre a influência da temperatura e umidade do solo sobre
os fluxos de CO2, e a freqüente inclusão dessas variáveis em modelos de
regressão linear da emissão de CO2, em diversas condições de clima, manejo
e tipo de solo (Edwards, 1975; Russell & Voroney, 1998; Maljanen et al., 2001).
Em algumas situações específicas, no entanto, não existe uma relação
evidente entre as emissões de CO2 e a temperatura ou a umidade do solo.
Numa floresta de clima temperado, com pequena oscilação térmica durante o
período experimental, Gärdenäs (2000) verificou que a maioria das variações
nos fluxos de respiração do solo foi explicada pelo teor de umidade da
espessa serrapilheira (r2 = 0,70, P<0,01), e o ajuste da regressão foi ainda
melhor quando foi incluído no modelo, o teor de matéria orgânica dessa
camada (r2 = 0,85, P<0,03). Adicionalmente, o autor sugeriu a existência de
uma conexão entre as taxas de respiração e as de evaporação do solo, o que é
compreensível, pelo fato de a transferência de vapor d'água para a atmosfera
ser governada, principalmente, por difusão, assim como as emissões CO2
(Ball & Smith, 1991).

Apesar disso, Reicosky et al. (1999) verificaram um aumento nas taxas de


evaporação após uma operação de preparo do solo, sem que o mesmo
tivesse ocorrido com os fluxos de CO2, o que foi atribuído ao fato de o solo não
estar ainda suficientemente úmido, naquela ocasião, para uma elevação da
atividade microbiana. Por outro lado, depois da aplicação prévia de água, via
irrigação, seguida de uma subsolagem, houve coincidência entre os picos de
evaporação e os de fluxo de CO2. Com isso, pode-se dizer que as emissões de
CO2 do solo acompanham as de vapor d'água, mas, aparentemente, apenas a
partir de um determinado valor mínimo de umidade do solo. Um dos
complicadores para o entendimento do significado das emissões de CO2, é
justamente, o fato de a umidade do solo, ser limitante somente acima ou
abaixo de um determinado valor, além de poder haver um efeito sinérgico
entre as variáveis que afetam os fluxos (Edwards, 1975).
La Scala Junior et al. (2000a) também não verificaram correlações
significativas da temperatura ou umidade do solo com as emissões de CO2,
mas sim com atributos como carbono orgânico total, capacidade de troca
210 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

catiônica e teor de ferro livre do solo. Assim, apesar da importância da


temperatura e da umidade, é evidente que diversos outros atributos podem
estar significativamente correlacionados às emissões de CO2 do solo (Russell
& Voroney, (1998), alertam, inclusive, para a pequena aplicabilidade de
modelos baseados apenas na temperatura do solo). O conhecimento de como
isto ocorre, especialmente em casos em que existe falta de dados (como em
condições de clima tropical, conforme alertado por La Scala Junior et al.,
(2000a)), é fundamental para a identificação de diferenças nos padrões de
fluxo de CO2 em solos distintos, quanto ao grau de intemperismo ou quanto a
condições de uso e manejo.

Variabilidade espacial e temporal das emissões de


CO2 do solo
Além dos fatores que afetam as emissões de CO2 do solo, existe uma elevada
variabilidade espacial e temporal dos fluxos, diretamente relacionada à
variabilidade das propriedades do solo que interferem no fenômeno, como
porosidade, estado de drenagem, conteúdo de carbono orgânico e
populações de microrganismos (Duiker & Lal, 2000). La Scala Junior et al.
(2000a) identificaram similaridade entre os padrões de variabilidade espacial
das emissões de CO2 e de atributos relacionados, como o teor de carbono
orgânico do solo, num Latossolo do Brasil sem cobertura vegetal. Longdoz et
al. (2000) verificaram diferenças na distribuição espacial do fluxo de CO2 em
duas parcelas distintas de floresta temperada, o que foi atribuído à
heterogeneidade de fatores como a biomassa da serrapilheira, relação C:N,
relação lignina:N, densidade do sistema radicular, acidez do solo e textura.

Variações temporais nos padrões de fluxo de CO2 também têm sido relatadas
em alguns estudos. Russell & Voroney (1998) destacam a necessidade de um
monitoramento mais constante dos fluxos de CO2, alertando para as
limitações na aplicação de resultados obtidos em períodos curtos (duas
semanas ou um mês) em estudos globais de balanço de carbono, por causa
da possibilidade de variação significativa dos valores, de um dia para o outro,
em algumas épocas do ano. Em clima temperado, os autores verificaram que,
na primavera, a variabilidade foi maior do que no verão, possivelmente em
decorrência de uma alteração nos padrões de emissão de CO2 de locais mais
quentes, isolados e aleatórios na superfície do solo (na primavera) para
emissões mais uniformes, vindas de raízes ativas em crescimento
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 211

(sustentadas pela energia de compostos fotoassimilados) e da difusão de gás


carbônico a partir das camadas mais profundas do solo (no verão). Esta
variação, no entanto, pode se dar de maneira diferente nos solos dos trópicos,
em função da dissimilaridade das condições climáticas das duas regiões.

Descrição dos métodos de avaliação


Atualmente, existem diversos sistemas para a avaliação do fluxo de CO2 do
solo para a atmosfera, sendo, a seguir, apresentada uma descrição resumida
dos principais, com considerações a respeito dos aspectos positivos e das
limitações encontradas em cada situação. Medidas indiretas podem ser
realizadas por meio do método do gradiente de concentração, enquanto os
sistemas de medição direta envolvem o uso de campânulas posicionadas
sobre a superfície do solo, com soluções alcalinas em seu interior ou
acopladas a analisador de gás por infravermelho. Os sistemas de
campânulas merecerão, neste trabalho, a maior parte das atenções, no que
se refere à descrição de potencialidades, limitações e possibilidades de uso.
Além destes, os métodos micro-meteorológicos também fornecem resultados
diretos, sendo utilizados nos cálculos de trocas gasosas em escala de
ecossistema, considerando a participação da biomassa vegetal, como no
método da covariância de vórtices turbulentos.
Gradiente de concentração
O método da teoria da difusão gasosa ou do gradiente de concentração,
fornece uma estimativa indireta das emissões de CO2 do solo (Nay et al.,
1994), partindo do pressuposto que o fluxo de gás carbônico num sistema, é
função do gradiente de concentração e do seu coeficiente de difusão no meio,
segundo a relação física postulada como a primeira lei de Fick:

dC
F  D
dz
onde F: fluxo de CO2 do solo; D: difusividade do CO2 no meio; dC/dz: gradiente
de concentração do CO2 no meio. Resultados obtidos por meio de análises de
regressão múltipla têm indicado a possibilidade de boas estimativas dos
fluxos de CO2 através da caracterização das propriedades de difusividade,
como a tortuosidade e a porosidade do solo, sustentando o uso do método da
difusão gasosa (Russell & Voroney, 1998).
212 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

No entanto, a aplicação da lei de Fick é empírica, sendo que apenas sob


determinadas circunstâncias especiais o coeficiente de difusão é constante,
independentemente da presença de outros gases no solo (Ball & Smith, 1991).
Assim, medidas obtidas com o método do gradiente de concentração tem
subestimado, freqüentemente, as emissões de CO2 do solo, pois as estimativas
são baseadas em coeficientes de difusão calculados indiretamente, por
exemplo, a partir dos teores de umidade do solo (Šimůnek & Suarez, 1993).
Kabwe et al. (2002) verificaram que, apesar de fornecer resultados razoáveis
quando comparados com fluxos conhecidos de CO2, ainda foram detectadas
incertezas nos cálculos do gradiente de concentração do gás e do coeficiente
de difusão gasosa, que é extremamente sensível ao teor de umidade do solo.
Neste sentido, Duiker & Lal (2000) destacam a virtual impossibilidade da
determinação exata do coeficiente de difusão do CO2 em solos úmidos, o que
contribui para o aparecimento dessas incertezas nas medições.
Sistemas de campânulas
Usualmente, as medições diretas do fluxo de CO2 são feitas com o emprego de
campânulas posicionadas sobre a superfície do solo. Estudos pioneiros sobre
emissões gasosas de carbono do solo para a atmosfera já utilizavam câmaras
cônicas de zinco, especialmente construídas para a captura do CO2,
conectadas por um tubo de borracha a um dispositivo portátil contendo uma
solução alcalina, titulada com ácido ao final do período de exposição para a
quantificação do gás (Lundegårdh, 1927). Os equipamentos mais rudimentares
utilizados inicialmente foram sendo substituídos, ao longo do tempo, por
sistemas sofisticados, desenvolvidos com o intuito de fornecer estimativas mais
confiáveis das emissões.
Atualmente, apesar de existirem câmaras com diferentes formas e dimensões
(Gärdenäs (2000) e Widén (2002), por exemplo, utilizaram uma estrutura em
forma de túnel com dois metros de comprimento por 30 centímetros de largura
e altura), as mais comumente empregadas são as de formato cilíndrico, com
tamanho variado. As câmaras podem ainda, ter ou não a presença de orifícios
de contato com o ar exterior, e seu funcionamento pode ser estático ou
dinâmico, em função da circulação interna de ar promovida por ventiladores e
da existência de um fluxo conhecido de ar passando através das câmaras, no
último caso (Freijer & Bouten, 1991).
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 213

a) com substâncias alcalinas


O método de absorção por substâncias alcalinas (AA) utiliza, na maioria das
vezes, campânulas de funcionamento estático com substâncias de natureza
básica em seu interior. Geralmente, são usadas soluções alcalinas contidas
em frascos abertos ou embebidas em discos sólidos (Yim et al., 2002), que
capturam o CO2 emanado do solo, sendo posteriormente tituladas com ácido
para a quantificação do gás absorvido. Uma alternativa para se evitar o uso de
soluções em estudos de campo é o emprego de grânulos de soda-calcário,
uma mistura sólida de CaO com NaOH e água, com, aproximadamente, 1 a 3
mm de diâmetro, atuando como o material absorvente de CO2. Neste caso, a
taxa de emissão de CO2 é obtida levando-se em consideração a diferença
gravimétrica da soda-calcário após exposição ao CO2 liberado do solo
(Anderson, 1982; Nay et al., 1994).
O método AA apresenta a grande vantagem de ser simples, versátil e de baixo
custo, sendo, por esse motivo, bastante utilizado. Segundo Anderson (1982),
este método pode oferecer resultados bem precisos se utilizado
cuidadosamente. Este ponto, no entanto, foi questionado por Nay et al.
(1994), que advertiram sobre a necessidade de se aumentar a sensitividade
do método para que os valores obtidos reflitam as variações reais dos fluxos. A
demora nas medições (consumo de tempo) é uma outra limitação deste
método, já que um período de várias horas é necessário, em geral, para a
absorção de quantidade suficiente de gás carbônico pela substância alcalina.
A maior parte dos trabalhos indica uma tendenciosidade de desvios nos
resultados obtidos pelo método AA em campânulas, em função de limitações
na capacidade de absorção do CO2 pela solução alcalina, levando a
alterações na concentração do gás no interior da campânula (Freijer &
Bouten, 1991; Nay et al., 1994; Kabwe et al., 2002). Quando a taxa de emissão
de CO2 do solo é pequena, a solução alcalina geralmente absorve o gás numa
taxa maior do que a sua liberação, o que causa uma supressão na
concentração de CO2 no interior da campânula, aumentando o gradiente de
concentração do gás no solo. Como resultado, uma movimentação adicional
de CO2 para a campânula é induzida por difusão. Por outro lado, quando o
fluxo de CO2 do solo é elevado, ocorre o contrário, havendo um aumento da
concentração de CO2 na campânula por causa do processo mais lento de
captura do gás pela solução alcalina. Além disso, com o decorrer do tempo, a
solução vai perdendo sua força e, algumas vezes, podem ser necessários
ajustes na sua concentração para compensar este fato (Kabwe et al., 2002).
214 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Desse modo, o método AA tem superestimado as emissões quando os fluxos


reais de CO2 do solo são baixos, e subestimado as mesmas quando os fluxos
são, de fato, elevados. Alguns valores críticos para a ocorrência de sub ou
superestimativas no método de substâncias alcalinas com campânulas foram
indicados nos estudos de Jensen et al. (1996) (100 mg CO2 m2 h-1) e Yim et al.
(2002) (300 mg CO2 m2 h-1). Uma melhor eficiência na absorção da substância
alcalina foi conseguida quando Yim et al. (2002) utilizaram um sistema
modificado (original de Kirita (1971), citado pelos autores), no qual uma
esponja em forma de disco embebida com a solução foi empregada ao invés
de frascos abertos. A modificação aumentou a superfície de absorção para o
CO2 e tornou possível a obtenção de resultados menos subestimados em
elevadas taxas de fluxo de CO2, apesar de, em contrapartida, superestimar
ainda mais as leituras para fluxos baixos. Freijer & Bouten (1991) utilizaram o
método AA num sistema de funcionamento dinâmico, no qual o ar que deixa a
câmara posicionada sobre a superfície do solo retorna à mesma, após ter sido
borbulhado na solução alcalina, o que resultou numa melhoria do contato ar-
solução e numa maior confiabilidade do método.
Uma outra limitação relacionada ao método de absorção alcalina ocorre
quando é necessário deixar as campânulas no campo por períodos longos,
com a possibilidade de modificações na temperatura e no teor de umidade do
solo, alterando os fluxos de CO2 em relação ao solo livre (Yim et al., 2002).
Este aspecto, no entanto, foi questionado por Duiker & Lal (2000), que não o
consideraram como razão válida para justificar elevações nos fluxos de CO2,
já que o solo sob as campânulas não está exposto diretamente à luz solar, e
não possui, necessariamente, maior temperatura e umidade em relação ao
solo livre.

b) com analisadores de gás


As campânulas usadas em estudos de campo podem estar conectadas
também a analisadores de gás por absorção na faixa do infravermelho
(IRGA), constituindo os comumente chamados sistemas de campânulas para
medição de trocas gasosas. Neste estudo, será dada ênfase aos dois
principais sistemas existentes: os sistemas fechados dinâmicos e os sistemas
abertos com fluxo contínuo de ar. Field et al. (1992) explicam que a diferença
básica entre eles é que, enquanto que os sistemas fechados operam com o
uso preferencial de aparelhos IRGA que utilizam o modo absoluto de medição
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 215

(apenas uma célula detectora da concentração de CO2), os sistemas abertos


com fluxo contínuo de ar operam com aparelhos possuidores de duas células,
uma de análise, que recebe a amostra coletada da campânula, e outra de
referência, que recebe, geralmente, o ar ambiente ou um gás de concentração
conhecida. Uma representação esquemática de ambos é dada na Fig. 4.

Ar

Fluxômetro
Bomba

Campânula Campânula

IRGA IRGA

Absoluto Diferencial

c an c ref c an

c V (Ue  ce)  (Us  cs)


Fc  Fc 
t  A A

Fechado dinâmico Aberto com fluxo contínuo de ar

Fig. 4. Representação do funcionamento de sistemas de medição de trocas gasosas com


campânulas: sistema fechado dinâmico e sistema aberto com fluxo contínuo de ar.
IRGA: analisador de gás por absorção no infravermelho; c an: célula de análise do IRGA
(amostra); c ref: célula de referência do IRGA; Fc: fluxo de CO2 do solo; Dc: variação na
concentração de CO2 do ar; Dt: tempo de medição; V: volume da campânula; A: área de
exposição do solo com a campânula; Ue, Us: fluxo do ar que entra na campânula e sai da
mesma, respectivamente; ce, cs: concentração de CO2 no ar que entra na campânula e
sai da mesma, respectivamente.
Fonte: adaptado de Field et al. (1992).
216 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Nos sistemas fechados, o ar passa continuamente do IRGA até a campânula,


e o fluxo de CO2 é calculado a partir das taxas de incremento da concentração
do gás no interior da câmara, considerando um aumento linear (ou, às vezes,
quadrático, segundo Wagner et al., 1997) da concentração de CO2, depois de
um determinado tempo. Já nos sistemas abertos, a taxa de emissão de CO2 é
calculada pela diferença entre a concentração do gás presente no ar que entra
na campânula e no ar que sai da mesma, após ter sido atingido um estado de
equilíbrio dinâmico (Mosier, 1990; Field et al., 1992).
Os métodos de campânulas interligadas a analisadores de gás por
infravermelho estão entre os mais comumente utilizados, atualmente. Uma de
suas grandes vantagens é a maior sensibilidade dos IRGA e a possibilidade
da realização de medições em curto espaço de tempo, o que evita influências
negativas sobre as variáveis micro-climáticas do solo (Parkinson, 1981; La
Scala Junior et al., 2000a, b; Yim et al., 2002). A escolha do sistema varia de
acordo com as necessidades de cada estudo: enquanto os sistemas abertos
com fluxo contínuo fornecem medidas tomadas num estado de equilíbrio real,
mantendo condições ambientais próximas às do solo livre de campânulas, os
sistemas fechados e dinâmicos têm a vantagem de serem simples (não
necessitam de medidores de fluxo de ar ou de uma célula de referência),
verdadeiramente portáteis e fornecedores de medições rápidas para um
grande número de amostras, no campo (Mosier, 1990; Field et al., 1992). Na
Fig. 5 são apresentados exemplos de dois sistemas de campânulas usados
com IRGA para medições no campo.
Apesar das vantagens que oferecem, os sistemas de campânulas com IRGA
não estão isentos de problemas operacionais e fontes de erro. A simples
inserção das campânulas sobre a superfície do solo cria um ambiente artificial
que pode provocar modificações nos fluxos de CO2 em relação ao solo livre.
Os principais problemas dos sistemas de campânulas, são perturbações na
camada de ar da interface solo-atmosfera, restrições ao fluxo horizontal
natural do vento e alterações no gradiente vertical de pressão do ar próximo à
superfície, caso exista uma diferença de pressão entre o interior e o exterior da
campânula (Mosier, 1990; Longdoz et al., 2000). Este último ponto foi
investigado por Longdoz et al. (2000) em um sistema aberto com
funcionamento dinâmico, mas os resultados são válidos no caso de sistemas
fechados. Houve uma relação exponencial e decrescente entre os fluxos de
CO2 medidos e a diferença de pressão do ar (r2=0,90); quando a campânula
estava sub-pressurizada em relação ao ambiente, os fluxos aumentaram, o
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 217

oposto ocorrendo no caso de sobre-pressurização. Neste sistema aberto, as


emissões calculadas estiveram superestimadas em 6,3%, indicando a
necessidade de correção dos valores medidos. Longdoz et al. (2000)
observaram, ainda, que a perturbação das campânulas sobre a velocidade
horizontal do vento exerceu pequena influência sobre os fluxos de Co2.
(a)

Fig. 5. Sistemas de medição das emissões de CO2 do solo: (a) campânula para
sistema fechado dinâmico (Soil CO2 Flux Chamber 6400-09, Li-Cor, NE, USA); (b)
campânula conectada a um analisador de gás por infravermelho em sistema aberto
com fluxo contínuo de ar (ADC Soil Hood e LCA-4 IRGA, ADC Bioscientific,
Hoddesdon, England).

Apesar das vantagens que oferecem, os sistemas de campânulas com IRGA


não estão isentos de problemas operacionais e fontes de erro. A simples
inserção das campânulas sobre a superfície do solo cria um ambiente artificial
que pode provocar modificações nos fluxos de CO2 em relação ao solo livre.
Os principais problemas dos sistemas de campânulas, são perturbações na
camada de ar da interface solo-atmosfera, restrições ao fluxo horizontal
natural do vento e alterações no gradiente vertical de pressão do ar próximo à
superfície, caso exista uma diferença de pressão entre o interior e o exterior da
campânula (Mosier, 1990; Longdoz et al., 2000). Este último ponto foi
investigado por Longdoz et al. (2000) em um sistema aberto com
funcionamento dinâmico, mas os resultados são válidos no caso de sistemas
218 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

fechados. Houve uma relação exponencial e decrescente entre os fluxos de


CO2 medidos e a diferença de pressão do ar (r2=0,90); quando a campânula
estava sub-pressurizada em relação ao ambiente, os fluxos aumentaram, o
oposto ocorrendo no caso de sobre-pressurização. Neste sistema aberto, as
emissões calculadas estiveram superestimadas em 6,3%, indicando a
necessidade de correção dos valores medidos. Longdoz et al. (2000)
observaram, ainda, que a perturbação das campânulas sobre a velocidade
horizontal do vento exerceu pequena influência sobre os fluxos de Co2.
Alterações de pressão no interior de campânulas também foram observadas
por Denmead (1979), mas em estudos sobre emissões de óxido nitroso do
solo: uma sub-pressurização induziu a emissão adicional de N2O do solo por
fluxo de massa, além de terem sido detectadas alterações de concentração do
gás no interior da campânula, que provocaram, também, modificações de
concentração nos poros do solo, ao longo do perfil. Parkinson (1981) usou um
sistema no qual o volume das amostras retiradas para análise era
imediatamente compensado por igual volume de ar livre de CO2 (também
descrito em Field et al., 1992), evitando alterações de pressão.
Outra fonte de erro passível de ocorrer com sistemas de campânulas são
alterações do fluxo de vapor d'água na superfície do solo, por causa de
condições que dificultam ou facilitam a evaporação, o que ocorre,
respectivamente, no caso de campânulas estáticas e de campânulas
equipadas com ventiladores (Gärdenäs, 2000). Os efeitos da turbulência do ar
sobre as taxas de evaporação de água foram estudados por Kimball & Lemon
(1971), que indicaram haver aumento da movimentação de vapor d'água, em
decorrência do aumento da turbulência, principalmente em solos de textura
mais grosseira ou com menor profundidade efetiva. Para Yim et al. (2002), o
uso de dispositivos que promovem a mistura do ar no interior das campânulas
em sistemas dinâmicos e fechados (CFD) pode levar à obtenção de
resultados mais precisos, minimizando algumas fontes de erro. Apesar disso,
Reicosky et al. (1999) indicaram que sistemas com ventiladores internos
podem estar mais sujeitos a alterações de pressão no interior da campânula,
em relação ao ar livre, causando erros nas medições.

Alguns fatores relativamente simples podem reduzir a precisão e a


repetibilidade dos resultados, como modificações no volume real das
campânulas, em decorrência da inserção de suas paredes no solo e de
irregularidades presentes na superfície, apesar de este erro ser pequeno,
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 219

segundo Parkinson (1981). Limitações na precisão podem ocorrer, também,


por causa das dimensões das campânulas; Reicosky et al. (1997)
identificaram que o uso de campânulas pequenas (0,75 L) em solo submetido
a sistemas agrícolas dificultou a obtenção de uma medida representativa e
precisa, devido à presença de torrões na superfície do terreno após o uso de
implementos de preparo, o que não pôde ser acompanhado pelo desenho da
campânula, principalmente no caso de arados, que trabalham invertendo a
leiva e deixam a superfície do solo bastante heterogênea. Outro ponto
levantado por esses autores diz respeito a dificuldades de selamento da
interface campânula-solo, em superfícies irregulares recém movimentadas
por implementos, causando vazamentos de gás e imperfeições nas
medições.

Covariância de vórtices turbulentos


O método de covariância de vórtices turbulentos tem sido utilizado
alternativamente aos sistemas de campânulas, por não apresentar as
interferências induzidas pela presença das campânulas sobre a superfície do
solo. Num sistema vegetado, o transporte de gases entre o dossel e a
atmosfera é feito, dominantemente, por fluxo turbulento. O método da
covariância de vórtices turbulentos se baseia no fato de que o fluxo líquido de
CO2 num ecossistema é igual à covariância média (extensão na qual as
variáveis são alteradas, em conjunto) entre as flutuações na velocidade
vertical do vento e as flutuações na concentração de gás carbônico, o que
permite descrever a direção e a magnitude do transporte líquido de CO2 (Field
et al., 1992).

Apesar de ser considerado o sistema que menos interfere nas condições


naturais, a covariância de vórtices turbulentos utiliza equipamentos de custo
relativamente elevado (Duiker & Lal, 2000), representados por dispositivos de
monitoramento de condições climáticas, como anemômetros sônicos,
barômetros e analisadores de gases por infravermelho, instalados em torres
de altura variável, localizadas, principalmente, em povoamentos florestais
(Fig. 6). A necessidade de construção das torres parece ser outro
inconveniente do método, além de dificuldades na manutenção dos
equipamentos, localizados a uma altura de dezenas de metros, na maioria das
vezes.
220 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Fig. 6. Torre micro-meteorológica com equipamentos para medição das emissões de


CO2 pelo método da covariância de vórtices turbulentos.
Fonte: ARM/LBNL Carbon Project. Atmospheric Radiation Measurement Program / Lawrence
Berkeley National Laboratory. Disponível em:
http://esd.lbl.gov/ARMCarbon/instruments_CO2Flux.html; acessado em março de 2004.

Apesar das comparações feitas entre a utilização de sistemas de campânulas


com IRGA e a covariância de vórtices turbulentos no cálculo das emissões de
gás carbônico (alguns trabalhos têm sido publicados neste sentido), Janssens
et al. (2001) indicam que os dois métodos são usados para medir diferentes
aspectos do ciclo do carbono; enquanto os sistemas de campânulas estimam
interações solo-atmosfera (emissões de CO2 do sub-componente solo), a
covariância de vórtices turbulentos fornece resultados numa escala mais
abrangente, calculando as trocas gasosas na interface superfície-atmosfera,
considerando o ecossistema como um todo, incluindo a vegetação rasteira e o
próprio dossel. Assim, questões formuladas em escala de comunidade ou
paisagem são, preferencialmente, respondidas com a covariância de vórtices
turbulentos, como os processos que ocorrem em níveis maiores de
organização, como as alterações climáticas globais. Por isso, a escolha de um
ou outro sistema irá depender, fundamentalmente, dos objetivos propostos.
Os sistemas ideais para medição do fluxo de CO2 são aqueles que
reproduzem a condição natural do solo, e cuja implantação não causa
alterações no processo da respiração do solo, nos gradientes verticais de
pressão do ar e de concentração de CO2, e nem na velocidade do vento
horizontal na superfície do solo (Longdoz et al., 2000; Janssens et al., 2001).
Adicionalmente, para medições freqüentes, é preferível um método direto que
seja confiável e de baixo custo (Freijer & Bouten, 1991). Estas condições são
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 221

bastante difíceis de serem atendidas integralmente, considerando tanto o


aspecto prático como o operacional dos equipamentos disponíveis para as
medições e, de modo geral, todos os métodos, em maior ou menor grau,
induzem a condições artificiais em relação à situação original do solo (Freijer &
Bouten, 1991). Assim, as diversas metodologias desenvolvidas para medir o
fluxo de CO2 do solo com o emprego de diferentes técnicas analíticas
apresentam, cada uma, vantagens e limitações específicas.

Comparações entre métodos


A falta de consenso sobre a existência de um método padrão para avaliação
do fluxo de CO2 (Russell & Voroney, 1998) é uma dificuldade adicional ao
entendimento do complexo fenômeno da respiração do solo, sendo
considerada crítica a necessidade de uma padronização, especialmente para
condições de solos cultivados (Reicosky et al., 1997, 1999; Rustad et al.,
2000). Mesmo sem se conhecer os verdadeiros valores do fluxo de CO2 do
solo, pela ausência de uma metodologia que forneça resultados considerados
exatos, diversos trabalhos têm sido publicados comparando sistemas de
medição.

Freijer & Bouten (1991) compararam vários métodos de campo, e verificaram


que todos induziram a condições artificiais em relação à situação original do
solo. Num sistema de campânulas fechadas com funcionamento estático
(com determinação do gás carbônico por cromatografia gasosa, outra técnica
analítica passível de ser utilizada), houve um rápido decréscimo do fluxo de
CO2 com o tempo, pela acumulação do gás no interior da campânula,
causando alterações no gradiente de concentração em profundidade. Os
modelos de correção matemática disponíveis não puderam ser aplicados a
estes resultados, pois não consideravam este aumento das concentrações de
CO2 no perfil do solo. O método de absorção por álcali com funcionamento
estático também levou a desvios, pela falta de capacidade de absorção de
todo o CO2 emanado do solo pela solução alcalina. Os autores consideraram o
método de absorção por álcali com funcionamento dinâmico o melhor
sistema, sendo indicado, também, pela sua praticidade e baixo custo.

Nay et al. (1994) construíram um aparelho no qual um fluxo contínuo de ar era


mantido em circulação através de um meio poroso (espuma de poliuretano). O
CO2 produzido em um gerador era injetado no sistema, e os fluxos
considerados reais, calculados através da Lei de Difusão de Fick foram
222 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

comparados com os resultados de dois sistemas: o método de absorção


alcalina (soda-calcário) com funcionamento estático (AAE) e o de campânulas
fechadas com funcionamento dinâmico (CFD). O método AAE causou
alterações nos gradientes de concentração de CO2 no interior da campânula,
fornecendo resultados superestimados para fluxos baixos e subestimados
para fluxos elevados. Os resultados do método CFD foram cerca de 15%
menores do que os fluxos esperados, o que poderia ter sido minimizado,
segundo os autores, se fosse utilizado um modelo de ajuste não linear, ao
invés de linear, para os aumentos de concentração do gás carbônico no
interior da campânula. Neste sentido, Wagner et al. (1997) estudaram trocas
gasosas num sistema fechado, chegando à conclusão de que, para
campânulas pequenas, os resultados foram cerca de 44% menores quando
se considerou a existência de variações lineares da concentração de CO2 no
interior da campânula, comparativamente aos resultados obtidos por
regressão quadrática, enfatizando a importância de se selecionar um modelo
apropriado, no caso de campânulas pequenas e de taxas de alteração na
concentração relativamente altas.
Procurando verificar a exatidão das medidas de emissão de CO2 calculadas
em diferentes sistemas, Kabwe et al. (2002) fizeram passar através
de colunas preenchidas com solo fluxos conhecidos do gás (400 e
800 mg CO2 m-2 h-2), e observaram que o sistema de campânula fechada
dinâmica (CFD) com IRGA produziu resultados bastante similares aos fluxos
reais (Tabela 1). O sistema de absorção alcalina com funcionamento estático
(AAE) subestimou sistematicamente os fluxos de CO2, tanto no menor quanto
no maior tempo de exposição (1 e 19 horas, respectivamente), e em ambas as
concentrações do gás. Embora menos drasticamente, o método do gradiente
de concentração (GC) também subestimou os fluxos de CO2, por limitações na
aplicação da Lei de Fick para modelar o transporte do gás no solo. Por outro
lado, o sistema de campânula fechada apresentou vantagens em termos de
repetibilidade, acurácia nas medições e economia de tempo.

Comparando sistemas de campânulas de fluxo aberto de ar com campânulas


fechadas, ambos com funcionamento dinâmico (CAD e CFD,
respectivamente), Longdoz et al. (2000) verificaram resultados de fluxo de
CO2 sistematicamente menores com o método CAD (da ordem de 12 ± 5%), o
que foi atribuído ao fluxo de ar e à localização dos pontos de entrada e saída
do ar no interior da campânula. No entanto, como houve excelente correlação
entre os dois métodos (r=0,99), os autores consideraram ter havido pouca
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 223

influência da perturbação da velocidade horizontal do vento (que é diferente


nos dois sistemas) sobre as emissões de CO2, mas não puderam indicar qual
método é o melhor, por não conhecerem o valor do fluxo real de Co2.

Tabela 1. Acurácia de três diferentes métodos de avaliação do fluxo de CO2


(com dois tempos de exposição para o método de absorção alcalina, 1 e 19
horas), pela comparação com taxas conhecidas injetadas em colunas de solo.

-2 -1
Fluxo constante injetado (mg CO2 m h )
Método 400 800
-2 -1
Fluxo medido (mg CO2 m h )

CFD 504 897


AAE (1 hora) 16 27
AAE (19 horas) 19 66
GC 296 610
CFD: campânulas fechadas com funcionamento dinâmico; AAE: absorção por
substância alcalina em campânula estática; GC: gradiente de concentração.
Fonte: Kabwe et al. ( 2002).

Resultados de emissões de CO2 do solo com o uso de campânulas de


dimensões diferentes também foram comparados por Reicosky et al. (1997).
Os autores trabalharam com um IRGA acoplado a uma campânula grande
(3,25 m3 de volume, cobrindo uma área de 2,71 m2) e a outra menor (0,75 L,
com 0,1 m de diâmetro), e observaram que as emissões calculadas com a
campânula pequena representaram cerca de 10% daquelas obtidas com a
maior. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: a) o diâmetro da
campânula menor não permitiu uma medida representativa nos solos
cultivados, nos quais as fendas e os torrões excediam a dimensão da
campânula; b) os ventiladores usados na campânula grande causaram um
aumento na turbulência e alterações de pressão, que interferiram nos
resultados; c) a área superficial sob a campânula maior foi proporcionalmente
aumentada, devido à irregularidade e à rugosidade do terreno.
Independentemente do sistema de medição escolhido, um dos grandes
desafios existentes em estudos de trocas gasosas de carbono entre o solo e a
atmosfera é determinar a magnitude e a extensão das emissões de CO2 em
variadas situações de uso da terra, nos diferentes ecossistemas do globo. A
224 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

seguir, serão apresentados alguns resultados de pesquisas sobre a influência


de sistemas de cultivo e manejo do solo sobre os fluxos de CO2 para a
atmosfera.

Sistemas de Uso da Terra e Emissões de


CO2 do Solo
As emissões de gás carbônico do solo, decorrentes do uso da terra são
consideráveis em escala global. Grande parte dos trabalhos publicados sobre
emissão de CO2 do solo foi desenvolvida em condições de clima temperado,
sendo que as diferenças encontradas nos fluxos de gás carbônico nestes
estudos podem ser, em parte, atribuídas ao método escolhido para as
medições e, em parte, a diferenças reais causadas por fatores como o
manejo, o clima e o tipo de solo (Duiker & Lal, 2000). Neste caso, as variações
nas perdas de CO2 do solo em sistemas de manejo distintos podem ser
explicadas tanto por processos de natureza física, como biológica (Reicosky
et al., 1999).
A transformação de florestas naturais em áreas de culturas provoca
modificações nos estoques de carbono em decorrência de perdas do
elemento contido na biomassa das árvores durante o processo de queima,
liberando uma grande quantidade de carbono particulado para a atmosfera, e
da decomposição de resíduos deixados à superfície, o mesmo ocorrendo com
o carbono orgânico do solo, emitido na forma de CO2 (Houghton, 1995;
Noordwijk et al., 1997). Ainda que a produtividade da cultura introduzida seja
semelhante à da floresta pré-existente, a maior parte da biomassa é retirada
na colheita, minimizando esta aparente compensação. Além disso, a
respiração do solo é, geralmente, aumentada por condições de aeração, que
favorecem a decomposição da matéria orgânica, levando à transferência da
maior parte do carbono dos solos florestais desmatados para a atmosfera
(Houghton, 1995).

Noordwijk et al. (1997) verificaram que os teores de carbono orgânico do solo


de regiões tropicais decresceram no sentido: floresta primária - floresta
secundária - áreas de culturas com espécies de ciclo longo - áreas de
agricultura itinerante ("slash and burn"). Os autores indicaram algumas
condições existentes em áreas agrícolas que favorecem as perdas de
carbono do solo, como a elevação do pH por meio da calagem no manejo da
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 225

fertilidade do solo. Assim, via de regra, a conversão de sistemas naturais em


áreas manejadas com cultivo tem levado a reduções no armazenamento de
carbono nos sistemas terrestres e, em geral, sistemas agrícolas com maior
movimentação de solo tendem a apresentar maiores taxas de emissão de
CO2, ao contrário daqueles formados por culturas de ciclo longo ou que
adotam o uso de práticas conservacionistas.

Sistemas florestais
Em região de clima temperado, Maljanen et al. (2001) verificaram que o fluxo
de CO2 do solo foi menor em povoamentos florestais antigos (23 anos), em
relação aos recém implantados (um e sei anos), indicando que a idade dos
sistemas florestais afeta a magnitude das emissões de CO2 do solo. Os
autores também verificaram a mesma tendência para a temperatura do solo,
sugerindo relação estreita entre as duas variáveis. No Brasil, Lira et al. (1999)
também verificaram aumentos dos fluxos de CO2 do solo nos meses mais
quentes do ano. Trabalhando com sistemas de manejo na cultura do
eucalipto, os autores identificaram alterações na respiração do solo em
função da sua intensidade de uso. O corte do eucalipto seguido de queima
ocasionou as maiores perdas de CO2 do solo (Fig. 7). Este estudo também
indicou que as menores emissões de gás carbônico foram verificadas no solo
com eucalipto não submetido a corte (testemunha), inclusive quando
comparado com uma área sob vegetação natural de cerradão. Nesta, no
entanto, as taxas elevadas de Co2 foram relacionadas a uma maior
diversidade de microrganismos do solo, a temperaturas mais amenas e à
umidade mais constante, no solo. Apesar das altas taxas de emissão de CO2
do solo tanto no cerradão como no tratamento de eucalipto com queima, é
importante observar que existe uma grande diferença entre o manejo de
ambos, pois, enquanto a queima libera nutrientes sem reposição, na
vegetação nativa, o retorno de resíduos na mata garante uma efetiva ciclagem
de nutrientes.
Em termos de quantificação das emissões de gás carbônico do solo,
Gärdenäs (2000) obteve fluxos diários acumulados da ordem de 26 a
40 g CO2 m-2 dia-1, na primavera, na zona temperada. Numa floresta boreal,
Russell & Voroney (1998) chegaram a valores de fluxo anual de CO2 entre 809
e 905 g C m-2 ano-1 e sugeriram que a grande maioria das emissões de CO2 do
solo (cerca de 60%) foi devida à presença de raízes, e não à decomposição de
226 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

74
72
CO2 (mg m h )

70
-1

68
-2

66
64
62
60
58
56

TA TC TE TF TG
Tratamentos
Fig. 7. Emissões de CO2 do solo em sistemas com eucalipto.
TA: testemunha; TC: cultivo mínimo (corte raso com manutenção dos resíduos); TE:
corte raso com remoção dos resíduos e serrapilheira; TF: manejo intensivo (corte raso
com incorporação dos resíduos por duas gradagens); TG: corte raso com queima dos
resíduos.
Fonte: Lira et al. (1999).

resíduos da floresta. Tendo comparado a respiração do ecossistema estimada


a 4 e 39 m de altura (obtida por meio do método da covariância de vórtices), os
autores indicaram que os fluxos de CO2 do solo contribuíram com cerca de
98% da respiração do ecossistema inteiro. De maneira similar, Longdoz et al.
(2000) estimaram os valores anuais de 438 ± 68 a 870 ± 140 g C m-2 ano-1 para
dois sítios de florestas temperadas e, para o que teve o maior fluxo, indicaram
que 92 ± 15% da respiração do ecossistema se originou do solo. No entanto,
os autores apresentaram ressalvas quanto à aceitação absoluta desse valor
percentual, indicando haver razões (entre as quais dificuldades na
extrapolação de valores de respiração noturna para períodos diurnos,
diferenças na biomassa vegetal e fontes de erro dos métodos utilizados) que
sustentam a conveniência de uma interpretação comedida para o mesmo.
Desse modo, nos estudos de emissão de CO2 do solo em áreas com florestas,
a presença do sistema radicular das árvores não pode ser desprezada. Por
causa do desenvolvimento profundo das raízes, a magnitude do fluxo de gás
carbônico do solo nesses ecossistemas não é tão sensível à umidade
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 227

superficial do solo (Russell & Voroney, 1998). Além de Russel & Voroney
(1998) e Longdoz et al. (2000), Stape (2002) também verificou que a maior
parte das emissões de carbono do solo foram devidas à respiração de raízes,
mostrando que a geração do gás carbônico no solo não é oriunda apenas da
decomposição da matéria orgânica.

Sistemas agrícolas
Comparativamente aos sistemas florestais, nos sistemas agrícolas, a camada
superficial do solo possui uma importância relativamente maior sobre as
emissões de CO2, e as medições das variáveis que interferem nos fluxos
devem ser tomadas com o máximo de rigor. Algumas dificuldades podem
surgir, por exemplo, em medições de temperatura efetuadas no solo após o
uso de implementos de preparo, como o arado de aivecas, que traz à
superfície camadas mais frias de solo, além de intensificar a evaporação de
água, o que concorre para a obtenção de valores menores de temperatura
(Reicosky et al., 1997). Estes aspectos devem ser considerados para a
correta interpretação dos valores medidos de temperatura e umidade, e de
sua relação com as emissões de CO2 do solo.
Nos sistemas de cultivo convencional, as operações de preparo do solo
exercem uma grande influência nas perdas de CO2. Reicosky & Lindstrom
(1993) observaram que, num solo coberto por resteva de trigo, a ação do
arado de aivecas provocou elevadas perdas de gás carbônico do solo, entre
diversos sistemas. No curto prazo (55 horas após a movimentação), o fluxo de
CO2 pelo uso do arado de aivecas foi maior do que quando o preparo foi feito
com arado de aivecas seguido de duas gradagens, do mesmo modo que com
apenas uma gradagem, com o uso de subsolador e em relação ao tratamento
controle, o plantio direto. A elevada emissão de CO2 após o uso do arado foi
atribuída muito mais a irregularidades da superfície deixadas pelo implemento
e à presença de grandes fendas no solo, do que propriamente ao efeito da
adição dos resíduos, o que mostra a importância da movimentação mecânica
sobre as perdas gasosas de carbono do solo.
Neste sentido, Reicosky et al. (1997) estudaram sistemas agrícolas cultivados
com grama bermuda e sorgo, e verificaram um aumento imediato das
emissões de CO2 após a passagem de implementos de preparo do solo em
todas as culturas, considerado decorrente de alterações na porosidade do
228 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

solo, que facilitaram a liberação do gás carbônico previamente existente nos


poros. O processo foi controlado por um mecanismo predominantemente
físico, causando um movimento do CO 2 por fluxo de massa,
independentemente de um aumento na atividade microbiana, que pode não
ocorrer no curto prazo (e.g., até 24 horas após o uso dos implementos). Neste
experimento, o preparo secundário com duas passagens de grade de discos,
cinco horas após o preparo primário, resultou numa elevação apenas ligeira
das emissões de CO2, indicando que a maior parte das perdas já haviam
ocorrido. Por outro lado, no solo que não sofreu preparo (plantio direto), as
emissões de CO2 foram pequenas, ligeiramente maiores do que zero, sendo
atribuídas à ação da microbiota do solo na decomposição de resíduos
orgânicos (Fig. 8).

As operações de preparo do solo também foram comparadas por Reicosky et


al. (1999) com a simples passagem de máquinas no terreno, sendo
consideradas mais importantes para promover perdas de CO2 para a
atmosfera do que o tráfego. Os autores verificaram elevações de 93% no fluxo
médio de CO2 após uma subsolagem, num sistema de preparo convencional,
o que foi explicado pela existência de condições ideais deixadas por
operações prévias (gradagens, que promoveram a mistura de resíduos
orgânicos com o solo, e o fornecimento de água por irrigação) para o aumento
da atividade dos microrganismos. No sistema de plantio direto, por outro lado,
após picos de evaporação e emissão de CO2 depois da irrigação, os fluxos
reduziram rapidamente, indicando haver maior conservação de carbono e
água no solo (Fig. 9).

No Brasil, La Scala Junior et al. (2001) investigaram emissões de CO2 em solo


submetido a diferentes sistemas de manejo convencional, e verificaram que o
aumento da intensidade de preparo também levou a maiores perdas de CO2.
No período de duas semanas, as emissões totais de gás carbônico foram da
ordem de 133,0 g CO2 m-2 com subsolador, 114,0 com arado de discos e grade
niveladora, 99,5 com grade pesada e niveladora, 94,0 com enxada rotativa e
58,5 g CO2 m-2 no solo sem revolvimento. Na Fig. 10 está representada a
variação, no tempo, dos fluxos médios de gás carbônico após a aplicação dos
tratamentos. Os autores observaram, ainda, que as perdas de CO2 no manejo
convencional foram maiores logo após as operações de revolvimento do solo
(o que concorda com os resultados de Reicosky et al., 1997), e tenderam a
convergir para um valor comum (0,22 g CO2 m-2 h-1) ao final do período
experimental.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 229

1,00 SUB
AIV
0,75 PD
(a) 0,50

0,25

0,00
1,00
CO2 (mg m-2 s-1)

0,75

(b) 0,50

0,25

0,00
1,00

0,75

(c) 0,50

0,25

0,00

0 4 8 12 16 20 24

Tempo após o cultivo (h)


Fig. 8. Emissões médias de CO2 do solo em três sistemas de cultivo [(a) grama
bermuda; (b) sorgo convencional; (c) sorgo em plantio direto] e três sistemas de
preparo do solo (SUB: subsolador; AIV: arado de aivecas e PD: sem preparo). As setas
indicam a entrada de uma segunda passagem de implemento com grade de discos nos
sistemas subsolados e arados.

Fonte: Reicosky et al. (1997).


230 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Plantio convencional
10 1,0
CO2
H2 O Subsolador
Irrigação
8 0,8

Evaporação (mm h )
CO2 (g m h )
-1

Duas gradagens
-2

6 0,6
Cultivador

4 0,4
Plantio

-1
2 0,2

0 0,0

10
Plantio direto 1,0

8 0,8

Irrigação Evaporação (mm h )


CO2 (g m h )
-1

6 0,6
-2

4 0,4
Plantio
-1

2 0,2

0 0,0

0 12 24 36 48 60 72 84 96

Tempo (h)

Fig. 9. Fluxos de CO2 e vapor d'água após diferentes práticas de manejo em sistemas
agrícolas de plantio convencional e plantio direto.
Fonte: Reicosky et al. (1997).
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 231

0,8
GD
Emissões de CO2 (g m-2 h-1)

0,7 AD
ER
0,6 PD
SS
0,5

0,4

0,3

0,2

0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dias após o cultivo

Fig. 10. Médias de emissão de CO2 do solo em sistemas de preparo da terra.


As barras verticais indicam o erro padrão da média. GD: grade pesada seguida de
grade; AD: arado de discos reversível seguido de grade; ER: enxada rotativa; PD: sem
perturbação (plantio direto); SS: subsolador.
Fonte: La Scala Jr et al. (2001).

Apesar de trabalhar apenas com resultados de medições diurnas, Reicosky et


al. (1999) puderam verificar diferenças nos fluxos acumulados de CO2,
durante um período de 80 h, entre sistemas de plantio direto (PD) e
convencional (PC) submetidos a diversas operações de manejo. As perdas de
CO2 no PC foram cerca de três vezes maiores do que no PD (159 contra
56 g CO2 m-2), e ambas superaram as de uma área de referência não irrigada
(26 g CO2 m-2), que apresentou pequena emissão de CO2 justamente por
limitações impostas pela sua condição de baixa umidade. Como os fluxos
acumulados de vapor d'água seguiram o mesmo padrão do gás carbônico, os
autores destacaram que sistemas conservacionistas como o plantio direto,
232 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

por exemplo, podem minimizar perdas de CO2 e contribuir para a manutenção


da água no solo.
A conclusão que se tem em praticamente todos os estudos sobre preparo de
solo é semelhante: quanto maior a intensidade de revolvimento, maior são as
perdas de carbono para a atmosfera, por causa da liberação do CO2 produzido
previamente, por ação dos microrganismos decompositores sobre os
resíduos orgânicos ou pela respiração do sistema radicular das plantas. A
adoção de sistemas de preparo do solo com nenhum ou reduzido
revolvimento, representa uma maneira eficiente de atenuar as emissões CO2
do solo.
No que diz respeito à influência da cobertura vegetal sobre as emissões de
gás carbônico do solo, também existem diferenças quanto ao tipo e à
quantidade de resíduos aplicados sobre o solo. Em experimento de
laboratório, a aplicação de cobertura morta de resíduos frescos triturados de
gramínea (Poa pratensis), em quantidade equivalente a 100 g C m-2,
ocasionou um pico de emissão de CO2, após uma semana, da ordem de 281 e
241 mg CO2 m-2 h-1, em colunas preenchidas por solo e areia de quartzo,
respectivamente, enquanto o solo sem tratamento (controle) emitiu valores
constantes de cerca de 24 mg de CO2 m-2 h-1 (Flessa et al., 2002) (Fig. 11).
Estes resultados indicaram que as emissões de gás carbônico também são
governadas pela deposição de material orgânico sobre a superfície,
decompostos, principalmente, pelos microrganismos nativos do próprio
resíduo.

As adições de matéria orgânica à superfície do solo, resultam num aumento


das emissões de CO2, por aumentarem a taxa de respiração, em decorrência
do fornecimento de substrato para a degradação por microrganismos (Ball &
Smith, 1991). Duiker & Lal (2000) investigaram a influência de adições de
resíduos orgânicos sobre o fluxo de CO2 num sistema de plantio direto.
Trabalhando com quantidades que variaram de 0 a 16 Mg ha-1 de palhada de
trigo, os autores constataram que houve, entre os tratamentos, efeito
significativo sobre a temperatura do solo ao meio-dia, que foi maior no solo
sem cobertura vegetal, mas não sobre as emissões de CO2. A explicação foi
que a falta de substrato no tratamento sem adição de resíduos e uma
superfície do solo mais seca impediram que os aumentos de temperatura
tivessem efeito sobre as emissões de CO2, mostrando a importância, para a
produção de gás carbônico no solo, da presença de um material
decomponível e de condições favoráveis à sua decomposição.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 233

Fig. 11. Fluxos de CO2 em colunas com 10 cm de altura preenchidas por solo, solo +
cobertura morta de gramínea (Solo + C) e areia + cobertura morta de gramínea (Areia +
C). A seta vertical indica o dia de aplicação da cobertura, e os pontos plotados
representam médias diárias com o respectivo desvio padrão.
Fonte: Flessa et al. (2002).

Em sistemas agrícolas, também existem diferenças nas emissões de gás


carbônico do solo em função da espécie cultivada. Reicosky et al. (1997)
verificaram que as emissões de CO2 em solo cultivado com grama bermuda
foram maiores do que nos campos de sorgo, devido aos teores mais altos de
carbono orgânico do solo e aos resíduos superficiais na grama (Fig. 8). Na
ausência de preparo do solo, as emissões de CO2 foram menores, enquanto
que a passagem do arado de aivecas resultou em perdas de CO2
consistentemente mais elevadas do que o subsolador, ainda que os
implementos tivessem trabalhado na mesma faixa de profundidade. A quebra
de agregados do solo após o cultivo, incluindo as operações de nivelamento
com grades, pode também resultar em aumento das emissões de CO2,
dependendo da cultura presente no campo. Estes resultados sustentam a
realização de inferências sobre aumentos de emissão de CO2 do solo quando
áreas com pastagens são convertidas em sistemas com culturas anuais,
especialmente na adoção de sistemas convencionais de revolvimento do solo
com o uso de arados ou grades, situação que pode ser comum em grandes
fronteiras agrícolas de regiões tropicais, como no caso do Cerrado brasileiro.
Mesmo considerando a influência da cobertura vegetal nas emissões de CO2
do solo, Reicosky et al. (1997) ainda consideraram que os métodos de preparo
são mais importantes do que as espécies cultivadas, neste processo.
234 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

No Brasil, d'Andréa (dados não publicados) mediu as emissões diurnas de


CO2 do solo em parcelas experimentais de cafeeiro conduzido em plantio
adensado e submetido ou não a operações de poda drástica (recepa), e
observou que as emissões de CO2 foram tanto menores quanto mais recente a
remoção da parte aérea da planta (Fig. 12). Os fluxos de CO2 do solo não
acompanharam a variação da temperatura do solo, ao contrário das taxas de
evaporação de água. Por outro lado, a quantificação do teor de carbono da
biomassa microbiana em amostras de solos coletadas ao meio-dia, mostrou
relação direta entre este atributo e as emissões de CO2 do solo. Isso indica que
tanto a biologia do solo, quanto a fisiologia da planta devem ser levadas em
consideração nos estudos sobre emissões de CO2 do solo, por causa da
atividade conjunta dos microrganismos e do sistema radicular das plantas.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 235

Acaiá Cerrado Rubi

0,7 0,7

0,6 0,6

0,5 0,5

0,4 0,4

0,3 0,3

0,2 0,2

0,1 0,1

0,0 0,0
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20

60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20

30 30

28 28

26 26

24 24

22 22

20 20

18 18
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20

Período (h) Período (h)

Fig. 12. Variação diurna da emissão de Co2, evaporação de H2O e temperatura do solo
em parcelas de cafeeiro submetidas ou não a operações de poda. Cultivares: Acaiá
Cerrado com recepa em 2001 (▲) e 2003 (D); Rubi sem recepa (■) e com recepa em
2002 (□). Medições realizadas em 2003. Barras verticais indicam o erro padrão da
média (n=5).
Fonte: d'Andréa (dados não publicados).
236 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Considerações Finais
Grande parte do banco de dados sobre emissão de CO2 do solo para a
atmosfera se baseia em valores obtidos com a metodologia de absorção por
substâncias alcalinas (AA). Este método é simples e de baixo custo, mas
limitações na capacidade de absorção das soluções podem contribuir para
que muitos resultados estejam subestimados, especialmente quando o tempo
de medição é longo. Alternativamente, sistemas de AA com funcionamento
dinâmico (providos de ventiladores) ou com circulação fechada podem ser
utilizados para minimizar os desvios provocados por este método.
Os sistemas de campânulas, com analisadores de gás por infravermelho, têm
sido cada vez mais utilizados, representando um grande avanço, por
permitirem o monitoramento quase constante dos fluxos de CO2 em diferentes
situações. Pela rapidez de resposta, fornecem valores em curto espaço de
tempo, como em alterações imediatas ou de curto prazo decorrentes da
implantação de sistemas de manejo do solo. Além disso, os resultados podem
estar mais próximos dos fluxos reais de CO2, sendo relativamente confiáveis.
Ainda assim, a possibilidade de sub- ou sobrepressurização no interior das
campânulas indica a necessidade de cuidados na escolha adequada do fluxo
de ar, no caso das campânulas abertas, ou do tempo de medição, no caso das
fechadas e dinâmicas. Adicionalmente, devem ser investigadas possíveis
influências dos sistemas de campânulas sobre o fenômeno da evaporação de
água do solo, e de que maneira isto pode interferir nos resultados das
emissões CO2, conforme sugerido por Gärdenäs (2000).
A elevada variabilidade espacial e temporal dos fluxos de CO2 do solo exige
que cuidados adicionais sejam tomados na interpretação de emissões
calculadas em experimentos de curta duração, principalmente em solos com
baixo teor de umidade. Se forem extrapolados para períodos maiores, que
abrangem épocas chuvosas, pode haver superestimativas, por não se
considerar a influência de variações na umidade do solo sobre as emissões de
CO2 (Duiker & Lal, 2000). Assim, quando as variações sazonais são
significativas, é fundamental realizar a coleta de dados em diferentes
estações do ano e efetuar o monitoramento das condições climáticas durante
todo o período experimental. A heterogeneidade espacial dos fluxos de CO2
implica, também, na necessidade de um número maior de repetições e de
replicatas de campo. Além disso, como estudos sobre a emissão de CO2
freqüentemente relatam coeficientes de variação elevados, em alguns casos,
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 237

é justificável a adoção de um nível de significância menos severo para a


aplicação de testes de comparação múltipla de médias, como 10%, ao invés
do comumente usado 5%, o que pode ser observado em alguns trabalhos já
publicados (Reicosky et al., 1997, 1999).

Alguns dos sistemas considerados promissores em aumentar os estoques de


carbono do solo empregam práticas que consistem na alta produção de
resíduos, na eliminação de períodos de pousio, no uso de forragens perenes e
na adoção do plantio direto (Reicosky et al., 1999; Duiker & Lal, 2000; Mermut
& Eswaran, 2001). No Brasil, alguns autores têm indicado a importância de
sistemas com perturbação mínima do solo para a redução das perdas de
carbono induzidas por práticas de cultivo (Corazza et al., 1999; Bayer et al.,
2000; La Scala Junior et al., 2001). Nos sistemas manejados intensivamente
(como no preparo convencional), as emissões de CO2 do solo são
consideravelmente maiores do que nos sistemas não perturbados (Reicosky
et al., 1997; 1999), e as perdas mais significativas de carbono ocorrem
justamente no período compreendido entre o cultivo e o estabelecimento da
cultura, quando o solo ainda se encontra descoberto (La Scala Junior et al.,
2001). Nas regiões tropicais, além do aspecto negativo das emissões de CO2,
a perda acelerada de carbono orgânico do solo, por causa de processos
degradativos do uso da terra, constitui um problema ainda mais crítico, devido
à importância da matéria orgânica na fertilidade do solo e geração de cargas
em solos intemperizados, possuidores de uma baixa reserva de nutrientes e
dominados por argilas de baixa atividade (Silva & Machado, 2000).

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Ressonância Magnética Nuclear de C
9 13

em Estudos de Caracterização Estrutural


da Matéria Orgânica do Solo

Flávia Aparecida de Alcântara


Arminda Moreira de Carvalho

Resumo - Dentre as várias técnicas espectroscópicas utilizadas na


Ciência do Solo, e particularmente em estudos sobre a matéria orgânica do
solo, a ressonância magnética nuclear (RMN) ocupa uma posição de
destaque. Esta técnica pode ser empregada para vários isótopos encontrados
na natureza, contanto que estes possuam núcleos observáveis. Exemplos
são os isótopos 14N, 15N, 27Al, 29Si, 31P, 1H e 13C. Em trabalhos com matéria
orgânica, os núcleos mais utilizados, além do 13C, são 15N, 31P e 1H. A técnica da
RMN de 13C propicia a determinação dos grupos orgânicos (ou tipos de
carbono) presentes em um dado material orgânico. Podem ser analisadas
amostras de material vegetal (p. ex. resíduos de culturas, serapilheira), de
solo intacto e de frações extraídas fisicamente (por densimetria ou tamanho
de partícula) ou quimicamente (extração das substâncias húmicas). Cada
grupo ocupa uma determinada posição no espectro, em relação a um material
de referência, e sua proporção relativa pode ser obtida mediante a integração
de sua área dentro do espectro. Existem algumas limitações para o emprego
da RMN de 13C, dentre elas a baixa abundância natural deste isótopo e os
baixos teores de carbono da maioria dos solos de origem mineral. Como
alternativas, têm sido propostas ferramentas que visam principalmente
melhorar a resolução dos espectros, sendo as principais a polarização
cruzada e a utilização do ângulo mágico do spin (CPMAS). No entanto,
244 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

existem controvérsias sobre o potencial quantitativo da RMN de 13C com


CPMAS, sendo o termo “semi-quantificação” mais adequado para designar as
proporções relativas de cada grupo orgânico obtido. De modo geral, para
atender aos objetivos da maioria dos estudos de matéria orgânica, a
comparação entre estas proporções em diferentes amostras tem sido
suficiente para permitir avanços significativos sobre o entendimento dos
processos de formação (incluindo a origem), decomposição e humificação da
matéria orgânica, bem como sobre os efeitos dos sistemas agrícolas em sua
composição química. Tais resultados são de grande importância para a
identificação de sistemas de cultivo e práticas de manejo que, ao serem
adotadas, propiciem o aumento dos teores e a melhoria da qualidade da
matéria orgânica, com conseqüentes vantagens para o uso sustentável do
recurso solo.
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 245

13
C Nuclear Magnetic Ressonance
on Structural Characterization
of Soil Organic Matter

Abstract - Several spectroscopic techniques have been used in Soil


Science, particularly in soil organic matter (SOM) studies. Among them, the
Nuclear Magnetic Resonance (NMR) has been considered one of the most
powerful tools to structurally characterize SOM. It can be applied to all isotopes
found in nature which presents nucleus that behave as magnetic dipoles, such
as 14N, 15N, 27Al, 29Si, 31P, 1H and 13C. In SOM research, the most studied isotope
is the 13C, followed by 15N, 31P and 1H. Carbon-13 NMR application allows to
determine the organic groups (or carbon types) that constitute the organic
material. Its possible to run samples of vegetal material (e.g. crops residues,
litter), whole soil, as well as soil fractions physically (by densimetry or
granulometry) or chemically (humic substances extraction) extracted. Each
carbon type occupies a given position in the spectrum, in relation to a reference
material, and its relative proportion can be obtained integrating its area within
the spectrum. There are still some limitations to the application of 13C NMR in
SOM studies, for instance the low natural abundance of this isotope in nature
and the low of organic carbon of most mineral soils. Some procedures have
been proposed as alternatives to enhance the spectra resolution, such as the
cross-polarization (CP) and the magic angle spinning (MAS). However, the
quantification of carbon types by the use of CPMAS 13C NMR is controversial.
Actually, the term “semi-quantification” is more adequate. Notwithstanding, in
order to reach the objectives of most SOM studies, the comparison of the
carbon types relative proportions between different samples has been
sufficient to allow significant advancements in the knowledge on SOM
formation, decomposition, and humification processes, as well as on the
effects of land-use changes or crop systems on SOM quality. Such results may
subsidize the identification of crop systems and management practices that, if
adopted, will promote increases in SOM content and improvements in SOM
quality, with advantageous consequences to the soil sustainable use.
246 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Introdução
O material vegetal e a biomassa microbiana são as fontes primárias para a
formação da matéria orgânica do solo (MOS). A quantidade e a composição
química dos resíduos vegetais controlam a formação da MOS e os processos
de humificação nos ecossistemas terrestres (Swift et al., 1979; Scholes et al.,
1997).

A matéria orgânica do solo compõe-se de resíduos de plantas (fontes


primárias), animais e microrganismos (fontes secundárias), de matéria
orgânica dissolvida, de exsudados de raízes e dos compostos húmicos. Esses
“pools” são identificados pelas transformações que caracterizam a dinâmica
da matéria orgânica e, conseqüentemente, não são estáveis (Zech et al.,
1997). O processo de decomposição consiste basicamente em duas fases: a
primeira, desenvolvida nos primeiros meses, quando ocorre a perda dos
compostos solúveis, e a segunda, que se inicia pela quebra dos compostos
estruturais, pode perdurar por anos, dependendo da natureza do material. As
transformações ocorrem geralmente na seguinte ordem: biodegradação
rápida da maioria dos compostos hidrossolúveis e polissacarídeos, redução
lenta de hidrossolúveis fenólicos e hemiceluloses e aumento relativo do
conteúdo de ligninas e proteínas. Em geral, os diferentes componentes
desses materiais são degradados por grupos especializados de
microrganismos (Correia & Andrade, 1999).

O declínio nos teores da MOS, ao longo do tempo, pode estar associado a


impactos negativos do manejo adotado, seja pelo excesso de revolvimento do
solo, pela perda de nutrientes, seja por erosão acelerada, entre outros fatores
(Silva et al., 1994; Mielniczuk, 1999; Bayer et al., 2001). Não obstante ser o
teor de MOS um importante atributo na avaliação da sustentabilidade dos
sistemas agrícolas, sabe-se hoje que sua qualidade é um fator determinante
de seus efeitos no solo, seja como fonte de nutrientes, como condicionador
físico ou como substrato para a microbiota. Portanto, a composição química
da MOS, a qual afetará diretamente sua decomponibilidade, deve ser
considerada em estudos sobre seu comportamento no solo.
Várias técnicas têm sido empregadas para caracterizar a MOS, dentre as
quais podem-se destacar os métodos espectroscópicos, como a
espectroscopia na região do ultravioleta visível, a espectroscopia na região do
infravermelho, a ressonância paramagnética eletrônica (EPR) e a
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 247

ressonância magnética nuclear (RMN). Esta última tem-se destacado como


uma ferramenta importante na caracterização estrutural de material vegetal,
como serapilheira e resíduos vegetais provenientes de adubos verde/plantas
de cobertura, bem como da matéria orgânica, que pode ser estudada a partir
de sua extração do solo ou no solo intacto.
Neste capítulo serão abordados os princípios da técnica de RMN, com
destaque para o isótopo 13C, seu histórico na Ciência do Solo e sua
aplicabilidade para a caracterização de diferentes materiais. Apesar de os
princípios serem os mesmos para amostras sólidas e líquidas, maior enfoque
será dado para as primeiras, visto serem estas as mais utilizadas em estudos
de MOS.

Breve histórico e Princípios da Técnica


A ressonância magnética nuclear foi criada por físicos na década de 50 e logo
passou a ser utilizada em outros campos da ciência (Veeman, 1997). Desde o
início da década de 60 tem sido largamente utilizada na química orgânica e na
bioquímica (Preston, 1996). No que diz respeito a estudos específicos sobre
MOS, os primeiros trabalhos com RMN do isótopo 13C tinham como objetivo
caracterizar estruturalmente os ácidos húmicos. Trabalhos pioneiros nessa
área são os artigos publicados por Barton & Schnitzer (1963), Neyrod &
Schnitzer (1972) e Gonzalez-Vila et al. (1976). Na Ciência do Solo, a RMN
pode ser utilizada tanto para estudos da matriz inorgânica do solo, onde os
principais isótopos estudados são 14N (junto com o 15N), 27Al, 29Si e 31P, quanto
para o material orgânico, além da elucidação de processos de metabolismo de
plantas. No segundo caso, de interesse nesta revisão, além do 13C, os
principais isótopos de interesse são 1H, 31P e 15N (Randall et al., 1997; Bligny &
Douce, 2001).
Apesar de ser utilizada há mais de quatro décadas, somente nos últimos 15 a
20 anos é que o desenvolvimento da RMN de 13C tem permitido a expansão de
seu uso em estudos de MOS. Sua subutilização tem sido atribuída à falta de
equipamento e de especialistas em RMN envolvidos com tais estudos, à
escassez de oportunidades de treinamento para um número maior de
pesquisadores e à pouca interação entre a Ciência do Solo e a Química
(Preston, 1996). No Brasil, Ceretta et al. (1999) consideram as limitações de
equipamentos e de recursos humanos bastante acentuadas, o que explica
248 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

que apenas recentemente os primeiros estudos de MOS utilizando 13C RMN


tenham sido publicados (por ex.: Ceretta, 1995; Martin-Neto et al., 1995).
Vários autores têm se esforçado em tornar mais acessíveis os princípios e as
possibilidades de aplicação da RMN, que são os mesmos para 13C, 15N, 31P ou
qualquer outro isótopo que possua núcleos observáveis por ressonância
magnética. Excelentes materiais para consulta são os trabalhos de Wilson
(1987), Slichter (1990) e Veeman (1997), bem como as revisões de Preston
(1996), Kögel-Knabner (1997) e Kögel-Knabner (2000). Aqui, os princípios da
técnica serão descritos de maneira sucinta, com ênfase em algumas
limitações e nas ferramentas para contorná-las.
A base da RMN é o conceito de que muitos atômicos se comportam como
dipolos magnéticos. De forma simples, um dipolo magnético pode ser
visualizado como uma minúscula barra magnética com um pólo “norte” e outro
“sul”. A força dessa barra, ou seja, a magnitude do dipolo magnético, é
proporcional a uma propriedade fundamental dos núcleos atômicos, o
momento angular spin, ou simplesmente spin, que corresponde à rotação do
núcleo ao redor de um determinado eixo, produzindo um campo magnético, o
qual pode então ser concebido, como gerado pelo próprio dipolo (Veeman,
1997). O spin do próton, do nêutron e do elétron é igual a ½, mas como um
núcleo pode ter mais de um próton ou nêutron, o spin total (I) do núcleo pode
ser igual a 0, ½, 1, 3/2, 2 e assim por diante, dependendo do número de
prótons e nêutrons. Os núcleos que contêm número ímpar de prótons e/ou
nêutrons e número ímpar de número de massa têm I semi-inteiro, igual a ½ no
caso do 1H e do 13C, e são observáveis por RMN. Já os núcleos com número
par de prótons e nêutrons têm I igual a zero, não sendo observáveis, pois não
apresentam rotação em torno do eixo, como é o caso do C12 (Slichter, 1990).

Consideremos uma amostra de solo (sólida ou em solução) num


espectrômetro de RMN a ser caracterizada quanto a sua composição
estrutural de carbono. Como explicado anteriormente, é o 13C que nos permite
a aplicação da técnica para estudos de MOS. Um transmissor emite a
freqüência de rádio (isto significa que é necessária a aplicação de um campo
magnético externo), responsável por entrar em ressonância com os spins.
Estes sofrem, então, um movimento de precessão ao redor do eixo. Os
núcleos com I maior que zero geram 2I+1 níveis de energia. No caso do 13C, os
níveis são -½ e +½, e correspondem às duas orientações que o núcleo pode
assumir no campo magnético. A uma dada freqüência, ocorre uma transição
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 249

entre estes dois níveis de energia, resultando numa linha de ressonância no


espectro de freqüência (Wilson, 1987; Slichter, 1990; Veeman, 1997).
Na prática, os spins nunca estão complemente isolados do espaço a sua volta,
interagindo com a “nuvem” de elétrons ao redor do núcleo e com outros
dipolos magnéticos. A presença dessa nuvem de elétrons se manifesta como
um deslocamento na linha de ressonância, o qual é característico para a
densidade dos elétrons e sua distribuição ao redor do núcleo e é denominado
“deslocamento químico” (Veeman, 1997). Este é o principal parâmetro
espectral utilizado na RMN, nos estudos de MOS. Utiliza-se sempre uma
substância padrão, como por exemplo o tetrametilsilano (TMS). No caso da
MOS, o TMS representa o zero na faixa de deslocamento químico e, a partir
dele, vão sendo detectados os diferentes tipos de carbono presentes na
amostra: alifáticos (tipo alcano ou alquil), alifáticos hidroxilados ou aminados
(O-alquil) e alifáticos dehidroxilados, aromáticos e por fim, carbonilas (Wilson,
1990). Os tipos de carbono, ou grupos orgânicos, são então quantificados
como proporções relativas da área total. Em verdade, o termo “semi-
quantificados” é mais apropriado, conforme explicações apresentadas a
seguir.

O curto tempo de relaxação (menor que 1ms), aplicado durante a análise, bem
como os teores de carbono relativamente baixos da maioria dos solos
minerais (10-50 g kg-1), dificultam a quantificação da participação de cada
grupo orgânico do material analisado (Kinchesh et al., 1995a). Além disso, o
núcleo 13C apresenta baixa abundância isotópica (1%) na natureza (Kinchesh
et al., 1995b). Isto torna mais difícil sua polarização direta (direct-polarization
em inglês, por isso a utilização da sigla DP), fazendo que experimentos deste
tipo consumam muito tempo, o que os torna pouco viáveis. A técnica da
polarização cruzada (cross-polarization, sigla CP) consiste em transferir a
polarização do núcleo H1, muito mais abundante (99,9%), ao núcleo 13C.
Desse modo, obtêm-se absorções mais intensas dos carbonos ligados ao
hidrogênio (alquilas, O-alquilas, CH aromáticos) e diminui-se o tempo de
execução das análises, que, caso contrário, levariam várias horas (Dick et al.,
2002). Portanto, devido ao fato de que a energia é transferida apenas
indiretamente para o 13C, a proporção relativa dos grupos orgânicos é
considerada semi-quantitativa (Conte & Piccolo, 1997). A transferência de
energia do núcleo do 1H para o núcleo do 13C durante o processo leva à
existência de diferentes tempos de contato para cada núcleo de carbono. Isto
significa que existirão diferentes tempos de indução para cada núcleo de
250 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

carbono. A fim de contornar este problema, pode-se avaliar o melhor tempo de


contato para a aquisição de um espectro quantitativo de RMN de 13C com CP,
por meio da realização de experimentos com tempo de contato variável,
encontrados na literatura internacional como Variable Contact Times (VCT)
experiments. A obtenção de um tempo de contato ótimo para cada amostra
pode minimizar erros na avaliação das áreas dos picos. Excelentes trabalhos
nessa linha são os de Conte & Piccolo (1997)e Conte et al. (1997).

Na prática, a polarização cruzada resolve o problema da baixa abundância do


isótopo 13C, mas ao tornar a técnica semi-quantitativa, pode criar uma nova
limitação perante os pesquisadores mais puristas. Entretanto, para atender
aos objetivos da maioria dos estudos de MOS, a comparação entre as
porcentagens relativas dos grupos orgânicos em diferentes amostras permite
que se faça importantes inferências sobre, por exemplo, diferentes sistemas
de cultivo e manejo do solo e seu efeito sobre a decomponibilidade/
estabilidade da MOS.

A presença de altas concentrações de íons paramagnéticos nas amostras de


solo, como por exemplo o Fe+3, pode causar o encurtamento do tempo de
relaxação do próton do núcleo, o que leva à perda de sinal do núcleo do
carbono (Wilson, 1987). Pré-tratamentos das amostras com ácidos fortes,
como o HF e o HCl, podem ser utilizados para a remoção de boa parte desses
íons, minimizando seu efeito (Skjemstad et al., 1994; Dai & Johnson, 1999).
A técnica do Ângulo Mágico do spin ou Magic Angle Spinning (MAS) consiste
na rotação da amostra em torno de um determinado ângulo, de modo a reduzir
interações anisotrópicas, e consequentemente, melhorar a resolução dos
espectros (Kentgens, 1997). Pode ser aplicada para amostras sólidas e
apresenta como vantagem o fato de que a matéria orgânica não precisa ser
extraída do solo (Hemminga & Buurman, 1997). Os espectros de RMN de 13C
com CPMAS geralmente apresentam bandas laterais provocadas pela
utilização do MAS, as quais reduzem a intensidade do sinal da linha principal
ou banda central. Uma alternativa para minimizar em parte este problema é a
utilização da CPMAS com TOSS (Total Sidebands Supression) (Dixon et al.,
1982), mas é importante ressaltar que a TOSS resolve o problema apenas
parcialmente, pois a intensidade suprimida nas bandas laterais ainda aparece
em parte, na banda central (Schmidt-Rohr & Spiess, 1994).

Em síntese, apesar das limitações que ainda existem, com o advento dessas
duas ferramentas (Polarização Cruzada e Ângulo Mágico do spin, geralmente
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 251

identificadas em conjunto pela sigla CPMAS), os estudos de RMN de 13C


ganharam muito em qualidade, já que tais técnicas permitem obter espectros
com boa resolução para 13C em amostras sólidas (Preston, 1996).

Aplicações da RMN de 13C com CPMAS


A técnica de RMN de 13C no estado sólido com CPMAS pode ser aplicada para
determinar a composição relativa dos grupos orgânicos de interesse,
mediante integração das absorções desses grupos nas regiões específicas
do espectro. Em geral, as absorções dos grupos são integradas utilizando-se
a rotina de integração do espectrômetro. Dessa forma, obter-se-á um valor de
proporção relativa, ou seja, um valor em porcentagem da contribuição de
cada grupo orgânico (ou tipo de carbono) para a estrutura do material
analisado. Considera-se, a título de integração, as seguintes faixas de
deslocamento químico: alquilas (0-46 ppm), O-alquilas (46-110 ppm),
aromáticos (110-160 ppm) e carbonilas/acilas (160220 ppm) (Wilson, 1987).
Entretanto, é possível encontrar na literatura trabalhos com pequenas
variações nessas faixas (Baldock et al., 1992; Conte & Piccolo, 1997; Conte et
al., 1997; Dai & Johnson, 1999; Guggenberger & Zech, 1999; entre outros).
A Fig. 1 e a Tabela 1, adaptadas de Alcântara et al. (2004), mostram,
respectivamente, espectros de RMN de 13C com CPMAS para serapilheira e
MOS extraída do solo (extração alcalina) (Fig. 1) e as proporções relativas de
cada grupo de carbono para a estrutura da serapilheira e da MOS (Tabela 1). É
interessante observar a existência de duas áreas distintas na região das
O-alquilas (Fig. 1), as quais foram integradas e tratadas separadamente. Na
contribuição relativa deste grupo (Tabela 1), as áreas dos dois picos são
somadas. Os dois subgrupos equivalem, respectivamente, a carbonos
alifáticos hidroxilados (ou aminados) e alifáticos dehidroxilados (Wilson,
1990).
252 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

(a)

250 200 150 100 50 0


Deslocamento químico (ppm)

(b)

250 200 150 100 50 0


Deslocamento químico (ppm)

Fig. 1. Espectros de RMN de 13C com CPMAS para amostras de serapilheita (a) e para
substâncias húmicas extraídas de amostras de solo (b).
Legenda: CL = serapilheira do cerrado, FL = serapilheira da mata ciliar, C =
substâncias húmicas extraídas do solo sob cerrado, F = substâncias húmicas
extraídas do solo sob mata ciliar; a a d = blocos, 1 a 4 = profundidades de amostragem
de solo. Ex.: CLa (serapilheira do cerrado no bloco a); C1b (substâncias húmicas
extraídas de amostras da primeira profundidade do solo no bloco b).
Fonte: Alcântara et al. (2004).
Tabela 1. Áreas integradas dos grupos de carbono determinados por RMN de 13C com CPMAS, aromaticidade
(arom), hidrofobicidade (hid), e razão alquilas/O-alquilas, em função da cobertura vegetal para serapilheira e
Substâncias Húmicas (SH), independentemente da profundidade do solo(1).

Cobertura Porcentagem da intensidade total (2) (3) Alquilas /


Arom Hid
vegetal O-alquilas
Carbonilas Aromáticos O-alquilas Alquilas
Serapilheira
13

Cerrado 7,0 10,0 b 72,6 a 10,5 b 0,11 a 0,26 b 0,14 b


Mata 9,0 13,6 a 56,8 b 20,0 a 0,15 a 0,51 a 0,35 a
SH
Cerrado 12,0 9,5 b 63,7 a 15,0 0,11 0,32 b 0,24
Mata 12,0 10,5 a 61,9 b 16,0 0,12 0,36 a 0,26
(1)
Médias na mesma coluna seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste de Tuckey a p<0,05.
(2)
Aromaticidade = aromáticos / (alquilas + O-alquilas + aromáticos).
(3)
Hidrofobicidade = (aromáticos + alquilas) / (carbonilas + O-alquilas).
Fonte: Alcântara et al. (2004).
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural
253
254 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

As regiões correspondentes aos grupos orgânicos, apresentam as absorções


características em 30, 56, 72, 105, 119, 130, 150 e 175 ppm, respectivamente.
Os sinais a 72 ppm e 105 ppm juntamente com 65 e 80-90 são, normalmente,
identificados como polissacarídeos. O sinal amplo entre 30 e 55 ppm revela a
presença de proteínas ou peptídeos. Os sinais em 56, 119, 130 e 150 ppm
representam carbono metoxílico (CH3O), carbonos aromáticos protonados,
carbonos aromáticos substituídos e compostos fenólicos em lignina,
respectivamente. A alta intensidade relativa do sinal a 130 ppm para o carbono
aromático substituído mostra que a estrutura da lignina é altamente alterada
e/ou que o material de outras fontes (p. ex. carvão) está presente no solo. O
sinal a 175 ppm é derivado de grupos carboxílicos e aminos em vários
compostos (Kögel-Knabner, 1997). Fabbri et al. (1998) assumiram que as
estruturas derivadas de lignina são as principais responsáveis pela maioria
das absorções na região dos carbonos aromáticos das frações húmicas de
solo.

Kögel-Knabner (1997) divide, ainda, os compostos do tipo alquilas nas sub-


regiões de 0 a 25, incluindo grupos metílicos e de 25 a 45, os grupos
metilênicos (CH2) de anéis e cadeias alifáticas. A região do carbono do tipo
O-alquila (46-110 ppm), por sua vez, pode ser dividida em três sub-regiões:
46-60, incluindo grupos metoxílicos e C6 de carboidrato e açúcares, além de Cα
da maioria de aminoácidos; 60-90 ppm, incluindo estrutura de carboidrato; Cα
de alguns aminoácidos e C-O de álcoois; e 90-110 ppm, incluindo carbonos
anoméricos de carboidrato. Mahieu et al. (1999) incluíram os fenóis entre 150
e 160 ppm na região dos carbonos aromáticos (110-160 ppm). A região de
160-220 ppm compreende os grupos funcionais acilas (ácidos carboxílicos
alifáticos, ácidos carboxílicos aromáticos, amidas e ésteres) e carbonilas
(aldeídos e cetonas). Zhang et al. (1999) denominaram as regiões dos
grupos orgânicos alquilas (0-50 ppm), O-alquilas (51-105 ppm), aromáticos
(106-160 ppm) e carbonilas/acilas (161-200 ppm) respectivamente de:
compostos alifáticos, carboidratos, compostos aromáticos, carbonílicos e
carboxílicos. Quideau et al. (2000) atribuíram absorção a 21 ppm aos grupos
metílicos terminais e a absorção a 31 ppm aos grupos alquilas presentes nos
polimetilenos [(CH2)n] de ácidos graxos, ceras e resinas respectivamente. A
absorção a 135 ppm corresponde ao carbono substituído de carbonos
aromáticos, enquanto as absorções a 147 e 155 ppm ao carbono fenólico. Os
grupos funcionais acílicos (C=O) centraram-se a 173 ppm.
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 255

Caracterização estrutural de material vegetal


A dinâmica de decomposição do material vegetal está associada ao seu
conteúdo de celulose, hemicelulose, lignina e taninos. No entanto, apenas um
número limitado de dados está disponível sobre a composição química
detalhada de espécies comuns de plantas, cujos resíduos são incorporados
ao solo. Esses estudos referem-se aos compostos alifáticos, principalmente
as cutículas e outros lipídeos. Mas, a composição de ligninas complexas,
como os polissacarídeos, não está bem elucidada nos estudos de
composição química de tecidos vegetais. Esse fato aplica-se também aos
componentes microbianos, especialmente lipídeos e melaninas, cuja
estrutura e composição, não são conhecidas com detalhes. Um grande
número de técnicas está disponível para análises de compostos específicos
em material vegetal e nos resíduos microbianos, e podem ser aplicadas em
estudos de biodegradação. Técnicas espectroscópicas não destrutivas, como
a RMN de 13C no estado sólido, podem identificar compostos e caracterizar
eficientemente a composição química de material vegetal (Kögel-Knaber,
2002). Alterações nos grupos funcionais orgânicos durante a decomposição e
a humificação dos resíduos, ao serem identificadas, permitem inferir sobre a
dinâmica de decomposição do material vegetal adicionado ao solo (Baldock et
al., 1992; Kögel-Knabner, 1997; Zech et al., 1997; Randall et al., 1997).

Composição química de serapilheira, espécies vegetais e


partes de plantas
Por meio da análise de 84 espectros, Mahieu et al. (1999) confirmaram a
predominância da região de O-alquilas em materiais de plantas, atribuindo à
concentração de carboidratos, açúcares simples, amidos e celulose. Este
grupo orgânico (O-alquilas) representou 70% a 90% do total de carbono em
diferentes amostras de caules e madeira e um mínimo de 38% em serapilheira
de folhas e raízes. Alcântara et al. (2004) assinalaram os picos obtidos
próximos a 20 ppm em amostras de serapilheira de mata ciliar e material
vegetal de cerrado como grupos acetilas (CH3CO). Para todos os espectros,
comprovou-se o predomínio da região das O-alquilas (46-110 ppm), seguida
por alquilas, aromáticos e carbonilas.

Kögel-Knabner (2002) mostra diferenças relevantes entre os espectros de


folhas e raízes de centeio e palha de trigo. Na palha de trigo, predominam os
polissacarídeos (80%) e a concentração de carbonos aromáticos,
256 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

principalmente, de ligninas é significativamente inferior à da serapilheira de


floresta. A proporção de alquilas (30 ppm), cujos sinais originam-se de lipídios,
cutinas e peptídeos, é menor do que aquela verificada nas serapilheiras de
coníferas e decíduas. O sinal a 22 ppm é resultado de grupos acetil em
hemiceluloses. Resultados similares têm sido obtidos para palhada de outras
espécies vegetais e para plantas forrageiras. O espectro de centeio
comparativamente ao de palha de trigo mostra picos a 30 e 175 ppm,
originários de alquilas, carboxilas e grupos amidos, provenientes de lipídeos e
cutinas e, principalmente, de proteínas. As raízes dessas gramíneas
distinguem-se pela alta concentração de polissacarídeos e baixo conteúdo de
lignina e suberina. Isto é confirmado pela ausência de sinais a 30 ppm e baixa
intensidade de sinais característicos de compostos aromáticos.
A variabilidade de composição química de resíduos de plantas é ilustrada na
Tabela 2, adaptada de Kögel-Knabner (2002), na qual destacam-se as
elevadas concentrações de compostos aromáticos das madeiras de pinus e
de coníferas. Nas análises de RMN de 13C com CPMAS foi observada uma
grande variabilidade na composição de tecidos de plantas de florestas
tropicais. Carbonilas representaram cerca de 5% a 10% do total de carbono. O
conteúdo de carbonos aromáticos foi baixo e variou entre 10% e 15%. O
conteúdo do carbono O-alquilas da serapilheira de folhas (cerca de 50%) foi
menor do que o de madeiras, cascas e raízes (aproximadamente 75%).
Correspondentemente, a contribuição de alquilas foi maior nas folhas (20% a
25%). Ligninas e taninos contribuíram para a intensidade dos aromáticos.
Alguns constituintes de serapilheira, como os polissacarídeos e proteínas,
são facilmente decomponíveis, mas a lignina, os polifenóis e algumas
biomacromoléculas alifáticas são relativamente resistentes à quebra
microbiana (Zech et al., 1997).
Na região do Cerrado, Carvalho (2005) utilizou RMN de 13C com CPMAS para
caracterizar estruturalmente material vegetal proveniente de diferentes
plantas de cobertura/adubos verdes (guandu, mucuna-cinza, crotalária
juncea, nabo-forrageiro e feijão-bravo-do-ceará). Espectros foram obtidos
para o material vegetal intacto (anteriormente ao início do processo de
decomposição) (T0), aos 60 (T1) e aos 90 dias (T2) após a colocação de sacolas
de serapilheira no campo (Fig. 2). Nos três espectros, observa-se a região de
0-45 ppm, que compreende os grupos alquilas relativos a CH2 e a CH3 de
ácidos alifáticos e graxos. Nessa região dos espectros, a absorção
predominante a 30 ppm corresponde aos CH2 oriundos de ácidos carboxílicos
alifáticos, lipídios e outros biopolímeros alifáticos. A região entre 30 e 60 ppm
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 257

Tabela 1. Composição de resíduos vegetais de diferentes espécies por meio


de RMN de 13C no estado sólido.

Carbonila Aromático O-alquilas Alquilas


Material vegetal (210-160 ppm) (160-110 ppm) (110-45 ppm) (45-0 ppm)
(%)
Palhada de trigo 2,1 10,7 83,8 3,4
Palhada de cevada 1,2 11,6 83,9 3,0
Palhada de aveia 2,5 13,4 80,7 3,3
Palhada de centeio 3,3 12,6 80,0 4,0
Forragem 5,6 12,4 72,5 9,5
Madeira de pinus 0,7 19,0 78,9 1,4
Madeira de conífera 0,9 18,2 79,0 1,9

Fonte: Kögel-Knaber (2002).

relaciona-se à presença de proteínas ou peptídeos. Alcântara et al. (2004)


citam que proteínas podem se sobrepor aos sinais de O-alquilas, registrados
na região de 46-110 ppm. A região de 45-110 ppm comprovou representar a
maior parte do carbono orgânico nos espectros dos materiais vegetais
analisados (Fig. 2). Os maiores sinais nessa região de O-alquilas foram
encontrados aproximadamente a 60 ppm, 70 ppm e 100 ppm, para a maioria
das espécies vegetais estudadas, e correspondem aos polissacarídeos. A
absorção a 70 ppm, presente na maioria das plantas de cobertura, nos três
períodos, deve-se aos grupos C-O de carboidratos. A absorção a 105 ppm,
também obtida para a maioria dos espectros das espécies vegetais nas três
avaliações, é atribuída ao carbono anomérico e está de acordo com a
caracterização de outros materiais vegetais por RMN de 13C CPMAS (Golchin
et al., 1995; Kögel-Knabner, 1997; Nierop et al., 2001; Alcântara et al., 2004).
Na região obtida para carbonos aromáticos (110-160 ppm), incluem-se os
fenóis entre 150 e 160 ppm. Os sinais dos espectros em estudo que ocorrem
próximos a 130 e 150 ppm representam, respectivamente, os carbonos
aromáticos e carbonos fenólicos presentes em lignina. Os sinais obtidos a 130
ppm foram pouco acentuados nos materiais vegetais analisados. A região
entre 160 e 220 ppm compreende os grupos funcionais acilas (C=O) de ácidos
carboxílicos alifáticos e aromáticos de amida e de éster apareceram em torno
de 170 ppm nos espectros obtidos por RMN de 13C CPMAS (Carvalho, 2005).
258

Guandu
Mucuna-
cinza
Crotalária
juncea
Nabo
forrageiro
Feijão-bravo-
do-ceará
ppm ppm ppm

Fig. 2. Espectro de RMN de 13C (CP/MAS) do material vegetal antes do início do experimento de decomposição (T0) e dos
resíduos vegetais aos 60 (T1) e 90 (T2) dias do início do experimento de decomposição.
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 259

Dinâmica da composição química de resíduos vegetais


durante o processo de decomposição
Pesquisas efetuadas em materiais, tanto de tecido vegetal quanto de solo,
com natureza diferenciada, têm mostrado que a quantidade relativa de
alquilas aumenta durante a biodegradação, principalmente, nas fases iniciais
da decomposição (Golchin et al., 1995; Gregorich et al., 1996), enquanto a de
O-alquilas diminui. Hopkins et al. (1997) mostrou decréscimo de 60% para
20% do total de carbono O-alquila e aumento de 5% para 19% de alquila no
processo de decomposição do centeio. Em geral, a quantidade de
componentes aromáticos permanece constante ou mantém tendências
variáveis. Os anéis aromáticos de lignina são modificados, as regiões dos
compostos fenólicos e da absorção em torno de 112 até 120 ppm decrescem
(Preston, 1996; Kögel-Knabner, 1997; Nierop et al., 2001). Quideau et al.
(2000) mostraram decomposição preferencial dos carboidratos da
serapilheira e aumento em carbonilas (C=O) que é representativo do
processo de decomposição oxidativa. Kögel-Knabner (2000) confirma que a
decomposição das plantas envolve perda inicial de carboidratos (celulose e
hemicelulose), seguida pela lenta transformação de estruturas aromáticas
das moléculas de lignina e finalmente do carbono altamente recalcitrante
(alquilas).
Para cultivos na região do Cerrado, a aplicação da RMN de 13C para avaliar
material vegetal é ainda limitada. Em trabalho recente nessa região, Carvalho
(2005) constatou que os resíduos vegetais de guandu e de mucuna-cinza,
com menor proporção de O-alquila (polissacarídeos) e a maior proporção de
compostos aromáticos, resultaram em decomposição significativamente mais
lenta (período mais longo de reciclagem) em relação aos de feijão-bravo-do-
ceará, nabo-forrageiro e girassol (Tabelas 3 e 4).
A relação entre proporção dos compostos do tipo alquilas e O-alquilas no
material vegetal de guandu, mucuna-cinza e crotalária juncea não seguiu o
comportamento de incremento nos grupos dos alquilas e redução dos O-
alquilas (Tabela 4) com a decomposição (Baldock et al., 1992; Golchin et al.,
1995; Gregorich et al., 1996; Preston, 1996; Kögel-Knabner, 1997; Nierop et
al., 2001). Provavelmente, a rápida biodegradação da maioria dos compostos
hidrossolúveis e polissacarídeos dessa região, já tivesse ocorrido nos 60 dias
iniciais, quando houve incremento na relação alquilas/O-alquilas dos resíduos
das referidas espécies. A partir dos 60 dias predominou o ataque dos
compostos estruturais, com a lenta redução de hidrossolúveis fenólicos e
260 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

hemiceluloses, e aumento relativo do conteúdo de ligninas e proteínas que


pode perdurar por anos, dependendo da natureza do material e da presença
dos grupos especializados de microrganismos (Waksman, 1952; Alexander,
1977; Gallardo & Merino, 1993; apud Correia & Andrade, 1999).
Uma hipótese para o “não-incremento no grupo dos alquilas e redução no
grupo dos O-alquilas” com a decomposição é que a ação microbiana sobre a
lignina, os polifenóis e algumas biomacromoléculas alifáticas relativamente
resistentes à quebra (Zech et al. 1997) poderia estar alterando a relação
alquilas/O-alquilas. Os microrganismos quebrariam seletivamente essas
moléculas mais resistentes e os “fragmentos”, moléculas menores e de mais
fácil decomposição aumentariam a proporção de O-alquilas com o tempo
(Baldock et al., 1992). O material microbiano, constituído principalmente de
carboidratos, também pode estar sendo adicionado no decorrer do tempo ao
material de algumas espécies vegetais, sobretudo aquelas de mais difícil
decomposição, como o guandu, aumentando a concentração de O-alquilas.
Gregorich et al. (1996) atribuíram o acúmulo de alquilas e não de O-alquilas às
estruturas microbianas ou aos seus metabólitos. Entretanto, estes autores
analisaram a fração leve da matéria orgânica do solo sob cultivo de milho e
não, o material vegetal como no presente estudo.

Tabela 3. Tempo necessário para decomposição de 50% e tempo de reciclagem


de resíduos vegetais, sem incorporação e com incorporação no solo.
* **
Meia-vida (h) Tempo de reciclagem (?)
Espécies vegetais Sem inc. Com inc. Sem inc. Com inc.
(Dias)
Crotalária juncea 97 81 141 118
Feijão-bravo-do-ceará 86 76 123 110
Girassol 77 69 11
1 99
Guandu 136 107 196 154
Milheto 119 91 172 132
Mucuna-cinza 122 100 175 145
Nabo-forrageiro 78 65 112 94
V. espontânea 108 81 156 116

* (h = ln2/k); ** (‫ = זּ‬1/k): onde k é coeficiente da equação exponencial (TR = 100 * ek*(t))


Fonte: Carvalho (2005).
Tabela 4. Distribuição relativa (%) dos grupos orgânicos do material e dos resíduos vegetais aos 60 e 90 dias do
início do experimento de decomposição, por meio de RMN de 13C CP/MAS.

Porcentagem em relação aos grup os orgânicos


Espécies
vegetais Carbonila/acila Aromático O-alquila Alquila

0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d
Crotalária
13

7,5 aAB 10,6 aA 4,1 aB 9,9 abA 8,3 bA 5,3 bA 69,2 aA 61,8 aB 70,1 aA 13,4 bB 19,3 bA 20,5 aA
juncea

Feijão-bravo 11,0 aA 6,8 aAB 5,9 aB 7,5 bcA 5,9 bA 6,2 bA 65,5 aA 68,4 aA 68,1 aA 16,0 bcB 18,9 bA 19,8 aA

Guandu 11,4 aA 7,8 aAB 4,7 aB 11,7 aA 11,4 aA 11,9 aA 56,4 bB 54,5 bB 64,3 bA 20,5 aB 26,3 aA 19,2 aB

Mucuna-
6,7 aAB 7,5 aA 2,3 aAB 12,1 aA 13,1 aA 10,1 aA 67,5 aA 62,3 aA 67,0 aA 13,7 bB 18,9 bA 20,6 aA
cinza
Nabo
10,5 aA 7,8 aA 2,9 aB 5,7 cA 7,5 bA 7,7 bA 65,9 aB 67,1 aAB 74,1 aA 17,9 acA 17,6 bA 15,3 bA
forrageiro

Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem pelo teste de Tukey a 5%.
Fonte: Carvalho (2005).
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural
261
262 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Vários estudos buscam estabelecer uma seqüência cronológica para


composição dos resíduos. Gregorich et al. (2000) assinalaram a dominância
da região O-alquilas num espectro de material vegetal e atribuíram-na à
presença de celulose e outros polissacarídeos, proteínas e grupos propilas e
metoxilas de ligninas. As grandes diferenças na composição química dos
resíduos vegetais ocorreram devido à proporção de intensidade dos sinais
observados nas regiões de alquilas e O-alquilas. Os resíduos de alfafa
apresentaram mais alquilas e menos O-alquilas do que os de milho.
Golchin et al. (1995) determinaram o maior sinal para a fração densimétrica
< 1,6 Mg m-3 ou fração livre, com espectro similar aos de material vegetal, na
região de O-alquilas (46-110 ppm), representando 51-68% do total de
carbono. As contribuições de grupos alquilas e aromáticos foram bem
menores, com 14-20% e 13-23%, respectivamente.
Gregorich et al. (1996) aplicando a técnica de RMN de 13C com CPMAS
indicaram que a camada superficial de solo sob milho, apresentou menor
proporção relativa de O-alquilas e alquilas e mais de grupos aromáticos e
carboxílicos do que a superfície do solo sob floresta. Uma menor quantidade
de carboidratos e maiores concentrações de ésteres na fração leve do solo
assinalou estágios mais avançados de decomposição da matéria orgânica. Os
autores desta pesquisa atribuíram o acúmulo de alquilas na fração leve do solo
sob cultivo de milho às estruturas microbianas ou aos seus metabólitos.
Enquanto Preston (1991; 1996) sugere que os fatores climáticos podem
exercer maiores efeitos do que a composição original das plantas sobre a
natureza dos ácidos húmicos. Elevadas quantidades de chuva e lixiviação
excessiva removem fragmentos de lignina, e por isso, atrasam ou impedem o
desenvolvimento da sua aromaticidade.
Segundo Kögel-Knabner (2000), a aplicação de RMN com 13C CPMAS
mostrou um padrão para a matéria orgânica da superfície de floresta, com
acentuada influência dos sinais das plantas que compõem sua serapilheira
(polissacarídeos, ligninas e biopolímeros alifáticos). Além disso, esta pesquisa
confirma que a decomposição das plantas envolve uma perda inicial de
carboidratos (celulose e hemicelulose), seguida pela lenta transformação de
estruturas aromáticas das moléculas de lignina e finalmente do carbono
altamente recalcitrante (alquilas) corroborando com Baldock et al. (1992).
Nierop et al. (2001) mostraram que a região dos carbonos aromáticos
decresce das raízes para o solo, implicando em uma baixa entrada ou uma
rápida degradação de ligninas e taninos no solo.
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 263

Considerando a influência da natureza do material no processo de


decomposição, Baldock et al. (1992) sugeriram um índice obtido da razão
entre alquilas e O-alquilas para explicar a dinâmica de decomposição. Além
desta, outras relações entre os grupos orgânicos podem ser utilizadas, como
a aromaticidade e a hidrofobicidade, sendo: aromaticidade =
aromáticos/(alquila+O-alquila + aromáticos) e hidrofobicidade = (aromáticos +
alquila)/(carbonila/acila + O-alquila). Essas três razões têm sido aplicadas em
estudos de RMN de 13C CPMAS para complementar as informações obtidas
da composição química de material vegetal e de matéria orgânica do solo (por
ex. Alcântara et al., 2004; Carvalho, 2005).
No Brasil, em estudo realizado no Rio Grande do Sul com dez sistemas de
cultura em plantio direto, Pillon (2000) avaliou alterações estruturais nas
frações orgânicas com o avanço da humificação, utilizando a RMN de 13C
CPMAS, nos sistemas de cultura pousio/milho, guandu/milho e lablab/milho e
numa área de campo nativo como referência. Foram adquiridos espectros das
plantas inteiras (milho no primeiro sistema, guandu no segundo e lablab no
terceiro), dos resíduos dessas plantas, das frações densimétricas leve livre e
leve oclusa e dos ácidos húmicos extraídos. Modificações nas contribuições
de alquilas e O-alquilas foram bastante evidentes. Considerando a seqüência
planta inteira - ácidos húmicos, houve uma redução progressiva no conteúdo
de O-alquilas, acompanhada de aumento no conteúdo de alquila. Dessa
forma, a razão O-alquil/alquil diminuiu na ordem planta inteira - ácidos
húmicos, demonstrando potencial como medida do grau de decomposição ou
humificação de compostos orgânicos, principalmente em estágios iniciais de
decomposição.

Outras aplicações de RMN ao estudo de material vegetal


Métodos de RMN in vivo (técnicas não destrutivas) são freqüentemente
aplicadas para fornecer informações sobre a concentração absoluta de
metabólitos, incluindo sacarose, glicose 6-P e fosfatos inorgânicos, assim
como suas mudanças durante transformações bioquímicas nos processos de
metabolismo de plantas. Essa técnica também é utilizada para se determinar
pH intracelular em uma variedade de células e tecidos. A interface entre a
técnica de RMN espectroscópica e de imageamento estabelece um grande
potencial de estudo para vários processos fisiológicos, de crescimento,
desenvolvimento, fluxo de água e interações ambientais (Bligny & Douce,
2001).
264 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Um potencial de destaque para a técnica de RMN de 13C CPMAS em


agroecossistemas é inferir sobre a dinâmica de decomposição de resíduos
vegetais adicionados ao solo, seja incorporados ou no sistema plantio direto,
com base na sua composição química em relação à natureza dos grupos
orgânicos.

Caracterização estrutural da matéria orgânica do


solo
A ênfase inicial na utilização de RMN de 13C em estudos de MOS utilizando-se
frações extraídas quimicamente, isto é, os ácidos húmicos e fúlvicos, ocorreu
principalmente devido à necessidade de se isolar a MOS em frações que
fossem solúveis e apresentassem alta concentração de carbono (Preston,
1996). Entretanto, atualmente pode-se afirmar que uma das maiores
vantagens dessa técnica, não-destrutiva por princípio, é a não necessidade
de extração da matéria orgânica do solo, o que significa que é possível obter
espectros de boa resolução mesmo em amostras de solo intacto (ou inteiro).
Assim, a técnica tem sido empregada em estudos de MOS utilizando uma
ampla gama de materiais: solo intacto, frações físicas de tamanho de partícula
e densimétricas, substâncias húmicas extraídas do solo (sem posterior
fracionamento), bem como nas frações húmicas (ácidos húmicos, ácidos
fúlvicos e huminas). De todo modo é importante que se leve em consideração
a maior complexidade de aplicação da técnica em solo intacto e frações
físicas. Esta complexidade está relacionada principalmente à alta
interferência da fração mineral nesse tipo de amostra. Conforme discutido
anteriormente, o pré-tratamento das amostras com HF ou HCl é uma
alternativa para se reduzir o teor de material inorgânico (cinzas), permitindo
assim que se obtenha espectros de melhor resolução, com menos ruído. Esse
pré-tratamento, na verdade, concentra a matéria orgânica. Mesmo quando se
utiliza a extração química das substâncias húmicas (com ou sem posterior
fracionamento em ácidos húmicos e fulvicos), o que teoricamente representa
a concentração do material orgânico, pode haver necessidade de redução do
teor de cinzas. A desvantagem do tratamento com ácidos é que, durante o
procedimento, pode-se perder também material orgânico, principalmente
quando o tratamento é repetido muitas vezes. Dick et al. (2005) em amostras
de Latossolo Vermelho (Santo Ângelo, RS e Passo Fundo, RS), Latossolo
Bruno (Vacaria, RS) e Latossolo Amarelo (Brasília, DF, Manaus, AM e
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 265

Iranduba, AM) demonstraram que o tratamento com HF repetido oito vezes


aumentou as concentrações de carbono e nitrogênio e, como a razão C/N não
sofreu modificações consistentes após o tratamento, nenhum dos dois
elementos parece ter sido extraído seletivamente, em detrimento do outro,
mesmo porque a tendência de diminuição da razão C/N com a profundidade
do solo foi mantida. Assim, os autores consideraram que os espectros de RMN
de 13C e 15N representavam bem a MOS no solo. No entanto, amostras sem
tratamento não foram submetidas à espectroscopia. Alguns anos antes,
Gonçalves et al. (2003), ao compararem espectros de amostras de horizontes
A e B de Latossolo Vermelho (Santo Ângelo, RS e Passo Fundo, RS), de
Latossolo Bruno Bruno (Vacaria, RS) e de Latossolo Amarelo (Brasília, DF),
não tratadas e tratadas com HF 10% (com 2, 4, 6 ou 8 repetições),
demonstraram que, apesar de altas perdas de carbono, mesmo com oito
repetições, não ocorreram alterações consistentes na distribuição dos grupos
de carbono, sugerindo que perdas preferenciais de grupos específicos não
foram induzidas. Na prática, ainda não há consenso sobre a perda
proporcional do material orgânico entre os diferentes grupos de carbono.
Dai & Johnson (1999), por exemplo, demostraram que carbohidratos e
carboxilas são preferencialmente extraídos durante a concentração da MOS
com HF. Os autores concluem que parece ser prematura a recomendação
desse pré-tratamento como rotina objetivando melhorar a qualidade dos
espectros de RMN.
Não obstante as maiores dificuldades de utilização da técnica em amostras de
solo intacto ou frações físicas e a necessidade de redução do teor de cinzas
nessas amostras, bem como em frações extraídas quimicamente, a RMN de
13
C com CPMAS tem sido cada vez mais utilizada nos estudos de MOS. Tais
estudos, além de contribuírem para a elucidação da natureza do material
vegetal e sua influência nos processos de formação e decomposição da MOS,
têm proporcionado um melhor entendimento sobre a estrutura química da
matéria orgânica e sobre os efeitos que as mudanças no uso da terra e nos
sistemas de cultivo podem exercer sobre a qualidade da MOS.
266 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Investigações sobre a estrutura química dos componentes


da MOS
A MOS não é um componente do solo previsível e facilmente compreensível.
Entretanto, o desenvolvimento atual das técnicas de caracterização torna
possível quantificar e qualificar os componentes dessa “caixa preta” do solo,
levando a um melhor entendimento de sua estrutura química. Neste contexto,
a RMN de 13C tem se destacado como uma técnica de grande potencial.
Muitos trabalhos utilizando a RMN de 13C com CPMAS têm sido realizados
com o objetivo de investigar a estrutura química dos componentes da MOS e,
assim, poder elucidar seu comportamento. Fabbri et al. (1998) empregaram
RMN de 13C com CPMAS para investigar a estrutura química de ácidos
húmicos e huminas provenientes de materiais de solo, sedimentos recentes
de lagos, lagoas e mar. Os autores procuravam relações estruturais entre
essas duas frações nos diferentes ambientes estudados, fossem eles
terrestres ou marinhos. As huminas, correspondentes à fração mais
recalcitrante e pouco investigada da MOS, mostraram-se estruturalmente
diferentes dos ácidos húmicos, apresentando-se mais ricas em compostos
alifáticos, enquanto mais pobres em carboxilas.
Veeken et al. (2000) caracterizaram os ácidos húmicos extraídos de lixo
orgânico proveniente da separação seletiva de lixo doméstico municipal na
Holanda, a fim de elucidar o processo de compostagem desse material. Os
autores ressaltam a importância de se conhecer não só a quantidade, mas
também a qualidade da matéria orgânica disponível e solúvel nesse tipo de
insumo, para que se possam avaliar os possíveis benefícios de seu uso. A
caracterização estrutural dessa fração do material orgânico por RMN de 13C
com CPMAS proveu informações quantitativas e qualitativas sobre os grupos
orgânicos formadores dos ácidos húmicos.
A RMN de 13C com CPMAS também tem sido utilizada com sucesso na
elucidação da formação de horizontes espódicos durante a podzolização, isto
é, na gênese dos Espodossolos. Bons exemplos são dois trabalhos realizados
na Alemanha: Beyer (1996) empregou a técnica para investigar possíveis
efeitos das propriedades do solo na composição da MOS e na formação
desses horizontes. Schmidt et al. (2000) utilizaram a RMN de 13C com CPMAS
para caraterizar a composição química da MOS em amostras de solo intacto e
de frações granulométricas de horizontes espódicos. Na Holanda, a técnica
também foi utilizada para avaliar o efeito da vegetação sobre a composição de
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 267

horizontes H de espodossolos (Nierop et al., 1999). Outra aplicação da técnica


é na elucidação das interações entre MOS e argilo-minerais. Wattel-Koekkoek
et al. (2001) compararam a caracterização estrutural da MOS associada à
caulinita e à esmectita em amostras de solos cauliníticos e esmectíticos
provenientes de vários países. Dick et al. (2000) aplicaram RMN de 13C na
caracterização de ácidos húmicos extraídos de um Brunizem e de uma
amostra de carvão de mina, a fim de caracterizá-los estruturalmente e, assim,
elucidar quais os principais grupos funcionais envolvidos na adsorção dessa
fração quando em contato com um Latossolo Roxo distrófico, tratado ou não
com oxalato de amônio. A RMN permitiu verificar que o ácido húmico extraído
do carvão apresentava um caráter aromático mais acentuado e maior
porcentagem de carboxilas, sendo adsorvido em maior quantidade do que
aquele extraído do Brunizém.

Em solos de área urbana, Beyer et al. (1996) utilizaram RMN de 13C com
CPMAS para identificar possíveis alterações na MOS provocadas pelo uso
urbano dos solos, por meio da comparação com os mesmos em sistema
natural. Os autores avaliaram áreas como depósitos de lixo, florestas públicas
e hortas particulares dentro do perímetro urbano de Kiel (Alemanha).
Os resultados encontrados indicam importantes modificações na gênese
da MOS em ambiente urbano, como por exemplo alta aromaticidade da
MOS total e dos compostos húmicos em área sob horticultura. No Brasil,
estudo semelhante foi conduzido por Canellas et al. (2000), que utilizando
13
C RMN CPMAS, juntamente com outras técnicas espectrosópicas e
microscopia de varredura, caracterizaram fisico-quimicamente ácidos
húmicos extraídos de composto de resíduos sólidos urbanos e de lodo de
estação de tratamento de esgoto. Os autores constataram que a natureza
química dos ácidos húmicos em tais fontes não-pedogênicas pode ser
considerada “análoga” aos encontrados nas fontes pedogênicas.

Esses trabalhos são exemplos específicos de estudos que objetivavam


investigar a estrutura química das frações que compõem a MOS ou sua
interação com a fração mineral. No entanto, todos os trabalhos sobre os
efeitos de alterações no tipo de vegetação ou nos sistemas de cultivo e nas
práticas de manejo do solo sobre a MOS, obrigatoriamente caracterizam-na
estruturalmente.
268 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Investigações sobre a influência das mudanças na


vegetação e dos sistemas de cultivo sobre a qualidade da
MOS
No item “Dinâmica da composição química de resíduos vegetais durante o
processo de decomposição” foi visto que em muitos estudos de MOS com
aplicação da RMN de 13C com CPMAS utiliza-se a seqüência material vegetal -
solo inteiro e/ou frações físicas ou extraídas quimicamente. Exemplos são os
trabalhos de Golchin et al. (1995); Golchin et al. (1997); Gregorich et al.
(1996); Gregorich et al. (2000); Pillon, (2000); Nierop et al. (2001) e Alcântara
et al. (2004), os quais demonstram que a composição química da MOS é
grandemente influenciada pelo material vegetal que lhe dá origem. Este fato,
aliado às técnicas de fracionamento e extração da MOS, permite que sejam
realizados estudos sobre o efeito tanto de mudanças no tipo de vegetação
(p.ex.: floresta-pastagem), quanto de diferentes sistemas de cultivo sobre a
qualidade da MOS. Tais estudos podem subsidiar a adoção de práticas mais
conservacionistas, as quais possibilitem a melhoria da qualidade do solo e seu
uso sustentável, considerando-se que a MOS é reconhecida como
componente-chave da qualidade do solo (Doran, 1997) e da sustentabilidade
dos sistemas, sejam eles naturais ou antropizados (agrossilvopastoris).
Golchin et al. (1997) semi-quantificaram os grupos de carbono por RMN 13C
com CPMAS presentes em solo intacto, fração < 53m, resíduos remanes-
centes depois de foto-oxidação da fração < 53m e fração ácidos húmicos. Os
autores observaram um decréscimo no conteúdo de carbono aromático e um
aumento nos grupos alquilas quando áreas com gramíneas foram ocupadas
por floresta, indicando que a matéria orgânica produzida sob floresta é mais
enriquecida com alquila do que aquela sob gramíneas. Tais mudanças na
composição orgânica resultaram do corte da vegetação e de práticas de
manejo que incluem o fogo. Resultado semelhante foi encontrado por
Alcântara et al. (2004). Oito anos após a retirada da vegetação de Campo
Sujo, predominado por gramíneas, e do subseqüente plantio de espécies de
mata ciliar, a matéria orgânica extraída do solo passou a apresentar menor
proporção de O-alquilas e maior de grupos aromáticos. Esses dois estudos
comprovam a influência do tipo de material vegetal adicionado ao solo sobre a
composição química da matéria orgânica.

A não detecção de diferenças em estudos comparativos também pode levar a


inferências sobre a dinâmica do processo de decomposição. Guggenberger et
al. (1999) investigaram os efeitos do estabelecimento de uma floresta
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 269

secundária, em uma área de pastagem abandonada, sobre a qualidade da


MOS, mediante o fracionamento físico do solo e a extração da MOS por
solução de NaOH. O material orgânico extraído foi dissolvido para ser
analisado em RMN de 13C em solução. Foram coletadas amostras de solo em
áreas de floresta primária, pastagem e floresta secundária com diferentes
tempos de estabelecimento (3,5; 12,5 e 18,5 anos) na Costa Rica. O
abandono da pastagem com o posterior surgimento da floresta secundária
resultou em aumento do teor de carbono em todas as frações, de acordo com
o tempo de estabelecimento. No entanto, considerando-se os aspectos
qualitativos da MOS, a comparação dos espectros não mostrou diferenças
consistentes na caracterização estrutural (RMN de 13C) do carbono extraído
por NaOH nas diferentes áreas. Esse resultado foi corroborado por
determinações químicas de lignina (oxidação alcalina com CuO) e
carboidratos (hidrólise por ácido trifluoracético) na fração leve da MOS e nas
frações separadas por tamanho de partícula. Os autores atribuem o fato à
localização da MOS na matriz do solo, já que a composição química das
frações permaneceu quase inalterada.
A RMN de 13C com CPMAS foi utilizada por Gregorich et al. (1996) para
caracterizar a MOS em dois sistemas, um não antropizado e outro
antropizado: floresta e lavoura de milho (25 anos de cultivo). Foram
analisadas amostras de resíduos das plantas (espécies florestais e milho),
solo intacto da superfície (0-5 cm) e da subsuperfície (30-50 cm) e frações
isoladas por densimetria (em solução de NaI) e tamanho de partículas. As
diferenças encontradas na qualidade da MOS entre os dois sistemas
refletiram os efeitos do desflorestamento e do cultivo contínuo sobre a
estrutura da matéria orgânica, como a presença de material mais recalcitrante
no subsolo sob cultivo: na subsuperfície do solo sob milho a contribuição
relativa de O-alquilas e alquilas é significativamente menor do que no solo sob
floresta, ao mesmo tempo em que a de aromáticos e carbonilas é maior.
É consenso que os sistemas de cultivo são determinantes do teor, e
consequentemente dos estoques, de carbono do solo. No entanto, vários
trabalhos se dedicam a mostrar que a qualidade da MOS também é
fortemente dependente do manejo do solo. Em estudo comparativo entre um
sistema de monocultivo de milho com um sistema de rotação de culturas,
baseado no uso de leguminosas, Gregorich et al. (2000) mostraram que a
matéria orgânica sob a rotação com leguminosas apresentou maior conteúdo
de carbonos aromáticos em relação à monocultura de milho. Os autores
270 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

atribuem esse carbono preservado à entrada dos resíduos das raízes das
leguminosas, além do C que já existia do milho, resultando em mais C
aromático após a decomposição dos carboidratos.

Ácidos húmicos extraídos em amostras de solo de áreas sob plantio direto e


convencional estabelecidos há onze anos e de área sob mata nativa foram
analisados por RMN de 13C com CPMAS (Martin Neto et al., 1995). A
aromaticidade dos ácidos húmicos seguiu a seqüência plantio direto > plantio
convencional > mata, o que pode ter ocorrido devido ao acúmulo de ácidos
húmicos mais aromáticos no primeiro sistema, provavelmente causado por
uma menor taxa de decomposição dos resíduos e de incorporação do carbono
nas substâncias húmicas. Ainda no sistema plantio direto, Bayer et al. (2000)
avaliaram o efeito de dez sistemas de cultivo, baseados na rotação cultura de
inverno/milho em comparação a sistemas pousio/milho, sobre a estrutura da
MOS. Os autores, utilizando RMN de 13C com CPMAS e Espectroscopia de
Ressonância Paramagnética Eletrônica (EPR), encontraram uma relação
estreita e inversa entre a quantidade de resíduos adicionada ao solo pelos
sistemas e a aromaticidade dos ácidos húmicos, o que indica a possibilidade
de ocorrência da incorporação recente de compostos alifáticos às substâncias
húmicas do solo em sistemas com grande potencial de adição de resíduos.
Por outro lado, Pillon (2000), comparando os sistemas de culturas
guandu/milho, lablab/milho, pousio/milho entre si e com uma área de campo
nativo, observaram que a composição química dos ácidos húmicos,
determinada por RMN de 13C com CPMAS e EPR, foi pouco afetada pelos
sistemas de cultura, e sugere que isto poderia ter ocorrido, devido à elevada
contribuição de produtos do metabolismo microbiano que interagem com a
matriz mineral e a maior estabilidade coloidal dos ácidos húmicos. No entanto,
no que diz respeito às frações densimétricas, a fração orgânica protegida no
interior dos agregados (fração leve oclusa) apresentou maior conteúdo de
alquilas e carbono aromático e menor conteúdo de O-alquilas do que a fração
leve livre, indicando o maior avanço da decomposição. Nos sistemas
guandu/milho e lablab/milho, a incorporação de resíduos menos humificados
no interior dos agregados influenciou a composição química da fração leve
oclusa. A última apresentou maior conteúdo de O-alquilas e menor de alquilas,
em relação ao sistema de referência (pousio/milho), o que está de acordo com
a incorporação recente de matéria orgânica menos humificada nos sistemas
leguminosas/milho. Esses resultados demonstram que o tipo de material
analisado desempenha um importante papel na detecção de diferenças entre
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 271

sistemas. Peréz et al. (2004) também não encontraram alterações


significativas nos ácidos húmicos extraídos por NaOH de amostras de solo
coletadas na camada de 0-5 cm de um Latossolo de São Paulo. Foram
comparados diferentes sistemas de cultivo com cinco anos de duração
(convencional com milho/pousio, convencional milho em rotação com
soja/pousio, direto com milho em rotação com soja/pousio e direto com
milho/guandu) com uma área adjacente sob vegetação nativa. Os espectros
de RMN de 13C mostraram que a porcentagem relativa de compostos
aromáticos esteve em torno de 30% para todas as amostras, independente do
sistema de cultivo. No entanto, quando comparados com amostras de área
sob vegetação nativa, a porcentagem de aromáticos caiu para 24%, enquanto
a porcentagem de alquilas aumentou. Os autores constataram que o efeito do
acúmulo constante de resíduos vegetais mostrou ser mais importante do que
o tempo de cultivo e sugerem que o alto teor de argila (530 g kg-1) pode ter
protegido os complexos MOS-óxidos de ferro contra alterações estruturais.
A RMN de 13C com CPMAS e a EPR foram utilizadas por Dick et al. (2005),
para caracterizar a composição química da MOS em perfis de latossolos sob
vegetação nativa das regiões Sul, Amazônica e do Distrito Federal. Todos os
perfis apresentaram quantidades consideráveis de estruturas consideradas
facilmente decomponíveis como O-alquilas, com baixa aromaticidade. Os
autores objetivaram ainda investigar a interação organo-mineral nesses solos
de mineralogia predominantemente caulinítica e oxídica. Seus resultados
demonstraram que a MOS parecer ser estabilizada mediante, principalmente,
sua interação com os óxidos de ferro e alumínio e a caulinita. O grau de
humificação (inferência a partir dos resultados da EPR) demonstrou que a
estabilização da MOS pelas interações organo-minerais tende a aumentar em
profundidade. Por outro lado, apontam a atuação dos exsudados de raízes e
de raízes em decomposição como uma possível causa para a diminuição do
grau de decomposição da MOS em profundidade, o que, no entanto, não pôde
ser verificado no trabalho.

Assim como alguns dos trabalhos acima relacionados (Dick et al., 2005; Bayer
et al., 2000; Pillon, 2000), vários estudos em MOS têm aliado outras técnicas à
RMN de 13C com CPMAS. O objetivo muitas vezes é comparativo, mas na
maioria dos casos a utilização de duas ou mais técnicas em conjunto é
realizada no sentido de se obter resultados sejam complementares, e
portanto, mais abrangentes e conclusivos.
272 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Além de outras técnicas espectroscópicas, técnicas isotópicas e


termogradativas podem ser utilizadas em conjunto com a RMN de 13C.
Quideau et al. (2000) empregaram a medição do 14C, juntamente com a RMN
de 13C com CPMAS TOSS, para elucidar a influência da vegetação nos
processos de decomposição e formação da MOS. Neste caso, a análise
isotópica foi utilizada para se avaliar as taxas de reciclagem do carbono.
Golchin et al. (1995) utilizaram três técnicas em conjunto, visando avaliar a
estrutura e a dinâmica da MOS em solos sob pastagem e floresta: RMN de 13C
com CPMAS, abundância natural de 13C (razão isotópica entre 13C e 12C) e
pirólise com espectrometria de massa. Esta última é uma técnica
termogradativa, que vem sendo cada vez mais utilizada em estudos de MOS
com diferentes enfoques, em conjunto com o RMN de 13C (Beyer, 1996; Fabbri
et al., 1998; Zhang et al., 1999; Nierop et al., 1999; Veeken et al., 2000; Nierop
et al., 2001b; Wattel-Koekkoek et al., 2001; Canellas et al., 2002; Alcântara et
al., 2004) e será detalhada em outro capítulo.

Desafios e Perspectivas
Conforme visto aqui, existem ainda limitações ao emprego da RMN de RMN
de 13C na pesquisa científica. Tais limitações começam pelo alto custo de
aquisição e manutenção dos equipamentos. No Brasil, são poucas as
universidades e os centros de pesquisa que dispõem de aparelho para
ressonância magnética nuclear. De forma geral, é necessário que a demanda
por análises seja alta o suficiente para que se justifique a aquisição do
equipamento. Na Ciência do Solo, especificamente, ainda existem algumas
limitações de caráter técnico, como a falta de pessoal treinado, tanto para o
manuseio do aparelho e realização das determinações, quanto para a
interpretação dos resultados. Este quadro está se transformando aos poucos,
visto o número crescente de trabalhos com a aplicação de RMN de 13C em
estudos de MOS.

A própria ferramenta em si ainda apresenta algumas limitações, conforme


discutido anteriormente. Entretanto, muitos têm sido os pesquisadores
dedicados ao estudo de alternativas que possam melhorar a resolução dos
espectros de RMN e contornar problemas como os altos teores de íons
paramagnéticos (como por exemplo o ferro, naturalmente presente nos
Latossolos Brasileiros) nas amostras. Com esse esforço, têm sido obtidos
resultados bastante significativos, principalmente no que diz respeito ao
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 273

melhor entendimento dos processos de formação, decomposição e


humificação da MOS, e aos efeitos dos sistemas agrícolas sobre sua
qualidade.

Para os próximos anos, as perspectivas são de avanço, não apenas na RMN,


bem como em todas as técnicas espectroscópicas, e de maior utilização das
mesmas na caracterização estrutural da MOS e da sua dinâmica de
decomposição, como ferramenta para se avaliar a sustentabilidade de
sistemas naturais e agrícolas.

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Resumo - Dentre as inúmeras técnicas que vêm sendo utilizadas em


estudos sobre a dinâmica e a composição química da matéria orgânica do
solo (MOS), tem se destacado, além das técnicas espectroscópicas, como a
Ressonância Magnética Nuclear de (RMN) de 13 C, uma técnica
termogradativa de grande potencial, a Pirólise associada à Cromatografia
Gasosa e Espectrometria de Massa (Pi-CG/EM). Esta técnica consiste
basicamente na quebra dos polímeros orgânicos em seus componentes
menores, mediante degradação térmica em atmosfera inerte (pirólise), com
posterior separação dos produtos dessa quebra, ou fragmentos, com base no
peso molecular (cromatografia gasosa) e sua detecção e identificação
(espectrometria de massa). A Pi-CG/EM pode ser empregada em material
vegetal (p. ex. serapilheira, resíduos de plantas), em solo intacto ou nas
substâncias húmicas extraídas do solo. Diferentemente da RMN de 13C, que
caracteriza estruturalmente a MOS, isto é, permite a obtenção do que seria a
282 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

estrutura da MOS em termos dos grupos de carbono presentes, a Pi-CG/EM


permite que se obtenha o que podemos chamar de “impressão digital” da
MOS. Isto significa que, com sua aplicação, é possível alcançar um elevado
grau de detalhamento dessa estrutura de carbono observada na RMN. As
duas técnicas, que têm sido muitas vezes utilizadas como complementares,
têm em comum a possibilidade de semi-quantificação: no caso da RMN de
13
C, (semi) quantifica-se a contribuição de cada um dos grandes grupos de
carbono; enquanto que no caso da Pi-CG/EM, a contribuição de cada
pequeno composto orgânico que forma as macromoléculas, que por sua vez,
formam esses grandes grupos de carbono. Com a Pi-CG/EM, pode-se
elucidar quais são os principais compostos constituintes, por exemplo, das
ligninas ou dos polisacarídeos presentes no material analisado. Na
interpretação dos resultados Pi-CG/EM, duas diferentes abordagens podem
ser utilizadas, sendo uma apenas qualitativa e outra, qualitativa/quantitativa.
Na primeira, obtém-se a impressão digital do material vegetal ou da MOS e
podem-se utilizar os resultados para detectar alterações qualitativas em sua
composição, em função de manejos distintos ou de diferentes origens. Já na
segunda, os resultados semi-quantitativos podem ser utilizados para avaliar
alterações quantitativas na composição química da MOS, ou seja, em sua
qualidade. Alguns desafios, como a complexidade dos pirolisados e a
identificação das macromoléculas que lhes deram origem, ainda precisam ser
superados. No entanto, o alto grau de refinamento dos resultados e a
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 283

Pyrolisis Associated to Gas


Chromatography and Mass
Spectrometry Applied to Chemical
Characterization of Soil Organic Matter

facilidade de operação, bem como o custo relativamente baixo dos


equipamentos, tornam a Pi-CG/EM uma técnica bastante promissora em
estudos de MOS. Para o futuro, as perspectivas são de maior
desenvolvimento desta técnica, bem como dos procedimentos matemáticos e
estatísticos de tratamento dos resultados semi-quantitativos.
Abstract - Pyrolysis associated to Gas Chromatography and Mass
Spectrometry (Py-GC/MS), as well as spectroscopy techniques, for instance
the Nuclear Magnetic Resonance (NMR) of 13C, has showed to be a powerful
tool in studies on soil organic matter (SOM) dynamics and chemical
composition. The technique consists basically in the break-up of organic
polymers (large molecules) into small fragments, under inert atmosphere
(pyrolysis), with further separation of these fragments according to their
molecular weight (gas chromatography), and their detection and identification
(mass spectrometry). It can be applied to vegetal material; whole soils or
chemically extracted humic substances. While 13C NMR gives the SOM
structure in terms of carbon types, Py-GC/MS is used for “fingerprinting” SOM
and offers detailed insights in the carbon structure detected by NMR. These
two techniques, that provide complementary information, have in common the
possibility of semi-quantification: in 13C NMR, the contribution of each carbon
type to the SOM structure is semi-quantified; in Py-GC/MS, the contribution of
each organic compound that constitutes the macromolecules present in the
carbon groups detected by NMR is semi-quantified. Therefore, the application
of Py-GC/MS allows elucidating the main compounds that constitute
macromolecules such as lignin and polysaccharides. For data interpretation,
two different approaches can be used: the qualitative and the
284 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

qualitative/quantitative approaches. With the first, the fingerprint of SOM is


used to detect qualitative alterations in its composition, as a function of distinct
soil management practices or SOM origins. With the second, the semi-
quantitative results can be used to evaluate quantitative alterations in SOM
chemical composition, that is, quantitative alterations in its quality. Some
challenges still have to be overcome, for instance the high complexity of the
pyrolisates and the difficulties in the identification of their real origin (e.g. if the
pyrolisate is a result of the break-up of a lignin or a protein). Nevertheless, the
high level of screening and the technical facility, as well as the relatively low
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 285

costs of the equipment, make Py-GC/MS a promising tool for SOM studies. For
the future, the perspectives are the best as possible: the further development
of the technique, and the establishment of the most adequate mathematical
and statistical procedures for treating the semi-quantitative results.

Introdução
A técnica da pirólise, tal como apresentada neste capítulo, envolve a quebra
de grandes moléculas em pequenos fragmentos, que são separados por
cromatografia gasosa e identificados por espectrometria de massa. Enquanto
a Ressonância Magnética Nuclear de (RMN) de 13C revela a estrutura geral da
matéria orgânica do solo (MOS), a Pirólise associada à Cromatografia Gasosa
e Espectrometria de Massa (Pi-CG/EM ou P-CG-EM) permite o
reconhecimento de características individuais desta estrutura (Fabbri et al.,
1998), mediante a separação e identificação de compostos específicos, que
constituem as macromoléculas ou polímeros orgânicos, como ligninas e
polisacarídeos que, por sua vez, são os “blocos de construção” da MOS.
Portanto, as duas técnicas, RMN de 13C e Pi-CG/EM, podem ser utilizadas em
conjunto, a fim de que uma complemente os resultados da outra.

Como principais vantagens da Pi-CG/EM podem-se destacar o refinamento


das informações sobre a caracterização química da MOS obtidas com os
espectros (Zhang et al., 1999), sendo até mesmo possível detectar a
contribuição de estruturas microbianas para a formação da matéria orgânica.
Além disso, esta técnica possibilita que se faça uma varredura rápida do
material, necessitando para tal, apenas miligramas de amostra (Stankiewicz
et al., 1996). Em relação a RMN de 13C, além do maior grau de detalhamento, a
Pi-CG/EM apresenta ainda a vantagem do menor custo de aquisição e
manutenção dos equipamentos. Por outro lado, um aspecto limitante da
aplicação da Pi-CG/EM em estudos de MOS é que os produtos da pirólise
obtidos com a quebra das estruturas macromoleculares do material orgânico
apresentam um alto grau de complexidade, o que causa uma certa dificuldade
na interpretação dos resultados (Saiz-Jimenez, 1994). Além dos compostos
que constituem as macromoléculas, também podem aparecer como produtos
da pirólise alguns produtos de oxidação, como por exemplo ácido acético e
CH4, e ainda, “artefatos” produzidos por rearranjos, isto é, compostos que
originalmente não fazem parte do material analisado, mas são formados
durante o processo. Não obstante, estes obstáculos não têm impedido que a
286 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Pi-CG/EM seja empregada com sucesso na avaliação de alterações


qualitativas na MOS proveniente de solos submetidos a diferentes sistemas
de manejo ou sob diferentes coberturas vegetais (p. ex. Leeuw et al., 1986;
Stuczynsk et al., 1997; Masciandaro et al., 1998; Nierop et al., 2001b). No
Brasil, ainda são encontrados na literatura poucos trabalhos utilizando a Pi-
CG/EM na caracterização química de resíduos vegetais ou MOS; alguns
foram realizados dentro do país (Canellas et al., 2000, 2002) e outros fora,
mas por equipes envolvendo pesquisadores brasileiros e com material de solo
ou planta proveniente do Brasil (Franchini et al., 2002; Alcântara et al.,
2004a,b).

Neste capítulo, serão abordados basicamente os princípios da técnica de Pi-


CG/EM; sua aplicabilidade aos estudos de MOS, levando em consideração
resíduos vegetais e substâncias húmicas extraídas do solo; e o tipo de
abordagem utilizada para apresentação dos resultados e alcance dos
objetivos.

Definição, Princípios e Breve Histórico


A pirólise é uma técnica termogradativa, que pode ser definida como a
degradação térmica de um material em atmosfera inerte, ou de maneira ainda
mais simples, como, a quebra de grandes moléculas em fragmentos, usando
energia térmica e na ausência de oxigênio. Os fragmentos da pirólise são
separados por cromatografia gasosa e posteriormente identificados por
espectrometria de massa. Portanto, nesta técnica o pirolisador é acoplado ao
cromatógrafo à gás e ao espectrômetro de massa, sendo que a essa
associação convencionou-se chamar Pirólise associada à Cromatografia
Gasosa e Espectrometria de Massa (Pi-CG/EM ou P-CG/EM).
O primeiro passo na Pi-CG/EM é a pirólise propriamente dita, quando ocorrerá
uma transferência rápida de calor para a amostra, provocando sua
fragmentação. Segundo Blacdwell et al. (1989), podem ser utilizados fornos
pirolisadores ou filamentos. Nos fornos, a quantidade de amostra requerida é
maior e a taxa de transferência de calor, menor. Quanto aos filamentos, que
requerem pequenas quantidades de amostra, existem aqueles que são
aquecidos por uma resistência até a temperatura de pirólise, e aqueles
chamados ferromagnéticos, para os quais o calor é induzido por meio de uma
bobina de radiofreqüência. No primeiro caso, a amostra é acondicionada
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 287

numa cubeta de quartzo, que é posicionada junto ao filamento. No segundo


caso, a amostra é prensada no filamento ferromagnético, o qual é então
colocado, com a amostra, dentro do pirolisador. O filamento pode ser de Fe,
Co ou Ni e a temperatura a ser atingida é determinada pelo tipo de metal,
sendo aumentada até atingir o “Ponto Curie” do mesmo. A partir desse ponto,
a energia magnética não será mais absorvida de forma efetiva e não haverá
mais aumento de temperatura. Após a quebra das moléculas, os
fragmentos (produtos da pirólise) são separados pela cromatografia gasosa,
com base em seu peso molecular, em resposta à passagem do gás carreador.
O resultado é um cromatograma com picos correspondentes a cada
fragmento. O próximo passo é a identificação de cada pico pela
espectrometria de massa, mediante a relação massa:carga (m/z) dos íons
que os compõem (Schulten & Schnitzer, 1992; Schnitzer & Schulten, 1995). A
identificação de cada composto é feita por meio do emparelhamento dos
espectros com dados de programas de computador específicos, que
funcionam como “bibliotecas de espectros”. A comparação com dados da
literatura pode ser utilizada adicionalmente aos programas. A partir da
identificação dos compostos pode-se optar por duas abordagens: (1)
qualitativa e (2) qualitativa/quantitativa. Na primeira, os produtos da pirólise
são identificados e obtém-se uma “impressão digital” da MOS, que pode ser
usada para avaliar alterações na qualidade da matéria orgânica provenientes,
por exemplo, de mudanças na cobertura vegetal do solo. Na segunda, além da
comparação qualitativa, consegue-se comparar amostras, ou de maneira
mais ampla, comparar situações de laboratório ou campo, quantitativamente.
Isto é, a última possibilita avaliar alterações quantitativas nas características
químicas da MOS. Exemplos de ambas as abordagens serão vistos na
próxima seção.
É importante salientar que uma macromolécula será sempre fragmentada de
maneira própria, específica, e outra amostra do mesmo material, aquecida à
mesma temperatura, se comportará exatamente da mesma maneira. Isto
torna a análise dos produtos da pirólise reprodutível, quando se pretende
estudar a macromolécula original (Wrampler, 1999). No entanto, é preciso
considerar que a MOS é um material complexo, de natureza polimérica. Por
causa dessa complexidade, e como deve ocorrer em qualquer análise
aplicada aos estudos de MOS, é necessário que se tenha uma referência,
uma situação que represente um padrão de comportamento e que atue como
comparativo. Além disso, o sistema (os três aparelhos acoplados) deve ser
288 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

calibrado, sempre antes de sua utilização, com um material orgânico “puro”,


como por exemplo turfa. Amostras desse material devem ser processadas
sempre antes do início da análise de amostras experimentais.

No que diz respeito as amostras, vários procedimentos têm sido utilizados


para extrair a MOS previamente a sua caracterização química por Pi-CG/EM.
A extração alcalina com NaOH ou Na4P2O7 tem sido empregada em muitos
trabalhos para separar o material orgânico (p.ex. Nierop & Buurman, 1998;
Clapp & Hayes, 1999; Velthorst et al., 1999; Alcântara et al., 2004).

Os primeiros relatos de utilização da Pi-CG/EM, segundo Saiz-Jimenez


(1994), vêm do trabalho de Simmonds et al. (1969), que a empregaram em
amostras da superfície do solo do deserto da Califórnia, com o objetivo de
detectar moléculas orgânicas que indicassem a presença de atividade
biológica, a fim de utilizar a técnica posteriormente em Marte. De acordo com a
revisão realizada por Wrampler (1999), tanto a Pirólise associada apenas à
cromatografia gasosa (Pi-CG) quanto a Pi-CG/EM têm sido cada vez mais
utilizadas por uma extensa gama de áreas da Ciência e da Tecnologia. Os
autores citam o emprego dessas técnicas em materiais utilizados nas artes
plásticas, como pigmentos, vernizes e tintas; em fragmentos de tintas e outros
materiais detectados pela medicina legal em acidentes e crimes; na análise de
polímeros sintéticos, como os plásticos e borrachas; em materiais
petroquímicos; em amostras de água, solo e ar visando à investigação de
contaminantes ambientais; na análise de amostras biológicas, como por
exemplo para diferenciar microrganismos a partir da distinção de marcadores
químicos; e na tecnologia de alimentos, para identificação de gorduras e óleos
de origem animal e vegetal. Nas Ciências Agrárias, o autor cita a importância
que a técnica tem assumido na química do solo. Neste contexto, além da
investigação sobre a natureza química da MOS, a Pi-GC/EM pode ser usada
em combinação com a análise isotópica de 13C, obtendo-se, ao mesmo tempo,
a estrutura química e a composição isotópica da MOS. Nesse tipo de estudo
(p.ex. Gleixner e Schmidt, 1998; Gleixner et al., 2002), acopla-se um forno
para combustão e um espectrômetro de massa para razão isotópica ao
equipamento de Pi-CG/EM.

Aplicações da pirólise aos estudos de caracteri-


zação química da MOS
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 289

Abordagem qualitativa
O principal objetivo dos trabalhos que utilizam esta abordagem é a
identificação dos compostos presentes no material analisado, o qual pode se
tratar de partes de plantas, solo intacto ou substâncias húmicas.
Independentemente do tipo de material, a pirólise gera um grande número de
produtos, em sua maioria, originados da quebra de estruturas bem definidas,
como polissacarídeos, ligninas, proteínas, compostos aromáticos e ácidos
graxos, além dos produtos de oxidação e artefatos.

Após a identificação dos picos pela espectrometria de massas, atribui-se aos


produtos da pirólise sua possível fonte. A título de ilustração, são
apresentados na Tabela 1, alguns dos compostos identificados após a Pi-
CG/EM de amostras de material vegetal (serapilheira) e substâncias húmicas
Tabela 1. Lista de produtos da pirólise de serapilheira e ácidos húmicos.

Pico (no) Composto Possível fonte(1) Massas(2)


1 2-metilfurano Ps 53+82
3 Benzeno Pp 51+78
4 Piridina Pr 52+79
5 Pirrol Pr 53+67
6 Tolueno Pp 65+91
8 Metilpiridina Pr 66+93
9 2-furaldeído Ps 67+95
17 Fenol Pp/Lg/Pr 66+94
19 2-metilfenol Pp/Lg/Pr 79+108
(1)
Legenda: Ps = polisacarídeos, Pp = polifenóis, Pr = proteínas, Lg = ligninas.
(2)
Massas específicas utilizadas na integração.
Fonte: Adaptado de Alcântara et al. (2004b).

extraídas do solo (Latossolo Vermelho Amarelo Ácrico). Nesses dados,


extraídos de Alcântara et al. (2004a), foram observados principalmente
produtos da quebra de proteínas, polissacarídeos e ligninas. Alguns produtos
da pirólise podem ser derivados de diferentes estruturas, como por exemplo o
2-metilfenol (pico no 19), que pode ter se originado da degradação térmica de
polifenóis, de ligninas, ou ainda de proteínas.
Saiz-Jimenez & Leeuw (1986a) utilizaram a Pi-CG/EM para caracterizar
quimicamente as frações da MOS extraídas de um Typic Xerochrept sob
290 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

vegetação de pradaria. Os autores compararam os produtos da pirólise dos


ácidos húmicos, dos ácidos fúlvicos e da humina, provenientes do
fracionamento, com resultados prévios da pirólise de ligninas, polisacarídeos
e proteínas. Na fração ácidos fúlvicos, os principais produtos encontrados
foram polisacarídeos, além de carboidratos e polifenóis. Quanto aos ácidos
húmicos e as huminas, estes mostraram ser uma mistura complexa de vários
biopolímeros, como polisacarídeos, lignina parcialmente degradada,
peptídeos e lipídeos. No que diz respeito especificamente à lignina e seu
potencial como biomarcador para estudos sobre adição de materiais de planta
ao solo, Saiz-Jimenez & Leeuw (1986b) demonstraram que vários produtos
da pirólise, resultantes da quebra dessas ligninas, são comuns tanto a
madeiras com diferentes graus de resistência à decomposição, quanto à
lignina de gramíneas. Isto significa que esses produtos podem ser utilizados
como biomarcadores na relação vegetação-MOS.
A estrutura química dos ácidos húmicos também foi detalhada nos trabalhos
de Saiz-Jimenez & Leeuw (1987a,b). O principal objetivo desses trabalhos foi
contribuir para o entendimento da natureza química dos componentes de
planta presentes nos ácidos húmicos, mediante a identificação daqueles
produtos da pirólise, provenientes de constituintes de planta, que
permanecem intactos mesmo após hidrólise ácida. Os resultados sugerem
que a lignina não é um contribuinte que represente bem a parte mais
resistente dos ácidos húmicos, pois foi observado que, após a hidrólise,
grande parte dos pirolisados se constituía de macromoléculas alifáticas, como
por exemplo alcanos. Portanto, biopolímeros altamente alifáticos encontrados
em cutículas de plantas, bem como suberinas, são provavelmente parte
significativa e resistente dos ácidos húmicos.
No Brasil, Canellas et al. (2000), aplicaram a Pi-CG/EM para avaliar a
estrutura dos ácidos húmicos extraídos de composto de resíduos urbanos e
de lodo de estação de tratamento de esgoto. A presença de compostos
derivados de ligninas, de fenóis e de furanos nos ácidos húmicos estudados
evidenciou que o processo de formação das substâncias húmicas no solo é
válido também para sua evolução em materiais orgânicos de origem urbana.
Foi possível, ainda, verificar que os ácidos húmicos nos dois materiais se
encontravam em estágio inicial de evolução, o que foi inferido mediante a
presença, em grande proporção, de ácidos graxos esterificados. Outro
resultado interessante foi a detecção de fragmentos de ftalatos de dioctila na
estrutura dos ácidos húmicos, indicando a possível contaminação do material
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 291

orgânico por resíduos plásticos.

Além dos aspectos relacionados ao desvencilhamento da estrutura de


materiais orgânicos já presentes ou adicionados ao solo, a abordagem
qualitativa da Pi-CG/EM também pode funcionar como um indicativo
poderoso de alterações na MOS, promovidas por mudanças no uso da terra
ou no sistema de manejo. Um bom exemplo desta aplicação é o trabalho de
Nierop et al. (2001b). Os autores utilizaram a Pi-CG/EM em amostras de solo
(Fluventic Eutrudept) de diferentes profundidades (1-4, 4-10 e 10-20 cm) da
camada arável, coletadas em uma seqüência com mais de 70 anos de
histórico, a saber: pastagem permanente solo manejado organicamente solo
manejado convencionalmente. Nas duas áreas sob manejo, utilizava-se uma
rotação de 3-4 anos com culturas (batata, beterraba, milho, hortaliças
folhosas) e 2-3 anos com gramíneas. Na época da amostragem, ambas se
encontravam na fase das gramíneas. Sob manejo, em relação à pastagem
permanente, a MOS se mostrou composta de material vegetal fortemente
humificado e material proteináceo microbiologicamente alterado, o que pode
indicar rápida decomposição de material de planta recentemente adicionado,
ou ainda, pouca proteção pelos agregados do solo. Por outro lado, o solo sob
pastagem permanente, em relação ao manejo, apresentou MOS pouco
decomposta, ainda reconhecível como derivada de gramíneas. Entre os
manejos, foram encontradas diferenças principalmente nos primeiros quatro
centímetros. Como a aração distribui uniformemente a MOS na camada
arável, tais diferenças se devem, possivelmente, ao período mais longo de
permanência das gramíneas ou à aplicação de doses mais altas de adubos
orgânicos (estercos) na área cultivada organicamente, em relação a
convencional, na última rotação.
A Pi-CG/EM tem também sido utilizada para detectar a estrutura do chamado
“N desconhecido” do solo, que não pode ser detectado pelos métodos
químicos tradicionais, nem por outros métodos espectroscópicos. Schulten et
al. (1997), aplicando a técnica em amostras previamente hidrolizadas de
Haplaquoll e Haplaquod, encontraram compostos heterocíclicos, como as
piridinas, e compostos derivados de benzeno, os quais foram considerados
produtos do N desconhecido. Bergen et al. (1998), utilizaram a Pi-CG/EM em
amostras de serapilheira e dos horizontes húmico e mineral de um Aquic
Paleudalf em uma área de carvalhos, também para detectar o N desconhecido.
De acordo com os autores, compostos nitrogenados presentes na serapilheira
e no horizonte húmico podem ter se originado da quebra de aminoácidos ou de
292 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

açúcares aminados. Por sua vez, os pirolizados contendo nitrogênio,


detectados no horizonte mineral, revelam evidências de terem se originado de
macromoléculas não claramente relacionadas a biomoléculas conhecidas.

Em grande parte dos estudos que utilizam a abordagem qualitativa da Pi-


CG/EM, a RMN de 13C tem também sido empregada (p.ex. Golchin et al., 1995;
Zhang et al., 1999; Nierop et al., 1999; Veeken et al., 2000; Wattel-Koekkoek et
al., 2001).
Zhang et al. (1999) utilizaram as duas técnicas em conjunto para caracterizar
ácidos húmicos e fúlvicos isolados de dois solos da China, objetivando medir a
aromaticidade dessas frações da MOS. Segundo os autores, não só a
aromaticidade das frações foi demonstrada, como a combinação da Pi-
CG/EM com a RMN de 13C se mostrou uma ferramenta de grande potencial
para a caracterização estrutural das substâncias húmicas. Wattel-Koekkoek
et al. (2001) também utilizaram Pi-CG/EM e RMN de 13C como técnicas
complementares, com o objetivo de caracterizar a MOS associada a caulinita
e esmectita em solos tropicais, onde estes argilominerais desempenham um
importante papel na estabilização da fração orgânica. Primeiramente,
separou-se a fração de tamanho argila, a qual foi então submetida a extração
seqüencial com NaOH e Na4P2O7, de forma a concentrar as substâncias
húmicas. Os resultados encontrados de que a MOS associada a caulinita é
enriquecida em produtos da quebra de polisacarídeos, enquanto a MOS
associada a esmectita é rica em compostos aromáticos, são um forte indício
de que diferentes argilominerais apresentam diferentes mecanismos de
complexação da MOS. Tais resultados só foram possíveis mediante a
utilização combinada da semi-quantificação das contribuições relativas de
cada grupo de carbono detectado pela RMN e da análise qualitativa dos
produtos da pirólise.
A combinação da RMN de 13C com a abordagem qualitativa dos resultados da
Pi-CG/EM também tem sido empregada para avaliar transformações nas
frações orgânicas de resíduos de origem urbana ou biosólidos, submetidos à
compostagem, materiais estes com possível efeito fertilizante e condicionador
de solo (p. ex. González-Vila et al., 1999; Veeken et al., 2000).

Abordagem Qualitativa/Quantitativa
Os trabalhos que utilizam esta abordagem objetivam não só identificar os
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 293

compostos presentes no material orgânico analisado, como também


quantificá-los de forma a traçar comparações entre materiais provenientes,
por exemplo, de áreas sob diferentes manejos ou coberturas vegetais. Tais
comparações quantitativas podem ser úteis para se avaliar alterações na
qualidade da MOS ao longo do tempo ou em função do manejo ou uso da área,
por meio da detecção de aumentos ou decréscimos nas contribuições de
algumas macromoléculas.

A designação “abordagem qualitativa/quantitativa” é utilizada aqui a título de


simplificação, pois, assim como no caso da RMN de 13C, o termo semi-
quantificação é mais apropriado para se referir ao tipo de tratamento
matemático a que são submetidos os resultados da pirólise. Isto ocorre
porque nesse tratamento considera-se a abundância relativa de cada pico (ou
composto identificado), mediante a integração de sua área correspondente no
cromatograma. Existem diferentes caminhos que podem ser seguidos para se
chegar às áreas relativas de cada pico, como por exemplo considerar a área
total do cromatograma como 100% ou 1, considerar a soma de picos
selecionados (de interesse) como 100% ou 1, ou ainda, considerar a área do
pico mais intenso como 100% ou 1. Os valores obtidos podem ser então
submetidos à análise estatística, que pode ser mais ou menos detalhada,
dependendo do enfoque do trabalho: se fortemente baseado em
comparações (diferentes situações de manejo, períodos de tempo, etc.) ou,
se voltado a simples caracterização de possíveis alterações. A seguir são
apresentados trabalhos que exemplificam aplicações da abordagem
qualitativa/quantitativa aplicada a análise de diferentes materiais e realizada
com diferentes enfoques.

Em material vegetal, a Pi-CG/EM com abordagem qualitativa/quantitativa


pode ser bastante útil na elucidação de alterações durante o processo de
decomposição e formação da MOS. Franchini et al. (2002) a aplicaram para
avaliar transformações na composição química de diversas plantas de
cobertura utilizadas freqüentemente em rotação de culturas no sul do Brasil,
entre elas a aveia preta e a mucuna, durante a decomposição. Amostras
originais dos resíduos e amostras submetidas a um período de 80 dias de
incubação foram pirolizadas e a semi-quantificação foi obtida mediante a
proporção relativa da área de cada pico e a área total do cromatograma. A
abordagem permitiu detectar um decréscimo na porcentagem relativa de
polisacarídeos para todas as espécies, em maior ou menor grau, com a
incubação; enquanto ocorria aumento na porcentagem relativa de ligninas.
294 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

Masciandaro et al. (1998), utilizaram a Pi-CG/em para avaliar os efeitos de


diferentes práticas de uso do solo (sob condições naturais, em pousio por três
anos após cultivo intensivo e cultivado intensivamente) sobre a dinâmica da
MOS. Foram elaborados índices a partir da abundância relativa de sete picos,
selecionados em relação a sua soma total, a saber: índice de mineralização e
índice de humificação. Calculou-se ainda um índice de similaridade,
parâmetro numérico que permite comparar pares de pirogramas. O grau de
humificação da MOS praticamente não foi afetado pelo uso do solo, enquanto
a taxa de mineralização foi consideravelmente mais alta nas áreas cultivadas
intensivamente do que naquelas sob condições nativas. Ao mesmo tempo, o
pousio após cultivo intensivo apresentou a tendência de recuperar a atividade
microbiológica e a fertilidade do solo. Nas mesmas áreas, Masciandaro &
Ceccanti (1999) utilizaram os índices de mineralização, humificação e
similaridade, juntamente com a atividade das enzimas ligadas aos ciclos de C,
N e P (urease, fosfatase, proteases, -glucosidase), para subsidiar a
comparação entre o complexo húmico-enzimático, que apresenta
importantes propriedades funcionais e atua como indicador da qualidade do
solo. Corroborando com os resultados do trabalho anterior, o pousio tende a
recuperar solos que, apesar de submetidos ao cultivo intensivo, tenham
preservado uma matriz húmica estável e enzimaticamente ainda ativa.

Grande parte dos trabalhos que adotam a abordagem qualitativa/quantitativa,


utiliza também a RMN de 13C como técnica complementar (Almendros et al.,
1996; Fabbri et al., 1998; Beyer et al., 2001; Nierop et al., 2001a; Canellas et
al., 2002; Alcântara et al., 2004b). Uma comparação entre as duas técnicas foi
realizada por Fabbri et al. (1998) na caracterização estrutural de huminas e
ácidos húmicos extraídos de ambientes terrestres (solo agrícola) e marinhos
(sedimentos). Foram encontradas correlações lineares positivas entre a
quantidade relativa de compostos alifáticos determinados pela Pi-CG/EM e a
porcentagem de compostos do tipo alquila semi-quantificados a partir dos
espectros de RMN. De forma geral, o uso integrado das duas técnicas
apresentou grande potencial para auxiliar no entendimento da estrutura das
huminas, pois os resultados de ambas, além de se complementarem,
apontaram para o fato de que as huminas são estruturalmente diferentes de
seus ácidos húmicos correspondentes.

Nierop et al. (2001a) utilizaram Pi-CG/EM e RMN de 13C, além da hidrólise


ácida de polisacarídeos, para investigar diferenças na composição química da
MOS em perfis de solo de uma sucessão de vegetação primária na Holanda,
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 295

característica de estágios pré-podzolização. Além de material de solo, as


técnicas foram aplicadas em serapilheira coletada sobre e sob (raízes) o solo,
a fim de traçar o processo de formação da MOS nesses solos. Um aspecto
interessante observado esteve relacionado às tendências de aumento nos
conteúdos de alquilas com a humificação, acompanhado do decréscimo no
conteúdo de O-alquilas, conforme revelado pela RMN de 13C, corroborado
pelo aumento na contribuição de compostos alifáticos no solo, revelado pela
Pi-CG/EM. A combinação das duas técnicas também foi utilizada com
sucesso por Beyer et al. (2001) para elucidar a formação de podzóis na
Antártica, com ênfase na composição química da MOS.

As técnicas Pi-CG/EM e RMN de 13C, quando utilizadas em conjunto, podem


ainda ser ferramentas bastante úteis na avaliação de alterações nas frações
da MOS após tratamento de solos agrícolas com resíduos orgânicos, com
potencial de uso como fertilizantes ou condicionadores de solo. Canellas et al.
(2002) utilizaram ambas para verificar a ocorrência de modificações
estruturais nos ácidos húmicos advindas da adição de composto de lixo
urbano e lodo de estação de tratamento de esgoto a dois solos (Argissolo
Vermelho Amarelo e Latossolo Vermeho Amarelo) incubados em laboratório
por 24 semanas. Para a semi-quantificação dos produtos da pirólise, foi
considerada abundância relativa de 100% para os pirogramas dos ácidos
húmicos extraídos dos materiais de solo sem tratamento. Alterações nos
ácidos húmicos em ambos os solos foram detectadas tanto por Pi-CG/EM
quanto por RMN de 13C. Com a pirólise foi possível observar modificações
qualitativas significativas, provenientes da fragmentação térmica dos ácidos
húmicos, com incorporação de estruturas novas, principalmente de lipídeos e
de compostos derivados de carboidratos (furanos).
A fim de se extrair o maior número de informações possível e, ao mesmo
tempo, informações mais detalhadas dos pirogramas, a análise multivariada
(análise de fatores ou de componentes principais) tem sido utilizada em
alguns trabalhos (p.ex. Boon et al., 1986; Alcântara et al., 2004b). Os
principais objetivos deste tipo de procedimento estatístico são (1) reduzir o
número de variáveis envolvidas e (2) detectar a estrutura existente nas
relações entre as variáveis. Quando empregada nos dados provenientes da
pirólise de materiais orgânicos, esta forma de análise dos dados permite
identificar grupos, entre as amostras de planta ou MOS estudadas, que
apresentem composição química semelhante. Portanto, sua utilização
possibilita que se elucidem alterações na MOS, em função, por exemplo, de
296 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

mudanças no uso do solo. Tais alterações seriam modificações na qualidade


da MOS, ocorridas devido a aumentos ou decréscimos na presença de
determinadas macromoléculas.

Neste sentido, um dos primeiros trabalhos encontrados na literatura é o de


Boon et al. (1986), realizado na Holanda. Nele, foi caracterizado um perfil de
turfa de origem ombrotrófica, utilizando-se a análise multivariada no
tratamento dos dados da pirólise. Em solos (cultivados e sob pastagem),
Bonmati et al. (1998), utilizaram a Pi-CG/EM em amostras submetidas a
extração com pirofosfato de sódio, selecionando 18 picos de maior
ocorrência, intensidade e importância, calculando sua abundância em relação
a soma total de suas áreas e aplicando análise multivariada. Como primeiro
passo do tratamento estatístico, os autores, mediante coeficientes de
correlação e distância euclidiana, avaliaram as diferenças entre os
pirogramas obtidos. Posteriormente, foram utilizadas a análise de
componentes principais e a regressão multivariada (seleção de variáveis do
tipo “stepwise”). Com este procedimento foi possível reduzir de 18 para 12 o
número de picos responsáveis pelas diferenças entre os pirogramas.
Dorado et al. (2003) aplicaram a Pi-CG/EM em ácidos húmicos extraídos de
solo (Calcic Haploxeralf) em uma área sob experimento de longa duração,
desenhado para avaliar os efeitos das práticas utilizadas na agricultura
orgânica sobre o solo, envolvendo a aplicação de resíduos orgânicos de
diferentes origens e adição ou não de fertilizantes nitrogenados sintéticos. A
análise multivariada dos dados permitiu averiguar que os fertilizantes
orgânicos causaram grandes impactos na composição dos ácidos húmicos,
principalmente nas parcelas onde não se aplicava nitrogênio de origem
mineral. Seu efeito pôde ser identificado, por exemplo, por um aumento na
ocorrência de metoxifenóis e ácidos graxos.
No trabalho de Alcântara et al. (2004b), a análise de fatores foi uma ferramenta
extremamente útil para detectar alterações na qualidade da MOS após a
retirada da vegetação nativa (cerrado campo sujo) e plantio de espécies
ciliares, realizado na tentativa de recuperar a forma e a função de uma área de
margem de represa hidroelétrica em Minas Gerais. Amostras de serapilheira e
solo (Latossolo Vermelho Amarelo Ácrico) foram coletadas em uma área
mantida sob vegetação nativa e outra plantada há oito anos com as espécies
ciliares. Das amostras de solo, as substâncias húmicas foram extraídas com
solução combinada de NaOH e Na4P2O7. Tanto serapilheira quanto
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 297

substâncias húmicas foram submetidas a RMN de 13C e Pi-CG/EM, sendo que


as duas técnicas mostraram uma excelente complementaridade nos
resultados obtidos. A análise de fatores foi utilizada a fim de detectar estrutura
nos dados da pirólise e de reduzir o número de variáveis (no caso, as variáveis
eram os 90 picos selecionados, presentes em todos os pirogramas de
serapilheira e de substâncias húmicas). Primeiramente, este procedimento
mostrou que a nítida separação entre as amostras de serapilheira e
substâncias húmicas se devia, principalmente, à forte presença de lignina nas
primeiras. Para permitir maior detalhamento do comportamento das
substâncias húmicas, fez-se uma nova análise de fatores, desta vez
excetuando-se as amostras de serapilheira. Foi possível detectar três grupos
principais: (1) solo superficial da mata ciliar (0-5 cm), (2) solo subsuperficial do
cerrado (10-20 cm), e (3) todas as amostras intermediárias entre (1) e (2) das
duas áreas. A análise de fatores mostrou que as diferenças existentes entre
(1) e (2) foram causadas, principalmente, pela maior presença de derivados
da quebra de ligninas (responsáveis pela separação de (1)) e da quebra de
polisacarídeos (responsáveis pela separação de (2)). Por serem as ligninas e
os polisacarídeos os principais grupos de macromoléculas que discriminaram
as áreas em estudo, nova análise de fatores foi realizada para cada um
desses grupos, separadamente para amostras de serapilheira e de
substâncias húmicas. Para tal, a contribuição de cada composto atribuído à
pirólise de ligninas (ou polisacarídeos) para a área total dos picos de ligninas
(ou polisacarídeos) foi calculada. Este procedimento se trata da
desagregação dos grupos e pode contribuir grandemente para uma melhor
interpretação dos resultados semi-quantitativos. A Fig. 1 apresenta os
resultados para as amostras de serapilheira, quando foi separado o grupo dos
compostos provenientes da quebra das ligninas. Os dois primeiros fatores
extraídos explicaram 62% da variação entre as amostras e as diferenças entre
cerrado e mata ciliar se deveram principalmente a forte presença do composto
4-vinilfenol (pico no. 27), cuja presença, de acordo com Saiz-Jimenez & Leeuw
(1986b), é um forte indicativo de ligninas de gramíneas. Além disso, foi
possível detectar a forte influência dos compostos siringol (pico no. 32),
vanilina (pico no. 35) e 4-vinilsiringol (pico no. 39) na serapilheira da mata.
Apesar das diferenças encontradas na composição química das serapilheiras
das duas áreas, a análise de fatores realizada para os compostos derivados
das ligninas dos polisacarídeos, isoladamente, não foi capaz de detectar
diferenças consistentes entre as substâncias húmicas extraídas do solo sob
as duas coberturas vegetais. Provavelmente, tal fato se deve a mistura de
298 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas

carbono derivado da mata com carbono remanescente do cerrado no perfil do


solo, dificultando a detecção de diferenças mais sutis; bem como a
contribuição heterogênea do carbono da mata ciliar, que é adicionado

4 1.0
35
39
32
3
42

2 0.5 17
FLd
FLc 22
46 37
1 FLa 47
28

19
41
FATOR 2 FLb FATOR 2 38
0 CLb 0.0 36 21
3324 44
CLdCLa
-1 CLc 31

-2 -0.5
27
-3

-4 -1.0
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0

FATOR 1 FATOR 1

Fig. 1. Fatores 1 e 2 no espaço F1-F2 para oito amostras de serapilheira, utilizando 20


picos da pirólise de ligninas e três fatores(a); e coeficientes no espaço F1-F2 para os
20 picos da pirólise de ligninas, considerando oito amostras de serapilheira e três
fatores(b). Legenda: F = mata ciliar e C = cerrado; a, b, c, d = blocos experimentais.

preferencialmente sobre a superfície do solo pela deposição da serapilheira,


enquanto o carbono do cerrado é adicionado preferencialmente na camada do
solo onde se concentra o sistema radicular, pela morte/decomposição das
raízes das gramíneas. Em trabalho anterior (Alcântara et al., 2004a) havia
sido constatado, mediante análise isotópica de 13C, que na profundidade de 0-
5 cm de solo aproximadamente 50% do carbono remanescente da vegetação
de cerrado já havia sido substituído por carbono derivado da vegetação ciliar.

Desafios e Perspectivas
Apesar dos bons resultados que têm sido alcançados com a utilização da Pi-
CG/EM na caracterização química da MOS, alguns desafios ainda precisam
ser vencidos de modo a tornar a interpretação dos resultados mais fácil e, ao
mesmo tempo, mais precisa. Se faz necessária uma maior ênfase na
pesquisa sobre a identificação dos produtos e de suas possíveis origens, a fim
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 299

de subsidiar a atribuição de fontes aos compostos obtidos com a pirólise dos


materiais orgânicos. Além disso, é preciso ampliar as bibliotecas de
identificação, tanto em número, quanto em informação. Um grande desafio da
Pi-CG/EM é a formação de compostos mediante rearranjos durante a pirólise,
o que leva a formação de artefatos. Uma alternativa para este problema é a
realização da pirólise na presença do tetrametilamônio (Fabbri et al., 1996;
Saiz-Jimenez, 1995).

Devido ao fato de que a complexidade dos produtos obtidos com a Pi-CG/EM


dificulta a interpretação, a abordagem qualitativa/quantitativa, além dos
desafios apontados acima, precisa vencer o desafio da qualidade da semi-
quantificação. Para tal, as análises multivariadas têm se mostrado uma
excelente alternativa, permitindo reduzir o número de picos de real
importância para um dado conjunto de amostras, possibilitando assim, que se
faça uma comparação “quantitativa” de amostras, a fim de detectar alterações
na composição química da MOS em função do manejo do solo ou da cobertura
vegetal. No entanto, ainda se faz necessária mais pesquisa sobre os melhores
tratamentos matemáticos e estatísticos para os dados semi-quantitativos.
Apesar das dificuldades ainda por vencer, o alto grau de refinamento das
informações obtidas; a facilidade de execução das análises; e o baixo custo
dos equipamentos, quando comparados por exemplo a equipamentos de
RMN, são vantagens bastante atrativas. Muito provavelmente, com o maior
desenvolvimento da técnica e da interpretação dos resultados, essas
vantagens farão com que a Pi-CG/EM seja uma ferramenta cada vez mais
utilizada em estudos de caracterização química da MOS.

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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Este livro contém informações valiosas sobre a dinâmica da


matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas,
enfatizando técnicas modernas de análise e de simulação de
sistemas. Procura contribuir para a geração de
conhecimentos visando à manutenção de produtividades
elevadas, ao mesmo tempo em que se preservam os recursos
naturais. Neste sentido, a Embrapa Agropecuária Oeste,
juntamente com seus parceiros nesta importante publicação,
espera que este material contribua para a sustentabilidade
dos sistemas agrícolas tropicais e subtropicais.
O texto está dividido em duas partes. Na primeira, é abordada
a dinâmica da matéria orgânica do solo, com ênfase à
utilização de modelagem matemática e simulação de
sistemas. A segunda parte apresenta uma revisão sobre
procedimentos metodológicos, e alguns métodos auxiliares,
fundamentais ao entendimento da dinâmica da matéria
orgânica do solo e à correta parametrização dos simuladores.

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