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Dinâmica Da Matéria Orgânica No Solo - Livro PDF
Dinâmica Da Matéria Orgânica No Solo - Livro PDF
MATÉRIA ORGÂNICA
DO SOLO
EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS
DINÂMICA DA
MATÉRIA ORGÂNICA
DO SOLO
EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS
Dourados, MS
2006
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
1ª edição
(2006): online
CIP-Catalogação-na-Publicação.
Embrapa Agropecuária Oeste.
Roscoe, Renato
Dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas:
modelagem matemática e métodos auxiliares / Editores: Renato Roscoe, Fábio
Martins Mercante, Júlio Cesar Salton. Dourados: Embrapa Agropecuária
Oeste, 2006.
304 p. : il. color. ; 21 cm.
ISBN 85-7540-014-2
© Embrapa 2006
Autores dos Capítulos
David V. de Campos
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Departamento de Solos,
BR 465, km 7, 23890-000 - Seropédica, RJ.
Fone: (21) 2682-1308, Fax: (21) 2682-1308
Eduardo de Sá Mendonça
Eng. Agrôn., Ph.D., Professor Adjunto da
Universidade Federal de Viçosa,
Departamento de Solos,
Avenida P. H. Rolfs s/n - Campus UFV, 36571-000, Viçosa, MG.
Fone: (31) 3899-1047, Fax: (31) 3899-2648
E-mail: esm@.ufv.br.
Mariangela Hungria
Eng. Agrôn., Pesquisadora, Dra.,
Embrapa Soja,
Caixa Postal 231, 86001-970 - Londrina, PR.
Fone: (43) 3371-6000, Fax (43) 3371-6100
E-mail: hungria@cnpso.embrapa.br
Marx Leandro Naves Silva
Eng. Agrôn., Dr.,
Universidade Federal de Lavras,
Departamento de Ciência do Solo, UFLA-DCS.
Caixa Postal 3037, 37200-000 - Lavras, MG.
Telefone: (35) 3829-1122, Fax: (35) 3829-1100
E-mail: marx@ufla.br
Renato Roscoe
Eng. Agrôn., Pesquisador, Ph.D.,
Embrapa Agropecuária Oeste,
Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.
Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811
E-mail: roscoe@cpao.embrapa.br
Segundo Urquiaga
Eng. Agrôn., Pesquisador, Dr.,
Embrapa Agrobiologia,
Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropédica, RJ.
Fone: (21) 2682-1500, Fax: (21) 2682-1230
E-mail: urquiaga@cnpab.embrapa.br
Apresentação
Os Editores
Sumário
PARTE 1.
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em
Sistemas Conservacionistas:
Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas
Renato Roscoe
Robert Michael Boddey
Júlio Cesar Salton
Introdução
A importância da matéria orgânica do solo (MOS) para os diversos processos
físicos, químicos e biológicos é amplamente reconhecida na literatura. A MOS
desempenha diversas funções no ambiente, estando ligada a processos
fundamentais como a ciclagem e retenção de nutrientes, agregação do solo e
dinâmica da água, além de ser a fonte básica de energia para a atividade
biológica. Sua perda pode interferir drasticamente nesses processos,
dificultando o desempenho das funções do solo, provocando desequilíbrios no
sistema e, conseqüentemente, desencadeando o processo de degradação.
Água, CO2,
energia
macroagregados
fotossíntese
Matéria
Energia
MOS
transitória
MOS
po
Biota do solo
tem
MOS
CO2 oxidação humificada
energia decomposição níveis
microagregados
de
ordem
tempo
C plexos
Complexos
organo-minerais
água erosão
matéria lixiviação
o
energia
inte
Fração mineral temp
(areia, silte,argila)
mp e
rism
o
Sistema Solo Material matéria
de
origem
Como um sistema aberto, o solo interage com outros sistemas externos, como
as plantas e o clima (atmosfera e energia solar), conforme a Fig. 1. As plantas
são as responsáveis em transformar a energia luminosa do sol e a matéria
fornecida pela atmosfera na forma de CO2 e água (proveniente das chuvas,
mas que deve ser armazenada no solo para o seu aproveitamento pelas
plantas), em energia química e compostos orgânicos, através da fotossíntese.
O solo pode absorver diretamente energia solar, a qual é extremamente
importante para regulação da temperatura e o processo de evaporação.
Entretanto, a principal fonte de energia e matéria para a biota do sistema solo
vem da deposição de resíduos de plantas e animais e de exsudatos
radiculares (Roscoe, 2005). Os diversos resíduos que entram no solo são
gradativamente transformados em MOS, podendo interagir com a fração
mineral no processo de agregação do solo. Em uma primeira etapa, ocorre a
interação da fração mineral com MOS humificada, formando complexos
organo-minerais. Em uma segunda fase, com a inclusão de mais MOS
humificada e parte de MOS transitória, há a formação de microagregados.
Finalmente, os últimos são unidos uns aos outros, formando
macroagregados. A energia necessária para a formação desses agregados
maiores vem, sobretudo, do crescimento de raízes e hifas fúngicas e da ação
mecânica de organismos da macrofauna (formação de túneis, retrabalho em
mandíbulas e trato intestinal), sendo que a estabilização, por sua vez, é
promovida por MOS transitória (principalmente polissacarídeos). Nessa
reação em cadeia tem-se, como resultado, o incremento no grau de
ordenação do solo e de complexidade das relações no Sistema Solo; tal
processo possibilita o surgimento de propriedades emergentes, que conferem
maior capacidade ao sistema resistir a perturbações, como melhor infiltração
e armazenamento de água, maior aeração, menor resistência ao crescimento
de raízes, melhores condições para o desenvolvimento da biota do solo e das
próprias plantas (Bayer, 2004). O processo de ordenação do solo depende
diretamente da atividade biológica, a qual é a responsável por intermediar o
fluxo de energia e matéria no sistema, a partir da transformação dos resíduos
orgânicos.
Manejo inadequado do
agro-
agro-ecossistema Monocultivo
Solo descoberto
Uso de grades de discos
Redução da MO transitória
(MOP ou MO leve)
Redução da Menor atividade Desagregação e
CTC biológica dispersão do solo
Redução da MO humificada
(MO em COM ou pesada)
Selamento Aumento no arraste
Redução da estabilidade superficial de partículas
Menor formação dos agregados
de agregados
Redução da
Redução da infiltração
permeabilidade e
aeração
Maior Erosão
Perda de escorrimento
nutrientes superficial
Perda de água
MOS com o cultivo convencional. Freitas et al. (2000) não registraram perdas
de MOS após 25 anos de cultivo de culturas diversas (hortaliças, arroz, milho e
feijão), em um Latossolo Vermelho distrófico. Roscoe & Buurman (2003),
também em um Latossolo Vermelho distófico muito argiloso, observaram
estoques de carbono similares em áreas sob vegetação nativa de cerrado
sensu-stricto e cultivadas com milho e feijão em sucessão por 30 anos. A alta
estabilidade da matéria orgânica em Latossolos muito argilosos vem sendo
atribuída à presença de altos teores de oxi-hidróxidos de ferro e alumínio, que
complexariam a MOS, estabilizando-a (Resende et al., 1997; Roscoe et al.,
26 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
2000a). Isso pode ser evidenciado pelas altas percentagens de C nas frações
pesadas (densidade > 1,7 g cm-3), aquelas representadas pela MOS ligada à
matriz mineral (Gregorich & Ellert, 1993). Geralmente, em torno de 90% do C
encontra-se nesta fração em Latossolos argilosos (Roscoe et al., 2001;
Roscoe & Machado, 2002).
120
110
100
90
80
70
60
0
L-PC L-PD S4P4 S1P3 S2P2 PP PP + L
Produção de fitomassa/Fluxo de energia
Considerações Finais
O cultivo convencional promove uma significativa perturbação na dinâmica e
no desempenho das funções da MOS, podendo reduzir os seus teores totais
ou, como em solos argilosos ricos em oxi-hidróxidos de Fe e Al, somente de
algumas de suas frações mais dinâmicas, como a leve-livre ou particulada e a
biomassa microbiana. Tal perturbação pode desencadear o processo de
degradação e de perda da qualidade do solo.
Referências
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38 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
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western Brazilian Amazon basin. Soil Biology and Biochemistry, Oxford,
v. 27, p. 1167-1175, 1995.
Renato Roscoe
Introdução
As mudanças no ambiente causadas pelas atividades humanas têm
provocado sérios problemas ambientais, como a redução da biodiversidade e
a degradação do solo e da água. Mais recentemente, com o avanço dos
conhecimentos científicos, pesquisadores começaram a perceber que a
atividade humana tem afetado, ainda, a atmosfera. Estudos iniciados no final
da década de 70 e intensificados nos últimos 20 anos acumularam evidências
de que o homem vem causando alterações significativas na composição da
atmosfera, emitindo quantidades crescentes de gases causadores de efeito
estufa (GEE). O aumento da temperatura na superfície terrestre está
associado à elevação da concentração destes gases, o que gera alterações
significativas no clima do planeta.
Dentre os GEEs emitidos pelas atividades antropogênicas, o gás carbônico é
responsável por cerca de 70% do potencial de elevação da temperatura
terrestre. Nos últimos 250 anos, a concentração de CO2 na atmosfera
aumentou 31%, alcançando os atuais 366 ppm, mais alto nível observado nos
últimos 420 mil anos (Watson et al. , 2001).
O carbono emitido pelo homem vem, sobretudo, da queima de combustíveis
fósseis e da mudança no uso da terra. O petróleo, carvão mineral e gás natural
representam a base da produção de energia na sociedade atual, respondendo
por dois terços de toda a energia consumida mundialmente. Por essa razão,
as emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis
atingiram valores quatro vezes superiores à quantidade emitida pela mudança
no uso da terra, nas últimas duas décadas. Não obstante, ao longo da história
da humanidade, a substituição de florestas por pastagens ou culturas anuais
foi responsável por grandes reduções nos estoques de carbono nos
ecossistemas terrestres, ao longo da história da espécie humana. Como as
mudanças na matriz energética têm um custo econômico extremamente
elevado, acredita-se que a recuperação dos estoques de carbono em
ecossistemas terrestres, que sofreram perda ao longo de sua história de
utilização, possa mitigar os efeitos das atividades humanas, re-absorvendo
carbono no solo e na vegetação. Adotando-se estratégias conservacionistas,
os ecossistemas terrestres poderiam armazenar o excesso de carbono
emitido para a obtenção de energia, permitindo o desenvolvimento
tecnológico e a substituição da matriz energética por fontes renováveis.
46 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
(1)
Solos alcalinos também podem fixar pequenas quantidades de CO2 atmosférico na forma de
carbonatos. Porém este processo restringe-se a solos de regiões semi-áridas e tem uma
contribuição irrisória quando comparado à fotossíntese.
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 47
Atmosfera
-1
760 Gt
< 0,1 Gt ano
+ 6,3 Gt ano-1
- 2,3 Gt ano-1
- 2,3 Gt ano-1
+ 1,6 Gt ano-1
Ecossistemas Oceanos
Terrestres Águas Superficiais 700 Gt
2.000 Gt (Solos)
500 Gt (Biomassa) Águas Profundas
38.000 Gt
Combustíveis
Fósseis 0,2 Gt ano-1
5.000 Gt Sedimentos/Litosfera
66.000.000 Gt
outra parte para os diferentes níveis tróficos, terminando, finalmente, por ser
consumido pelo processo de decomposição, no qual, parte do carbono
acumula-se no solo, formando a matéria orgânica do solo (MOS). A MOS é
também decomposta, porém em taxas bastante lentas, o que permite que este
seja um importante reservatório de C nos sistemas terrestres. Por essa razão,
calcula-se que as quantidades de carbono armazenadas nos solos sejam
quatro vezes superiores às encontradas na vegetação (Watson et al., 2000).
O tempo de permanência do C nestes reservatórios terrestres varia entre dias
a alguns poucos milhares de anos (Wigley & Schimel, 2000).
48 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Nos oceanos, o CO2 pode seguir duas rotas principais, a orgânica, na qual é
fixado pela fotossíntese de algas, e a mineral, na qual se dissolve na forma de
ácido carbônico, com posterior precipitação de carbonatos. O C fixado na
forma orgânica segue a mesma rota daquele dos ecossistemas terrestres,
passando por diferentes níveis tróficos, sendo parcialmente perdido por
respiração e decomposição, em um ciclo relativamente rápido. Parte deste C
orgânico e, principalmente, os carbonatos (inorgânicos) vão sendo
lentamente acumulados no fundo dos oceanos, formando depósitos
sedimentares. Em condições naturais, o retorno para a atmosfera do carbono
aprisionado neste reservatório sedimentar ocorre somente através de
emissões vulcânicas e hidrotérmicas, o que leva em média 400 milhões de
anos (Schlesinger, 1997).
Balanço de Carbono
As emissões atuais de carbono para a atmosfera sofrem grande interferência
da atividade antrópica. Os maiores fluxos são decorrentes da queima de
combustíveis fósseis e da utilização de rochas carbonatadas para a produção
de cimento. A queima de combustíveis fósseis se refere à utilização de
petróleo, carvão e gás natural. Nas últimas duas décadas, a queima de
combustíveis fósseis e produção de cimento contribuíram com,
aproximadamente, 75% das emissões antropogênicas (Fig. 1), ou seja,
6,3 ± 0,6 Gt C ano-1 (Watson et al., 2001). O restante, 1,6 ± 0,8 Gt C ano-1, vem
da mudança no uso da terra, principalmente em função do desmatamento em
regiões tropicais (Watson et al., 2001).
Fazendo um balanço das emissões nos últimos 150 anos, observa-se que as
emissões devido a mudanças no uso da terra (136 ± 55 Gt C) foram, quase
que totalmente, equilibradas por processos de reabsorção pelos próprios
ecossistemas terrestres (Watson et al., 2000). Por outro lado, a queima de
combustíveis fósseis e produção de cimento emitiu o dobro (270 ± 30 Gt C)
para a atmosfera. Deste total, os oceanos conseguiram absorver cerca de um
terço, sendo o restante acumulado na atmosfera, elevando as concentreções
de CO2 de 285 ppm, antes da Revolução Industrial, para os 366 ppm atuais
(Watson et al., 2000).
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 49
Mitigando as Emissões
Na últimas duas décadas, os ecossistemas terrestres vêm funcionando como
um dreno de carbono tão eficiente quanto os oceanos, em termos
quantitativos (Watson et al., 2000), o que vem sendo atribuído,
principalmente, ao crescimento de florestas em altas latitudes (Sarmiento,
2000). Entretanto, as respostas destes ecossistemas a alterações no clima
podem afetar significativamente o seu potencial de seqüestro de C no próximo
século (Sarmiento et al., 1998; Sarmiento, 2000; Cox et al., 2000).
Mecanismos de feedback positivos e negativos estarão atuando neste
processo em função das mudanças climáticas globais (Sarmiento et al., 1998;
Sarmiento, 2000; Cox et al. 2000). O aumento da taxa de decomposição da
matéria orgânica do solo, em resposta a uma elevação da temperatura média
global, constitui o principal mecanismo favorável ao incremento das
emissões. Por outro lado, a “fertilização com CO2” aumentaria a taxa
fotossintética, favorecendo o seqüestro de carbono pelas vegetações. A
magnitude destes feedbacks foi testada por Cox et al. (2000) em uma série de
simulações nas quais os autores consideram as emissões do cenário IS92a
do IPCC (“business-as-usual”) e a ausência de políticas estimuladoras do
seqüestro de carbono em ecossistemas terrestres. Segundo os autores, os
ecossistemas terrestres funcionarão como um dreno de carbono até meados
do próximo século, quando, então, o processo de fertilização de CO2
alcançará um ponto de saturação. A partir daí, o aumento na taxa de
decomposição da MOS será o processo dominante e os ecossistemas
terrestres passarão a se comportar como uma fonte de CO2 para a atmosfera.
No balanço final, os biomas terrestres emitirão em torno de 170 Gt de carbono
entre 2000-2100.
Aumento no estoque de C
Cenários -1
(Gt C ano ) (Gt C em 25 anos)
A) Recuperação de toda a área degradada,
1,29 32,2
independentemente do uso/cobertura
B) Recuperação de toda a área degradada,
excluindo regiões áridas, boreais e 0,93 23,4
polares
C) Recuperação de áreas degradadas na
0,41 10,2
agricultura somente
D) Recuperação de áreas degradadas, na
agricultura, pastagens extensivas e 0,52 13,0
florestas secundárias
E) Melhor manejo de áreas a grícolas não
0,17 4,3
degradadas
F) Melhor manejo de áreas não degradadas
na agricultura, pastagens extensivas e 0,28 6,9
florestas secundárias
Tabela 2. Perda (-) e ganho (+) de C orgânico total (expressa em CO2) durante
13 anos, em um Argissolo vermelho, em função do sistema de cultivo (PC =
plantio convencional; PD=plantio direto) e do sistema de sucessão/rotação de
culturas (A = aveia; V = ervilhaca; M = milho; e C = caupi), fertilizados com
180 kg de N ha-1 ano-1.
Tratamentos COT
Diferença Saldo de CO2
Preparos Culturas Inicial 13o ano
-
------------------------------ Mg ha 1 ------------------------------
A/M 32,5 29,9 -2,7 -9,7
PC A+V/M 32,5 31,5 -1,1 -3,9
A+V/M+C 32,5 31,8 -0,8 -2,8
PC A/M
PD A+V/M+C
COT 0-17,5 cm (Mg ha-1)
36
33
30
27
0 2 4 6 8 10 12 14
Anos
Fig. 2. Estoque de C orgânico na camada de 0-17,5 cm de um Argissolo, submetido ao
sistema convencional com aveia/milho (PC A/M) e ao SPD com
aveia+ervilhaca/milho+caupi (PD A+V/M+C).
Fonte: Bayer et al. (2001).
(2)
O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional no qual países do Anexo I da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre o Clima assumiram reduzir em média 5% de suas emissões
de gases causadores de efeito estufa, em relação aos níveis de 1990, no período entre 2008-
2012 (www.forumclimabr.org.br).
54 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
(3)
O retorno financeiro de atividades sequestradoras de carbono está relacionado com a
economia gerada pela não necessidade de se reduzir o crescimento na produção industrial
e/ou investir em fontes alternativas de energia (e.g. energia solar), as quais apresentam, em
geral, custos mais elevados (Subak, 2000).
Seqüestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilização 55
Considerações Finais
Embora o Protocolo de Kyoto não considere a fixação de carbono no solo
como um mecanismo mitigador das emissões, existe um grande potencial
para esse mecanismo. Com isso, acordos bilaterais vêm sendo assinados,
mesmo em paralelo ao Protocolo, com o objetivo de promover a fixação de
carbono no solo pelo sistema plantio direto (SPD). A efetiva inclusão deste
mecanismo em tratados internacionais depende, ainda, de refinamento
metodológico nas estimativas dos inventários nacionais.
Avanços em modelagem matemática e simulação da dinâmica da matéria
orgânica do solo em ambientes tropicais e subtropicais são ainda necessários
para se acessar, com maior segurança, os potenciais do SPD em retirar
carbono da atmosfera. Atualmente têm-se taxas anuais de fixação de carbono
em poucos experimentos pontuais, impedindo uma extrapolação segura para
outras áreas. Uma vez adaptados simuladores mais eficientes para as
condição tropicais e subtropicais, as extrapolações podem ser ponderadas
em função de variáveis que distinguem as condições experimentais das áreas
a serem simuladas. Além dos ganhos em relação à precisão dos inventários,
vale ressaltar que simulações mais próximas da realidade subsidiariam a
seleção de sistemas de sucessão/rotação de culturas mais adequadas ao
SPD, de forma a maximizar os outros benefícios gerados pela MOS. Isso
implicaria em ganhos de produtividade e maior eficiência no uso de
fertilizantes, reduzindo a necessidade de abertura de novas áreas e o
consumo de energia para produção dos insumos.
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Introdução
Nas últimas décadas, os sistemas agrícolas de produção dominantes visavam
principalmente o aumento de produtividade, lucro e maior competitividade. No
entanto, percebeu-se ao longo do tempo que esses sistemas de produção
estavam causando a exploração indevida do meio ambiente e, portanto, a
degradação dos ecossistemas, como, por exemplo, degradação dos solos e
poluição dos recursos hídricos por pesticidas, fertilizantes e resíduos
orgânicos oriundos das atividades agropecuárias. Os possíveis riscos na
qualidade de vida de gerações futuras provenientes desses sistemas
agrícolas de produção passaram a ser considerados. Diante dessa realidade,
iniciou-se um novo modelo de desenvolvimento agrícola, baseado no
princípio da sustentabilidade. Por agricultura sustentável entende-se “o
manejo e conservação dos recursos naturais e a orientação de mudanças
tecnológicas e institucionais que assegurem a satisfação das necessidades
humanas para a presente e futuras gerações. É uma agricultura que conserva
o solo, a água e recursos genéticos animais, vegetais e microrganismos, não
degrada o meio ambiente e é tecnicamente apropriada, economicamente
viável e socialmente aceitável” (Kitamura, 2002). Diante do novo paradigma
de agricultura sustentável, enfatiza-se a importância da crescente relação
agricultura/homem/meio ambiente. Com intuito de assegurar a
sustentabilidade nessa relação é necessário o conhecimento dos fatores e
processos que regem essas relações e, portanto, a necessidade de se
visualizar o sistema estudado de forma holística. No entanto, dois problemas
surgem quando tentamos a visualização holística de um sistema: (i) sua
complexidade devido ao grande número de processos e mecanismos
envolvidos e (ii) a visão reducionista por parte dos pesquisadores, que na sua
maioria estuda os processos e mecanismos de forma isolada e com
interesses específicos. Provavelmente, este último problema esteja
relacionado à ausência de uma equipe multidisciplinar para se estudar todo o
sistema de forma integrada. Como conseqüência, conclusões bastante
simplistas são obtidas de estudos onde se tem uma visão reducionista do
problema estudado. A modelagem matemática e a simulação de sistemas,
como ferramentas dentro da pesquisa agropecuária possibilitam a integração
e organização do conhecimento sobre os processos que compõem um
sistema a ser estudado permitindo conclusões mais completas e confiáveis. A
modelagem matemática e a simulação de sistemas permitem que se evolua
para um estágio de desenvolvimento metodológico mais avançado, onde se
66 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Terminologia
Sistema = conjunto estruturado de atributos que descrevem as principais
características de um problema e/ou situação real a ser estudada, bem como
as relações de dependência entre esses atributos. De uma maneira mais
simplista, pode ser definido como uma parte limitada da realidade que contém
elementos inter-relacionados (De Wit, 1993).
68 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
K 1 S (1)
t z z
Precipitação
Transpiração
Evaporação
Infiltração
s r
r (2)
1 n 11 n
Comportamento da
matéria orgânica do
solo em nível de campo Nível a ser explicado
Dados de
clima,solo Modelo explanatório Modelo explanatório
e culturas
Comportamento da
matéria orgânica nos
agregados do solo Nível explicativo
Modelo conceitual
Modelo(s) matemático(s)
Dados de
Programa de computador
entrada
Conclusões
Diante da necessidade de se obter conclusões mais completas e confiáveis
dos problemas estudados, utilizando-se de recursos financeiros, cada vez
mais escassos para pesquisa científica, a ferramenta modelagem matemática
e simulação de sistemas, tem exercido um papel fundamental na integração
do conhecimento de forma organizada e gerando informações rápidas com
baixo custo. Embora ainda não seja uma ferramenta bastante difundida na
pesquisa agropecuária brasileira, pesquisadores têm reconhecido o potencial
de utilização dessa ferramenta, bem como suas inúmeras vantagens quando
encarada de forma complementar à tradicional experimentação de laboratório
e campo. Um exemplo tem sido a utilização da modelagem matemática e
simulação, em estudos da dinâmica da matéria orgânica no solo, com o uso de
vários simuladores, tais como: RothC (Jenkinson, 1990), CANDY (Franko et
al., 1996), CENTURY (Parton et al., 1988) e DAISY (Hansen et al., 1991).
74 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Referências
BOESTEN, J. J. T. I. From laboratory to field: uses and limitations of pesticide
behaviour models for the soil/plant system. Weed Research, Oxford, v. 40,
p. 123-138, 2000.
VAN GENUCHTEN, M. Th. A closed form equation for predicting the hydraulic
conductivity of unsaturated soils. Soil Science Society of America Journal,
Madison, v. 44, p. 892-898, 1980.
Modelagem Matemática e
4
Simulação da Dinâmica da
Matéria Orgânica do Solo
Eduardo de Sá Mendonça
Luiz Fernando Carvalho Leite
Introdução
O solo é considerado um sistema vivo e dinâmico, onde são encontrados
milhares de organismos e pequenos animais intimamente associados à
matéria orgânica, utilizando-a como fonte de energia e de nutrientes
necessários as biossínteses celulares, principalmente dos microrganismos. A
energia e os nutrientes disponíveis aos microrganismos são provenientes dos
resíduos vegetais e animais e estão contidos numa ampla variedade de
compostos orgânicos tais como carboidratos, lignina, proteínas, lipídios e
substâncias húmicas. Conseqüentemente, a fração orgânica do solo
representa um sistema complexo, constituído de diversas substâncias, sendo
sua dinâmica determinada pela incorporação de material vegetal e animal ao
solo e pela transformação destes, por meio da ação de distintos grupos de
microrganismos, de enzimas e da fauna do solo.
A dinâmica da matéria orgânica do solo (MOS) afeta diretamente a qualidade
e produtividade do solo e tem sido objeto de estudo desde o início da Ciência
do Solo. Com o aperfeiçoamento dos métodos experimentais, os
pesquisadores foram acumulando gradativamente informações importantes
sobre a dinâmica do C e do N do solo, o que aumentou a capacidade de
manejar a MOS. Simultaneamente, modelos conceituais, envolvendo os
processos relacionados à dinâmica da MOS, passaram a ser desenvolvidos.
Diversos pesquisadores enfocaram processos individuais, mas faltavam as
ferramentas e os conhecimentos necessários para compreender o complexo
ambiente solo de uma forma integrada. No entanto, os avanços observados
na tecnologia dos computadores, sensoriamento remoto, procedimentos de
amostragem e métodos analíticos de laboratório permitiram avanço
significativo no conhecimento dos processos de C e N e suas interações.
Os simuladores da dinâmica da MOS surgiram, inicialmente, considerando
um único compartimento, evoluindo posteriormente para modelos teóricos
mais complexos, com vários reservatórios e processos integrados.
Acoplaram-se simuladores de vegetação, fluxos de água e nutrientes no solo
e, mais recentemente, sistemas de informação geográficas, tornando-os mais
complexos e permitindo a universalização dos mesmos. Com isso, as
ferramentas passaram a não somente a ajudar no entendimento dos
processos e componentes que controlam a dinâmica da MOS e de seus
compartimentos em solos cultivados, mas também a realizar predições
acerca de efeitos de mudanças ambientais, testar cenários específicos e
desenvolver estratégias para mitigar os efeitos negativos dessas mudanças.
78 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Compartimentalização da
Matéria Orgânica do Solo
Definir a qualidade, disponibilidade e atividade dos nutrientes nos substratos
orgânicos em diferentes compartimentos do solo é a chave para entender e
descrever os processos de mineralização-imobilização dos nutrientes na
forma orgânica. Independente da forma orgânica do nutriente, a matéria
orgânica dos diferentes tipos de solos difere quanto à qualidade e habilidade
de suprir nutrientes às plantas. Assim, a tentativa de compartimentalizar a
MOS pode ser um bom instrumento para se compreender o seu potencial de
fornecimento de nutrientes. Com base em vários trabalhos, Duxbury et al.
(1989) sugeriram a organização da MOS em compartimentos protegidos e
não-protegidos (Tabela 1).
Os compartimentos não-protegidos BIO (biomassa microbiana) e LAB (lábil)
se caracterizam pela biomassa microbiana e pelos resíduos vegetais e
microbianos parcialmente decompostos e seus respectivos produtos de
transformação. O tamanho desses compartimentos está diretamente
relacionado com o aporte de material orgânico e sua taxa de decomposição. O
80 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
. PROTEGIDO
- Matéria orgânica
Mineralogia e textura do
quimicamente protegida 1.000 anos
solo (CI) (CP)
(proteção coloidal)
Sistemas de preparo do
- Matéria orgânica Dependente do manejo
solo, quebra de
fisicamente protegida do solo (resistência
agregados, textura do
(proteção estrutural) física)
solo (CP)
CA = Compartimento ativo - macroagregados; CI = Compartimento intermediário -
microagregados dentro de macroagregados; CP = Compartimento passivo - intra
microagregados.
Fonte: Adaptado de Duxbury et al. (1989).
Modelagem da Dinâmica da
Matéria Orgânica do Solo
Histórico
Um dos primeiros simuladores de dinâmica da MOS foi o desenvolvido a partir
do trabalho de mineralização potencial de Stanford & Smith (1972), embora
trabalhos mais antigos esboçassem os primeiros esforços de modelagem da
dinâmica da MOS, como os trabalhos de Jenny (1941), Henin & Dupuis (1945)
e Olson (1963). Entre as principais modificações ocorridas nos últimos 30
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 83
Aporte Atmosférico
Queda da
Lo –
liteira
L – Liteira sobre e K1
no solo Mineralização
K3 – Transformação
por microrganismos
Lixiviação
Fig. 1. Compartimentos e fluxos do simulador SOMM.
Fonte: Chertov & Komarov, (1996).
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 87
DPM
Aporte CO2
Decomposição
Orgânico
RPM BIO CO2
Decomposição
BIO
HUM Decomposição
HUM
IOM
Fm = 0.85 - 0.018 x LN
(1 - Fm) (1 - Fm) Fm
ESTRUTURAL ESTRUTURAL
METÁBOLICO METÁBOLICO
Lignina Celulose A Lignina Celulose A
K1 K2
LC A A K6
A CO2 LC
CO2 K5 K2 A
K1 CO2 0.55
0.6 LC
LC 0.3 CO2
CO2 CSA =
K4 0.55
CO2 MICROBIANO DA 0.6 (1 -CSP - 0.55)
A
0.3 SUPERFÍCIE ATIVO
K3 Tm = (1 - 0.75 x T)
CSA = (1 - CAP - CA L - F1) A
CO2
LENTO F1 = 0.85 - 0.68 x T)
C Al =
CO2 .
A
(H2O30/18) x (0.01 + 0.04 x TS )
0.55
L/N = Lignina / Nitrogênio K7
A = Fator de decomposiçãoabiótico
T = Conteúdosilte + argila CSP =0.003 - 0.009 x TC
CAP =0.003 + 0.032 x TC LIXIVIADO
TS = Conteúdo de areia
Tc = Conteúdo de argila
PASSIVO
Ls = Fração do Carbono Estrutural que é A
lignina CO2
K8
0.55
Lc = Exp(-3 x Ls)
H2O30 = água lixiviada na camada
abaixo de 30 cm
KL = Taxa de decomposição máxima
(ano -1)
Fm = Fração do resíduo metabólico
KI = 3.9, 4.8, 7.3, 6.0, 14.8, 18.5, 0.2,
0.0045 (ano -1)
O Simulador Century
Pressupostos
O Century, versão 5.0, foi desenvolvido com o objetivo de simular a dinâmica
de C e de nutrientes (N, P e S) e tem sido amplamente testado e aplicado em
diversos biomas naturais e cultivados, tipos de solos e climas (Falloon &
Smith, 2002). As principais variáveis de entrada do modelo são: temperatura
do ar, precipitação mensal, conteúdo de lignina do material vegetal, conteúdo
de N, P e S do material vegetal, textura do solo, aporte de N do solo e da
atmosfera e teor inicial de C, N, P e S nos diferentes compartimentos do solo.
O modelo contém vários submodelos, tais como, o submodelo de água, o
submodelo de produção vegetal e o submodelo de dinâmica da MOS.
O submodelo de MOS consiste de três compartimentos: a) ativo, que está
relacionado com os microrganismos e seus produtos, e que apresenta tempo
de reciclagem de um a cinco anos; b) intermediário ou lento, material
resistente de lignina e produtos microbianos estabilizados no solo, com tempo
de reciclagem de 20 a 40 anos; e c) passivo, associado à matéria orgânica
física e quimicamente protegida, com tempo de reciclagem de 200 a 500 anos.
Fig. 5. Simulação pelo modelo Century da dinâmica do nitrogênio total (NT) e dos
compartimentos de nitrogênio (N) em um Argissolo Vermelho-Amarelo, em
Viçosa,MG. PD: plantio direto; GPAD: grade pesada + arado de disco.
passivo - obtido por diferença. Leite et al. (2004): ativo - carbono na biomassa, determinado pelo método da irradiação-extração e fator de
correção de 0,33; lento - fração leve obtida a partir do fracionamento densimétrico, utilizando solução de NaI, densidade 1,8 g dm-3;
passivo - obtido por diferença.
97
98 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Considerações Finais
Os simuladores, especialmente o Century, têm sido considerados
ferramentas importantes para integrar o conhecimento acerca da dinâmica da
MOS. Em solos tropicais, o modelo Century tem sido pouco validado, embora
tenha demonstrado potencial para simular a dinâmica da matéria orgânica em
diversos agroecossistemas. Por outro lado, alguns ajustes são necessários
para aumento da acurácia do simulador, tais como a inclusão de novas
Modelagem Matemática e Simulação da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 101
Referências
ANDERSON, D. W. Processes of humus formation and transformation in soils
of the Canadian Great Plains. Journal of Soil Science, Oxford, v. 30, p. 77-84,
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datasets. Heidelberg: Springer-Verlag, 1996. p. 263-268. (NATO ASI. Series
I, 38).
SMITH, P.; FALLON, P.; COLEMAN, K.; SMITH, J.; PICCOLO, M.; CERRI, C.;
BERNOUX, M.; JENKINSON, D.; INGRAM, J.; SZABO, J.; PASZTOR, L.
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M.; FOLLET, R. F.; STEWART, B. A. (Ed.). Global climate change and
tropical soils. Boca Raton: CRC, 1999. p. 341-364. (Advances in Soil
Science).
Renato Roscoe
Beáta Emöke Madar
Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado
Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) compreende uma série de componentes,
com variado grau de complexidade e diversidade estrutural, podendo ou não
estar associada à matriz do solo ou mesmo protegida em locais inacessíveis à
microbiota (Hassink & Whitmore, 1997; Clapp & Hayes, 1999; Six et al., 2002).
Trata-se de um conjunto heterogêneo de materiais orgânicos, diferindo em
composição, grau de disponibilidade para a microbiota e função no ambiente
(Carter, 2001). Espera-se, portanto, que, em função dessa heterogeneidade,
diferentes compartimentos da MOS tenham dinâmicas distintas.
Simuladores da dinâmica da MOS levam em consideração tal complexidade e
heterogeneidade, considerando em sua estrutura reservatórios com tempo de
ciclagem diferentes (Jenkinson et al., 1991; Parton et al., 1987; Paustian,
2001). Entretanto, tais reservatórios são teóricos, não podendo ser
efetivamente mensuráveis (Christensen 2001; Arah & Gaunt, 2001; Gaunt et
al., 2001). Assim, não é possível a validação das simulações desses
reservatórios, o sendo, somente, para valores totais de MOS. Esta tem sido
considerada uma das maiores limitações dos atuais simuladores da dinâmica
da MOS (Arah & Gaunt, 2001; Gaunt et al., 2001).
Diversos autores têm demostrado que técnicas de fracionamento físico do
solo possibilitam a separação de matéria orgânica com diferente composição
e grau de associação com a matriz do solo (Christensen, 2001, Roscoe &
Machado, 2002). Essas frações parecem ser suficientemente distintas umas
das outras para que tenham diferente dinâmica no ambiente (Baldock et al.,
1992; Christensen, 2001; Gaunt et al., 2001). Isso implica em uma grande
possibilidade de utilizá-las como reservatórios modeláveis nos simuladores
da dinâmica da MOS (Gaunt et al., 2001).
Várias técnicas vêm sendo utilizadas para o fracionamento físico do solo em
estudos de MOS, faltando, no entanto, uma padronização de procedimentos
(Gregorich & Ellert, 1993; Roscoe & Machado, 2002), envolvendo gravimetria
e densimetria, separadamente ou em conjunto.
Existe forte tendência em se adotar métodos físicos para o fracionamento de
solo em estudos da MOS (Turchenek & Oades, 1979; Stevenson & Elliott,
1989; Balesdent et al., 1991; Gregorich & Ellert, 1993; Golchin et al., 1997;
Feller & Beare, 1997; Elliott & Cambardella, 1991; Cambardella, 1997;
Christensen, 1992, 1996, 2000; Six et al., 2002). Os métodos físicos são
110 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Agregados Secundários
Agregados Primários A
COM B
Tamanho Areia C
A
COM B
Tamanho Silte C
A
COM B
Tamanho Argila C
MONC-Oclusa A
B
MONC-Oclusa A
Solo B
MONC-Livre A
Em tal modelo, postula-se que a MOS pode estar complexada com a matriz
mineral, neste caso formando complexos organo-minerais (COM). Tais COM
representam o primeiro nível de organização das partículas minerais e
orgânicas do solo, comportando-se como a unidade estrutural básica. Os
COM podem se juntar uns aos outros, formando os agregados do solo, um
segundo nível hierárquico de organização das partículas. A matéria orgânica
não complexada, por sua vez, pode estar livre (MONC livre) ou ser protegida
no interior de agregados, quando é chamada de oclusa (MONC oclusa). Os
agregados podem ser primários ou secundários. Os primeiros seriam
agregados mais estáveis, sendo dificilmente afetados pelo manejo. Seriam
estabilizados por MOS altamente humificada e por óxidos e hidróxidos de Fe e
Al. Os agregados primários, por sua vez, se juntariam em agregados
secundários em um terceiro nível hierárquico de organização. Os secundários
seriam agregados mais frágeis e altamente dependentes do manejo, sendo
estabilizados por orgânicos transitórios no solo, como polissacarídeos e
gomas, produzidos pela microbiota. A MONC-oclusa poderia, portanto, estar
protegida dentro dos agregados primários ou dos secundários, apresentando
grau de proteção superior nos primários.
Por outro lado, e retornando às críticas de Oades & Waters (1991) ao modelo
hierárquico de formação e estabilização de agregados, os teores de óxidos
podem influenciar marcantemente a estrutura dos solos tropicais (Resende et
al., 1997; Ferreira et al. 1999). Os solos ricos em oxi-hidróxidos de Fe e Al
tendem a apresentar uma estrutura tipicamente granular em seu horizonte B
(Oliveira et al., 1992; Resende et al., 1997). Evidências confirmando tal
hipótese foram obtidas por Ferreira et al. (1999) ao demonstrar que a estrutura
de Latossolos da Região Sudeste do Brasil relaciona-se intimamente com a
mineralogia da fração argila. Enquanto solos com menores teores de óxidos
apresentaram estrutura em blocos no horizonte B, aqueles com elevados
teores apresentaram estrutura granular típica, com diâmetro médio inferior a
1 mm. Segundo o modelo de agregação proposto pelos autores, a MOS seria
um agente agregante secundário em relação aos óxidos em solos ricos nestes
minerais, sendo mais importante para solos com caráter caulinítico1. Os
óxidos seriam os principais responsáveis pela desorganização das partículas
de argila em escala microscópica, impedindo a orientação face-a-face dos
cristais de caulinita (Resende et al., 1997). Essa desorientação impediria a
formação de plasma denso, favorecendo o surgimento da estrutura granular
típica, depois de repetidos ciclos de umedecimento e secagem (Resende et
al., 1997). Entretanto, existem evidências de que tais estruturas podem ter
origem biogênica, uma vez que apresentam forte semelhança com coprólitos
de minhoca e estruturas retrabalhadas por cupins e formigas (Trapnell &
Webster, 1986; Jungerius et al., 1999). Embora maiores estudos sejam
(1)
Solos cauliníticos são solos que apresentam um Kr, relação molecular SiO2/(Al2O3 +
Fe2O3), maior que 0,75. Solos são ditos oxídicos quando o Kr é inferior a este valor
(Embrapa, 1999).
116 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Fig. 2. Procedimento de amostragem de agregados no campo utilizando peneira de 19 mm e permitindo, assim, melhor
representatividade da estrutura do solo. Os agregados que passam pela peneira 19 mm são transferidos para laboratório onde se
faz o peneiramento úmido para a obtenção das classes de agregados.
Fonte: Madari et al., 2003.
8 mm
4 mm
2 mm
macroagregados
1 mm
0,5 mm
0,25 mm
0,125 mm
microagregados
0,053 mm
Fig. 4. Fotos de agregados das classes de 4 a 8 mm (A), 1 a 2 mm (B) e 0,125 a 0,053 mm (C).
Fonte: Beáta Madari.
121
122 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
livre e leve oclusa podem ser conduzidos a partir de terra fina seca ao ar
(Gregorich & Ellert, 1993) ou a partir de frações de agregados provenientes de
fracionamentos granulométricos (Six et al., 1988). No primeiro caso, quando
se toma terra fina seca ao ar, considera-se somente a fração oclusa em
agregados menores que 2 mm (malha da peneira utilizada em procedimentos
padrão de análise de solo). Perde-se, portanto, informações sobre o material
ocluso em agregados maiores. Isso se torna crítico para Latossolos, pois as
estruturas menores que esse limite são, em sua grande maioria, as granulares
típicas desses solos. Como discutido anteriormente, tais estruturas são
extremamente estáveis e sofrem pouco com o manejo, o que sugere que o
carbono associado às mesmas constitua um único reservatório dinâmico,
independente de ser leve oclusa ou COM (Roscoe & Buurman, 2003; Roscoe
et al., 2004).
Fracionamentos que considerem o segundo nível de agregação, apresentado
na Fig. 1, necessariamente devem tomar amostras de solo intactas e não terra
fina seca ao ar. As amostras devem ser coletadas em blocos indeformados e
serem cuidadosamente destorroadas, passando em peneira de 19 mm ainda
com a umidade de campo. Uma vez no laboratório, as amostras devem ser
secas ao ar e então utilizada para peneiramento úmido ou seco, seguindo
metodologia para análise de estabilidade de agregados (Kemper & Rosenau,
1986). As diferentes classes de agregados obtidas passariam por
fracionamento densimétrico, separando o material livre e ocluso. Desta
maneira, seriam obtidas uma fração leve livre (somatório de todas as frações
leves livres separadas de cada classe de agregados), diversas frações leves
oclusas (o número seria função das classes de agregados consideradas) e a
fração pesada (somatório de todas as obtidas). O significado dinâmico das
frações oclusas em diferentes classes de tamanho de agregados ainda deve
ser comprovado. Essas frações seriam dinamicamente distintas, somente se
os processos de formação e estabilização desses agregados fossem
diferentes. Segundo o modelo descrito na Fig. 1, distinguir-se-iam dois
reservatórios de fração oclusa, um dentro dos agregados primários (ou
microagregados) e outro nos secundários (ou macroagregados).
Considerações Finais
A elucidação dos processos envolvendo a MOS e a agregação do solo poderia
ajudar em muito o entendimento da dinâmica da MOS, além de possibilitar o
refinamento de modelos conceituais, como o ilustrado na Fig. 1. Os diferentes
reservatórios dinâmicos, hipotetizados nesse modelo, poderiam ser utilizados
como compartimentos mensuráveis da MOS em modelos matemáticos
alternativos aos atualmente em uso (Arah & Gaunt, 2000; Gaunt et al., 2001).
Outra alternativa seria a inclusão de sub-rotinas envolvendo tais reservatórios
em modelos já existentes, como o Century.
Referências
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matter transformation models. In: REES, R. M.; CAMPBELL, C. D.; WATSON,
C. A. (Ed.). Sustainable management of soil organic matter. Wallingford:
CAB International, 2001. p. 83-89.
GAUNT, J. L.; SOHI, S. P.; YANG, H.; MAHIEU, N.; ARAH, J. R. M. A procedure
for isolating soil organic matter fractions suitable for modelling. In: REES, R.
M.; CAMPBELL, C. D.; WATSON, C. A. (Ed.). Sustainable management of
soil organic matter. Wallingford :CAB International, 2001. p. 90-95.
SIX, J.; ELLIOTT, E. T.; PAUSTIAN, K. Aggregate and soil organic matter
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America Journal, Madison, v. 63, p. 1350-1358, 1999a.
SIX, J.; ELLIOTT, E. T.; PAUSTIAN, K.; DORAN, J. W. Aggregation and soil
organic matter accumulation in cultivated and native grassland soils. Soil
Science Society of America Journal, Madison, v 62, p. 1367-1377, 1998.
SIX, J.; FELLER, C.; DENEF, K.; OGLE, S. M.; MORAES-SÁ, J. C.;
ALBERECHT, A. Soil organic matter, biota and aggregation in temperate and
tropical soils effects of no-tillage. Agronomie, Paris, v. 22, p. 755-775, 2002.
Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) tem grande influência sobre as
propriedades químicas e físicas dos solos tropicais e, por isso, é considerada
componente chave para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A
decomposição de resíduos vegetais e animais que chegam ao solo, que
podem contribuir para o acúmulo de matéria orgânica no solo, reúne
processos biológicos que são componentes essenciais do ciclo do C. Durante
o processo de decomposição destes resíduos orgânicos, alguns compostos
escapam da ação biológica através da interação com colóides minerais do
solo, ou pelas próprias características estruturais que lhes conferem
recalcitrância, e passam a formar o húmus ou a matéria orgânica coloidal do
solo. Assim, a qualidade e a quantidade dos resíduos orgânicos implicarão em
maior ou menor acumulação de MOS.
R -R
δ 13CPDB(‰) amostra PDB 1000 (1)
RPDB
onde R é a relação molar 13C/12C. Como a relação molar 13C/12C das plantas é
inferior a do PDB, o d 13CPDB das plantas é negativo.
Monocotyledoneae
Algae
Dicotyledoneae
Bryophyta, Gymnospermae
II
III
0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 80
80 - 100
Esta técnica já foi empregada com sucesso em vários estudos, tanto no clima
tropical como em regiões de clima temperado, para estudar a dinâmica de
carbono do solo a longo prazo, onde o padrão fotossintético da vegetação
original foi modificada (Balesdent & Mariotti, 1987; Martin et al., 1990;
Skjemstad et al., 1990; Jastrow et al., 1996).
No trabalho de Tarré et al. (2001), a matéria orgânica do solo sob floresta
recebeu, por um longo tempo, carbono enriquecido em 13C da pastagem
(aproximadamente -12 ‰) e teve sua composição isotópica modificada até
30 cm de profundidade (Fig. 3).
0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 80
80 - 100
Aplicando esta equação aos dados mostrados na Fig. 3, Tarré et al. (2001)
determinaram que após 9 anos do estabelecimento da pastagem de
B. humidicola, quase metade (44%) do C presente na camada 0-5 cm do solo
foi derivado da Brachiaria, mas em profundidades maiores de 40 cm, esta
contribuição foi desprezível (Fig. 4).
0-5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
C derivado da vegetação da floresta (C3)
60 - 80
C derivado da Brachiaria (C4)
80 - 100
0 5 10 15 20 25 30
-3
Conteúdo de C no solo (kg C m )
Num estudo utilizando essa técnica, Roscoe et al. (2000) mostraram como a
incidência de fogo na região do Cerrado, provocou um aumento na proporção
dos resíduos de gramíneas C4 no solo. Após 21 anos, o solo sob duas áreas
com crescente incidência de fogo não mostrou diferenças nos estoques de
MOS até 100 cm de profundidade, mas a abundância de 13C no perfil foi
radicalmente alterada em comparação com o Cerrado (sensu stricto) de baixa
incidência de fogo (Fig. 5). Utilizando a mesma técnica de cálculo empregada
por Tarré et al. (2001 - Equação 2), concluíram que mais de um terço do
estoque do C do solo (67,5 Mg ha-1) foi substituído por resíduos derivados de
gramíneas de C4.
13C (‰)
-28 -26 -24 -22 -20 -18
0
20
40
Cerrado 1
60 Cerrado 2
Cerrado 3
80
100
-28 -26 -24 -22 -20 -18
Fig. 5. Abundância natural de 13C (13C) do solo em três áreas adjacentes, sob
Cerrado sensu-stricto, após 21 anos com diferentes incidências de queimadas, Sete
Lagoas, MG. Área “Cerrado 1” e “Cerrado 2” sofreram poucas queimadas, e “Cerrado
3”, freqüentes queimadas.
Fonte: Adaptado de Roscoe et al. (2000).
144 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
13
C (‰)
-30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16 -14
0
10
15 Floresta
Pastagem 3 anos
Pastagem 5 anos
20
Pastagem 9 anos
Pastagem 13 anos
25 Pastagem 20 anos
30
-30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16 -14
Fig. 6. Abundância natural de 13C do solo sob a floresta e sob uma seqüência de
pastagens estabelecidas entre 3 e 20 anos num Latossolo Podzólico vermelho-
amarelho na Fazenda Nova Vida, Rondônia. Valores são médias de quatro repetições.
Fonte: Adaptada de Moraes et al. (1996).
3
k g C m- 2
0 5 10 15 20
Idade da pastagem (anos)
Fig. 7. Dinâmica do carbono total (Ctotal) do solo, do C derivado da floresta (Cdfl) e do
C derivado da pastagem de Brachiaria (Cdp) numa cronosseqüência de 20 anos num
Latossolo Podzólico vermelho-amarelho na Fazenda Nova Vida, Rondônia.
Fonte: Adaptado de Moraes et al. (1996).
146 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
40
20
0
mata pasto cana
Cobertura
Fig. 8. Estoque de carbono até a profundidade de 1,0 m, e quantidades derivadas da
vegetação da floresta (C-C3) e das culturas C4 (C-C4), em solo sob a cobertura de mata
secundária, sob pastagem de Brachiaria brizantha de 22 anos de idade e sob uma área
que foi de pastagem de B. decumbens por 10 anos seguida por cana-de-açúcar por
12 anos. Usina Alcon, Município de Conceição da Barra, ES. Valores são médias de
quatro repetições.
Fonte: Campos (2003).
148 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
1 13 13
C( g ) 13
%MOSl C( gl ) Cg ( Cl 13C( g ) ) (6)
Cl 13C g
13
C( gl )
-15,5‰ (na camada 0-30 cm) através da aplicação de técnica desenvolvida por
Balesdent et al. (1990). Como a rotação 1 foi constituída somente por culturas
do ciclo C3 (trigo e soja, abundância natural de 13C ~-28 ‰) foi possível calcular
o estoque do C (0-30 cm) no solo, derivado da vegetação nativa original.
Utilizando á técnica de Cadisch & Giller (1996) e empregando a suposição de
que a presença de outras culturas adicionais como milho (C4) ou ervilhaca e
aveia (C3) não teriam nenhum efeito na taxa de decomposição dessa MOS,
foram calculadas as quantidades de C no solo, derivadas de todas as culturas.
Nas rotações sob PD, os resultados suportam a suposição de Cadisch & Giller
(1996), mas foi evidente que, quando o solo foi revolvido nos tratamentos de
PC, houve um grande efeito da composição das culturas presentes na rotação,
sobre a taxa de decomposição da MOS derivada da vegetação nativa original.
A técnica de 13C tem ainda mais utilidade, em estudos do solo sob seqüências
de vegetação com diferentes ciclos fotossintéticos. Trabalhos pioneiros deste
tipo foram feitos no Brasil, em uma seqüência de floresta (C3) seguida por
cana-de-açúcar (C4), no Estado de São Paulo (Vitorello et al., 1989; Bonde et
al., 1992); em seqüências de floresta/mata seguida por pastagens de
Brachiaria (C4) na Amazônia (Feigl et al., 1995), na região dos Cerrados
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 151
Fração
Vegetação/
Profundidade Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
(<2 m) (2-20 m) (20 a 63 m) (63 a 200 m) (200-2000 um)
Floresta
0 - 6 cm -25,9 ± 0,6 -26,6 ± 0,1 -26,8 ± 0,2 -27,1 ± 0,2 -27,1 ± 0,2
6 - 12 cm -25,7 ± 0,1 -26,6 ± 0,2 -27,0 ± 0,5 -27,0 ± 0,7 -26,9 ± 0,9
Cana
(12 anos)
0 - 10 cm -24,8 ± 0,1 -23,9 ± 0,2 -24,1 ± 0,1 -22,9 ± 0,3 -21,3 ± 2,4
Cana
(50 anos)
0 - 10 cm -23,0 ± 0,2 -21,2 ± 0,2 -21,5 ± 0,1 -21,7 ± 0,1 -22,7 ± 1,0
Vegetação/ Fração
Profundidade Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
(<2 m) (2-20 m) (20 a 63 m) (63 a 200 m) (200-2000 mm)
Cana
(12 anos)
0 - 10 cm 61 37 36 7 17
Cana
(50 anos)
0 - 10 cm 51 28 32 6 10
Mg ha-1 ano-1
Leve livre 2,68 1,28 1,04 1,92 0,0336 20,6)(3) 0,0511 (13,6) (3)
Leve intra-
0,97 0,75 0,75 0,86 0,0117 (59,2) 0,0114 (60,8)
agregado
Areia 2,08 1,01 0,82 1,50 0,0328 (21,1) 0,0503 (13,8)
Silte 6,15 4,65 4,58 5,42 0,0127 (54,5) 0,0140 (49,5)
Argila 9,58 7,62 5,13 8,63 0,0104 (66,6) 0,0433 (16,0)
(1)
Constante de decomposição ´k´ do modelo simples exponencial (Olson, 1963).
(2)
Fracionamento física do solo seguindo o procedimento de Sohi et al. (2002).
(3) ½ ½
Valores em parênteses são meia vida (t ) do Cdfl na fração, onde t = ln(2)/k.
Médias de quatro repetições.
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo
No solo sobre a área de floresta, a abundância natural de 13C da fração leve era
típica de resíduos de vegetação C3, e mostrou poucos sinais de
enriquecimento em razão da sua decomposição (Fig. 9a). Normalmente, a
abundância natural do 13C no C associado às frações argila e silte é maior
(aproximadamente +2‰), por conter matéria orgânica mais humificada. No
entanto, surpreendentemente, a abundância de 13C do C associado à fração
areia do estudo em questão indicou conter um C mais humificado, em
comparação às demais frações, o que possivelmente seria explicado pelo fato
que grande parte desta fração consista de agregados de material que não
foram desintegrados pela ação do ultra-som.
13
C (‰)
-32 -30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16
0
A. Floresta
10
15
20
25
30
B. Brachiaria
5
10 F. leve
F. leve intra-
agregado
15
F. areia
20 F. silte
F. argila
25
30
C. Cana-de-açúcar
10
15
20
25
30
-32 -30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16
13
C (‰)
13
Fig. 9. Abundância natural de C das frações físicas do solo até 30 cm de profundidade
sob (A) floresta, (B) pastagem de Brachiaria brizantha de 22 anos de idade e (C) área
que foi de pastagem de B. decumbens por 10 anos seguida por cana-de-açúcar por 12
anos. Usina Alcon, Município de Conceição da Barra, ES. Valores são médias de
quatro repetições.
Fonte: Campos (2003).
156 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Conclusões
Os resultados apresentados neste trabalho mostram o poder da análise de
abundância natural de 13C no C total dos solos e em suas frações físicas, para
estudos da dinâmica do C em sistemas pastoris e agrícolas. O Brasil tem
muitos sítios onde a vegetação nativa (principalmente de sistema
fotossintético C3) foi substituída por espécies C4, o que permite a execução de
estudos para avaliar a dinâmica de resíduos orgânicos recentes no solo e a
Emprego do Isótopo Estável 13C para o Estudo da Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo 157
Referências
BALESDENT, J.; MARIOTTI, A. Natural 13C abundance as a tracer for studies
of soil organic matter dynamics. Soil Biology and Biochemistry, Oxford,
v. 19, p. 25-30, 1987.
BLAIR, N.; LEU, A.; MUÑOS, E.; OLSEN, J.; KWONG, E.; DEA MARAIS, D.
Carbon isotopic fractionation in heterotrophic microbial metabolism. Applied
and Environmental Microbiology, Washington, v. 50, p. 996-1001, 1985.
C E R R I , C . ; F E L L E R , C . ; B A L E S D E N T, J . ; V I C TO R I A , R . ;
PLENECASSEGNE, A. Application du traçage isotopique naturel en 13C, á
rédute de la dynamique de la matiére organique dans les sols. Comptes
Rendus de l'Academíe des Sciences, Paris, v. 11, p. 423-428, 1985.
FEIGL, B. J.; MELILLO, J.; CERRI, C. Changes in the origin and quality of soil
organic matter after pasture introduction in Rondônia (Brazil). Plant and Soil,
Dordrecht, v. 175, p. 21-29, 1995.
JUNK, G.; SVEC, H. J. The absolute abundance of the nitrogen isotopes in the
atmosphere and compressed gas from various sources. Geochimica et
Cosmochimica Acta, Elmsford, v. 14, p. 234-243, 1958.
LAL, R.; KIMBLE, J. M. Tropical ecosystems and the global C Cycle. In: LAL,
R.; KIMBLE, J. M.; STEWART, B. A. (Ed.). Global climate change and
tropical ecosystems. Boca Raton: CRC Press, 2000. p. 3-32. (Advances in
Soil Science).
SMITH, B. N.; EPSTEIN, S. Two categories of 13C/12C ratios for higher plants.
Plant Physiology, Rockville, v. 47, p. 380-384, 1971.
SOHI, S. P.; MAHIEU, N.; ARAH, J. R. M.; POWLSON, D. S.; MADARI, B.;
GAUNT, J. L. A procedure for isolating soil organic matter fractions suitable for
modeling. Soil Science Society of America Journal, Madison, v. 65, p. 1121-
1128, 2001.
Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) apresenta diversos compartimentos
funcionais, dos quais a biomassa microbiana, juntamente com a meso e
macrofauna, constituem a parte viva. Sua atividade regula o fluxo de matéria e
energia entre os diversos compartimentos da MOS (Capítulo 1), sendo
responsável pelo processo de decomposição dos resíduos, mineralizando
parte dos mesmos, além de transformar, sintetizar e modificar moléculas mais
recalcitrantes, formando a fração húmica do solo (humificação).
A biomassa microbiana do solo (BMS) representa o reservatório mais ativo da
MOS, atuando diretamente no balanço de nutrientes, particularmente para o
N, P e S. Através de sua atividade metabólica atua na liberação dos nutrientes
presentes nos resíduos orgânicos, disponibilizando-os para as plantas e
podendo desempenhar, ainda, o papel de reservatório temporário. O balanço
entre mineralização e imobilização de nutrientes pela BMS define não
somente o sincronismo no processo de liberação dos elementos para as
plantas, mas também atua na regulação de processos de perda dos mesmos
no sistema solo.
Os diversos sistemas de uso da terra afetam, de forma diferenciada, a
biomassa microbiana, o que pode intensificar ou retardar processos de
decomposição, mineralização e humificação no solo. Tais processos regulam
a expressão de propriedades emergentes importantes, como a formação e
estabilização de agregação, formação do sistema poroso, fluxo de nutrientes,
manutenção da diversidade, simbioses e antagonismos.
Tabela 1. Carbono orgânico total (CO total), biomassa microbiana do solo (BMS) e quociente microbiano (qMIC), sob diferentes
vegetações nativas do Brasil.
(2004).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos para padronizar os dados, utilizando-se o fator de correção do C respirado durante o período de
incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de 1,10 (=0,45/0,41) para Feigl et al. (1995),
Geraldes et al. (1995) e Mendes & Vivaldi (2001).
169
170
Tabela 2. Carbono orgânico total (CO total), biomassa microbiana do solo (BMS), e quociente microbiano
(qMIC), em solos sob pastagens cultivadas, em diferentes regiões do Brasil.
Floresta Amazônica
Brachiaria humidicola, 8 anos (Manaus, AM) 30 107 572 1,1 Pfenning et al. (1992)
Brachiaria humidicola, 10 anos (Capitão Poço, 16 93 472 1,8 “
PA)
Panicum maximum e Brachiaria humidicola, 30 168 561 1,1 Geraldes et al. (1995)
15 anos (Paragominas, PA)
Panicum maximum, 10 anos (Paragominas, 24 340 328 1,4 “
PA)
Panicum maximum e Brachiaria brizantha , 4 27 623 739 2,5 “
anos (Paragominas, PA)
Cerrado
Andropogon sp. + Stylosanthes sp. 19 498 310 2,1 Oliveira et al. (2001)
(Planaltina, DF)
Brachiaria decumbens degradada 19 87 - 0,5 Oliveira et al. (2004)
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 2 anos 16 198 - 1,2 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 4 anos 21 147 - 0,7 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria brizantha recuperada 7 anos 19 125 - 0,7 “
(Piracanjuba, GO)
Brachiaria decumbens - regime extensivo 19 500 - 2,6 D’Andréa et al. (2002)
(Morrinhos, GO)
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Continua...
Continuação da Tabela 2.
Vegetação/Local CO total BMS - CFE1,2 BMS - CFI1,3 qMIC Referência
Panicum maximum , 20 anos (Paulo de 23 345 - 1,5 Marchiori -Júnior & Melo
Faria, SP) (1999)
Panicum maximum + Brachiaria 19 382 - 2,0 “
decumbens , 25 anos (Paulo de Faria,
SP)
Predominância da Brachiaria sp. Média de 15 66 - 0,4 F.M. Mercante (dados não
10 pastagens degrada das (Bacia do Alto publicados)
Taquari, MS)
Brachiaria decumbens, bem manejada, 9 17 216 - 1,3 Mercante et al. (2004a)
anos, média de 8 épocas - (Dourados,
MS)
Região Semi-Árida
Brachiaria spp. - Ubajara - CE 10 116 - 1,2 Xavier et al. (2006)
1
Biomassa microbiana do solo na profundidade de 0-5 cm (Pfenning et al., 1992; Oliveira et al., 2001; Xavier et al., 2006) e de
0-10 cm (Geraldes et al., 1995; Marchiori-Júnior & Melo, 1999; D'Andréa et al., 2002; Oliveira et al., 2004; Mercante et al., 2004a, F.M. Mercante,
dados não publicados).
2
Os valores de BMS-CFE foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para a eficiência de
extração, kec = 0,40. Os fatores de correção foram de 0,75 (=0,30/0,40) para os resultados de D'Andréa et al. (2002); 0,825 (=0,33/0,40), para
Geraldes et al. (1995), Mercante et al. (2004 a), F.M. Mercante (dados não publicados); e de 0,875 (=0,35/0,40) para Oliveira et al. (2001); e 0,95 9
=0,38/0,40), para Marchiori-Júnior & Melo (1999), Oliveira et al. (2004) e Xavier et al. (2006).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para o fator de
correção do C respirado durante o período de incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica
CO BMS - BMS -
Vegetação/Local qMIC Referência
total CFE1,2 CFI1,3
-1 -1
(g kg ) (mg C kg de solo) (%)
Floresta Amazônica
Frutíferas - Manaus, AM 12 208 154 1,5 Pfenning et al. (1992)
Culturas perenes - Manaus, AM 14 166 167 1,2 “
Culturas anuais - Manaus, AM 12 269 343 2,6 “
Culturas perenes - Cupuaçu - Manaus, AM 24 567 - 2,4 Moreira & Malavolta
(2004)
Mata Atlântica
Hortaliças - Itaguaí,RJ 8 99 113 1,3 Gama-Rodrigues et al.
(1994)
Cerrado
Culturas anuais - 9 anos (Planaltina, DF) 17 256 224 1,4 Oliveira et al. (2001)
Culturas anuais - plantio convencional - 10 a 15 anos 16 195 - 1,2 D’Andréa et al. (2002)
(Morrinhos, GO)
Culturas anuais - plantio direto - 4 a 5 anos (Morrinhos, 19 322 - 1,7 “
GO)
Culturas anuais - plantio direto a 20 anos (Selvíria, MS) 17 84 - 0,5 Garcia et al. (2004)
Culturas anuais - plantio convencional a 10 anos (Paulo 16 136 - 0,9 Marchiori-Júnior & Melo
de Faria, SP) (1999)
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Culturas anuais - plantio direto - 77 locais na Bacia do 30 115 - 0,4 F.M. Mercante (dados
Alto Taquari, MS não publicados)
Continua...
Continuação da Tabela 3.
CO BMS - BMS -
Vegetação/Local qMIC Referência
total CFE1,2 CFI1,3
-1 -1
(g kg ) (mg C kg de solo) (%)
Culturas anuais - plantio convencional - 8 anos 16 157 - 1,0 Mercante et al. (2004a)
(Dourados,MS)
Culturas anuais - plantio direto - 8 anos (Dourados,MS) 16 191 - 1,2 “
Integração lavoura pecuária - plantio direto 2 anos + 2 15 179 - 1,2 “
anos pastagem - 8 anos (Dourados,MS)
Mandioca plantio convencional (Glória de Dourados, 3 46 - 1,5 Mercante et al. (2004b)
MS)
Mandioca plantio em palhada (Glória de Dourados, MS) 3 60 - 2,0 “
Culturas anuais - Dom Aquino, MT 13 - 97 0,7 Matsuoka et al. (2003)
Cultura da videira - Dom Aquino, MT 17 - 128 0,8 “
Culturas anuais - Convencional - Planaltina, DF 23 - 122 0,5 Mendes et al. (2003)
Culturas anuais - Plantio Direto - Planaltina, DF 33 - 209 0,6 “
Região Sul
Culturas anuais - Convencional - Londrina, PR 21 491 - 2,3 Nogueira et al. (2006)
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 24 591 - 2,5 “
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 22 - 49 0,2 Cattelan et al. (1997a)
Culturas anuais - Plantio Direto - Londrina, PR 18 - 33 - 173 0,2 - Cattelan et al. (1997b)
0,9
Culturas anuais - Convencional - Londrina, PR 18 - 20 - 170 0,1 - “
0,9
Culturas anuais - Eldorado do Sul, RS 16 - 38 0,2 Cattelan & Vidor (1990)
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica
Culturas anuais - Convencional - solos de várzea - 13 170 - 1,3 Santos et al. (2004)
Capão do Leão, RS
Culturas anuais - Plantio Direto - solos de várzea - 13 298 - 2,3 “
Capão do Leão, RS
Culturas anuais - Convencional - Eldorado do Sul, RS - - 157 - Vargas et al. (2004)
Culturas anuais - Plantio Direto - Eldorado do Sul, RS - - 292 - “
Região Semi-Árida
Culturas perenes - Ubajara, CE 10 89 - 0,9 Xavier et al. (2006)
Culturas anuais - Ubajara, CE 8 76 - 1,0 “
Culturas anuais sob irrigação - Chapada do Apoti, CE 12 231 - 1,9 Fialho et al. (2005)
1
Biomassa microbiana do solo, na profundidade de 0-5 cm (Cattelan & Vidor, 1990; Pfenning et al., 1992; Gama-Rodrigues et al., 1994; Oliveira et
al., 2001; Matsuoka et al., 2003; Mendes et al., 2003; Santos et al., 2004; Vargas et al., 2004; Fialho et al., 2005; Xavier et al., 2006), de 0 - 8 cm
(Cattelan et al., 1997a,b), de 0-10 cm (Marchiori-Júnior & Melo, 1999; D'Andréa et al., 2002; Garcia et al., 2004; Moreira & Malavolta, 2004;
Mercante et al., 2004a,b; Nogueira et al., 2006; F.M. Mercante, dados não publicados); e de 0 -15 cm (Balota et al., 1998).
2
Os valores de BMS-CFE foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para a eficiência
de extração, kec = 0,40. Os fatores de correção foram de 0,75 (=0,30/0,40) para os resultados de D'Andréa et al. (2002); 0,825 (=0,33/0,40), para
Mercante et al. (2004 a, b), Nogueira et al. (2006) e Xavier et al. (2006), F.M. Mercante (dados não publicados); de 0,875 (=0,35/0,40) para
Oliveira et al. (2001); de 0,95 (=0,38/0,40) para Pfenning et al. (1992), Gama-Rodrigues et al. (1994), Marchiori-Júnior & Melo (1999), Garcia et
al. (2004) e Santos et al. (2004); e de 1,125 (=0,45/0,40) para Moreira & Malavolta (2004).
3
Os valores de BMS-CFI foram corrigidos, para que todos os valores fossem expressos em relação ao mesmo fator de correção para o fator de
correção do C respirado durante o período de incubação, kc = 0,41 (Anderson & Domsch, 1978; Sampaio et al., 1986). O fator de correção foi de
1,10 (=0,45/0,41) para Gama-Rodrigues et al. (1994), Geraldes et al. (1995), Balota et al. (1998) e Vargas et al. (2004).
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 175
1200
CBMS (mg kg -1 solo)
1000
800
600
400 Vegetação Nativa
Pastagens
200
Áreas Cultivadas
0
0 20 40 60 80 100
-1
COTotal (g kg solo)
1200
1000
BMS (mg C kg -1 solo)
800
600
400
y = 1,26***x - 86,3
200 R2 = 0,69***
0
0 200 400 600 800 1000
-1
Teor de argila (g kg solo)
SC
SPD
PC
SI
MN
0 20 40 60 80 100 120
Métodos de Determinação da
Biomassa Microbiana
Os métodos de determinação da BMS e de seus índices derivados vêm sendo
objeto de várias revisões, destacando-se Grisi (1984), Martens (1995), Wardle
(1997), De-Polli & Guerra (1999) e Cardoso (2004). No início, a BMS era
estimada por métodos de contagem em placas ou microscopia direta, sendo
extremamente trabalhosos e pouco produtivos. Grande salto foi dado com o
desenvolvimento de métodos baseados na estimativa da biomassa, através da
quantificação do C liberado das células vivas após o tratamento do solo com
reagentes químicos, que provocavam a morte e lise celular. Os trabalhos
pioneiros de Jenkinson (1966) demonstraram a eficiência do clorofórmio na
fumigação do solo, servindo de base para o desenvolvimento do método da
fumigação-incubação (Jenkinson & Powlson, 1976b). O método baseava-se no
princípio de que a BMS poderia ser estimada a partir de um pico (“flush”) de
produção de CO2 em solos fumigados com clorofórmio. Tal pico seria resultante
da decomposição do material liberado pelos microrganismos mortos na
fumigação, podendo ser resultante da atividade dos microrganismos
sobreviventes ou de organismos re-inoculados. Padronizou-se comparar
amostras fumigadas e não-fumigadas, por um determinado período de tempo
(10 dias a 25oC), sendo a diferença do C respirado, a estimativa da BMS. Em
seus trabalhos, Jenkinson & Powlson (1976a) chegaram a mencionar o fato de
que o tratamento com clorofórmio teria efeito na quantidade de C extraível por
um extrator fraco, como o K2SO4. Mas foi somente cerca de dez anos mais
tarde, que Vance et al. (1987) demonstraram que, alternativamente à
determinação do C pela medição da evolução do CO2 na incubação dos solos
fumigados e não-fumigados, seria possível detectar a diferença utilizando-se tal
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 181
1600
y = 2,48***x
2
R = 0,79***
CBMS - CFI (mg C kg solo)
1200
-1
800
Pfenning et al (1992)
400 Rodrigues et al (1994)
Feigl et al (1995)
Oliveira et al (2001)
Geraldes et al (1995)
0
0 100 200 300 400 500 600
-1
EC - CFE (mg C kg de solo)
1400
1200
solo)
1000
-1
C BMS CFI (mg kg
800
600
400
y = 1,02***x
200 r = 0,92***
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-1
CBMS CFE (mg kg de solo)
PRÉ-INCUBAÇÃO
CO 2
KOH
CO2 das CO2 das
amostras amostras
fumigadas não fumigadas
Considerações Finais
As determinações da biomassa microbiana, assim como sua atividade e
índices derivados, são fundamentais ao entendimento de seu papel no
biofuncionamento do solo e na dinâmica da matéria orgânica. Os dados
revisados nesse capítulo demonstram que há um crescente volume de
informações para solos tropicais e subtropicais, em condições brasileiras.
Verificou-se que a biomassa microbiana representa uma fração importante do
carbono orgânico total do solo, apresentando valores superiores aos
comumente publicados para solos de clima temperado, o que sugere uma
maior dinâmica para a matéria orgânica do solo em condições tropicais e
subtropicais. Pôde ser observado, ainda, que as determinações da biomassa
microbiana e seus índices derivados representam uma poderosa ferramenta de
avaliação da qualidade do solo.
Referências
ANDERSON, J. P. E. Soil respiration. In: PAGE, A. L.; MILLER, R. H.; KEENEY,
D. R. (Ed.). Methods of soil analysis. 2nd. ed. Madison: American Society of
Agronomy: Soil Science Society of Agronomy, 1982. p. 831-872. (Agronomy,
9). part 2: Chemical and microbiological properties.
ISLAM, K. R.; WEIL, R. R. Land use effects on soil quality in a tropical forest
ecosystem of Bangladesh. Agriculture, Ecosystems and Environment,
Amsterdam, v. 79, p. 9-16, 2000.
POWLSON, D. S. The soil microbial biomass: before, beyond and back. In:
RITZ, K.; DIGHTON, J.; GILLER, K. E. (Ed.).Beyond the biomass:
compositional and functional analysis of soil microbial communities. Chichester:
J. Wiley, 1994. 275 p.
Biomassa Microbiana do Solo: Fração mais Ativa da Matéria Orgânica 197
Introdução
O solo é o maior compartimento terrestre de carbono, contendo quantidades
do elemento, que superam as presentes na biomassa vegetal e na atmosfera
do planeta. A maior parte do carbono estocado no solo é constituída por
formas orgânicas, cuja quantidade, num dado momento, é o reflexo do
balanço entre as adições de resíduos e as perdas por erosão e processos de
oxidação de materiais orgânicos. A matéria orgânica é um elemento chave
para a qualidade do solo, contribuindo para a geração de cargas,
complexação de metais tóxicos e micronutrientes, redução da fixação de
fósforo e aumento do poder tampão, além de influenciar diretamente a
capacidade de retenção de água no solo e a melhoria do estado de
agregação, e interferir na quantidade e atividade dos componentes biológicos,
como microrganismos e enzimas (Haynes, 1984; Dick, 1994; Karlen & Stott,
1994; Stevenson, 1994).
Em ecossistemas com vegetação natural, existe uma tendência de
preservação da matéria orgânica do solo, enquanto as alterações no uso da
terra (como a substituição de sistemas naturais por áreas cultivadas) quase
sempre desencadeiam processos que levam à decomposição acelerada dos
compostos orgânicos, resultando em perdas de carbono do solo,
principalmente na forma de CO2, liberado para a atmosfera. Numa escala
global, a diminuição da matéria orgânica do solo por meio de processos
degradativos está relacionada à emissão de CO2 e outros gases de efeito
estufa, o que pode contribuir para alterações climáticas globais
(Scharpenseel, 1997). Métodos confiáveis de medição de perdas gasosas do
solo para a atmosfera são necessários para identificar sistemas de uso da
terra mais sustentáveis, do ponto de vista da preservação da matéria orgânica
do solo.
Dos métodos existentes para avaliação das emissões de CO2 do solo, os mais
comumente usados são os que empregam campânulas posicionadas sobre a
superfície do solo para a captura do gás. No entanto, a existência de
diferentes técnicas analíticas e as limitações na aplicação desta e de outras
metodologias afetam tanto a comparação, como a confiabilidade dos
resultados obtidos. Entender melhor as variáveis que influenciam as
medições, é necessário para aumentar a precisão das estimativas dos fluxos
de CO2 do solo para a atmosfera.
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 203
(a)
(b)
(c)
Fig. 1. Padrões de variação das emissões globais de CO2 do solo. Média anual de 1980
a 1994 e médias dos meses de junho e dezembro, no mesmo período. As legendas
indicam valores expressos em Mg de carbono por km2 de solo. (a) média anual; (b)
média do mês de junho; (c) média do mês de dezembro.
Fonte: Raich et al. (2003).
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 207
2000 30
(a) descoberto
T 25
CO2
1500
20
1000 15
10
500
Temperatura do ar (ºC)
5
CO2 (mg m h )
-1
0
-2
25
1500
20
1000 15
10
500
5
0 0
0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0 6 12 18 0
Hora do dia
Fig. 2. Variações diárias (em cinco dias) dos fluxos de CO2 e temperatura do ar, em
região temperada e no verão, para um solo orgânico agrícola descoberto (a) e
cultivado com cevada (b).
Fonte: adaptado de Maljanen et al. (2002).
No Brasil, Lira et al. (1999) verificaram que as médias mensais das emissões
de gás carbônico do solo em sistemas florestais variaram ao longo do ano,
sendo observados fluxos mais altos nos meses mais quentes (entre outubro e
fevereiro), o que foi atribuído a condições favoráveis à atividade dos
microrganismos do solo (Fig. 3). No mesmo país, La Scala Junior et al.
(2000b) mostraram haver interferência da precipitação pluviométrica sobre os
fluxos de CO2 do solo, pois os padrões de variabilidade das emissões foram
alterados no curto prazo, após a ocorrência de um período chuvoso. A
influência da umidade, no entanto, é diferente da temperatura, pois, a partir de
um certo teor de água no solo, a resposta dos fluxos de CO2 é decrescente, até
um valor próximo de zero, perto do ponto de umidade de saturação (Janssens
et al., 2001). Isso ocorre porque um alto conteúdo de água no solo implica em
208 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
120
TA
110 TC
TE
100
TF
CO2 (mg m h )
-1
90 TG
-2
80
70
60
50
40
30
jun/97 jul/97 ago/97 set-97 out/97 nov/97 dez/97 jan/98 fev/98
Meses
Variações temporais nos padrões de fluxo de CO2 também têm sido relatadas
em alguns estudos. Russell & Voroney (1998) destacam a necessidade de um
monitoramento mais constante dos fluxos de CO2, alertando para as
limitações na aplicação de resultados obtidos em períodos curtos (duas
semanas ou um mês) em estudos globais de balanço de carbono, por causa
da possibilidade de variação significativa dos valores, de um dia para o outro,
em algumas épocas do ano. Em clima temperado, os autores verificaram que,
na primavera, a variabilidade foi maior do que no verão, possivelmente em
decorrência de uma alteração nos padrões de emissão de CO2 de locais mais
quentes, isolados e aleatórios na superfície do solo (na primavera) para
emissões mais uniformes, vindas de raízes ativas em crescimento
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 211
dC
F D
dz
onde F: fluxo de CO2 do solo; D: difusividade do CO2 no meio; dC/dz: gradiente
de concentração do CO2 no meio. Resultados obtidos por meio de análises de
regressão múltipla têm indicado a possibilidade de boas estimativas dos
fluxos de CO2 através da caracterização das propriedades de difusividade,
como a tortuosidade e a porosidade do solo, sustentando o uso do método da
difusão gasosa (Russell & Voroney, 1998).
212 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Ar
Fluxômetro
Bomba
Campânula Campânula
IRGA IRGA
Absoluto Diferencial
c an c ref c an
Fig. 5. Sistemas de medição das emissões de CO2 do solo: (a) campânula para
sistema fechado dinâmico (Soil CO2 Flux Chamber 6400-09, Li-Cor, NE, USA); (b)
campânula conectada a um analisador de gás por infravermelho em sistema aberto
com fluxo contínuo de ar (ADC Soil Hood e LCA-4 IRGA, ADC Bioscientific,
Hoddesdon, England).
-2 -1
Fluxo constante injetado (mg CO2 m h )
Método 400 800
-2 -1
Fluxo medido (mg CO2 m h )
Sistemas florestais
Em região de clima temperado, Maljanen et al. (2001) verificaram que o fluxo
de CO2 do solo foi menor em povoamentos florestais antigos (23 anos), em
relação aos recém implantados (um e sei anos), indicando que a idade dos
sistemas florestais afeta a magnitude das emissões de CO2 do solo. Os
autores também verificaram a mesma tendência para a temperatura do solo,
sugerindo relação estreita entre as duas variáveis. No Brasil, Lira et al. (1999)
também verificaram aumentos dos fluxos de CO2 do solo nos meses mais
quentes do ano. Trabalhando com sistemas de manejo na cultura do
eucalipto, os autores identificaram alterações na respiração do solo em
função da sua intensidade de uso. O corte do eucalipto seguido de queima
ocasionou as maiores perdas de CO2 do solo (Fig. 7). Este estudo também
indicou que as menores emissões de gás carbônico foram verificadas no solo
com eucalipto não submetido a corte (testemunha), inclusive quando
comparado com uma área sob vegetação natural de cerradão. Nesta, no
entanto, as taxas elevadas de Co2 foram relacionadas a uma maior
diversidade de microrganismos do solo, a temperaturas mais amenas e à
umidade mais constante, no solo. Apesar das altas taxas de emissão de CO2
do solo tanto no cerradão como no tratamento de eucalipto com queima, é
importante observar que existe uma grande diferença entre o manejo de
ambos, pois, enquanto a queima libera nutrientes sem reposição, na
vegetação nativa, o retorno de resíduos na mata garante uma efetiva ciclagem
de nutrientes.
Em termos de quantificação das emissões de gás carbônico do solo,
Gärdenäs (2000) obteve fluxos diários acumulados da ordem de 26 a
40 g CO2 m-2 dia-1, na primavera, na zona temperada. Numa floresta boreal,
Russell & Voroney (1998) chegaram a valores de fluxo anual de CO2 entre 809
e 905 g C m-2 ano-1 e sugeriram que a grande maioria das emissões de CO2 do
solo (cerca de 60%) foi devida à presença de raízes, e não à decomposição de
226 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
74
72
CO2 (mg m h )
70
-1
68
-2
66
64
62
60
58
56
TA TC TE TF TG
Tratamentos
Fig. 7. Emissões de CO2 do solo em sistemas com eucalipto.
TA: testemunha; TC: cultivo mínimo (corte raso com manutenção dos resíduos); TE:
corte raso com remoção dos resíduos e serrapilheira; TF: manejo intensivo (corte raso
com incorporação dos resíduos por duas gradagens); TG: corte raso com queima dos
resíduos.
Fonte: Lira et al. (1999).
superficial do solo (Russell & Voroney, 1998). Além de Russel & Voroney
(1998) e Longdoz et al. (2000), Stape (2002) também verificou que a maior
parte das emissões de carbono do solo foram devidas à respiração de raízes,
mostrando que a geração do gás carbônico no solo não é oriunda apenas da
decomposição da matéria orgânica.
Sistemas agrícolas
Comparativamente aos sistemas florestais, nos sistemas agrícolas, a camada
superficial do solo possui uma importância relativamente maior sobre as
emissões de CO2, e as medições das variáveis que interferem nos fluxos
devem ser tomadas com o máximo de rigor. Algumas dificuldades podem
surgir, por exemplo, em medições de temperatura efetuadas no solo após o
uso de implementos de preparo, como o arado de aivecas, que traz à
superfície camadas mais frias de solo, além de intensificar a evaporação de
água, o que concorre para a obtenção de valores menores de temperatura
(Reicosky et al., 1997). Estes aspectos devem ser considerados para a
correta interpretação dos valores medidos de temperatura e umidade, e de
sua relação com as emissões de CO2 do solo.
Nos sistemas de cultivo convencional, as operações de preparo do solo
exercem uma grande influência nas perdas de CO2. Reicosky & Lindstrom
(1993) observaram que, num solo coberto por resteva de trigo, a ação do
arado de aivecas provocou elevadas perdas de gás carbônico do solo, entre
diversos sistemas. No curto prazo (55 horas após a movimentação), o fluxo de
CO2 pelo uso do arado de aivecas foi maior do que quando o preparo foi feito
com arado de aivecas seguido de duas gradagens, do mesmo modo que com
apenas uma gradagem, com o uso de subsolador e em relação ao tratamento
controle, o plantio direto. A elevada emissão de CO2 após o uso do arado foi
atribuída muito mais a irregularidades da superfície deixadas pelo implemento
e à presença de grandes fendas no solo, do que propriamente ao efeito da
adição dos resíduos, o que mostra a importância da movimentação mecânica
sobre as perdas gasosas de carbono do solo.
Neste sentido, Reicosky et al. (1997) estudaram sistemas agrícolas cultivados
com grama bermuda e sorgo, e verificaram um aumento imediato das
emissões de CO2 após a passagem de implementos de preparo do solo em
todas as culturas, considerado decorrente de alterações na porosidade do
228 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
1,00 SUB
AIV
0,75 PD
(a) 0,50
0,25
0,00
1,00
CO2 (mg m-2 s-1)
0,75
(b) 0,50
0,25
0,00
1,00
0,75
(c) 0,50
0,25
0,00
0 4 8 12 16 20 24
Plantio convencional
10 1,0
CO2
H2 O Subsolador
Irrigação
8 0,8
Evaporação (mm h )
CO2 (g m h )
-1
Duas gradagens
-2
6 0,6
Cultivador
4 0,4
Plantio
-1
2 0,2
0 0,0
10
Plantio direto 1,0
8 0,8
6 0,6
-2
4 0,4
Plantio
-1
2 0,2
0 0,0
0 12 24 36 48 60 72 84 96
Tempo (h)
Fig. 9. Fluxos de CO2 e vapor d'água após diferentes práticas de manejo em sistemas
agrícolas de plantio convencional e plantio direto.
Fonte: Reicosky et al. (1997).
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 231
0,8
GD
Emissões de CO2 (g m-2 h-1)
0,7 AD
ER
0,6 PD
SS
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dias após o cultivo
Fig. 11. Fluxos de CO2 em colunas com 10 cm de altura preenchidas por solo, solo +
cobertura morta de gramínea (Solo + C) e areia + cobertura morta de gramínea (Areia +
C). A seta vertical indica o dia de aplicação da cobertura, e os pontos plotados
representam médias diárias com o respectivo desvio padrão.
Fonte: Flessa et al. (2002).
0,7 0,7
0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20
30 30
28 28
26 26
24 24
22 22
20 20
18 18
6-8 9-11 12-14 15-17 18-20 6-8 9-11 12-14 15-17 18-20
Fig. 12. Variação diurna da emissão de Co2, evaporação de H2O e temperatura do solo
em parcelas de cafeeiro submetidas ou não a operações de poda. Cultivares: Acaiá
Cerrado com recepa em 2001 (▲) e 2003 (D); Rubi sem recepa (■) e com recepa em
2002 (□). Medições realizadas em 2003. Barras verticais indicam o erro padrão da
média (n=5).
Fonte: d'Andréa (dados não publicados).
236 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Considerações Finais
Grande parte do banco de dados sobre emissão de CO2 do solo para a
atmosfera se baseia em valores obtidos com a metodologia de absorção por
substâncias alcalinas (AA). Este método é simples e de baixo custo, mas
limitações na capacidade de absorção das soluções podem contribuir para
que muitos resultados estejam subestimados, especialmente quando o tempo
de medição é longo. Alternativamente, sistemas de AA com funcionamento
dinâmico (providos de ventiladores) ou com circulação fechada podem ser
utilizados para minimizar os desvios provocados por este método.
Os sistemas de campânulas, com analisadores de gás por infravermelho, têm
sido cada vez mais utilizados, representando um grande avanço, por
permitirem o monitoramento quase constante dos fluxos de CO2 em diferentes
situações. Pela rapidez de resposta, fornecem valores em curto espaço de
tempo, como em alterações imediatas ou de curto prazo decorrentes da
implantação de sistemas de manejo do solo. Além disso, os resultados podem
estar mais próximos dos fluxos reais de CO2, sendo relativamente confiáveis.
Ainda assim, a possibilidade de sub- ou sobrepressurização no interior das
campânulas indica a necessidade de cuidados na escolha adequada do fluxo
de ar, no caso das campânulas abertas, ou do tempo de medição, no caso das
fechadas e dinâmicas. Adicionalmente, devem ser investigadas possíveis
influências dos sistemas de campânulas sobre o fenômeno da evaporação de
água do solo, e de que maneira isto pode interferir nos resultados das
emissões CO2, conforme sugerido por Gärdenäs (2000).
A elevada variabilidade espacial e temporal dos fluxos de CO2 do solo exige
que cuidados adicionais sejam tomados na interpretação de emissões
calculadas em experimentos de curta duração, principalmente em solos com
baixo teor de umidade. Se forem extrapolados para períodos maiores, que
abrangem épocas chuvosas, pode haver superestimativas, por não se
considerar a influência de variações na umidade do solo sobre as emissões de
CO2 (Duiker & Lal, 2000). Assim, quando as variações sazonais são
significativas, é fundamental realizar a coleta de dados em diferentes
estações do ano e efetuar o monitoramento das condições climáticas durante
todo o período experimental. A heterogeneidade espacial dos fluxos de CO2
implica, também, na necessidade de um número maior de repetições e de
replicatas de campo. Além disso, como estudos sobre a emissão de CO2
freqüentemente relatam coeficientes de variação elevados, em alguns casos,
Emissões de CO2 do Solo: Métodos de Avaliação e Influência do Uso da Terra 237
Referências
ANDERSON, J. P. Soil respiration. In: PAGE, A. L.; MILLER, R. H.; KEENEY,
D. R. (Ed.). Methods of soil analysis. 2nd ed. Madison: ASA: SSSA, 1982. pt.
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properties.
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238 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
DUIKER, S. W.; LAL, R. Carbon budget study using CO2 flux measurements
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v. 54, p. 21-30, 2000.
JENSEN, L. S.; MUELLER, T.; TATE, K. R.; ROSS, D. J.; MAGID, J.;
NIELSEN, N. E. Soil surface CO2 flux as an index of soil respiration in situ: a
comparison of two chamber methods. Soil Biology and Biochemistry,
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Soil Science Society of America Proceedings, Madison, v. 35, p. 16-21,
1971.
240 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
13
C Nuclear Magnetic Ressonance
on Structural Characterization
of Soil Organic Matter
Introdução
O material vegetal e a biomassa microbiana são as fontes primárias para a
formação da matéria orgânica do solo (MOS). A quantidade e a composição
química dos resíduos vegetais controlam a formação da MOS e os processos
de humificação nos ecossistemas terrestres (Swift et al., 1979; Scholes et al.,
1997).
O curto tempo de relaxação (menor que 1ms), aplicado durante a análise, bem
como os teores de carbono relativamente baixos da maioria dos solos
minerais (10-50 g kg-1), dificultam a quantificação da participação de cada
grupo orgânico do material analisado (Kinchesh et al., 1995a). Além disso, o
núcleo 13C apresenta baixa abundância isotópica (1%) na natureza (Kinchesh
et al., 1995b). Isto torna mais difícil sua polarização direta (direct-polarization
em inglês, por isso a utilização da sigla DP), fazendo que experimentos deste
tipo consumam muito tempo, o que os torna pouco viáveis. A técnica da
polarização cruzada (cross-polarization, sigla CP) consiste em transferir a
polarização do núcleo H1, muito mais abundante (99,9%), ao núcleo 13C.
Desse modo, obtêm-se absorções mais intensas dos carbonos ligados ao
hidrogênio (alquilas, O-alquilas, CH aromáticos) e diminui-se o tempo de
execução das análises, que, caso contrário, levariam várias horas (Dick et al.,
2002). Portanto, devido ao fato de que a energia é transferida apenas
indiretamente para o 13C, a proporção relativa dos grupos orgânicos é
considerada semi-quantitativa (Conte & Piccolo, 1997). A transferência de
energia do núcleo do 1H para o núcleo do 13C durante o processo leva à
existência de diferentes tempos de contato para cada núcleo de carbono. Isto
significa que existirão diferentes tempos de indução para cada núcleo de
250 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Em síntese, apesar das limitações que ainda existem, com o advento dessas
duas ferramentas (Polarização Cruzada e Ângulo Mágico do spin, geralmente
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 251
(a)
(b)
Fig. 1. Espectros de RMN de 13C com CPMAS para amostras de serapilheita (a) e para
substâncias húmicas extraídas de amostras de solo (b).
Legenda: CL = serapilheira do cerrado, FL = serapilheira da mata ciliar, C =
substâncias húmicas extraídas do solo sob cerrado, F = substâncias húmicas
extraídas do solo sob mata ciliar; a a d = blocos, 1 a 4 = profundidades de amostragem
de solo. Ex.: CLa (serapilheira do cerrado no bloco a); C1b (substâncias húmicas
extraídas de amostras da primeira profundidade do solo no bloco b).
Fonte: Alcântara et al. (2004).
Tabela 1. Áreas integradas dos grupos de carbono determinados por RMN de 13C com CPMAS, aromaticidade
(arom), hidrofobicidade (hid), e razão alquilas/O-alquilas, em função da cobertura vegetal para serapilheira e
Substâncias Húmicas (SH), independentemente da profundidade do solo(1).
Guandu
Mucuna-
cinza
Crotalária
juncea
Nabo
forrageiro
Feijão-bravo-
do-ceará
ppm ppm ppm
Fig. 2. Espectro de RMN de 13C (CP/MAS) do material vegetal antes do início do experimento de decomposição (T0) e dos
resíduos vegetais aos 60 (T1) e 90 (T2) dias do início do experimento de decomposição.
Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
13
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural 259
0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d 0d 60 d 90 d
Crotalária
13
7,5 aAB 10,6 aA 4,1 aB 9,9 abA 8,3 bA 5,3 bA 69,2 aA 61,8 aB 70,1 aA 13,4 bB 19,3 bA 20,5 aA
juncea
Feijão-bravo 11,0 aA 6,8 aAB 5,9 aB 7,5 bcA 5,9 bA 6,2 bA 65,5 aA 68,4 aA 68,1 aA 16,0 bcB 18,9 bA 19,8 aA
Guandu 11,4 aA 7,8 aAB 4,7 aB 11,7 aA 11,4 aA 11,9 aA 56,4 bB 54,5 bB 64,3 bA 20,5 aB 26,3 aA 19,2 aB
Mucuna-
6,7 aAB 7,5 aA 2,3 aAB 12,1 aA 13,1 aA 10,1 aA 67,5 aA 62,3 aA 67,0 aA 13,7 bB 18,9 bA 20,6 aA
cinza
Nabo
10,5 aA 7,8 aA 2,9 aB 5,7 cA 7,5 bA 7,7 bA 65,9 aB 67,1 aAB 74,1 aA 17,9 acA 17,6 bA 15,3 bA
forrageiro
Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem pelo teste de Tukey a 5%.
Fonte: Carvalho (2005).
Ressonância Magnética Nuclear de C em Estudos de Caracterização Estrutural
261
262 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Em solos de área urbana, Beyer et al. (1996) utilizaram RMN de 13C com
CPMAS para identificar possíveis alterações na MOS provocadas pelo uso
urbano dos solos, por meio da comparação com os mesmos em sistema
natural. Os autores avaliaram áreas como depósitos de lixo, florestas públicas
e hortas particulares dentro do perímetro urbano de Kiel (Alemanha).
Os resultados encontrados indicam importantes modificações na gênese
da MOS em ambiente urbano, como por exemplo alta aromaticidade da
MOS total e dos compostos húmicos em área sob horticultura. No Brasil,
estudo semelhante foi conduzido por Canellas et al. (2000), que utilizando
13
C RMN CPMAS, juntamente com outras técnicas espectrosópicas e
microscopia de varredura, caracterizaram fisico-quimicamente ácidos
húmicos extraídos de composto de resíduos sólidos urbanos e de lodo de
estação de tratamento de esgoto. Os autores constataram que a natureza
química dos ácidos húmicos em tais fontes não-pedogênicas pode ser
considerada “análoga” aos encontrados nas fontes pedogênicas.
atribuem esse carbono preservado à entrada dos resíduos das raízes das
leguminosas, além do C que já existia do milho, resultando em mais C
aromático após a decomposição dos carboidratos.
Assim como alguns dos trabalhos acima relacionados (Dick et al., 2005; Bayer
et al., 2000; Pillon, 2000), vários estudos em MOS têm aliado outras técnicas à
RMN de 13C com CPMAS. O objetivo muitas vezes é comparativo, mas na
maioria dos casos a utilização de duas ou mais técnicas em conjunto é
realizada no sentido de se obter resultados sejam complementares, e
portanto, mais abrangentes e conclusivos.
272 Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo em Sistemas Conservacionistas
Desafios e Perspectivas
Conforme visto aqui, existem ainda limitações ao emprego da RMN de RMN
de 13C na pesquisa científica. Tais limitações começam pelo alto custo de
aquisição e manutenção dos equipamentos. No Brasil, são poucas as
universidades e os centros de pesquisa que dispõem de aparelho para
ressonância magnética nuclear. De forma geral, é necessário que a demanda
por análises seja alta o suficiente para que se justifique a aquisição do
equipamento. Na Ciência do Solo, especificamente, ainda existem algumas
limitações de caráter técnico, como a falta de pessoal treinado, tanto para o
manuseio do aparelho e realização das determinações, quanto para a
interpretação dos resultados. Este quadro está se transformando aos poucos,
visto o número crescente de trabalhos com a aplicação de RMN de 13C em
estudos de MOS.
Referências
ALCÂNTARA, F. A. de; BUURMAN, P.; CURI, N.; FURTINI NETO, A. E.;
LAGEN, B. van; MEIJER, E. Changes in soil organic matter composition after
introduction of riparian vegetation on shores of hydroelectric reservoirs
(Southeast Brazil). Soil Biology and Biochemistry, Oxford, v. 36, p. 197-
1508, 2004.
BALDOCK, J. A.; OADES, J. M.; WATERS, A. G.; PENG, X.; VASSALO, A. M.;
WILSON, M. A. Aspects of the chemical structure of soil organic materials as
revealed by solid-state 13C NMR spectroscopy. Biogeochemistry, Dordrecht,
v. 16, p. 1-42, 1992.
BEYER, L.; CORDSEN, E.; BLUME, H. P.; SCHLEUSS, U.; VOGT, B.; WU, Q.
Soil organic matter composition in urbic anthrosols in the city of Kiel, NW-
Germany, as revealed by wet chemistry and CPMAS 13C NMR spectroscopy of
whole soil samples. Soil Technology, Cremlingen, v. 9, p. 121-132, 1996.
GONÇALVES, C. N.; DALMOLIN, R.; DICK, D. P.; KNICKER, H.; KLAMT, E.;
KÖGEL-KNABNER, I. The effect of 10%HF treatment on the resolution of
CPMAS 13C NMR spectra and on the quality of organic matter in Ferralsols.
Geoderma, Amsterdam, v. 116, p. 373-392, 2003.
p. 93-104, 1999.
ZECH, W.; SENESI, N.; GUGGENBERGER, G.; KAISER, K.; LEHMANN, J.;
MIANO, M. T.; MILTNER, A.; SCHROTH, G. Factors controlling humification
and mineralization of soil organic matter in the tropics. Geoderma,
Amsterdam, v. 79, p. 117-16, 1997.
10
Pirólise Associada à Cromatografia
Gasosa e Espectrometria de Massa
Aplicada a Estudos de Caracterização
Química da Matéria Orgânica do Solo
ZHANG, J.; ZHAI, J.; ZHAO, F.; TAO, Z. Study of soil humic substances by
cross-polarization magic angle spinning 13C nuclear magnetic resonance and
pyrolysis-capilary gas chromatography. Analytica Chimica Acta,
Amsterdam, v. 378, p. 177-182, 1999.
costs of the equipment, make Py-GC/MS a promising tool for SOM studies. For
the future, the perspectives are the best as possible: the further development
of the technique, and the establishment of the most adequate mathematical
and statistical procedures for treating the semi-quantitative results.
Introdução
A técnica da pirólise, tal como apresentada neste capítulo, envolve a quebra
de grandes moléculas em pequenos fragmentos, que são separados por
cromatografia gasosa e identificados por espectrometria de massa. Enquanto
a Ressonância Magnética Nuclear de (RMN) de 13C revela a estrutura geral da
matéria orgânica do solo (MOS), a Pirólise associada à Cromatografia Gasosa
e Espectrometria de Massa (Pi-CG/EM ou P-CG-EM) permite o
reconhecimento de características individuais desta estrutura (Fabbri et al.,
1998), mediante a separação e identificação de compostos específicos, que
constituem as macromoléculas ou polímeros orgânicos, como ligninas e
polisacarídeos que, por sua vez, são os “blocos de construção” da MOS.
Portanto, as duas técnicas, RMN de 13C e Pi-CG/EM, podem ser utilizadas em
conjunto, a fim de que uma complemente os resultados da outra.
Abordagem qualitativa
O principal objetivo dos trabalhos que utilizam esta abordagem é a
identificação dos compostos presentes no material analisado, o qual pode se
tratar de partes de plantas, solo intacto ou substâncias húmicas.
Independentemente do tipo de material, a pirólise gera um grande número de
produtos, em sua maioria, originados da quebra de estruturas bem definidas,
como polissacarídeos, ligninas, proteínas, compostos aromáticos e ácidos
graxos, além dos produtos de oxidação e artefatos.
Abordagem Qualitativa/Quantitativa
Os trabalhos que utilizam esta abordagem objetivam não só identificar os
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 293
4 1.0
35
39
32
3
42
2 0.5 17
FLd
FLc 22
46 37
1 FLa 47
28
19
41
FATOR 2 FLb FATOR 2 38
0 CLb 0.0 36 21
3324 44
CLdCLa
-1 CLc 31
-2 -0.5
27
-3
-4 -1.0
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
FATOR 1 FATOR 1
Desafios e Perspectivas
Apesar dos bons resultados que têm sido alcançados com a utilização da Pi-
CG/EM na caracterização química da MOS, alguns desafios ainda precisam
ser vencidos de modo a tornar a interpretação dos resultados mais fácil e, ao
mesmo tempo, mais precisa. Se faz necessária uma maior ênfase na
pesquisa sobre a identificação dos produtos e de suas possíveis origens, a fim
Pirólise Associada à Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa 299
Referências