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4 de maio de 2010 – Belo Horizonte (MG)

Empresa: Vale Manganês


Trabalho premiado: Projeto meio denso na Vale Manganês
Categoria: Processo
Autores: Gustavo Fontes Lopes
Edson Ricardo Gomes
Nívea Cristina da Silva Viana
André Luiz do Nascimento Chaves

Revista Minérios & Minerales


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www.revistaminerios.com.br
Tel.: (11) 3783-5583
IMPLANTAÇÃO DO PROJETO MEIO DENSO NA VALE MANGANÊS

Gustavo Fontes Lopes, VALE Manganês,


Edson Ricardo Gomes, VALE Manganês,
Nívea Cristina da Silva Viana, VALE Manganês,
André Luíz do Nascimento Chaves, VALE Manganês,

RESUMO

A mina de manganês de Morro da Mina possui história centenária e a concentração do minério


contaminado sempre foi realizada por seleção manual. As características litológicas de minério e estéril
convergem para a utilização de um método de separação gravítica, devido suas diferenças de densidade. A
tecnologia de separação pelo meio denso se mostrou a mais apropriada após estudos teóricos e testes em
escala industrial. A instalação da planta de meio denso na unidade está prevista para maio de 2010 e
promoverá o aumento em 15% do volume de produção e redução em 10% no volume de rejeito quando
comparado ao método utilizado anteriormente. Esses ganhos decorrem da maior recuperação em massa e
melhor seletividade do método. Além do mais, propiciará a redução dos custos anuais da mina em
R$1.240.000,00.

ABSTRACT

The Morro da Mina manganese mine has a centenary history and the ore concentration process was
always manual selection. The ore and waste litologies characteristics converge to use a gravity separation
method, because of its density differences. The separation heavy media technology was the most
appropriate after theoretical studies and industrial scales tests. The heavy media plant start up will take
place in may 2010, and will promote the increase of 15% in the production volume and the decrease of
10% in the waste volume when compared to the old method. These advantages are related to the major
mass recovery and to the best method selectivity. Besides these factors, the project will reduce the annual
costs in R$1.240.000,00.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

A Unidade Morro da Mina, pertencente a Vale Manganês S.A., localizada na cidade de Conselheiro
Lafaiete, é centenária na história da mineração do Brasil.
Em 1896, iniciaram-se os estudos para dimensionar o potencial da jazida de manganês.
Em 1902, foram iniciadas as atividades de explotação do minério e no período compreendido entre 1902 a
1969 foram lavradas aproximadamente 8 milhões de toneladas de óxido de manganês. Com a exaustão do
minério oxidado, a mineração passou a abastecer o mercado nacional e internacional com o minério de
manganês sílico–carbonatado e a jazida ainda possui reserva certificada para os próximos 30 anos.
De acordo com os estudos existentes para a região em questão, as rochas encaixantes da mineralização são
interpretadas como pertencentes aos terrenos granito-greenstone belt, formados por quartzo-biotita-xistos,
anfibolitos, grafita-xistos, granitóides, granodioritos e a rocha mineralizada queluzito. Os corpos
mineralizados são verticalizados e alongados, apresentando formas de sigmóides ou amêndoas, com
desenvolvimento de processos de boudinagem em eixos verticais e horizontais e potências que variam de
centimétricas a 100 metros de espessura, posicionados na porção central da mina. É comum a presença de
lentes de estéreis, principalmente o quartzo-biotita-xisto e intrusões de granitóides no interior dos corpos
de minério (Araújo et al., 2005). O minério de manganês é composto por silicatos e carbonatos de
manganês, sendo eles espessartita, tefroíta, rodonita, rodocrosita e alabandita.
A lavra é feita a céu aberto em bancadas, com bancos de altura média de 10 metros. O desmonte do
minério e estéril compactos é feito com a utilização de explosivos e o estéril friável, é lavrado através de
desmonte mecânico com a utilização de escavadeiras hidráulicas.
Devido às intercalações de lentes estéril no interior do corpo de minério, torna-se impossível realizar a
separação destas litologias em todas as frentes de lavra da mina, desta forma, o minério ROM é
subdividido em minério limpo (ausência de contaminantes) e minério contaminado (minério com
fragmentos de rochas estéreis).
O processo utilizado durante mais de um século, para separar o minério contaminado antes do seu
processamento na planta de beneficiamento é a seleção manual.
O ROM contaminado após ser desmontado e transportado, é estocado na forma de pilhas baixas e
alongadas. Os funcionários fazem a seleção dos blocos de minério, deslocando aqueles selecionados para
a lateral da pilha. Com o apoio de equipamentos (carregadeiras e caminhões), este material selecionado é
novamente retomado e transportado então, até a planta de beneficiamento.
O processo apresenta limitações no que se refere à seleção de materiais com granulometria inferior a 10
centímetros de diâmetro e superior a 80 centímetros de diâmetro. Este processo arcaico possui baixa
recuperação em massa (46%), e também baixa recuperação metálica do manganês contido (65%).

PROJETO MEIO DENSO


A permanente busca pela melhoria no desempenho dos processos aliada a necessidade de racionalização
no uso dos recursos naturais, além da necessidade de eliminação de uma atividade de baixa produtividade
e de alto risco operacional levaram à escolha do método de concentração por meio denso, após vários
estudos e testes considerando diversas tecnologias de ponta no processamento de minerais.
A principal característica que difere claramente o minério dos outros tipos estéreis na reserva de Morro da
Mina é a densidade. A densidade do minério possui valor médio de 3,4g/cm3 com desvio padrão de 0,18,
conforme ilustra o gráfico abaixo:

Figura 1 – Histograma da densidade do minério silico-carbonatado.

As litologias de estéril apresentam tenacidade compacta e a densidade aparente média determinada através
de ensaios via deslocamento de volume é de 2,75 g/cm3 e participação em peso na mina conforme tabela
abaixo:

Tabela 1 – Densidade das litologias de esteril

Litologias de Percentual em Densidade aparente Desvio Padrão Número de


estéril peso média (t/m3) da densidade ensaios
MAO 1,10% 3,00 1
IAF 1,72% 3,08 0,08 6
XGT 10,63% 2,69 0,29 31
IGT 27,05% 2,76 0,14 40
XQB 59,5% 2,74 0,21 65

Média Ponderada 2.75

A concentração em meio denso é um processo de separação gravítica aplicado no tratamento de minerais,


nos quais se observe uma diferença de densidade entre as espécies que pretende separar. A técnica
consiste em submergir esses minerais ou rochas em uma polpa previamente condicionada em uma
densidade intermediária, de forma que aquelas espécies de densidade inferior à do meio, flutuam e as mais
densas afundam. Este processo é aplicado no tratamento de partículas com granulometria acima de 0,6mm
até tamanhos na faixa de algumas polegadas, sendo comumente utilizado no beneficiamento de carvão,
cromita e manganês, principalmente nas minas sul-africanas.
Cabe registrar que por motivos óbvios, o processo somente será eficiente se além da diferença de
densidade entre as espécies, elas também estiverem satisfatoriamente liberadas uma vez que, partículas
mistas reduzem a eficiência do processo.
Considerando os parâmetros operacionais do processo, especialmente a sua aplicabilidade ao tratamento
de materiais com granulometria grosseira, a diferença de densidade relativamente ampla entre as espécies
minerais e os estéreis, a boa liberação dessas espécies na faixa granulométrica de granulado, dentre outros
fatores, levaram a decisão acerca da aplicabilidade deste método para promover o beneficiamento do
minério contaminado de Morro da Mina.
Complementando o processo de decisão de concentração do minério de Morro da Mina, foram realizados
em escala industrial testes operacionais em jigues pneumáticos e em unidades de meio denso, ambas em
empresas do ramo mínero-metalúrgico em plena operação.
Os resultados encontrados subsidiaram a decisão pela implantação do Projeto Meio-Denso.
O processo em escala industrial mostrou que as expectativas criadas pelos estudos teóricos desenvolvidos
estavam confirmadas e totalmente adequadas a necessidade da empresa. É oportuno registrar que ainda na
execução dos testes do meio denso, houve o reprocessamento do rejeito e também do concentrado gerado,
para investigar a aplicabilidade futura de outro estágio de concentração reproduzindo assim, as etapas
cleanner e scavinger, que mostraram que novos testes deveriam ser desenvolvidos com este foco.
Atualmente o projeto encontra-se em fase final de implantação, com previsão de início de operação até
Maio de 2010.
O fluxograma do projeto está ilustrado na figura abaixo:

1
2

Figura 2 – Fluxograma do projeto a ser implantado na unidade Morro da Mina.


1 – Tambor de meio denso; 2 – Peneira bipartida; 3 – Separador magnético; 4 – Classificador espiral;
5 – tanque de condicionamento de polpa; 6 – Reservatório de água.

CONCLUSÕES

Com a implantação do projeto haverá uma redução do custo operacional de R$1.240.000,00 por ano em
detrimento a ao antigo processo de seleção manual. Haverá também um ganho de 12% na produção do
granulado gerado a partir do ROM, devido ao aumento da recuperação mássica e um decréscimo de 10%
na geração de rejeitos, devido à melhor seletividade do método (figura 3) e, além disso, o projeto prevê
uma ampla instrumentação para enfatizar o controle e eficiência do processo.
Cabe registrar também, que o processo prevê a recirculação de até 90% da água industrial utilizada devido
à operação em circuito fechado, com estruturas especialmente projetadas para esta finalidade, levando
assim, ao uso racional deste recurso e demonstrando a responsabilidade ambiental do projeto.
Por fim, pode-se concluir, levando em conta todos os aspectos relacionados à melhoria do desempenho
operacional, considerável redução de custos, cumprimento das normas regulamentadoras de saúde e
segurança e otimização dos aspectos ambientais, desta forma os objetivos inicialmente planejados foram
superados.

Alimentação 20% 80%


:
Seleção Manual Meio Denso

Concen-
10% 90% 1% 99%
trado

Rejeito 62% 38% 2% 98%

Minério Rejeito

Figura 3 – Diferença da seletividade dos processos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, M.C.; FILHO, D.A. e REINHARDT, M.C. Mapeamento geológico e estrutural do Morro da
Mina, Conselheiro Lafaiete. Relatório interno, 2005. 64p.

CAMPOS, A.R.; LUZ, A.B.& CARVALHO, E.A. Separação em Meio Denso. Tratamento de Minérios.
4º Edição. 2004, p.271-301.
CURRICULUM RESUMIDO

Gustavo Fontes Lopes, Gerente de Mineração, Vale Manganês. Graduado em Engenharia de Minas pela
UFOP, MBA Fundação Getúlio Vargas. Atualmente Gerente de Operações da Unidade Morro da Mina
na Vale Manganês, com experiência em grupos nacionais e multinacionais de grande porte atuando com
minerais metálicos tais como zinco, chumbo e ouro em minas subterrâneas e a céu aberto.

Edson Ricardo Gomes, supervisor de operação de Beneficiamento, mestrando em Tratamento de


Minério (UFOP), técnico em Mineração ETFOP, advogado UFOP. Atua na Vale Manganês com
experiência na Fosfértil, Samarco sempre na área de tratamento de minério.

Nívea Cristina da Silva Viana, graduada em Engenharia Geológica pela UFOP; mestre em Engenharia
de Materiais (Redemat/UFOP); MBA FEAD e especialista em Ferro Ligas (Redemat/UFOP). Atua na
Vale Manganês como geóloga com experiência nas minas de Urucum e Morro da Mina.

André Luíz do Nascimento Chaves, técnico em Mineração Escola Politécnica Ramos, graduando
Engenharia de Minas Unipac, atua na Vale Manganês na área de processo e controle de qualidade.

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