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RELAÇÃO ENTRE AÇÚCARES TOTAIS E REDUTORES EM FOLHA E ENTRENÓS EM CANA-DE-

AÇÚCAR

Renice Paula Zielinski1,2, Rosana Refatti1, Gisele Daiane Silveira Borges1, Juliano Zanella3, Alessandro Jaquiel
Waclawovsky4*
1
Acadêmica do curso Zootecnia, UTFPR, Campus Dois Vizinhos, Paraná. Bolsista PIBIC Fundação Araucária.
2
Bolsista PIBIC Fundação Araucária.
3
Técnico administrativo, UTFPR, Campus Dois Vizinhos.
4
Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos, Paraná. E-mail:
alessandroj@utfpr.edu.br
*Autor para correspondência

Resumo: A cana-de-açúcar é uma das culturas de maior relevância econômica do Brasil. As variedades de cana-
de-açúcar diferenciam-se entre si pela máxima concentração de sacarose alcançada no caldo. O objetivo deste
trabalho foi analisar os teores de açúcares totais e redutores em folha, entrenó imaturo e entrenó maduro e
correlacioná-los, para identificar possíveis relações na concentração de carboidratos entre estes órgãos. O
experimento foi realizado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Dois Vizinhos,
utilizando oito variedades; RB855113, RB845197, RB855536, RB925345, RB928064, RB867515, RB855546 e
RB785148. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com três repetições. As análises foram
realizadas após seis meses de desenvolvimento das plantas e foram analisados os teores de açúcares solúveis
totais e açúcares redutores em folha, entrenó imaturo e entrenó maduro. Apesar dos níveis de açúcares totais em
folhas apresentarem diferenças significativas entre os genótipos analisados, estes níveis não foram
correlacionados significativamente com os teores de açúcares em entrenós imaturos e maduros.

Palavras-chave: açúcares solúveis, sacarose, Saccharum spp

Introdução
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) sendo uma das culturas de
maior relevância econômica. Esta planta apresenta capacidade de armazenar altos teores de sacarose no colmo,
sendo que as variedades diferenciam-se pela taxa de acúmulo deste carboidrato, bem como, com a época em que
a planta alcança a concentração máxima deste no colmo (LINGLE, 1997). Por este motivo, a cana-de-açúcar
representa um modelo interessante para estudos de síntese, transporte e acúmulo de açúcares.
Para a sacarose acumular nas células do colmo da cana-de-açúcar, a planta deve providenciar eficiente
mecanismo de produção, transporte e armazenamento deste carboidrato. Estes mecanismos são regulados de
maneira tal que o funcionamento de todos estes processos seja sincronizado. Os mecanismos que controlam estes
processos podem apresentar diferenças entre as variedades, determinando-se assim, os teores de sacarose no
ponto de colheita. Cada variedade apresenta características próprias, entre elas o ponto de maturação e o teor de
sacarose mesmo que sejam colocadas nas mesmas condições de solo e clima (GALDIANO, 2008). A variedade
com altos teores de sacarose diminui os custos de produção, principalmente de corte e transporte, pois aumenta a
eficiência por unidade de açúcar entregue à indústria.
Os entrenós de cana-de-açúcar amadurecem progressivamente em direção à base do colmo, com aumento
correspondente aos níveis de sacarose. Enquanto um entrenó maduro atinge teores de sacarose correspondentes a
cerca de 20% do sua massa da matéria fresca (cerca de 80% de sua massa da matéria seca), os entrenós mais
jovens (mais apicais) contêm menores níveis de sacarose e podem conter glicose e frutose em níveis de
aproximadamente 5% de sua massa da matéria fresca. Outros açúcares, além de glicose, frutose e sacarose
também são encontrados em cana-de-açúcar, embora em níveis reduzidos.
Os níveis de sacarose no colmo de cana-de-açúcar estão relacionados com a capacidade fotossintética da
planta e a eficiência no transporte e acúmulo deste no colmo. O conhecimento da relação existente entre
quantidade de açúcar produzido e armazenado no colmo indica a eficiência da planta em produzir sacarose a
partir dos recursos da natureza. Esta relação pode ser útil em programas de melhoramento para selecionar
precocemente genótipos com alta capacidade de acúmulo de sacarose a partir de análises de carboidratos em
folha.
Estudos indicaram que a folha da cana-de-açúcar é o componente responsável pela síntese dos
carboidratos, promovendo o crescimento e o desenvolvimento da planta e, a área foliar da planta está
correlacionada com a sua produção tanto em massa de matéria seca quanto em quantidade de açúcar e taxa de
crescimento (HERMANN; CÂMARA, 1999). Azzini et al. (1980), encontraram correlação de 0,99, alta e
positiva entre a densidade básica do colmo e o teor de açúcar no caldo, ou seja, o teor de sacarose na cana-de-
açúcar pode ser avaliada atráves de alguma caracteristica física do colmo.
Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi caracterizar os teores de açúcares totais e redutores de oito
variedades de cana-de-açúcar em folha, entrenó maduro e entrenó imaturo e correlacioná-los, para identificar
possíveis relações na concentração de carboidratos entre estes órgãos.

Material e Métodos
O experimento foi realizado na área experimental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Campus Dois Vizinhos, localizada na região, fisiograficamente chamada de terceiro planalto paranaense, com
altitude de 520 m, latitude de 25°44” Sul e longitude de 53°04” Oeste.
Foram analisadas oito variedades, sendo que o plantio ocorreu no dia 02 de outubro de 2009. As
variedades foram: RB855113, RB845197, RB855536, RB925345, RB928064, RB867515, RB855546,
RB785148.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três repetições. Após seis
meses de desenvolvimento das plantas, foram colhidas três destas de cada variedade, onde coletaram-se amostras
de folha+1, entrenó imaturo e entrenó maduro. Estas amostras foram então congeladas a -20oC para as análises
posteriores. Para as análises bioquímicas dos teores de açúcares, foi realizada a extração dos açúcares utilizando-
se aproximadamente 300mg de material vegetal, ao qual foi adicionado 4 mL de Tampão 0,2M pH 7,5. Seguiu-se
com a maceração em almofariz e pistilo e centrifugação do extrato a 12000 rpm, 4oC por 10 minutos. Após foi
coletado o sobrenadante de cada amostra e armazenado em novos tubos a -20oC, constituindo o extrato para as
análises de açúcares.
A quantificação dos açúcares totais foi realizada pelo método fenol sulfúrico (DUBOIS et al., 1956), que
quantifica glicose, frutose, manose e sacarose. Já os açúcares redutores foram quantificados pelo método
Dinitrosalicilato – DNS, que quantifica a glicose, frutose e manose nos tecidos vegetais (MILLER, 1959). Foi
utilizada curva de calibração previamente estabelecida utilizando glicose como padrão.
As médias foram submetidas a análise de variância e quando significativas comparadas pelo teste de
Tukey em nível de 5% de probabilidade de erro.

Resultados e Discussões
Foi possível observar diferenças significativas entre os genótipos apenas para os açúcares totais em folha
(Figura 1). Em alguns casos, os teores destes açúcares variaram mais do que 100% entre um genótipo e outro,
indicando comportamento fisiológico diferenciado. Entre os genótipos que apresentaram altos teores de açúcares
solúveis totais em folha destacam-se o RB785148, RB928064 e RB867515. Por outro, lado as análises
estatísticas não identificaram diferenças significativas nos teores de açúcares totais em entrenós e nos açúcares
redutores em folha e entrenós entre as variedades analisadas (Figuras 1 e 2), indicando uma possível falta de
correlação entre os teores de açúcares totais em folhas e as demais variáveis. Os níveis de açúcares redutores
foram baixos, em todos os tecidos analisados, em comparação aos açúcares totais (Figuras 1 e 2). Houve também
tendência dos entrenós imaturos apresentarem maiores níveis de açúcares redutores (Figura 2), suspeitando-se
que por estes tecidos estarem em pleno crescimento, os mesmos apresentam altas taxas metabólicas,
necessitando, portanto, de açúcares prontamente disponíveis para obtenção de energia.
Os açúcares em folhas podem refletir o estado metabólico da fotossíntese e/ou a capacidade de
translocação destes para os tecidos de reserva. Com relação à fotossíntese, aquelas variedades que possivelmente
apresentaram maior capacidade fotossintética, ou apresentaram-se melhor adaptadas as condições encontradas
durante a condução do experimento, podem ter produzido maior quantidade de açúcares totais, o que refletiu em
mais altos níveis na folha
No entanto, não é interessante que açúcares solúveis fiquem armazenados na folha após a sua síntese.
Primeiro, porque no caso de cana-de-açúcar, é importante que estes açúcares sejam transportados para os tecidos
de armazenamento, onde serão utilizados pela indústria. Em segundo lugar, porque é conhecido o processo de
retro-inibição da fotossíntese por altos níveis de açúcares em folhas, reduzindo assim a eficiência fotossintética e
a produtividade. Portanto, o maior nível de açúcares totais nas folhas de algumas variedades pode ser o reflexo
de mecanismo de transporte ineficiente.
Observa-se que não houve correlação significativa dos teores de açúcares totais ou redutores nas folhas
com os teores de açúcares totais nos entrenós maduros ou mesmo imaturos (Tabela 1). Do mesmo modo, não
houve correlação significativa entre os teores de açúcares totais e redutores, em qualquer tecido analisado.
Através desta análise, é possível afirmar que altos teores de açúcares em folha não refletiram necessariamente
em altos níveis destes açúcares no colmo das plantas, indicando que, possivelmente, o transporte de
fotoassimilados da folha para o colmo não ocorre a taxas semelhantes entre as variedades.

Conclusão
Houve diferença significativa entre os genótipos apenas para o teor de açúcares solúveis totais em folha,
destacando-se as variedades RB785148, RB928064 e RB867515. Não houve correlação significativa entre os
teores de açúcares totais e redutores entre folha, entrenó imaturo e entrenó maduro.

Referências
AZZINI, Anisio; TEIXEIRA, João, P.F.; MORAES, Roberto, M.; CAMARGO, Aparecido, J.F.P. Correlação
entre o teor de sólidos solúveis do caldo e a densidade básica do colmo de cana. Bragantia, v.39, n.1, p.181-183,
1980.
DUBOIS, Michel; GILLES, K.A.; HAMILTON, J.K.; REBERS, P.A.; SMITH, Fred. Colorimetric method for
determination of sugars and related substances. Analitycal Biochemistry, v.28, n.3, p.350-356, 1956.
GALDIANO, Lívia C. Qualidade da cana-de-açúcar (saccharum spp) submetida à aplicação de
maturadores químicos em final de safra. 2008. 45 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual de São Paulo, Jaboticabal, 2008.
HERMANN, Emilio, R.; CÂMARA, Gil, M.S. Um método simples para estimar a área foliar e cana-de-açúcar.
Revista da STAB. v. 17, p. 32-34, 1999.
LINGLE, Sarah E. Seasonal internode development and sugar metabolism in sugarcane. Crop Science, v. 37,
n.4, p. 1222-1227, 1997.
MILLER, Gail Lorenz. Use of dinitrosalicylic and reagent for determination of reducing sugar. Analytical
Chemistry, v.31, n.3, p.426-428, 1959.

Tabela 1. Coeficientes de correlação de Pearson calculados entre as variáveis açúcares totais e redutores em
folha, entrenó imaturo e maduro. UTFPR, Campus Dois Vizinhos, 2010.
Correlação Coeficiente
AT em folha AT em entrenó imaturo -0,14283ns
AT em folha AT em entrenó maduro -0,05307 ns
AT em entrenó imaturo AT em entrenó maduro -0,1036 ns
AR em folha AR em entrenó imaturo 0,014866 ns
AR em folha AR em entrenó maduro -0,18558 ns
AR em entrenó imaturo AR em entrenó maduro 0,154845 ns
AT em folha AR em folha -0,30575 ns
AT em entrenó imaturo AR em entrenó imaturo -0,09102 ns
AT em entrenó maduro AR em entrenó maduro 0,157761 ns
ns. Não significativo estatisticamente.

Figura 1. Teor de açúcares solúveis totais (mg g massa fresca-1) em amostras de folha+1, entrenós imaturos e
entrenós maduros de oito variedades de cana-de-açúcar. UTFPR, Campus Dois Vizinhos, 2010.
Figura 2. Teor de açúcares redutores (mg g massa fresca-1) em amostras de folha+1, entrenós imaturos e entrenós
maduros de oito variedades de cana-de-açúcar. UTFPR, Campus Dois Vizinhos, 2010.

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