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Dicas Portugues Versao Completa PDF
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Ana Paula Assunção Rodrigues
A autora
Ana Paula Assunção Rodrigues é servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de
textos em gabinete. Graduada pela UnB em Letras e pós‐graduada em Produção
Textual, lecionou no Ensino Médio e em cursinho pré‐vestibular nas cadeiras de
Literatura, Redação e Língua Inglesa.
Sumário
Dica 1 ‐ Estilo de Redação ......................................................................................................... 3
Dica 2 ‐ Pronome Demonstrativo.............................................................................................. 7
Dica 3 ‐ Registro de data e hora .............................................................................................. 11
Dica 4 ‐ Uso dos "porquês"...................................................................................................... 14
Dica 5 ‐ O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa .................................................... 18
Dica 6 ‐ Uso correto de expressões latinas ............................................................................. 23
Dica 7 ‐ Uso do "Se"................................................................................................................. 30
Dica 8 ‐ Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso" ............................................................ 38
Dica 9 ‐ Estética Textual e Vícios de Linguagem...................................................................... 44
Dica 10 ‐ Uso do acento grave ‐ CRASE ................................................................................... 57
Dica 11 ‐ Neologismo .............................................................................................................. 70
Dica 12 ‐ Uso da vírgula ‐ parte I ............................................................................................. 82
Dica 13 ‐ Uso da vírgula ‐ parte II ............................................................................................ 91
Dica 14 ‐ Uso de "cujo".............................................................................................................. 1
Dica 15 ‐ Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a"............................................ 104
Dica 16 ‐ Uso do infinitivo ..................................................................................................... 113
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Dica 1 ‐ Estilo de Redação
Escrito por Ana Paula Rodrigues
‘’(...) Como hão de ser as palavras?
Como as estrelas.
As estrelas são muito distintas e muito claras.
O estilo pode ser muito claro e muito alto.
Tão claro que o entendam os que não sabem.
E tão alto que tenham muito que
entender nele os que sabem[...]
O discurso, para ser claro,
não precisa ser raso, como os regatos;
a profundidade nem sempre faz turvas as
águas (...)’’
Padre Antônio Vieira
Sermão da Sexagésima
Pregado na Capela Real, no ano de 1655
PEIXOTO, Afrânio. Os Melhores Sermões de Vieira. Rio de Janeiro: Ed. Americana,
1931.
‘’(...)
– Mas que significa isso? ‐ perguntou o moço
insatisfeito ‐ Não entendi nada.
– Nem eu ‐ respondeu a moça ‐ mas os contos
devem ser contados e não entendidos;
exatamente
como a vida.’’
Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, Carlos Drummond de. O Entendimento dos Contos, in: Contos
Plausíveis. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1985.
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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Nossos mais ilustres autores servem de base para estudos linguísticos
de toda ordem, desde as mais corriqueiras lições de gramática até as
lições de estilo. Mas os recados transmitidos pelos dois autores citados
diferem entre si, concordam?
Bem, para começo de conversa, os textos literários propriamente –
fictícios – vivem num mundo muito maior que o dos textos técnicos.
Aqueles alcançam uma linguagem universal e atemporal, falam
diretamente às emoções comuns a todos nós, seres humanos. É por isso
que costumamos afirmar que Shakespeare é eterno, que Homero fala a
nossa língua e que Machado de Assis é atualíssimo. Eles têm, também, a
chamada licença poética, o que permite aos artistas transgredir regras
gramaticais em nome da criatividade, do estilo pessoal.
Drummond transmite o recado de absorver o hermetismo do conto
como se vive a vida, ao invés de se tentar explicar e racionalizar sua
poesia, o que a destruiria. Apesar de haver uma linha interpretativa, a
hermenêutica, que estuda os textos literários como se fossem uma
equação matemática... mas ai já é outro assunto.
Já as palavras de Padre Antônio Vieira – que tinha habilidade rara com
elas ‐ trazem grande lição de estilo, atual e útil a nós no âmbito do TRT,
pois tratam da clareza no ato de escrever aplicável ao texto em prosa não
fictício, ao texto técnico.
Tendo em mente essa distinção – e dela advêm inúmeros
desdobramentos na pontuação, concordância etc – vamos nos concentrar
no estilo de redação de textos oficiais e jurídicos. Aqui, temos de fazer
nossos textos explicáveis e acessíveis ao jurisdicionado. Por mais
hermético que seja um tema, pode ser traduzido em palavras que o mais
comum dos leitores compreenda. Então, sabedores de que nosso estilo de
trabalho não permite licenças poéticas, vamos às dicas:
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Concisão
No lugar de:
“neste momento nós acreditamos”, diga “acreditamos”;
“Travar uma discussão”, escreva “discutir”;
“ato de natureza hostil”, → “ato hostil”;
“decisão tomada no âmbito da diretoria”, → “decisão da diretoria”;
“fazer uma viagem” coloque “viajar”;
“pôr as ideias em ordem”, → “ordenar as ideias”.
Diga o que é, não o que não é
“Ele não assiste regularmente às aulas.”
troque por
“Ele falta com frequência às aulas.”
voz ativa deixa o texto atraente, vigoroso, enquanto a passiva o deixa mole, sem
graça:
“Os alunos fizeram a redação” é melhor que “A redação foi feita pelos alunos.”
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A frase:
“Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em sessão. Tornaram
públicas suas desavenças”
é melhor que
“Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em plenário tornando
públicas suas desavenças”.
Leia as duas frases em voz alta. Depois, escolha a que soa melhor:
“Fui à livraria e comprei os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor
do curso e a gramática.”
“Fui à livraria e comprei a gramática e os dois livros de Direito daquele autor
indicado pelo professor do curso.”
A segunda frase agrada mais, concorda? Pela seguinte razão: o termo mais curto
ficou na frente do mais longo. Quando o verbo tiver mais de um objeto, direto ou
indireto, ponha o mais curto na frente.
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Dica 2 ‐ Pronome Demonstrativo
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Século XVI, Japão feudal, samurais. Família Ichimongi, com o patriarca
Hidetora ao centro, seus três filhos, o bobo da corte. Famílias rivais
prestes a selar amizade após anos de intriga. Essa é a segunda cena do
brilhante filme RAN, 1985, de Akira Kurosawa, consagrado diretor
japonês.
Ultrapassada a barreira da nossa ansiedade ocidental, podemos nos deixar
enlevar ao ritmo das nuvens do céu do Japão, que acompanham as cenas
como se observassem os acontecimentos humanos.
Aproximadamente à 1 hora e 53 minutos do filme, temos o diálogo entre
os irmãos Sue e Tsurumaru:
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Passadas 2 horas e 3 minutos do filme, ouvimos:
Incitados pelas frases extraídas de RAN ‐ palavra que, a propósito, significa conflito,
algo com o que todos os que lidam com processo no TRT estão habituados – vamos a
alguns esclarecimentos sobre pronomes demonstrativos.
Concebe‐se o uso do pronome demonstrativo a partir do ponto central de orientação
do sujeito falante, que é o referencial, e tem o propósito de expressar tempo, espaço,
posição no texto (sobre o que ou quem se trata) para a mensagem ser transmitida com
exatidão.
1) Critério espacial:
a) este(s), esta(s), isto: referem‐se à primeira pessoa gramatical, indicam que o
objeto está perto da pessoa que fala (aqui).
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Exemplo: Este livro em meu colo é ótimo;
b) esse(s), essa(s), isso: referem‐se à segunda pessoa gramatical, indicam que o
objeto está perto da pessoa com quem se fala (aí).
Exemplo: Esse livro na sua mão é bom?
OBSERVAÇÃO: O objeto pode até estar perto de mim, mas a frase se refere ao meu
ouvinte. Imaginem a cena: estou vendo um livro nas mãos de um amigo, me
aproximo, pego o livro também, sem tirá‐lo das mãos dele e pergunto: Onde você
comprou esse livro?
c) aquele(s), aquela(s), aquilo (lá, aí): referem‐se à terceira pessoa gramatical,
indicam que o objeto está distante do falante e do ouvinte.
Exemplo: Você viu aquela livraria nova na outra comercial?
2) Critério temporal:
a) este(s), esta(s), isto: tempo presente.
Exemplo: Esta semana, este mês (outubro), este ano (2012).
b) esse(s), essa(s), isso: tempo passado recente ou futuro próximo.
Exemplos: • Conheci você em 2008. Nesse tempo, você ainda não tinha filhos;
• Esse ano de 2013 será ótimo!
c) aquele(s), aquela(s), aquilo: tempo passado, bem distante, vago, remoto.
Exemplo: Bons tempos aqueles da minha juventude!
3) Critério da posição no texto ou critério cognoscitivo:
a) este(s), esta(s), isto: emprego catafórico – indica que a frase será pronunciada,
o pronome se refere àquilo que aparecerá no texto, após o pronome; chama
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atenção sobre o que vamos dizer.
Exemplo: A Escola Judicial publicou esta frase: “Terceira turma do curso de
português jurídico a distância tem início dia 10”
b) esse(s), essa(s) isso: emprego anafórico – indica que a frase foi pronunciada,
está sendo retomada, o pronome se refere àquilo que já apareceu no texto.
Exemplo: “Terceira turma do curso de português jurídico a distância tem início
dia 10”, essa frase foi publicada pela Escola Judicial.
É empregado, também, quando nos referimos ao que foi dito por nosso
interlocutor.
Exemplo : ‐ Você não dormiu bem, aceita um café para despertar?
‐ Já tentei isso.
4) Critério distributivo:
Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já mencionados, servimo‐nos
dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo para o referido primeiro lugar e dos
este(s), esta(s), isto para o que foi nomeado por último.
Exemplo: A pressa é inimiga da perfeição, esta não admite aquela.
Trailler do filme RAN – 1985 –
http://ead.trt10.jus.br/ran/
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Dica 3 ‐ Registro de data e hora
Escrito por Ana Paula Rodrigues
‘’Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser.
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem,
Que sai agora às onze horas,
Só amanhã de manhã.’’
Adoniran Barbosa
Trecho do samba “Trem da Onze”
Clique aqui para ouvir a versão completa
O fragmento do clássico samba vem ilustrar o formato por extenso da
notação de horas, redigido assim porque será cantado sem abreviação.
Trata‐se de texto poético, de letra de música que será entoada tal como
escrita.
Para nós aqui no TRT esse formato não é possível. Devemos usar a norma
culta aplicada aos textos oficiais.
Vejamos, então, como deve ser:
a) Não se escreve no formato de relógio digital, portanto, 08:00 é errado!
b) A representação de horas é “sem nada” ‐ sem dois pontos, sem ponto, sem
plural, sem espaço, sem maiúsculas;
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c) Somente escreveremos o símbolo de minutos (min) caso haja segundos; os
segundos não precisam ser denotados por símbolo, pois já estão implícitos e
sempre optaremos pela forma mais econômica nas redações;
Exemplo: 14h, 14h30, 14h30min40.
d) Para jornada de horas permanece o numeral em algarismo arábico, mas os
termos “horas”, “minutos” e “segundos” vêm por extenso.
Exemplo: O reclamante trabalhava 8 horas por dia;
a autora usufruiu de apenas 1 hora de intervalo.
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Mais dicas:
a) Nas assinaturas dos documentos é preciso registrar por extenso o mês, com
o nome da localidade:
Exemplo: Brasília, 5 de maio de 2010.
b) O primeiro dia sempre se escreve em numeral ordinal:
Exemplo: 1º .5.2010.
c) O ano se apresenta com os quatro algarismos sem ponto:
Exemplo: 2010.
d) Dispense os substantivos dia, mês e ano:
Exemplo: em 12 de fevereiro de 1999.
e não
no dia 12 do mês de fevereiro do ano de 1999.
e) Para citação de lei, recomendável que seja aposta a data da sua criação na
primeira vez em que aparecer no texto, no formato sucinto:
Exemplo: 5/5/2010.
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Dica 4 ‐ Uso dos "porquês"
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Porque ‐ Conjunção explicativa ou causal
Usa‐se em resposta ou indicação de causa.
Exemplos:
Ele se sente cansado porque o clima está muito seco.
Abandonou o curso porque, tendo de cuidar dos filhos à noite e
trabalhar de manhã, sentiu‐se no limite.
Por que foram a juízo? Porque estavam cheios de razão.
Ela sabe a razão da queda dos juros, porque além do cargo detém
outros poderes.
Porque trabalhamos em sala fechada, nem sempre percebemos a
mudança no clima.
Não foi à palestra porque não se sentia bem.
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Por que ‐ Preposição + pronome interrogativo ou relativo
Usa‐se em oração interrogativa direta (com ponto de interrogação
grafado) e também na indireta (sem grafia da interrogação, esconde as
palavras "razão", "motivo" ou "causa").
Quando usar:
a) em perguntas diretas e indiretas:
Exemplos: Por que você não veio?
Você ainda não me contou por que não veio.
b) em frases afirmativas/negativas e exclamativas:
Exemplos: Vamos verificar por que os processos estão se
acumulando nesse setor.
Sinceramente, não sei por que ela não veio.
c) em títulos de obras/artigos:
Exemplo: POR QUE PRATICAR ATIVIDADE FÍSICA [título de artigo]
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Por quê / Quê
O “que“ passa a ser tônico em final de frase. Fica acentuado antes de
pausa forte, do ponto de interrogação, exclamação ou final.
Exemplos:
Agradecida. – Não há de quê.
O professor marcou novos testes, ninguém sabe por quê.
Quem foi ao show adorou. Você quer saber por quê?
Tanta correria para quê?!
Você é especial, sabe por quê?
Qual o quê! É a mais pura especulação.
Porquê ‐ Substantivo masculino
Usa‐se precedido de artigo, numeral ou pronome.
Exemplos:
Não entendo o porquê de tudo isso.
Ah, se todos os nossos porquês tivessem resposta!
Certos porquês não convencem o juiz.
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Alguns porquês da humanidade
"Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e
formação de caráter".
Essa frase foi dita por Carl Sagan em um interessante documentário
intitulado Um pálido ponto azul. Clique no link abaixo para assistir:
"Um pálido ponto azul" ‐ Carl Sagan
http://ead.trt10.jus.br/carlsagan
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Dica 5 ‐ O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Escrito por Ana Paula Rodrigues
‘’Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo‐te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo‐te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!’’
Olavo Bilac
BILAC, Olavo. Língua portuguesa.
In: Poesias. 29. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977. p. 268.
O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa está em vigor desde
1º/1/2009 e o período de transição para implementação definitiva se
encerrará no final de 2012 aqui no Brasil, país que terá o dicionário menos
modificado dentre todos os envolvidos.
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A explicação mais usual
para o Novo Acordo é
que simplesmente se
quer unificar a Língua
Portuguesa entre os 8
países que a adotam
como oficial... mas, por
quê? Se a língua é a
expressão cultural de
identidade de cada povo
por excelência,
patrimônio de cada um de nós e, como um organismo vivo, se modifica ao
longo do tempo conforme influências e premências diversas, como se
pode unificá‐la e impor mudanças aos seus falantes naturais? Bem, da
mesma forma com que a norma culta é imposta para que se possa
escrever de modo inteligível a todos, restringindo coloquialismos,
regionalismos e variantes que poderiam atrapalhar a comunicação em
larga escala, o Novo Acordo veio para que os 8 países tenham maior
integração entre si e mais expressividade no cenário mundial.
Entretanto, há mais razões nem tão simples assim que gostaria de lhes
contar:
Razões Políticas
A língua é instrumento de poder. Em toda dominação de povos na história da
humanidade a língua foi usada para aculturar os nativos ao levar paradigmas
diferentes, visão de mundo, valores, todo um universo cultural que subjuga e aos
poucos substitui a cultura local. O nosso “português brasileiro” está sendo
privilegiado nessa reforma: apenas 0,5% do idioma será modificado aqui,
enquanto em Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné‐Bissau, Moçambique, São
Tomé e Príncipe e no Timor‐Leste, 1,6%, com alterações que tornarão a Língua
Portuguesa mais brasileira que nunca.
Em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, do
qual recebemos gratidão. Todos os países africanos ex‐colônias guardam mágoas
e ressentimentos de Portugal pela colonização exploratória e discriminatória de
mais de 4 séculos de duração. O Brasil é para eles o grande irmão com quem
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Razões Econômicas
O mercado editorial se ampliará e o lucro será maior ao se poder publicar uma
mesma obra nos 8 países, uma vez que a Língua será una e facilitará divulgação
do idioma e respectiva literatura
O lobby das editoras, especialmente das brasileiras, tem forte peso para a
implementação deste Novo Acordo, que é visto como um tratado facilitador da
penetração no mercado africano a ameaçar o das editoras portuguesas naquele
continente.
No cenário mundial contemporâneo, estamos em destaque economicamente em
comparação com Portugal, que vivencia profundamente a crise na Europa.
Somos o principal exportador dentre os países lusófonos.
O acordo ampliará cooperação internacional entre os 8 países, facilitará
intercâmbio cultural e científico entre as nações.
Todos esses fatores citados compõem um pano de fundo em que se pode
vislumbrar que não se trata de um simples novo conjunto de “regras de
Português” que teremos que decorar, é antes um acordo político que linguístico.
A revolta em Portugal é muito grande, a reforma nem sequer tem data para
entrar em vigor, é chamada de traidora da Pátria. Fala‐se em inversão poética da
colonização, que a Língua não evolui por decreto e está sendo descaracterizada.
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Há quem lamente que Portugal errou ao deixar um “filho” enorme como o Brasil
e não umas vinte repúblicas pequeninas, todas menores que o reino‐mãe!
Além das questões linguísticas complexas, tem‐se um misto de sentimento
colonialista transformado em subjugo e abandono, ao invés de cooperação e
cultura.
Não se pode negar, ademais, que os portugueses demonstram um sentimento
protetor e patriótico muito grande e aparentemente maior que o dos brasileiros,
a julgar pelo inconformismo, enquanto aqui se observa a simples e pura
aceitação das mudanças impostas, que, ainda que mais favoráveis, também são
contra a ordem natural das coisas, afinal, já disse Fernando Pessoa, “minha
pátria é a Língua Portuguesa”!
**********************************************************************
Acredito que, melhor do que dispor
neste espaço lista de vocábulos cuja
ortografia foi alterada ou mesmo
destacar principais mudanças
constantes do Novo Acordo ‐ material
em profusão em vários meios de
comunicação e objeto dos cursos e
manuais da Escola Judicial, é fornecer
3 fontes de consulta pela internet
bastante úteis:
Novo Acordo Ortográfico na
íntegra;
VOLP – Vocabulário
Ortográfico da Língua
Portuguesa, fornecido pela
Academia Brasileira de Letras,
já devidamente adaptado;
Conversor Ortográfico ‐
converte o vocábulo da escrita
anterior para a nova!
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As músicas sugeridas têm letras muito educativas e plenas de significado.
“Pindorama”, da dupla Palavra Cantada, é voltada para as crianças,
enquanto “Língua”, de Caetano Veloso, é cheia de referências a obras e
artistas da Língua Portuguesa:
"Pindorama" "Língua" ‐ de Caetano Veloso
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Dica 6 ‐ Uso correto de expressões latinas
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Se há uma dica de Português infalível para se escrever bem é esta: leia
bons livros. Mais do que tentar decorar as regras gramaticais, ler livros
bem escritos nos permite memorizar a ortografia correta, a sintaxe
perfeita, o uso adequado de expressões diversas, o estilo de que
gostamos. A intuição linguística vem a se desenvolver num patamar mais
acurado de competências que permitem ao falante se expressar melhor e
redigir com assertividade.
Os textos de Machado de Assis são muito bem cuidados, apresentam
linguagem culta, clássica e acadêmica, tudo conforme regras de correção
gramatical; por tudo isso, servem muito bem ao propósito do estudo da
norma.
Veja no texto de "O Alienista" exemplo de bom uso da expressão plus
ultra:
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MOON, Fábio e BÁ, Gabriel. O Alienista de Machado de Assis: adaptação de Fábio Moon e Gabriel Bá.
Coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel. Rio de Janeiro: Agir, 2007.
A seguir, lista de palavras e expressões por vezes usadas
equivocadamente e seu correto significado:
A cerca de / Acerca de / Há cerca Eis que
de / Cerca de
Não usar no sentido de causa.
A cerca de – distância Empregar somente no sentido de
aproximada, tempo futuro “de repente”.
aproximado.
Acerca de – sobre, a respeito de. Face a face / Frente a frente
Há cerca de – indica tempo
transcorrido, “faz Nenhuma expressão composta
aproximadamente”. de palavras repetidas tem acento
Cerca de – aproximadamente. grave. Nada de crase.
Aferir / Auferir Grosso modo / A grosso modo
Aferir – avaliar, cotejar, medir, Grosso modo – de modo
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conferir. grosseiro, aproximado, impreciso;
Auferir ‐ obter, receber. A grosso modo – não existe.
A fim / Afim Há / A / Há muito tempo atrás
A fim – para, com o objetivo de, Há – diz respeito a tempo
finalidade. passado: trabalho aqui há anos;
Afim ‐ tem afinidade, A – no sentido de tempo, refere‐
semelhança. se a futuro: daqui a 10 anos me
aposentarei;
À medida que / Na medida em Há muito tempo atrás –
que pleonasmo, não usar.
À medida que – à proporção Isto posto / Isso posto / Posto
que, ao passo que, conforme. isso
Nunca usar no sentido de causa.
Na medida em que – uma vez Isto posto – “isto” refere‐se ao
que, tendo em vista, pelo fato de que se dirá, não ao que se disse,
que. Traz ideia de causa. além de estar antes do verbo, o
que também é inadequado;
Isso posto – A forma nominal do
A nível de / Ao nível de / Em nível verbo (particípio ou gerúndio)
de deve vir antes do pronome e nessa
expressão a posição está invertida;
A nível de – não existe. Posto isso – Expressão correta.
Ao nível de – à altura de.
Em nível de – nessa instância, no
âmbito de. Geralmente
dispensável, pode‐se cortar da Junto a
frase sem perda de sentido.
Tem significado físico: perto de,
ao lado de. Exemplos: carrego a
A par / Ao par bolsa junto ao corpo; Parei junto
ao carro.
A par – ciente, informado, Não use em frases do tipo:
inteirado, por dentro do assunto.
Ao par – emparelhado, caminhar “impetrou mandato junto à
lado a lado. Vara”;
“solicitou empréstimo junto ao
Apud banco”;
“está em negociação junto aos
Apud ‐ Junto de. sócios”.
A princípio / Em princípio Para essas, prefira:
A princípio – No começo,
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inicialmente, antes de qualquer “impetrou mandato na Vara”;
coisa. “solicitou empréstimo ao
Em princípio – em tese, banco”;
teoricamente. “está em negociação com os
sócios.
A quo
A quo – juízo a quo é aquele de
cuja decisão se recorre. Dies a Mutatis mutandis
quo é o dia em que um prazo
começa a ser contado. Quer dizer “mudando o que deve
ser mudado”, “com a devida
alteração de pormenores”, “uma
Através vez efetuadas as necessárias
mudanças”.
Do verbo atravessar, só pode ser
empregado no sentido de
transpassar, passar de um lado
para o outro ou passar ao longo Onde / Aonde
de. Exemplos: o navio atravessa os
mares; vejo através do vidro. Onde ‐ usa‐se apenas ao se
Não pode ser empregado no lugar referir a lugar; significa local em
de “mediante”, “por meio de”, que, no qual;
“por intermédio de”, “graças a”, Aonde ‐ indica movimento para
“segundo” ou “por”, sendo assim, um lugar; usa‐se somente com
não escreva, por exemplo, verbos que requerem a preposição
"peticionou através do advogado" "a" e indicam movimento.
ou "recorre através dos
documentos".
Pedir vista / Pedir vistas
Avocar / Invocar / Evocar O correto é "pedir vista", no
singular.
Avocar – atribuir‐se, chamar.
Invocar – pedir ajuda, chamar,
proferir.
Evocar – lembrar, invocar. Plus ultra
Plus ultra ‐ Mais além.
Bastantes / Bastante
Bastantes – quando acompanha
substantivo, é adjetivo, por isso, é Posto que
flexionado e pode ser substituído
por “muitos” ou “suficientes”. Equivale a "embora", "apesar
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Exemplos: tenho bastante de" e não a "porque".
dinheiro;
tenho bastantes dívidas;
ele obteve bastantes
provas para o laudo; Se não / Senão
Bastante – quando acompanha
adjetivo ou verbo, é advérbio, não Se não ‐ caso não;
flexiona e pode ser substituído por Senão ‐ mas, a não ser, exceto
“muito”. pois, do contrário, caso contrário,
Exemplo: Trabalho bastante defeito.
durante a semana. Plural: senões.
Cada
Sequer / Nem sequer
É pronome indefinido que não
pode ser usado sozinho: Sequer ‐ pelo menos, ao menos:
acompanha substantivo, numeral o recorrido teria ido se a
ou pronome “qual”; portanto, não intimação sequer tivesse chegado;
use “ganharam 5 bombons cada” e Nem sequer ‐ nem ao menos ‐
sim "ganharam 5 bombons cada usa‐se para expressar negação: o
um". recorrente nem sequer juntou
provas aos autos.
Cessão / Seção / Sessão
Cessão – ato de ceder; Sine qua non
Seção – parte, trecho, setor,
repartição; Sem a qual não; indispensável,
Sessão – reunião; lapso de essencial.
duração de um congresso,
assembleia. Sito em
Não use "sito a", pois não indica
Com vista a / Com vistas a movimento.
Ambas são corretas e têm
mesmo significado.
Vez que / uma vez que
Custas / Custa Vez que ‐ não existe;
Uma vez que ‐ dado que, visto
Custas – despesa forense; que, como, já que; no caso de,
Custa – sempre no singular na caso, se.
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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expressão “à custa de”.
Vultoso / Vultuoso
Deferir / Diferir
Vultoso ‐ volumoso, relativo a
Deferir – conceder, outorgar; vulto, grande vulto;
Diferir – discordar, diferenciar; Vultuoso ‐ com a face
retardar, adiar. congestionada.
Descriminar / Descriminalizar /
Discriminar
Descriminar e descriminalizar –
do Direito Penal, significa
inocentar, absolver de crime; o
prefixo “des” traz ideia de
negação;
Discriminar – tratar de forma
diferente.
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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Dica 7 ‐ Uso do "Se"
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Central do Brasil. Drama, 1998, 113 minutos. Diretor: Walter Salles.
http://ead.trt10.jus.br/central
Destacamos Bagdad Café, Paris/Texas, Sem Destino, Thelma e Louise,
Pequena Miss Sunshine, Assassinos por Natureza, Coração Selvagem. Mas
não só na terra do tio Sam esse estilo é produzido, temos, por exemplo, o
francês Mamute, o mexicano E Sua Mãe Também, os brasileiros Bye Bye
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Brasil, Na Estrada, Central do Brasil, os dois últimos de Walter Salles,
diretor também de Diários de Motocicleta, coprodução que envolveu
Argentina, Brasil, Chile, Reino Unido, Peru, Estados Unidos da América,
Alemanha, França e Cuba.
Central do Brasil é um filme maravilhoso, humanista, singelo e bem feito.
A personagem de Fernanda Montenegro, Dora, recupera sua identidade e
o afeto, se re‐sensibiliza graças ao encontro do outro, que vem a ser o
menino Josué, que a leva a uma viagem por um Brasil diverso daquele do
Rio de Janeiro, cidade em que vivia. Atenção para a trilha sonora e para a
construção das imagens, que vão se tornando fluidas e rarefeitas na
mesma proporção em que Dora se torna livre da opressão e do
pragmatismo em que se encontrava; vale também assistir às entrevistas
com atores e diretor do filme.
Usaremos várias frases extraídas dessa película e da música Preciso me
encontrar, integrante da trilha sonora, para exemplificar os tópicos da
nossa dica sobre uso do se, que não é um viajante pelas estradas, mas faz
muita gente “viajar na maionese” na hora de escrever!
Nos textos do TRT, há corriqueiramente má aplicação do se
principalmente como pronome na função de partícula apassivadora ou de
índice de indeterminação do sujeito, como ver‐se‐á a seguir:
O se tem duas acepções: conjunção ou pronome pessoal.
I) Na qualidade de conjunção, expressa subordinação à ação principal.
Pode ser:
1 ‐ condicional
‐ indica hipótese, condição; no caso de. Se ele não vier, eu
deponho. Do filme: Se ele estiver aí, fala alguma coisa maluca.
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secretário de audiência digita.
‐ indica causa; visto que, uma vez que. Se você nem sequer
precisa depor, por que está tão ansioso?
2 ‐ integrante
Neste caso encaixa‐se o verso da música em destaque, que, na
ordem direta da frase, seria assim:
Diga que eu só vou voltar depois que eu me encontrar se alguém
por mim perguntar.
Também, as seguintes frases do filme:
Vê se pelo menos me aparece para conhecer seu filho.
Se por acaso você mudar de ideia é só você vir, ó', vir atrás de
mim, numa boa.
II) Na qualidade de pronome pessoal, refere‐se à 3ª pessoa do
singular para os dois gêneros; funciona como objeto do verbo
ou complemento. Pode ser:
1 ‐ objeto direto
‐ tranquilizar‐se, ferir‐se, agredir‐se, recusar‐se; Exemplo de fala
do filme: Pai, vem aqui no Rio que minha mãe se machucou;
2 ‐ com verbos pronominais, indica caráter reflexivo ou recíproco
‐ aposentar‐se, arrepender‐se, queixar‐se; indignar‐se; Exemplo
extraído do filme: Vá lá, se achegue!
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3‐ partícula apassivadora
‐ forma, juntamente com o verbo, a voz passiva sintética, como
lemos na placa da mesa de trabalho da Dora, escrevedora de
cartas:
Escreve‐se carta, ou carta é escrita;
Escrevem‐se cartas, ou cartas são escritas.
É erro bastante comum, talvez o mais encontrado em anúncios,
como os vistos no filme:
Faz‐se móveis ‐ o certo é fazem‐se móveis (móveis são feitos);
Conserta‐se óculos ‐ o certo é consertam‐se óculos (óculos são
consertados).
Dica: a voz passiva sintética é formada com verbo transitivo direto
(há exceções) + se e permite troca para a voz passiva analítica. A
voz passiva analítica é formada com verbo ser + particípio.
Identifica‐se o sujeito passivo da oração, principalmente na
conversão da forma sintética (com se) para a forma analítica,
como feito nos exemplos. Então, o macete é construir a frase com
o verbo ser, se ele for para o plural, o verbo da frase com se
também irá.
Na voz passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito, por isso,
vai para o plural se o sujeito for plural.
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4‐ índice de indeterminação do sujeito ‐ IIS
‐ o verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular.
Dica: para não confundir com a partícula apassivadora (item 3),
perceba que a transposição para a voz passiva analítica não é
possível, pois neste caso não temos verbos transitivos diretos
(exceção para os preposicionados), apenas verbos transitivos
indiretos, intransitivos ou de ligação. Não se identifica o sujeito da
frase.
Por isso, o verbo nunca vai para o plural, pois não há sujeito com o
qual concordar em número!
Vejamos:
Aqui se é feliz ‐ verbo de ligação;
Morre‐se de amores ‐ verbo intransitivo;
É erro, dessarte, redigir "tratam‐se de embargos..." ou "cuidam‐
se de embargos", equívoco comum nos textos do TRT. O verbo
tratar, na acepção desta frase, é transitivo indireto, requer
preposição de, forma a expressão verbal TRATAR‐SE DE
determinado assunto, e o sujeito é indeterminado.
Obs: importante evitar o excesso de uso do pronome "se" como IIS;
em muitos casos, ele pode ser subtraído sem perda do sentido da
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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frase. Ex: Para atingir nossa meta há que evitar estrangeirismos (e
não para se atingir...há que se evitar).
Verso da música Preciso Me Encontrar, Cartola, 1976.
Quanto à colocação correta na frase, o se pode ocupar três posições em relação ao
verbo ‐ antes, depois ou no meio do verbo, ou seja, em ênclise, próclise ou mesóclise,
respectivamente, conforme regras a seguir:
1 ‐ ênclise
De modo geral, é desta forma que se deve escrever, com o pronome posposto ao
verbo. Exemplo: Escreve‐se carta.
Atenção para a proibição:
1‐ Quando houver palavra de valor atrativo de próclise, que estudaremos a seguir.
Obs: Ao usarmos o pronome em ênclise, temos mais chance de acertar, pois atende à
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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maioria dos casos de colocação pronominal!
2 ‐ próclise
Há perda da força enclítica por motivo de anteposição, aos verbos, de partículas
que atraem o pronome oblíquo, normalmente para efeito de eufonia (bom som).
Vejamos os 8 casos em que a próclise é obrigatória:
a) Em orações negativas, pois a palavra negativa, seja advérbio, pronome ou
conjunção, atrai o "se" para antes do verbo. Exemplos: Nada se fará;
Ela não se examina nem se deixa examinar;
d) Com pronomes adjetivos e relativos que, qual, quem, cujo. Exemplos: Aí
está o processo cujas páginas se sujaram;
e) Com certas conjunções coordenativas aditivas (nem, não só, mas
também, que). Exemplos: Não comprou nem se lembrou de pedir para
comprar;
f) Com os pronomes indefinidos (algum, alguém, diversos, muito, pouco,
tudo, vários etc.), quando estão antes do verbo. Exemplos: Pouco se estuda
o idioma pátrio. Tudo se tem aqui, recursos materiais e humanos.
g) Com os advérbios, sempre que precederem o verbo. Exemplos: Aqui se
faz, aqui se paga; sempre se pede mais, quando a comida é boa!
h) Com os pronomes demonstrativos. Exemplos: Aquilo se assemelha a uma
assinatura forjada;
i) Com o verbo no gerúndio, precedido da preposição em. Exemplo: Nesta
terra, em se plantando, tudo nasce.
Proibição:
1‐ Não se pode iniciar um período com pronome oblíquo. Exemplo de erro: Me deram
um presente (deve‐se dizer: Deram‐me um presente);
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3 ‐ mesóclise
A mesóclise é obrigatória quando as formas do futuro do presente e as do futuro
do pretérito iniciarem o período e sempre que, mesmo sem iniciar o período, não
houver partícula atrativa de próclise. Exemplos: Queixar‐se‐ia se não estudasse muito;
Alegrar‐se‐á com as peraltices de seu bebê; mesmo que nada se faça, propor‐se‐á o
projeto novo.
Dica final: a próclise predomina sobre a mesóclise, que predomina sobre a ênclise,
embora esta colocação atenda à maioria dos casos!
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Dica 8 ‐ Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso"
Escrito por Ana Paula Rodrigues
As frases destacadas nos quadros são contribuição da cultura popular para
exemplificar o quanto podemos aplicar elipses(1), zeugmas(2) e contrações
às palavras e ainda assim o objetivo da comunicação se efetivar. Depende
da intenção, do contexto, do registro que temos de usar em determinado
veículo e ambiente e, claro, da criatividade, da região do Brasil e até
mesmo em decorrência do grau de instrução. A comédia Ó paí, ó traz
expressão baiana, enquanto o diálogo ao redor do "cafezinho" é
regionalismo mineiro e foneticamente se assemelha ao som de uma
galinha!
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Rotineiramente, lemos em textos jurídicos as expressões "não há falar",
"não há falar‐se" e afins e aí surge a dúvida: estão corretas? De uma
primeira impressão, fica a sensação de que falta algo na frase, de que está
capenga, com algum termo elíptico... mas não está!
‐Não há falar;
‐Não há falar‐se;
‐Não há que falar;
‐Não há que se falar.
Por extensão, mesma explicação serve para outros verbos, como, por
exemplo, não há confundir, não há fugir, não há olvidar.
(1)
elipse ‐ omissão de um termo facilmente identificável, que fica subentendido pelo
contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase. Torna o texto mais conciso
e elegante;
(2)
zeugma ‐ caso especial de elipse, quando o termo omitido já tiver sido expresso
anteriormente na frase.
buuuuu
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O fantasma no elevador assombra. Chama‐se o mesmo. Cuidado com ele!
Por isso, o aviso aos usuários em todo hall de elevadores:
Comunidades no orkut e facebook foram criadas e os mais descrentes
fizeram piada do fantasma (ou seria um maníaco?).
Brincadeiras à parte, vamos entender o porquê dessa frase estar errada.
1. Os termos o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas não podem ser usados no
lugar de substantivo ou de pronome, e sim como um reforço de um nome ou
pronome ao qual se ligam; sendo assim, concordam com o termo a que se referem,
como nos exemplos:
‐ Ele mesmo trouxe as provas (próprio);
‐ As assistentes mesmas farão o voto (próprias);
‐ As mesmas testemunhas estão neste processo (de igual identidade);
‐ Os assistentes mesmos digitaram o texto (próprios);
2. O mesmo funciona como substantivo e flexiona em gênero e número quando
significa "a mesma coisa" ou "a mesma pessoa" (atenção, não substitui um
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substantivo e sim é o próprio substantivo):
‐ Nos anos que se seguiram, sucedeu o mesmo (a mesma coisa);
‐ Continuam as mesmas na defesa da justiça (as mesmas pessoas).
3. Invariável fica o termo mesmo se utilizado no sentido de realmente, até, ainda
que, embora, como nos exemplos:
‐ Mesmo doentes, vieram testemunhar;
‐ As testemunhas colaboraram mesmo com o andamento do processo;
‐ Mesmo querendo, não vamos concluir todos os votos até o encerramento do ano.
Quanto ao aviso do elevador, o erro está em ter utilizado o mesmo como substituto
de ‘elevador’, o que é proibido, conforme explanação no item 1. Várias maneiras de
se redigir o aviso seriam melhores, tais como:
‐ Antes de entrar no elevador, verifique se esse encontra‐se parado neste andar;
‐ Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra‐se parado neste andar;
‐ Antes de entrar, verifique se o elevador está no andar.
Mesmo raciocínio se aplica às redações oficiais e votos no TRT. Exemplos de erro:
a) A recorrente solicitou juntada de provas, mas a mesma foi indeferida.
Frase errada porque a mesma não pode substituir o substantivo juntada.
Correta:
‐ A recorrente solicitou juntada de provas, mas esta foi indeferida.
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b) O juiz recebeu o processo e analisará o mesmo rapidamente.
Errado porque o mesmo está no lugar de processo mas não pode
funcionar como seu substituto. Correto:
‐ O juiz recebeu o processo e o analisará rapidamente.
c) Irei ao escritório do meu advogado e lá combinarei com o mesmo a melhor
defesa.
Texto incorreto pelo mau uso de o mesmo no lugar do pronome pessoal,
indica estilo fraco e falta de recursos sintáticos. Ficaria melhor:
‐ Irei ao escritório do meu advogado, com quem combinarei a melhor
defesa;
‐ Irei ao escritório do meu advogado para combinar com ele a melhor
defesa;
‐ Irei ao escritório do meu advogado. Combinarei com ele a melhor defesa.
Por fim, vejamos a notação correta para indicação de verso da folha.
Especificar que o assunto está localizado no verso da página (quando ela não é
numerada) é importante e economiza tempo, pois o leitor pode ir direto ao ponto que
interessa.
Temos em frase do tipo "as contrarrazões estão à fl.21, verso" adjuntos adverbiais que
devem ficar separados por vírgula. Identificam‐se dois adjuntos adverbiais de lugar, o
primeiro expressa que a informação está contida na folha 21 e o segundo, que o
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conteúdo tem prosseguimento no verso da referida folha.
Recomenda‐se evitar o uso da notação "v." para não ser confundida com a abreviatura
de "vide" ou "veja".
Sugerimos, então, a notação no formato a seguir:
O recurso é tempestivo, fl. 121, verso e a representação está regular, fl. 45,
verso.
Por falar em verso, há um trecho do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989,
EUA, drama, direção de Peter Weir) em que encontramos inspiradora
explanação do professor Keating a seus alunos que cabe bem neste momento
de fim de ano, vejam:
Trecho de Sociedade dos Poetas Mortos. DISNEY e BUENA VISTA. 1989
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica8/trecho_sociedadepm.flv
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Dica 9 ‐ Estética Textual e Vícios de Linguagem
Escrito por Ana Paula Rodrigues
O que é “belo”? O que vem a ser “beleza”?
Ao longo da história da humanidade, essas questões sempre se fizeram
presentes e as respostas certamente foram bem diversas das que
obtemos no mundo contemporâneo.
ECO, Umberto. História da Beleza, Rio de Janeiro: Record, 2004.
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No livro “História da Beleza”, organizado por Umberto Eco, temos breve
análise da cultura ocidental sobre o tema‐título desde a Antiguidade até o
século XX. Embora sua fonte de pesquisa se atenha à Europa e não
abranja tão detidamente as belezas das Américas, partilhamos dos
mesmos ideais e podemos observar o quanto o conceito de belo continha
princípios sublimes, duradouros, nada absolutos. O que hoje se tem, ao
menos popularmente, é a beleza concebida como mero produto de
consumo por vezes descartável, fruto de processo midiático e um fim em
si mesma.
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Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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Na Grécia antiga, o belo, o bom e o verdadeiro
eram indissociáveis, exsurgindo daí princípios
éticos e estéticos. Ligada à proporção e à
harmonia, a beleza relacionava‐se ao cosmo e à
natureza.
Míron, Discóbolo, 460‐450 a.C.
Na Idade Média, luz e cor compunham o conceito
do belo, ligado também à poesia. A proporção, a
integridade e a claritas (luminosidade) eram
necessárias à beleza, conforme Tomás de Aquino.
Surpreende saber que ao tempo em que filósofos,
teólogos e místicos eram todos homens de igreja
e de rigor moralista surgiram cantos como
Carmina Burana (séculos XII‐XIII) e composições
poéticas pastoris em que se descreviam as belezas
femininas muito sensualmente.
Miniatura do Código Manessiano, século XIV
Nos séculos seguintes, passou‐se a relacionar a
beleza com a mimesis: imitava‐se não no sentido
de cópia, mas de representação da natureza, pois
o conhecimento do mundo visível seria meio para
o conhecimento da realidade suprassensível. O
simulacro tornou‐se nobre porque reproduzia a
beleza.
Botticelli, Alegoria da Primavera, 1482
Na Renascença, a mulher da Corte ocupava‐se da
moda sem esquecer de cultivar a própria mente
com capacidades discursivas, filosóficas e
polêmicas e tinha participação ativa nas belas
artes. O homem demonstrava poder e força e
colocava‐se no centro do mundo. A opulência e a
brancura dos corpos indicava nobreza, uma vez
que fartura de alimentos era para poucos, sendo a
magreza atributo dos plebeus e ligada a pobreza,
doença e mazelas em geral, assim como as peles
bronzeadas pelo sol era indicativo de pessoa
trabalhadora braçal.
A condessa Hanssonville, 1845
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O belo se manifesta na arquitetura e nas artes em geral conforme a época e mesmo uma paisagem passa por
essa conceituação, que se transformou ao longo dos séculos até chegarmos ao minimalismo, praticidade,
funcionalidade e outros atributos relacionados ao nosso tempo, que requer velocidade até na hora de
apreciarmos a beleza! Se antes um texto podia apresentar floreios e divagações tal qual uma vestimenta
rebuscada, hoje tem que primar pela facilidade de leitura ao apresentar períodos curtos, declarações diretas,
concisão, precisão, simultaneamente com preocupações de passar o máximo de informação útil e ainda ser
politicamente correto.
Vila Chigi, em Centinale, Siena Caspar Friedrich, Rochedos em Rügen, 1818
Rosácea norte da Catedral de Notre Dame em Paris Caspar Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818.
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Frank Lloyd Wright, Casa Kufmann, Bear Run, 1936
O belo em temas diversos ‐ jardim, paisagem, arquitetura
Paremos por aqui na apreciação da beleza histórica.
Vamos, afinal, nos deter nas quatro regras a seguir:
Sobre essas regras funda‐se o senso comum grego da beleza, e não é que
cabem perfeitamente ao nosso tema da dica?
Estética textual
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A beleza de um texto alcança seus leitores de modo a conduzi‐los
agradavelmente a máximos entendimento e compreensão da mensagem;
tem caráter social e coletivo na medida em que colabora para que o
objetivo da comunicação seja atingido.
A estética textual refere‐se à correção linguística, ao esmero com que se
escreve e a aspectos técnicos e estruturais como os estabelecidos pela
ABNT. Visualmente aprazível, transmite o cuidado com organização por
parte do escritor e que este se importa com seus leitores.
Boa concatenação de ideias, expressão clara e lógica do pensamento têm
implicação na aparência: os parágrafos devem ser mais curtos, com uma
ideia central apenas.
VÍCIOS DE LINGUAGEM
O bom senso estético e a procura do belo ao redigir evita os denominados
vícios de linguagem:
1 ‐ Ambiguidade ‐ falta de clareza no discurso, gera possibilidade de uma
mensagem ter dois sentidos.
Exemplos:
O reclamante andava de lotação, ao final do contrato já não andava
mais (não andava porque adquiriu deficiência, porque passou a ir a
pé ou porque comprou um automóvel?);
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2 ‐ Barbarismo ‐ desvio da norma culta e uso de palavra estrangeira no
lugar da equivalente em Português.
Exemplos:
A empresa mantinha serviço de delivery (serviço de entrega);
Houve justa causa face a conduta do reclamante ( francesismo, em
português é "em face de");
O adevogado chegou a tempo (desvio da norma quanto à grafia da
palavra advogado).
Exemplos:
Tenho relativa certeza quanto às provas dos autos;
As crianças entraram para fora ao amanhecer.
4 ‐ Plebeísmo ‐ uso de palavras de baixo calão, gírias ou termos informais
para o contexto.
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Exemplos:
E aí, velho, o que acha?
5 ‐ Solecismo ‐ desvio em relação às regras da sintaxe
Exemplos:
Fazem anos que não faço um curso de reciclagem (Faz anos ...);
Aluga‐se salas nesse edifício (alugam‐se...);
Eu não respondi‐lhe nada do que perguntou (Eu não lhe respondi...).
Exemplo: Responde pessoalmente pelo que corresponde.
7 ‐ Cacófato ou cacofonia ‐ encontro de sílabas de palavras diferentes que
resulta num som desagradável ou inconveniente;
Exemplos:
Tem que ter fé demais para ir em frente (fede mais);
A gorjeta era dividida por cada um dos garçons (porcada);
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Diz que o recorrente... (disque).
8 ‐ Colisão ‐ quando o uso legítimo da aliteração não convém e causa um
efeito estilístico ruim ao receptor da mensagem
Exemplo: alegada ilegalidade;
9 ‐ Preciosismo ‐ afetação, falta de naturalidade ao redigir;
Exemplo: Nomeou o insigne e indefectível depositário fiel.
10 ‐ Arcaísmo ‐ modo de escrever antiquado, uso de vocábulos ou
expressões que deixaram de ser usuais na norma;
Exemplo: Pediu dispensa do trabalho para ir à matinê (matinê não
se usa há um tempo).
11 ‐ Pleonasmo vicioso ‐ repetição dispensável de uma ideia, redundância.
Exemplos: ‐ de sua livre escolha;
‐ lapso temporal (lapso já significa intervalo de tempo)
‐ conviver junto;
‐ há anos atrás;
‐ outra alternativa;
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‐ motivo que motivou.
"A tese é tão brilhante que deve o autor levá‐la ao relator do projeto do novo
CPC para que venha a ser acolhida no novo código". A ironia está registrada em
sentença do juiz Federal substituto Guilherme Gehlen Walcher, de SC, ao negar
provimento aos embargos de declaração de servidor da JF que ajuizou ação
contra a Fazenda Nacional. Mas engana‐se quem acha que as "lições" do
magistrado param por aí. Há trechos como : "é lamentável ver um servidor da
própria Justiça Federal cuspindo no produto (sentença) da atividade fim da
instituição a que pertence, que paga seu salário e que sustenta sua família". E
completa com uma "humilde" constatação : "Não perco a oportunidade de
registrar que, no dia em que o embargante for aprovado no concurso de Juiz
Federal, aos 27 anos de idade, em três oportunidades, obtendo um primeiro e
um segundo lugares (sendo que neste último caso o primeiro lugar somente foi
assumido por terceiro candidato após a pontuação dos títulos), terá condições
intelectuais de dar lições de processo civil a este julgador (...)". É mole ou quer
mais ? Leia a íntegra da decisão, com todo o destemperado arroubo do jovem
magistrado. Jovialidade que, como se sabe, o tempo dá jeito de curar. (Clique
aqui)
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Dica 10 ‐ Uso do acento grave ‐ CRASE
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Cenas do Filme “Matrix” ‐ Warner Bros. – 1999
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica10/sigacoelho.flv
Mas Baudrillard dele não gostou.
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filósofo, sociólogo e fotógrafo francês ‐ chamado Simulacros e Simulação,
lançado em 1981*.
Na cena destacada do filme temos a vista do citado livro, dentro do qual o
personagem Neo guarda, em um fundo falso, dinheiro e o fruto de seu
trabalho hacker.
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TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Todos os componentes da vida humana são convertidos em um show. O
espetáculo é um pesadelo do qual temos de acordar.
Neo escolhe a pílula vermelha. E acorda do coma. E seus olhos doem
porque pela primeira vez estão sendo usados.
Baudrillard não aprovou o filme, afirmou que os roteiristas não
entenderam o que leram e que, aliás, muitos intelectuais também não
compreenderam seu texto e estavam a popularizar conceitos equivocados
(vide entrevista, link ao final). Afirmou que Matrix é o tipo de filme que a
própria matriz criaria e, tendo em vista a banalização e absorvição pelo
pop, que esvaziou de significado tudo o que o filme poderia trazer e hoje a
frase "saia da matrix" virou um bordão tolo, parece que o filósofo tinha
razão.
* BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d'água, 1991.
Enfim, ao tempo em que lemos alguns trechos do livro Simulacros e
Simulação, vamos estudar o acento grave, a temida crase?
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Se outrora pudemos tomar pela mais bela alegoria da simulação a fábula de
Borges* em que os cartógrafos do Império desenham um mapa tão detalhado
que acaba por cobrir exatamente o território (mas o declínio do Império assiste
ao lento esfarrapar deste mapa e à sua ruína (1), podendo ainda localizarem‐se
alguns fragmentos nos desertos – beleza metafísica desta abstração arruinada,
testemunha de um orgulho à medida do (2) Império e apodrecendo como uma
carcaça, regressando à (3) substância do solo, de certo modo como o duplo
acaba por confundir‐se com o real ao envelhecer) – esta fábula está terminada
para nós e tem apenas o discreto encanto dos simulacros da segunda categoria
[...]É o real, e não o mapa, cujos vestígios subsistem aqui e ali, nos desertos que
já não são os do Império, mas o nosso. O deserto do próprio real. (pág. 8)
* BORGES, Jorge Luís, Do Rigor na Ciência.
1 ‐ verbo assistir, transitivo indireto na acepção de presenciar, requer
preposição na regência de seu objeto. Em "à sua ruína" temos crase
facultativa porque antes de pronome possessivo.
2 ‐ locução que significa "na proporção". Sempre com crase.
3 ‐ verbo regressar, transitivo indireto na acepção de retornar, requer
preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino
(substância), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase.
Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se
tem. O primeiro refere‐se a uma presença, o segundo, a uma ausência
(4). (pág.9)
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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4 ‐ verbo referir‐se, bitransitivo e pronominal na acepção de reportar‐se,
requer partícula "se" e preposição na regência de seu objeto. Sem crase
porque proibida antes de artigo indefinido (uma).
...experiência americana de TV‐verdade tentada em 1971 sobre a família Loud:
sete meses de rodagem ininterrupta, trezentas horas de filmagem direta, sem
guião nem cenário, a odisseia de uma família, os seus dramas, as suas alegrias,
as suas peripécias, ‘non stop’ – resumindo, um documento histórico “bruto”, e a
“mais bela proeza da televisão, comparável, à escala da nossa cotidianidade,
ao filme do desembarque na Lua (5)”.(pág.40)
5 ‐ "à escala" ‐ locução de base feminina.
‘Reunidos em congresso em Lyon, os veterinários preocuparam‐se com as
doenças e perturbações psíquicas que se desenvolvem na criação industrial de
animais domésticos’. Os coelhos desenvolvem uma ansiedade mórbida, tornam‐
se coprófagos e estéreis. Maior sensibilidade às infecções, ao parasitismo
(6)[...]Escuridão, luz vermelha, ‘gadget’, tranquilizantes, nada resulta. Existe nas
aves uma hierarquia de acesso à comida (7), o ‘pick order’[...]Quis‐se então
romper o ‘pic order’ e democratizar o acesso à comida mediante outro sistema
de repartição. Fracasso: a destruição desta ordem simbólica leva à confusão
total nas aves e a uma instabilidade crônica (8). Belo exemplo de absurdo:
conhecem‐se os estragos análogos que a boa vontade democrática pôde fazer
nas sociedades tribais. Os animais somatizam! Extraordinária descoberta!
Cancros, úlceras gástricas, enfartes do miocárdio nos ratos, nos porcos, nos
frangos! (págs.160/161)
6 ‐ sensibilidade a algo, nesta acepção requer complemento nominal e
preposição na regência do seu complemento. Complemento feminino
(infecções), somem‐se preposição "a" e artigo "as", temos a crase.
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7 ‐ acesso a algo, requer complemento nominal e preposição na regência
do seu complemento. Complemento feminino (comida), some‐se
preposição "a" ao artigo "a", temos a crase.
8 ‐ verbo levar, transitivo indireto na acepção de conduzir, requer
preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino
(confusão), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase. O
segundo objeto (uma instabilidade crônica) não tem crase porque proibida
antes de artigo indefinido.
Deixo à consideração (9) se poderá haver um romantismo, uma estética do
neutro. Não creio ‐ tudo o que resta é o fascínio pelas formas desérticas e
indiferentes, através da própria operação do sistema que nos anula. Ora, o
fascínio (em oposição à sedução (10) que se agarrava às aparências (11), e à
razão dialéctica que se agarrava ao sentido) é uma paixão niilista por
excelência, é a paixão própria ao modo de desaparecimento. Estamos
fascinados por todas as formas de desaparecimento, do nosso desaparecimento.
Melancólicos e fascinados, tal é a nossa situação geral numa era de
transparência involuntária.(pág. 196)
9 ‐ verbo deixar, bitransitivo na acepção de deixar algo a alguém, requer
preposição na regência de seu objeto indireto feminino (consideração),
some‐se preposição "a" ao artigo "a", temos a crase.
10 ‐ oposição a algo, requer complemento nominal e preposição na
regência do seu complemento. Complementos femininos (sedução e razão
dialética), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase.
11 ‐ verbo agarrar, pronominal na acepção de prender‐se, grudar‐se,
requer preposição na regência de seu objeto indireto feminino
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(aparências), some‐se preposição "a" ao artigo "as", temos a crase. Antes
da palavra masculina "sentido", proibida a crase.
O termo crase vem do grego e significa fusão: união de duas vogais
idênticas. Graficamente, a junção de "a" (preposição) com outro
"a" (artigo ou pronome demonstrativo) é representada pelo
acento grave.
Casos:
1. A preposição a + os artigos a, as:
Exemplos:
Prefiro o horário corrido à fixação de dois turnos.
Referi‐me às funcionárias do gabinete.
2. A preposição a + os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a(s):
Exemplos:
Dirija‐se àquelas funcionárias de uniforme.
Referi‐me àquilo que você citou no despacho.
Referi‐me às que você citou.
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Dicas importantes:
• Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se ocorrer "ao" ou "aos" é
sinal de que há crase.
Exemplos:
Fui a audiência. (?)
Fui ao salão plenário.
Correto: Fui à audiência.
• Substitua o "a" por "para" ou "para a". Se ocorre "para a" é sinal de que há
crase.
Exemplos:
Reportou a história a juíza (?)
Reportou a história para a juíza.
Correto: reportou a história à juíza.
• Não esqueça que só pode ocorrer crase diante de palavra feminina que
admita o artigo "a" e que dependa de outra palavra que exija a preposição "a",
ou seja:
a) Se o termo regente exige a preposição a:
Exemplo: Sou contrário à ideia de demissão do gerente.
b) Se o termo regido aceita o artigo a/as: a palestra, chegar a
Exemplo: Chegou atrasado à palestra.
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Caso
(INDIFERENTE)
(diga SIM) (diga NÃO)
Quando estiver implícito Viver a seu bel‐
“à moda de”: prazer;
viajar a convite;
Móveis à Luís 15; escrito a lápis;
bacalhau à traje a rigor;
Gomes de Sá. sessão a portas
Antes de
fechadas;
palavras
Quando subentendido passeio a pé;
masculinas
termo feminino: sal a gosto;
TV a cabo;
Vou à [praça] barco a remo;
João Mendes. carro a álcool;
avião a jato etc.
Veio disposto a
Antes de verbos colaborar.
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Antes de A juíza não se
substantivo referiu a
feminino de mulheres;
sentido não irei a festas
indefinido e o nessa casa.
"a" vem antes
de plural
Cara a cara;
Expressões
ponta a ponta;
formadas por
frente a frente;
palavras
gota a gota.
repetidas
O jogo está
Depois de
marcado para as
"para", "até",
16h;
"perante",
foi até a esquina;
"com",
lutou contra as
"contra" outras
americanas.
preposições
Foi à Itália Foi a Roma
(voltou da Itália). (voltou de
Antes de Chegou à Paris Roma).
cidades, dos poetas Fez péssimas
Estados, países (voltou da Paris referências a
dos poetas). Brasília.
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determinada),
etc.
Referiu‐se àquilo;
Foi àquele
Aquele,
restaurante;
aqueles, aquilo,
Dedicou‐se
aquela, aquelas
àquela tarefa.
A capitania de
Minas Gerais
Com estava ligada à
demonstrativo de São Paulo;
“a” Falarei às que
quiserem me
ouvir.
Na indicação de A audiência será
numeral de às 13h.
hora
determinada
Perante nomes A convocação
femininos de dirigiu‐se à (a)
pessoas Maria.
Iremos até à (a)
Depois do
sessão de
termo "até" julgamento.
Se for determinada: Fui a casa.
Ao
Fui à casa de desembarcarmos
Com os termos meus netos no , fomos direto a
"casa" e "terra" mesmo dia. terra (terra no
Viajarei à terra sentido de
de meus oposição a mar).
antepassados.
Leia a entrevista com Jean Baudrillard, cujo livro inspirou os
diretores da trilogia Matrix. Ao final, há referência a o que ele
pensava sobre o Brasil:
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JEAN BAUDRILLARD
A verdade oblíqua
LUíS ANTôNIO GIRON
Andre Arruda/ÉPOCA
O professor baixo e mal-humorado é hoje uma das figuras mais populares do novo século. O
pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em inglês. Mesmo assim, é tão
popular nos Estados Unidos por causa de suas análises sobre a cultura de massa que foi convidado
a fazer um show de filosofia em Las Vegas. E seu nome está na boca dos espectadores da trilogia
Matrix. No primeiro filme dos irmãos Wachowski, o hacker Neo (Keanu Reeves) guarda seus
programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulação, de Baudrillard.
Keanu leu o livro e costuma mencionar o autor em todas as suas entrevistas sobre Matrix
Reloaded, o novo filme da trilogia. Até porque o ensaio sobre como os meios de comunicação de
massa produzem a realidade virtual inspirou os diretores de Matrix a criar o roteiro.
Baudrillard não parece ligar para a fama. Ele esteve no Brasil para lançar seu novo livro, Power
Inferno (Sulina, 80 páginas, R$ 18), e participar da conferência 'A Subjetividade na Cultura
Digital', na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde falou com ÉPOCA. Sempre
pautado por assuntos atuais, ele analisa no ensaio os atentados de 11 de setembro de 2001 como
um ato simbólico contra o Ocidente. Nesta entrevista, ele fala sobre seu pensamento turboniilista,
11 de setembro e arte. Se a realidade já não existe e vivemos um permanente e conspiratório
espetáculo de mídia, como quer Jean Baudrillard, o pensador exerce a função de entertainer às
avessas. Ele decreta o fim dos tempos, e todo mundo vibra.
ÉPOCA - Suas idéias demolidoras estão mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais
parecido com o senhor?
Jean Baudrillard - Não aconteceu nada. O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só
pode ser redutor. Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de
modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja
o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior
familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo.
ÉPOCA - Se não é pós-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os
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ÉPOCA - Quanto à arte, o senhor se dedicou a analisar o fenômeno artístico ao longo dos anos.
Em que pé se encontra a arte contemporânea?
Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a
restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status
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especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há exceções,
mas, em geral, os artistas se renderam à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel
Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os
signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos políticos, e não mais
seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.
fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT550009‐1666,00.html
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Dica 11 ‐ Neologismo
Escrito por Ana Paula Rodrigues
O recurso indenizatório tornou‐se imexível
Onde está o erro nessa frase? Acertou quem apontou para o vocábulo
"indenizatório".
A criação de palavras configura neologismo, que vem a ser o contrário de
arcaísmo. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, é "a palavra, frase ou
expressão nova, ou palavra antiga com sentido novo". É fenômeno
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1 ‐ Neologismo semântico ‐ quando uma palavra já existente passa a
ter nova conotação, novo significado:
Exemplos:
estou a fim de fulano (estou interessada);
vou fazer um bico (trabalho provisório).
2 ‐ Neologismo lexical ‐ quando de fato a palavra é nova e detém
novo conceito:
Exemplos:
deletar (eliminar);
juridiquês (linguagem do Direito).
3 ‐ Neologismo sintático ‐ combina elementos já existentes na
língua para criar um novo vocábulo, por esquema de derivação ou
composição, entre outros:
Exemplos:
infralegal; indenizatório; sucumbencial;
dialeticidade; saudadear; desinquieto; desfeliz;
avoamento.
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O processo neológico exige duas condições:
1. estruturação adequada em nosso idioma e
2. ausência de sinônimo em nossa língua.
Se não conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser
barbarismo e a configurar vício de linguagem.
Para se conferir se determinado vocábulo existe oficialmente na língua (e
não só na nossa imaginação), devemos consultar dicionários e,
especialmente, o VOLP ‐ Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
catálogo de toda a língua Portuguesa que detém a palavra oficial e final
sobre a matéria, disponível em
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23.
Curiosidades:
♦ "imexível", neologismo expressado pelo ex‐ministro Magri nos
idos de 1991, agora é palavra oficial, consta do VOLP e de dicionários
em geral; é exemplo, pois, de legitimação pelo uso dos falantes em
geral e, por ter passado pelo correto processo de formação de
palavras de nossa língua, chegou a ser dicionarizado.
♦ Reparem que os verbos criados são em sua maioria pertencentes à
1ª desinência (final em AR).
♦ O verbo elencar já consta do VOLP e do dicionário Houaiss, mas ainda não aparece no
Aurélio!
♦ O VOLP excepcionou o termo improvido como adjetivo (como verbo, não). Pode‐se
redigir, então, "o recurso foi improvido" ‐ adjetivo, mas não "o juiz havia improvido o
recurso" ‐ verbo .
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Vejamos indagação à Academia Brasileira de Letras, guardiã da língua e
instituto que elabora o VOLP, e sua respectiva resposta em duas ocasiões
diferentes a respeito do tema:
ABL RESPONDE
"Pergunta : Por favor, por que não encontro o termo jurídico "contrarrazões" no VOLP?
É termo largamente utilizado aqui no tribunal onde trabalho e sempre acreditei que o
VOLP registra todos os vocábulos da Língua Portuguesa! Obrigada
Resposta : Prezada consulente, embora o VOLP procure registrar o maior número
possível de palavras, não há como registrar todos os vocábulos possíveis de serem
formados na língua portuguesa. Está para sair a 6ª edição do VOLP com a inclusão de
novos termos e algumas outras atualizações. Enviaremos sua sugestão para a equipe de
Lexicografia, da ABL, responsável pela elaboração do VOLP. Pode utilizar a palavra
contrarrazão."
"Pergunta : Bom dia, Trabalho em um tribunal onde se usam os termos
autoexecutoriedade e inexecutividade, mas noto que ambos não são registrados nem no
VOLP nem em dicionários. Como podem ser substituídos, ou por serem termos técnicos,
se tornam neologismos que podem ser empregados? Obrigada, Ana Paula
Resposta : Prezada consulente: Em certas áreas do saber ou da esfera do trabalho,
algumas palavras passam a circular de modo corriqueiro, sem que antes tenha sido
registrada em dicionários. São os chamados neologismos técnicos que, muitas vezes,
ganham amplitude e se consolidam. O VOLP, de fato, não registra os termos
autoexecutoriedade e 'inexecutividade'. Seu uso não é proibitivo, mas recomenda‐se a
sinalização de que se trata de um neologismo, com uso de aspas, por exemplo. Atente‐
se, porém, para o processo de formação do segundo termo, já que o primeiro, sem
dúvida, está dentro do padrão formativo do português. O segundo termo seria derivado
de inexecutável ? Se for derivado desse adjetivo, a melhor formação será
'inexecutabilidade' e não 'inexecutividade'."
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Criatividade profícua tem hora e lugar; quanto ao ambiente do Tribunal, o
uso da linguagem padrão não deixa espaço para intervenções linguísticas
dos falantes. No entanto, sabemos que há termos com significado técnico
não abrangido por outro vocábulo e se torna de grande utilidade e
necessidade usá‐los, mesmo sendo neologismo, por não terem sinônimos
e serem criados para preencher lacunas no vocabulário. O uso e o
costume acabam por trazer à formalidade um termo antes relegado à
informalidade, mas nem sempre.
Enfim, sempre que possível e não houver mácula no significado estrito
que se quer empregar, devemos procurar equivalentes para termos não
dicionarizados, uma vez que redigimos em um ambiente que exige o
registro da norma culta para um mundo real e prático; se não, pode
parecer que estamos no mundo de Alice, escrevendo na língua do
Jabberwocky.
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A primazia era pela sonoridade, é um poema para se ler em voz alta e
pelos sons provocar as sensações de brincadeira de criança e aventura
contra um monstro gigante e ameaçador. As palavras, mesmo
inexistentes, porque frutos de processo neológico, são inteligíveis pelo
contexto e sonoridade, até porque algo dito com muita excitação não faz
sentido à primeira vista:
Desenho de John Tenniel para Através do Espelho, lançado em 1871
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Versões de JABBERWOCKY
JAGUADARTE
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PARGARÁVIO O TAGARELÃO
"Cuidado, ó filho, com o Pargarávio prisco! Cuidado, meu filho, com o Tagarelão!
Os dentes que mordem, as garras que fincam! Te morde com a boca e te prende com a garra!
Evita o pássaro Júbaro e foge qual corisco Escapa ao terrível Jujupassarão
Do frumioso Capturandam." E foge ao frumoso e cruel Bandagarra!
O moço pegou da sua espada vorpeira: Cingiu à cintura sua espada vorpal
Por delongado tempo o feragonists buscou. E por longo tempo o manximigo buscou
Repousou então à sombra da tuntumeira, Da árvore Tumtum na sombra mortal,
E em lúmbrios reflaneios mergulhou. Em cismas imerso afinal descansou.
BESTIALÓGICO BLABLASSAURO
ALGARAVIA ALGARAVIÃO
Tradução de Oliveira Ribeiro Netto
Tradução de Pepita de Leão
Era o auge e as rolas brilhantes
Pelo ar giravam, giravam. Era o fervor, e as rutilas rolinhas
Palhaços davam pinotes, Girando, o taboleiro afuroavam.
Os montes se amontoava. Estavam os truões bem divertidos,
E os cerros patetas se firmavam.
- Cuidado com a Algaravia,
meu filho, ela morde e arranha! "Cuidado com o Algaravião, meu filho!
Bicho papão te carrega, Ele morde, e segura até um homem!
O Lobisomem te apanha! Cuidado com o Pássaro Bisnau,
E foge do terrível Lobishomem!"
Ele de espada na mão
Foi buscar o inimigo... Ele pegou na espada bem afiada,
Junto dum mandacaru Levou tempo, buscando o inimigo ...
Ficou pensando consigo. Foi descansar ao pé da Bananeira,
E ali ficou, pensando lá consigo.
Enquanto estava cismando,
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Coelho, por John Tenniel
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Dica 12 ‐ Uso da vírgula ‐ parte I
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Trailer do filme em 3D "Pina", 2011, de Win Wenders
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica12/PINADance.flv
Imagem de divulgação da Copa do Mundo de Futebol 2014 no Brasil / Neuroprótese, "veste robótica" para vítimas de
paralisia
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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O que pode haver em comum entre o filme “Pina”, o cartaz da
FIFA e a imagem da neuroprótese?
Miguel Nicolelis!
Neurocientista de envergadura internacional, cotado para o Nobel desde
2009, pioneiro e descobridor da denominada "nova ciência do cérebro",
seu trabalho também o credencia como humanista. Engajado socialmente,
suas pesquisas têm alcance não apenas clínico para vasto campo de
enfermidades ‐ o que já seria ótimo ‐ mas também social ‐ as crianças do
Rio Grande do Norte que o digam (Da pedra lascada à veste robótica:
tecnologia é a extensão do nosso ser).
Pina Bausch, bailarina alemã, revolucionária da dança, é considerada uma
das coreógrafas mais importantes do século XX. Disse quanto a seu
trabalho: "O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim
o que as move” (Pina Bausch: tudo é dança).
A essência da dança é o corpo em movimento, mas não apenas, há de
haver muitas conexões importantes para se criar uma coreografia. É
também expressão dos sentimentos, ideias e imagens. O filme‐
documentário de Win Wenders é sobre uma artista completa, que
transcendeu a dança, teve capacidade de tornar o ser humano e o
bailarino transparentes: quem dança é a alma, o que vai por dentro, no
sentimento e organicidade. Com sua companhia de dança, Pina captava
tudo como uma fotógrafa e traduzia em movimento, artes plásticas,
cinema, teatro. Dançava a dor, a solidão, com intensidade e delicadeza.
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No filme, que foi exibido nos cinemas de Brasília em 2012 em 3D, vemos
as cores da Alemanha, diferentes das nossas, e dores e solidões também
outras. Mostra como sua obra reflete contrastes dos sentimentos
humanos, o que organiza e desorganiza ‐ o vil e o sublime, o ódio e o
amor. Seus bailarinos apresentam técnica precisa, apurada, mesmo não
sendo esse o foco das coreografias.
Com abordagens diferentes, mas ambos ligados ao movimento em sua
concepção mais profunda ‐ Pina, no âmbito dos sentidos e dos
sentimentos e de suas conexões para se dançar; Nicolelis, no âmbito das
conexões cerebrais que geram energia bidirecional ‐ essas duas
personalidades vêm a este espaço enriquecer o tema "uso da vírgula",
traço indicativo de pausa no movimento lógico da estrutura frasal (e não
da fala!).
Acessem matérias sobre eles e seus trabalhos por meio dos endereços
eletrônicos indicados ao final e aguardemos a chance de observar o
funcionamento da neuroprótese na Copa do Mundo em 2014!
Por ora, vejamos o uso da vírgula nos seguintes trechos do livro do nosso
cientista (NICOLELIS, Miguel. Muito além do nosso eu: a nova neurociência
que une cérebros e máquinas – e como ela pode mudar nossas vidas. 1ª
ed. São Paulo: Companhia das letras, 2011) :
"Perplexo. Só assim eu poderia descrever meu estado ao detectar a primeira rajada de
arpejos de violinos que,(1) ricocheteando nas sisudas paredes de mármore,(2) expandiu‐se
pelas elegantes escadas que ligam o segundo andar ao átrio de entrada do prédio da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diante de tal assombração
sonora,(3) minha única reação foi exibir um espanto paralisante. Afinal,(4) nenhum estudante
de medicina está preparado para enfrentar o absurdo da situação que se apresentou naquela
até então tranquila noite de plantão. Pois,(5) durante um breve interlúdio na rotina dantesca
de um dos mais concorridos prontos‐socorros do planeta,(6) o Pronto‐Socorro do Hospital das
Clínicas da FMUSP,(7) sem saber nem como nem por quê,(8) de repente me encontrei imerso
nos primeiros acordes de um inebriante concerto que rapidamente preencheu todos os
espaços ao meu redor.
[...]
Ainda em choque por tudo aquilo a que eu havia sido exposto pela primeira vez,(9) só me
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ocorreu perguntar: 'Mas o que eu preciso fazer para encontrar essa outra classe?'
Sorrindo,(10) enquanto gentilmente abria a porta do auditório,(11) dr. César Timo‐Iaria deu o
primeiro conselho ao aprendiz para toda a vida que ele acabara de recrutar com tanta
maestria: 'Basta seguir a música!'. " (págs. 11 e 17).
(1) Vírgula obrigatória, marca início da oração
intercalada;
(2) Vírgula obrigatória, marca final da oração
intercalada;
(3) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora
da ordem direta;
(4) Vírgula obrigatória, destaca expressão
explanatória;
(5) Vírgula obrigatória, marca início da oração
intercalada;
(6) Vírgula obrigatória, marca final da oração
intercalada e isola aposto;
(7) Vírgula obrigatória, isola o aposto;
(8) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora
da ordem direta;
(9) Vírgula obrigatória, marca frase invertida;
(10) Vírgula obrigatória, separa orações
coordenadas;
(11) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora
da ordem direta;
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Um consórcio científico internacional,(12) o The Walk Again Project (Projeto andar
Novamente),(13) que ajudei a fundar,(14) oferece uma primeira imagem desse futuro.
Concebido alguns anos depois que Belle e Aurora demonstraram a possibilidade de conectar
tecido nervoso vivo com ferramentas artificiais,(15) o projeto tem como objetivo desenvolver e
implementar a primeira ICM capaz de restaurar a mobilidade corporal completa em
pacientes vítimas de graus severos de paralisia. (pág. 471).
(12) Vírgula obrigatória, isola o aposto;
(13) Vírgula obrigatória, demarca início da oração
adjetiva explicativa;
(14) Vírgula obrigatória, demarca final da oração
adjetiva explicativa;
(15) Vírgula obrigatória, separa orações
coordenadas sindéticas;
Desfazendo mitos
Antes de mais nada, é preciso desmistificar a cultura de que vírgula é pausa pura e
simplesmente.
Tampouco corresponde à respiração ou à fala (o que seria dos asmáticos e dos gagos?).
Também não é "questão de ouvido".
Deve‐se evitar a visão simplista de que a vírgula serve para marcar as
pausas da fala. A vírgula obedece a critérios sintáticos, ou seja, necessita‐
se ter conhecimento estrutural da língua para não separar o que é
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Celso Pedro Luft esclarece essa problemática e, por oportuno, transcrevo
trecho de seu livro A vírgula (LUFT, Celso Pedro. A vírgula.2ª ed. São
Paulo: Ática, 2007) : “A nossa pontuação ‐ a pontuação em língua
portuguesa – obedece a critérios sintáticos, e não prosódicos. Sempre é
importante lembrar isso a todos aqueles que escrevem, para que se
previnam contra bisonhas vírgulas de ouvido. Ensinam as gramáticas que
cada vírgula corresponde a uma pausa mas que nem a toda pausa
corresponde uma vírgula. Essa ligação entre pausa e virgula deve ser a
responsável pela maioria dos erros de pontuação. E penso que está mais
do que na hora de desligar a duas coisas." (pág. 7).
Não adianta ler em voz alta e pôr uma vírgula onde se pausa a fala porque
muitas vezes ela não coincidirá com as regras de virgulação e pode‐se
acabar até com o significado correto de um trecho. A ordem direta de
uma frase, normalmente sujeito + verbo + complemento, não admite
vírgula, pois este sinal de pontuação existe justamente para demonstrar
"falta ou quebra de ligação sintática (regente+regido,
determinado+determinante) no interior das frases". (pág. 9).
Vírgula obrigatória
a‐ Separar elementos de uma enumeração. Ex: A audiência foi longa,
entediante, desnecessária;
b‐ Isolar o aposto. Ex: Dad Squarisi, autora das dicas do Correio
Braziliense, é festejada em todas as suas publicações;
d‐ Indicar inversão ou intercalação de algum elemento da frase,
fazendo‐a sair da ordem direta. Ex: No início da sessão, os
advogados entregaram os memoriais;
e‐ Indicar a supressão do verbo. Ex: Antes das férias, mutirão no
gabinete para entregarmos todos os processos.
f‐ Isolar termos pleonásticos ou repetidos. Ex: Na presença dos
jornalistas, o ministro calou‐se, calou‐se quanto ao tema.
Vírgula optativa
Se a intercalação ou inversão se der com uma só palavra ou com
expressão curta, as vírgulas que marcam tal ocorrência acabam
sendo optativas. Ex: Com tranquilidade, o reclamante falava sobre
tudo; Com tranquilidade o reclamante falava sobre tudo; O
reclamante, com tranquilidade, falava sobre tudo;
Vírgula proibida
a ‐ Entre sujeito e verbo. Ex: O juiz determinou nova audiência;
c ‐ Entre verbo e objeto indireto. Ex: O juiz precisou de mais tempo
para decidir;
d ‐ Entre verbo e predicativo. Ex: A audiência foi longa;
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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e ‐ Entre verbo e agente da passiva. Ex: Uma nova audiência foi
determinada pelo juiz;
f ‐ Entre o adjunto adnominal e o substantivo ao qual se refere. Ex: A
defesa da ré gerou revolta;
g ‐ Entre o complemento nominal e o vocábulo por ele completado.
Ex: A defesa contra as acusações gerou revolta;
h ‐ Por raciocínio lógico, também não se usará vírgula entre as
orações principais e aquelas que exerçam funções sintáticas de
sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito e
complemento nominal.
A matéria de capa da edição de setembro de 2008 da Revista Scientific American já
trazia a imagem da "veste robótica" a ser usada na abertura dos jogos da Copa de
2014
Nesse artigo, Miguel Nicolelis discute a rápida evolução da pesquisa em interfaces
cérebro‐máquina na última década e as perspectivas para que a abertura da Copa do
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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Mundo no Brasil em 2014 possa servir como palco de uma demonstração do potencial de
impacto dessa tecnologia no futuro da reabilitação de pacientes portadores de paralisia
corpórea grave (Artigo: Mind Motion).
‐ Instituto Internacional de Neurociência de Natal
‐ Nosso Nobel
‐ Pesquisa de Miguel Nicolelis dá a largada para criar
'internet cerebral'
‐ Miguel Nicolelis, a mente brilhante da ciência brasileira
‐ Samsung quer desenvolver tablets controlados por
pensamento
‐ Cientistas desenvolvem prótese wireless que funciona com
a força do pensamento
‐ Pina Bausch: tudo é dança
‐ Bailarina brasileira da companhia de Pina Bausch fala sobre
o filme
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Dica 13 ‐ Uso da vírgula ‐ parte II
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Ilustração inspirada na obra de Erico Verissimo, em O tempo e o vento 50 anos
Tom Jobim foi um mestre na harmonia e é considerado um gênio
brasileiro. Arquitetou solidamente sua obra com uma sofisticação natural,
extrema elegância, som claro e límpido, em imensa estrutura harmônica.
Ao mesmo tempo, foi popular, tanto que emprestou suas canções a temas
musicais de programas televisivos, e quando o víamos na tela da TV,
podíamos reconhecer um quase típico homem brasileiro ‐ mais
precisamente, carioca ‐, afável, sorridente, bem humorado.
A harmonia se tem na construção e no encadeamento de acordes, que,
por sua vez, sustentam as melodias. Nas composições de Tom,
percebemos o mínimo de notas, sem rebuscamentos supérfluos, o que
limpa o som que chega aos nossos ouvidos ‐ melódico, direto, claro,
facilmente assimilável, aparentemente simples, mesmo não o sendo em
sua essência.
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Excelente letrista também, temos nesta dica a presença de sua música
"Passarim" (aperte o play abaixo para ouvi‐la), emprestada para a
minissérie feita em adaptação da obra "O Tempo e o Vento", do escritor
Érico Veríssimo.
Música "Passarim", de Tom Jobim
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/tomjobim_passarim.mp3
Em Veríssimo (sim, ele é o pai de Luís Fernando Veríssimo, também
escritor de sucesso), temos outro brasileiro notável. Pertencente ao
Modernismo, da fase regionalista do movimento ‐ quando temos autores
que se concentram em temas nordestinos (Graciliano Ramos, Guimarães
Rosa e José Lins do Rego) ‐ o autor do épico "O Tempo e o Vento"
elaborou uma das obras mais importantes da literatura nacional com foco
na região sul do país.
A obra é composta de três romances, cada um deles em mais de um
volume ou tomo: "O Continente", "O Retrato" e "O Arquipélago", dos
quais constam 200 anos do processo de formação do estado do Rio
Grande do Sul, num enredo que mescla ficção e fato ‐ história do Brasil, de
1745 a 1945, tempos marcados pelo poder das oligarquias, por conflitos
internos e por guerras de fronteira, a recontar a formação deste país.
Provavelmente todos já conhecem o capitão Rodrigo, a Ana Terra, ou
algum outro personagem marcante da obra, seja pela minissérie, seja por
ter lido alguma parte dessa grandiosa epopeia nos tempos de escola.
Interessante que todo o processo de finalizar essa trilogia levou o escritor
ao esgotamento, como ele mesmo disse:
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
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Premido, entre outras coisas, pelo próprio "apreciável
sentimento de culpa" infundido pela trilogia inconclusa e pela
dificuldade de escrever aquele que deveria ser seu romance
mais franco, em sua própria opinião, Erico foi derrubado pelo
estresse e teve seu primeiro infarto, em março de 1961, o que
poderia ter atrasado ainda mais a conclusão da obra.
A boa nova é que teremos no segundo semestre de 2013 o lançamento do
filme homônimo O Tempo e o Vento, com direção de Jayme Monjardim,
com os atores Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, Fernanda Montenegro,
Cléo Pires, Mayana Moura, entre outros. Confiram ao final o trailler do
filme.
A partir deste ponto, vejamos os casos especiais para o uso da vírgula:
Reza a lenda que, na antiga Rússia, um czar rejeitara o apelo de um condenado e dera o
veredito: "Manter condenação. Impossível absolver." Tendo pessoal interesse no caso, a
czarina, durante a madrugada, teria revertido a situação ao aplicar pequenas alterações
na pontuação: "Manter condenação, impossível; absolver."
Percebe‐se que a questão da vírgula não é supérflua nem de somenos importância, pois
de seu mau uso podem resultar equívocos sérios.
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I) Vírgula e etc:
O acordo ortográfico ‐ expedido com força de lei pela Academia Brasileira
de Letras ‐ em vigência determina que a vírgula deve ser usada antes de
"etc.", razão pela qual a referida vírgula se torna, então, obrigatória.
Se for "etc." a última palavra da frase, não colocamos dois pontos: um só
ponto terá a função de indicar a abreviatura e o ponto final.
Não se deve usar a conjunção "e" antes de etc., pois já exprime o
significado "e outras coisas mais";
Pode‐se empregar etc. a pessoas e a animais.
Não se devem usar as reticências (...) porque esse sinal de pontuação
indica que se suspende a discriminação de outros itens, mas essa
suspensão, em última análise, já está implícita no próprio vocábulo "etc".
a) Vistos, etc. (correto);
b) Vistos etc. (errado);
c) Vistos etc... (errado);
d) Vistos, etc... (errado).
II) Vírgula entre orações
Em decorrência da observação feita no item "vírgula proibida" na dica
anterior, que prega o enfoque da separação entre os termos de uma
oração conforme o período simples e a ordem direta da oração, temos
algumas observações sobre o uso da vírgula entre as orações.
Veda‐se o uso desse sinal de pontuação entre orações principais e orações
subordinadas que equivalham a um sujeito, objeto direto, indireto,
predicativo e complemento nominal, que seriam as orações subordinadas
substantivas subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas
e completivas nominais.
Exs:
a) "É importante que se faça a justiça" (subjetiva);
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b) "Os homens da lei querem que se faça a justiça" (objetiva direta);
c) "Todos precisam de que se faça a justiça" (objetiva indireta);
d) "A esperança da população é que se faça a justiça" (predicativa);
e) "A população tem necessidade de que se faça a justiça"
(completiva nominal).
‐ Também se usa a vírgula para isolar orações intercaladas.
Ex: A justiça, todos dizem, é o que se deseja.
Exs: A justiça ‐ todos dizem ‐ é o que se deseja;
A justiça (todos dizem) é o que se deseja.
‐ Orações coordenadas normalmente são separadas por vírgulas.
Ex: A justiça é o que se deseja, mas poucos têm acesso a ela.
‐ Orações coordenadas começadas por "e" e com o mesmo sujeito
não são separadas por vírgulas.
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Ex: Todos querem a justiça, e ninguém perde a esperança.
Obs: se as coordenadas forem orações extensas ou com vírgulas
internas, impõe‐se o ponto e vírgula.
Exs: Estudei, passei, comecei a trabalhar;
‐ Conjunção "nem" dispensa vírgula; se as orações são de extensão
razoável, usa‐se virgular.
Exs: Não precisou depor nem de comparecer ao tribunal;
O empregador não enviou preposto habilitado, nem enviou toda
a documentação exigida para esclarecimento fidedigno dos fatos.
Exs: Brasília, que é onde fica a sede do TRT10ª Região, entrará no
período de baixa umidade do ar em pouco tempo;
O filme que comprei é de edição de colecionador.
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III) Vírgula em citações de artigos de lei
‐ Se a citação vai do mais minucioso para o mais geral, em gradação
ordenada, usa‐se a preposição "de". Esse encadeamento revela que está
na ordem sintática direta e não se usa vírgula, mesmo que forme frase
extensa.
Exs: Veja‐se o inciso II do artigo 5º da Constituição Federal;
Veja‐se o inciso II, do artigo 5º, da Constituição Federal
(errado).
‐ Se não houver essa gradação, usa‐se a vírgula, pois indicativa de
intercalação de elementos, no início e ao final do elemento intercalado.
Exs: Veja‐se o artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal;
Veja‐se o artigo 5º, inciso II da Constituição Federal (errado);
Veja‐se o artigo 5º inciso II, da Constituição Federal (errado);
Veja‐se o artigo 5º inciso II da Constituição Federal (errado).
Vídeo de apresentação: O tempo e o vento
http://www.youtube.com/watch?v=MOJnqffVkE4
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Dica 14 ‐ Uso de "cujo"
Escrito por Ana Paula Rodrigues
De onde vem o gosto musical de cada um de nós? Como ele se forma e se consolida? Esse
processo, segundo a neurociência, se desenvolve a partir da estimulação, é automático,
inconsciente e tem a ver com dois fatores essencialmente: sistema de recompensa e habilidade
para decifrar padrões.
Uma criança inicia seu aprendizado musical a partir de canções simples tanto na estrutura
quanto na letra: são aquelas com refrões fáceis, repetitivos, mas nem por isso pobres ‐ apenas é
o que o cérebro infantil requer.
Com o passar dos anos, a complexidade nesses padrões deve aumentar, pois o cérebro maduro
passa a não achar graça em melodias simples e previsíveis, começa a apreciar músicas que lhe
"dão trabalho", pois se inclina a analisar sua estrutura para identificar algum padrão na melodia,
a decifrar sequências harmoniosas. Padrões repetitivos se tornam entediantes e a experiência
permite processar músicas mais elaboradas e gostar delas.
A apreciação musical também se ligará à nossa memória associada, aos momentos em que
determinada canção foi escutada ‐ se momento bom, positivo e importante, ou ruim ‐, por isso
ativa o sistema de recompensa cerebral ‐ aquele cuja ativação, quanto mais intensa for, maior
sensação de prazer trará e isso acaba definindo nossas preferências. Esse mesmo sistema de
recompensa é acionado também pela própria capacidade de decifração que o cérebro
desenvolve, e quanto mais músicas se ouve, mais o cérebro aprende a encontrar e a antecipar
padrões em melodias e ritmos cada vez mais complexos, como numa adivinhação, e passa a
querer mais músicas complexas para ouvir.
Praticar modifica o cérebro e o deixa cada vez mais hábil para apreciação de músicas diversas e
essa habilidade pode ser desenvolvida constantemente, sempre poderemos exercitá‐la. A
ativação do sistema de recompensa traz euforia e motiva a querermos mais experiências do
mesmo tipo.
Trazemos nesta dica duas músicas totalmente diversas entre si, mas ambas comungam de
algumas características ‐ originalidade e criatividade, por exemplo.
A música Overture foi feita para a peça "Orfeu da Conceição" (long play, 1956, Odeon), produzida
a partir do texto de Vinícius de Moraes, que, por sua vez, inspirou‐se no mito grego de Orfeu.
Vinícius procurava um músico para a tarefa de criar a trilha sonora para sua peça e foi
apresentado ao então jovem Tom Jobim, dando início a amizade e parceria duradouras. A peça
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foi adaptada para o cinema também e temos dois filmes produzidos, cujas respectivas figuras de
cartazes podemos ver a seguir.
Overture nos proporciona a audição de elementos mesclados, como só Tom Jobim poderia fazer
e ele mesmo explica: "modos gregos, as cadências plagais, a nossa herança européia, a nossa
maneira brasileira foram usados livremente, usados como na própria música que temos, herdeira
de diversas culturas e sem quaisquer pretensões de 'pureza'. O uso livre de 'harmonias
européias', de 'instrumentos europeus', que por sua vez tiveram origem em outras culturas ‐
tudo isso vem da crença que temos de que as culturas se interpenetram e se fundem."
E tudo termina em samba, como não poderia deixar de ser por se tratar de um Orfeu negro e de
uma história de amor impossível ambientada numa favela carioca, em pleno feriado de Carnaval.
A música da banda Pato Fu (que insiste em trilhar caminhos novos para a música brasileira) nos
remete à infância, tanto pelos versos infantis quanto pela melodia, e nos surpreende pela
inventividade ‐ aos invés de instrumentos musicais, temos brinquedos no arranjo! Isso torna a
musica divertida e traz um ar de novidade que estimula o cérebro, sempre ávido e curioso, pois
se diferencia do senso comum musical atual, e por isso não se enquadra no conceito pop de
música fácil.
Esperamos que apreciem!
Leiamos um pouco sobre a adaptação do mito de Orfeu para a
realidade brasileira. Com a palavra, o poeta:
Poucas histórias terão excitado mais o espírito criador
dos artistas que o mito grego de Orfeu, o divino músico
da Trácia, cuja lira tinha o poder de tocar o coração
dos bichos e criar nos sêres a doçura e o
apaziguamento. Êsse sentimento da integração total
do homem com a sua arte, num mundo de beleza e
harmonia, ‐ que artista não o traz dentro de si,
confundido com o próprio impulso que o move para a
criação?
Capa do premiado filme "Orfeu Negro"; musical; 1959;
Brasil/França; direção Marcel Camu
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Capa do filme "Orfeu"; drama; 1999;
Brasil;direção Cacá Diegues
Vamos aproveitar a fala do poeta Vinícius de Moraes para
sacar, lá da 3ª linha, o pronome relativo "cuja" ("...o divino
músico da Trácia, cuja lira tinha o poder...") e dar início ao
estudo sobre o uso de "cujo" e suas flexões.
Primeiramente, conheçamos melhor a expressão latina de cujus:
De cujus – pode exercer função de sujeito na oração, é locução com função substantiva.
Advém da expressão latina de cujus successione agitur: de cuja sucessão se trata. É termo
jurídico para pessoa falecida cuja sucessão está aberta aos herdeiros; falecido cujos bens
estão em inventário.
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1. Pronome relativo ‐ de que ou de quem; do qual, da qual, dos quais, das quais
2. Substantivo masculino ‐ uso não aceito na língua culta, formal
Seu emprego como substantivo é aceito apenas como regionalismo e seu uso é
informal. Significa alguém de quem já se falou e não se deseja nomear; dito‐
cujo; pessoa indeterminada; diabo; sujeito, cara, fulano.
1 ‐ “Cujo” contém em si a preposição “de”, por tal razão, traz imbuída a
ideia de posse e pode ser substituído por “do qual”. Haverá sempre um
antecedente e um consequente diversos. “Cujo” nunca será sujeito por
trazer em si a preposição “de” e sujeito não pode vir regido de preposição.
Por encerrar valor possessivo, nunca será usado em lugar de “o qual”,
somente no lugar de “do qual” e variantes.
Exemplos:
Esta é a lei cuja publicação foi adiada.
Esta é a lei cuja foi publicada (errado).
Esta é a lei a qual foi publicada (certo).
2 ‐ Mesmo encerrando em si a preposição “de”, há casos em que “cujo”
pode vir precedido dessa mesma preposição se esta estiver regendo o
consequente relacionado. A preposição “de”, então, não rege “cujo”, mas
sim seu termo consequente. Outras preposições podem aparecer antes de
“cujo”, pois a necessidade da preposição é ditada pelo verbo ao qual
“cujo” se liga.
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Exemplos:
A lei de cuja publicação falávamos é esta.
Esta é uma lei em cujas disposições não acreditamos, com cuja
finalidade não simpatizamos e de cujos dizeres discordamos,
mas a cujas disposições obedecemos para a manutenção do
estado de direito (PEREIRA, 1924, pág. 306).
Os autos por cujo julgamento sou responsável estão sobre a
mesa.
3 – Há quem antipatize com o uso de “cujo” e o substitua por “que”, mas
incorre em erro grave.
Exemplos:
Estou satisfeita em ver a lei cuja publicação eu aguardava
(certo).
Estou satisfeita em ver a lei que eu aguardava a publicação
(errado).
Difícil é abrir um cofre cujo segredo desconhecemos (certo).
Difícil é abrir um cofre que desconhecemos o segredo (errado).
4 – Não se usa artigo depois do relativo “cujo”.
Exemplos:
Já li a lei cuja publicação ocorreu ontem.
Já li a lei cuja a publicação ocorreu ontem (errado).
5 ‐ “Cujo” sempre concorda com seu subsequente, nunca com seu
antecedente.
Ex:
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Gosto deste autor cujas publicações acompanho (certo).
Gosto deste autor cujo publicações acompanho(errado).
O uso correto do pronome relativo "cujo" revela boa competência
linguística, enriquece o texto e o deixa preciso, claro e assertivo, vamos
usá‐lo mais!
"Mamã Papá" (Fernanda Takai/John Ulhoa/Rubinho Troll) – 2ª faixa do álbum "Daqui pro Futuro", 2007,
gravadora Rotomusic.
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica14/musicadbolso_patofu.flv
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Dica 15 ‐ Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a"
Escrito por Ana Paula Rodrigues
Quem se recorda da imagem a seguir?
Imagem de "Antes do pôr‐do‐sol", 2004
O diretor de cinema Richard Linklater iniciou há 18 anos a produção de uma trilogia que
tem fãs fiéis espalhados ao redor do mundo, a série de filmes "Antes".
No ano de 1995, estreou o filme "Antes do amanhecer". Nove anos depois, em 2004,
"Antes do pôr‐do‐sol". Neste mês, também nove anos após o segundo filme, teremos
oportunidade de assistir à estreia de "Antes da meia‐noite", dia 14 de junho de 2013, nos
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cinemas brasileiros.
Quando do lançamento da primeira película, que recebeu o Urso de Ouro no festival de
Berlim, muitos se identificaram com a história na tela, se reviram nos personagens.
Carregado de sentimentos (não de sentimentalismos) e de diálogos, temos um enredo
sobre o amor de dois jovens, de uma ligação emocional imediata e intensa, típico na
idade.
O segundo filme surgiu para responder à questão que havia "ficado no ar", esse amor
sobreviveu e se concretizou? Novamente, muitas boas surpresas.
São filmes com bastantes conversas, algumas profundas, outras são apenas triviais, mas
sempre realistas. Em cena, temos o amor de um casal aos 20, aos 30 e aos 40 anos de
idade, com ótimas atuações (por favor, assistam à versão legendada com áudio original),
tudo emoldurado por cenários paradisíacos: o primeiro foi filmado em Viena, o segundo,
em Paris, o terceiro teve locações na Grécia.
Ethan Hawke e Julie Delpy, atores principais, colaboraram com o roteiro, tamanha a
sincronia entre os dois e dos dois com o diretor. Os filmes formam uma trilogia singular,
um marco no que tange à escrita de diálogos para o cinema.
O intervalo de tempo fez com que as relações retratadas amadurecessem juntamente
com o seu público fã. Todos envelheceram e cresceram juntos e se vê como o tempo os
afetou. É divertido observar que a trama sempre se conecta ao momento de vida dos
personagens em perfeita simbiose com seu público e seu enredo reflete muito bem todo
tipo de sentimento que costuma envolver os romances.
É uma trilogia que consegue escapar dos chavões das comédias românticas e é descrita
pelo próprio diretor e roteirista como um "romance para realistas".
Talvez essa seja uma boa explicação para o alto grau de empatia que costuma suscitar nos
espectadores ‐ há muitos que falam de Jesse e Celine (Ethan e Julie, respectivamente)
como se fossem pessoas reais, tamanha a identificação com as circunstâncias e com as
questões existenciais, sentimentais, aspirações, temores e frustrações dos personagens.
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Imagem de "Antes da meia‐noite", a estrear no Brasil em 14 de junho de 2013
A seguir, trecho do primeiro filme da trilogia, intitulado "Antes do
amanhecer", 1995, de Richard Linklater:
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/stories/dicas/15/antes_do_amanhece
r.flv
[[Cena nº 5 do filme
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Notaram a frase do convite de Ethan Hawke "imagine daqui a 10 ou 20 anos" nesse trecho
do filme exibido? Oportuno aproveitarmos o exemplo para sanarmos uma dúvida não tão
rara:
"A" e "há" são vocábulos profundamente distintos tanto por sua natureza quanto pelo seu
significado, mas muitos se confundem na hora de redigir.
"Há", do verbo haver, nos casos ora em análise, indica tempo passado.
Ex: Há muito tempo anseio por esta data para enfim obter o julgamento da minha ação.
Já "a" é preposição e, para o que interessa no momento, indica tempo futuro.
Ex.: "Daqui a um dia a sentença será proferida".
A noção de tempo está em ambas as frases, mas para usarmos o verbo haver temos de ter
a significação de tempo passado. Se for tempo futuro, o que se usa é a preposição "a".
Sendo assim, não existe verbo haver se a noção é de futuro (para os casos em estudo
nesta dica), razão por que erradas estão as construções: "O magistrado encerrará o
julgamento daqui há duas horas" e "daqui há algum tempo poderei saber a sentença".
Portanto, não existe a forma "daqui há", sempre que houver ideia de tempo futuro ‐ e a
palavra "daqui" evoca essa ideia ‐ usaremos a preposição, ficando sempre "daqui a",
"daqui a pouco", "daqui a um tempo", etc.
Na segunda parte da dica 15, saibamos um pouco mais sobre o uso
correto dos verbos abundantes, corriqueiramente empregados em
textos no TRT, que vêm a ser aqueles que apresentam duas ou mais
formas equivalentes e, geralmente, ocorrem no particípio. Temos, então,
formas regulares (terminadas em ‐ado ou em ‐ido) e as irregulares,
denominadas também de breves ou curtas.
As formas regulares estão perdendo espaço na língua, que tem preferido
as formas irregulares porque mais curtas. Mas na linguagem formal
devemos nos guiar pelo que preconizam os gramáticos.
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Regras para se escolher entre a forma irregular e a regular:
3 ‐ Nas orações reduzidas, obrigatório o particípio passado irregular:
Extinto o processo, foi ao arquivamento (e não extinguido); entregue
a intimação (e não entregada);
Confusões comuns:
Incluso e incluído ‐ o verbo incluir traz apenas o particípio "incluído",
"incluso" é mero adjetivo hoje em dia. Ex: A turma havia incluído o
processo em pauta; o desconto incluso não cabe às custas;
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Observação:
Tabela informativa sobre alguns verbos abundantes e seus particípios:
Verbos da primeira conjugação ‐ terminados em "ar" ‐ e seus particípios
forma
Infinitivo forma irregular
regular
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forma
Infinitivo forma irregular
regular
Da segunda conjugação ‐ terminados em "er" ‐ e seus particípios
forma forma
Infinitivo
regular irregular
Da terceira conjugação ‐ terminados em "ir" ‐ e seus particípios
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irregular regular
Verbos das 2ª e 3ª conjugações que só apresentam particípio irregular
forma
Infinitivo
irregular
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forma
Infinitivo
irregular
abrir aberto
cobrir coberto
dizer dito
escrever escrito
fazer feito
pôr posto
ver visto
vir vindo
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Dica 16 ‐ Uso do infinitivo
Escrito por Ana Paula Rodrigues
1944
‐ Criança morta
Filho de imigrantes italianos, Candinho nasceu em 1903 numa fazenda de
café no interior de São Paulo, teve 12 irmãos e uma infância pobre, mas
feliz. Passou os primeiros anos de vida rodeado de animais, brincando
livremente em ambiente rural, observando os trabalhadores no campo,
convivendo com a genuína brasilidade por meio de suas festas, suas
histórias, seu folclore. Estudou somente até a 3ª série do ensino
fundamental e logo cedo revelou seu talento artístico. Após juntar
dinheiro por 3 anos, aos 15 foi‐se embora para a capital, Rio de Janeiro,
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113
para aprimorar seus dons na Escola Nacional de Belas Artes. Sobre a
ocasião, expressou:
"Saí correndo, tive tempo ainda de apanhar o trem em movimento. A
última imagem que me ficou gravada na memória foi a de meu pai,
levantara‐se para se despedir, ainda posso vê‐lo... não teve tempo de me
dizer nada"
Mais tarde, em 1928, por meio de um concurso, ganhou uma viagem a
Paris e por lá permaneceu por 2 anos. Aprofundou os estudos e
enriqueceu sua técnica, mas a distância da terra natal o fez se aproximar
ainda mais do Brasil e desenvolver forte consciência social. Ao retornar à
pátria, Cândido Portinari estava renovado, seu estilo agora se apegava
mais às cores e às ideias. Rompeu com a escola de artes tradicional e
tornou‐se representante do Modernismo. Vejamos suas frases:
"A viagem à Europa para um moço que observa é útil. Temos tempo de
recuar. Temos coragem de voltar ao ponto de partida. Eu sou moço" ‐
sobre os valores que aprendeu com os anos que viveu em Paris.
"O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é
meramente um meio. Porém um meio indispensável" ‐ em declaração que
escandalizou seus mestres acadêmicos da ENBA.
"Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma
intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social" ‐
começando a flertar com o socialismo.
Conheceu sua esposa para toda a vida em Paris, a uruguaia Maria Vitória
Martinelli. Um grande encanto foi o nascimento de seu único filho, em
1939, João Cândido Portinari, a quem retratou em muitas ocasiões.
Tornou‐se expoente da pintura no Brasil, reconhecido internacionalmente,
idolatrado em vida.
Mas em 1954 adoece. Recebe a notícia de que está intoxicado pelo
chumbo das tintas que usava em seu ofício. Passa a pintar com lápis de
cor, caneta tinteiro e outras técnicas, no entanto, reprimido e impedido
de expressar‐se plenamente por meio de sua arte, sobre as ordens
médicas, disse:
"Estão me impedindo de viver"
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues
TRT10 – CDTEJ – SCEAD
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Em 1960, nasce sua primeira neta ‐ e a única que veio a conhecer ‐,
Denise. Encantado com aquele pequeno ser, com suas primeiras palavras,
primeiros passos, fez de Denise sua modelo e retoma os trabalhos com
tinta a óleo. Para ela, chega a fazer um quadro por mês. Desobedece às
ordens médicas, continua a viajar e a trabalhar freneticamente, o que
levou a intoxicação por chumbo a níveis letais. Em 6/2/1962, falece em
decorrência do envenenamento.
Deixou mais de 5.000 obras que representam o Brasil, nosso povo, nossa
história.
Trecho biográfico do início da carreira
Tarde da noite, o garoto de apenas quinze anos entra na pensão onde trabalha em troca
de uns poucos níqueis e onde, por consideração, o deixam dormir em algum canto, com a
condição de que não perturbe o sossego dos hóspedes. Vinha de retorno de suas aulas de
pintura no Liceu de Artes e Ofícios e tudo o que queria era algo com que matar a fome.
De dentro de seu alforje, tira um pouco da gelatina que, na escola, é distribuída aos
alunos para mesclar às tintas, dando‐lhes a consistência necessária. Do que sobrou, o
menino trouxe um pouco para casa, colocou ao fogo e, juntando ao pão duro e
amanhecido, fez sua última refeição.
Havendo iludido seu estômago com essa estranha mistura, foi a um dos banheiros da
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casa, colocou no chão algumas tábuas, jogou sobre elas um colchão de crina e deitou‐se.
Estava encerrado mais um dia de luta. No dia seguinte, a rotina seria a mesma. Ao deixar a
família no distante interior paulista para vir sozinho ao Rio de Janeiro estudar pintura,
Candinho nem por sombra imaginava as agruras por que teria de passar.
Mas um dia tudo deveria melhorar, tinha certeza disso. E nessa confiança adormeceu,
refazendo as forças para a jornada de um novo dia e, à noite, para o reencontro com
pincéis, telas e sonhos.
Repararam em quantas vezes os verbos foram usados na forma infinitiva? Muitas, e assim
é nos textos em geral. No entanto, dúvidas surgem com frequência quanto à flexão dessa
forma nominal do verbo e por tal motivo passemos ao estudo do uso do infinitivo.
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Os verbos podem se apresentar em forma nominal: gerúndio, particípio e
infinitivo.
Nesta dica, veremos o uso do infinitivo, forma nominal do verbo, que
pode ser flexionado (pessoal) ou não flexionado (impessoal).
Se mais importante a ação, prefere‐se o infinitivo não flexionado.
Se mais importante o agente da ação, prefere‐se o infinitivo flexionado. A
flexão se dá pela desinência verbal:
‐ es para a segunda pessoa do singular, tu;
‐ mos para a primeira pessoa do plural, nós;
‐ des para a segunda pessoa do plural, vós;
‐ em para a terceira pessoa do plural, eles/elas.
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É para eu julgar
É para tu julgares
É para ele julgar
É para nós julgarmos
É para vós julgardes
É para eles julgarem
Atenção: é comum o erro no emprego do infinitivo em locuções verbais
principalmente se houver outras palavras entre o verbo auxiliar e o verbo
principal. Ex: Os servidores não podem, sozinhos, sem auxílio de todos os
segmentos envolvidos, administrar os andamentos processuais (certo); os
servidores não podem, sozinhos, sem auxílio de todos os segmentos
envolvidos, administrarem os andamentos processuais (errado).
Outro caso em que comumente se incorre em erro é quando, na locução
verbal, o verbo auxiliar está numa forma invariável, como o gerúndio. Ex:
Os magistrados solicitaram original ou cópias autenticadas dos
documentos, devendo, neste caso, as peças acompanharem o traslado
(errado). A locução correta é "devendo acompanhar".
O infinitivo impessoal é empregado também:
‐ quando o sujeito do infinitivo é pronome oblíquo átono. Ex: Deixe‐os ir
embora;
‐ quando o infinitivo não se refere a sujeito específico. Ex: Viver é preciso;
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O infinitivo pessoal ‐ flexionado ‐ é usado:
‐ quando o sujeito do infinitivo for diferente do sujeito da outra oração.
Ex: O servidor conclamou os colegas a ajudarem na entrega dos votos;
‐ quando se quer evitar ambiguidades. Ex: Está na hora de começarmos o
julgamento. Se deixarmos o verbo no infinitivo não flexionado, surgirá
dúvida: Está na hora de começar o julgamento (se refere a quem? A mim,
a você, a ele, a nós?).
Observação: quando o verbo no infinitivo for precedido da preposição "a",
aceita‐se o verbo flexionado ou não (exceção para os casos em que houver
voz passiva).
O assessor auxiliava os assistentes a superarem suas dificuldades
(certo, com realce para "os assistentes", sujeitos da ação);
Ex. de voz passiva, em que é obrigatório o uso do infinitivo
flexionado:
Esses são os processos a serem julgados.
Tendo em vista esses parâmetros, faça sua escolha no uso do infinitivo
conforme seu gosto e sua intenção!
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O artista e sua neta Denise, que vê a pintura, feita em 1960, Denise com gato
Fonte: Portal Portinari, em http://www.portinari.org.br/
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Texto e arte
Ana Paula Assunção Rodrigues
Produção
Seção de Educação a Distância (SCEAD)
Responsável: Danilo Batista Correia
Editoração: Hanna Nóbrega
Apoio
Coordenadoria Técnica da Escola Judicial (CDTEJ)
Responsável: Rosana Sanjad
Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região
Responsável: Des. Flávia Simões Falcão
Veja essas e outras dicas no Portal da Escola Judicial do TRT10:
http://escolajudicial.trt10.jus.br
Brasília, dezembro de 2013
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