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Ana Paula Assunção Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 

A autora 
 
Ana Paula Assunção Rodrigues é servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de 
textos  em  gabinete.  Graduada  pela  UnB  em  Letras  e  pós‐graduada  em  Produção 
Textual,  lecionou  no  Ensino  Médio  e  em  cursinho  pré‐vestibular  nas  cadeiras  de 
Literatura, Redação e Língua Inglesa. 
 
 

Sumário 
Dica 1 ‐ Estilo de Redação ......................................................................................................... 3 
Dica 2 ‐ Pronome Demonstrativo.............................................................................................. 7 
Dica 3 ‐ Registro de data e hora .............................................................................................. 11 
Dica 4 ‐ Uso dos "porquês"...................................................................................................... 14 
Dica 5 ‐ O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa .................................................... 18 
Dica 6 ‐ Uso correto de expressões latinas ............................................................................. 23 
Dica 7 ‐ Uso do "Se"................................................................................................................. 30 
Dica 8 ‐  Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso" ............................................................ 38 
Dica 9 ‐ Estética Textual e Vícios de Linguagem...................................................................... 44 
Dica 10 ‐ Uso do acento grave ‐ CRASE ................................................................................... 57 
Dica 11 ‐ Neologismo .............................................................................................................. 70 
Dica 12 ‐ Uso da vírgula ‐ parte I ............................................................................................. 82 
Dica 13 ‐ Uso da vírgula ‐ parte II ............................................................................................ 91 
Dica 14 ‐ Uso de "cujo".............................................................................................................. 1 
Dica 15 ‐ Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a"............................................ 104 
Dica 16 ‐ Uso do infinitivo ..................................................................................................... 113 
 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 
Dica 1 ‐ Estilo de Redação 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 
 
 
 

‘’(...) Como hão de ser as palavras? 
Como as estrelas. 
As estrelas são muito distintas e muito claras.
O estilo pode ser muito claro e muito alto. 
Tão claro que o entendam os que não sabem.   
  
  E tão alto que tenham muito que 
  entender nele os que sabem[...]   
O discurso, para ser claro, 
não precisa ser raso, como os regatos; 
a profundidade nem sempre faz turvas as 
águas (...)’’ 

Padre Antônio Vieira

Sermão da Sexagésima 
Pregado na Capela Real, no ano de 1655  
 
PEIXOTO, Afrânio. Os Melhores Sermões de Vieira. Rio de Janeiro: Ed. Americana, 
1931.  
         

‘’(...) 
– Mas que significa isso? ‐ perguntou o moço
insatisfeito ‐ Não entendi nada. 
– Nem eu ‐ respondeu a moça ‐ mas os contos
devem ser contados e não entendidos; 
exatamente   
  como a vida.’’ 
 
Carlos Drummond de Andrade

ANDRADE, Carlos Drummond de. O Entendimento dos Contos, in: Contos 
 
Plausíveis. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1985. 

       
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 

       Nossos mais ilustres autores servem de base para estudos linguísticos 
de  toda  ordem,  desde  as  mais  corriqueiras  lições  de  gramática  até  as 
lições  de  estilo.  Mas  os  recados  transmitidos  pelos  dois  autores  citados 
diferem entre si, concordam? 
 
       Bem,  para  começo  de  conversa,  os  textos  literários  propriamente  – 
fictícios  –  vivem  num  mundo  muito  maior  que  o  dos  textos  técnicos. 
Aqueles  alcançam  uma  linguagem  universal  e  atemporal,  falam 
diretamente às emoções comuns a todos nós, seres humanos. É por isso 
que  costumamos  afirmar  que  Shakespeare  é  eterno,  que  Homero  fala  a 
nossa língua e que Machado de Assis é atualíssimo. Eles têm, também, a 
chamada  licença  poética,  o  que  permite  aos  artistas  transgredir  regras 
gramaticais em nome da criatividade, do estilo pessoal. 
 
       Drummond  transmite  o  recado  de  absorver  o  hermetismo  do  conto 
como  se  vive  a  vida,  ao  invés  de  se  tentar  explicar  e  racionalizar  sua 
poesia,  o  que  a  destruiria.  Apesar  de  haver  uma  linha  interpretativa,  a 
hermenêutica,  que  estuda  os  textos  literários  como  se  fossem  uma 
equação matemática... mas ai já é outro assunto. 
 
      Já as palavras de Padre Antônio Vieira – que tinha habilidade rara com 
elas ‐ trazem grande lição  de  estilo, atual e  útil a  nós  no âmbito  do  TRT, 
pois tratam da clareza no ato de escrever aplicável ao texto em prosa não 
fictício, ao texto técnico. 
 
       Tendo  em  mente  essa  distinção  –  e  dela  advêm  inúmeros 
desdobramentos na pontuação, concordância etc – vamos nos concentrar 
no  estilo  de  redação  de  textos  oficiais  e  jurídicos.  Aqui,  temos  de  fazer 
nossos  textos  explicáveis  e  acessíveis  ao  jurisdicionado.  Por  mais 
hermético que seja um tema, pode ser traduzido em palavras que o mais 
comum dos leitores compreenda. Então, sabedores de que nosso estilo de 
trabalho não permite licenças poéticas, vamos às dicas: 
 
 
 

 
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 

 Concisão   

No lugar de: 

 “neste momento nós acreditamos”, diga “acreditamos”; 
   “Travar uma discussão”, escreva “discutir”; 
 “ato de natureza hostil”, → “ato hostil”; 
 “decisão tomada no âmbito da diretoria”, → “decisão da diretoria”; 
 “fazer uma viagem” coloque “viajar”; 
 “pôr as ideias em ordem”, → “ordenar as ideias”. 

  

 
 Diga o que é, não o que não é   

 “Ele não assiste regularmente às aulas.” 
                     troque por 
“Ele falta com frequência às aulas.” 

 
 voz ativa deixa o texto atraente, vigoroso, enquanto a passiva o deixa mole, sem 
graça:   
  

 “Os alunos fizeram a redação” é melhor que “A redação foi feita pelos alunos.” 

  

 
 
 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 

  A frase:   

  “Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em sessão. Tornaram 
públicas suas desavenças” 
                                                             é melhor que 
  “Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em plenário tornando 
públicas suas desavenças”. 

  

 
 
 

  Leia as duas frases em voz alta. Depois, escolha a que soa melhor:   

“Fui à livraria e comprei os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor 
do curso e a gramática.” 

 “Fui à livraria e comprei  a gramática e  os dois livros de Direito daquele autor 
indicado pelo professor do curso.” 

 A segunda frase agrada mais, concorda? Pela seguinte razão: o termo mais curto 
ficou na frente do mais longo. Quando o verbo tiver mais de um objeto, direto ou 
  indireto, ponha o mais curto na frente.  

 
 

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TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 

Dica 2 ‐ Pronome Demonstrativo   
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
 
  
 

 
 
 
Século  XVI,  Japão  feudal,  samurais.  Família  Ichimongi,  com  o  patriarca 
Hidetora  ao  centro,  seus  três  filhos,  o  bobo  da  corte.  Famílias  rivais 
prestes  a  selar  amizade  após  anos  de  intriga.  Essa  é  a  segunda  cena  do 
brilhante  filme  RAN,  1985,  de  Akira  Kurosawa,  consagrado  diretor 
japonês. 
 
Ultrapassada a barreira da nossa ansiedade ocidental, podemos nos deixar 
enlevar ao ritmo das nuvens do céu do Japão, que acompanham as cenas 
como se observassem os acontecimentos humanos. 
 
Aproximadamente à 1 hora e 53 minutos do filme, temos o diálogo entre 
os irmãos Sue e Tsurumaru: 

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TRT10 – CDTEJ – SCEAD 

 
 

 
 
 
Passadas 2 horas e 3 minutos do filme, ouvimos: 
 
 

 
 
Incitados  pelas  frases  extraídas  de  RAN  ‐  palavra  que,  a  propósito,  significa  conflito, 
algo com o que todos os que lidam com processo no TRT estão habituados – vamos a 
alguns esclarecimentos sobre pronomes demonstrativos. 

Concebe‐se o uso do pronome demonstrativo a partir do ponto central de orientação 
 
do sujeito falante, que é o referencial, e tem o propósito de expressar tempo, espaço, 
posição no texto (sobre o que ou quem se trata) para a mensagem ser transmitida com 
exatidão. 

 
  
 1) Critério espacial: 

  a)   este(s), esta(s), isto: referem‐se à primeira pessoa gramatical, indicam que o 
objeto está perto da pessoa que fala (aqui).  

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   Exemplo: Este livro em meu colo é ótimo; 

b)   esse(s), essa(s), isso: referem‐se à segunda pessoa gramatical, indicam que o 
objeto está perto da pessoa com quem se fala (aí).  

   Exemplo: Esse livro na sua mão é bom? 

OBSERVAÇÃO: O objeto pode até estar perto de mim, mas a frase se refere ao meu 
ouvinte. Imaginem a cena: estou vendo um livro nas mãos de um amigo, me 
aproximo, pego o livro também, sem tirá‐lo das mãos dele e pergunto: Onde você 
comprou esse livro? 

c)   aquele(s), aquela(s), aquilo (lá, aí): referem‐se à terceira pessoa gramatical, 
indicam que o objeto está distante do falante e do ouvinte.  

 Exemplo: Você viu aquela livraria nova na outra comercial? 

2) Critério temporal: 

a)   este(s), esta(s), isto: tempo presente.  

   Exemplo: Esta semana, este mês (outubro), este ano (2012). 

b)   esse(s), essa(s), isso: tempo passado recente ou futuro próximo.  

Exemplos:  • Conheci você em 2008. Nesse tempo, você ainda não tinha filhos;
• Esse ano de 2013 será ótimo!   

  

c)   aquele(s), aquela(s), aquilo: tempo passado, bem distante, vago, remoto. 
Exemplo: Bons tempos aqueles da minha juventude! 

  

3) Critério da posição no texto ou critério cognoscitivo: 

a)   este(s), esta(s), isto: emprego catafórico – indica que a frase será pronunciada, 
o pronome se refere àquilo que aparecerá no texto, após o pronome; chama 

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atenção sobre o que vamos dizer.  

Exemplo: A Escola Judicial publicou esta frase: “Terceira turma do curso de 
português jurídico a distância tem início dia 10” 

b)   esse(s), essa(s) isso: emprego anafórico – indica que a frase foi pronunciada, 
está sendo retomada, o pronome se refere àquilo que já apareceu no texto.  

 Exemplo: “Terceira turma do curso de português jurídico a distância tem início 
dia 10”, essa frase foi publicada pela Escola Judicial. 

É empregado, também, quando nos referimos ao que foi dito por nosso 
interlocutor.  

Exemplo :   ‐ Você não dormiu bem, aceita um café para despertar? 

‐ Já tentei isso. 

 4) Critério distributivo: 

Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já mencionados, servimo‐nos 
dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo para o referido primeiro lugar e dos 
este(s), esta(s), isto para o que foi nomeado por último.  

Exemplo: A pressa é inimiga da perfeição, esta não admite aquela. 

 
Trailler do filme  RAN – 1985 –  
http://ead.trt10.jus.br/ran/  

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Dica 3 ‐ Registro de data e hora 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
  

‘’Não posso ficar 
Nem mais um minuto com você 
Sinto muito amor 
Mas não pode ser. 
Moro em Jaçanã,   
    Se eu perder esse trem, 
Que sai agora às onze horas,   
Só amanhã de manhã.’’ 

Adoniran Barbosa

 
Trecho do samba “Trem da Onze” 

Clique aqui para ouvir a versão completa  

 
         
 
     
O  fragmento  do  clássico  samba  vem  ilustrar  o  formato  por  extenso  da 
notação  de  horas,  redigido  assim  porque  será  cantado  sem  abreviação. 
Trata‐se de texto poético, de  letra de música que  será entoada tal como 
escrita.  
Para nós aqui no TRT esse formato não é possível. Devemos usar a norma 
culta aplicada aos textos oficiais.  
 
 Vejamos, então, como deve ser:  
 
  
a)  Não se escreve no formato de relógio digital, portanto, 08:00 é errado!  

  b)  A representação de horas é “sem nada” ‐ sem dois pontos, sem ponto, sem 
plural, sem espaço, sem maiúsculas; 

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c)   Somente  escreveremos  o  símbolo  de  minutos  (min)  caso  haja  segundos;  os 
segundos não precisam ser denotados por símbolo, pois já estão implícitos e 
sempre  optaremos  pela  forma  mais  econômica  nas  redações;
         Exemplo: 14h, 14h30, 14h30min40. 

d)  Para  jornada  de  horas  permanece  o  numeral  em  algarismo  arábico,  mas  os 
termos  “horas”,  “minutos”  e  “segundos”  vêm  por  extenso. 
          Exemplo:  O  reclamante  trabalhava  8  horas  por  dia;
                     a autora usufruiu de apenas 1 hora de intervalo. 

 
  

 
 
  
 

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 Mais dicas: 

a)   Nas assinaturas dos documentos é preciso registrar por extenso o mês, com 
o nome da localidade: 
         Exemplo: Brasília, 5 de maio de 2010. 

b)  O primeiro dia sempre se escreve em numeral ordinal:  
         Exemplo: 1º .5.2010. 

c) O ano se apresenta com os quatro algarismos sem ponto:  
         Exemplo: 2010. 
 
d) Dispense os substantivos dia, mês e ano: 
        Exemplo: em 12 de fevereiro de 1999. 
                          e não  
                        no dia 12 do mês de fevereiro do ano de 1999. 

e) Para citação de lei, recomendável que seja aposta a data da sua criação na 
primeira vez em que aparecer no texto, no formato sucinto: 
         Exemplo: 5/5/2010. 

 
  

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Dica 4 ‐ Uso dos "porquês"   
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 

Porque ‐ Conjunção explicativa ou causal  
Usa‐se em resposta ou indicação de causa. 

Exemplos: 

 Ele se sente cansado porque o clima está muito seco. 
 Abandonou o curso porque, tendo de cuidar dos filhos à noite e 
trabalhar de manhã, sentiu‐se no limite. 
 Por que foram a juízo? Porque estavam cheios de razão. 
 Ela sabe a razão da queda dos juros, porque além do cargo detém 
outros poderes. 
 Porque trabalhamos em sala fechada, nem sempre percebemos a 
mudança no clima.  
 Não foi à palestra porque não se sentia bem. 

 
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Por que ‐ Preposição + pronome interrogativo ou relativo 
Usa‐se  em  oração  interrogativa  direta  (com  ponto  de  interrogação 
grafado)  e  também  na  indireta  (sem  grafia  da  interrogação,  esconde  as 
palavras "razão", "motivo" ou "causa"). 

 
 

Quando usar: 

a)  em perguntas diretas e indiretas: 

    Exemplos: Por que você não veio? 
              Você ainda não me contou por que não veio. 

  

b)  em frases afirmativas/negativas e exclamativas:  

            Exemplos: Vamos verificar por que os processos estão se 
acumulando nesse setor.  

                             Sinceramente, não sei por que ela não veio. 

c)  em títulos de obras/artigos:  

            Exemplo: POR QUE PRATICAR ATIVIDADE FÍSICA  [título de artigo]  

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Por quê / Quê  
O   “que“  passa  a  ser  tônico  em  final  de  frase.  Fica  acentuado  antes  de 
pausa forte, do ponto de interrogação, exclamação ou final. 

Exemplos: 

 Agradecida. – Não há de quê. 
 O professor marcou novos testes, ninguém sabe por quê. 
 Quem foi ao show adorou. Você quer saber por quê? 
 Tanta correria para quê?!  
 Você é especial, sabe por quê? 
 Qual o quê! É a mais pura especulação. 

Porquê ‐ Substantivo masculino 
  Usa‐se precedido de artigo, numeral ou pronome. 

Exemplos: 

 Não entendo o porquê de tudo isso. 
 Ah, se todos os nossos porquês tivessem resposta! 
 Certos porquês não convencem o juiz. 

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Alguns porquês da humanidade 
 

 "Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e 
formação de caráter".  

Essa  frase  foi  dita  por  Carl  Sagan  em  um  interessante  documentário 
intitulado Um pálido ponto azul. Clique no link abaixo para assistir:  

 
"Um pálido ponto azul" ‐ Carl Sagan 
 
http://ead.trt10.jus.br/carlsagan 

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Dica 5 ‐ O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
  

 
 
 

 ‘’Última flor do Lácio, inculta e bela, 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela… 

Amo‐te assim, desconhecida e obscura. 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
 
  Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo!   
Amo‐te, ó rude e doloroso idioma, 

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!’’ 

Olavo Bilac

BILAC, Olavo. Língua portuguesa. 
In: Poesias. 29. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1977. p. 268. 
       
 

O  Novo  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  está  em  vigor  desde 
1º/1/2009  e  o  período  de  transição  para  implementação  definitiva  se 
encerrará no final de 2012 aqui no Brasil, país que terá o dicionário menos 
modificado dentre todos os envolvidos. 

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A  explicação  mais  usual 
para  o  Novo  Acordo  é 
que  simplesmente  se 
quer  unificar  a  Língua 
Portuguesa  entre  os  8 
países  que  a  adotam 
como  oficial...  mas,  por 
quê?  Se  a  língua  é  a 
expressão  cultural  de 
identidade de cada povo 
por  excelência, 
patrimônio de cada um de nós e, como um organismo vivo, se modifica ao 
longo  do  tempo  conforme  influências  e  premências  diversas,  como  se 
pode  unificá‐la  e  impor  mudanças  aos  seus  falantes  naturais?  Bem,  da 
mesma  forma  com  que  a  norma  culta  é  imposta  para  que  se  possa 
escrever  de  modo  inteligível  a  todos,  restringindo  coloquialismos, 
regionalismos  e  variantes  que  poderiam  atrapalhar  a  comunicação  em 
larga  escala,  o  Novo  Acordo  veio  para  que  os  8  países  tenham  maior 
integração entre si e mais expressividade no cenário mundial. 
 
Entretanto,  há  mais  razões  nem  tão  simples  assim  que  gostaria  de  lhes 
contar: 
 
   

Razões Políticas  
 
A  língua  é  instrumento  de  poder.  Em  toda  dominação  de  povos  na  história  da 
humanidade  a  língua  foi  usada  para  aculturar  os  nativos  ao  levar  paradigmas 
diferentes, visão de mundo, valores, todo um universo cultural que subjuga e aos 
poucos  substitui  a  cultura  local.  O  nosso  “português  brasileiro”  está  sendo 
privilegiado  nessa  reforma:  apenas  0,5%  do  idioma  será  modificado  aqui, 
enquanto  em  Portugal,  Angola,  Cabo  Verde,  Guiné‐Bissau,  Moçambique,  São 
  Tomé  e  Príncipe  e  no  Timor‐Leste,  1,6%,  com  alterações  que  tornarão  a  Língua 
Portuguesa mais brasileira que nunca. 
 
Em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, do 
qual recebemos gratidão. Todos os países africanos ex‐colônias guardam mágoas 
e  ressentimentos  de  Portugal  pela  colonização  exploratória  e  discriminatória  de 
mais  de  4  séculos  de  duração.  O  Brasil  é  para  eles  o  grande  irmão  com  quem 
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simpatizam,  a  quem  admiram  em  variados  aspectos  e  são  agradecidos  por 


atitudes de aproximação recentes. 
 
O  movimento  imigratório  para  cá  é  crescente  desde  2010,  pessoas  de  diversas 
nações estão vindo, como se estivesse havendo uma nova descoberta do Brasil. 
 
Com  a  unificação  linguística  alcançaremos  maior  representatividade  e  prestígio 
em  grandes  fóruns  internacionais.  Na  ONU,  por  exemplo,  somente  a  partir  de 
2008  começou  a  haver  tradução  simultânea  e  possibilidade  do  Português  ser 
utilizado nas intervenções de abertura e debate geral, apesar de contar com mais 
de 200 milhões de falantes no planeta, ser a 3ª língua ocidental e 5ª mais falada 
no mundo e, ainda, ocupar a 4ª posição dos idiomas mais usados na internet. 
 
   
     

Razões Econômicas    
 
O mercado editorial se ampliará e o lucro será maior ao se poder publicar uma 
mesma obra nos 8 países, uma vez que a Língua será una e facilitará divulgação 
do idioma e respectiva literatura 
 
O  lobby  das  editoras,  especialmente  das  brasileiras,  tem  forte  peso  para  a 
implementação deste Novo Acordo, que é visto como um tratado facilitador da 
penetração no mercado africano a ameaçar o das editoras portuguesas naquele 
continente. 
 
No cenário mundial contemporâneo, estamos em destaque economicamente em 
comparação  com  Portugal,  que  vivencia  profundamente  a  crise  na  Europa. 
  Somos o principal exportador dentre os países lusófonos.   
 
O  acordo  ampliará  cooperação  internacional  entre  os  8  países,  facilitará 
intercâmbio cultural e científico entre as nações. 
 
Todos  esses  fatores  citados  compõem  um  pano  de  fundo  em  que  se  pode 
vislumbrar  que  não  se  trata  de  um  simples  novo  conjunto  de  “regras  de 
Português” que teremos que decorar, é antes um acordo político que linguístico.
 
A  revolta  em  Portugal  é  muito  grande,  a  reforma  nem  sequer  tem  data  para 
entrar em vigor, é chamada de traidora da Pátria. Fala‐se em inversão poética da 
colonização, que a Língua não evolui por decreto e está sendo descaracterizada. 

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Há quem lamente que Portugal errou ao deixar um “filho” enorme como o Brasil 
e não umas vinte repúblicas pequeninas, todas menores que o reino‐mãe! 
 
Além  das  questões  linguísticas  complexas,  tem‐se  um  misto  de  sentimento 
colonialista  transformado  em  subjugo  e  abandono,  ao  invés  de  cooperação  e 
cultura. 
 
Não  se  pode  negar,  ademais,  que  os  portugueses  demonstram  um  sentimento 
protetor e patriótico muito grande e aparentemente maior que o dos brasileiros, 
a  julgar  pelo  inconformismo,  enquanto  aqui  se  observa  a  simples  e  pura 
aceitação das mudanças impostas, que, ainda que mais favoráveis, também são 
contra  a  ordem  natural  das  coisas,  afinal,  já  disse  Fernando  Pessoa,  “minha 
pátria é a Língua Portuguesa”!  
     

  ********************************************************************** 

Acredito que, melhor do que dispor 
neste espaço lista de vocábulos cuja 
ortografia foi alterada ou mesmo 
destacar principais mudanças 
constantes do Novo Acordo ‐ material 
em profusão em vários meios de 
comunicação e objeto dos cursos e 
manuais da Escola Judicial, é fornecer 
3 fontes de consulta pela internet 
bastante úteis: 

Novo Acordo Ortográfico na 
íntegra; 
 
VOLP – Vocabulário 
Ortográfico da Língua 
Portuguesa, fornecido pela 
  Academia Brasileira de Letras, 
já devidamente adaptado; 
  Conversor Ortográfico ‐ 
converte o vocábulo da escrita 
   anterior para a nova! 

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As músicas sugeridas têm letras muito educativas e plenas de significado. 
“Pindorama”, da  dupla  Palavra  Cantada,  é  voltada  para  as  crianças, 
enquanto  “Língua”,  de  Caetano  Veloso,  é  cheia  de  referências  a  obras  e 
artistas da Língua Portuguesa: 

   

   
"Pindorama"         "Língua" ‐ de Caetano Veloso 

http://ead.trt10.jus.br/pindorama                                  http://ead.trt10.jus.br/lingua  

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Dica 6 ‐ Uso correto de expressões latinas 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 

 
 
  

 
 
Se  há  uma  dica  de  Português  infalível  para  se  escrever  bem  é  esta:  leia 
bons  livros.  Mais  do  que  tentar  decorar  as  regras  gramaticais,  ler  livros 
bem  escritos  nos  permite  memorizar  a  ortografia  correta,  a  sintaxe 
perfeita,  o  uso  adequado  de  expressões  diversas,  o  estilo  de  que 
gostamos. A intuição linguística vem a se desenvolver num patamar mais 
acurado de competências que permitem ao falante se expressar melhor e 
redigir com assertividade.         
Os  textos  de  Machado  de  Assis  são  muito  bem  cuidados,  apresentam 
linguagem culta, clássica e acadêmica, tudo conforme regras de correção 
gramatical;  por  tudo  isso,  servem  muito  bem  ao  propósito  do  estudo  da 
norma.  
Veja  no  texto  de  "O  Alienista"  exemplo  de  bom  uso  da  expressão  plus 
ultra: 

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MOON, Fábio e BÁ, Gabriel. O Alienista de Machado de Assis: adaptação de Fábio Moon e Gabriel Bá. 
Coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel. Rio de Janeiro: Agir, 2007. 

  
A seguir, lista de palavras e expressões por vezes usadas 
equivocadamente e seu correto significado: 

A cerca de / Acerca de / Há cerca  Eis que  
de / Cerca de 
   Não usar no sentido de causa. 
   A cerca de – distância  Empregar somente no sentido de 
aproximada, tempo futuro  “de repente”. 
aproximado. 
   Acerca de – sobre, a respeito de.  Face a face / Frente a frente  
   Há cerca de – indica tempo 
transcorrido, “faz     Nenhuma expressão composta 
aproximadamente”.  de palavras repetidas tem acento 
   Cerca de – aproximadamente.  grave. Nada de crase. 

Aferir / Auferir   Grosso modo / A grosso modo  

   Aferir – avaliar, cotejar, medir,     Grosso modo – de modo 

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conferir.  grosseiro, aproximado, impreciso; 
   Auferir ‐ obter, receber.      A grosso modo – não existe. 

A fim / Afim   Há / A / Há muito tempo atrás  

   A fim – para, com o objetivo de,     Há – diz respeito a tempo 
finalidade.  passado: trabalho aqui há anos; 
   Afim ‐ tem afinidade,     A – no sentido de tempo, refere‐
semelhança.  se a futuro: daqui a 10 anos me 
aposentarei; 
À medida que / Na medida em     Há muito tempo atrás – 
que   pleonasmo, não usar. 

   À medida que – à proporção  Isto posto / Isso posto / Posto 
que, ao passo que, conforme.  isso  
Nunca usar no sentido de causa. 
   Na medida em que – uma vez     Isto posto – “isto” refere‐se ao 
que, tendo em vista, pelo fato de  que se dirá, não ao que se disse, 
que. Traz ideia de causa.  além de estar antes do verbo, o 
que também é inadequado; 
      Isso posto – A forma nominal do 
A nível de / Ao nível de / Em nível  verbo (particípio ou gerúndio) 
de   deve vir antes do pronome e nessa 
expressão a posição está invertida; 
   A nível de – não existe.     Posto isso – Expressão correta. 
   Ao nível de – à altura de. 
   Em nível de – nessa instância, no   
âmbito de. Geralmente 
dispensável, pode‐se cortar da  Junto a  
frase sem perda de sentido. 
   Tem significado físico: perto de, 
   ao lado de. Exemplos: carrego a 
A par / Ao par  bolsa junto ao corpo; Parei junto 
ao carro. 
   A par – ciente, informado,  Não use em frases do tipo: 
inteirado, por dentro do assunto.   
   Ao par – emparelhado, caminhar     “impetrou mandato junto à 
lado a lado.  Vara”; 
   “solicitou empréstimo junto ao 
 Apud   banco”; 
   “está em negociação junto aos 
   Apud ‐ Junto de.  sócios”. 
 
 A princípio / Em princípio   Para essas, prefira: 
 
   A princípio – No começo, 

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inicialmente, antes de qualquer     “impetrou mandato na Vara”; 
coisa.     “solicitou empréstimo ao 
   Em princípio – em tese,  banco”; 
teoricamente.     “está em negociação com os 
sócios.  
A quo  
 
   A quo – juízo a quo é aquele de 
cuja decisão se recorre. Dies a  Mutatis mutandis  
quo é o dia em que um prazo 
começa a ser contado.     Quer dizer “mudando o que deve 
ser mudado”, “com a devida 
  alteração de pormenores”, “uma 
Através   vez efetuadas as necessárias 
mudanças”. 
   Do verbo atravessar, só pode ser 
empregado no sentido de   
transpassar, passar de um lado 
para o outro ou passar ao longo  Onde / Aonde  
de. Exemplos: o navio atravessa os 
mares; vejo através do vidro.     Onde ‐ usa‐se apenas ao se 
Não pode ser empregado no lugar  referir a lugar; significa local em 
de “mediante”, “por meio de”,  que, no qual; 
“por intermédio de”, “graças a”,     Aonde ‐ indica movimento para 
“segundo” ou “por”, sendo assim,  um lugar; usa‐se somente com 
não escreva, por exemplo,  verbos que requerem a preposição 
"peticionou através do advogado"  "a" e indicam movimento. 
ou "recorre através dos 
documentos".   
Pedir vista / Pedir vistas  
 
Avocar / Invocar / Evocar      O correto é "pedir vista", no 
singular. 
   Avocar – atribuir‐se, chamar. 
   Invocar – pedir ajuda, chamar,   
proferir. 
   Evocar – lembrar, invocar.  Plus ultra 

      Plus ultra  ‐ Mais além. 
Bastantes / Bastante  
 
   Bastantes – quando acompanha 
substantivo, é adjetivo, por isso, é  Posto que  
flexionado e pode ser substituído 
por “muitos” ou “suficientes”.     Equivale a "embora", "apesar 

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   Exemplos: tenho bastante  de" e não a "porque". 
dinheiro; 
                   tenho bastantes dívidas;   
                   ele obteve bastantes 
provas para o laudo;   Se não / Senão  
   Bastante – quando acompanha 
adjetivo ou verbo, é advérbio, não     Se não ‐ caso não;  
flexiona e pode ser substituído por     Senão ‐ mas, a não ser, exceto 
“muito”.  pois, do contrário, caso contrário, 
   Exemplo: Trabalho bastante  defeito. 
durante a semana.      Plural: senões. 

    
Cada  
Sequer / Nem sequer  
   É pronome indefinido que não 
pode ser usado sozinho:     Sequer ‐ pelo menos, ao menos: 
acompanha substantivo, numeral  o recorrido teria ido se a 
ou pronome “qual”; portanto, não  intimação sequer tivesse chegado; 
use “ganharam 5 bombons cada” e     Nem sequer ‐ nem ao menos ‐ 
sim "ganharam 5 bombons cada  usa‐se para expressar negação: o 
um".  recorrente nem sequer juntou 
provas aos autos. 
  
Cessão / Seção / Sessão    

   Cessão – ato de ceder;  Sine qua non 
   Seção – parte, trecho, setor, 
repartição;     Sem a qual não; indispensável, 
   Sessão – reunião; lapso de  essencial. 
duração de um congresso, 
assembleia.  Sito em  

      Não use "sito a", pois não indica 
Com vista a / Com vistas a   movimento. 

   Ambas são corretas e têm   
mesmo significado. 
Vez que / uma vez que  
  
Custas / Custa      Vez que ‐ não existe; 
   Uma vez que ‐ dado que, visto 
   Custas – despesa forense;  que, como, já que; no caso de, 
   Custa – sempre no singular na  caso, se. 

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expressão “à custa de”.   

  Vultoso / Vultuoso  
Deferir / Diferir  
   Vultoso ‐ volumoso, relativo a 
   Deferir – conceder, outorgar;  vulto, grande vulto; 
   Diferir – discordar, diferenciar;     Vultuoso ‐ com a face 
retardar, adiar.  congestionada. 

  
Descriminar / Descriminalizar / 
Discriminar  

   Descriminar e descriminalizar – 
do Direito Penal, significa      
inocentar, absolver de crime; o 
prefixo “des” traz ideia de 
negação; 
   Discriminar – tratar de forma 
diferente. 
 
 

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Dica 7 ‐ Uso do "Se" 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 
 
  

 
Central do Brasil. Drama, 1998, 113 minutos. Diretor: Walter Salles. 
 http://ead.trt10.jus.br/central  

 Aproxima‐se  o  recesso  forense  e  muitos  de  nós  começamos  a  planejar 


uma  viagem...  por  falar  em  viagem,  há  um  subgênero  no  cinema 
denominado road movie, ou filme de estrada, que Hollywood adora. É um 
estilo que aborda a viagem por que passa um personagem como símbolo 
de  sua  transformação  interna,  pois  a  geografia,  tanto  a  física  quanto  a 
humana, que ele desconhecia até então, o afeta profundamente, de modo 
que mudanças na pessoa viajante ocorrem, pois, à medida que se depara 
com o desconhecido, ela muda, como nós mudamos. Representa também 
a busca da liberdade e o espírito aventureiro do ser humano. É um estilo 
de cinema que traz para o espectador a oportunidade de acompanhar não 
só belas imagens, mas a construção de uma nova personalidade, que, ao 
fim, se revela. 

 
Destacamos  Bagdad  Café,  Paris/Texas,  Sem  Destino,  Thelma  e  Louise, 
Pequena Miss Sunshine, Assassinos por Natureza, Coração Selvagem. Mas 
não só na terra do tio Sam esse estilo é produzido, temos, por exemplo, o 
francês Mamute, o  mexicano  E Sua Mãe Também, os brasileiros Bye  Bye 
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Brasil,  Na  Estrada,  Central  do  Brasil,  os  dois  últimos  de  Walter  Salles, 
diretor  também  de  Diários  de  Motocicleta,  coprodução  que  envolveu 
Argentina,  Brasil,  Chile,  Reino  Unido,  Peru,  Estados  Unidos  da  América, 
Alemanha, França e Cuba. 

 
Central do Brasil é um filme maravilhoso, humanista, singelo e bem feito. 
A personagem de Fernanda Montenegro, Dora, recupera sua identidade e 
o  afeto,  se  re‐sensibiliza  graças  ao  encontro  do  outro,  que  vem  a  ser  o 
menino Josué, que a leva a uma viagem por um Brasil diverso daquele do 
Rio de Janeiro, cidade em que vivia. Atenção para a trilha sonora e para a 
construção  das  imagens,  que  vão  se  tornando  fluidas  e  rarefeitas  na 
mesma  proporção  em  que  Dora  se  torna  livre  da  opressão  e  do 
pragmatismo  em  que  se  encontrava;  vale  também  assistir  às  entrevistas 
com atores e diretor do filme. 

 
Usaremos  várias  frases  extraídas  dessa  película  e  da  música  Preciso  me 
encontrar,  integrante  da  trilha  sonora,  para  exemplificar  os  tópicos  da 
nossa dica sobre uso do se, que não é um viajante pelas estradas, mas faz 
muita gente “viajar na maionese” na hora de escrever! 

 
Nos  textos  do  TRT,  há  corriqueiramente  má  aplicação  do  se 
principalmente como pronome na função de partícula apassivadora ou de 
índice de indeterminação do sujeito, como ver‐se‐á a seguir: 

 
O se tem duas acepções: conjunção ou pronome pessoal. 

I) Na qualidade de conjunção, expressa subordinação à ação principal. 
 
Pode ser: 

 
1 ‐ condicional 

‐  indica  hipótese,  condição;  no  caso  de.  Se  ele  não  vier,  eu 
 
deponho. Do filme: Se ele estiver aí, fala alguma coisa maluca. 

‐  indica  tempo;  quando,  enquanto.  Se  há  depoimento,  o 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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secretário de audiência digita. 

‐  indica  causa;  visto  que,  uma  vez  que.  Se  você  nem  sequer 
precisa depor, por que está tão ansioso? 

 
2 ‐ integrante 

‐  exprime  dúvida,  incerteza,  interrogação  indireta  (se  acaso,  se 


por acaso, se porventura). 

Neste caso encaixa‐se o verso da música em destaque,  que, na 
ordem direta da frase, seria assim: 

  Diga que eu só vou voltar depois que eu me encontrar se alguém 
por mim perguntar. 

Também, as seguintes frases do filme: 

Vê se pelo menos me aparece para conhecer seu filho. 

Se  por  acaso  você  mudar  de  ideia  é  só  você  vir,  ó',  vir  atrás  de 
mim, numa boa. 
II)  Na  qualidade  de pronome  pessoal,  refere‐se  à  3ª  pessoa  do 
singular  para  os  dois  gêneros;  funciona  como  objeto  do  verbo 
  ou complemento. Pode ser: 

 
1 ‐ objeto direto 

‐ tranquilizar‐se, ferir‐se, agredir‐se, recusar‐se; Exemplo de fala 
do filme: Pai, vem aqui no Rio que minha mãe se machucou; 

 
 
2 ‐ com verbos pronominais, indica caráter reflexivo ou recíproco 

‐ aposentar‐se, arrepender‐se, queixar‐se; indignar‐se; Exemplo 
extraído do filme: Vá lá, se achegue! 

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3‐ partícula apassivadora 

‐ forma, juntamente com o verbo, a voz passiva sintética, como 
lemos  na  placa  da  mesa  de  trabalho  da  Dora,  escrevedora  de 
cartas: 

Escreve‐se carta, ou carta é escrita; 

Escrevem‐se cartas, ou cartas são escritas. 

Registravam‐se  nas  folhas  de  ponto  horários  rígidos,  sem 


anotarem‐se  com  correção  os  intervalos  para  descanso  e 
refeição,  ou  horários  rígidos  eram  registrados  nas  folhas  de 
ponto,  sem  os  intervalos  para  descanso  e  refeição  serem 
anotados com correção. 

Podem‐se  citar  vários  exemplos,  ou  vários  exemplos  podem  ser 


citados. 

É erro bastante comum, talvez o mais encontrado em anúncios, 
como os vistos no filme: 

Faz‐se móveis ‐ o certo é fazem‐se móveis (móveis são feitos); 

Conserta‐se óculos ‐  o certo é consertam‐se óculos (óculos são 
consertados). 
 

Dica: a voz passiva sintética é formada com verbo transitivo direto 
(há exceções) + se e permite troca para a voz passiva analítica. A 
voz passiva  analítica  é  formada  com  verbo  ser  +  particípio. 
Identifica‐se  o  sujeito  passivo  da  oração,  principalmente  na 
conversão  da  forma  sintética  (com  se)  para  a  forma  analítica, 
  como feito nos exemplos. Então, o macete é construir a frase com 
o  verbo  ser,  se  ele  for  para  o  plural,  o  verbo  da  frase  com  se 
também irá. 

Na voz passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito, por isso, 
vai para o plural se o sujeito for plural. 

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4‐ índice de indeterminação do sujeito ‐ IIS 

  ‐ o verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular. 

 
Dica:  para  não  confundir  com  a  partícula  apassivadora  (item  3), 
perceba  que  a  transposição  para  a  voz  passiva  analítica  não  é 
possível,  pois  neste  caso  não  temos  verbos  transitivos  diretos 
(exceção  para  os  preposicionados),  apenas  verbos  transitivos 
  indiretos,  intransitivos  ou  de  ligação.  Não  se  identifica  o  sujeito  da 
frase. 

Por  isso,  o  verbo  nunca  vai  para  o  plural,  pois  não  há  sujeito  com  o 
qual concordar em número! 
Vejamos: 

Precisa‐se  de  empregados.  Não  é  possível  a  construção 


"empregados  são  precisados",  pois  o  verbo  PRECISAR  é 
transitivo indireto, requer a preposição de, PRECISAR DE algo; 

Aqui se é feliz ‐ verbo de ligação; 

Morre‐se de amores ‐ verbo intransitivo; 

Trata‐se  de  embargos  de  declaração.  Não  é  possível  a 


construção  "embargos  de  declaração  são  tratados",  o  verbo 
  tratar  está  na  acepção  de  indicar  qual  é  a  questão,  o  que  se 
debate,  sobre  o  que  se  discorre.  Sintaticamente,  apresenta‐se 
como verbo  transitivo  indireto,  com  preposição  de. 
As estruturas trata‐se  de   e  sua  afim cuida‐se  de são,  assim, 
invariáveis.  

É erro, dessarte, redigir "tratam‐se de embargos..." ou "cuidam‐
se de embargos", equívoco comum  nos  textos do  TRT. O verbo 
tratar,  na  acepção  desta  frase,  é  transitivo  indireto,  requer 
preposição  de,  forma  a  expressão  verbal  TRATAR‐SE  DE 
determinado assunto, e o sujeito é indeterminado. 

 
Obs:  importante  evitar  o  excesso de  uso  do  pronome  "se"  como IIS; 
em  muitos  casos,  ele  pode  ser subtraído sem  perda  do  sentido  da 

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frase.  Ex:  Para  atingir  nossa  meta  há  que  evitar  estrangeirismos (e 
não para se atingir...há que se evitar). 
 

    

 
   Verso da música Preciso Me Encontrar, Cartola, 1976. 

 
Quanto à colocação correta na frase, o se pode ocupar três posições em relação ao 
verbo ‐ antes, depois ou no meio do verbo, ou seja, em ênclise, próclise ou mesóclise, 
  respectivamente, conforme regras a seguir: 

 
1 ‐ ênclise 

De modo geral, é desta forma que se deve escrever, com o pronome posposto ao 
 
verbo. Exemplo: Escreve‐se carta. 

 
Atenção para a proibição: 

  1‐  Quando houver palavra de valor atrativo de próclise, que estudaremos a seguir. 

Obs: Ao usarmos o pronome em ênclise, temos mais chance de acertar, pois atende à 

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maioria dos casos de colocação pronominal! 
  
2 ‐ próclise 

Há perda da força enclítica por motivo de anteposição, aos verbos, de partículas 
que atraem o pronome oblíquo, normalmente para efeito de eufonia (bom som). 
Vejamos os 8 casos em que a próclise é obrigatória: 

a) Em orações negativas, pois a palavra negativa, seja advérbio, pronome ou
conjunção,  atrai  o  "se"  para  antes  do  verbo.  Exemplos:  Nada se  fará; 
Ela não se examina nem se deixa examinar; 

b)  Com  as  conjunções  alternativas  ora...ora,  ou...ou,  já...já,  quer...quer, 


agora...agora,  quando...quando.  Exemplos:  Ora  se  expõe,  ora  se  esconde; 
quando  se  pensa  que  o  aumento  saiu  é  quando se  percebe  que  ainda  há 
muito por vir; 

d) Com pronomes adjetivos e relativos que, qual, quem, cujo. Exemplos: Aí 
está o processo cujas páginas se sujaram; 
 
e)  Com  certas  conjunções  coordenativas  aditivas (nem,  não  só,  mas 
também,  que).  Exemplos:  Não  comprou  nem se  lembrou  de  pedir  para 
comprar; 

f)  Com  os  pronomes  indefinidos (algum,  alguém,  diversos,  muito,  pouco, 
tudo, vários etc.), quando estão antes do verbo. Exemplos: Pouco se estuda 
o idioma pátrio. Tudo se tem aqui, recursos materiais e humanos. 

g)  Com  os  advérbios,  sempre  que  precederem  o  verbo.  Exemplos:  Aqui  se 
faz, aqui se paga; sempre se pede mais, quando a comida é boa! 

h) Com os pronomes demonstrativos. Exemplos: Aquilo se assemelha a uma 
assinatura forjada; 

i) Com o verbo no gerúndio, precedido da preposição em.  Exemplo: Nesta 
terra, em se plantando, tudo nasce. 

 
Proibição: 
 
1‐ Não se pode iniciar um período com pronome oblíquo. Exemplo de erro: Me deram 
um presente (deve‐se dizer: Deram‐me um presente); 
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3 ‐ mesóclise 

         A mesóclise é obrigatória quando as formas do futuro do presente e as do futuro 
do pretérito iniciarem o período e sempre que, mesmo sem iniciar o período, não 
  houver partícula atrativa de próclise. Exemplos: Queixar‐se‐ia se não estudasse muito; 
Alegrar‐se‐á com as peraltices de seu bebê; mesmo que nada se faça, propor‐se‐á o 
projeto novo. 

 
Dica final: a próclise predomina sobre a mesóclise, que predomina sobre a ênclise, 
 
embora esta colocação atenda à maioria dos casos! 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 

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Dica 8 ‐  Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso" 
 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues    
 
 

                            

As frases destacadas nos quadros são contribuição da cultura popular para 
exemplificar o quanto podemos aplicar elipses(1), zeugmas(2) e contrações 
às palavras e ainda assim o objetivo da comunicação se efetivar. Depende 
da intenção, do contexto, do registro que temos de usar em determinado 
veículo  e  ambiente  e,  claro,  da  criatividade,  da  região  do  Brasil  e  até 
mesmo  em  decorrência  do  grau  de  instrução.  A  comédia  Ó  paí,  ó  traz 
expressão  baiana,  enquanto  o  diálogo  ao  redor  do  "cafezinho"  é 
regionalismo  mineiro  e  foneticamente  se  assemelha  ao  som  de  uma 
galinha! 
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Rotineiramente,  lemos  em  textos  jurídicos  as  expressões  "não  há  falar", 
"não  há  falar‐se"  e  afins  e  aí  surge  a  dúvida:  estão  corretas?  De  uma 
primeira impressão, fica a sensação de que falta algo na frase, de que está 
capenga, com algum termo elíptico... mas não está! 

Podem‐se  usar  as  expressões  a  seguir  indistintamente,  são  sinônimas  e 


todas corretas: 

‐Não há falar; 

‐Não há falar‐se; 

‐Não há que falar; 

‐Não há que se falar. 

Por  extensão,  mesma  explicação  serve  para  outros  verbos,  como,  por 
exemplo, não há confundir, não há fugir, não há olvidar. 

 
(1)
  elipse  ‐  omissão  de  um  termo  facilmente  identificável,  que  fica  subentendido  pelo 
contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase. Torna o texto mais conciso 
  e elegante;   
(2)
  zeugma  ‐  caso  especial  de  elipse,  quando  o  termo  omitido  já  tiver  sido  expresso 
anteriormente na frase. 

 
buuuuu 

                                      

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O fantasma no elevador assombra. Chama‐se o mesmo. Cuidado com ele! 
Por isso, o aviso aos usuários em todo hall de elevadores: 

Comunidades no orkut e facebook foram criadas e os mais descrentes 
fizeram piada do fantasma (ou seria um maníaco?). 

Brincadeiras à parte, vamos entender o porquê dessa frase estar errada. 

1. Os termos o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas não podem ser usados no 
lugar de substantivo ou de pronome, e sim como um reforço de um nome ou 
pronome ao qual se ligam; sendo assim, concordam com o termo a que se referem, 
como nos exemplos: 

‐ Ele mesmo trouxe as provas (próprio); 

   ‐ As assistentes mesmas farão o voto (próprias); 

‐ As mesmas testemunhas estão neste processo (de igual identidade); 

‐ Os assistentes mesmos digitaram o texto (próprios); 

2. O mesmo funciona como substantivo e flexiona em gênero e número quando 
significa "a mesma coisa" ou "a mesma pessoa" (atenção, não substitui um 

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substantivo e sim é o próprio substantivo): 

‐ Nos anos que se seguiram, sucedeu o mesmo (a mesma coisa); 

‐ Continuam as mesmas na defesa da justiça (as mesmas pessoas). 

3.  Invariável fica o termo mesmo se utilizado no sentido de realmente, até, ainda 
que, embora, como nos exemplos: 

‐ Mesmo doentes, vieram testemunhar; 

‐ As testemunhas colaboraram mesmo com o andamento do processo; 

‐ Mesmo querendo, não vamos concluir todos os votos até o encerramento do ano. 

Quanto ao aviso do elevador, o erro está em ter utilizado o mesmo como substituto 
de ‘elevador’,  o que é proibido, conforme explanação no item 1. Várias maneiras de 
se redigir o aviso seriam melhores, tais como: 

‐ Antes de entrar no elevador, verifique se esse encontra‐se parado neste andar; 
 
‐ Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra‐se parado neste andar; 

‐ Antes de entrar, verifique se o elevador está no andar. 

Mesmo raciocínio se aplica às redações oficiais e votos no TRT. Exemplos de erro: 

a) A recorrente solicitou juntada de provas, mas a mesma foi indeferida.  

Frase errada porque a mesma não pode substituir o substantivo juntada. 
Correta: 

‐ A recorrente solicitou juntada de provas, mas esta foi indeferida. 

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b) O juiz recebeu o processo e analisará o mesmo rapidamente. 

Errado porque o mesmo está no lugar de processo mas não pode 
funcionar como seu substituto. Correto: 

 ‐ O juiz recebeu o processo e o analisará rapidamente. 

c) Irei ao escritório do meu advogado e lá combinarei com o mesmo a melhor 
defesa. 

Texto incorreto pelo mau uso de o mesmo no lugar do pronome pessoal, 
indica estilo fraco e falta de recursos sintáticos. Ficaria melhor: 

‐ Irei ao escritório do meu advogado, com quem combinarei a melhor 
defesa; 

‐ Irei ao escritório do meu advogado para combinar com ele a melhor 
defesa; 

‐ Irei ao escritório do meu advogado. Combinarei com ele a melhor defesa.
   

Por fim, vejamos a notação correta para indicação de verso da folha. 

Especificar  que  o  assunto  está  localizado  no  verso  da  página  (quando  ela  não  é 
numerada) é importante e economiza tempo, pois o leitor pode ir direto ao ponto que 
  interessa. 

Temos em frase do tipo "as contrarrazões estão à fl.21, verso" adjuntos adverbiais que 
devem ficar separados por vírgula. Identificam‐se dois adjuntos adverbiais de lugar, o 
primeiro expressa  que  a  informação  está  contida  na  folha  21  e  o  segundo,  que  o 

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conteúdo tem prosseguimento no verso da referida folha. 

Recomenda‐se evitar o uso da notação "v." para não ser confundida com a abreviatura 
de "vide" ou "veja". 

Sugerimos, então, a notação no formato a seguir: 

O recurso é tempestivo, fl. 121, verso e a representação está regular, fl. 45, 
verso. 

 
Por falar em verso, há um trecho do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989, 
EUA, drama,  direção  de  Peter  Weir) em  que encontramos inspiradora 
explanação do professor Keating a seus alunos que cabe bem neste momento 
de fim de ano, vejam:  

 
Trecho de Sociedade dos Poetas Mortos. DISNEY e BUENA VISTA. 1989  
 http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica8/trecho_sociedadepm.flv  
 

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Dica 9 ‐ Estética Textual e Vícios de Linguagem 
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
 
  
 

O que é “belo”? O que vem a ser “beleza”? 

Ao  longo  da  história  da  humanidade,  essas  questões  sempre  se  fizeram 
presentes  e  as  respostas  certamente  foram  bem  diversas  das  que 
obtemos no mundo contemporâneo. 

ECO, Umberto. História da Beleza, Rio de Janeiro: Record, 2004.  

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No  livro  “História  da  Beleza”,  organizado  por  Umberto  Eco,  temos  breve 
análise da cultura ocidental sobre o tema‐título desde a Antiguidade até o 
século  XX.  Embora  sua  fonte  de  pesquisa  se  atenha  à  Europa  e  não 
abranja  tão  detidamente  as  belezas  das  Américas,  partilhamos  dos 
mesmos ideais e podemos observar o quanto o conceito de belo continha 
princípios  sublimes,  duradouros,  nada  absolutos.  O  que  hoje  se  tem,  ao 
menos  popularmente,  é  a  beleza  concebida  como  mero  produto  de 
consumo por vezes descartável, fruto de processo midiático e um fim em 
si mesma.

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Na Grécia antiga, o belo, o bom e o verdadeiro 
eram indissociáveis, exsurgindo daí princípios 
    éticos e estéticos. Ligada à proporção e à     
harmonia, a beleza relacionava‐se ao cosmo e à 
natureza. 
 
Míron, Discóbolo, 460‐450 a.C. 

Na Idade Média, luz e cor compunham o conceito 
do belo, ligado também à poesia. A proporção, a 
integridade e a claritas (luminosidade) eram 
necessárias à beleza, conforme Tomás de Aquino. 
Surpreende saber que ao tempo em que filósofos, 
     
teólogos e místicos eram todos homens de igreja 
e de rigor moralista surgiram cantos como 
Carmina Burana (séculos XII‐XIII) e composições 
poéticas pastoris em que se descreviam as belezas 
  femininas muito sensualmente. 
Miniatura do Código Manessiano, século XIV 

Nos séculos seguintes, passou‐se a relacionar a 
beleza com a mimesis: imitava‐se não no sentido 
de cópia, mas de representação da natureza, pois 
    o conhecimento do mundo visível seria meio para   
o conhecimento da realidade suprassensível. O 
simulacro tornou‐se nobre porque reproduzia a 
  beleza. 
Botticelli, Alegoria da Primavera, 1482 

Na Renascença, a mulher da Corte ocupava‐se da 
moda sem esquecer de cultivar a própria mente 
com capacidades discursivas, filosóficas e 
polêmicas e tinha participação ativa nas belas 
artes. O homem demonstrava poder e força e 
  colocava‐se no centro do mundo. A opulência e a 
   
brancura dos corpos indicava nobreza, uma vez 
  que fartura de alimentos era para poucos, sendo a 
magreza atributo dos plebeus e ligada a pobreza, 
doença e mazelas em geral, assim como as peles 
bronzeadas pelo sol era indicativo de pessoa 
  trabalhadora braçal. 
A condessa Hanssonville, 1845 

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O belo se manifesta na arquitetura e nas artes em geral conforme a época e mesmo uma paisagem passa por 
essa conceituação, que se transformou ao longo dos séculos até chegarmos ao minimalismo, praticidade, 
  funcionalidade e outros atributos relacionados ao nosso tempo, que requer velocidade até na hora de   
apreciarmos a beleza! Se antes um texto podia apresentar floreios e divagações tal qual uma vestimenta 
rebuscada, hoje tem que primar pela facilidade de leitura ao apresentar períodos curtos, declarações diretas, 
concisão, precisão, simultaneamente com preocupações de passar o máximo de informação útil e ainda ser 
politicamente correto. 

   

   

  Vila Chigi, em Centinale, Siena  Caspar Friedrich, Rochedos em Rügen, 1818   

   

   

  Rosácea norte da Catedral de Notre Dame em Paris  Caspar Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818.   

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  Frank Lloyd Wright, Casa Kufmann, Bear Run, 1936   

  O belo em temas diversos ‐ jardim, paisagem, arquitetura   

Paremos por aqui na apreciação da beleza histórica. 

Vamos, afinal, nos deter nas quatro regras a seguir: 

Sobre essas regras funda‐se o senso comum grego da beleza, e não é que 
cabem perfeitamente ao nosso tema da dica? 

Estética textual 

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A  beleza  de  um  texto  alcança  seus  leitores  de  modo  a  conduzi‐los 
agradavelmente a máximos entendimento e compreensão da mensagem; 
tem  caráter  social  e  coletivo  na  medida  em  que  colabora  para  que  o 
objetivo da comunicação seja atingido. 

A estética textual refere‐se à correção linguística, ao esmero com que se 
escreve  e  a  aspectos  técnicos  e  estruturais  como  os  estabelecidos  pela 
ABNT.  Visualmente  aprazível,   transmite  o  cuidado  com  organização  por 
parte do escritor e que este se importa com seus leitores. 

Boa concatenação de ideias, expressão clara e lógica do pensamento têm 
implicação  na  aparência:  os  parágrafos  devem  ser mais  curtos,  com  uma 
ideia central apenas. 

VÍCIOS DE LINGUAGEM 

O bom senso estético e a procura do belo ao redigir evita os denominados 
vícios de linguagem: 

1 ‐ Ambiguidade ‐ falta de clareza no discurso, gera possibilidade de uma 
mensagem ter dois sentidos. 

Exemplos:  

O reclamante andava de lotação, ao final do contrato já não andava 
mais (não andava porque adquiriu deficiência, porque passou a ir a 
pé ou porque comprou um automóvel?); 

A  presidência  noticiou  aos  servidores  a  mudança  de  suas  funções 


(foram mudadas as funções da presidência ou dos servidores?). 

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2  ‐  Barbarismo  ‐  desvio  da  norma  culta  e  uso  de  palavra  estrangeira  no 
lugar da equivalente em Português. 

Exemplos:  

A empresa mantinha serviço de delivery (serviço de entrega); 

Houve justa causa face a conduta do reclamante ( francesismo, em 
português é "em face de"); 

O  PJE  será  implantado  nos  diversos  TRT's  (anglicismo,  pois  em 


Português  não  se  usa  apóstrofo  "s"  para  o  plural; a  forma  correta 
para o plural de uma sigla é com o "s" ao final, sem apóstrofo: TRTs, 
CPFs, PMs; 

O adevogado chegou a tempo (desvio da norma quanto à grafia da 
palavra advogado). 

3  ‐  Paradoxo  vicioso  ‐  consiste  numa  antítese  extrema  inútil  e 


desnecessária ao contexto de uma sentença. 

Exemplos: 

Tenho relativa certeza quanto às provas dos autos; 

As crianças entraram para fora ao amanhecer. 

4 ‐ Plebeísmo ‐ uso de palavras de baixo calão, gírias ou termos informais 
para o contexto. 
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Exemplos:  

"...ver  um  servidor  da  própria  Justiça  Federal  cuspindo  no 


produto..."; 

E aí, velho, o que acha? 

5 ‐ Solecismo ‐ desvio em relação às regras da sintaxe 

Exemplos: 

Fazem anos que não faço um curso de reciclagem (Faz anos ...); 

Aluga‐se salas nesse edifício (alugam‐se...); 

Eu não respondi‐lhe nada do que perguntou (Eu não lhe respondi...). 

6  ‐  Eco  ‐  dissonância  provocada  pela  utilização  de  palavras  com 


terminações iguais ou semelhantes na frase; 

 Exemplo: Responde pessoalmente pelo que corresponde. 

                                                            

7 ‐ Cacófato ou cacofonia ‐ encontro de sílabas de palavras diferentes que 
resulta num som desagradável ou inconveniente; 

Exemplos:  

Tem que ter fé demais para ir em frente (fede mais); 

A gorjeta era dividida por cada um dos garçons (porcada);       
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Diz que o recorrente... (disque). 

          

8 ‐ Colisão ‐ quando o uso legítimo da aliteração não convém e causa um 
efeito estilístico ruim ao receptor da mensagem 

Exemplo: alegada ilegalidade; 

      

9 ‐ Preciosismo ‐ afetação, falta de naturalidade ao redigir; 

Exemplo: Nomeou o insigne e indefectível depositário fiel. 

10  ‐  Arcaísmo  ‐  modo  de  escrever  antiquado,  uso  de  vocábulos  ou 
expressões que deixaram de ser usuais na norma; 

Exemplo:  Pediu  dispensa  do  trabalho  para  ir  à  matinê  (matinê  não 
se usa há um tempo). 

11 ‐ Pleonasmo vicioso ‐ repetição dispensável de uma ideia, redundância. 

Exemplos: ‐ de sua livre escolha; 

‐ lapso temporal (lapso já significa intervalo de tempo) 

‐ conviver junto; 

‐ há anos atrás; 

‐ outra alternativa; 
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‐ motivo que motivou. 

     

12  ‐  Prolixidade  ‐  exposição  repetitiva  e  inútil  de  argumentos  e 


superabundância  de  palavras  para  exprimir  poucas  ideias.  Falta  de 
objetividade que compromete a clareza e cansa o leitor. 

Para  finalizar,  leiamos  exemplo  extremamente  antiestético  de  texto  cuja 


arrogância e plebeísmo geram reações diversas nos leitores ‐ certamente 
nenhuma  agradável  ‐  tomado  emprestado  com  a  devida  autorização  do 
sítio www.migalhas.com.br (link ao final): 

 "A tese é tão brilhante que deve o autor levá‐la ao relator do projeto do novo 
CPC para que venha a ser acolhida no novo código". A ironia está registrada em 
sentença do juiz Federal substituto Guilherme Gehlen Walcher, de SC, ao negar 
provimento  aos  embargos  de  declaração  de  servidor  da JF que  ajuizou  ação 
contra  a  Fazenda  Nacional.  Mas  engana‐se  quem  acha  que  as  "lições"  do 
magistrado param por aí. Há trechos como : "é lamentável ver um servidor da 
própria  Justiça  Federal  cuspindo  no  produto  (sentença)  da  atividade  fim  da 
instituição a que pertence, que paga seu salário e que sustenta sua família". E 
   completa  com  uma  "humilde"  constatação  :  "Não  perco  a  oportunidade  de    
registrar  que,  no  dia  em  que  o  embargante  for  aprovado  no  concurso  de  Juiz 
Federal, aos 27 anos de idade, em três oportunidades, obtendo um primeiro e 
um segundo lugares (sendo que neste último caso o primeiro lugar somente foi 
assumido por terceiro candidato após a pontuação dos títulos), terá condições 
intelectuais de dar lições de processo civil a este julgador (...)". É mole ou quer 
mais ?  Leia a íntegra da decisão, com todo o destemperado arroubo do jovem 
magistrado. Jovialidade que, como se sabe, o tempo dá jeito de curar. (Clique 
aqui) 

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Dica 10 ‐ Uso do acento grave ‐ CRASE 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 
 

  
Cenas do Filme “Matrix” ‐  Warner Bros. – 1999 
http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica10/sigacoelho.flv  
     

O  filme  Matrix marcou  época.  Apresentou  efeitos  especiais  inéditos, 


impressionou  pelo  roteiro  enigmático  e  repleto  de  referências, 
arrebanhou admiradores mundo afora. Vidas saíram das salas de cinema 
transformadas.  Produziram‐se  verdadeiros  tratados  sobre  ele,  de 
filosóficos  a  místicos,  passando  pela  Psicologia  e  pela  Informática. 
Estudiosos  de  todas  as  áreas  opinaram:  jornalistas,  cineastas,  psicólogos, 
semiólogos, designers, financistas e intelectuais, o encanto foi geral. 

Mas Baudrillard dele não gostou. 

Matrix,  filme  de  ficção  científica  dos  diretores Lana  e Andy Wachowski 


produzido  em  1999,  parceria EUA/Austrália,  teve  como  fonte  de 
inspiração,  segundo  os  próprios  criadores,  o  livro  de  Jean  Baudrillard  ‐ 

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filósofo, sociólogo e fotógrafo francês ‐ chamado Simulacros e Simulação, 
lançado em 1981*. 

Na cena destacada do filme temos a vista do citado livro, dentro do qual o 
personagem  Neo  guarda,  em  um  fundo  falso,  dinheiro  e  o  fruto  de  seu 
trabalho hacker. 

A metáfora da película remete, pelo viés político,  à obra de Guy  Debord, 


de  quem  Baudrillard  foi  contemporâneo  e  a  quem  se  refere  em  algumas 
de  suas  publicações.  De  forma  muito  simplificada:  o  mundo  em  que 
vivemos  não  é  real. Todas  as  experiências  humanas  autênticas  são 
devoradas  pelo  capitalismo  de  consumo.  Depois  de  engolidas,  são 
transformadas em produtos vendidos para nós mesmos por meio da mídia 
e de seus mecanismos publicitários (que vêm a ser nada mais do que uma 
caixinha  de  ressonância  dos  desejos  da sociedade!).  O  que  há  é 
substituição da experiência própria por outras artificiais: as que vemos no 
cinema,  séries, jornais, reality shows, etc e a incapacidade  por  inteiro de 
se formular alguma opinião objetiva sobre quase qualquer assunto devido 
ao  excesso  de  informação‐desinformação  que  satura,  do  isolamento 
advindo  da  tecnologia,  do  ensino  alienante  ‐  tudo  a  nos  desapropriar  de 
nossa natureza essencial.  

Baudrillard  concentrou  sua  análise  mais  profunda  na  comunicação  de 


massas  e  na  sociedade  de  consumo.  O  desejo  de  inclusão  no  sistema  de 
consumo  é  a  motivação  por  trás  do  desejo  do  consumidor  em  adquirir 
bens;  o  objeto  não  é  de  fato  desejado.  O  mais  belo  objeto  de  consumo 
finalmente é o corpo, nós mesmos. 

Os  signos  (signo  =  significado  +  significante)  são  manipulados,  há  infinita 


reprodução  e  sobreposição  de  imagens  e  signos  a  acarretarem  o 
apagamento  de  toda  a  distinção  entre  o  real  e  a  imagem.  O  sistema  de 

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signos  tornou‐se  nossa  hiper‐realidade.  Disso  deriva  a  perda  de 


significados estáveis e as sociedades pós‐modernas assim estão, na quarta 
fase: na fase inicial, o signo reflete uma realidade. Numa segunda, o signo 
mascara  e  altera  uma  realidade.  Numa  terceira  fase,  o  signo  encobre  a 
ausência de uma realidade e numa quarta fase o signo não tem qualquer 
relação com realidade alguma: ele é o seu próprio simulacro. 

 
Todos os  componentes da vida humana são convertidos em um show. O 
espetáculo é um pesadelo do qual temos de acordar. 

 
Neo  escolhe  a  pílula  vermelha.  E  acorda  do  coma.  E  seus  olhos  doem 
porque pela primeira vez estão sendo usados. 

 
Baudrillard  não  aprovou  o  filme,  afirmou  que  os  roteiristas  não 
entenderam  o  que  leram  e  que,  aliás,  muitos  intelectuais  também  não 
compreenderam seu texto e estavam a popularizar conceitos equivocados 
(vide entrevista, link ao final). Afirmou que Matrix é o tipo de filme que a 
própria  matriz  criaria  e,  tendo  em  vista  a  banalização  e  absorvição  pelo 
pop, que esvaziou de significado tudo o que o filme poderia trazer e hoje a 
frase  "saia  da  matrix"  virou  um  bordão  tolo,  parece  que  o  filósofo  tinha 
razão. 

* BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d'água, 1991. 

  Enfim, ao tempo em que lemos alguns trechos do livro Simulacros e    
Simulação, vamos estudar o acento grave, a temida crase? 

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Se  outrora  pudemos  tomar  pela  mais  bela  alegoria  da  simulação  a  fábula  de 
Borges* em que  os  cartógrafos  do  Império  desenham  um mapa tão detalhado 
que acaba por cobrir exatamente o território (mas o declínio do Império assiste 
ao lento esfarrapar deste mapa e à sua ruína (1), podendo ainda localizarem‐se 
alguns fragmentos nos desertos – beleza metafísica desta abstração arruinada, 
testemunha de um orgulho à medida do (2) Império e apodrecendo como uma 
carcaça,  regressando  à   (3)  substância  do  solo,  de  certo  modo  como  o  duplo 
acaba por confundir‐se com o real ao envelhecer) – esta fábula está terminada 
para nós e tem apenas o discreto encanto dos simulacros da segunda categoria 
[...]É o real, e não o mapa, cujos vestígios subsistem aqui e ali, nos desertos que 
já não são os do Império, mas o nosso. O deserto do próprio real. (pág. 8) 

* BORGES, Jorge Luís, Do Rigor na Ciência. 

1 ‐ verbo assistir, transitivo indireto na acepção de presenciar, requer 
preposição na regência de seu objeto. Em "à sua ruína" temos crase 
facultativa porque antes de pronome possessivo. 

2 ‐ locução que significa "na proporção". Sempre com crase. 

3 ‐ verbo regressar, transitivo indireto na acepção de retornar, requer 
preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino 
(substância), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase. 

Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se 
tem.  O  primeiro  refere‐se  a  uma  presença,  o  segundo,  a  uma  ausência 
(4). (pág.9) 

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4 ‐ verbo referir‐se, bitransitivo e pronominal na acepção de reportar‐se, 
requer partícula "se" e preposição na regência de seu objeto. Sem crase 
porque proibida antes de artigo indefinido (uma). 

 ...experiência americana de TV‐verdade tentada em 1971 sobre a família Loud: 
sete meses de rodagem ininterrupta, trezentas horas de filmagem direta, sem 
guião nem cenário, a odisseia de uma família, os seus dramas, as suas alegrias, 
as suas peripécias, ‘non stop’ – resumindo, um documento histórico “bruto”, e a 
“mais bela proeza da televisão, comparável, à escala da nossa cotidianidade, 
ao filme do desembarque na Lua (5)”.(pág.40) 

5 ‐ "à escala" ‐ locução de base feminina. 

‘Reunidos  em  congresso  em  Lyon,  os  veterinários  preocuparam‐se  com  as 
doenças  e  perturbações  psíquicas  que  se  desenvolvem  na  criação  industrial  de 
animais domésticos’. Os coelhos desenvolvem uma ansiedade mórbida, tornam‐
se  coprófagos  e  estéreis.  Maior  sensibilidade  às  infecções,  ao  parasitismo 
(6)[...]Escuridão, luz vermelha, ‘gadget’, tranquilizantes, nada resulta. Existe nas 
aves  uma  hierarquia  de  acesso  à  comida  (7),  o  ‘pick  order’[...]Quis‐se  então 
romper o ‘pic order’ e democratizar o acesso à comida mediante outro sistema 
de  repartição.  Fracasso:  a  destruição  desta  ordem  simbólica  leva  à  confusão 
total  nas  aves  e  a  uma  instabilidade  crônica  (8).  Belo  exemplo  de  absurdo: 
conhecem‐se  os  estragos  análogos  que  a  boa  vontade  democrática  pôde  fazer 
nas  sociedades  tribais.  Os  animais  somatizam!  Extraordinária  descoberta! 
Cancros,  úlceras  gástricas,  enfartes  do  miocárdio  nos  ratos,  nos  porcos,  nos 
frangos! (págs.160/161) 

  

6 ‐ sensibilidade a algo, nesta acepção requer complemento nominal e 
preposição na regência do seu complemento. Complemento feminino 
(infecções), somem‐se preposição "a" e artigo "as", temos a crase. 
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7 ‐ acesso a algo, requer complemento nominal e preposição na regência 
do seu complemento. Complemento feminino (comida), some‐se 
preposição "a" ao artigo "a", temos a crase. 

8 ‐ verbo levar, transitivo indireto na acepção de conduzir, requer 
preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino 
(confusão), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase. O 
segundo objeto (uma instabilidade crônica) não tem crase porque proibida 
antes de artigo indefinido. 

Deixo  à  consideração  (9)  se  poderá  haver  um  romantismo,  uma  estética  do 
neutro.  Não  creio  ‐  tudo  o  que  resta  é  o   fascínio  pelas  formas  desérticas  e 
indiferentes,  através  da  própria  operação  do  sistema  que  nos  anula.  Ora,  o 
fascínio (em oposição à sedução (10) que se agarrava às aparências (11), e à 
razão  dialéctica  que  se  agarrava  ao  sentido)  é  uma  paixão  niilista  por 
excelência,  é  a  paixão  própria  ao  modo  de  desaparecimento.  Estamos 
fascinados por todas as formas de desaparecimento, do nosso desaparecimento. 
Melancólicos  e  fascinados,  tal  é  a  nossa  situação  geral  numa  era  de 
transparência involuntária.(pág. 196) 

9 ‐ verbo deixar, bitransitivo na acepção de deixar algo a alguém, requer 
preposição na regência de seu objeto indireto feminino (consideração), 
some‐se preposição "a" ao artigo "a", temos a crase. 

10 ‐ oposição a algo, requer complemento nominal e preposição na 
regência do seu complemento. Complementos femininos (sedução e razão 
dialética), somem‐se preposição "a" e artigo "a", temos a crase. 

11 ‐ verbo agarrar, pronominal na acepção de prender‐se, grudar‐se, 
requer preposição na regência de seu objeto indireto feminino 

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(aparências), some‐se preposição "a" ao artigo "as", temos a crase. Antes 
da palavra masculina "sentido", proibida a crase. 

O termo crase vem do grego e significa fusão: união de duas vogais 
idênticas. Graficamente, a junção de "a" (preposição) com outro 
"a" (artigo ou pronome demonstrativo) é representada pelo 
acento grave.  

Casos: 

1. A preposição a + os artigos a, as:  

Exemplos:  

Prefiro o horário corrido à fixação de dois turnos. 

Referi‐me às funcionárias do gabinete. 

2. A preposição a + os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a(s): 

 
Exemplos: 

Dirija‐se àquelas funcionárias de uniforme. 

Referi‐me àquilo que você citou no despacho.  

Referi‐me às que você citou. 
  

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
63 
 
 

Dicas importantes: 

• Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se ocorrer "ao" ou "aos" é 
sinal de que há crase. 

Exemplos: 

Fui a audiência. (?) 

Fui ao salão plenário.  

Correto: Fui à audiência. 

• Substitua o "a" por "para" ou "para a". Se ocorre "para a" é sinal de que há 
crase. 

   Exemplos:    

                    Reportou a história a juíza (?) 

                    Reportou a história para a juíza. 

                    Correto: reportou a história à juíza. 

•  Não esqueça que só pode ocorrer crase diante de palavra feminina que 
admita o artigo "a" e que dependa de outra palavra que exija a preposição "a", 
ou seja: 

a) Se o termo regente exige a preposição a:  

Exemplo: Sou contrário à ideia de demissão do gerente. 

b) Se o termo regido aceita o artigo a/as: a palestra, chegar a  

Exemplo: Chegou atrasado à palestra.  

  

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
64 
 
 

Uso obrigatório  Uso proibido  Uso facultativo 

Caso 
 
(INDIFERENTE) 

(diga SIM)  (diga NÃO) 
Quando estiver implícito   Viver a seu bel‐  
“à moda de”:   prazer; 
 viajar a convite; 
 Móveis à Luís 15;  escrito a lápis; 
 bacalhau à   traje a rigor; 
Gomes de Sá.   sessão a portas 
Antes de 
fechadas; 
palavras 
Quando subentendido   passeio a pé; 
masculinas 
termo feminino:    sal a gosto; 
 TV a cabo; 
 Vou à [praça]   barco a remo; 
João Mendes.   carro a álcool; 
 avião a jato etc. 

   Veio disposto a   
Antes de verbos  colaborar. 

Antes de  De tratamento ‐ senhora,  Antes da maior parte  Pronomes possessivos:  


pronomes  deles, inclusive 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
65 
 
 

senhorita e dona:  pronomes de   Enviou a carta à (a) 


tratamento:  minha família, não 
 Dirigiu‐se à  à (a) sua família. 
senhorita Alice.   Disse a ela que 
não virá; 
 nunca se refere a 
você; 
 dirigiu‐se a V.Exª 
rudemente. 

Antes de     A juíza não se   
substantivo  referiu a 
feminino de  mulheres; 
sentido   não irei a festas 
indefinido e o  nessa casa. 
"a" vem antes 
de plural 
   Cara a cara;   
Expressões 
 ponta a ponta; 
formadas por 
 frente a frente; 
palavras 
 gota a gota. 
repetidas 

   O jogo está   
Depois de 
marcado para as 
"para", "até", 
16h; 
"perante", 
 foi até a esquina;
"com", 
 lutou contra as 
"contra" outras 
americanas. 
preposições 

 Foi à Itália   Foi a Roma   
(voltou da Itália). (voltou de 
Antes de   Chegou à Paris  Roma). 
cidades,  dos poetas   Fez péssimas 
Estados, países  (voltou da Paris  referências a 
dos poetas).  Brasília. 

 Às vezes   A distância  Locuções femininas de 


 à moda  (quando esta não  meio ou instrumento:  
 às pressas  for determinada)
 à primeira vista   À vela/a vela; 
 à medida que   à bala/a bala; 
 à noite   à vista/a vista; 
 à custa de   à mão/a mão. 
Locuções de   à procura de 
base feminina   à beira de   
 à tarde  Prefira crase quando for 
 à vontade  preciso evitar ambiguidade: 
 às cegas 
 às escuras   Vendeu à vista (pois 
 às claras  não vendeu os 
 à distância  olhos, a vista). 
(quando 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
66 
 
 

determinada), 
etc. 

 Referiu‐se àquilo;    
 Foi àquele 
Aquele, 
restaurante; 
aqueles, aquilo, 
 Dedicou‐se 
aquela, aquelas 
àquela tarefa. 

 A capitania de     
Minas Gerais 
Com  estava ligada à 
demonstrativo  de São Paulo; 
“a”   Falarei às que 
quiserem me 
ouvir. 

Na indicação de   A audiência será     
numeral de  às 13h. 
hora 
determinada 

Perante nomes       A convocação 
femininos de  dirigiu‐se à (a) 
pessoas  Maria. 

     Iremos até à (a) 
Depois do 
sessão de 
termo "até"  julgamento. 

Se for determinada:   Fui a casa.   
 Ao 
 Fui à casa de  desembarcarmos
Com os termos  meus netos no  , fomos direto a 
"casa" e "terra"  mesmo dia.  terra (terra no 
 Viajarei à terra  sentido de 
de meus  oposição a mar). 
antepassados. 

Leia a entrevista com Jean Baudrillard, cujo livro inspirou os 
diretores da trilogia Matrix. Ao final, há referência a o que ele 
pensava sobre o Brasil: 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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JEAN BAUDRILLARD 
 
A verdade oblíqua 
 
 
 
LUíS ANTôNIO GIRON  
 
  Andre Arruda/ÉPOCA 

O professor baixo e mal-humorado é hoje uma das figuras mais populares do novo século. O
pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em inglês. Mesmo assim, é tão
popular nos Estados Unidos por causa de suas análises sobre a cultura de massa que foi convidado
a fazer um show de filosofia em Las Vegas. E seu nome está na boca dos espectadores da trilogia
Matrix. No primeiro filme dos irmãos Wachowski, o hacker Neo (Keanu Reeves) guarda seus
programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulação, de Baudrillard.
Keanu leu o livro e costuma mencionar o autor em todas as suas entrevistas sobre Matrix
Reloaded, o novo filme da trilogia. Até porque o ensaio sobre como os meios de comunicação de
massa produzem a realidade virtual inspirou os diretores de Matrix a criar o roteiro.

Baudrillard não parece ligar para a fama. Ele esteve no Brasil para lançar seu novo livro, Power
Inferno (Sulina, 80 páginas, R$ 18), e participar da conferência 'A Subjetividade na Cultura
Digital', na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde falou com ÉPOCA. Sempre
pautado por assuntos atuais, ele analisa no ensaio os atentados de 11 de setembro de 2001 como
um ato simbólico contra o Ocidente. Nesta entrevista, ele fala sobre seu pensamento turboniilista,
11 de setembro e arte. Se a realidade já não existe e vivemos um permanente e conspiratório
espetáculo de mídia, como quer Jean Baudrillard, o pensador exerce a função de entertainer às
avessas. Ele decreta o fim dos tempos, e todo mundo vibra.

ÉPOCA - Suas idéias demolidoras estão mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais
parecido com o senhor?
Jean Baudrillard - Não aconteceu nada. O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só
pode ser redutor. Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de
modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja
o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior
familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo.

ÉPOCA - Mas pós-modernidade não é um conceito teórico racional?


Baudrillard - A noção de pós-modernidade não passa de uma forma irresponsável de abordagem
pseudocientífica dos fenômenos. Trata-se de um sistema de interpretações a partir de uma palavra
com crédito ilimitado, que pode ser aplicada a qualquer coisa. Seria piada chamá-la de conceito
teórico.

ÉPOCA - Se não é pós-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
68 
 
 

críticos o chamam de pensador terrorista, ou niilista irônico.


Baudrillard - Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma
realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular
hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos
oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse
raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida
que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.

ÉPOCA - Como o senhor explica a espetacularização da realidade?


Baudrillard - Os signos evoluíram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam. Os sistemas de
signos operam no lugar dos objetos e progridem exponencialmente em representações cada vez
mais complexas. O objeto é o discurso, que promove intercâmbios virtuais incontroláveis, para
além do objeto. No começo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio
intitulado 'A Economia Política dos Signos', a indústria do espetáculo ainda engatinhava e os
signos cumpriam a função simples de substituir objetos reais. Analisei o papel do valor dos signos
nas trocas humanas. Atualmente, cada signo está se transformando em um objeto em si mesmo e
materializando o fetiche, virou valor de uso e troca a um só tempo. Os signos estão criando novas
estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda não sabemos onde
isso vai dar.

  ÉPOCA - A disseminação de signos a despeito dos


objetos pode conduzir a civilização à renúncia do saber?
Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da história
 
humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma
espécie de catástrofe simbólica. Amargamos hoje a morte
'Matrix faz uma leitura ingênua da 
da crítica e das categorias racionais. O pior é que não
relação entre ilusão e realidade. Os  estamos preparados para enfrentar a nova situação. É
diretores se basearam em meu livro  necessário construir um pensamento que se organize por
Simulacros e Simulação, mas não o  deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente
entenderam. Prefiro filmes como  reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem
Truman Show e Cidade dos Sonhos,  nostalgia da verdade. A questão agora é como podemos ser
cujos realizadores perceberam que a  humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia.
diferença entre uma coisa e outra é 
ÉPOCA - Seu raciocínio lembra os dos personagens da
menos evidente' 
trilogia Matrix. O senhor gostou do filme?
Baudrillard - É uma produção divertida, repleta de efeitos
especiais, só que muito metafórica. Os irmãos Wachowski são bons no que fazem. Keanu Reeves
também tem me citado em muitas ocasiões, só que eu não tenho certeza de que ele captou meu
pensamento. O fato, porém, é que Matrix faz uma leitura ingênua da relação entre ilusão e
realidade. Os diretores se basearam em meu livro Simulacros e Simulação, mas não o entenderam.
Prefiro filmes como Truman Show e Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a
diferença entre uma coisa e outra é menos evidente. Nos dois filmes, minhas idéias estão mais
bem aplicadas. Os Wachowskis me chamaram para prestar uma assessoria filosófica para Matrix
Reloaded e Matrix Revolutions, mas não aceitei o convite. Como poderia? Não tenho nada a ver
com kung fu. Meu trabalho é discutir idéias em ambientes apropriados para essa atividade.

ÉPOCA - Quanto à arte, o senhor se dedicou a analisar o fenômeno artístico ao longo dos anos.
Em que pé se encontra a arte contemporânea?
Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a
restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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69 
 
 

especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há exceções,
mas, em geral, os artistas se renderam à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel
Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os
signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos políticos, e não mais
seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.

ÉPOCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura


americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor JEAN BAUDRILLARD 
tanto adora visitar?
Baudrillard - Já me cobraram um livro sobre o Brasil.
Nascimento  
Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto
volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é Reims, na França, em 1929 
muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se
enquadra muito em minhas preocupações com a Trajetória  
contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana, Sociólogo e fotógrafo. Em 1966 
com seus dualismos maniqueístas, um país que se começou a lecionar na Universidade de 
construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no Paris X‐Nanterre. Atualmente, dedica‐se 
qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da
a escrever e fazer palestras 
cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e
altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de
Livros principais  
sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas
de explicar. No Brasil, vigora o charme. O Sistema dos Objetos (1968), À Sombra 
das Maiorias Silenciosas (1978), 
ÉPOCA - O que o senhor pensa da civilização americana Simulacros e Simulação (1981), América 
depois dos atentados de 11 de setembro? O mundo mudou (1988), Cool Memories I (1990), A Troca 
mesmo por causa deles? Impossível (1999), O Lúdico e o Policial 
Baudrillard - Claro que mudou. Nunca mais seremos os
(2000) 
mesmos depois da destruição do World Trade Center.
Abordo o tema em Power Inferno, uma coletânea de
artigos sobre o império americano e a política. Considero os atentados um ato fundador do novo
século, um acontecimento simbólico de imensa importância porque de certa forma consagra o
império mundial e sua banalidade. A Guerra do Iraque apenas dá seqüência às ações imperiais. Os
terroristas que destruíram as torres gêmeas introduziram uma forma alternativa de violência que se
dissemina em alta velocidade. A nova modalidade está gerando uma visão de realidade que o
homem desconhecia. O terrorismo funda o admirável mundo novo. Bom ou mau, é o que há de
novo em filosofia. O terrorismo está alterando a realidade e a visão de mundo. Para lidar com um
fato de tamanha envergadura, precisamos assimilar suas lições por meio do pensamento.

fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT550009‐1666,00.html 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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Dica 11 ‐ Neologismo   
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues    
 

 
 

O recurso indenizatório tornou‐se imexível  

Onde  está  o  erro  nessa  frase?  Acertou  quem  apontou  para  o  vocábulo 
"indenizatório".  

Dialeticidade,  juridiquês,  inocorrer,  inobstante,  infraconstitucional, 


autoexecutoriedade, inexecutividade, infralegal, prefalado, contrarrazões, 
autoaplicável, inincidência, improver, inacolher, sobrenorma, sobredireito, 
investigatório, indenizatório, sucumbencial, logiciário, negocial, fiduciante, 
insuportabilidade,  mensalão,  internetês,  faturização,  insuportabilidade, 
locatício,  improvimento,  invivível,  inexigir,  improver,  imerecer,  inaplicar, 
induvidar,  impagar,  publicizar,  inconciliar,  sigilosidade...  sabiam  que 
nenhuma  dessas  palavras  existe?  Ou  melhor  dizendo,  nenhuma  foi 
catalogada e dicionarizada até o momento? 

A criação de palavras configura neologismo, que vem a ser o contrário de 
arcaísmo.  Segundo  Aurélio  Buarque  de  Holanda,  é  "a  palavra,  frase  ou 
expressão  nova,  ou  palavra  antiga  com  sentido  novo".  É  fenômeno 
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
71 
 
 

linguístico  legítimo,  surge  por  necessidades  variadas  e  de  muitas 


maneiras, vejamos algumas: 

  
1 ‐ Neologismo semântico ‐ quando uma palavra já existente passa a 
ter nova conotação, novo significado: 

Exemplos: 

 estou a fim de fulano (estou interessada); 
 vou fazer um bico (trabalho provisório). 

2 ‐ Neologismo lexical ‐ quando de fato a palavra é nova e detém 
novo conceito: 

Exemplos: 

 deletar (eliminar);  
 juridiquês (linguagem do Direito). 

3 ‐ Neologismo sintático ‐ combina elementos já existentes na 
língua para criar um novo vocábulo, por esquema de derivação ou 
composição, entre outros: 

Exemplos: 

 infralegal; indenizatório; sucumbencial; 
dialeticidade; saudadear; desinquieto; desfeliz; 
avoamento. 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
72 
 
 

O processo neológico exige duas condições: 

1.  estruturação adequada em nosso idioma e 
2.  ausência de sinônimo em nossa língua. 

Se não conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser 
barbarismo e a configurar vício de linguagem. 

Para se conferir se determinado vocábulo existe oficialmente na língua (e 
não  só  na  nossa  imaginação),  devemos  consultar  dicionários  e, 
especialmente,  o  VOLP  ‐  Vocabulário  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa, 
catálogo  de  toda  a  língua  Portuguesa  que  detém  a  palavra  oficial  e  final 
sobre a matéria, disponível em  

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23. 

Curiosidades: 

♦ "imexível", neologismo expressado pelo ex‐ministro Magri nos 
idos de 1991, agora é palavra oficial, consta do VOLP e de dicionários 
em geral; é exemplo, pois, de legitimação pelo uso dos falantes em 
geral e, por ter passado pelo correto processo de formação de 
palavras de nossa língua, chegou a ser dicionarizado.  

♦ Reparem que os verbos criados são em sua maioria pertencentes à 
1ª desinência (final em AR). 

♦ O verbo elencar já consta do VOLP e do dicionário Houaiss, mas ainda não aparece no 
Aurélio! 

♦ O VOLP excepcionou o termo improvido como adjetivo (como verbo, não). Pode‐se 
redigir, então, "o recurso foi improvido" ‐ adjetivo, mas não "o juiz havia improvido o 
recurso" ‐ verbo . 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
73 
 
 

Vejamos indagação à Academia Brasileira de Letras, guardiã da língua e 
instituto que elabora o VOLP, e sua respectiva resposta em duas ocasiões 
diferentes a respeito do tema: 

ABL RESPONDE  

"Pergunta : Por favor, por que não encontro o termo jurídico "contrarrazões" no VOLP? 
É termo largamente utilizado aqui no tribunal onde trabalho e sempre acreditei que o 
VOLP registra todos os vocábulos da Língua Portuguesa! Obrigada 
 
 Resposta : Prezada consulente, embora o VOLP procure registrar o maior número 
possível de palavras, não há como registrar todos os vocábulos possíveis de serem 
formados na língua portuguesa. Está para sair a 6ª edição do VOLP com a inclusão de 
novos termos e algumas outras atualizações. Enviaremos sua sugestão para a equipe de 
Lexicografia, da ABL, responsável pela elaboração do VOLP. Pode utilizar a palavra 
contrarrazão." 

"Pergunta : Bom dia, Trabalho em um tribunal onde se usam os termos 
autoexecutoriedade e inexecutividade, mas noto que ambos não são registrados nem no 
VOLP nem em dicionários. Como podem ser substituídos, ou por serem termos técnicos, 
se tornam neologismos que podem ser empregados? Obrigada, Ana Paula 
 
 Resposta : Prezada consulente: Em certas áreas do saber ou da esfera do trabalho, 
algumas palavras passam a circular de modo corriqueiro, sem que antes tenha sido 
registrada em dicionários. São os chamados neologismos técnicos que, muitas vezes, 
ganham amplitude e se consolidam. O VOLP, de fato, não registra os termos 
autoexecutoriedade e 'inexecutividade'. Seu uso não é proibitivo, mas recomenda‐se a 
sinalização de que se trata de um neologismo, com uso de aspas, por exemplo. Atente‐
se, porém, para o processo de formação do segundo termo, já que o primeiro, sem 
dúvida, está dentro do padrão formativo do português. O segundo termo seria derivado 
de inexecutável ? Se for derivado desse adjetivo, a melhor formação será 
'inexecutabilidade' e não 'inexecutividade'." 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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Criatividade profícua tem hora e lugar; quanto ao ambiente do Tribunal, o 
uso da linguagem padrão não deixa espaço para intervenções linguísticas 
dos falantes. No entanto, sabemos que há termos com significado técnico 
não  abrangido  por  outro  vocábulo  e  se  torna  de  grande  utilidade  e 
necessidade usá‐los, mesmo sendo neologismo, por não terem sinônimos 
e  serem  criados  para  preencher  lacunas  no  vocabulário.  O  uso  e  o 
costume  acabam  por  trazer  à  formalidade  um  termo  antes  relegado  à 
informalidade, mas nem sempre. 

Sugere‐se,  então,  que  se  lance  mão  apenas  daqueles  neologismos 


estritamente necessários por não haver substituto; atente‐se, porém, para 
termos  como  "inobstante",  que  devem  ser  trocados  por  outros 
legitimados e de igual teor: "nada obstante", "não obstante". 

Enfim,  sempre  que  possível  e  não  houver  mácula  no  significado  estrito 
que  se  quer  empregar,  devemos  procurar  equivalentes  para  termos  não 
dicionarizados,  uma  vez  que  redigimos  em  um  ambiente  que  exige  o 
registro  da  norma  culta  para  um  mundo  real  e  prático;  se  não,  pode 
parecer  que  estamos  no  mundo  de  Alice,  escrevendo  na  língua  do 
Jabberwocky. 

O  poema  intitulado  Jabberwocky,  considerado  nonsense  (em  verdade, 


com  muito  sentido),  de  Lewis  Carrol  em  seu  texto  Através  do  Espelho, 
continuação  de  Aventuras  de  Alice,  rendeu  ao  menos  7  versões  variadas 
em Língua Portuguesa. 

Elaboradas  por  tradutores  que  tentaram  criar  neologismos  em  nossa 


língua  que  provocassem  efeito  semelhante  aos  originais  (Carrol  amava 
neologismo), a versão mais conhecida e fiel é a do nosso poeta concretista 
Augusto de Campos. 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
75 
 
 

A  primazia  era  pela  sonoridade,  é  um  poema  para  se  ler  em  voz  alta  e 
pelos  sons  provocar  as  sensações  de  brincadeira  de  criança  e  aventura 
contra  um  monstro  gigante  e  ameaçador.  As  palavras,  mesmo 
inexistentes,  porque  frutos  de  processo  neológico,  são  inteligíveis  pelo 
contexto e sonoridade, até porque algo dito com muita excitação não faz 
sentido à primeira vista: 

 Desenho de John Tenniel para Através do Espelho, lançado em 1871 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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Versões de JABBERWOCKY  

JAGUADARTE

Tradução de Augusto de Campos

Era briluz. As lesmolisas touvas


roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

"Foge do Jaguadarte, o que não morre!


Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Fefel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassura!"

Ele arrancou sua espada vorpal


e foi atras do inimigo do Homundo.
Na árvore Tamtam ele afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,


Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
JABBERWOCKY Sorrelfiflando atraves da floresta,
E borbulia um riso louco!
Poema Original de Lewis Carroll
Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante!
Cabeca fere, corta e, fera morta,
`Twas brillig, and the slithy toves
Ei-lo que volta galunfante.
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves, "Pois entao tu mataste o Jaguadarte!
And the mome raths outgrabe. Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!"
"Beware the Jabberwock, my son! Ele se ria jubileu.
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun Era briluz.As lesmolisas touvas
The frumious Bandersnatch!" Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
He took his vorpal sword in hand: E os momirratos davam grilvos.
Long time the manxome foe he sought --
So rested he by the Tumtum tree, One, two! One, two! And through and through
And stood awhile in thought. The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
And, as in uffish thought he stood, He went galumphing back.
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood, "And, has thou slain the Jabberwock?
And burbled as it came! Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!'
He chortled in his joy.

`Twas brillig, and the slithy toves


Did gyre and gimble in the wabe;

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
77 
 
 

All mimsy were the borogoves,


And the mome raths outgrabe.

PARGARÁVIO O TAGARELÃO

Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges Tradução de William Lagos

Solumbrava, e os lubriciosos touvos Era o Assador e os Sacalarxugos


E vertigiros persondavam as verdentes; Elasticojentos no eirado giravam
Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos Miserágeis perfuravam os Esfregachugos
E os porverdidos estringuilavam fientes. E os verdes porcalhos ircasa arrobiavam.

"Cuidado, ó filho, com o Pargarávio prisco! Cuidado, meu filho, com o Tagarelão!
Os dentes que mordem, as garras que fincam! Te morde com a boca e te prende com a garra!
Evita o pássaro Júbaro e foge qual corisco Escapa ao terrível Jujupassarão
Do frumioso Capturandam." E foge ao frumoso e cruel Bandagarra!

O moço pegou da sua espada vorpeira: Cingiu à cintura sua espada vorpal
Por delongado tempo o feragonists buscou. E por longo tempo o manximigo buscou
Repousou então à sombra da tuntumeira, Da árvore Tumtum na sombra mortal,
E em lúmbrios reflaneios mergulhou. Em cismas imerso afinal descansou.

Assim, em turbulosos pensamentos quedava E assim, ufichado em seu devaneio,


Quando o Paragarávio, os olhos a raisluscar, O tagarelão, com olhos de chama,
Veio flamiscuspindo por entre a mata brava. Surdiu farejando do bosque no meio:
E borbulhava ao chegar!Um , dois! Um, dois! A gosma supura e a baba derrama!

E inteira, até o punho, Um, dois! E dois, um! A lâmina espessa


A espada vorpeira foi por fim cravada! Cortou navalhando sua espada vorpal!
Deixou-o lá morto e, em seu rocim catunho, Deixou-lhe o cadáver e trouxe a cabeça;
Tornou galorfante à morada. Voltou galufando em triunfo total! "

"Mataste então o Pargarávio? Bravo! Pois mataste destarte o Tagarelão?


Te estreito no peito, meu Resplendoso! Vem dar-me um abraço, meu filho valente!
Ó gloriandei! Hosana! Estás salvo!" O fragor desse dia! O meu coração
E na sua alegria ele riu, puro gozo. Em êxtase canta loução e contente!

Solumbrava, e os lubriciosos touvos Era o Assador e os Sacalarxugos


E vertigiros persondavam as verdentes; Elasticojentos no eirado giravam
Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos Miserágeis perfuravam os Esfregachugos
E os porverdidos estringuilavam fientes. E os verdes porcalhos ircasa arrobiavam.

BESTIALÓGICO BLABLASSAURO

Tradução de Eugênio Amado Tradução de Ricardo Gouveia

Brilhava o dia, e uma fumaça


Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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No céu girava sem parar; Brilumia e colescosos touvos


Palhaços sérios espiavam No capimtanal se giroscavam;
Loucos risonhos a cantar. Miquíticos eram os burrogouvos,
E os mamirathos extrapitavam.
Cuidado com o Bestialógico!
Se ele te pega é perdição! "Foge meu filho, do Blablassauro!
Cuidado com a Ave Jujuba Boca que morde, garra que agarra!
E o terrível Bicho-Papão! Fica longe do Ornitocentauro
E do frumioso Bombocarra!"
Ele tomou de sua espada
E foi atrás de uma inimiga; Nas mãos tomou sua espada vorpal:
À sombra da árvore Tuntun, Venceria o manxomo inimigo!
Descansou, coçando a barriga. Pensaparou ao pé de um Tumtal,
Meditando, ele e seu umbigo.
E ali ficou o Bestialógico,
Olhos selvagens, chamejantes, Em úfia concentração pensava;
Resfolegando na floresta E o blablassauro, olhar flamejante,
Com mil idéias borbulhantes. Do bosque tulgeo, aos bufos chegava
Balouçando o corpo borbulhante!
Um, dois! Um, dois! Veio marchando.
Ao vê-la ergueu a espada e - zop! Zás-trás! Alto a baixo, lado a lado
Deixou-a morta e sem cabeça, Corta e pica a lâmina vorpal!
Voltando em seguida a galope. Levando a cabeça do malvado,
Galunfante, voltou afinal.
Mas quem morreu? O Bestialógico?
Pois então vem até os meus braços! "Então o Blablassauro morreu?
Que lindo dia! Tu mereces Vivas! Frabujoso! Quem diria?
Milhões de beijos e de abraços! Abraça-me, briante filho meu!"
E ele ria de pura alegria.
Brilhava o dia, e uma fumaça
No céu girava sem parar; Brilumia e colescosos touvos
Palhaços sérios espiavam No capimtanal se giroscavam;
Loucos risonhos a cantar. Miquíticos eram os burrogouvos,
E os mamirathos extrapitavam.

ALGARAVIA ALGARAVIÃO
Tradução de Oliveira Ribeiro Netto
Tradução de Pepita de Leão
Era o auge e as rolas brilhantes
Pelo ar giravam, giravam. Era o fervor, e as rutilas rolinhas
Palhaços davam pinotes, Girando, o taboleiro afuroavam.
Os montes se amontoava. Estavam os truões bem divertidos,
E os cerros patetas se firmavam.
- Cuidado com a Algaravia,
meu filho, ela morde e arranha! "Cuidado com o Algaravião, meu filho!
Bicho papão te carrega, Ele morde, e segura até um homem!
O Lobisomem te apanha! Cuidado com o Pássaro Bisnau,
E foge do terrível Lobishomem!"
Ele de espada na mão
Foi buscar o inimigo... Ele pegou na espada bem afiada,
Junto dum mandacaru Levou tempo, buscando o inimigo ...
Ficou pensando consigo. Foi descansar ao pé da Bananeira,
E ali ficou, pensando lá consigo.
Enquanto estava cismando,

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
79 
 
 

Vem do mato a Algaravia. E enquanto ali estava a matutar,


Dos olhos saia fogo, Lá de dentro do mato vem chegando
Era brasa que cuspia. O Algaravião de olhos de fogo,
E de longe ele vinha já bufando!
Um dois, um dois, zás-trás,
Num instante ele a matou, Um, dois! Um, dois! E assim de lado a lado
Cortou depressa a cabeça A lâmina cortante foi rangendo!
E pra casa voltou. Ele matou-o pegou na cabeça,
E de volta p'ra casa foi correndo.
- Vem aos meus braços meu filho!
Tu mataste a Algaravia? "Tu mataste o Algaravião, meu filho?
Dia feliz! Salve! Salve! Dá-me um abraço! Que glorioso dia!
E cantava de alegria. Que dia glorioso! Viva! Vivôôô!...
Ele também deu vivas de alegria.
Era o auge e as rolas brilhantes
Pelo ar giravam, giravam. Era o fervor, e as Rutilas rolinhas
Palhaços davam pinotes, Girando, o taboleiro afuroavam.
Os montes se amontoava. Estavam os truões bem divertidos,
E os cerros patetas se firmavam.

fontes: http://www.jabberwocky.com/carroll/jabber/jabberwocky.html e http://bravonline.abril.com.br/materia/arte-traduzir-lewis-carroll-4

Coelho, por John Tenniel 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
80 
 
 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
81 
 
 

     
Dica 12 ‐ Uso da vírgula ‐ parte I 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 

 
  

 
 
  Trailer do filme em 3D "Pina", 2011, de Win Wenders 
  http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica12/PINADance.flv 
 

 
                Imagem de divulgação da Copa do Mundo de Futebol 2014 no Brasil / Neuroprótese, "veste robótica" para vítimas de 
paralisia 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
82 
 
 

O que pode haver em comum entre o filme “Pina”, o cartaz da 
FIFA e a imagem da neuroprótese? 
 

Miguel Nicolelis! 

O  cientista  brasileiro  mais  importante  atualmente tem  a  música  como 


assunto  inicial  de  seu  livro  “Muito  Além  do  Nosso  Eu”.  Em  boa  parte  de 
todo  o  texto  discorre  sobre  como  as  sensações  desse  contato  musical 
inusitado  influenciaram  sua  carreira  e  suas  pesquisas  neurocientíficas, 
inclusive  aquelas  sobre  resgate  do  movimento  de  pessoas  com  paralisia 
grave.  Será  um  adolescente  tetraplégico  que  deverá  usar  a  "veste 
robótica"  concebida  por  Nicolelis  no  jogo  inicial  da  Copa  do  Mundo  em 
2014. 

Neurocientista de envergadura internacional, cotado para o  Nobel desde 
2009,  pioneiro  e  descobridor  da  denominada  "nova  ciência  do  cérebro", 
seu trabalho também o credencia como humanista. Engajado socialmente, 
suas  pesquisas  têm  alcance  não  apenas  clínico  para  vasto  campo  de 
enfermidades ‐ o que já seria ótimo ‐ mas também social ‐ as crianças do 
Rio  Grande  do  Norte  que  o  digam  (Da  pedra  lascada  à  veste  robótica: 
tecnologia é a extensão do nosso ser). 

Pina Bausch, bailarina alemã, revolucionária da dança, é considerada uma 
das  coreógrafas  mais  importantes  do  século  XX.  Disse  quanto  a  seu 
trabalho: "O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim 
o que as move” (Pina Bausch: tudo é dança). 

A  essência  da  dança  é  o  corpo  em  movimento,  mas  não  apenas,  há  de 
haver  muitas  conexões  importantes  para  se  criar  uma  coreografia.  É 
também  expressão  dos  sentimentos,  ideias  e  imagens.  O  filme‐
documentário  de  Win  Wenders  é  sobre  uma artista  completa,  que 
transcendeu  a  dança,  teve  capacidade  de  tornar  o  ser  humano  e  o 
bailarino  transparentes:  quem  dança  é  a  alma,  o  que  vai  por  dentro,  no 
sentimento  e  organicidade. Com  sua  companhia  de  dança,  Pina  captava 
tudo  como  uma  fotógrafa  e  traduzia  em  movimento,  artes  plásticas, 
cinema, teatro. Dançava a dor, a solidão, com intensidade e delicadeza. 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
83 
 
 

No filme, que foi exibido nos cinemas de Brasília em 2012 em 3D, vemos 
as cores da Alemanha, diferentes das nossas, e dores e solidões também 
outras.  Mostra  como  sua  obra  reflete  contrastes  dos  sentimentos 
humanos,  o  que  organiza  e  desorganiza  ‐  o  vil  e  o  sublime,  o  ódio  e  o 
amor.  Seus  bailarinos  apresentam  técnica  precisa,  apurada,  mesmo  não 
sendo esse o foco das coreografias.  

Com  abordagens  diferentes,  mas  ambos  ligados  ao  movimento  em  sua 
concepção  mais  profunda  ‐  Pina,  no  âmbito  dos  sentidos  e  dos 
sentimentos e de suas conexões para se dançar; Nicolelis, no âmbito das 
conexões  cerebrais  que  geram  energia  bidirecional  ‐  essas  duas 
personalidades  vêm  a  este  espaço  enriquecer  o  tema  "uso  da  vírgula", 
traço indicativo de pausa no movimento lógico da estrutura frasal (e não 
da fala!).  

Acessem  matérias  sobre  eles  e  seus  trabalhos  por  meio  dos  endereços 
eletrônicos  indicados  ao  final  e aguardemos  a  chance  de  observar  o 
funcionamento da neuroprótese na Copa do Mundo em 2014! 

Por ora, vejamos o uso da vírgula nos seguintes trechos do livro do nosso 
cientista (NICOLELIS, Miguel. Muito além do nosso eu: a nova neurociência 
que  une  cérebros  e  máquinas  –  e  como  ela  pode  mudar  nossas  vidas.  1ª 
ed. São Paulo: Companhia das letras, 2011) :  

"Perplexo.  Só  assim  eu  poderia  descrever  meu  estado  ao  detectar  a  primeira  rajada  de 
arpejos  de  violinos  que,(1)  ricocheteando  nas  sisudas  paredes  de  mármore,(2)  expandiu‐se 
pelas  elegantes  escadas  que  ligam  o  segundo  andar  ao  átrio  de  entrada  do  prédio  da 
Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  São  Paulo  (FMUSP).  Diante  de  tal  assombração 
sonora,(3) minha única reação foi exibir um espanto paralisante. Afinal,(4) nenhum estudante 
de medicina está preparado para enfrentar o absurdo da situação que se apresentou naquela 
até então tranquila noite de plantão. Pois,(5)  durante um breve interlúdio na rotina dantesca 
de um dos mais concorridos prontos‐socorros do planeta,(6) o Pronto‐Socorro do Hospital das 
Clínicas da FMUSP,(7) sem saber nem como nem por quê,(8)  de repente me encontrei imerso 
nos  primeiros  acordes  de  um  inebriante  concerto  que  rapidamente  preencheu  todos  os 
espaços ao meu redor. 

[...] 

Ainda  em  choque  por  tudo  aquilo  a  que  eu  havia  sido  exposto  pela  primeira  vez,(9)  só  me 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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ocorreu perguntar: 'Mas o que eu preciso fazer para encontrar essa outra classe?' 

Sorrindo,(10)  enquanto  gentilmente  abria  a  porta  do  auditório,(11)  dr.  César  Timo‐Iaria  deu  o 
primeiro  conselho  ao  aprendiz  para  toda  a  vida  que  ele  acabara  de  recrutar  com  tanta 
maestria: 'Basta seguir a música!'. " (págs. 11 e 17). 

(1) Vírgula obrigatória, marca início da oração 
intercalada; 

(2) Vírgula obrigatória, marca final da oração 
intercalada; 

(3) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora 
da ordem direta; 

(4) Vírgula obrigatória, destaca expressão 
explanatória; 

(5) Vírgula obrigatória, marca início da oração 
intercalada; 

(6) Vírgula obrigatória, marca final da oração 
intercalada e isola aposto; 

(7) Vírgula obrigatória, isola o aposto; 

(8) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora 
da ordem direta; 

(9) Vírgula obrigatória, marca frase invertida; 

(10) Vírgula obrigatória, separa orações 
coordenadas; 

(11) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora 
da ordem direta; 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
85 
 
 

Um  consórcio  científico  internacional,(12)  o  The  Walk  Again  Project  (Projeto  andar 
Novamente),(13)  que  ajudei  a  fundar,(14)  oferece  uma  primeira  imagem  desse  futuro. 
Concebido alguns anos depois que Belle e Aurora demonstraram a possibilidade de conectar 
tecido nervoso vivo com ferramentas artificiais,(15) o projeto tem como objetivo desenvolver e 
implementar  a  primeira  ICM  capaz  de  restaurar  a  mobilidade  corporal  completa  em 
pacientes vítimas de graus severos de paralisia. (pág. 471). 

(12) Vírgula obrigatória, isola o aposto; 

(13) Vírgula obrigatória, demarca início da oração 
adjetiva explicativa; 

(14) Vírgula obrigatória, demarca final da oração 
adjetiva explicativa; 

(15) Vírgula obrigatória, separa orações 
coordenadas sindéticas; 

Nesta  dica,  estudaremos  os  casos  de  vírgula  obrigatória,  facultativa  e 


proibida. Na segunda parte, em uma próxima dica, os casos especiais. 
 

Desfazendo mitos 

Antes de mais nada, é preciso desmistificar a cultura de que vírgula é pausa pura e 
simplesmente. 
Tampouco corresponde à respiração ou à fala (o que seria dos asmáticos e dos gagos?). 
Também não é "questão de ouvido". 

Deve‐se  evitar  a  visão  simplista  de  que  a  vírgula  serve  para  marcar  as 
pausas da fala. A vírgula obedece a critérios sintáticos, ou seja, necessita‐
se  ter  conhecimento  estrutural  da  língua  para  não  separar  o  que  é 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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sintaticamente  ligado,  como  estudaremos  adiante.  A  fala  é  objeto  de 


estudo da prosódia, não da sintaxe.  

Certamente  desenvolve‐se  bom  conhecimento  da  estrutura  da  língua  ao 


lermos  textos  bem  escritos,  de  bons  autores.  Não  é  preciso  conhecer 
profundamente a sintaxe, saber fazer análise sintática minuciosamente: a 
intuição  linguística/competência  linguística  desenvolve‐se  pela  leitura, 
mas,  quando  equívocos  permanecem,  faz‐se  necessário  estudar  algumas 
regras. 

Celso Pedro Luft esclarece essa problemática e, por oportuno, transcrevo 
trecho  de  seu  livro  A  vírgula  (LUFT,  Celso  Pedro.  A  vírgula.2ª  ed.  São 
Paulo:  Ática,  2007)  :  “A  nossa  pontuação  ‐  a  pontuação  em  língua 
portuguesa – obedece a critérios sintáticos, e não prosódicos. Sempre é 
importante  lembrar  isso  a  todos  aqueles  que  escrevem,  para  que  se 
previnam contra bisonhas vírgulas de ouvido. Ensinam as gramáticas que 
cada  vírgula  corresponde  a  uma  pausa  mas  que  nem  a  toda  pausa 
corresponde  uma  vírgula.  Essa  ligação  entre  pausa  e  virgula  deve  ser  a 
responsável pela maioria dos erros de pontuação. E penso que está mais 
do que na hora de desligar a duas coisas." (pág. 7). 

Não adianta ler em voz alta e pôr uma vírgula onde se pausa a fala porque 
muitas  vezes  ela  não  coincidirá  com  as  regras  de  virgulação  e  pode‐se 
acabar  até  com  o  significado  correto  de  um  trecho.  A  ordem  direta  de 
uma  frase,  normalmente  sujeito  +  verbo  +  complemento,  não  admite 
vírgula,  pois  este  sinal  de  pontuação  existe  justamente  para  demonstrar 
"falta  ou  quebra  de  ligação  sintática  (regente+regido, 
determinado+determinante) no interior das frases". (pág. 9). 

Vírgula obrigatória 

a‐ Separar elementos de uma enumeração. Ex: A audiência foi longa, 
entediante, desnecessária; 

b‐  Isolar  o  aposto.  Ex:  Dad  Squarisi,  autora  das  dicas  do  Correio 
Braziliense, é festejada em todas as suas publicações; 

c‐  Isolar  o  vocativo.  Ex:  Excelência,  peço  vênia  para  minha 


declaração; 
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d‐  Indicar  inversão  ou  intercalação  de  algum  elemento  da  frase, 
fazendo‐a  sair  da  ordem  direta.  Ex:  No  início  da  sessão,  os 
advogados entregaram os memoriais; 

e‐  Indicar  a  supressão  do  verbo.  Ex:  Antes  das  férias,  mutirão  no 
gabinete para entregarmos todos os processos. 

f‐  Isolar  termos  pleonásticos  ou  repetidos.  Ex:  Na  presença  dos 
jornalistas, o ministro calou‐se, calou‐se quanto ao tema. 

g‐  Destacar  as  expressões  explanatórias  ou  corretivas.  Ex:  O 


preposto falhou, isto é, não esclareceu aspectos fundamentais. 

Vírgula optativa 

Se  a  intercalação  ou  inversão  se  der  com  uma  só  palavra  ou  com 
expressão  curta,  as  vírgulas  que  marcam  tal  ocorrência  acabam 
sendo  optativas.  Ex:  Com  tranquilidade,  o  reclamante  falava  sobre 
tudo;  Com  tranquilidade  o  reclamante  falava  sobre  tudo;  O 
reclamante, com tranquilidade, falava sobre tudo;  

Observe‐se  que,  quando  houver  intercalação  com  vírgula  optativa, 


ou se usam ambas as vírgulas, ou não se usa nenhuma delas. Então, 
será errado escrever "o reclamante, com tranquilidade falava sobre 
tudo". 

Vírgula proibida 

a ‐ Entre sujeito e verbo. Ex: O juiz determinou nova audiência; 

b  ‐  Entre  verbo  e  objeto  direto.  Ex:  O  juiz  determinou  nova 


audiência; 

c ‐ Entre verbo e objeto indireto. Ex: O juiz precisou de mais tempo 
para decidir; 

d ‐ Entre verbo e predicativo. Ex: A audiência foi longa; 

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TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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e  ‐  Entre  verbo  e  agente  da  passiva.  Ex:  Uma  nova  audiência  foi 
determinada pelo juiz; 

f ‐ Entre o adjunto adnominal e o substantivo ao qual se refere. Ex: A 
defesa da ré gerou revolta; 

g ‐ Entre o complemento nominal e o vocábulo por ele completado. 
Ex: A defesa contra as acusações gerou revolta; 

h  ‐  Por  raciocínio  lógico,  também  não  se  usará  vírgula  entre  as 
orações  principais  e  aquelas  que  exerçam  funções  sintáticas  de 
sujeito,  objeto  direto,  objeto  indireto,  predicativo  do  sujeito  e 
complemento nominal. 

i  ‐   Quanto  à  inversão  entre  os  termos  da  oração,  há  exceção:  a 


posposição do sujeito ao verbo não vem sinalizada pela vírgula. Ex: 
Não acarretará sanções o comportamento da recorrida nestes autos; 

 
A matéria de capa da edição de setembro de 2008 da Revista Scientific American já 
trazia a imagem da "veste robótica" a ser usada na abertura dos jogos da Copa de 
2014      

 
 

Nesse  artigo,  Miguel  Nicolelis  discute  a  rápida  evolução  da  pesquisa  em  interfaces 
cérebro‐máquina  na  última  década  e  as  perspectivas  para  que  a  abertura  da  Copa  do 
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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Mundo no Brasil em 2014 possa servir como palco de uma demonstração do potencial de 
impacto dessa tecnologia  no  futuro  da  reabilitação de  pacientes  portadores de  paralisia 
corpórea grave (Artigo: Mind Motion). 

Matérias  em  linguagem  acessível  ao  público  leigo,  mas  interessado, 


disponíveis na internet sobre Miguel Nicolelis e sobre Pina Bausch em: 

 
 ‐ Instituto Internacional de Neurociência de Natal 

 ‐ Nosso Nobel 

 ‐ Pesquisa de Miguel Nicolelis dá a largada para criar 
'internet cerebral' 
 
 ‐ Miguel Nicolelis, a mente brilhante da ciência brasileira 
 
 ‐ Samsung quer desenvolver tablets controlados por 
      pensamento 
 
 ‐ Cientistas desenvolvem prótese wireless que funciona com 
a força do pensamento 

  ‐ Pina Bausch: tudo é dança 
 
  ‐ Bailarina brasileira da companhia de Pina Bausch fala sobre 
o filme 

     

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Dica 13 ‐ Uso da vírgula ‐ parte II 
Escrito por Ana Paula Rodrigues 
 

 
 
  

 
Ilustração inspirada na obra de Erico Verissimo, em O tempo e o vento 50 anos 

Tom  Jobim  foi  um  mestre  na  harmonia  e  é  considerado  um  gênio 
brasileiro. Arquitetou solidamente sua obra com uma sofisticação natural, 
extrema elegância, som claro e límpido, em imensa estrutura harmônica. 
Ao mesmo tempo, foi popular, tanto que emprestou suas canções a temas 
musicais  de  programas  televisivos,  e  quando  o  víamos  na  tela  da  TV, 
podíamos  reconhecer  um  quase  típico  homem  brasileiro  ‐  mais 
precisamente, carioca ‐, afável, sorridente, bem humorado. 

A  harmonia  se  tem  na  construção  e  no  encadeamento  de  acordes,  que, 
por  sua  vez,  sustentam  as  melodias.  Nas  composições  de  Tom, 
percebemos  o  mínimo  de  notas,  sem  rebuscamentos  supérfluos,  o  que 
limpa  o  som  que  chega  aos  nossos  ouvidos  ‐  melódico,  direto,  claro, 
facilmente  assimilável,  aparentemente  simples,  mesmo  não  o  sendo  em 
sua essência. 
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Excelente  letrista  também,  temos  nesta  dica  a  presença  de  sua  música 
"Passarim"  (aperte  o  play  abaixo  para  ouvi‐la),  emprestada  para  a 
minissérie feita em adaptação da obra "O Tempo e o Vento", do escritor 
Érico Veríssimo. 

 
Música "Passarim", de Tom Jobim  

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/tomjobim_passarim.mp3 

Em  Veríssimo  (sim,  ele  é  o  pai  de  Luís  Fernando  Veríssimo,  também 
escritor  de  sucesso),  temos  outro  brasileiro  notável.  Pertencente  ao 
Modernismo, da fase regionalista do movimento ‐ quando temos autores 
que  se  concentram  em  temas  nordestinos  (Graciliano  Ramos,  Guimarães 
Rosa  e  José  Lins  do  Rego)  ‐  o  autor  do  épico  "O  Tempo  e  o  Vento" 
elaborou uma das obras mais importantes da literatura nacional com foco 
na  região  sul  do  país. 
 
A  obra  é  composta  de  três  romances,  cada  um  deles  em  mais  de  um 
volume  ou  tomo:  "O  Continente",  "O  Retrato"  e  "O  Arquipélago",  dos 
quais  constam  200  anos  do  processo  de  formação  do  estado  do  Rio 
Grande do Sul, num enredo que mescla ficção e fato ‐ história do Brasil, de 
1745  a  1945,  tempos  marcados  pelo  poder  das  oligarquias,  por  conflitos 
internos  e  por  guerras  de  fronteira,  a  recontar  a  formação  deste  país. 
 
Provavelmente  todos  já  conhecem  o  capitão  Rodrigo,  a  Ana  Terra,  ou 
algum outro personagem marcante da obra, seja pela minissérie, seja por 
ter  lido  alguma  parte  dessa  grandiosa  epopeia  nos  tempos  de  escola. 
Interessante que todo o processo de finalizar essa trilogia levou o escritor 
ao esgotamento, como ele mesmo disse: 
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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"Nessa  aceitação  vejo  hoje  um  sinal  de  minha  hesitação 


quanto à última parte de O Tempo e o Vento. No fundo, essa 
ida  para  os  Estados  Unidos  foi  uma  espécie  de  fuga  dos 
fantasmas,  problemas  e  dificuldades  que  me  esperavam 
atocaiados  nesse  novo  livro",  confessou  Érico  em  uma 
entrevista à Revista do Globo em 1961, depois da publicação, 
afinal, do primeiro tomo de O Arquipélago. 

 
Premido,  entre  outras  coisas,  pelo  próprio  "apreciável 
sentimento de culpa" infundido pela trilogia inconclusa e pela 
dificuldade  de  escrever  aquele  que  deveria  ser  seu  romance 
mais franco, em sua própria opinião, Erico foi derrubado pelo 
estresse e teve seu primeiro infarto, em março de 1961, o que 
poderia ter atrasado ainda mais a conclusão da obra. 

Em  2012,  tivemos  o  cinquentenário  de  publicação  da  obra  completa. 


Vejam  no  caderno  especial  do  ZERO  HORA  excelente  matéria,  com 
documentários,  entrevistas,  gravuras  e  tudo  o  mais  a  que  se  tem  direito 
por se tratar de tão valioso legado:  O Tempo e o Vento ‐ 50 anos. 

A boa nova é que teremos no segundo semestre de 2013 o lançamento do 
filme homônimo O Tempo e o Vento, com direção de Jayme Monjardim, 
com  os  atores  Thiago  Lacerda,  Marjorie  Estiano,  Fernanda  Montenegro, 
Cléo  Pires,  Mayana  Moura,  entre  outros.  Confiram  ao  final  o  trailler  do 
filme. 

A partir deste ponto, vejamos os casos especiais para o uso da vírgula: 

Reza a lenda que, na antiga Rússia, um czar rejeitara o apelo de um condenado e dera o 
veredito: "Manter condenação. Impossível absolver." Tendo pessoal interesse no caso, a 
czarina,  durante  a  madrugada,  teria  revertido  a  situação  ao  aplicar  pequenas  alterações 
na pontuação: "Manter condenação, impossível; absolver." 

Percebe‐se que a questão da vírgula não é supérflua nem de somenos importância, pois 
de seu mau uso podem resultar equívocos sérios. 

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I)  Vírgula e etc: 

O acordo ortográfico ‐ expedido com força de lei pela Academia Brasileira 
de Letras ‐ em vigência determina que a vírgula deve ser usada antes de 
"etc.",  razão  pela  qual  a  referida  vírgula  se  torna,  então,  obrigatória. 
 
Se for "etc." a última palavra da frase, não colocamos dois pontos: um só 
ponto terá a função de indicar a abreviatura e o ponto final. 

Não  se  deve  usar  a  conjunção  "e"  antes  de  etc.,  pois  já  exprime  o 
significado "e outras coisas mais"; 

Pode‐se empregar etc. a pessoas e a animais. 

Não  se  devem  usar  as  reticências  (...)  porque  esse  sinal  de  pontuação 
indica  que  se  suspende  a  discriminação  de  outros  itens,  mas  essa 
suspensão, em última análise, já está implícita no próprio vocábulo "etc". 

a) Vistos, etc. (correto); 
b) Vistos etc. (errado); 
c) Vistos etc... (errado); 
d) Vistos, etc... (errado). 

II) Vírgula entre orações 

Em  decorrência  da  observação  feita  no  item  "vírgula  proibida"  na  dica 
anterior,  que  prega  o  enfoque  da  separação  entre  os  termos  de  uma 
oração  conforme  o  período  simples  e  a  ordem  direta  da  oração,  temos 
algumas observações sobre o uso da vírgula entre as orações. 

Veda‐se o uso desse sinal de pontuação entre orações principais e orações 
subordinadas  que  equivalham  a  um  sujeito,  objeto  direto,  indireto, 
predicativo e complemento nominal, que seriam as orações subordinadas 
substantivas subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas 
e completivas nominais. 

Exs:  

a) "É importante que se faça a justiça" (subjetiva); 
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b) "Os homens da lei querem que se faça a justiça" (objetiva direta); 

c) "Todos precisam de que se faça a justiça" (objetiva indireta); 

d) "A esperança da população é que se faça a justiça"  (predicativa); 

e)  "A  população  tem  necessidade  de  que  se  faça  a  justiça" 
(completiva nominal). 

‐ Também se usa a vírgula para isolar orações intercaladas. 

Ex: A justiça, todos dizem, é o que se deseja. 

‐  Orações  intercaladas  como  essa  podem  ser  separadas  por 


parênteses ou por travessões. 

Exs: A justiça ‐ todos dizem ‐ é o que se deseja; 

      A justiça (todos dizem) é o que se deseja. 

‐ Orações coordenadas normalmente são separadas por vírgulas. 

Ex: A justiça é o que se deseja, mas poucos têm acesso a ela. 

‐ Orações coordenadas começadas por "e" e com o mesmo sujeito 
não são separadas por vírgulas. 

Ex:  Todos  querem  justiça  e  (todos)  têm  esperança  de  serem 


contemplados por ela. 

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‐  Porém,  as  coordenadas  começadas  por  "e"  que  têm  sujeitos 


diferentes são separadas por vírgulas. 

Ex: Todos querem a justiça, e ninguém perde a esperança. 

Obs:  se  as  coordenadas  forem  orações  extensas  ou  com  vírgulas 
internas, impõe‐se o ponto e vírgula. 

Exs: Estudei, passei, comecei a trabalhar; 

         Estudei  muito  por  2  anos;  passei  em  concursos  variados,  em 


diferentes  Estados,  para  cargos  de  nível  médio  e  de  nível  superior; 
comecei a trabalhar no que mais me agradou. 

‐ Conjunção "nem" dispensa vírgula; se as orações são de extensão 
razoável, usa‐se virgular. 

Exs: Não precisou depor nem de comparecer ao tribunal; 

      O empregador não enviou preposto habilitado, nem enviou toda 
a documentação exigida para esclarecimento fidedigno dos fatos. 

‐  Orações  subordinadas  adjetivas  explicativas  são  separadas  por 


vírgulas; não o são as adjetivas restritivas. 

Exs:  Brasília,  que  é  onde  fica  a  sede  do  TRT10ª  Região,  entrará  no 
período de baixa umidade do ar em pouco tempo; 

         O filme que comprei é de edição de colecionador. 

‐  Orações  subordinadas  adverbiais  são  separadas  por  vírgula  de 


suas principais quando antepostas. 

Ex:  Quando  a  sessão  iniciou,  todos  os  magistrados  estavam 


presentes. 

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III)  Vírgula em citações de artigos de lei 

‐  Se  a  citação  vai  do  mais  minucioso  para  o  mais  geral,  em  gradação 
ordenada,  usa‐se  a  preposição  "de".  Esse  encadeamento  revela  que  está 
na  ordem  sintática  direta  e  não  se  usa  vírgula,  mesmo  que  forme  frase 
extensa. 

Exs:   Veja‐se o inciso II do artigo 5º da Constituição Federal; 

          Veja‐se  o  inciso  II,  do  artigo  5º,  da  Constituição  Federal 
(errado). 

‐  Se  não  houver  essa  gradação,  usa‐se  a  vírgula,  pois  indicativa  de 
intercalação de elementos, no início e ao final do elemento intercalado. 

Exs:   Veja‐se o artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal; 

         Veja‐se o artigo 5º, inciso II da Constituição Federal (errado); 

         Veja‐se o artigo 5º inciso II, da Constituição Federal (errado); 

         Veja‐se o artigo 5º inciso II da Constituição Federal (errado). 

         

 
    Vídeo de apresentação: O tempo e o vento 

http://www.youtube.com/watch?v=MOJnqffVkE4 

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Dica 14 ‐ Uso de "cujo" 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
  

De  onde  vem  o  gosto  musical  de  cada  um  de  nós?  Como  ele  se  forma  e  se  consolida?  Esse 
processo,  segundo  a  neurociência,  se  desenvolve  a  partir  da  estimulação,  é  automático, 
inconsciente e tem a ver com dois fatores essencialmente: sistema de recompensa e habilidade 
para decifrar padrões. 

Uma  criança  inicia  seu  aprendizado  musical  a  partir  de  canções  simples  tanto  na  estrutura 
quanto na letra: são aquelas com refrões fáceis, repetitivos, mas nem por isso pobres ‐ apenas é 
o que o cérebro infantil requer. 

Com o passar dos anos, a complexidade nesses padrões deve aumentar, pois o cérebro maduro 
passa a não achar graça em melodias simples e previsíveis, começa a apreciar músicas que lhe 
"dão trabalho", pois se inclina a analisar sua estrutura para identificar algum padrão na melodia, 
a  decifrar  sequências  harmoniosas.  Padrões  repetitivos  se  tornam  entediantes  e  a  experiência 
permite processar músicas mais elaboradas e gostar delas.  

A  apreciação  musical  também  se  ligará  à  nossa  memória  associada,  aos  momentos  em  que 
determinada canção foi escutada ‐ se momento bom, positivo e importante, ou ruim ‐, por isso 
ativa  o sistema  de recompensa  cerebral  ‐  aquele cuja ativação,  quanto  mais  intensa  for,  maior 
sensação  de  prazer  trará  e  isso  acaba  definindo  nossas  preferências.  Esse  mesmo  sistema  de 
recompensa  é  acionado  também  pela  própria  capacidade  de  decifração  que  o  cérebro 
desenvolve, e quanto mais músicas se ouve, mais o cérebro aprende a encontrar e a antecipar 
padrões  em  melodias  e  ritmos  cada  vez  mais  complexos,  como  numa  adivinhação,  e  passa  a 
querer mais músicas complexas para ouvir. 

Praticar modifica o cérebro e o deixa cada vez mais hábil para apreciação de músicas diversas e 
essa  habilidade  pode  ser  desenvolvida  constantemente,  sempre  poderemos  exercitá‐la.  A 
ativação  do  sistema  de  recompensa  traz  euforia  e  motiva  a  querermos  mais  experiências  do 
mesmo tipo. 

Trazemos  nesta  dica  duas  músicas  totalmente  diversas  entre  si,  mas  ambas  comungam  de 
algumas características ‐ originalidade e criatividade, por exemplo. 

A música Overture foi feita para a peça "Orfeu da Conceição" (long play, 1956, Odeon), produzida 
a  partir  do  texto  de  Vinícius  de Moraes,  que,  por  sua  vez,  inspirou‐se  no  mito  grego  de  Orfeu. 
Vinícius  procurava  um  músico  para  a  tarefa  de  criar  a  trilha  sonora  para  sua  peça  e  foi 
apresentado ao então jovem Tom Jobim, dando início a amizade e parceria duradouras. A peça 

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foi adaptada para o cinema também e temos dois filmes produzidos, cujas respectivas figuras de 
cartazes podemos ver a seguir. 

Overture nos proporciona a audição de elementos mesclados, como só Tom Jobim poderia fazer 
e  ele  mesmo  explica:  "modos  gregos,  as  cadências  plagais,  a  nossa  herança  européia,  a  nossa 
maneira brasileira foram usados livremente, usados como na própria música que temos, herdeira 
de  diversas  culturas  e  sem  quaisquer  pretensões  de  'pureza'.  O  uso  livre  de  'harmonias 
européias',  de  'instrumentos  europeus',  que  por  sua  vez  tiveram  origem  em  outras  culturas  ‐ 
tudo isso vem da crença que temos de que as culturas se interpenetram e se fundem."  

E tudo termina em samba, como não poderia deixar de ser por se tratar de um Orfeu negro e de 
uma história de amor impossível ambientada numa favela carioca, em pleno feriado de Carnaval. 

A música da banda Pato Fu (que insiste em trilhar caminhos novos para a música brasileira) nos 
remete  à  infância,  tanto  pelos  versos  infantis  quanto  pela  melodia,  e  nos  surpreende  pela 
inventividade  ‐  aos  invés  de  instrumentos  musicais,  temos  brinquedos  no  arranjo!  Isso  torna  a 
musica divertida e traz um ar de novidade que estimula o cérebro, sempre ávido e curioso, pois 
se  diferencia  do  senso  comum  musical  atual,  e  por  isso  não  se  enquadra  no  conceito  pop  de 
música fácil. 

Esperamos que apreciem! 
 
 

Leiamos um pouco sobre a adaptação do mito de Orfeu para a 
realidade brasileira. Com a palavra, o poeta: 

Poucas histórias terão excitado mais o espírito criador 
dos artistas que o mito grego de Orfeu, o divino músico 
da Trácia, cuja lira tinha o poder de tocar o coração 
dos bichos e criar nos sêres a doçura e o 
apaziguamento. Êsse sentimento da integração total 
do homem com a sua arte, num mundo de beleza e 
harmonia, ‐ que artista não o traz dentro de si, 
confundido com o próprio impulso que o move para a 
criação? 

 
Capa do premiado filme "Orfeu Negro"; musical; 1959;  
Brasil/França; direção Marcel Camu 

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Foi  por  volta  de  1942  que  eu,  uma  noite, 


depois de reler o mito numa velha mitologia 
grega, senti subitamente nele a estrutura de 
uma  tragédia  negra  carioca.  A  lenda  do 
artista que conseguiu, graças ao fascínio de 
sua música, descer aos infernos para buscar 
Eurídice,  sua  bem‐amada  morta  e  que,  ao 
perdê‐la em definitivo e com ela o gosto de 
criar e de viver, desencadeou em torno de si 
a desarmonia, o desespêro de que seria êle a 
primeira  vítima,  ‐  essa  lenda  poderia 
perfeitamente  passar‐se  num  ambiente 
como  o  de  uma  favela  carioca,  sublimados, 
é claro, os seus elementos naturais de modo 
a atingir a elevação do mito. 
Texto da contracapa do long play 
Orfeu da Conceição, 1956, 
escrito por Vinicius de Moraes 

Capa do filme "Orfeu"; drama; 1999;  
Brasil;direção Cacá Diegues 

                                                                                                                                                   

Vamos aproveitar a fala do poeta Vinícius de Moraes para 
sacar, lá da 3ª linha, o pronome relativo "cuja" ("...o divino 
músico da Trácia, cuja lira tinha o poder...") e dar início ao 
estudo sobre o uso de "cujo" e suas flexões. 

Primeiramente, conheçamos melhor a expressão latina de cujus: 

De cujus – pode exercer função de sujeito na oração, é locução com função substantiva. 

Advém da expressão latina de cujus successione agitur: de cuja sucessão se trata. É termo 
jurídico para pessoa falecida cuja sucessão está aberta aos herdeiros; falecido cujos bens 
estão em inventário. 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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Não confundir com  regras de  uso de “cujo”, que  não pode exercer função de sujeito  na 


oração, tem a missão de unir duas frases e sempre indica posse. Suas acepções são: 

1. Pronome relativo ‐ de que ou de quem; do qual, da qual, dos quais, das quais 

Relaciona  um  substantivo  antecedente  e  outro  substantivo  consequente.  O 


consequente  (segundo  substantivo)  é  possuidor  de  algo  (sentimento, 
qualidade,  condição,  ser  etc.)  designado  pelo  antecedente  (primeiro 
substantivo); equivale a de que, de quem, do/da qual, dos/das quais. 

2. Substantivo masculino ‐ uso não aceito na língua culta, formal 

Seu emprego como substantivo é aceito apenas como regionalismo e seu uso é 
informal.  Significa  alguém  de  quem  já  se  falou  e  não  se  deseja  nomear;  dito‐
cujo; pessoa indeterminada; diabo; sujeito, cara, fulano. 

 
                                                     

1 ‐ “Cujo” contém em si a preposição “de”, por tal razão, traz imbuída a 
ideia de posse e pode ser substituído por “do qual”. Haverá sempre um 
antecedente e um consequente diversos. “Cujo” nunca será sujeito por 
trazer em si a preposição “de” e sujeito não pode vir regido de preposição. 
Por encerrar valor possessivo, nunca será usado em lugar de “o qual”, 
somente no lugar de “do qual” e variantes. 

Exemplos:  

Esta é a lei cuja publicação foi adiada. 

Esta é a lei cuja foi publicada (errado). 

Esta é a lei a qual foi publicada (certo). 

2 ‐ Mesmo encerrando em si a preposição “de”, há casos em que “cujo” 
pode vir precedido dessa mesma preposição se esta estiver regendo o 
consequente relacionado. A preposição “de”, então, não rege “cujo”, mas 
sim seu termo consequente. Outras preposições podem aparecer antes de 
“cujo”, pois a necessidade da preposição é ditada pelo verbo ao qual 
“cujo” se liga. 
Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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Exemplos:  

A lei de cuja publicação falávamos é esta. 

Esta é uma lei em cujas disposições não acreditamos, com cuja 
finalidade não simpatizamos e de cujos dizeres discordamos, 
mas a cujas disposições obedecemos para a manutenção do 
estado de direito (PEREIRA, 1924, pág. 306). 

Os autos por cujo julgamento sou responsável estão sobre a 
mesa. 

3 – Há quem antipatize com o uso de “cujo” e o substitua por “que”, mas 
incorre em erro grave.  

Exemplos:  

Estou satisfeita em ver a lei cuja publicação eu aguardava 
(certo). 

Estou satisfeita em ver a lei que eu aguardava a publicação 
(errado). 

Difícil é abrir um cofre cujo segredo desconhecemos (certo). 

Difícil é abrir um cofre que desconhecemos o segredo (errado). 

4 – Não se usa artigo depois do relativo “cujo”. 

Exemplos:  

Já li a lei cuja publicação ocorreu ontem. 

Já li a lei cuja a publicação ocorreu ontem (errado). 

5 ‐ “Cujo” sempre concorda com seu subsequente, nunca com seu 
antecedente. 

Ex:  

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Gosto deste autor cujas publicações acompanho (certo). 

Gosto deste autor cujo publicações acompanho(errado). 

O uso correto do pronome relativo "cujo" revela boa competência 
linguística, enriquece o texto e o deixa preciso, claro e assertivo, vamos 
usá‐lo mais! 

 
"Mamã Papá" (Fernanda Takai/John Ulhoa/Rubinho Troll) – 2ª faixa do álbum "Daqui pro Futuro", 2007, 
gravadora Rotomusic. 

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica14/musicadbolso_patofu.flv  
 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
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Dica 15 ‐ Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a" 
 
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
  
 

Quem se recorda da imagem a seguir? 

 
Imagem de "Antes do pôr‐do‐sol", 2004 

O diretor de cinema Richard Linklater iniciou há 18 anos a produção de uma trilogia que 
tem fãs fiéis espalhados ao redor do mundo, a série de filmes "Antes". 

No  ano  de  1995,  estreou  o  filme  "Antes  do  amanhecer".  Nove  anos  depois,  em  2004, 
"Antes  do  pôr‐do‐sol".  Neste  mês,  também  nove  anos  após  o  segundo  filme,  teremos 
oportunidade de assistir à estreia de "Antes da meia‐noite", dia 14 de junho de 2013, nos 

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cinemas brasileiros. 

Quando do lançamento da primeira película, que recebeu o Urso de Ouro no festival de 
Berlim,  muitos  se  identificaram  com  a  história  na  tela,  se  reviram  nos  personagens. 
Carregado  de  sentimentos  (não  de  sentimentalismos)  e  de  diálogos,  temos  um  enredo 
sobre  o  amor  de  dois  jovens,  de  uma  ligação  emocional  imediata  e  intensa,  típico  na 
idade. 

O  segundo  filme  surgiu  para  responder  à  questão  que  havia  "ficado  no  ar",  esse  amor 
sobreviveu e se concretizou? Novamente, muitas boas surpresas. 

São filmes com bastantes conversas, algumas  profundas, outras são apenas triviais, mas 
sempre  realistas.  Em  cena,  temos  o  amor  de  um  casal  aos  20,  aos  30  e  aos  40  anos  de 
idade, com ótimas atuações (por favor, assistam à versão legendada com áudio original), 
tudo emoldurado por cenários paradisíacos: o primeiro foi filmado em Viena, o segundo, 
em Paris, o terceiro teve locações na Grécia. 

Ethan  Hawke  e  Julie  Delpy,  atores  principais,  colaboraram  com  o  roteiro,  tamanha  a 
sincronia entre os dois e dos dois com o diretor. Os filmes formam uma trilogia singular, 
um marco no que tange à escrita de diálogos para o cinema. 

O  intervalo  de  tempo  fez  com  que  as  relações  retratadas  amadurecessem  juntamente 
com o seu público fã. Todos envelheceram e cresceram juntos e se vê como o tempo os 
afetou.  É  divertido  observar  que  a  trama  sempre  se  conecta  ao  momento  de  vida  dos 
personagens em perfeita simbiose com seu público e seu enredo reflete muito bem todo 
tipo de sentimento que costuma envolver os romances. 

É  uma  trilogia  que  consegue  escapar  dos  chavões  das  comédias  românticas  e  é  descrita 
pelo próprio diretor e roteirista como um "romance para realistas". 

Talvez essa seja uma boa explicação para o alto grau de empatia que costuma suscitar nos 
espectadores  ‐  há  muitos  que  falam  de  Jesse  e  Celine  (Ethan  e  Julie,  respectivamente) 
como  se  fossem  pessoas  reais,  tamanha  a  identificação  com  as  circunstâncias  e  com  as 
questões existenciais, sentimentais, aspirações, temores e frustrações dos personagens. 
 

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Imagem de "Antes da meia‐noite", a estrear no Brasil em 14 de junho de 2013 

A  seguir,  trecho  do  primeiro  filme  da  trilogia,  intitulado  "Antes  do 
amanhecer", 1995, de Richard Linklater: 

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/stories/dicas/15/antes_do_amanhece
r.flv 
[[Cena nº 5 do filme  
 
 

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Notaram a frase do convite de Ethan Hawke "imagine daqui a 10 ou 20 anos" nesse trecho 
do filme exibido? Oportuno aproveitarmos o exemplo para sanarmos uma dúvida não tão 
rara:  

"A" e "há" são vocábulos profundamente distintos tanto por sua natureza quanto pelo seu 
significado, mas muitos se confundem na hora de redigir. 

"Há", do verbo haver, nos casos ora em análise, indica tempo passado. 

Ex: Há muito tempo anseio por esta data para enfim obter o julgamento da minha ação.  

Já  "a"  é  preposição  e,  para  o  que  interessa  no  momento,  indica  tempo  futuro. 
Ex.: "Daqui a um dia a sentença será proferida". 

A noção de tempo está em ambas as frases, mas para usarmos o verbo haver temos de ter 
a significação de tempo passado. Se for tempo futuro, o que se usa é a preposição "a". 

Sendo  assim,  não  existe  verbo  haver  se  a  noção  é  de  futuro  (para  os  casos  em  estudo 
nesta  dica),  razão  por  que erradas estão  as  construções: "O  magistrado  encerrará  o 
julgamento daqui há duas horas"  e  "daqui há algum tempo poderei saber a sentença". 

Portanto, não existe a forma "daqui há", sempre que houver ideia de tempo futuro ‐ e a 
palavra  "daqui"  evoca  essa  ideia  ‐  usaremos  a  preposição,  ficando  sempre  "daqui  a", 
"daqui a pouco", "daqui a um tempo", etc.  

Na  segunda  parte  da  dica  15,  saibamos  um  pouco  mais  sobre  o  uso 
correto  dos verbos  abundantes,  corriqueiramente  empregados  em 
textos no  TRT,  que  vêm  a  ser  aqueles  que  apresentam  duas  ou  mais 
formas equivalentes e, geralmente, ocorrem no particípio. Temos, então, 
formas  regulares  (terminadas  em  ‐ado  ou  em  ‐ido)  e  as  irregulares, 
denominadas também de breves ou curtas. 

As formas regulares estão perdendo espaço na língua, que tem preferido 
as  formas  irregulares  porque  mais  curtas.  Mas  na  linguagem  formal 
devemos nos guiar pelo que preconizam os gramáticos.  

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Regras para se escolher entre a forma irregular e a regular: 

1  ‐  Verbos  "ter"  e  "haver"  preferencialmente  particípio  passado 


regular:  O  juiz  tinha  suspendido  o  julgamento;  o  juiz  havia 
suspendido o julgamento; 

2  ‐  Verbos  "ser"  e  "estar"  preferencialmente  particípio  passado 


irregular:  O  julgamento  foi  suspenso  pelo  juiz;  o  julgamento  estava 
suspenso; 

3 ‐ Nas orações reduzidas, obrigatório o particípio passado irregular: 
Extinto o processo, foi ao arquivamento (e não extinguido); entregue 
a intimação (e não entregada); 

4  ‐  Verbos  "pagar",  "ganhar"  e  "gastar" só  são  usados  na  forma 


irregular  com  qualquer  verbo  auxiliar:  A  ré  tinha  pego  pena  alta  (e 
não  pegado);  o  reu  tinha  ganho  mais  tempo  de  defesa  (e  não 
ganhado); a testemunha tinha gasto todo o tempo da defesa (e não 
gastado); 

Confusões comuns: 

Chego  e  chegado  ‐  apenas  o  particípio  regular  é  aceito.  Ex:  o 


magistrado tinha chegado cedo; 

Trago  e  trazido  ‐  o  verbo  trazer  não  é  abundante,  só  possui  a 


forma "trazido" no particípio. "Trago" é forma do verbo trazer na 1ª 
pessoa do singular, ou do verbo tragar ou, ainda, um substantivo. Ex: 
eu  trago  processo  para  casa  sempre; eu  trago  a  fumaça  do  cigarro 
(verbo tragar); dê‐me um trago de cigarro (substantivo);  

Incluso e incluído ‐ o verbo incluir traz apenas o particípio "incluído", 
"incluso" é mero adjetivo hoje em dia.  Ex: A turma havia incluído o 
processo em pauta; o desconto incluso não cabe às custas; 

Imprimido  e  impresso  ‐  observar  regras  número  1  e  número  2. 


Assim,  "o  assistente  havia  imprimido  a  sentença"  (e  não  impresso); 
"ele já tinha imprimido a sentença (e não impresso); "a sentença foi 
impressa  pelo  assistente  (e  não  imprimido);  a  sentença  já  estava 
impressa (e não imprimida).  

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Observação: 

Devemos  evitar,  apesar  de  serem  formas  regulares  de  particípio,  o 


uso  de escrevido, abrido, gastado, cobrido,  ganhado  e  pagado.  Usar 
escrito, aberto, gasto, coberto, ganho e pago.  

Tabela informativa sobre alguns verbos abundantes e seus particípios: 

Verbos da primeira conjugação ‐ terminados em "ar" ‐ e seus particípios 

forma 
Infinitivo  forma irregular 
regular 

findar  findado  findo 

limpar  limpado   limpo 

segurar  segurado  seguro 

aceitar  aceitado  aceito 

entregar  entregado  entregue 

enxugar  enxugado  enxuto 

expressar  expressado expresso 

expulsar  expulsado  expulso 

isentar  isentado  isento 

matar  matado  morto 

salvar  salvado  salvo 

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forma 
Infinitivo  forma irregular 
regular 

soltar  soltado  solto 

vagar  vagado  vago 

Da segunda conjugação ‐ terminados em "er" ‐ e seus particípios 

forma  forma 
Infinitivo 
regular  irregular 

acender  acendido  aceso 

benzer  benzido  bento 

eleger  elegido  eleito 

incorrer  incorrido  incurso 

morrer  morrido  morto 

prender  prendido  preso 

romper  rompido  roto 

suspender  suspendido  suspenso 

Da terceira conjugação ‐ terminados em "ir" ‐ e seus particípios 

Infinitivo  forma   forma 

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irregular  regular 

tingir   tingido   tinto  

suprimir  suprimido  supresso

frigir  frigido   frito  

imergir   imergido  imerso  

emergir  emergido  emerso 

exprimir  exprimido  expresso

extinguir  extinguido  extinto 

frigir  frigido  frito 

imergir  imergido  imerso 

imprimir  imprimido  impresso

inserir  inserido  inserto 

omitir  omitido  omisso 

submergir submergido submerso

 
 
 
Verbos das 2ª e 3ª conjugações que só apresentam particípio irregular 

forma 
Infinitivo
irregular 

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forma 
Infinitivo
irregular 

abrir  aberto 

cobrir  coberto 

dizer  dito 

escrever escrito 

fazer  feito 

pôr  posto 

ver  visto 

vir  vindo 

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Dica 16 ‐ Uso do infinitivo   
Escrito por Ana Paula Rodrigues   
  

1944 
 
‐ Criança morta

Filho de imigrantes italianos, Candinho nasceu em 1903 numa fazenda de 
café no interior de São Paulo, teve 12 irmãos e uma infância pobre, mas 
feliz.  Passou  os  primeiros  anos  de  vida  rodeado  de  animais,  brincando 
livremente  em  ambiente  rural,  observando  os  trabalhadores  no  campo, 
convivendo  com  a  genuína  brasilidade  por  meio  de  suas  festas,  suas 
histórias,  seu  folclore.  Estudou  somente  até  a  3ª  série  do  ensino 
fundamental  e  logo  cedo  revelou  seu  talento  artístico.  Após  juntar 
dinheiro  por  3  anos,  aos  15  foi‐se  embora  para  a  capital,  Rio  de  Janeiro, 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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para  aprimorar  seus  dons  na  Escola  Nacional  de  Belas  Artes.  Sobre  a 
ocasião, expressou: 

"Saí correndo, tive tempo ainda de apanhar o trem em movimento. A 
última imagem que me ficou gravada na memória foi a de meu pai, 
levantara‐se para se despedir, ainda posso vê‐lo... não teve tempo de me 
dizer nada"  

Mais  tarde,  em  1928,  por  meio  de  um  concurso,  ganhou  uma  viagem  a 
Paris  e  por  lá  permaneceu  por  2  anos.  Aprofundou   os  estudos  e 
enriqueceu sua técnica, mas a distância da terra natal o fez se aproximar 
ainda mais do Brasil e desenvolver forte consciência social. Ao retornar à 
pátria,  Cândido  Portinari  estava  renovado,  seu  estilo  agora  se  apegava 
mais  às  cores  e  às  ideias.  Rompeu  com  a  escola  de  artes  tradicional  e 
tornou‐se representante do Modernismo. Vejamos suas frases: 

"A viagem à Europa para um moço que observa é útil. Temos tempo de 
recuar. Temos coragem de voltar ao ponto de partida. Eu sou moço" ‐ 
sobre os valores que aprendeu com os anos que viveu em Paris. 

"O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é 
meramente um meio. Porém um meio indispensável" ‐ em declaração que 
escandalizou seus mestres acadêmicos da ENBA. 

"Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma 
intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social" ‐ 
começando a flertar com o socialismo. 

Conheceu sua esposa para toda a vida em Paris, a uruguaia Maria Vitória 
Martinelli.  Um  grande  encanto  foi  o  nascimento  de  seu  único  filho,  em 
1939,  João  Cândido  Portinari,  a  quem  retratou  em  muitas  ocasiões. 
Tornou‐se expoente da pintura no Brasil, reconhecido internacionalmente, 
idolatrado em vida. 

Mas  em  1954  adoece.  Recebe  a  notícia  de  que  está  intoxicado  pelo 
chumbo  das  tintas  que  usava  em  seu  ofício.  Passa  a  pintar  com  lápis  de 
cor,  caneta  tinteiro  e  outras  técnicas,  no  entanto,  reprimido  e  impedido 
de  expressar‐se  plenamente  por  meio  de  sua  arte,  sobre  as  ordens 
médicas, disse: 

"Estão me impedindo de viver" 

Dicas de Português ‐ Ana Paula Assunção Rodrigues 
TRT10 – CDTEJ – SCEAD 
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Em  1960,  nasce  sua  primeira  neta  ‐  e  a  única  que  veio  a  conhecer  ‐, 
Denise. Encantado com aquele pequeno ser, com suas primeiras palavras, 
primeiros  passos,  fez  de  Denise  sua  modelo  e  retoma  os  trabalhos  com 
tinta  a  óleo.  Para  ela,  chega  a  fazer  um  quadro  por  mês.  Desobedece  às 
ordens  médicas,  continua  a  viajar  e  a  trabalhar  freneticamente,  o  que 
levou  a  intoxicação  por  chumbo  a  níveis  letais.  Em  6/2/1962,  falece  em 
decorrência do envenenamento. 

Deixou mais de 5.000 obras que representam o Brasil, nosso povo, nossa 
história.  

1956 ‐ Banda de música     1947 ‐ Menino do tabuleiro     1961 ‐ Denise com carneiro branco 

                                                                              

 
                                 

Trecho biográfico do início da carreira 

Tarde da noite, o garoto de apenas quinze anos entra na pensão onde trabalha em troca 
de uns poucos níqueis e onde, por consideração, o deixam dormir em algum canto, com a 
condição de que não perturbe o sossego dos hóspedes. Vinha de retorno de suas aulas de 
pintura no Liceu de Artes e Ofícios e tudo o que queria era algo com que matar a fome. 

De  dentro  de  seu  alforje,  tira  um  pouco  da  gelatina  que,  na  escola,  é  distribuída  aos 
alunos  para  mesclar  às  tintas,  dando‐lhes  a  consistência  necessária.  Do  que  sobrou,  o 
menino  trouxe  um  pouco  para  casa,  colocou  ao  fogo  e,  juntando  ao  pão  duro  e 
amanhecido, fez sua última refeição. 

Havendo  iludido  seu  estômago  com  essa  estranha  mistura,  foi  a  um  dos  banheiros  da 

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casa, colocou no chão algumas tábuas, jogou sobre elas um colchão de crina e deitou‐se. 

Estava encerrado mais um dia de luta. No dia seguinte, a rotina seria a mesma. Ao deixar a 
família  no  distante  interior  paulista  para  vir  sozinho  ao  Rio  de  Janeiro  estudar  pintura, 
Candinho nem por sombra imaginava as agruras por que teria de passar. 

Mas  um  dia  tudo  deveria  melhorar,  tinha  certeza  disso.  E  nessa  confiança  adormeceu, 
refazendo  as  forças  para  a  jornada  de  um  novo  dia  e,  à  noite,  para  o  reencontro  com 
pincéis, telas e sonhos. 

Repararam em quantas vezes os verbos foram usados na forma infinitiva? Muitas, e assim 
é nos textos em geral. No entanto, dúvidas surgem com frequência quanto à flexão dessa 
forma nominal do verbo e por tal motivo passemos ao estudo do uso do infinitivo. 

     

1959 ‐ Puxada da rede  1957 ‐ Crianças brincando  1945 ‐ Mulher do pilão  


1934 ‐ Mestiço 

       

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1940 ‐ Casamento na roça   1956 ‐ Papa vento  1958 ‐ Meninos brincando  1961 ‐ Denise com cachorro

       

                                                                                                                                 

Os verbos podem se apresentar em forma nominal: gerúndio, particípio e 
infinitivo. 

Nesta  dica,  veremos  o  uso  do  infinitivo,  forma  nominal  do  verbo,  que 
pode ser flexionado (pessoal) ou não flexionado (impessoal). 

A  escolha  entre  as  formas  do  infinitivo  é  profundamente  estilística,  pois 


depende  do  intuito  de  quem  escreve  em  realçar  o  agente  da  ação  ou  a 
ação  em  si,  mas  há  algumas  regras  a  serem  observadas  para  o  uso  do 
infinitivo flexionado e do infinitivo não flexionado. 

Se mais importante a ação, prefere‐se o infinitivo não flexionado. 

Se mais importante o agente da ação, prefere‐se o infinitivo flexionado. A 
flexão se dá pela desinência verbal: 

‐ es para a segunda pessoa do singular, tu; 

‐ mos para a primeira pessoa do plural, nós; 

‐ des para a segunda pessoa do plural, vós; 

‐ em para a terceira pessoa do plural, eles/elas. 

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A  primeira  pessoa  do  singular  e  a  terceira  pessoa  do  singular  mantêm  o 


verbo na forma não flexionada, vejamos: 

É para eu julgar 

É para tu julgares 

É para ele julgar 

É para nós julgarmos 

É para vós julgardes 

É para eles julgarem 

O  infinitivo  impessoal  ‐  não  flexionado  ‐  é  empregado  nas  locuções 


verbais. Ex: Os servidores não podem administrar sozinhos os andamentos 
processuais  (certo);  os  servidores  não  podem  administrarem  sozinhos  os 
andamentos processuais (errado). 

Atenção:  é  comum  o  erro  no  emprego  do  infinitivo  em  locuções  verbais 
principalmente se houver outras palavras entre o verbo auxiliar e o verbo 
principal. Ex: Os servidores não podem, sozinhos, sem auxílio de todos os 
segmentos envolvidos, administrar os andamentos processuais (certo); os 
servidores  não  podem,  sozinhos,  sem  auxílio  de  todos  os  segmentos 
envolvidos, administrarem os andamentos processuais (errado). 

Outro caso em que comumente se incorre em erro é quando, na locução 
verbal, o verbo auxiliar está numa forma invariável, como o gerúndio. Ex: 
Os  magistrados  solicitaram  original  ou  cópias  autenticadas  dos 
documentos,  devendo,  neste  caso,  as  peças  acompanharem  o  traslado 
(errado). A locução correta é "devendo acompanhar". 

O infinitivo impessoal é empregado também: 

‐ quando o sujeito do infinitivo é pronome oblíquo átono. Ex: Deixe‐os ir 
embora; 

‐ quando o infinitivo não se refere a sujeito específico. Ex: Viver é preciso; 
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‐  quando  o  infinitivo  funciona  como  complemento  de  adjetivo.  Ex: 


Processos difíceis de analisar. 

O infinitivo pessoal ‐ flexionado ‐ é usado: 

‐  quando  o  sujeito  do  infinitivo  for  diferente  do  sujeito  da  outra  oração. 
Ex: O servidor conclamou os colegas a ajudarem na entrega dos votos; 

‐  quando  se  pretende  indeterminar  o  sujeito.  Ex:  Escutei  fazerem  fofoca 


por aí. 

‐ quando se quer evitar ambiguidades. Ex: Está na hora de começarmos o 
julgamento.  Se  deixarmos  o  verbo  no  infinitivo  não  flexionado,  surgirá 
dúvida: Está na hora de começar o julgamento (se refere a quem? A mim, 
a você, a ele, a nós?). 

Observação: quando o verbo no infinitivo for precedido da preposição "a", 
aceita‐se o verbo flexionado ou não (exceção para os casos em que houver 
voz passiva). 

Ex:  O  assessor  auxiliava  os  assistentes  a  superar  suas  dificuldades 


(certo, com realce para a ação); 

               O assessor auxiliava os assistentes a superarem suas dificuldades 
(certo, com realce para "os assistentes", sujeitos da ação); 

Ex.  de  voz  passiva,  em  que  é  obrigatório  o  uso  do  infinitivo 
flexionado: 

               Esses são os processos a serem julgados. 

Tendo em vista esses parâmetros, faça sua escolha no uso do infinitivo 
conforme seu gosto e sua intenção! 

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O artista e sua neta Denise, que vê a pintura, feita em 1960, Denise com gato 

Fonte: Portal Portinari, em http://www.portinari.org.br/ 

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Texto e arte 

Ana Paula Assunção Rodrigues 

Produção 

Seção de Educação a Distância (SCEAD) 

Responsável: Danilo Batista Correia 

Editoração: Hanna Nóbrega 

Apoio 

Coordenadoria Técnica da Escola Judicial (CDTEJ) 

Responsável: Rosana Sanjad 

Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região 

Responsável: Des. Flávia Simões Falcão 
 

Veja essas e outras dicas no Portal da Escola Judicial do TRT10: 

http://escolajudicial.trt10.jus.br  

Brasília, dezembro de  2013 

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