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Eis que um dia, quando toda a aldeia se preparava para partir, um filho se
aproximou do pai para aconselhar-se. Na noite anterior, após lamentar o que perdia
por causa da partida, imaginou que se colocasse um tronco embaixo de um grande
fardo de peles poderia transportar muito mais do que o pouco que conseguiam
arrastar ou levar preso às costas. O fardo se movería mais facilmente e ocuparia
poucos homens, permitindo que outros providenciassem alimento e proteção ao
longo da jornada. Nem bem ele acabara de falar, o pai experiente já recusava a
sugestão. Para ele, aquilo não iria dar certo. As peles poderíam se soltar quando
começasse o movimento, o tronco poderia deslizar e esmagar os homens que o
puxavam e daí por diante. Em suma, era tudo muito complexo para ser colocado
em prática. O melhor era continuar do jeito que estavam.
Houve, porém, uma aldeia pequena, uma aldeia grande e um reino em que um
homem deu forma a suas inquietações, outro a seus sonhos e outro a suas
descobertas. Foi assim que a roda foi inventada e reinventada. Porém, se a roda foi
inventada e reinventada em tantas sociedades é porque sempre houve alguém que
acreditou no novo, na possibilidade de fazer diferente. Se a roda não foi inventada
ou reinventada em algumas sociedades é porque sempre houve alguém que
pensou que não daria certo porque era demasiado complexo. Alguém que não
aceitava tentar o novo porque sempre fora feito daquela maneira e funcionava.
Alguém que não aceitava o novo porque a idéia não era dele ou temia perturbar
quem estava acima na cadeia do poder. Alguém que por desconhecimento ou culto
da ignorância, ou simplesmente por arrogância, acreditava que o novo era apenas
outro nome para aquilo que já havia sido feito antes.