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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

APELAÇÃO CRIME Nº 4221-14.2016.8.16.0044, DE


APUCARANA, 1ª VARA CRIMINAL.
APELANTE - VAGNER JÚLIO DOS SANTOS
APELADO - MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ
RELATOR - DES. TELMO CHEREM

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LESÃO CORPORAL –


PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO – ALEGADA
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS – PALAVRA DA VÍTIMA
CORROBORADA POR OUTROS ELEMENTOS DE
CONVICÇÃO – CONDENAÇÃO MANTIDA.

Nos crimes praticados em ambiente doméstico e familiar, a


palavra da vítima assume especial relevância, notadamente
quando, como no caso, encontra respaldo na prova pericial.

RECURSO DESPROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO


CRIME Nº 4221-14.2016.8.16.0044, de APUCARANA, 1ª VARA CRIMINAL, em que
é apelante: VAGNER JÚLIO DOS SANTOS e apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO
PARANÁ.

1. Vagner Júlio dos Santos interpõe apelação da sentença (mov.


61.1) do Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal de Apucarana que o condenou, incurso
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no art. 129-§9º do Código Penal, à pena de 3 meses de detenção (em regime aberto),
pelo fato assim descrito na denúncia (mov. 8.1):

“No dia 3 de janeiro de 2016, por volta das 17h30min, na Avenida


Central do Paraná, nº 880, bairro Jardim Ponta Grossa, neste
Município e Comarca de Apucarana/PR, o denunciado VAGNER
JULIO DOS SANTOS, com consciência e vontade de realizar ato
ilícito, prevalecendo-se das relações domésticas e de afeto, agrediu a
vítima Rosana Pereira da Silva, sua esposa, ao pegar-lhe pelos
cabelos, desferir-lhe golpes em sua cabeça e puxar-lhe pelas pernas,
causando-lhe lesões corporais leves consistentes em três hematomas
medindo 30x20 mm coxa e joelho esquerdo, conforme Laudo de Exame
de Lesões Corporais sob nº 11/2016 de fl. 16-v)”.

Alegando que a materialidade e a autoria não foram devidamente


comprovadas, sustenta que (i) a palavra da Vítima não é suficiente para a condenação”,
não podendo “ser considerada como prova absoluta”; (ii) seu “estado de ânimo” ficou
alterado, pois beberam e discutiram; (iii) “mesmo que tivesse agredido a Vítima”,
inexistiu “intenção de lesioná-la”. Evocando, então, o princípio in dubio pro reo, pede
a absolvição (mov. 77.1).

Ofertadas contrarrazões (mov. 80.1), a Procuradoria de Justiça,


em parecer subscrito pelo Procurador MILTON RIQUELME DE MACEDO,
recomendou o desprovimento do recurso1.

2. Exame do conjunto probatório não autoriza a pretendida


absolvição.

A ofensa à integridade física da Vítima está demonstrada pelo


Laudo do Exame de Lesões Corporais (mov. 6.4).

1 Mov. 8.1, da Apelação Crime.


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Os elementos de convicção reunidos também são bastantes a


evidenciar a autoria das lesões corporais atribuídas ao Apelante.

Negando a prática do delito imputado, Vagner contou que se


dirigiam até a chácara de um amigo e, na ocasião, a Vítima pediu-lhe o celular; ao ver a
ligação de uma mulher com quem teve um relacionamento extraconjugal, ela “surtou”,
queria descer do veículo e começou a agredi-lo; disse que em momento algum “relou”
em Rosana, apenas a segurou firme, porque ela abriu a porta com o carro em movimento
(mov. 51.2).

A ofendida Rosana Pereira da Silva, logo após o episódio,


compareceu à Delegacia para noticiar as agressões (mov. 4.3), estando suas declarações,
na fase pré-processual (mov. 4.4), em consonância com as que prestou em Juízo.

Relatou, em suma, que estavam na casa de um amigo de Vagner


e pediu o celular dele para “dar uma olhada”, constatando uma ligação da mulher com
a qual lhe havia traído. Posteriormente, questionou-o sobre o motivo daquele
telefonema, tendo ele ficado “alterado”, proferido impropérios e puxado seu cabelo; ao
abrir a porta do automóvel para tentar sair, o Réu desferiu socos em sua cabeça, apertou
sua perna e segurou-lhe pela blusa que, inclusive, chegou a rasgar (mov. 51.3).

O Laudo do Exame de Lesões Corporais, ademais, registra que


Rosana apresentava três hematomas medindo 30x20mm na coxa e joelho esquerdo, bem
como relatava dor no couro cabeludo, nuca e braço esquerdo (mov. 6.4).

Como se vê, a palavra da Vítima, especialmente relevante nos


delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, mostrou-se firme e sem
discrepâncias, além de encontrar respaldo na prova pericial, merecendo, portanto,
credibilidade.
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Essa, a propósito, a orientação promanada do e. SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA (“Consoante entendimento desta Corte Superior, nos crimes
praticados em ambiente doméstico ou familiar, onde normalmente inexiste testemunha,
a palavra da vítima ganha especial relevo e, por isso, não pode sofrer menoscabo,
ainda mais se guardar sintonia com outros elementos de convicção disponíveis nos
autos”2), iterativamente perfilhada por esta Primeira Câmara3.

Evidenciada, assim, a intenção do Recorrente de lesionar sua


esposa, inexiste espaço para a aplicação do evocado princípio in dubio pro reo, devendo,
pois, ser mantida a sentença recorrida tal qual prolatada.

ANTE O EXPOSTO:

ACORDAM os integrantes da Primeira Câmara Criminal do


Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR
PROVIMENTO ao recurso.

Participaram do julgamento os Excelentíssimos Juiz de Direito


Substituto em Segundo Grau BENJAMIM ACÁCIO DE MOURA E COSTA e
Desembargador MIGUEL KFOURI NETO (Presidente, com voto).

Curitiba, 03 de maio de 2018.

TELMO CHEREM – Relator

2AgRg no AREsp nº 962.903/DF, 5ª Turma, Relator: Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 23.9.2016.
3AC nº 1.702.321-7, Relator: Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau NAOR R. DE MACEDO NETO, DJe 7.12.2017;
AC nº 1.740.107-1, Relator: Des. MIGUEL KFOURI NETO, DJe 6.12.2017; AC nº 1.392.225-9, Relator: Des. ANTONIO
LOYOLA VIEIRA, DJe 3.10.2017; AC nº 1.531.019-3, Relator: Des. MACEDO PACHECO, DJe 15.9.2016.

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