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que a velocidade da luz e a forma das equações teriam um caráter absoluto. Sua teoria tem como
base para a sua formulação esses dois pressupostos (ou postulados).
Primeiro Postulado
A velocidade da luz no vácuo é independente do sistema de referência inercial
e, consequentemente, assume o mesmo valor (c) para qualquer observador.
No primeiro postulado, sobre a constância da velocidade da luz, Einstein revela a sua genialidade,
pois trata-se de algo completamente inusitado e pouco intuitivo, completamente diferente do que
se observa no cotidiano. Como se sabe hoje, em matéria de velocidade, isso se aplica apenas à velo-
cidade da luz. Conferiu à velocidade da luz, e não ao tempo, um caráter absoluto.
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 3
Este último postulado estava igualmente presente na teoria da Relatividade de Galileu. Ele é bastante
simples. As leis físicas são as mesmas em todos os sistemas de referência. De outra forma, teríamos
um conjunto infinito de leis físicas, um para cada possível sistema.
As Transformações de Lorentz
Nessa teoria, nem o espaço nem o tempo tem um caráter absoluto. Ou seja, o tempo não é
invariante. No entanto, existem relações absolutas entre as coordenadas do espaço-tempo. Tais
relações são conhecidas como as transformações de Lorentz. Apesar de essas relações terem sido
descobertas por H. A. Lorentz antes de Einstein, coube a ele deduzir tais transformações a partir do
postulado da constância da velocidade da luz, bem como interpretá-las de acordo com a sua teoria
da relatividade. Isso será explicado em seguida.
Dentro do contexto da teoria da relatividade, o conceito de evento ocupa um papel central. Todos
os fenômenos são percebidos pelos nossos sentidos como uma sucessão de eventos. Para efeito
das nossas considerações, definimos um evento como algo que ocorre num determinado ponto do
espaço e num determinado tempo. Consideremos (x, y, z, t) como as quatro “coordenadas” de um
evento no contínuo quadridimensional. Assim, como o tempo perde o caráter absoluto, é importante
associar a ele o tempo de ocorrência em cada sistema de referência. Ao mesmo evento associamos
as “coordenadas” (xʹ, yʹ, zʹ, tʹ).
Para encontrar as transformações que relacionam um conjunto de coordenadas de um evento
com outro conjunto de coordenadas,
procuramos as transformações lineares mais gerais possíveis e que atendam a um certo conjunto
de requisitos. Figura 4
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 4
1. Considere a frente de onda de um sinal luminoso propagando-se nos dois sistemas com a
mesma velocidade (c). Então, se esse sinal é enviado quando as duas origens coincidem e
nos mesmos instantes de tempo nos dois sistemas (t = tʹ = 0), a posição da frente de onda é
tal que para os dois sistemas valem as relações:
x 2 + y 2 + z 2 − c 2t 2 =
0
( 2 )
x ′2 + y ′2 + z ′2 − c 2 t ′2 =
0
No caso em que os sistemas se deslocam ao longo do eixo x (veja figura), constatamos que as
coordenadas transversais ao movimento permanecem iguais. Escrevemos assim:
yʹ = y
( 4 )
zʹ = z
enquanto a relação entre os tempos e as coordenadas será da forma:
xʹ = Ax + Dt
( 5 )
tʹ = Bt + Cx Figura 5: Como relacionamos,
agora, as coordenadas?
A exigência de que as transformações se reduzam às transformações de Galileu fica atendida se
escolhermos
D = −vA ( 6 )
xʹ = A (x − vt)
( 7 )
tʹ = Bt + Cx
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 5
−A2v2 + c2B2 = c2
Tomando-se como ponto de partida a transformação linear mais geral possível, satisfazendo os
critérios acima, obteremos as transformações de Lorentz. No caso em que os sistemas se deslocam
ao longo do eixo x (veja figura), essas transformações são:
1
=x′ ( x − vt )
v2
1− 2
c
1 v
=t′ t − 2 x
2
( 11 )
v c
1− 2
c
y′ = y
z′ = z
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 6
As transformações inversas são obtidas a partir das transformações anteriores trocando as coor-
denadas espaçotemporais e efetuando a substituição:
v → −v. ( 13 )
Obtemos assim:
1 1 ′ v ′
x= ( x′ + vt′) , t= t + 2 x , y =y ′, z =z′
v2 v2 c ( 14 )
1− 2 1− 2
c c
r= rL + rT ( 15 )
v ⋅=
rT 0 v ⋅=
rL vxL ( 16 )
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 7
=
rL
1
v 2 ( r ′ + vt ′)
L
1− 2
c
1 v ⋅ rL 1 ′ v ⋅r ( 17 )
ct
= ct ′ + = ct +
2 c
c
v v2
1− 2 1− 2
c c
′
rT = rT
Podemos escrever as transformações de Lorentz em termos dos vetores r e r ′. Devemos somar
a última equação à primeira acima. Obtemos:
r =γrL′ + rT′ + vt ′γ
1 v ⋅r
= ct ct ′ +
v2 c ( 18 )
1− 2
c
r = ( γ + 1 − 1) rL′ + rT′ + vt ′γ = ( γ − 1) rL′ + r′
v2 γ2 − 1
= 2 ( 21 )
c2 γ
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 8
γ
r = r′ + v γ v ⋅ r′ + t ′
( γ + 1) c
2
1 v ⋅r ( 22 )
=ct ct ′ +
v2 c
1− 2
c
Coordenadas Hiperbólicas
As transformações de Lorentz podem ser escritas de forma semelhante às rotações por meio
do uso de um parâmetro conhecido como ângulo hiperbólico (ou coordenada hiperbólica), o qual é
definido, em termos da velocidade de translação de um sistema em relação ao outro, como:
v 1+ v c
e φ = γ (1 + β ) = γ 1 + = ( 23 )
c 1− v c
de tal forma que, se mudarmos o sinal da velocidade, o ângulo muda de sinal, ou seja:
v 1− v c
e −φ = γ (1 − β ) = γ 1 − = ( 24 )
c 1+ v c
Por meio do uso do ângulo hiperbólico (algumas vezes denominado rapidez), inferimos uma
expressão para os termos da matriz:
e φ + e −φ
=γ cosh
= φ ,
2
( 25 )
e φ − e −φ
β senh
= = φ ,
2
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 9
e φ − e −φ
β tanh
= = φ . ( 26 )
e φ + e −φ
Em termos dessas coordenadas, escrevemos as transformações de Lorentz (000) como:
xʹ = coshφx − senhφct
ctʹ = coshφct − senhφx
( 27 )
yʹ = y
zʹ = z
v
1 ( 28 )
c
Então, as transformações de Lorentz se reduzem às transformações de Galileu. As transformações
de Galileu são válidas como uma aproximação de uma transformação mais geral. Isso explica, por
outro lado, por que no cotidiano é difícil perceber uma distinção entre elas. Explica, também, por
que só no século XX viemos a nos dar conta de que as transformações de Galileu não são exatas.
Por exemplo, para um avião comercial a jato que se move a 1.080km/h (300m/s), v/c tem o valor
aproximado de:
v 300
= = 6
10−6 ( 29 )
c 300.10
Ou seja, mesmo para um transporte muito rápido dos dias de hoje, a alteração introduzida por
Einstein é, praticamente, imperceptível.
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 10
A Contração de Lorentz
Uma das consequências mais surpreendentes da teoria de Einstein é a contração de Lorentz.
Isso quer dizer que o comprimento de uma barra em movimento é percebido, num outro sistema
que se move em relação a este, como se fosse menor do que o comprimento da barra em repouso.
Dizemos que a barra se contraiu.
Consideremos uma barra que está em repouso no sistema B ao longo do eixo xʹ e com suas
extremidades em pontos cujas coordenadas são xʹ1 e xʹ2. O comprimento da barra no sistema de
repouso é chamado de comprimento próprio. O comprimento próprio é, então,
Os pontos associados a xʹ1 e xʹ2 no sistema A são, respectivamente, x1(t) e x2(t) e eles coincidem
com as extremidades da barra no mesmo instante t, instante esse medido no sistema A. O compri-
mento no sistema A é, portanto, definido como a diferença de coordenadas:
L0 ≡ x1 − x2 ( 31 )
Utilizando as transformações de Lorentz para cada um dos pontos e lembrando que estamos
determinando cada coordenada no mesmo instante t, obtemos:
′ ′ 1
x=
1 − x2 ( x1 − x2 )
v2 ( 32 )
1− 2
c
v2
=L L0 1 − ( 33 )
c2
γ
∆r′ =∆r + v γ v ⋅ ∆r − ∆t ( 34 )
( γ + 1) c
2
Figura 7
onde
∆r = r2 − r1
( 35 )
∆r ′ = r2′ − r1′
Para medidas do vetor de posição tomadas no mesmo instante de tempo no sistema A, podemos
escrever, a partir de (000),
∆r0 = ∆r + v γ
γ
v ⋅ ∆r = ∆r 1 +
( ⋅v ) γ 2v
2
( 36 )
( γ + 1) c 2
( γ + 1) c
Dilatação do Tempo
Outro efeito surpreendente e que é outra consequência importante da teoria da Relatividade, é
a dilatação do tempo.
Se no sistema B, admitido como o sistema de repouso, um determinado evento ocorreu num
mesmo lugar, escrevemos:
x2 = x1 ( 37 )
Se nesse sistema o fenômeno (o acender e o apagar de uma lâmpada, por exemplo) ocorreu
durante um intervalo de tempo ∆t0, esse intervalo é dado por:
∆t0 ≡ t2 − t1 ( 38 )
Portanto, esse intervalo de tempo é maior do que o intervalo de tempo próprio. O tempo ficou
dilatado. Os intervalos de tempo são relacionados por:
∆t0
∆t ′ =
v2 ( 40 )
1−
c2
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 13
EV 1 ( t1 , x1 , y1 , z1 ) (
EV 1 t1′ , x1′, y1′, z1′ ) ( 42 )
EV 1 ( t2 , x2 , y2 , z2 ) EV 2 ( t ′ , x′ , y ′ , z′ )
2 2 2 2
o intervalo entre esses dois eventos é igual nos dois sistemas. Ou seja, ele é independente do sistema.
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 14
Escrevemos:
Assim, se dois eventos ocorreram no mesmo ponto (no mesmo lugar) num determinado sistema
(o sistema próprio), o sistema Sʹ, o intervalo de tempo de ocorrência desses eventos nesse sistema
(o intervalo de tempo próprio) se relaciona, de acordo com (000), com as coordenadas no sistema
S da seguinte forma:
1 ∆x ∆z
2 2 2
∆y
∆t 1 − 2 2 + 2 + 2 = ∆t ′ ( 44 )
c ∆t ∆t ∆t
Essa diferença de intervalos de tempo, num sistema e no outro, é o efeito conhecido como dila-
tação do tempo. Assim, se no sistema Sʹ, tido como o sistema próprio, transcorreu um intervalo de
∆τ = τ2 − τ1, no sistema S esse intervalo de tempo será dado por:
τ2
1
∆T = t2 − t1 = ∫ dτ
τ1 v2 ( τ) ( 45 )
1−
c2
A fórmula acima permite-nos determinar a diferença de intervalos de tempo quando, por exemplo,
o referencial Sʹ for dotado de uma aceleração constante.
Consideremos agora o caso da contração de Lorentz. Nesse caso, estamos considerando que no sis-
tema S possamos determinar a distância entre duas coordenadas no instante t. De (000), decorre que:
v ⋅ ∆r′
c ∆t ′ + =0 ( 46 )
c
Substituindo-se a relação acima em (000), obtemos:
2
v ⋅ ∆r′
∆x + ∆y + ∆z = ∆x′ + ∆y ′ + ∆z′ −
2 2 2 2 2
2
( 47 ) Figura 10
c
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 15
A teoria geral da relatividade é voltada para uma formulação das leis físicas de forma a estender
a teoria da relatividade restrita (restrita a transformações lineares) para transformações gerais.
A teoria geral da relatividade é uma teoria da gravitação. Isso decorre do princípio da equivalência,
o qual parte da hipótese de que
O encurvamento da luz, ao passar por um objeto que produz um campo gravitacional, pode ser
entendido a partir das figuras abaixo. Na primeira delas, ilustramos a situação correspondente a
um raio luminoso quando visto por um observador localizado num elevador ultra veloz que se en-
contra acelerado na direção vertical. Como resultado, o raio se curva quando visto de um sistema
acelerado. Então, pelo princípio da equivalência, um campo gravitacional provoca o mesmo efeito.
O desvio da luz proveniente de uma estrela, ao passar próximo do Sol, pode ser medido experi-
mentalmente durante a ocorrência de um eclipse. A confirmação desse resultado teórico foi feito,
pela primeira vez, em 1919 por Sir Arthur Eddington. Foi, assim, a primeira evidência observacional Figura 13: Raio luminoso visto
de uma das previsões da teoria geral da relatividade. do elevador acelerado.
Relatividade » Postulados e Algumas Consequências 17
Desse princípio decorre a ideia da descrição da teoria da gravitação como um problema que
envolve sistemas não inerciais.
Na teoria da relatividade, estamos interessados em formular as leis físicas levando em conta as
transformações gerais de coordenadas:
Admite-se que o espaço-tempo seja um espaço métrico, com um elemento de distância entre
dois pontos próximos dado por:
g11 g14
g µν = ( 51 )
g
41 a44
O campo gravitacional está agora associado à métrica do espaço-tempo. Com isso associamos
conceitos geométricos do espaço como métrica à teoria da gravitação.
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Créditos
Este ebook foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA), Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira e Priscila Pesce Lopes de Oliveira.
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino,
Maurício Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.