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Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

O documento a seguir foi juntado ao autos do processo de número 0000159-69.2018.5.07.0008


em 24/05/2018 11:47:12 e assinado por:
- DIANA NARA GONCALVES DOS SANTOS

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18052411464404500000015439670

Documento assinado pelo Shodo


REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
PODER JUDICIÁRIO

MALOTE DIGITAL

Tipo de documento: Administrativo


Código de rastreabilidade: 507201812080292
Nome original: 0080305-24.2018.5.07.0000-inicial e liminar.pdf
Data: 24/05/2018 10:44:18
Remetente:
Isabele de Lourdes Férrer Porto
Gabinete do Desemb Antônio Marques Cavalcante Filho
TRT 7ª Região
Prioridade: Normal.
Motivo de envio: Para manifestação.
Assunto: OFÍCIO TRT7. GAB08. Nº 18 2018
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE_0080305-24.2018.5.07.0000

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

MANDADO DE SEGURANÇA
MS 0080305-24.2018.5.07.0000
PARA ACESSAR O SUMÁRIO, CLIQUE AQUI

Relator: ANTONIO MARQUES CAVALCANTE FILHO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 18/05/2018


Valor da causa: R$ 2.000,00

Partes:
IMPETRANTE: COMPANHIA DE AGUA E ESGOTO DO CEARA CAGECE - CNPJ:
07.040.108/0001-57
ADVOGADO: ANTONIO CLETO GOMES - OAB: CE0005864
IMPETRADO: ANTONIO CÉLIO MARTINS TIMBÓ COSTA
CUSTOS LEGIS: MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO - CNPJ: 26.989.715/0001-02
TERCEIRO INTERESSADO: RACHEL MESQUITA DE FIGUEIREDO CARVALHO - CPF:
750.333.483-53
Documento assinado pelo Shodo

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL


DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO – CEARÁ.

MANDADO DE SEGURANÇA
COM PEDIDO DE LIMINAR

DISTRIBUIÇÃO DE URGÊNCIA

COMPANHIA DE ÁGUA E ESGOTO DO CEARÁ – CAGECE, sociedade


de economia mista, com sede e foro jurídico nesta capital, na Rua Lauro Vieira Chaves, nº
1.030, Bairro Vila União, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 07.040.108/0001-57, através de seus
advogados ao fim firmados (MJ doc.02), cujas intimações devem ser feitas na pessoa do
Dr. ANTÔNIO CLETO GOMES, OAB/CE - 5864, com endereço profissional em
Fortaleza/Ce, na Rua General Tertuliano Potiguara, nº 575, Aldeota, nos termos do art.
77, V c/c art.272, §5º, do CPC, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
como lhe faculta o art. 5.º, LXIX, da CF/88, c/c a Lei n.º 12.016/2009, impetrar MANDADO
DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR contra ato praticado pelo
EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ SUBSTITUTO DA 8ª VARA DO TRABALHO DE
FORTALEZA/CE, com endereço para fins de notificação em Av. Tristão Gonçalves, 912 -
Centro, Fortaleza - CE, 60015-000 e, com formação litisconsorcial passiva RACHEL
MESQUITA DE FIGUEIREDO CARVALHO, brasileira, solteira, advogada, inscrita na
OAB/CE sob o nº 20.043, portadora do documento de identidade Registro Geral (RG) nº
93004020758 SSP CE e inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) sob o nº
750.333.483-53, domiciliada e residente na Rua Silva Jatahy, 1060, Apto. 1500, Meireles,
Fortaleza – CE, CEP 60.165-070, pelos fatos e fundamentos adiante aduzidos:

TEMPESTIVIDADE

A decisão liminar que deferiu os efeitos da tutela buscada pela


litisconsorte, imputando à ora impetrante obrigação de fazer consistente em proceder às
medidas suficientes para que a litisconsorte passe ao exercício pleno do teletrabalho
residencial em toda sua carga horária, fora publicada via DEJT em 27/03/2018, terça-feira.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ANTONIO CLETO GOMES


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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 1
Número do documento: 18051815513168000000004183721
Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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Assim, conforme disposto no artigo 23 da Lei nº 12.016/2009, o prazo para


a impetração de mandado de segurança é de 120 (cento e vinte) dias, “contados da ciência,
pelo interessado, do ato impugnado”.

Portanto, apresenta-se claramente tempestivo o mandado de segurança


ora impetrado.

DO CABIMENTO DO MANDAMUS

O mandado de segurança é disciplinado pela Constituição Federal:

Art. 5º (...)

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por hábeas corpus ou hábeas data,
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.

Assim, os atos judiciais (acórdão, sentença, despacho) são passíveis de


mandado de segurança, desde que haja ofensa a direito líquido e certo.

Sobre o cabimento do mandado de segurança, o Supremo Tribunal


Federal editou a seguinte súmula:

Súmula 267 - Mandado de Segurança. Ato Judicial.

Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de


recurso ou correição.

Neste sentido é o art. 1º da Lei nº 12.016/2009:


Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa
física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por
parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as
funções que exerça.

Ocorre que, da decisão proferida pelo MM. Juíz da Vara do Trabalho de


Fortaleza/CE, não é passível de recurso, conforme previsão do art. 893, § 1º, da CLT:

Art. 893:

[omissis]

§ 1º - Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou


Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões
interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva.

Já o TST consolidou entendimento acerca do cabimento do Mandado de


Segurança contra decisão interlocutória que concede tutela provisória antes da sentença,
veja-se:

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MANDADO DE SEGURANÇA. TUTELA PROVISÓRIA CONCEDIDA


ANTES OU NA SENTENÇA (nova redação em decorrência do
CPC de 2015) - Res. 217/2017 - DEJT divulgado em 20, 24 e
25.04.2017

[...]

II – No caso de a tutela provisória haver sido concedida ou indeferida


antes da sentença, cabe mandado de segurança, em face da
inexistência de recurso próprio.

Desta forma, o remédio jurídico para modificar referida decisão e evitar os


prejuízos por ela advindos é a via do mandado de segurança.

Assim, verificados os pressupostos processuais bem como o prazo


decadencial, há que ser recebido e processado o presente mandamus.

DO FATO - ATO ILEGAL


A impetrante está utilizando-se do presente Mandado de Segurança para
garantir direito líquido e certo violado pela autoridade coatora.

A litisconsorte (advogada aprovada em concurso público desta Companhia


na vaga destinada a pessoas com deficiência) ingressou com a Reclamação Trabalhista nº
0000159-69.2018.5.07.0008, em anexo (doc. 03), requerendo, entre outros pedidos, a
concessão de tutela provisória de urgência para que a empresa, ora impetrante, como
obrigação de fazer, adotasse o regime de trabalho na modalidade “Teletrabalho” residencial.

Ocorre que, após as informações prestadas pela impetrante, o MM Juiz da


8ª Vara Federal do Trabalho em Fortaleza deferiu tutela antecipatória determinando que a
litisconsorte passasse a prestar serviço na modalidade de “Teletrabalho”, nos seguintes
termos:

“Portanto, presentes os requisitos previstos no art. 300 do NCPC,


decide este Juízo deferir a medida liminar pretendida pela
Reclamante, determinando à Reclamada a obrigação de fazer
consistente em proceder às medidas suficientes para que a
empregada passe ao exercício pleno do teletrabalho residencial em
toda sua carga horária, sem exigir comparecimento físico da
trabalhadora Reclamante na sede física da reclamada”.

Para justificar o deferimento da tutela antecipatória a litisconsorte alegou


que a demora no provimento jurisdicional pretendido implicaria risco iminente de dano à
pessoa da empregada. Fundamenta citando o princípio da isonomia, que cabem aos iguais
tratamentos iguais, e aos desiguais, tratamento desiguais, à medida de suas desigualdades.

Entendeu o Juízo da 8ª Vara do Trabalho que a litisconsorte demonstra a


necessidade de se adequar suas condições de trabalho às limitações que lhe são impostas
por sua condição de saúde, bem como que inexiste qualquer prejuízo para a empresa
impetrante, haja vista que continuará a ser beneficiária dos serviços prestados pela
reclamante como se esta tivesse trabalhando em regime presencial.

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São os fatos.

DA LIQUIDEZ E CERTEZA DO DIREITO

A prestação de serviço na modalidade de “Teletrabalho” fora disciplinada


pela Lei 13.467/2017 denominada Reforma Trabalhista, cristalizada nos arts. 75-A a 75-D da
CLT, que dispõem:

Art. 75-A. A prestação de serviços pelo empregado em regime de


teletrabalho observará o disposto neste Capítulo.

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços


preponderantemente fora das dependências do empregador, com a
utilização de tecnologias de informação e de comunicação que,
por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

Art. 75-C. A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho


deverá constar expressamente do contrato individual de
trabalho, que especificará as atividades que serão realizadas
pelo empregado.

§ 1o Poderá ser realizada a alteração entre regime presencial e


de teletrabalho desde que haja mútuo acordo entre as partes,
registrado em aditivo contratual.

Art. 75-D. As disposições relativas à responsabilidade pela


aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos
tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à
prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de
despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato
escrito.

O teletrabalho pode ser entendido como aquele que é realizado para o


empregador, mas fora do ambiente da empresa, podendo ser na própria residência do
empregado, em um escritório dividido por profissionais que prestam este tipo de serviço, ou
qualquer outro centro externo ao ambiente da empresa, podendo, inclusive, ser prestado até
fora do país.

Consiste basicamente na prestação de serviços à distância, mediante a


utilização da tecnologia (informática), redes de telefonia, internet, e outras formas de
telecomunicação e comunicação à distância, ou de equipamentos específicos que possibilite
a prestação de serviços sem a necessidade de o empregado se deslocar até o ambiente da
empresa.

Entretanto, para a implementação desse regime trabalho, necessário se


faz o preenchimento de diversos requisitos insculpidos nos arts. 75-A ao art. 75-D da Norma
Consolidada, conforme será demonstrado detalhadamente doravante.

Para deferir tutela antecipatória o magistrado deverá examinar as


disposições contidas no art. 300, do CPC, que reza:

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Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

(...)

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

No caso vertente os requisitos exigidos no art. 300, do CPC, não estão


presentes, visto que falta comprovar a probabilidade do direito, perigo de dano ou resultado
inútil do processo e a irreversibilidade dos efeitos da tutela.

DA AUSÊNCIA DE PROBABILIDADE DO DIREITO

A autoridade coatora determinou à impetrante que esta cumpra a


obrigação de fazer consistente em proceder às medidas suficientes para que a litisconsorte
passe ao exercício pleno do teletrabalho residencial em toda a sua carga horária, sem exigir
comparecimento físico da trabalhadora na sede física da impetrante.

Contudo, de bom alvitre esclarecer acerca da probabilidade do direito da


litisconsorte em ter a referida liminar concedida, haja vista a fragilidade das provas
produzidas nos autos. Primeiramente, inexiste laudo médico ou sequer perícia médica que
ateste a impossibilidade da litisconsorte realizar seu labor de forma presencial.

A litisconsorte apenas junta dois laudos médicos aos autos. O primeiro


realizado por médica Pneumologista, ou seja, especialidade completamente alheia às
deficiências da litisconsorte, o que, por si só, já fragiliza a referida prova da litisconsorte.

Já o segundo atestado juntado pela litisconsorte, recente e datado em 16


de janeiro de 2018, ao final, sugere que a litisconsorte permaneça numa mesma posição, no
máximo, durante 06h consecutivas.

Ocorre, Nobres Desembargadores, que referida jornada era exatamente a


que a litisconsorte já executava, conforme informado em sua própria exordial. Em face de
sua condição física, a impetrante flexibilizou sua jornada de trabalho, que dava-se dentro
dos limites estabelecidos no atestado médico supra, o que só demonstra a ausência de
necessidade em ser adotada a referida jornada teletrabalho residencial.

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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 5
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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Já com relação a prestação de serviço na modalidade de teletrabalho,


referido regime encontra-se condicionado por lei às seguintes condições:

(i) Mútuo acordo entre as partes, registrado em aditivo contratual;

(ii) Utilização de tecnologias de informação e de comunicação;

(iii) Constar expressamente do contrato individual de trabalho, que


especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado;

(iv) Contrato escrito estabelecendo à responsabilidade pela aquisição,


manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da
infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho
remoto.

Portanto, para a conversão do regime presencial para o teletrabalho


residencial, fundamental que haja o preenchimento de todos os requisitos supracitados, sob
pena de impossibilidade de adoção do referido regime.

Neste diapasão, a impetrante demonstrará a impossibilidade de ser


implementado o regime teletrabalho residencial com a litisconsorte, vejamos.

 Da ausência do mútuo acordo para alterar o contrato de


trabalho vigente (art. 75-C da CLT)

O §1o do art. 75-C da CLT prevê que poderá ser realizada a alteração
entre regime presencial e de teletrabalho desde que haja mútuo acordo entre as partes,
registrado em aditivo contratual.

Entretanto, decisão liminar que ensejou o ajuizamento do presente


mandamus fere de forma frontal o art. 75-C da CLT, uma vez que inexiste mútuo acordo
para a implantação do regime teletrabalho residencial. A imposição do impetrado na
presente obrigação de fazer fere o poder diretivo do empregador.

Diante do fato da CAGECE não ter adotado e nem existir projeto instituindo
a prestação de serviço na modalidade de “teletrabalho” para a companhia e por não ter
adquirido qualquer sistema de informação e comunicação que possibilite o controle e a
execução das atividades da litisconsorte nesta modalidade de teletrabalho, resta
impossibilitada de acolher o pleito da litisconsorte para execução de suas atividades na
modalidade de teletrabalho.

O art. 75-C da CLT prevê que a prestação de serviços na modalidade de


teletrabalho deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho, que
especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado:

Art. 75-C. A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho


deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho, que
especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado.

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A CAGECE é uma sociedade de economia mista e está sujeita aos


princípios insculpidos no art. 37, da CF/88, que dispõe:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:

(...)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de


aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;

Seguindo as diretrizes traçadas pelo art. 37, II, da CF/88, a CAGECE


realizou concurso público, conforme faz prova o edital, em anexo (doc. 04) e, examinando
as regras estabelecidas no mencionado ato convocatório se percebe que a litisconsorte foi
escolhida para prestar serviço em vaga reservada ao portador de deficiência física.

Ao ser chamada para ocupar o cargo, a litisconsorte e a CAGECE


celebraram o contrato de trabalho, em anexo (doc. 05), quando a mesma foi contratada
como advogada para prestar serviço presencial no regime de 40 horas semanais,
como não deixa dúvida a cláusula 3ª que tem a seguinte redação:

3) A duração semanal do trabalho será de 40 (quarenta) horas


distribuídas de acordo com o horário estipulado pela
EMPREGADORA, podendo estender-se a horas suplementares
quando o serviço assim exigir, dentro dos limites previstos em lei;

Por outro lado, as condições de trabalho dos empregados da CAGECE


estão sujeitas as disposições previstas no Acordo Coletivo de Trabalho, em anexo (doc. 06),
e no mencionando instrumento normativo não foi contemplado a prestação de serviço em
regime de “teletrabalho”.

O edital do concurso público, o contrato individual de trabalho e o Acordo


Coletivo de Trabalho 2017/2018 não trouxeram qualquer previsão que assegure o direito da
litisconsorte a prestar serviço na modalidade de “teletrabalho”, como exige o art. 75-C, da
CLT.

Portanto, ante a inexistência do preenchimento do referido requisito


supracitado, não há como ser adotado pela impetrante a modalidade teletrabalho face a
ausência previsão contratual, bem como de de mútuo acordo, motivo pelo qual não pode a
CAGECE ser compelida a cumprir o que a lei não lhe obriga.

 Da ausência de tecnologias de informação e de comunicação


(art. 75-B da CLT)

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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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O art. 75 – B da CLT traz como requisito para a implementação do


teletrabalho o seguinte:

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços


preponderantemente fora das dependências do empregador, com a
utilização de tecnologias de informação e de comunicação que,
por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

A CAGECE não adotou e nem existe projeto para instituir a prestação de


serviço na modalidade de “teletrabalho” em seu quadro de empregados, razão pela qual não
adquiriu qualquer sistema de informação e comunicação que possibilite o controle e a
execução das atividades da litisconsorte nesta modalidade de teletrabalho.

Ora, sabe-se que a prestação de serviços em regime teletrabalho


residencial deve ser precedido de uma série de avaliações que o empregador, no seu direito
de aderir ou não a tal sistema (CLT, art. 75-A e ss.), deve fazer, para saber que áreas são
compatíveis, para desenhar procedimentos internos, para estruturar o ambiente do home
office, etc.

Uma vez sendo a avaliação concluída, o empregador necessita


estabelecer regramento para disciplinar o regime para controle de jornada, aferição de
produtividade, fluxo de processos, critério para escolhas dos empregados, regras quanto à
consulta de e-mails, periodicidade de acesso a sistemas, contatos telefônicos, reuniões,
apresentação de resultados, consequências na hipótese de não cumprimento de metas.

Vale-se mencionar que o próprio Conselho Nacional de Justiça – CNJ


estabeleceu em sua Resolução 277 regramentos próprios disciplinando o regime
teletrabalho. Dentre esses regramentos, há a possibilidade das metas dos servidores que
laboram sob regime teletrabalho serem superior à dos servidores que laboram nas
dependências do órgão, veja-se:

Art. 6º A estipulação de metas de desempenho (diárias, semanais


e/ou mensais) no âmbito da unidade, alinhadas ao Plano Estratégico
da instituição, e a elaboração de plano de trabalho individualizado
para cada servidor são requisitos para início do teletrabalho.

[...]

§ 2º A meta de desempenho estipulada aos servidores em regime de


teletrabalho será superior à dos servidores que executam mesma
atividade nas dependências do órgão.

Ademais, por ser um regime de natureza consensual e, uma vez tendo


sido este imposto por ordem judicial, a impetrante não dispõe de estrutura necessária à
implantação da modalidade teletrabalho

 Da ausência de contrato escrito estabelecendo à


responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento
dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária
e adequada à prestação do trabalho remoto (art. 75-D da CLT)

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O art. 75-D da CLT prevê que as disposições relativas à responsabilidade


pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da
infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao
reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito de
trabalho:

Art. 75-D. As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição,


manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da
infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto,
bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado,
serão previstas em contrato escrito.

Da mesma forma, não existe contrato escrito estabelecendo à


responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento de equipamentos
tecnológicos, infraestrutura e da adequada prestação do trabalho remoto (CLT, art. 75-D).

A litisconsorte é lotada na Diretoria Jurídica da CAGECE, mais


precisamente no departamento de CONSULTORIA.

A atividade exige reuniões constantes com os servidores internos da


CAGECE e com o público em geral, emissão de pareceres jurídicos, análise e despacho de
processos administrativos físicos internos, uso de sistemas de informática (sistema de
protocolo interno, acesso à rede interna para verificação das pastas de arquivos do servidor
da Diretoria Jurídica, sistema ERP, sistemas para gerar editar ofícios, sistema para
responder as pesquisas, sistemas do setor pessoal, entre outros), sendo estas atividades
incompatíveis com o “teletrabalho”.

A presença da litisconsorte na CAGECE, a exemplo dos demais


advogados, é indispensável para a execução de seu labor.

Se a litisconsorte, por um motivo ou por outro, não está apta para


desenvolver as suas atividades, poderá se apresentar ao INSS e pleitear licença para
tratamento de saúde.

 Da incompatibilidade da função com a modalidade teletrabalho

A litisconsorte é lotada na Diretoria Jurídica da CAGECE, mais


precisamente no departamento de CONSULTORIA. A atividade exige reuniões constantes
com a equipe do jurídico e com os clientes internos da impetrante, que são as áreas
demandantes de consultas, pareceres jurídicos, entre outras demandas, sendo esta
atividade incompatível para o “teletrabalho” residencial.

Além disso, forçoso pontuar que a litisconsorte, desde seu ingresso nos
quadros desta Companhia, foi lotada na Gerência de Consultoria Jurídica (Gcons), uma vez
que as atividades desenvolvidas por tal setor se mostram compatíveis e em perfeita
harmonia com as condições físicas da empregada, pois são atividades de cunho
administrativo, sem a necessidade de um trabalho externo. Portanto, desde o início houve
sim uma preocupação da impetrante em sempre promover a adaptabilidade da litisconsorte
na maior medida possível.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ANTONIO CLETO GOMES


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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 9
Número do documento: 18051815513168000000004183721
Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
Documento assinado pelo Shodo

Ademais, para que a Gerência de Consultoria Jurídica (Gcons), área em


que a empregada litisconsorte é lotada, exerça suas atribuições de elaboração e
formalização de contratos e congêneres, convênios, emissão de pareceres jurídicos em
processos de licitação e de aditivo de prazos e valor, resposta a consultas, inclusive verbais
que carecem de interação e respostas instantâneas para auxiliar tomada de decisões
seguras pelo administrador público. Assim, necessário se faz o contato dos advogados com
as áreas responsáveis pela gestão dos referidos contratos, por meio de atendimentos
presenciais ou reuniões.

Conforme imagem colacionada (doc. 9), os pareceres jurídicos realizados


pela litisconsorte são em sua maioria físicos, ou seja, não virtuais, o que demonstra a
incompatibilidade de se realizar o regime teletrabalho.

Ademais, a realização deste trabalho não se compara com o de um


analista judiciário, por exemplo, porque se exige uma dialética, interação entre a área
demandante.

Para melhor entendimento deste E. Juízo colegiado, necessário esclarecer


que o trabalho desenvolvido pelos advogados lotados na Gerencia de Consultoria Jurídica
da Cagece, ora impetrante, compreende, além de elaboração de pareceres jurídicos de
processos, a constante consultoria presencial junto às demais gerências da empresa.

O atendimento presencial é alvo inclusive do mapa de negócio da


Gerencia de Consultoria, constando no documento (doc. 7) – Recursos: processos
administrativos e demandas verbais; Processos: atendimento presencial e prestação de
informações jurídicas na sua área de atuação e Produtos e Serviços: pareceres e
despachos jurídicos, ofícios, orientações e respostas a consultas verbais. Todos os
advogados da consultoria jurídica, bem como a gerente tem essa atribuição.

O atendimento presencial pelos advogados da Consultoria Jurídica se faz


necessário tanto como forma preventiva de orientar a respeito dos mais diversos assuntos
jurídicos de interesse da empresa impetrante, como também para esclarecer pontos,
dúvidas e melhorias nos processos que chegam para análise e emissão de parecer.

Além do atendimento presencial que a consultoria jurídica faz diariamente


junto às demais unidades da Cagece, os advogados da consultoria são demandados tanto
pela gerente, como pela superintendente jurídica para esclarecimentos e apontamentos
quanto ao trabalho realizado nos pareceres, visto que todos os pareceres emitidos sofrem
uma segunda aprovação – conforme se verifica na Resolução 028/2017 (doc. 8).

A segunda aprovação requer, na maioria dos casos, discussão entre o


parecerista e o aprovador quanto à tese adotada, os casos similares já ocorrido na empresa,
a melhoria na instrução do processo administrativo realizado pela área, o que requer uma
constante e diária interação presencial entre o parecerista e aprovador. Essa interação
acontece diariamente, a depender do caso, e de impossível precisão de quando realizar-se-
á.

Esclarece-se que por vezes a reunião e o feedback sobre o parecer


elaborado precisa ser realizado com urgência, sob pena de prejudicar toda a análise e o

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Documento assinado pelo Shodo

resultado esperado, muitas vezes com a participação pessoal dos demandantes da área,
interessados no processo.

A distribuição dos processos para os pareceristas é feito por matéria,


sendo deliberado de forma democrática a escolha do tema para cada advogado. Algumas
matérias em comum são distribuídas igualmente entre eles, com o rodízio de matéria para
que todos possam ter a experiência nos mais variados casos que chegam à consultoria
jurídica.

Diante de tudo o que foi exposto, resta demonstrada a impossibilidade de


se ter um advogado da consultoria jurídica trabalhando em casa, sua atuação na residência
é totalmente incompatível com as atividades desenvolvidas pelo advogado, ficando
prejudicado, com essa medida, toda a interação com a chefia e com as demais áreas, o que
é imprescindível para um resultado de qualidade da atuação do advogado.

Não há como auferir a produtividade do advogado diante das diferentes


demandas presentes na consultoria jurídica, de matérias complexas, no qual requer na
maioria das vezes reuniões com mais de uma área da Cagece, não só da área que
demanda o processo, e além da constante interação com as chefias e os demais advogados
também - para discutir as melhores teses adotadas e o estudo constante do dinâmico
universo jurídico.

Dessa forma, além de desarrazoada e anti-isonômica, é de fácil


constatação que a implementação do teletrabalho residencial não se mostra compatível com
as atribuições inerentes ao mister desenvolvido pela obreira.

A presença da litisconsorte na CAGECE, a exemplo dos demais


advogados, é de caráter indispensável.

Se a litisconsorte, por um motivo ou por outro, não está apta para


desenvolver as suas atividades, poderá se apresentar ao INSS e pleitear licença para
tratamento de saúde. Problemas de saúde superveniente ao início do contrato de trabalho é
da competência do Órgão Previdenciário em avaliar e verificar o estado de invalidez.

O que não pode ocorrer, de forma alguma, é o Poder Judiciário substituir a


administração pública e praticar os atos como se dirigente fosse, em completa usurpação ao
controle jurisdicional dos atos administrativos discricionários, transcendendo os limites
impostos por lei.

Neste diapasão, resta clarividente que a litisconsorte não comprovou a


probabilidade do seu direito, devendo a tutela antecipatória ser suspensa, e posteriormente
reformada, por meio deste writ.

 Do Regime de Seleção Competitiva

De bom alvitre esclarecer, ainda, que o modo de preenchimento das


vagas, de acordo com as alternativas prescritas pela legislação de tutela às pessoas com
deficiência (art. 35, I, parágrafo 2°, do Decreto 3.298/99), foi a colocação competitiva, a qual,
no conceito legal, prescinde de procedimentos especiais, entre os quais figuram, entre

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outros, a flexibilização de jornada, a proporcionalidade de salário e um ambiente de trabalho


adaptado às especificidades das deficiências. Senão, veja-se:

Art.35 São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de


deficiência:

I - colocação competitiva: processo de contratação regular, nos


termos da legislação trabalhista e previdenciária, que independe da
adoção de procedimentos especiais para sua concretização, não
sendo excluída a possibilidade de utilização de apoios especiais;
§2o Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados para
a contratação de pessoa que, devido ao seu grau de deficiência,
transitória ou permanente, exija condições especiais, tais como
jornada variável, horário flexível, proporcionalidade de salário,
ambiente de trabalho adequado às suas especificidades, entre outros.

Frisa-se: o regime de seleção competitiva, modalidade preenchida pela


própria litisconsorte, não traz a previsão da adoção de procedimentos especiais, nos termos
do decreto suso mencionado. Em seu conceito legal, tal regime prescinde de procedimentos
especiais, entre as quais figuram a flexibilização de jornada, a proporcionalidade de salário e
um ambiente de trabalho adaptado às especificidades das deficiências.

O edital do concurso continha a previsão, para aplicação uniforme e linear


para todos os candidatos da cota reservada, de que os candidatos classificados e
convocados passariam por avaliação médica de caráter eliminatório, na qual se verificaria a
aptidão do mesmo em função da sua deficiência para o desempenho das atividades do
emprego (itens 5.1.2 e 5.5), segundo as condições de jornada ordinária da CLT igualmente
previstas expressamente no edital.

Além disso, também continha a previsão de que a condição preexistente


não poderia ser arguida para justificar readaptação ou concessão de aposentadoria por
invalidez (item 5.8).

5.1.Das vagas destinadas a cada emprego e área de conhecimento e


das que vierem a ser criadas durante o prazo de validade do
concurso público, no mínimo 5% serão providas na forma do art. 37
do Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que
regulamenta a Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989, e de suas
alterações.

[...]

5.1.2. Fica assegurado aos portadores de deficiência o direito de


inscrição no presente Concurso Público, desde que comprovada a
compatibilidade com as atribuições do emprego para o qual o
candidato se inscreveu.

[...]

5.5. Os candidatos amparados pelo disposto no subitem 5.1 e que


declararem sua condição por ocasião da inscrição, caso convocados
para contratação, deverão se submeter à perícia médica realizada por
Junta Médica da CAGECE, que terá decisão terminativa sobre a
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qualificação e aptidão do candidato, observada a compatibilidade da


deficiência que possui com as atribuições do emprego.

[...]

5.8. Após a contratação, a deficiência não poderá ser arguida para


justificar o direito a concessão de readaptação ou de aposentadoria
por invalidez.

A avaliação médica atestou a compatibilidade da deficiência da ora


empregada para as condições e atribuições do emprego, sem qualquer ressalva. Através de
uma análise do embasamento fático, o requerimento da empregada não decorre de
condição de saúde superveniente e independente da deficiência, mas de uma aparente
incompatibilidade da deficiência com as condições ordinárias de jornada previstas no edital
da seleção pública.

Assim, tem-se que em tal ambiente jurídico cumpre identificar, a partir do


quadro fático inconteste delineado, os direitos e bens em conflito, para se chegar a uma
decisão que seja ótima do ponto de vista da interpretação constitucional de casos
complexos.

O primeiro aspecto é o da isonomia. A litisconsorte disputou um concurso


público com as regras expressas referidas, em uma colocação competitiva (no conceito
legal) que certamente afastou deficientes potencialmente interessados que supuseram
inexistir, precisamente por não estarem previstos no edital, algum dos procedimentos
especiais e medidas de apoio tendentes a adaptar as especificidades das deficiências com
as condições que foram expressas de uma jornada ordinária.

Nesse sentido, seria anti-isonômico, por vulnerar as próprias regras da


seleção que determinaram o universo de participantes e, quiçá, o próprio resultado final,
promover uma importante adaptação posterior (como, por exemplo, uma flexibilização ou
redução de jornada sem proporcionalização de salário) por motivos decorrentes da própria
condição de deficiência preexistente.

Por outro lado, cogitar o teletrabalho como solução casuística para este
caso não realiza a concordância prática ótima para os aspectos em voga, haja vista que a
estipulação dessa forma de prestação dos serviços deve ser precedida de uma série de
avaliações que o empregador, no seu direito de aderir ou não a tal sistema (CLT, art. 75-A e
ss.), deve fazer, para saber que áreas são compatíveis, para desenhar procedimentos, para
estruturar o ambiente do home office etc.

Aplicar da forma aventada, sem essas necessárias cautelas, poderá gerar


pleitos de isonomia, uma vez que não estudados os critérios razoáveis de discrímen que
poderiam ser eleitos para implantar, se interessante fosse ao serviço público que a
impetrante presta, em certas áreas (dentro dessas áreas de modo uniforme e linear).

 Do Princípio da Legalidade imposto a Administração Pública

O Art. 75-A da CLT impõe que a prestação de serviços pelo empregado


em regime de teletrabalho observará o disposto nos artigos 75 – A usque 75-B daquele
diploma legal.
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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O princípio da legalidade no direito administrativo impõe ao administrador


que ele somente possa agir de acordo com a lei. Ao contrário da lógica do direito civil,
portanto, em que o destinatário da norma pode fazer tudo o que a lei não proíbe, o agente
público somente pode fazer o que o ordenamento jurídico administrativo permite.

A lei é clara e expressiva quando impõe taxativamente os requisitos


mínimos para a execução da atividade laboral na modalidade de teletrabalho.

Não cumpridos os requisitos não pode a administração pública contemplar


o pleito da litisconsorte sob pena de afronta a dispositivo de lei e ao próprio ao princípio da
legalidade.

Ademais a modalidade pleiteada é ato discricionário do empregador. Aos


atos administrativos discricionários, o princípio da separação de poderes mitiga o controle
judicial do seu mérito. Ao Poder Judiciário não é possível substituir a atividade administrativa
do Poder Executivo quando realizado dentro da margem legal discricionária. Não é possível
o substituir-se ao titular da competência para realizar avaliações e estimativas no tocante à
oportunidade, à consistência ou à finalidade de providências de natureza discricionária.

Diante dos pontos apresentados, tem-se que a litisconsorte não


comprovou a probabilidade do seu direito, devendo a tutela antecipatória ser suspensa, e
posteriormente reformada, por meio deste writ.

DOS REQUISITOS ACAUTELATÓRIOS

Para a concessão da medida liminar em Mandado de Segurança, deverá o


impetrante demonstrar a relevância dos motivos em que se assentam o pedido inicial e a
possibilidade da ineficácia da medida (Lei nº 12.016/09, art.7º, III).
Ambos os requisitos estão presentes no caso vertente:

 Da relevância do fundamento do Writ (ART.7º, III, DA LEI


12.016/09).

O fundamento do presente writ é a violação de direito líquido e certo da


impetrante, que está sendo compelida a implementar modalidade de trabalho incompatível
com a atividade da litisconsorte e com a própria companhia que não adotou em sua
sistemática tal modalidade, o que vai de encontro com os dispositivos de lei previsto na CLT.

A decisão do Juízo impetrado, como demonstrado anteriormente, fere o


direito líquido e certo da impetrante, mostrando-se em evidente, frontal e literal violação ao
artigo 74-A usque 75-D da CLT.
Caso não seja deferida a liminar e a segurança requestada, a impetrante
sofrerá prejuízos irreversíveis, não podendo o Estado chancelar tal situação.

 Da violação da decisão liminar ao art. 75-B da CLT

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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 14
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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A impetrante chama a atenção deste E. Juízo Colegiado que a decisão


liminar ora combatida afrontou, diretamente, o art. 75-B da CLT, explica-se.

Assim cristaliza o referido artigo, in verbis:

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços


preponderantemente fora das dependências do empregador, com a
utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por
sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

A palavra utilizada pelo legislador, preponderantemente, dá a ideia de


supremacia, maioria, contudo, difere do sentido de totalidade, integralidade.

De forma diferente do disposto no art. 75-B da CLT, assim determinou o


impetrado em sua liminar, vejamos:

“(...) determinando à Reclamada a obrigação de fazer consistente em


proceder às medidas suficientes para que a empregada passe ao
exercício pleno do teletrabalho residencial em toda a sua carga
horária, sem exigir comparecimento físico da trabalhadora
Reclamante na sede física da reclamada.”

Nota-se que, ao contrário do cristalizado pelo legislador que apenas


disciplinou que a prestação de serviços deve ser de forma preponderante, o impetrado
determinou que a prestação de serviços em teletrabalho residencial deve ser realizada de
forma única, integral, destoando os limites impostos pela norma consolidada.

Destarte, resta clarividente que referida decisão encontra-se eivada de


inelutável equívoco, em completa afronta ao art. 75-B da CLT.

 Da irreversibilidade dos efeitos da decisão

Sendo a presença da litisconsorte condição sine quo non para a execução


dos seus serviços e considerando que a mesma não cumpriu com os requisitos legais
exigidos para a implementação da modalidade, em sendo mantida a decisão liminar
concedida a CAGECE terá que pagar os salários da litisconsorte sem que haja a
contraprestação dos serviços para os quais foram contratados, incorrendo a tutela na
hipótese preconizada no § 3º, do art. 300, do CPC.

Art. 300 – (...)

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Vê-se que a decisão liminar, que poderá ser revertida na análise de mérito,
acarretará de imediato prejuízos a CAGECE, não ocorrendo o mesmo se revogada,
porquanto a litisconsorte já vinha exercendo a sua atividade laboral nestas condições desde
sua admissão em 04/02/2014, ciente de que foi contratada para aquelas condições desde a
sua contratação.

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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 15
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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Com efeito, se a tutela for mantida por este regional os efeitos da decisão
causará prejuízo irreversível para a impetrante.

 Do periculum in mora

Caso a medida liminar não seja deferida, mantendo-se o curso da


instrução processual, a impetrante sofrerá prejuízos irreparáveis, posto que deverá continuar
a arcar com os custos de salários e reflexos da litisconsorte sem a devida contraprestação
dos serviços, por incompatibilidade da atividade contratada e a modalidade exigida.

A transcendência dos efeitos da aplicação casuística do teletrabalho, sem


os estudos e cautelas já referidas, geraria distorções injustas e, no limite, com os pleitos de
equiparação e extensão do regime, um absoluto descontrole do poder de direção do
trabalho que o empregador, como cediço, legitimamente titulariza (pelo viés do direito
administrativo e constitucional, esse poder diretivo é a expressão do princípio da reserva de
administração).

A deficiência não seria, per se, critério razoável apto a fazer a legítima
diferenciação das situações de aplicação do sistema de teletrabalho, pois, além de não
previsto esse procedimento especial no edital para as vagas destinadas a pessoas com
deficiência, alguns empregados não deficientes estariam sujeitos às exatas mesmas
atividades laborais e aos benefícios mútuos que o sistema em tese propiciaria (por princípio
e respeito último à dignidade de que todas as pessoas são merecedoras, isonomia é tratar
os que estão em idêntica situação de forma igual), enquanto outros empregados, embora
deficientes, poderiam ter atividades absolutamente incompatíveis com o teletrabalho, mas
que a concessão pelo critério isolado da deficiência os elegeria para a extensão do regime
de teletrabalho.

Dessa forma, não é razoável nem proporcional exigir do empregador tal


sorte de sacrifício na gestão dos seus necessários recursos humanos, notadamente quando
se trata de um empregador com obrigações de prestar um serviço público regulado
econômica e qualitativamente e que é essencial e ininterrupto.

Assim, resta claro o iminente perigo na demora a que está submetida a


impetrante, haja vista que, a cada mês que se delonga a solução da querela, a companhia
sofrerá com os custos pela condição que lhe é imposta.

DA MEDIDA LIMINAR

Considerando os argumentos de fato e de direito expostos no presente,


bem como a configuração do fumus boni iuris e do periculum in mora, requer a impetrante
que seja deferido o pedido liminar inaudita altera pars, para suspender os efeitos da tutela
antecipatória deferida pelo MM Juiz Federal do Trabalho da 8ª Vara em Fortaleza até o
julgamento do mérito deste mandamus.

DO PEDIDO

Após o cumprimento da medida liminar, requer a Vossa Excelência a


notificação da autoridade coatora, para, querendo, prestar as informações, no prazo legal,

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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 16
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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bem como seja ouvido o órgão do Ministério Público, esperando que, ao final, seja
concedida a segurança requestada, com a transformação da medida liminar em definitiva,
além de revogar os efeitos da tutela antecipatória deferida pelo MM Juiz Federal do
Trabalho da 8ª Vara em Fortaleza até o julgamento do mérito deste mandamus.

Dá-se à presente causa o valor R$ 2.000,00 (dois mil reais), para efeitos
fiscais.

N. Termos, é o requerimento
P. Deferimento.

Fortaleza, 18 de maio de 2018.

Antônio Cleto Gomes


OAB/CE 5.864

RELAÇÃO DE DOCUMENTOS:
1. Atos constitutivos; Procuração e Substabelecimento;
2. Decisão atacada;
3. Cópia do processo principal;
4. Edital do Concurso;
5. Contrato de Trabalho;
6. Acordo Coletivo de Trabalho
7. Mapa de Negócios
8. Resolução 028/2017
9. Fotografia

Gabriel Benevides/JTR/Rmfrtms.cae

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Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ANTONIO CLETO GOMES


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Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 03b888a - Pág. 17
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Data de Juntada: 18/05/2018 15:56
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 07ª REGIÃO
Gab. Des. Antonio Marques Cavalcante Filho
MS 0080305-24.2018.5.07.0000
IMPETRANTE: COMPANHIA DE AGUA E ESGOTO DO CEARA CAGECE
IMPETRADO: ANTONIO CÉLIO MARTINS TIMBÓ COSTA, RACHEL
MESQUITA DE FIGUEIREDO CARVALHO

DECISÃO

Vistos etc.

Cuida-se de Mandado de Segurança impetrado contra ato do MM. Juiz


Substituto Antônio Célio Martins Timbó Costa, da 8ª Vara do Trabalho de Fortaleza, que, nos autos da
Reclamatória nº 0000159-69.2018.5.07.0008, em sede de Tutela de Urgência, determinou à Companhia
de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE, ora impetrante, a implementação, sob pena de multa diária, de
medidas que possibilitem à reclamante Rachel Mesquita de Figueiredo Carvalho, empregada daquela
Sociedade de Economia Mista Estadual, o desempenho de suas atividades funcionais em regime de
teletrabalho, por toda a carga horária contratada, sem a necessidade, portanto, de comparecimento às
dependências de sua empregadora.

Sustenta a suplicante que o provimento tutelar aqui objurgado fora


concedido sem que configurados os elementos previstos no art. 300 do CPC, quais sejam, a probabilidade
do direito alegado e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, a par de desconsiderar a
virtual irreversibilidade de seus efeitos.

Nessa senda argumentativa, alega a impetrante que o regime de


teletrabalho demanda à sua adoção, consoante a disciplina emergente dos artigos 75-A a 75-D da CLT,
mútuo consentimento entre empregador e empregado, previsão contratual expressa e utilização de
tecnologias de informação e comunicação que, por sua natureza, não se caracterizem como trabalho
externo, requisitos que não se fariam presentes na situação laboral da referenciada reclamante, ora
litisconsorte passiva. Ressalta, quanto a este tópico de sua argumentação, que o ato impetrado hostiliza,
frontalmente, o art. 75-B Consolidado, em tendo deferido o teletrabalho por toda a jornada laboral da
trabalhadora, quando a citada Norma define tal sistemática labutativa como a prestação de serviços
realizada, preponderantemente, fora das instalações empresariais, não integralmente.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ANTONIO MARQUES CAVALCANTE FILHO


https://pje.trt7.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=18052215155844600000004195657
Número do processo: MS 0080305-24.2018.5.07.0000 ID. 05afc6d - Pág. 1
Número do documento: 18052215155844600000004195657
Data de Juntada: 22/05/2018 15:56
Documento assinado pelo Shodo

Aduz, ademais, que os cometimentos funcionais da obreira, enquanto


lotada no Departamento de Consultoria, exigem sua participação frequente em reuniões com os membros
do setor jurídico da empresa e, também, com os demais empregados, contingência que revelaria a
incompatibilidade do trabalho realizado a distância.

Aponta a impetrante, ainda, o risco de irreversibilidade da medida


antecipatória, alegando ter sido compelida a pagar contraprestação remuneratória por serviços que não lhe
serão prestados em conformidade com as disposições do contrato de trabalho e do edital do concurso em
que a ora litisconsorte passiva lograra aprovação.

Finalmente, à guisa de periculum in mora, indigita o pagamento de


salários sem a prestação dos serviços, na forma contratada, e o risco de que outros empregados venham a
solicitar a extensão desse direito a seus contratos de trabalho.

Por essas razões, pugna por liminar sustativa dos efeitos do ato impetrado,
até a apreciação meritória do vertente Mandamus.

É o relatório. Decido.

Não se há suspender a eficácia do Decisum atacado, que assim se


textualizou:

"A tutela de urgência, conforme definida no art. 300 do Código de Processo Civil, será
concedida pelo Juízo quando presentes dois requisitos cumulativos e inafastáveis, quais
sejam, a ocorrência de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No caso dos autos, os documentos trazidos a Juízo pela Reclamante demonstram que a
condição física da Reclamante, não obstante não seja absolutamente incompatível com
a função que exerce perante a Ré, é certamente limitadora das condições que lhe são
propiciadas no local de trabalho.

Tal fato foi cabalmente atestado pelo documento de Fls. 333, que afirma que a
condição de que padece a Reclamante 'pode resultar em fortes dores crônicas na
coluna e o aparecimento de úlceras de pressão, CID-10 M54 e L89 respectivamente,
caso a paciente permaneça muito tempo numa mesma posição, devendo trabalhar, no
máximo, durante 06 horas consecutivas'.

O atestado de Fls. 334, por sua vez, esclarece que 'para a paciente, é importante não
permanecer durante muito tempo sentada ou numa mesma posição, para evitar os
problemas acima relacionados, e outro relacionados à circulação, que fica prejudicada
quando se está sentado por muito tempo; além disso, é importante para aliviar a
pressão sobre os glúteos e as costas, deitando de lado ou de bruços para evitar escaras'.

Evidente, portanto, que a demora no provimento jurisdicional pretendido implica risco


iminente de dano à pessoa da Reclamante.

A probabilidade do direito afirmado pela Reclamante, por sua vez, é refletida no


conceito de teletrabalho, positivado pela Lei nº 13.467, de 2017, que, ao inserir na

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Número do documento: 18052215155844600000004195657
Data de Juntada: 22/05/2018 15:56
Documento assinado pelo Shodo

Consolidação das Leis Trabalhistas o Capítulo II-A, passa a regular as condições dos
empregados em regime de trabalho remoto.

Ademais, o direito da Reclamante encontra ainda guarida na proteção constitucional


da dignidade da pessoa humana, princípio alçado à categoria de fundamento geral do
Estado Democrático de Direito ao lado da proteção do valor social do trabalho.

Com efeito, a Reclamada, ao negar à Autora as condições para o exercício saudável de


sua profissão, macula o exercício de seu múnus social, causando a marginalização da
Reclamante, que resta incapaz de contribuir para a consecução de seus ideais. Tal fato
indubitavelmente vai de encontro ao já mencionado supraprincípio da dignidade da
pessoa humana.

Ademais, a Carta Magna, em seu art. 170, caput e inciso VIII3, determina como
fundamento básico da ordem econômica nacional a valorização do trabalho humano,
tendo o pleno emprego como ideal utópico a ser buscado.

Diga-se ainda que, nos termos postos em sua petição inicial, a Reclamante não
pretende a redução de sua carga de trabalho, mas apenas a adequação das condições
laborais para o fiel e saudável cumprimento das funções que lhe são afeitas.

Por outro lado, no que se refere à aplicação do princípio da isonomia, há de se


observar que o ideal de igualdade a ser perseguido pelo aplicador do Direito deve ser
pautado nos princípios aristotélicos de que cabem aos iguais tratamentos iguais, e aos
desiguais, tratamentos desiguais, à medida de suas desigualdades.

No caso em pauta, a análise da situação da Reclamante demonstra a necessidade de se


adequar suas condições de trabalho às limitações que lhe são impostas por sua
condição de saúde, não se vislumbrando em tal modulação qualquer mácula ao
mencionado princípio da isonomia.

Também neste tocante, há de se dizer que, na aplicação dos princípios constitucionais,


o conflito aparente de valores deve ser resolvido por meio da técnica de sopesamento de
direitos, mecanismo utilizado como solução razoável e proporcional na ocorrência de
colisão entre direitos fundamentais.

No caso dos autos, mesmo que se vislumbrasse, o que não é o caso, repita-se, a mácula
ao princípio da isonomia, a dignidade da pessoa humana, valor alçado à categoria de
fundamento básico da República e inserto no artigo inaugural da Constituição Federal
de 1988, deve prevalecer sobre o ideal de igualdade afirmado pela Ré.

Diga-se, por fim, que não há no provimento liminar pleiteado qualquer prejuízo para a
empresa, que continuará a ser beneficiária dos serviços prestados pela Reclamante
como se esta estivesse trabalhando em regime presencial.

Neste sentido, a Autora se submeterá à carga de labor compatível com a dos demais
colegas de sua área de trabalho, exigindo-se da Obreira o mesmo grau de
produtividade de outrora (quando da realização do trabalho presencial).

Importante salientar ainda que o trabalho da Autora, que ocupa o cargo de Advogada,
é eminentemente intelectual, sendo despiciendo, segundo o entendimento do Juízo, seu
comparecimento diário no local de trabalho.

Portanto, tem-se como presente, em fase de cognição sumária, a probabilidade jurídica


do pedido de tutela de urgência formulado pelo Reclamante.

Portanto, presentes os requisitos previstos no art. 300 do NCPC, decide este Juízo
deferir a medida liminar pretendida pela Reclamante, determinando à Reclamada a
obrigação de fazer consistente em proceder às medidas suficientes para que a
empregada passe ao exercício pleno do teletrabalho residencial em toda sua carga
horária, sem exigir comparecimento físico da trabalhadora Reclamante na sede física
da reclamada.

Tudo sob pena de multa nos termos do art. 536, §1º do NCPC. (sic, cópia ID df42154).

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Documento assinado pelo Shodo

Conquanto se reconheçam juridicamente plausíveis os argumentos


esgrimidos pela impetrante, alicerçados, com clara razoabilidade, nos balizamentos normativos delineados
pelos artigos 75-A a 75-D da CLT, os quais estabelecem uma série de requisitos para a instauração do
regime de teletrabalho, inarredável é afirmar-se que não se evidencia, in casu, pelo menos ao primeiro
súbito de vista, o alegado risco decorrente da demora processual, exigência fundamental para a concessão
de ordens mandamentais suspensivas dos efeitos do ato impetrado.

Consigne-se, primeiramente, que o fato de a empresa suplicante continuar


a pagar o salário da reclamante pelo trabalho realizado a distância não parece embutir o risco sustentado
na exordial do Mandado de Segurança, de que a atividade contratada se desenvolva de forma incompleta,
por incompatibilidade com o regime de teletrabalho.

A função de advogada, lotada em Setor de Consultoria, como é o caso da


ora litisconsorte passiva, não se afigura incompatível com o teletrabalho, máxime em se considerando o
atual estágio evolutivo dos sistemas de informática e de telecomunicações disponíveis, a possibilitar a
plena interação com a empresa e os colegas de trabalho, em tempo real.

Não se divisa, outrossim, o alegado risco de que outros empregados


venham a postular condição laboral isonômica, porquanto o regime de teletrabalho cuja concessão se
discute decorrera de condições de saúde excepcionais e específicas da trabalhadora litisconsorte, o que
afasta a possibilidade de sua extensão a outrem, indiscriminadamente.

Em verdade, o periculum in mora, na espécie, patenteia-se de forma


reversa, ou seja, em relação à litisconsorte passiva, vez que, caso deferido o provimento liminar pleiteado
pela CAGECE, haveria o risco grave e iminente de aprofundamento de seus problemas de saúde,
diretamente ligados à postura sentada, adotada no desenvolvimento de suas atividades no ambiente
empresarial, conforme Atestados Médicos de ID 5fe2ae1, págs. 96/97.

No caso em análise, portanto, a concessão da liminar poderá ser mais


danosa à obreira do que o seu indeferimento à impetrante, sendo certo, ainda, que a manutenção do Ato
impetrado compatibiliza, pelo menos até o julgamento de mérito do Mandamus, os interesses de
empregador e empregada, preservando, quantum satis, os direitos de um e outro.

Destarte INDEFIRO A LIMINAR REQUESTADA.

Notifique-se a impetrante.

Com cópia da inicial e desta Decisão, oficie-se à autoridade dita coatora,


solicitando as informações que entender pertinentes, no prazo de 10 (dez) dias.

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Cite-se a Sra. Rachel Mesquita de Figueiredo Carvalho para, em igual


dilação, oferecer razões impugnativas do Mandamus, na condição de litisconsorte passiva necessária.

ANTONIO MARQUES CAVALCANTE FILHO

FORTALEZA, 22 de Maio de 2018

ANTONIO MARQUES CAVALCANTE FILHO


Desembargador(a) do Trabalho

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Data de Juntada: 22/05/2018 15:56
SUMÁRIO

Documentos
Id. Data de Documento Tipo
Juntada
03b888a 18/05/2018 Mandado de Segurança Petição Inicial
15:56
05afc6d 22/05/2018 Decisão Decisão
15:56

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