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UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA PORTARIA N. 1129/2017 E PORTARIA N.

1.293/2017 E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO


NO BRASIL
Andressa Frota Santos*

Resumo
Este trabalho traz uma análise comparativa entre as Portarias N. 1129/2017 e N.
1293/2017 do Ministério do Trabalho, tratando de suas consequências para o
trabalhador submetido a condições análogas à de escravo. Por meio de pesquisa
bibliográfica, com enfoque na doutrina especializada sobre o tema, faz-se um
panorama sobre o trabalho escravo contemporâneo. Além disso, fala-se sobre a
participação das entidades e organizações, bem como do Supremo Tribunal Federal,
na tentativa de não permitir o retrocesso nas garantias constitucionais.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos fundamentais; Dignidade da pessoa humana; Trabalho


escravo contemporâneo.

INTRODUÇÃO

O artigo visa analisar e comparar os principais pontos das Portarias do


Ministério do Trabalho que tratam do trabalho análogo ao escravo, na territorialidade
do Brasil.
Para tanto, em primeiro lugar traz um breve histórico de publicação e
abordagem de cada ato normativo, para depois analisar ponto a ponto a diferença
entre as duas Portarias. Traça-se também comentários acerca dos princípios
relacionados ao Direito do Trabalho e também ao Direito Constitucional, no sentido de
que os direitos e as garantias fundamentais não retrocedam, causando insegurança
jurídica e ofensa ao princípio da vedação ao retrocesso.
Cumpre ressaltar ainda que, quando da publicação da primeira Portaria no
Diário Oficial da União, várias entidades e organizações, inclusive internacionais,
manifestaram-se contrários, sendo inclusive aplicada sanção internacional por parte

* Pós-Graduação em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário da Universidade


Estácio de Sá, Graduação em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Email
andressafrotaadv@gmail.com.
da OIT, por fragilizar ainda mais as relações de trabalho. Oportunidade em que, após
ter tido sua eficácia suspensa pela Ministra Rosa Weber em sede de ADPF interposta
no STF, o Ministro do Trabalho, Ronaldo, baixou nova Portaria de n. 1293/2017, que
parece tratar de forma mais correta o assunto.

BREVE ENQUADRAMENTO FÁTICO DAS DUAS PORTARIAS.

No dia 16 de outubro de 2017 foi publicada no Diário Oficial da União a


Portaria nº 1.129/2017, que trazia novas definições para o trabalho escravo
contemporâneo, especialmente no que dizia respeito a conceitos como trabalho
forçado, jornada exaustiva e condições análogas a de escravo.
O referido ato administrativo foi alvo de severas críticas, tanto do Ministério
Público do Trabalho, como do Ministério Público Federal, quanto da Organização das
Nações Unidas, como da Organização Internacional do Trabalho, como da sociedade
brasileira.
Tamanha repugnância à legislação em comento deu-se porque o ato restringiu
conceitos importantes, o que acabou distanciando a portaria da realidade. Explica-se,
desse modo, que as restrições conceituais em vez de corroborarem com o combate e
a erradicação do trabalho escravo, só torna ainda mais dificultosas e raras as
hipóteses de enquadramento de trabalhos forçados.
Diante de tal constatação, o debate alcançou amplitude tal que o tema chegou
a ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isto porque o partido político
brasileiro Rede Sustentabilidade ajuizou ação de arguição de descumprimento de
preceito fundamental (ADPF) com pedido liminar pela suspensão da eficácia da
mencionada portaria.
Destarte, o STF demonstrou estar em consonância com a realidade brasileira
ao suspender os efeitos da nova legislação, através de decisão de relatoria da Ministra
Rosa Weber. Não poderia ser diferente, tendo em vista que a situação da escravidão
moderna no Brasil demandava uma legislação mais protetiva, e não uma portaria que
viesse a engessar ainda mais o combate à prática.
Já no dia 29 de dezembro de 2017 foi publicada no Diário Oficial da União
uma nova legislação: a Portaria nº 1.293/2017. De modo geral, bem mais aceita pela
comunidade jurídica. Deste modo, passa-se a analisar de forma geral as normas
dispostas em tal portaria, analisando-as comparativamente com os dispositivos legais
trazidos pela portaria cuja eficácia foi suspensa.

CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO MODERNO

O panorama atual brasileiro reforça a exclusão social de milhares de cidadãos, os


quais se veem sem nenhuma opção digna de trabalho. O desemprego apresenta
trajetória crescente, alcançando taxa de 13,2% no trimestre encerrado em fevereiro
de 2017, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
atingindo 13,5 milhões de brasileiros.8
Ao longo dos anos, a escravidão contemporânea foi revelada em todos os Estados
brasileiros, nas carvoarias, na agricultura, na pecuária e na mineração. Nos centros
urbanos, recentemente foram flagrados casos na construção civil9 e nas
confecções.10
Tanto no meio rural, quanto no urbano, as histórias se repetem. Os trabalhadores são
submetidos a condições humilhantes, degradantes e exaustivas de trabalho. Como
elementos comuns, os trabalhadores são constantemente ofendidos em sua
dignidade, coagidos, ficam sem receber os seus pagamentos, endividados e
impedidos de deixarem o emprego.
As operações de fiscalização do trabalho, em vinte anos de atuação, já resgataram
mais de 47 mil trabalhadores nessas condições.11 O reconhecimento oficial, em 1995,
ocorreu após o país ter sido denunciado na Corte Interamericana de Direitos
Humanos, em relação ao Caso José Pereira.12
Em resumo, o Caso José Pereira refere-se ao cidadão, à época com 17 anos, ferido
em 1989 por disparos de arma de fogo, efetuados por pistoleiros que tentavam impedir
a sua fuga da Fazenda Espírito Santo, no Sul do Pará, onde também trabalhavam
outras 60 pessoas em condições subumanas e ilegais, análogas à
8 Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2017-03-31/desemprego-dados-
ibge.html> Acesso em: 21 mai.2017.
9 Disponível em: <http://racismoambiental.net.br/2015/06/05/prr2-discorda-de-
absolvicao-por-trabalho- escravo-no-rj/> Acesso em: 10 ago. 2015.
10 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/08/fiscalizacao-
do-ministerio-do- trabalho-retira-31-trabalhadores-de-trabalho-escravo> Acesso em:
10 ago. 2015.
11 Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-
01/em-duas-decadas- fiscais-resgataram-do-trabalho-escravo-quase-50-mil> Acesso
em: 10 ago. 2015.
12 Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/noticias/2013/assuntos/conatrae/conatra-
10-anos> Acesso em:

escravidão. José Pereira sofreu lesões permanentes no olho e mão direitos e outro
trabalhador, conhecido como Paraná, foi morto.
Quanto ao caso, o Estado brasileiro assumiu o compromisso de melhor definir o
trabalho análogo a de escravo na legislação penal, quando houve a alteração do Art.
149 do Código Penal.13 Quando da referida alteração, o que se pretendeu
caracterizar não foi apenas o cerceio da liberdade de ir e vir, mas a exploração do
trabalho humano com características próprias, ligadas à miséria econômica e
sociocultural, objetivando a proteção da humanidade e dignidade do trabalhador.
A atual redação do Art. 149 do Código Penal está em harmonia com a Constituição e
com as normas nacionais e internacionais de proteção ao trabalho digno e aos direitos
humanos. O trabalho análogo a de escravo definido no Brasil, com a proteção em face
do trabalho degradante e da jornada exaustiva, é mais abrangente do que o trabalho
forçado previsto nas Convenções nº 29 e 105 da OIT, já que tais instrumentos apenas
estabelecem padrões mínimos e universais a serem seguidos, devendo cada Estado
adotar a legislação que mais atenda às suas especificidades econômicas, sociais e
culturais.
O trabalho degradante é aquele que ofende a dignidade, avilta, humilha, desconsidera
a humanidade, afeta a honra objetiva e subjetiva, coloca em risco a vida, a saúde e a
integridade do trabalhador.14 Já a jornada exaustiva, não é considerada quando
verificado o mero descumprimento da jornada diária de 8 horas, mas quando se
impõe, de forma persistente, alta intensidade ao trabalho, sendo comum nos trabalhos
por produção ou nos pagamentos calculados por hora, sem a garantia das pausas,
intervalos e descansos legais remunerados.
14 A definição de trabalho degradante é clara, como já reconhecido na jurisprudência
dos Tribunais Superiores do país (Inquérito 3412/AL, STF, Rel. Min. Rosa Weber; MS
14017/DF 2008/0271496-6, STJ, Rel. Min. Herman Benjamim; RR - 178000-
13.2003.5.08.0117, TST, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho) e caso as
alterações da legislação sejam aprovadas, ficarão sujeitas ao controle de

ESTUDO DOS DISPOSITIVOS CONSTANTES NA PORTARIA Nº 1.129/2017 EM


COMPARAÇÃO COM AS NORMAS PREVISTAS PELA PORTARIA Nº 1.293/2017

Neste tópico, será analisado se os pontos criticados na Portaria nº 1.129/2017


foram de fato superados a partir da publicação da Portaria nº 1.293/2017, bem como
verificar se as regras atuais estão em harmonia com o ordenamento jurídico vigente.
Inicialmente, pode-se constatar que a Portaria nº 1.129/2017 demonstrava
evidente descompasso com a realidade do trabalho escravo moderno no Brasil. Isto
porque diversas de seus conceitos apresentavam restrição na possibilidade de
enquadramento como trabalho escravo de comportamentos amplamente encontrados
na prática. É dizer, portanto, que ao restringir as definições, era mais dificultoso o
enquadramento de situações fáticas como trabalho escravo.
Dessa forma, caso persistisse a eficácia da portaria revogada faria com que a
efetiva possibilidade de erradicação do trabalho escravo fosse mitigada, tendo em
vista a dificuldade imposta através dela aos Fiscais do Trabalho para conseguirem,
de fato, fazer com que um abuso de mão de obra flagrado fosse considerado como
trabalho escravo, pois, dentre outros entraves, necessitava da presença de força
policial.
Isto porque as novas definições de institutos tais como trabalhos forçados,
jornadas exaustivas e condições degradantes, fariam com que os empregados
continuassem sendo explorados, sem que tal comportamento patronal fosse tido como
uma prática escravista. Desta maneira, seriam ignoradas as situações como o
desemprego e a necessidade de prover a própria subsistência, que faziam com que
diversos trabalhadores tivessem de se submeter a condições análogas às de escravo
por exclusiva falta de opção e por extrema necessidade.
Tratava-se, portanto, de uma séria ameaça ao princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, fundamento da República Federativa do Brasil, conforme art. 1º,
inciso II, da CRFB.
Destarte, o que se pretende a partir de agora é realizar um comparativo dos
conceitos estabelecidos pela legislação cuja eficácia fora suspensa e compará-los às
novas disposições trazidas pela Portaria nº 1.293/2017 para que se possa chegar à
conclusão no sentido de a nova legislação ter ou não ter representado uma resposta
positiva às críticas da Portaria nº 1.129/2017.
A) DAS DIFERENÇAS DE CONCEITOS EXISTENTES NA PORTARIA Nº
1.129/2017 E A PORTARIA Nº 1.293/2017 DO INSTITUTO DO TRABALHO
ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

Nesse ponto, busca-se analisar a conceituação e o enquadramento como


trabalho escravo trazido pelos dois atos normativos ministeriais. Inicialmente, pode-se
analisar por meio dos artigos 1º, II e III e o artigo 3º, IV, a e b, que a Portaria nº
1.129/2017 passou a restringir os requisitos para a constatação do trabalho escravo
moderno, principalmente no que se refere às jornadas exaustivas e ao tratamento
degradante.
Tais dispositivos passaram a exigir que não bastaria tão somente que o
trabalho exercido se desenvolvesse em condições precárias, mas seria também
obrigatório a constatação de vigilância por meio de coação ostensiva, impedindo
fisicamente a livre movimentação do trabalhador, além do isolamento geográfico.
É dizer, portanto, que a legislação anterior exigia que restasse configurado
apenas o isolamento físico dos trabalhadores, não considerando os outros fatores que
indubitavelmente propulsionam o trabalho escravo nos tempos atuais, como exemplo
a existência de constrangimentos financeiros que fazem com que o trabalhador fique
impossibilitado de se desobrigar do vínculo que possui com o empregador.
Em seguida, pode-se analisar que a nova legislação parece estar mais
atrelada à realidade fática atual.
Verifica-se já no artigo 1º, inciso IV, da Portaria nº 1.293/2017, a preocupação
com uma das formas mais comuns de caracterização do trabalho escravo na
modernidade, qual seja, a “servidão por dívidas”, muito comum em locais mais
isolados nos quais os trabalhadores possuem menos oportunidades e mais
necessidades.
Tem-se que, por meio dessa modalidade, o empregador coage o trabalhador
para que assuma dívidas cujos valores não poderão ser suportados pelo seu salário.
Desta forma, o trabalhador encontra-se sempre “em débito” perante o seu chefe, não
encontrando forma de quitar tal dívida.
Neste sentido, a Portaria nº 1.293/2017 traz expressamente como uma das
facetas de trabalho escravo moderno se dá quando há a restrição de locomoção do
trabalhador por conta de dívida contraída com o empregador ou preposto. Pode ainda
a dívida ser contraída no início da contratação ou durante a vigência do contrato de
trabalho.
Dessa maneira, a contrário da aberração jurídica que ocorreu na legislação
anterior, no dispositivo vigente há claramente a exposição de que a restrição de
locomoção livre do trabalhador pode ocorrer por qualquer meio. Não há, portanto, a
exigência de restrição física para que a “servidão por dívida” reste configurada.
A novel regulamentação vai além e estabelece, em seu artigo 2º, inciso IV,
claramente que a limitação ao direito fundamental de liberdade do trabalhador se dá
não apenas em razão de débito imputado por empregador ou preposto, mas amplia
este conceito ao considerar também os casos em que o obreiro é induzido a endividar-
se perante terceiros.
Nesse ponto, pode-se observar que após inúmeras críticas feitas sobre a
limitação do combate à prática de trabalho escravo, a nova legislação demonstra a
percepção das exigências sociais para uma ampliação de conceitos na tentativa da
erradicação da exploração indevida da mão de obra.
Em prosseguindo a análise, no artigo 1º, inciso V, há a previsão de que o
trabalho forçado também restará configurado quando o trabalhador é impedido de
deixar o local de prestação de serviços por conta do cerceamento do uso de qualquer
meio de transporte, da manutenção de vigilância ostensiva ou do apoderamento de
documentos ou objetos pessoais do trabalhador. Vê-se nesse ponto, novamente, uma
ampliação de conceitos que possibilita o enquadramento das situações de abuso que
são encontradas na realidade.
Adiante, o artigo 2º da Portaria nº 1.293/2017 serve como um parâmetro
delineador de toda a conceituação necessária para o enquadramento do trabalho
escravo contemporâneo, possibilitando aos fiscais do trabalho caracterizarem a
prática dos trabalhos forçados de uma maneira mais genérica, possibilitando um
alcance maior da norma.
Ao se proceder a análise comparativa, temos que, pela legislação anterior, o
trabalho forçado era conceituado como o labor exercido sem o consentimento do
trabalhador, retirando a possibilidade de expressar sua vontade. Desse modo, verifica-
se que a realidade de miserabilidade brasileira era ignorada, de tal forma que não
havia qualquer preocupação com o trabalhador que era obrigado a aceitar o respectivo
trabalho com o propósito de buscar prover o sustento próprio e de sua família. Desse
modo, o trabalhador se submetia a condições degradantes não por vontade, mas por
falta de opção e extrema necessidade.
Em contrapartida, a novel regulamentação estabelece um conceito distinto, no
sentido de que o trabalho forçado é aquele para o qual o trabalhador não se ofereceu
ou não deseje permanecer espontaneamente, sendo dele exigido o serviço através
de ameaças de sanções físicas ou psicológicas.
Pode-se atestar que na nova Portaria não é necessária a efetiva violência
física ou psicológica, bastando que reste constada a ameaça de sanção. Em seguida,
a contrário da exigência anterior de efetiva falta de consentimento do trabalhador, hoje
se exige simplesmente a sua não espontaneidade para continuar executando o
serviço. Em detalhes, tem-se que o trabalhador consentiu com as condições
degradantes por falta de opção.
As jornadas exaustivas, já mencionadas no início deste tópico, ganham, com
o inciso II do artigo 2º da Portaria nº 1.293/2017, um ar de muito maior amplidão do
que se tinha com a legislação anterior, visto que há agora uma intrínseca correlação
de sua caracterização com a violação de direitos fundamentais do trabalhador, em
especial aqueles atinentes à sua saúde, segurança, descanso e convívio familiar e
social. Anteriormente, era necessário que houvesse a contrariedade da vontade do
trabalhador (não se preocupando novamente com aqueles que se submetem a tais
condições por falta de opção) e a efetiva restrição de ir e vir e o exercício do labor fora
dos ditames legais aplicáveis a sua categoria – as implicações eram mais objetivas,
sendo que não havia, portanto, qualquer preocupação com o bem estar, a saúde e a
segurança do trabalhador.
Outro ponto de destaque se dá quando há um maior detalhamento, também,
sobre a configuração das já mencionadas condições degradantes. A Portaria nº
1.153/2017 exigia a existência de atos comissivos violadores de direitos fundamentais
que desencadeassem a efetiva restrição da liberdade de ir e vir do trabalhador. Neste
caso outra vez a legislação não se mostrava preocupada com os trabalhadores que,
por mais que tivessem ao seu alcance a possibilidade de ir e vir, eram obrigados a
submeter-se a condições desumanas com o único intuito de não perder o que,
possivelmente, era sua única fonte de renda.
A Portaria nº 1.293/2017, por sua vez, não mais vincula a ideia de condição
degradante com a de restrição da liberdade do trabalhador, o que de fato, como visto,
era um visível contra-senso. A conceituação torna-se, agora, muito mais genérica, na
medida em que sua caracterização se dá através da expressão “qualquer forma de
negação da dignidade humana pela violação de direito fundamental do trabalhador” –
repita-se, “qualquer forma”, expressão que mostra não um afunilamento das hipóteses
de configuração, mas, longe disso, a possibilidade inclusive de que diversas outras
situações não previsíveis atualmente, face à rápida modernização das relações
humanas que ocorre no cotidiano, subsumam-se à norma quando de sua
ocorrência[12].
Neste mesmo diapasão de ampliação dos conceitos, o artigo 2º da Portaria nº
1.293/2017 ainda estabelece parâmetros norteadores para a configuração do
cerceamento do uso de transporte, da vigilância ostensiva e do apoderamento de
documentos pessoais[13]. Em todos estes casos há certa preocupação do legislador
de, claro, definir o instituto, mas acima disso a preocupação de não limitar as
possibilidades de configuração, trazendo conceitos bastante abertos a novos
enquadramentos também através de expressões como “qualquer forma” e “toda
forma”.
Como dito, a utilização de tais expressões, além de tentar abranger o máximo
de situações percebidas atualmente, ainda tem o condão de dar longevidade à
legislação, deixando-a aberta a hipóteses futuras de configuração sequer imagináveis
atualmente, com vistas a fazer com que as normas acompanhem – pelo menos parece
ser esta a intenção – o intenso desenvolvimento das relações interpessoais, cuja
complexidade está, desde muito, em franco crescimento.

B) A AUTONOMIA PARA ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS FISCALIZADORES. DA


NECESSIDADE DE FORÇA POLICIAL.

A Portaria nº 1.129/2017 acabou por limitar a liberdade de atuação dos órgãos


fiscalizadores, pois em seu art. 4º, § 3º, inciso I, havia a expressa exigência de que os
fiscais do trabalho fossem acompanhados por autoridade policial. Dessa forma,
deveria ser registrado o boletim de ocorrência, que passava a ser documento
necessário para iniciar o processo.
A Portaria nº 1.293/2017, em seu artigo 7º, parágrafo único, prevê que a
presença de autoridades policiais ainda é necessária no ato de fiscalização. No
entanto, busca-se garantir a finalidade da fiscalização, em vez de engessar a atuação
dos fiscalizadores.
Passando à análise comparativa, tem-se que na legislação anterior previa a
obrigatoriedade também do boletim de ocorrência, sendo mais uma formalidade para
que o processo pudesse ser recebido. Entretanto, atualmente o B.O já não é mais
exigido, além do fato de a autoridade policial estar presente para garantir a segurança
e a concretização da fiscalização.
Parte-se para a interpretação sistemática da norma, já que no artigo 6º da
Portaria nº 1.293/2017 restou estabelecido o combate à prática escravista que deve
ser prioritário nos planejamentos e ações, de tal sorte que tanto a Administração
Central do Ministério do Trabalho quanto as Superintendências Regionais do Trabalho
têm o dever de prover todos os recursos necessários para que a Inspeção do Trabalho
possa efetivar a fiscalização.
Pode-se concluir, portanto, que a nova portaria destoa da antiga, uma vez que
demonstra a preocupação com a existência de trabalho escravo contemporâneo e
busca dar suporte aos atos que visem a sua erradicação e ao seu combate.

C) DO PROCEDIMENTO DE INSERÇÃO E DE DIVULGAÇÃO DA “LISTA SUJA”.


PREVISÃO NAS DUAS PORTARIAS.

Para adentrar no tema proposto, precisa-se esclarecer o que é o termo “lista


suja”. Trata-se, simplesmente, do cadastro de empregadores que são flagrados
explorando mão de obra escrava, de acordo com o estabelecido na Portaria
Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11.05.2016, que definia que a organização e
a divulgação do Cadastro ficaria "a cargo da Divisão de Fiscalização para Erradicação
do Trabalho Escravo (Detrae)".
Entretanto, a Portaria nº 1.129/2017, por meio de seu art. 4º, § 1º, passou a
estabelecer que seria necessária a prévia determinação expressa do Ministro do
Trabalho.
Tal determinação se mostrava um tanto quanto perigosa já que a decisão de
incluir ou não determinado empregador na “lista suja” deixava de ter caráter jurídico
para ter nítida natureza política, já que a decisão ficaria a cargo do Ministro do
Trabalho.
A Portaria nº 1.293/2017, por sua vez, já não mais traz a determinação do
Ministro do Trabalho como ato crucial para que haja a inclusão na “lista suja”,
consolidando novamente a natureza administrativa do ato.
Em seu artigo 14, a Portaria dispõe sobre as novas determinações para a
inclusão no cadastro e para a divulgação da “lista suja”. Quanto à inclusão, tem-se
que será consequência lógica do procedimento administrativo que teve início com a
fiscalização e autuação, com observância do devido processo legal, em que o autuado
teve direito ao contraditório e à ampla defesa.
Ao final do procedimento, sendo constatada a responsabilidade do
empregador, seu nome será inserido no cadastro após a decisão não ser mais
administrativamente recorrível. Verifica-se que é dada a oportunidade para o
empregador defender-se, assim como a sociedade possui a garantia de que aqueles
responsabilizados pela prática escravista serão, de certa forma, punidos com a
divulgação de seus nomes na Lista Suja.
Por fim, pode-se concluir pela sintonia da Portaria nº 1.293/2017 com os
valores sociais modernos, tendo em vista o § 3º do artigo 14 visa a dar garantia de
que serão utilizados todos os meios necessários para que o cadastro possa ser
divulgado.

D) TRÁFICO DE PESSOAS PARA O TRABALHO ESCRAVO

Um tema novo trazido pela Portaria nº 1.293/2017 e que não possui previsão
correspondente na Portaria nº 1.129/2017 trata-se da regulamentação, no artigo 4º e
parágrafo único da novel Portaria, do tráfico de pessoas, quando restar constatado o
recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas
com a finalidade de que sirvam à prática escravista.
Verifica-se, nesse ponto, que há uma variedade de comportamentos por meio
de vários núcleos verbais que visam a caracterizar o tráfico de pessoas, sendo que o
recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas
pode se dar através de ameaça, coação, uso da força, rapto, fraude, abuso de
autoridade, engano, situação de vulnerabilidade e, até mesmo, a entrega ou aceitação
de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra.
Desta feita, busca-se dar a maior amplitude possível à possibilidade de
identificação e caracterização de práticas inconstitucionais, como é o caso tráfico de
pessoas com o fim escravista. Nesse dispositivo, novamente, a legislação faz o uso
da expressão “outras formas”, o que indica a abertura para que diferentes
comportamentos não previstos possam subsumir-se à norma legal.

CONCLUSÕES

O presente artigo teve como objetivo analisar, de forma comparativa, a


legislação referida as Portarias do Ministério do Trabalho, uma vez que a Portaria
1.129 foi alvo de severas críticas por não se coadunar com a tentativa de erradicação
do trabalho escravo moderno.
Neste sentido, foi possível constatar que a nova portaria demonstra estar em
maior harmonia com os anseios sociais do que a legislação anterior, visto que traz
diversos instrumentos que visam dar amplidão à caracterização do trabalho escravo.
A utilização de termos abertos como “qualquer forma”, “outras formas”, dentre
outros, traz, como visto, a possibilidade de que as normas legais não apresentem um
rol taxativo de possibilidades de identificação da prática escravista. Ademais, de certa
forma tais expressões dão uma maior longevidade à portaria, tendo em vista que
situações que atualmente são impensáveis poderão também subsumir-se às normas
legais – como visto, as relações sociais passam por constante e complexa
transformação.
Adiante, a maior autonomia novamente concedida aos órgãos fiscalizadores,
somada à exclusão do caráter político da decisão de inclusão ou não dos nomes dos
empregadores na “lista suja” faz com que todo o procedimento fiscalizatório possa
transcorrer com maior transparência e segurança, de tal sorte que o escravocrata
moderno terá menos opções de safar-se quando constatado se utilizando de mão de
obra escrava.
Por fim, o ponto que mais merece destaque trazido pela da Portaria nº
1.293/2017 foi a conceituação dos institutos de forma mais ampla, a exemplo do que
fez com as definições de jornada exaustiva, condições degradantes, trabalho forçado,
restrição de locomoção. As diversas acepções que são assumidas por cada instituto
dão maior abrangência à possibilidade de sua caracterização, respeitando não só
preceitos legislativos, mas também constitucionais e internacionais.
Desta feita, em uma análise comparativa, a nova portaria se mostra muito mais
em harmonia com as exigências sociais do que a legislação anterior.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portaria MTB nº 1.129, de 13 de


outubro de 2017. Dispõe sobre os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e
condições análogas à de escravo para fins de concessão de seguro-desemprego ao
trabalhador que vier a ser resgatado em fiscalização do Ministério do Trabalho, nos
termos do art. 2º-C da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990; bem como altera
dispositivos da Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11 de maio de 2016.
Publicada no Diário Oficial de 16 de outubro de 2017.
______. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portaria MTB nº 1.293,
de 28 de dezembro de 2017. Dispõe sobre os conceitos de trabalho em condições
análogas à de escravo para fins de concessão de seguro-desemprego ao trabalhador
que vier a ser resgatado em fiscalização do Ministério do Trabalho, nos termos
do artigo 2º-C da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e trata da divulgação do
Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores à condição análoga
à de escravo, estabelecido pela Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11
de maio de 2016. Publicada no Diário Oficial de 16 de outubro de 2017.
______. Supremo Tribunal Federal, Medida Cautelar na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental nº 489, Distrito Federal, Relª Min. Rosa
Weber, Data de Julgamento: 23.10.2017. Disponível em:
<https://d2f17dr7ourrh3.cloudfront.net/wp-content/uploads/2017/10/ADPF-
489_liminar_RW.pdf>. Acesso em: 24 out. 2017.
______. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portaria Interministerial
MTPS/MMIRDH nº 4, de 11 de maio de 2016. Dispõe sobre as regras relativas ao
cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições
análogas à de escravo. Publicada no Diário Oficial em 13 de maio de 2016.
CALEGARI, Luiz Fernando. A Portaria nº 1.129/2017 e o Retrocesso no
Combate à Escravidão Contemporânea: Análise da Suspensão de seus Efeitos pelo
STF à Luz da Realidade Brasileira. São Paulo: Revista Síntese Trabalhista e
Previdenciária. V. 29, n. 342, p. 50-61, dez. 2017.
[17] “BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portaria
Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11 de maio de 2016. Dispõe sobre as regras
relativas ao cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a
condições análogas à de escravo. Publicada no Diário Oficial em 13 de maio de 2016.”

[2] BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Medida Cautelar na Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental nº 489, Distrito Federal, Relª Min. Rosa
Weber, Data de Julgamento: 23.10.2017. Disponível em:
<https://d2f17dr7ourrh3.cloudfront.net/wp-content/uploads/2017/10/ADPF-
489_liminar_RW.pdf>. Acesso em: 09 fev. 2018.
[5]“Art. 1º Para fins de concessão de beneficio de seguro-desemprego ao
trabalhador que vier a ser identificado como submetido a regime de trabalho forçado
ou reduzido a condição análoga à de escravo, nos termos da Portaria MTE nº 1.153,
de 13 de outubro de 2003, em decorrência de fiscalização do Ministério do Trabalho,
bem como para inclusão do nome de empregadores no cadastro de empregadores
que tenham submetido trabalhadores à condição análoga à de escravo, estabelecido
pela Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11.05.2016, considerar-se-á:
[...]
II – jornada exaustiva: a submissão do trabalhador, contra a sua vontade e
com privação do direito de ir e vir, a trabalho fora dos ditames legais aplicáveis a sua
categoria;
III – condição degradante: caracterizada por atos comissivos de violação dos
direitos fundamentais da pessoa do trabalhador, consubstanciados no cerceamento
da liberdade de ir e vir, seja por meios morais ou físicos, e que impliquem na privação
da sua dignidade [...]”
[6]“Art. 3º Lavrado o auto de infração pelo Auditor-Fiscal do Trabalho, com
base na Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH nº 4, de 11.05.2016, assegurar-se-á
ao empregador o exercício do contraditório e da ampla defesa a respeito da conclusão
da Inspeção do Trabalho de constatação de trabalho em condições análogas à de
escravo, na forma do que determina a Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 e a
Portaria MTE 854, de 25 de junho de 2015.
[...]
IV – descrição detalhada da situação encontrada, com abordagem obrigatória
aos seguintes itens, nos termos da Portaria MTE nº 1.153, de 14 de outubro de 2003:
a) existência de segurança armada diversa da proteção ao imóvel;
b) impedimento de deslocamento do trabalhador; [...]”
[7]“Art. 1º Para fins de concessão de benefício de seguro-desemprego ao
trabalhador que for encontrado em condição análoga à de escravo no curso de
fiscalização do Ministério do Trabalho, nos termos da Portaria MTE n.º 1.153, de 13
de outubro de 2003, bem como para inclusão de administrados no Cadastro de
Empregadores que tenham submetido trabalhadores à condição análoga à de
escravo, estabelecido pela Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH n.º 4, de 11 de
maio de 2016, considera-se em condição análoga à de escravo o trabalhador
submetido, de forma isolada ou conjuntamente, a:
[...]
IV - Restrição, por qualquer meio, de locomoção em razão de dívida contraída
com empregador ou preposto, no momento da contratação ou no curso do contrato
de trabalho”
[8] “Art. 2º Para os fins previstos na presente Portaria:
[...]
IV - Restrição, por qualquer meio, da locomoção do trabalhador em razão de
dívida é a limitação ao direito fundamental de ir e vir ou de encerrar a prestação do
trabalho, em razão de débito imputado pelo empregador ou preposto ou da indução
ao endividamento com terceiros.”
[9] “Art. 1º [...]
V - Retenção no local de trabalho em razão de:
a) Cerceamento do uso de qualquer meio de transporte;
b) Manutenção de vigilância ostensiva;
c) Apoderamento de documentos ou objetos pessoais”
[10] “Art. 2º Para os fins previstos na presente Portaria:
I - Trabalho forçado é aquele exigido sob ameaça de sanção física ou
psicológica e para o qual o trabalhador não tenha se oferecido ou no qual não deseje
permanecer espontaneamente.”
[11] “Art. 2º [...]
II - Jornada exaustiva é toda forma de trabalho, de natureza física ou mental,
que, por sua extensão ou por sua intensidade, acarrete violação de direito
fundamental do trabalhador, notadamente os relacionados a segurança, saúde,
descanso e convívio familiar e social.”
[12] “Art. 2º [...]
III - Condição degradante de trabalho é qualquer forma de negação da
dignidade humana pela violação de direito fundamental do trabalhador, notadamente
os dispostos nas normas de proteção do trabalho e de segurança, higiene e saúde no
trabalho.”
[13] “Art. 2º [...]
V - Cerceamento do uso de qualquer meio de transporte é toda forma de
limitação ao uso de meio de transporte existente, particular ou público, possível de ser
utilizado pelo trabalhador para deixar local de trabalho ou de alojamento. VI -
Vigilância ostensiva no local de trabalho é qualquer forma de controle ou fiscalização,
direta ou indireta, por parte do empregador ou preposto, sobre a pessoa do
trabalhador que o impeça de deixar local de trabalho ou alojamento. VII -
Apoderamento de documentos ou objetos pessoais é qualquer forma de posse ilícita
do empregador ou preposto sobre documentos ou objetos pessoais do trabalhador.”
[14]“Art. 4º O Cadastro de Empregadores previsto na PI MTPS/MMIRDH nº 4,
de 11.05.2016, será divulgado no sítio eletrônico oficial do Ministério do Trabalho,
contendo a relação de pessoas físicas ou jurídicas autuadas em ação fiscal que tenha
identificado trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravo.
[...]
§ 3º Para o recebimento do processo pelo órgão julgador, o Auditor-Fiscal do
Trabalho deverá promover a juntada dos seguintes documentos:
[...]
II - Boletim de Ocorrência lavrado pela autoridade policial que participou da
fiscalização.”
[15]“Art. 7º As ações fiscais para erradicação do trabalho em condição análoga
à de escravo serão planejadas e coordenadas pela Secretaria de Inspeção do
Trabalho, que as realizará diretamente, por intermédio das equipes do Grupo Especial
de Fiscalização Móvel, e pelas Superintendências Regionais do Trabalho (SRT), por
meio de grupos ou equipes de fiscalização.
Parágrafo Único. As ações fiscais previstas no caput deverão contar com a
participação de representantes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia
Militar Ambiental, Polícia Militar, Polícia Civil, ou outra autoridade policial que garanta
a segurança da fiscalização.”
[16]“Art. 6º A Administração Central do Ministério do Trabalho e as
Superintendências Regionais do Trabalho deverão prover a Inspeção do Trabalho de
todos os recursos necessários para a fiscalização e combate ao trabalho em
condições análogas às de escravo, cujo combate será prioritário em seus
planejamentos e ações.”
[18]“Art. 4º O Cadastro de Empregadores previsto na Portaria Interministerial
MTPS/MMIRDH nº 4, de 11.05.2016, será divulgado no sítio eletrônico oficial do
Ministério do Trabalho, contendo a relação de pessoas físicas ou jurídicas autuadas
em ação fiscal que tenha identificado trabalhadores submetidos a condições análogas
à de escravo.
§ 1º A organização do Cadastro ficará a cargo da Secretaria de Inspeção do
Trabalho (SIT), cuja divulgação será realizada por determinação expressa do Ministro
do Trabalho.”
[19]“Art. 14 O Cadastro de Empregadores previsto na Portaria Interministerial
MTPS/MMIRDH n.º 4/2016 será divulgado no sítio institucional do Ministério do
Trabalho na rede mundial de computadores, contendo a relação dos administrados
autuados em ação fiscal em que tenham sido identificados trabalhadores submetidos
a condições análogas à de escravo.
§ 1º A inclusão do empregador somente ocorrerá após a prolação de decisão
administrativa irrecorrível de procedência do auto de infração lavrado na ação fiscal
em razão da constatação de submissão de trabalhadores em condições análogas à
de escravo.
§ 2º A organização e divulgação do Cadastro ficará a cargo da DETRAE, cuja
divulgação será realizada na forma do caput. § 3º A Assessoria de Comunicação e
demais órgãos do Ministério do Trabalho deverão garantir todos os meios necessários
para que a Secretaria de Inspeção do Trabalho possa realizar a divulgação do
Cadastro prevista no caput e no art. 2º da Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH n.º
4/2016.”
[20]“Art. 4º Aplica-se o disposto nesta Portaria aos casos em que o Auditor-
Fiscal do Trabalho identifique tráfico de pessoas para fins de exploração de trabalho
em condição análoga à de escravo, desde que presente qualquer das hipóteses
previstas nos incisos I a V do artigo 1º desta Portaria.
Parágrafo Único. Considera-se tráfico de pessoas para fins de exploração de
trabalho em condição análoga à de escravo o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou
uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso
de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra.”

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