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Revista Brasileira de Análise do Comportamento / Brazilian Journal of Behavior Analysis, 2010,Vol.

6, Nº 2, 187-202

INTERVENÇÃO EM GRUPO PARA ENSINO DE PRÁTICAS PARENTAIS A


MÃES DE CRIANÇAS COM PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO1

GROUP INTERVENTION TO TEACH PARENTING SKILLS TO MOTHERS OF


CHILDREN WITH BEHAVIORAL PROBLEMS

Alex Eduardo Gallo,2 Leonardo Cheffer,3 Amanda Oliveira de Morais,


Geysa Machado Cascardo, Ariadne Cristina Suzuki de Lima e Angélica Cubas Duarte
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

RESUMO
O presente estudo avaliou os efeitos de um programa de intervenção com o objetivo de ensinar práticas parentais a oito mães
de crianças com queixa clínica de problemas de comportamento. O programa é uma replicação de estudo anterior, consistindo de
10 sessões de intervenção para avaliar adesão e resultados em população diferente. Foram utilizados Child Behavior Checklist (CBCL),
entrevista com as mães e Inventário de Estilos Parentais (IEP). Vários temas foram trabalhados, como o estabelecimento de limites,
regras e análise funcional dos comportamentos inadequados dos filhos. Os dados foram comparados com o estudo anterior no qual
foram baseados, que consistiu em seis sessões com os mesmos temas, acrescidos de dois instrumentos de avaliação (Inventário de De-
pressão e Escala de Autoestima), e foi conduzido com mães de adolescentes infratores. Das oito participantes, somente três terminaram
o programa, indicando baixa adesão. Os resultados indicaram diminuição nos problemas de relacionamento com os filhos (pré-teste
médio no CBCL de 76,8 e pós-teste de 66,3; pontuação média pré-teste no IEP de –1,57 e pós-teste de 5,33). Esses resultados são
próximos aos encontrados anteriormente (pré-teste médio no CBCL de 67,4 e pós-teste de 52,2; pontuação média pré-teste no IEP
de –21 e pós-teste de –11,5).
Palavras-chave: práticas parentais, intervenção em grupo, problemas de comportamento.

ABSTRACT
The present study evaluated the effects of an intervention program to teach parenting skills to eight mothers of children with
behavioral problems. The program is a replication of a previous study, comprising ten intervention sessions to access adherence and
effects in different population.We used the Child Behavior Checklist (CBCL), interview with mothers, and Parenting Skills Inventory
(IEP). Several subjects were accessed as limits establishment, rules and functional analysis of inadequate children behaviors. Data were
compared to earlier study that this one was based, that had six sessions with same subjects, plus two evaluation instruments (Depres-
sion Inventory and Self-Esteem Scale) and applied to young offenders’ mothers. Among the eight participants, only three finished the
program, indicating low adherence. Results indicated decrease on problems dealing with children (average 76.8 on CBCL pretest and
66.3 on posttest; average –1.57 on IEP pretest and 5.33 on posttest). Results are close to those found previously (pretest of 67.4 on
CBCL and posttest of 52.2; –21 on IEP pretest and –11.5 on posttest).
Keywords: parenting skills, group intervention, behavior problems.

Padovani e Williams (2005) avaliaram um quais foram ensinados, além das técnicas de
programa de intervenção, baseado na promo- resolução de problemas, relaxamento, análi-
ção de habilidades de resolução de problemas, se de pensamentos disfuncionais, análise do
com quatro adolescentes em conflito com a comportamento impulsivo/agressivo, treino
lei. O programa consistiu em 10 sessões, nas de controle de raiva, treino de assertividade e

1
Este estudo teve apoio da Fundação Araucária, Convênio no 233/2010. Endereço para correspondência: Departamento de Psicologia Geral
e Análise do Comportamento. Universidade Estadual de Londrina, Rod. Celso Garcia Cid, km 380 (Caixa postal 6001). Londrina/PR. CEP:
86055-900. Tel.: (43) 3371-4227.
2
Laboratório de Análise e Prevenção da Violência/Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Psicologia Geral e Análise do Com-
portamento. Universidade Estadual de Londrina. E-mail: aedgallo@uel.br
3
Mestrado em Análise do Comportamento.

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A. E. GALLO ET AL.

time-out. Os resultados mostraram que todos O programa desenvolvido por Armstrong


os participantes passaram a não apresentar et al. (2003a, 2003b) tem como característica
sintomas depressivos, e dois deles diminuí- fundamental um processo de grupo, com o
ram os índices de raiva. objetivo de fortalecer a habilidade parental
Leschied, Andrews e Hoge (1993) apon- de criar limites apropriados, em vez de con-
tam que intervenções baseadas em um refe- denar ou rejeitar a criança. O processo é de-
rencial teórico cognitivo-comportamental senvolvido para auxiliar os pais a discriminar
têm apresentado melhores resultados na di- fatores que tornam difícil o estabelecimento
minuição das práticas de atos infracionais, de limites.
comparado com outras abordagens. Os pro- Foram encontrados poucos estudos no
gramas de intervenção que usaram somente Brasil sobre intervenção com pais de adoles-
aconselhamento não foram efetivos. Aqueles centes com problemas de comportamento.
que usaram treinamento de habilidades in- Para tanto, foram consultadas as bases de da-
terpessoais tiveram melhores resultados (Zie- dos do Scielo, Periódicos Capes e PsychInfo.
gler, Taussig, & Black, 1992). As pesquisas concernentes a essa problemáti-
Gallo e Williams (2010) apontam que ca ainda são em pequeno número e integram
a intervenção deveria ensinar estratégias de de maneira modesta a produção científica in-
resolução de problemas e habilidades sociais ternacional (Bazon & Estevão, 2004).
aos adolescentes, o que refletiria na maneira Ormeño (2004) avaliou um programa
pela qual os jovens enfrentariam seus conflitos de intervenção com crianças pré-escolares
(Bender & Losel, 1997; Padovani & Williams, agressivas, dirigidos a pais e professores, com
2005). Além disso, Armstrong, Wilkis e Mel- o intuito de reduzir o nível de agressivida-
ville (2003a) assinalam que muito tem sido de das crianças. A autora lidou diretamente
escrito sobre pais como fonte de influência com as crianças, em suas casas e nas escolas,
nos comportamentos desviantes dos jovens, reforçando positivamente os comportamen-
embora pouco tenha sido relatado sobre as tos adequados e ignorando os inadequados.
dificuldades que pais de adolescentes consi- Como resultado, as crianças reduziram o ní-
derados delinquentes sofrem, sendo os pais vel de agressividade diante da pesquisadora,
os principais agentes de promoção de condi- mas essa redução não foi generalizada para
ções para que os jovens desenvolvam estraté- outros contextos.
gias de resolução de problemas. Gallo e Williams (2010) fizeram um es-
Armstrong et al. (2003a, 2003b) apon- tudo avaliando um programa de ensino de
tam que a terapia familiar tem sido inefi- habilidades parentais a mães de adolescentes
caz em induzir mudança comportamental em conflito com a lei. Os autores propuseram
em jovens que apresentam comportamentos o estudo com base em resultados de estudos
agressivos, enquanto programas de treino anteriores, que apontaram que a maioria dos
de pais, utilizando intervenções baseadas na adolescentes em conflito com a lei não fre-
família desenvolvidas para ensinar estabele- quentava a escola. Esse fato foi associado ao
cimento de limites, têm mostrado ser mais número crescente de reincidências em medi-
efetivos. da socioeducativas, ao uso de entorpecentes

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INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

e ao uso de armas (Gallo & Williams, 2008). Método


O baixo nível educacional foi associado ao
alto grau de severidade da infração (Gallo & Participantes
Williams, 2005); os adolescentes com nível Participaram deste estudo oito mães
educacional mais alto viviam com ambos de crianças e adolescentes com problemas
os pais, enquanto aqueles com menor esco- de comportamento. As participantes foram
laridade viviam somente com a mãe. Inter- recrutadas na clínica-escola da universidade
venção diretamente com as mães é útil, uma na qual o estudo foi conduzido e passaram
vez que o fato de a família ser monoparental por procedimento de triagem nessa clínica-
chefiada por mulher pode ser um fator de -escola, sendo convidadas a participar por
risco para a severidade da infração (Gallo & contato telefônico. Todas procuraram a clí-
Williams, 2005). nica-escola com queixa de problemas de
O presente estudo teve como objeti- comportamento dos filhos e buscavam aten-
vo avaliar os efeitos de um programa para dimento para as crianças. Vinte e três mães
ensino de habilidades parentais a mães de foram triadas, mas somente 17 aceitaram par-
crianças e adolescentes com problemas de ticipar; contudo, apenas oito compareceram
comportamento, com base na replicação do às sessões de intervenção. Aquelas que não
trabalho de Gallo e Williams (2010), que ava- aceitaram participar do estudo continuaram
liou um programa de ensino de habilidades na fila de espera da clínica-escola, para serem
parentais a mães de adolescentes em confli- atendidas por outros profissionais e estagiá-
to com a lei. No estudo original (Gallo & rios, de acordo com a capacidade da clínica.
Williams, 2010), os autores apontaram que No primeiro encontro, foram explicados os
as mães aprenderam práticas parentais e con- objetivos do estudo e assinado o Termo de
sequentemente reduziram conflitos com os Consentimento Livre e Esclarecido. Ape-
filhos, embora houvesse baixa adesão. Esses nas três mães terminaram o programa de
autores sugeriram que novos estudos fossem intervenção em sua íntegra.
conduzidos, com um número maior de ses-
sões e com populações diferentes, a fim de Local
identificar possíveis resultados em termos As sessões foram conduzidas, na clínica-
de aquisição de habilidades parentais, redu- -escola da universidade, em uma sala reser-
ção de conflitos com os filhos e aumentar a vada. Com o objetivo de reduzir a evasão,
adesão. A partir dessas sugestões, o presente ocorriam das 19h às 21h, sendo oferecido
estudo buscou avaliar os efeitos da interven- um lanche, composto por café, refrigerantes,
ção em uma população diferente (mães de bolachas, bolos e salgados, em todas as sessões.
crianças e adolescentes com problemas de
comportamento), embora com queixas se- Instrumento de coleta de dados
melhantes (relacionadas com agressividade O Child Behavior Checklist (Achenbach,
e comportamentos disruptivos), usando um 1991; Bordin, Mari, & Caeiro, 1995) é um
número maior de sessões, com atividades e questionário�����������������������������
que avalia a competência so-
objetivos semelhantes aos do estudo original. cial e os problemas de comportamento em

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A. E. GALLO ET AL.

crianças e adolescentes com base em infor- distribuídas espaçadamente ao longo do in-


mações fornecidas pelos pais. É composto de ventário. O resultado é dado pela diferença
138 itens, sendo 20 destinados à avaliação da entre o total das duas categorias (positiva e
competência social e 118 relativos à avaliação negativa).
de seus problemas de comportamento. Os es-
cores indicam as categorias “não clínica” (até Procedimento
67 pontos), “limítrofe” (de 67 a 70 pontos) e Após a assinatura do Termo de Consenti-
“clínica” (acima de 70 pontos). mento Livre e Esclarecido, foi realizada a en-
Roteiro de entrevista. A entrevista, elabora- trevista, individualmente, com as participan-
da pelos autores, foi composta por 45 ques- tes em horários de sua conveniência, previa-
tões que abordam assuntos como: histórico mente agendados. A entrevista teve duração
de violência doméstica, disciplina utilizada aproximada de 20 minutos e foi realizada na
com os filhos, impressão que os pais têm dos instituição, em horário regular de atividades,
amigos dos filhos, monitoramento das ativi- em uma sala reservada. Após as entrevistas, foi
dades dos filhos e informações sobre a dinâ- aplicado o Child Behavior Checklist e, depois,
mica familiar. o Inventário de Estilos Parentais.
Inventário de estilos parentais (Gomide, Após essa avaliação, foi introduzido o
2007). Questionário composto por 42 ques- programa de intervenção composto por 10
tões, que correspondem às sete práticas edu- sessões em grupo. Finalmente, foi feita uma
cativas, sendo duas positivas e cinco negativas sessão para coleta de dados pós-intervenção.
(monitoria positiva; comportamento moral; A Tabela 1 apresenta uma síntese com-
punição inconsistente; negligência; disciplina parativa entre as participantes, os instrumen-
relaxada; monitoria negativa; abuso físico). tos e o procedimento do estudo de Gallo e
Para cada prática educativa há seis questões, Williams (2010) e os do presente trabalho.

Tabela 1
Dados das participantes, instrumentos de coleta de dados e procedimento nos dois estudos

Gallo e Williams (2010) Presente estudo


Participantes Dez mães de adolescentes em conflito com a lei, Oito mães de crianças e adolescentes com
selecionadas por indicação de uma instituição problemas de comportamento, recrutadas
responsável pelo atendimento dos filhos na clínica-escola da universidade
Instrumentos Child Behavior Checklist (CBCL) Child Behavior Checklist (CBCL)
Roteiro de entrevista Roteiro de entrevista
Inventário de Estilos Parentais Inventário de Estilos Parentais
Escala de Autoestima de Rosenberg
Inventário de Depressão de Beck
Procedimento Realização da entrevista, aplicação do CBCL, Realização da entrevista, Aplicação do
Inventário de Depressão, Escala de Autoestima, CBCL, Inventário de Estilos Parentais
Inventário de Estilos Parentais Sessões 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
Sessões 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Aplicação dos mesmos instrumentos
Aplicação dos mesmos instrumentos anteriores anteriores

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INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

Programa de intervenção são. Optou-se em avaliar somente a aquisição


O programa foi desenvolvido por Gallo de habilidades parentais e se isso refletiria na
e Williams (2010) com base no modelo de redução de conflitos com os filhos, excluin-
intervenção com famílias de adolescentes em do as demais medidas, pois as participantes
conflito com a lei desenvolvido por Arms- não relataram queixas na triagem.
trong et al. (2003a, 2003b). O programa de A Tabela 2 apresenta um sumário das ses-
intervenção teve as características de grupo sões de intervenção nos dois estudos.
terapêutico, no qual as participantes pode- Segue uma breve descrição de cada ses-
riam discutir e refletir sobre sua história de são do programa de intervenção. Os temas
vida, e envolveu treinamento das seguintes propostos nas sessões foram baseados nas in-
habilidades: combate ao estresse, estilos pa- formações prestadas pelas participantes du-
rentais, estabelecimento de limites e uso de rante a entrevista inicial, isto é, os temas fo-
disciplina não coercitiva. Cada sessão tinha ram baseados em situações reais vivenciadas
duração média de uma hora e meia. As ses- pelas participantes. Gallo e Williams (2010)
sões foram conduzidas em grupo com todas conduziram seis sessões de intervenção e, em
as participantes. função da baixa adesão, questionaram se um
As participantes do estudo de Gallo e número maior de sessões poderia reduzir a
Williams (2010) eram mães de adolescentes resistência das participantes, aumentando, as-
em conflito com a lei. Os resultados dessa sim, a adesão, e também se um número maior
intervenção mostraram que as mães apren- de sessões poderia produzir resultados me-
deram habilidades parentais, porém esses au- lhores. Dessa forma, decidiu-se por ampliar
tores indagaram se as sessões elaboradas se- para 10 sessões, mantendo a mesma sequên-
riam igualmente eficazes para ensinar essas cia de atividades, utilizando dois encontros
habilidades a outra população. Dessa forma, para trabalhar os temas que foram conduzi-
o presente trabalho avaliou a aprendizagem dos em um único no estudo anterior.
de habilidades parentais em mães de crianças A primeira sessão teve como objetivo
e adolescentes com problemas de comporta- identificar situações que podem provocar es-
mento, sendo uma característica comum aos tresse, ensinando as mães como controlar essa
adolescentes em conflito com a lei, exceto reação. Em grupo, foi discutido como reco-
pelo fato de não terem praticado um ato in- nhecer sinais de estresse, as dificuldades em
fracional.Assim, buscou-se uma amostra dife- se identificar o estresse, pois geralmente tal
rente, com características comuns, o que per- fenômeno é apenas visto como “cansaço”, e,
mitiria a comparação. Também se optou pela por fim, como combater o estresse. O grupo
redução do número de instrumentos utiliza- era incentivado a dar sugestões e dicas úteis
dos para as medidas de pré e pós-teste, pois a todos os membros. Após essa discussão, fo-
Gallo e Williams (2010) avaliaram os efeitos ram debatidas as situações pessoais de cada
da intervenção na aquisição de habilidades participante que poderiam gerar estresse. Foi
parentais e se esse repertório alteraria os con- enfatizada a participação do grupo em apon-
flitos que elas teriam com seus filhos, assim tar situações e as maneiras de resolvê-las. Ao
como os indicadores de autoestima e depres- final, foi ensinada às participantes a técnica

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A. E. GALLO ET AL.

Tabela 2
Resumo das sessões de intervenção nos dois estudos

Sessão Gallo e Williams (2010) Presente estudo


1 Tema: Combater o estresse Tema: Combater o estresse
Atividade: Leitura de breve texto sobre estresse; Atividade: Leitura de breve texto sobre estresse;
discussão em grupo sobre identificação de sinais discussão em grupo sobre identificação de sinais
de estresse e sobre sugestões e dicas pessoais para de estresse e sobre sugestões e dicas pessoais para
combate do estresse; e relaxamento combate do estresse; e relaxamento
2 Tema: Práticas parentais e violência doméstica Tema: Práticas parentais e violência doméstica
Atividade: Leitura de breve tabela sobre práticas Atividade: Leitura de breve tabela sobre práticas
parentais; discussão em grupo sobre práticas parentais; discussão em grupo sobre práticas
positivas e negativas e sobre exemplos pessoais; positivas e negativas e sobre exemplos pessoais;
leitura de folheto sobre ajuda em casos de leitura de folheto sobre ajuda em casos de
violência doméstica; e discussão sobre formas de violência doméstica; e discussão sobre formas de
violência doméstica e sobre como se proteger violência doméstica e sobre como se proteger
3 Tema: Analisar contingências Tema: Analisar contingências
Atividade: Leitura do material sobre contingência; Atividade: Leitura do material sobre contingên-
discussão em grupo sobre os conceitos; e identifi- cia; discussão em grupo sobre os conceitos; e
cação dos conceitos em suas práticas identificação dos conceitos em suas práticas
4 Tema: Estabelecer limites para os filhos Tema: Estabelecer limites para os filhos
Atividade: Leitura do material; discussão em gru- Atividade: Leitura do material; discussão em gru-
po sobre limites e práticas parentais inadequadas po sobre limites e práticas parentais inadequadas
5 Tema: Uso da disciplina Tema: Estabelecer limites para os filhos
Atividade: Leitura do material; discussão em Atividade: Discussão em grupo sobre limites e
grupo sobre práticas parentais adequadas práticas parentais adequadas
6 Tema: Rever os conceitos Tema: Uso da disciplina
Atividade: Leitura do material; discussão em gru- Atividade: Leitura do material; discussão em
po sobre exemplos de práticas parentais adequadas grupo sobre práticas parentais adequadas
7 Tema: Uso da disciplina
Atividade: discussão em grupo sobre práticas
parentais inadequadas
8 Tema: Uso da disciplina
Atividade: Discussão em grupo sobre estratégias
empregadas pelas mães durante o programa de
intervenção
9 Tema: Rever os conceitos
Atividade: Leitura do material; discussão em
grupo sobre exemplos de práticas parentais
adequadas
10 Tema: Rever os conceitos
Atividade: Discussão em grupo sobre experiên-
cias e exemplos de estratégias empregadas

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INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

de relaxamento muscular progressivo (Jaco- sem a relação apontada entre as figuras. Após
bson, 1964), enfatizando que o relaxamento a discussão, o material intitulado “A anato-
poderia ser utilizado a qualquer hora, com o mia de uma birra” foi utilizado para explicar
objetivo de manter a calma e evitar reações os conceitos de estímulos antecedentes, res-
agressivas. Uma cópia do roteiro de relaxa- posta e consequência. Era solicitado que as
mento foi entregue a cada participante. participantes observassem os quadros A, B e
A segunda sessão teve como objetivo C da figura, que apresentavam a relação entre
analisar as práticas parentais e a ocorrência antecedente e consequência, e identificassem
de violência doméstica. A sessão teve início semelhanças entre os comportamentos que
com a entrega do material “Prática educativa elas observavam em suas casas. Em seguida,
parental” que discutia as práticas positivas e foi utilizado o material “Recompensas” para
negativas, com ilustração. O grupo era incen- explicar o conceito de reforço. O exercício
tivado a dar exemplos de práticas positivas e “Como eu reajo” foi utilizado em seguida,
negativas e como esses exemplos se aplica- para exemplificar a análise funcional. Era so-
vam a suas próprias práticas. Em seguida, foi licitado que as mães ligassem com uma li-
feita uma discussão sobre violência domésti- nha os círculos apresentados, à medida que
ca, levantando os seguintes pontos para dis- ia sendo discutido. Esperava-se que as mães
cussão: quais as formas de violência que po- pudessem utilizar esse conhecimento para
dem ocorrer em casa; quem ou o que pode analisar o que controla seus comportamentos
ser alvo da violência em casa. As participantes e o que controla os comportamentos agressi-
eram instruídas a sugerir formas de violên- vos dos filhos em casa.
cia (física, sexual, psicológica, entre outras) e A quarta sessão teve como objetivo en-
apontar possíveis alvos (elas mesmas, os filhos, sinar a importância dos limites. A sessão teve
animais de estimação, objetos da casa, obje- início com o material “Limite e sua impor-
tos pessoais etc.). Ao final da sessão, foram tância” para subsidiar a discussão. Em seguida,
fornecidas informações de locais nos quais foram utilizados os materiais ilustrados “Pais
as vítimas de violência doméstica pudessem que não prestam atenção”,“Pais que ficam no
procurar ajuda. As participantes eram incen- blá-blá-blá” e “Pais que agridem seus filhos”.
tivadas a sugerir outras fontes de apoio que A quinta sessão, no estudo de Gallo e
conhecessem, assim como dicas pertinentes Williams (2010), teve como objetivo discu-
ao tema. tir o uso da disciplina. A sessão teve início
A terceira sessão teve como objetivo en- com o material “Como estabelecer limites”,
sinar as mães a analisar as contingências que com dicas para ajudar na discussão do grupo.
poderiam manter os comportamentos inade- Em seguida, foi utilizado o material ilustra-
quados dos filhos. Para tanto, a sessão teve do “Exemplo dos pais” para fundamentar a
início com o material “Meu filho se com- discussão. Os materiais “Estabelecer regras
porta mal, por qu��������������������������
������������������������
?”, ilustrado para funda- em acordo”, “Regras razoáveis” e “Pais de
mentar a discussão. O material é como uma acordo” foram utilizados para exemplificar
história em quadrinhos, e era esperado que situações de estabelecimento de regras e li-
as participantes fizessem perguntas e discutis- mites, que podem ajudar o grupo nas dis-

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A. E. GALLO ET AL.

cussões. No presente estudo, a quinta sessão elogiadas e serviam como modelo para as de-
foi continuação da anterior, em que as mães mais; as que não obtiveram resultados espe-
discutiram as maneiras como elas estabele- rados eram revistas e novas estratégias eram
ciam limites em casa. Cada participante foi sugeridas.
incentivada a relatar o que fazia e as demais A nona sessão teve como objetivo rever os
discutiam, apontando estratégias mais efica- conceitos discutidos. A sessão teve início com
zes com base em suas experiências. A função o material “Exemplo de castigo”, seguido por
do coordenador do grupo era incentivar as “Exemplo de diálogo” e “Exemplo de recom-
participantes a propor estratégias a partir do pensas” para ilustrar situações adequadas.
que foi abordado na sessão anterior. A décima sessão era continuação da an-
A sexta sessão, para Gallo e Williams terior, na qual as participantes discutiam suas
(2010), teve como objetivo rever os con- experiências e aproveitamento do programa.
ceitos discutidos. A sessão teve início com Ao final, houve uma confraternização com
o material “Exemplo de castigo”, seguido bolo e refrigerantes.
por “Exemplo de diálogo” e “Exemplo de
recompensas” para ilustrar situações ade- Delineamento experimental
quadas. No presente trabalho, a sessão teve Foi utilizado um delineamento do tipo
como objetivo discutir o uso da disciplina, AB (Cozby, 2003). Esse delineamento con-
tendo início com o material “Como estabe- siste em uma medida de pré-teste, antes da
lecer limites”, com dicas para ajudar na dis- aplicação do procedimento, e em uma medi-
cussão do grupo. Em seguida, foi utilizado da de pós-teste, ao final do estudo.
o material ilustrado “Exemplo dos pais” para
fundamentar a discussão. Os materiais “Esta- Resultados e discussão
belecer regras em acordo”, “Regras razoá-
veis” e “Pais de acordo” foram utilizados para Caracterização das participantes
exemplificar situações de estabelecimento de As idades das participantes, no estudo de
regras e limites, que podem ajudar o grupo Gallo e Williams (2010), variaram de 35 a 47
nas discussões. anos, sendo a média de 40 anos (desvio-pa-
A sétima sessão foi continuação da an- drão de 4,189). Em relação à etnia das par-
terior, em que as participantes discutiam o ticipantes, cinco eram negras, quatro eram
estabelecimento de regras com base em suas brancas e uma, oriental. A maioria das parti-
experiências. Foram utilizados os materiais cipantes (70%) tinha o ensino básico (até a 4a
da sessão anterior para ilustrar possíveis estra- série de escolaridade). No presente estudo, a
tégias que as mães poderiam usar quando do idade das participantes variou de 32 a 50 anos,
estabelecimento de regras. sendo a média de 40 anos (desvio-padrão de
A oitava sessão foi continuação da ante- 6,094). Duas se declararam pardas, uma ne-
rior, na qual as mães relatavam suas tentativas gra e as demais, brancas. As participantes ti-
de estabelecimento de regras e limites, com nham nível educacional mais alto em relação
base no que fora discutido, e havia feedback ao estudo de Gallo e Williams (2010): duas
do grupo. As tentativas bem-sucedidas eram tinham nível superior e uma, especialização.

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INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

No estudo de Gallo e Williams (2010), (estabelecimento de limites); a participante


quando foi perguntado se os filhos das par- CR, na terceira (análise de contingências);
ticipantes já haviam sido considerados agres- KE deixou de participar na quarta sessão
sivos na escola, 80% responderam que sim. (estabelecimento de limites); e a participante
No presente estudo, essa porcentagem foi de CI frequentou somente o primeiro encontro
62,5%. Esse dado deixa claro que os proble- (estresse).
mas que os adolescentes apresentam quan- A baixa adesão, no estudo de Gallo e
do se envolvem em atos infracionais têm seu Williams (2010), poderia ter sido fruto de
início muito antes, na idade escolar (Loeber diversos fatores. As mães dos adolescentes
& Stouthamer-Loeber, 1998; Patterson, De- em conflito com a lei sofreram o impacto de
Baryshe, & Ramsey, 1989; Patterson, Reid, diversos estressores e apresentaram sinais de
& Dishion, 1992; Patterson & Yoeger, 2003). depressão e desamparo. Possivelmente, o pro-
grama de intervenção não atendeu às neces-
Adesão sidades das mães que abandonaram o estudo.
Das 10 participantes que iniciaram o pro- Adicionalmente, o fato de serem mulheres e
grama de intervenção, no estudo de Gallo e o pesquisador ser homem pode ter contri-
Williams (2010), somente quatro o concluíram. buído para a baixa adesão. Um programa de
No presente estudo, oito mães começaram, e intervenção com dois líderes, sendo um ho-
três concluíram as sessões programadas. mem e uma mulher, talvez pudesse facilitar a
No estudo de Gallo e Williams (2010), adesão e a modelação de papéis masculinos
na terceira sessão, uma mãe (I) faltou, não re- e femininos cooperativos e não coercitivos.
tornando nas sessões subsequentes. Na quar- Além disso, há a possibilidade de resistência.
ta sessão, duas mães (D e G) não compare- Resistência é um fenômeno comum e de-
ceram, também não retornando nas sessões corre da possibilidade da exposição a con-
seguintes. Na quinta sessão, a participante tingências aversivas, como, por exemplo, pu-
A não compareceu e não retornou na ses- nição pela revelação de determinados relatos
são seguinte. Na última sessão, as mães B e (Conte & Brandão, 2001). Essa resistência
E não compareceram e não retornaram para pode ser inferida pelo tema abordado na úl-
a avaliação final. Todas essas participantes tima sessão, da qual as mães que desistiram
foram contatadas via telefone e disseram não participaram. Os temas, como ocorrência de
terem mais disponibilidade para continuar violência doméstica, uso inadequado de dis-
no programa. Foi questionada a razão dessa ciplina e análise de contingências, podem ter
falta de disponibilidade e as participantes demonstrado a essas mães que elas estavam
relataram falta de tempo.��������������
O mesmo argu- agindo de forma inadequada.
mento foi utilizado pelas mães no presente Para contornar os problemas enfrentados
estudo. A participante LU deixou o grupo por Gallo e Williams (2010), no presente es-
na quarta sessão, quando foi abordado esta- tudo participou de cada sessão um grupo de
belecimento de limites. A mãe EL abando- terapeutas, composto por um homem e duas
nou na segunda sessão (práticas parentais e mulheres, assim como dois observadores, que
violência doméstica); a mãe MO, na quinta tinham a função de registrar as discussões e

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A. E. GALLO ET AL.

auxiliar na condução das sessões. As partici- tes. Levando-se em consideração os fatores


pantes não eram mães de adolescentes em apontados por Gallo e Williams (2010), o
conflito com a lei, mas de crianças e adoles- presente estudo aumentou o número de ses-
centes com relatos de problemas de compor- sões de seis para 10, na tentativa de que fos-
tamento, como agressividade. Não é possível se abrangente para todas as participantes. As
afirmar que tais mães sofressem um impacto sessões para avaliação de linha de base e final
menor de diversos estressores, mas seus fi- foram reduzidas. As medidas de linha de base
lhos estavam em situação mais favorável do foram tomadas antes do início do estudo,
que os jovens do estudo de Gallo e Williams quando as participantes foram selecionadas,
(2010), embora apresentassem característi- e as medidas de avaliação final foram feitas
cas comuns, como agressividade em casa e em uma única sessão, mais longa (três horas).
na escola e comportamentos disruptivos em
diversos contextos. Como foi apontado por Indicadores de bem-estar psicossocial
Gallo e Williams (2010), a resistência tam- No estudo de Gallo e Williams (2010), os
bém pode ter ocorrido no presente estudo, mesmos instrumentos utilizados antes da in-
inferida pelo tema abordado na última sessão tervenção foram novamente aplicados, indivi-
de que participaram. dualmente, em horário previamente agenda-
No trabalho de Armstrong et al. (2003a, do com as participantes. No presente estudo,
2003b), os participantes assinavam um Ter- foram utilizados menos instrumentos, que
mo de Compromisso que indicava que os foram aplicados antes da primeira sessão e ao
pais deveriam participar das seis primeiras final da última sessão. Em razão do número
sessões (os autores apontam que seis sessões diferente de instrumentos, são apresentados
seriam o mínimo para se obter algum resulta- os dados obtidos em medidas similares, o que
do) e poderiam desistir após o sexto encon- permite comparações.
tro. Devido aos problemas encontrados, que A Figura 1 apresenta os escores atribuí-
atrasaram o início da intervenção de Gallo e dos pelas participantes antes e depois da in-
Williams (2010), esta acabou ficando reduzi- tervenção (pré e pós-teste) no Child Behavior
da ao mínimo sugerido por Armstrong et al. Checklist.
(2003a, 2003b). Possivelmente, um programa No estudo de Gallo e Williams (2010),
de intervenção com mais sessões resultaria quatro������������������������������������
mães continu�����������������������
aram até o final da in-
em mudanças mais acentuadas do que as tervenção, produzindo uma classificação não
obtidas. clínica para problemas de comportamento de
Além disso, outras hipóteses podem ser seus filhos. Todas as mães que terminaram o
alinhadas para explicar a baixa adesão. A in- programa apresentaram melhora significati-
tervenção, no estudo de Gallo e Williams va na avaliação de problemas de comporta-
(2010), demorou a ter início (foram cinco mento de seus filhos. A média antes da in-
sessões de avaliação de linha de base), o que tervenção foi de 67,4, e a média depois da
poderia ter desmotivado as participantes. intervenção foi d��������������������������
e 52,25. No presente estu-
Possivelmente, o programa não foi suficien- do, a redução dos indicadores de problemas
temente abrangente para todas as participan- de comportamento não foi expressiva, como

196
INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

C F C F
100 73 100 10 10
52 58
50 47
50 -5 -5
-5
0
0 -20 -17 -20 -17
Problema de Ausência
Conduta Ausência Ausência
-35 -28 -35

H J H J
100 100 73 10 10
67 56
54
50
50 -5 -5
0 -9
0 Problema de Ausência -20 -15 -20
-22 -20
Limítrofe Ausência Conduta
-35 -35

LU CA
LU CA
103 100 95 81
100 74 7 6
10 10
50 50
-5 -1 -5
-3
0 0
Problema de Problema de Problema de Problema de -20 -20
Conduta Conduta Conduta Conduta
-35 -35

MA
MA
100
10 3
44
50
-5
0
0
-20
Ausência Ausência
-26
-35
Figura 1. Escores atribuídos por cada participante a seus
filhos no Child Behavior Checklist antes (barras escuras) e
Figura 2. Escores obtidos por cada participante no Inven-
depois da intervenção (barras hachuradas) (Gallo).
tário de Estilos Parentais antes (barras escuras) e depois da
intervenção (barras hachuradas) (Gallo).
no estudo anterior (duas participantes indi-
caram que os filhos ainda apresentavam es-
cores limítrofes e clínicos para problemas de vas do total de práticas positivas, o resultado
comportamento). A média inicial foi de 76,8, pode ser um valor negativo quando as práti-
e a final foi de 66,3. cas negativas ocorrem com mais frequência
A Figura 2 apresenta os escores obtidos do que as positivas.
pelas participantes antes e depois da inter- No estudo de Gallo e Williams (2010), o
venção (pré e pós-teste) no Inventário de Es- índice de estilo parental médio obtido antes
tilos Parentais. O escore nesse instrumento é da intervenção foi de –21. O índice de estilo
calculado segundo a fórmula (A + B) – (C + parental médio obtido depois da interven-
D + E + F + G), na qual A significa moni- ção foi de –11,5. Nota-se que três das quatro
toria positiva, B representa comportamento participantes obtiveram uma diminuição dos
moral, C refere-se a punição inconsistente, D índices inadequados de aproximadamente 11
significa negligência, E representa disciplina pontos em seus índices de estilo parental. A
relaxada, F refere-se a monitoria negativa e G participante H foi a que obteve a menor di-
significa abuso físico. Como o escore é calcu- ferença após a intervenção (sete pontos). No
lado subtraindo-se o total de práticas negati- presente estudo, o índice médio inicial foi de

197
A. E. GALLO ET AL.

–1,57 e, ao final da intervenção, essa medida tuação foram: disciplina relaxada, seguida por
foi de 5,33. monitoria negativa e depois por negligência.
A Figura 3 apresenta os índices obtidos Nota-se que essas categorias estão condizen-
por cada participante nas diferentes categorias. tes com estudos anteriores, que apontam que
No estudo de Gallo e Williams (2010), pais de adolescentes em conflito com a lei
as categorias que apresentaram maior pon- utilizam uma disciplina inconsistente com

C F

H J

LU CA

10 10

5 5

0 0
A B C D E F G A B C D E F G

MA

10

0
A B C D E F G

Figura 3. Escores obtidos por cada participante nas diferentes categorias do Inventário de Estilos Parentais, antes (barras
escuras) e depois da intervenção (barras hachuradas). Legenda: A = monitoria positiva; B = comportamento moral; C
= punição inconsistente; D = negligência; E = disciplina relaxada; F = monitoria negativa; e G = abuso físico (Gallo).

198
INTERVENÇÃO EM PRÁTICAS PARENTAIS

seus filhos (Armstrong & et al., 2003a, 2003b; de problemas de comportamento. Esse dado
Berri, 2004; Jaffe, Baker, & Cunningham, pode indicar que as participantes tenham
2004; Schrepferman & Snyder, 2002). No passado a lidar de forma mais eficiente com
presente estudo, as mães apresentaram bons seus filhos, refletindo nos comportamentos
índices de monitoria positiva e de comporta- dos adolescentes. O mesmo pode ser visto
mento moral, e, dentre as variáveis negativas, por meio do Inventário de Estilos Paren-
a negligência e a monitoria negativa foram as tais. Antes da intervenção, o índice de esti-
que tiveram maior pontuação. lo parental médio foi de –21 e, ao término
Gallo e Williams (2010) apontaram que, do programa, esse índice foi elevado para
antes da intervenção, as participantes apre- –11,5, o que indica que as mães relataram
sentaram escores abaixo de cinco nas cate- que passaram a usar mais práticas educativas
gorias positivas (A e B) e acima de cinco nas positivas e menos negativas. É possível que
categorias negativas (C, D, E, F e G). Após as participantes passassem a ver os filhos de
a intervenção, as participantes obtiveram au- outra forma, valorizando mais os compor-
mento nos escores das categorias positivas tamentos adequados que eles apresentavam.
e diminuição nas categorias negativas. En- A intervenção não foi suficiente para alte-
tretanto, verifica-se que o aumento nas ca- rar o pêndulo para práticas positivas. Isso só
tegorias positivas foi pequeno (um ponto), seria possivelmente viável em projetos mais
enquanto o decréscimo nas categorias nega- abrangentes e de longa duração. Pesquisas
tivas foi mais acentuado. No presente estudo, futuras com recursos metodológicos mais
não foi observada a mesma relação, ou seja, sofisticados poderiam dar suporte a essas
as participantes já apresentavam indicadores hipóteses.
positivos. ���������������������������������
Talvez o programa tenha propicia- No presente estudo, o escore médio an-
do que as mães reconhecessem suas práticas tes da intervenção no Child Behavior Che-
inadequadas, mas tenha sido pouco efetivo cklist foi de 76,8, o que representa uma clas-
em ensinar práticas adequadas. Talvez o uso sificação clínica para problemas de compor-
de outras técnicas, como video-feedback (Rios tamento, e, após a intervenção, esse escore
& Williams, 2008), fosse mais procedente. médio foi reduzido para 66,3, o que ainda
representa uma classificação clínica. Apesar
Conclusões desses dados, antes da intervenção, o índice
médio no Inventário de Estilos Parentais foi
Nos dois estudos, as mães participaram de –1,57 e, ao término do programa, esse ín-
ativamente das tarefas propostas durante a dice foi elevado para 5,33, o que indica que
intervenção. No estudo de Gallo e Williams as mães passaram a usar mais práticas positi-
(2010), o escore médio antes da interven- vas. A intervenção não foi suficiente para re-
ção no Child Behavior Checklist foi de 67,4, duzir problemas de comportamento, apesar
o que representa uma classificação clínica de as mães apresentarem bons indicadores de
para problemas de comportamento, e, após a práticas parentais.
intervenção, esse escore médio foi reduzido No estudo de Gallo e Williams (2010),
para 52,25, o que representa ausência clínica a maioria das participantes (80%) respondeu

199
A. E. GALLO ET AL.

que seus filhos já foram considerados agres- enquanto as mães estivessem participando
sivos na escola, apresentando problemas des- das sessões.
de a infância, mas nunca encontraram aju- Também é possível considerar que algu-
da para esses problemas. Considerando esse mas mães podem ter deixado de participar
dado, optou-se por propor o programa de das sessões por já acreditarem que haviam
intervenção a mães que tinham queixa dos resolvido o problema. Uma vez que foi en-
filhos sendo agressivos, como uma tentativa sinado como analisar as contingências que
de prevenção da prática infracional. pudessem manter os comportamentos ina-
Fica evidente, nos dois estudos, a falta de dequados das crianças, é possível que as mães
recursos para pais que enfrentam problemas entendessem que saber como fazer isso já
com seus filhos. Soma-se a isso a falta de re- seria suficiente para manejar comportamen-
cursos públicos e a falta de profissionais pre- tos indesejáveis. Sugere-se que avaliações
parados para enfrentar os desafios de promo- contínuas sejam feitas, em relação à satisfação
ver o desenvolvimento de crianças de risco e das participantes em cada sessão do progra-
prevenir problemas mais graves. ma, assim como o quanto os comportamen-
O contexto terapêutico e o papel do tera- tos delas e dos filhos mudaram ao longo da
peuta relevam-se como aspectos centrais para intervenção. Uma proposta para isso seria a
a explicação, ao participante, das contingên- elaboração de um diário, no qual as mães re-
cias atuantes em seu contexto de vida pessoal latariam o que aconteceu dia a dia, como os
e social (Conte & Brandão, 2001), também filhos se comportaram e como elas reagiram.
conforme afirmam Armstrong et al. (2003a): Assim, seria possível identificar a eficácia das
sessões, além de manter as participantes en-
Os pais precisam expressar seu luto por muitas volvidas ativamente no programa.
perdas dolorosas: a perda do amor e respeito
dos filhos, perda de suas esperanças e aspirações Referências
quanto ao futuro dos filhos, perda da confian-
ça e intimidade com seus filhos, perda do filho Achenbach, T. M. (1991). Manual for the child be-
idealizado, perda do senso de si mesmo como havior checklist/4-18 and 1991 profile. Burlington:
pais bem-sucedidos e a perda da imagem públi- University of Vermont.
ca positiva. Assim como há raiva de terem sido Armstrong, H. A.,Wilkis, C., & Melville, C. (2003a).
abandonados, abusados e rejeitados pelos seus Clinical factors in group psychotherapy for
próprios filhos. (Armstrong et al., 2003a, p. 25) parents of adolescents with disruptive behaviour
disorders. Journal of Adolescent Mental Health,
No presente estudo, algumas mães relata- 15(1), 21-30.
ram não ter disponibilidade para comparecer Armstrong, H. A.,Wilkis, C., & Melville, C. (2003b).
a todas as sessões, porque não tinham com Evaluation of the parent group experience:
quem deixar os filhos, o que poderia ter con- What helps and what hinders. Journal of Adoles-
tribuído para a baixa adesão. Uma proposta cent Mental Health, 15(1), 31-37.
que poderia resolver essa condição seria a Bazon, M. R., & Estevão, R. (2004). A conduta deli-
criação de um espaço para acolher os filhos tuosa na adolescência: introdução à produção da

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