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RESEARCH DESIGN

ou a estrutura de uma
investigação
METODOLOGIAS DE
INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Prof.s Sofia Marques da Silva, Henrique Vaz, Alexandra Doroftei


Parte 1.1
Desenho de investigação

Dois tipos de abordagem investigativa: quantitativa e qualitativa

Desenhos de investigação de abordagem quantitativa:

• Estudos experimentais e quasi-experimentais


• Estudos não experimentais

Métodos mistos
DUAS IDEIAS PRÉVIAS
• “If research did not matter, then we should not do it • "Se a investigação não fosse importante, então não
and taxpayers should not fund it. Assuming research a deveríamos fazer e os contribuintes não a
does matter, then we must do it well, and this deveriam financiar. Partindo do princípio de que a
means a robust approach to research from the investigação é importante, então temos de a fazer
outset…” (Gorard, 2013: 197) bem, e isso significa uma abordagem sólida à
investigação desde o início..." (Gorard, 2013: 197)
• “A good design can fail because of poor or
inappropriate data. But a poor design remains poor • "Um bom projeto pode falhar devido a dados
however good your data is, and whatever type it is. pobres ou inadequados. Mas um mau projeto
A poor design, including no design at all, means that continua a ser mau, independentemente da
you will not be able to draw the kinds of conclusions qualidade dos dados e do seu tipo. Uma má
you want to. Unfortunately, in this situation, you conceção, ou mesmo a ausência de conceção,
may still be tempted to try to draw unwarranted significa que não será possível tirar as conclusões
conclusions, which encourages dishonest appraisal que se pretendem. Infelizmente, nesta situação,
of facts, and disrespect for the research process. It pode ainda ser tentado a tentar tirar conclusões
means that your time, and the time of everyone injustificadas, o que encoraja uma avaliação
involved in or reading about the research, has been desonesta dos factos e o desrespeito pelo processo
largely wasted” (Gorard, 2013: 202) de investigação. Significa que o seu tempo, e o
tempo de todos os que participam ou lêem sobre a
investigação, foi em grande parte desperdiçado"
(Gorard, 2013: 202)
Quais os critérios fundamentais de uma boa pesquisa?

Como podemos aferir que um conjunto de dados é válido?

Qual a qualidade do processo metodológico através do qual os dados são


gerados?

Os dados recolhidos vão permitir responder às questões iniciais?


Deste modo as questões centrais poderão ser...

• Quais as opções epistemológicas de quem faz investigação?

• Quais as opções teóricas e conceptuais?

• Quais as metodologias adotadas?

• Que métodos e técnicas?


Desenho da Investigação ≠ Método

Não confundir o desenho da investigação com o método.

O desenho da investigação diz respeito ao modo como


estruturamos a pesquisa – não está relacionado com nenhum
modelo em particular de recolha de informação qualitativa ou
quantitativa.
Dimensões do desenho
de uma investigação
1. Definição do tópico e questão ou questões de investigação

2. Definição do enquadramento teórico

O que 3. Definição do método

implica? 4. Definição das técnicas de recolha de dados

5. Definição do método de análise dos dados

6. Reportar e disseminar os resultados (escrita)


O tópico
Como saber Perceber se é possível
Esta avaliação é Acesso ao
se um tópico aceder aos possíveis
feita pelo/a terreno:
pode ser participantes e se
investigador/a: estes estariam
estudado?
disponíveis para
participar no estudo.

Viabilidade Perceber se o tempo


de que se dispõe é
temporal: viável para a
realização do estudo.
A questão de Investigação (1)
Qual o propósito de definir a questão ou questões de investigação?
• A sua finalidade é focar a investigação e permitir definir os objetivos.
• Emerge do problema (tópico) definido e tem que ser coerente (implica) com a
abordagem teórica e metodológica.
• Deve possibilitar que o/a investigador/a fique surpreendido com as respostas que
pode vir a obter.

O que
Qual o
estará na
problema, O que pode
origem
qual o ser feito
Questionar: deste
modelo, ou para ser
problema/
qual a melhorado?
situação/
tendência?
fenómeno?
A questão de Investigação (2)
Como se constroi a questão ou questões de investigação?
• Emerge de interesse pessoal e/ou de um problema social identificado.
• Deve ser fundamentada em literatura relevante e/ou dados existentes (dados
secundários).
• Deve ser contextualizada no que já se sabe acerca do problema identificado
(problematização)
• Deve ser clara, pertinente e exequível.

“Historical research has shown that


what is studied and what findings are
produced are influenced by the beliefs of
Título do trabalho/Investigação:
the people doing the research and the
political/social climate at the time the • O “working title” é um elemento muito importante na
research is done.” (Muijs, 2004, p.4) definição do foco do trabalho: orienta o percurso. Mas
deve ser flexível.
• Chegar a uma primeira versão do título é um primeiro
passo na definição do estudo.
Enquadramento teórico

Qual o lugar e o • A teoria deve enquadrar a questão de Investigação, a escolha do


método, e da recolha de dados, assim como a análise dos dados.
papel da teoria • A teoria pode ser construída a partir dos dados
numa investigação? recolhidos/resultados.

Revisão da literatura (passos):


Escolha de palavras-chave;
Pesquisa das palavras-chave em bases de dados (ex: Repositórios institucionais; B-On; EBSCO; Scopus; Web-of-Science)
(tipo de material: livros, artigos em revistas com peer-review);
Seleção da literatura que parece ser central para o tópico;

Construção de um mapa da literatura paralelamente à elaboração de fichas de leitura; resumos; tomada de notas;
Organização da literatura de acordo com os conceitos e abordagens encontradas e pertinentes para o tópico
orientador.
A revisão da literatura

Quando faz sentido? Antes ou após a definição de um tópico


de análise?
Posicionamento teórico

Pós-positivismo Construtivismo
•Determinismo •Compreensão
•Reducionismo •Múltiplos significados
•Observação e medição para os/as participantes
empíricas •Construção social e
•Verificação da teoria histórica
•Geração de teoria

Participativa Pragmatismo
•Político •Consequências da ações
•Orientação para o •Centrado num problema
empoderamento •Pluralístico
•Colaborativo •Orientado para a prática
•Orientação para a no mundo real
mudança
Que tipo de evidências são
necessárias para responder a
uma determinada questão?

Os argumentos convincentes
A qualidade e a quantidade
e os resultados serem
de dados
credíveis/válidos
Escolha do método:
abordagem qualitativa; quantitativa ou mista
Analisar as características e procedimentos de cada abordagem;
Compreender o papel do/a investigador/a em cada uma;
Escolher técnicas de recolha de dados;
Escolher como analisar os dados.

Pós-positivismo Construtivismo
• Determinismo • Compreensão A. Qualitativa;
A. Quantitativa;
• Reducionismo • Múltiplos significados Narrativas; Etnografia;
Desenhos experimentais • Observação e medição para os/as participantes
empíricas • Construção social e
Estudos de caso
e quase-experimentais histórica
• Verificação da teoria
• Geração de teoria

Participativa Pragmatismo
A. Qualitativa; • Político • Consequências da ações A. Mista;
• Orientação para o • Centrado num problema Questionários;
Investigação-Ação; empoderamento • Pluralístico
Metodologias • Colaborativo • Orientado para a prática Narrativas; Entrevistas,...
• Orientação para a no mundo real
participativas mudança
QUALI & QUANTI

PREOCUPAÇÃO CENTRAL É A
OS DADOS SÃO NUMÉRICOS E
NATUREZA DO FENÓMENOS, ASSENTA
USA PROCEDIMENTOS
PREDOMINANTEMENTE EM
MATEMÁTICOS NA ANÁLISE.
PALAVRAS/TEXTO
AJUDA A EXPLICAR
DIFERENÇAS OU
COMEÇA COM GRANDES
CORRELAÇÕES ENTRE
QUESTÕES. PROCURA O
VARIÁVEIS MAS NÃO O
COMO E O PORQUÊ.
PORQUÊ.
DESENVOLVE TEORIA. QUALI QUANTI
A AMOSTRA OU POPULAÇÃO INDUTIVO DEDUTIVO PROCURA REDUZIR O VIÉS
PODE SER PEQUENA
FONTES DE DADOS: QUESTIONÁRIOS
FONTES DE DADOS: COM ESCALAS DE TIPO LIKERT;
QUESTIONÁRIOS, OBSERVAÇÕES (CONTAGEM POR
ENTREVISTAS, FGD, FREQUÊNCIAS) E DADOS
ETNOGRAFIA, DIÁRIOS… ESTATÍSTICOS SECUNDÁRIOS

ANÁLISE: DE CONTEÚDO, ANÁLISE: ESTATÍSTICA DESCRITIVA

CONVERSACIONAL, TEMÁTICA, (MÉDIAS, FREQUÊNCIAS);

NARRATIVA, DO DISCURSO ESTATÍSTICA INFERENCIAL (TESTE T,


CORRELAÇÕES, ANOVA)
PROCUPAÇÕES E LIMITES QUE EMERGEM NA ABORDAGEM QUALI E QUANTI

Qualitativo Quantitativo

Preocupações limites Preocupações Limites

• Desejabilidade social ou falsas • É dificil reproduzir e


• Processo de amostragem, incluindo • Tende a não existir
informações por parte dos dificilmente
tamanho da amostra interação humana
participantes generalizável.
• Existem situações que • Possibilidade de os resultados
• Questões éticas complexas.; viés e • Não informa o porquê.
dificilmente podem ser serem generalizáveis (muito
implicação do/a investigador/a
investigadas dependente da amostra)
• Não é possível chegar a • Os dados são, geralmente,
• Codificação adequada dos dados e • Possibilidade de métodos e
respostas definitivas tratados de forma
capacidade de compreender resultados serem reproduzíveis
sobre um fenómeno. agregada, o que limita a
realisticamente.
• Se a investigação é pobre informação por indivíduo
• Capacidade de analisar o contexto a • Medição adequada do(s)
não é possível chegar a
partir do lugar dos/as participantes. construto(s) • Realidades que não
conclusões
podem ser medidas
Estudos experimentais e quase-experimentais

Estudos Estudos quase-


experimentais experimentais
Existe
intervenção Os/as Não existe
Existem dois Realizados sob Existe
direta sobre participantes atribuição
grupos: grupo condições Semelhantes intervenção
os/as são atribuídos aleatória
de estudo e controláveis aos estudos direta sobre
participantes aleatoriamente dos/as
grupo de (controlo do experimentais os/as
(manipulação a um dos participantes a
controlo ambiente) participantes
de uma grupos um dos grupos
variável)

Exemplo: ensaios clínicos não randomizados; ensaios de


Exemplo: ensaios clínicos randomizados (p.e.: testar a campo/de intervenção na comunidade (p.e: testar a
eficácia de um tratamento em pessoas com determinada eficácia de uma intervenção terapêutica em pessoas que
doença) ainda não manifestam uma determinada doença;
prevenção)
Estudos experimentais: Baseado em
Muijs (2004)
Passos para desenhar a investigação

Definir objetivos realistas e exequíveis para a investigação

Definir a população para a qual se pretendem generalizar os resultados, e a amostra

Converter os objetivos em hipóteses (definir hipóteses) testáveis:


•Hipótese nula (H0) – hipótese que define não existirem efeitos/diferenças no que se pretende estudar; neutra;
•Hipótese alternativa (H1) – hipótese que se deseja validar, pelo que define a possibilidade de encontrar efeitos/diferenças do que se pretende estudar

Definir os instrumentos a usar para recolha de dados e definir a intervenção (‘tratamento’/ variável a manipular)
•Os instrumentos devem medir o que se pretende medir (validade) e ser fiáveis (fiabilidade)
•Definir o nível de intervenção adequado para verificar os efeitos em análise (‘dose’ adequada)

Usar o modelo pré-teste pós-teste


•Selecionar os/as participantes e atribuí-los aleatoriamente aos grupos experimental e de controlo (podem ser mais do que um grupo de cada). Os grupos devem ser o mais
semelhantes possível (características) para evitar efeitos externos que influenciem os resultados
•Aplicar o(s) instrumento(s) escolhido(s) aos dois grupos
•Aplicar a intervenção ao grupo experimental (e eventualmente um ‘placebo’* ao grupo de controlo)
•O ambiente deve ser controlado para evitar influência de efeitos externos
•Controlar a aplicação da intervenção (sempre da mesma forma) para evitar o viés do investigador (experimenter bias)
•Aplicar o(s) instrumento(s) aos dois grupos, novamente

Realizar análise estatística (inferencial) para avaliar o efeito da intervenção e reportar às hipóteses definidas (rejeitar ou não a hipótese nula)

*Na pesquisa educacional o placebo pode converter-se numa outra intervenção; por outro lado, o conhecimento de estar a participar numa investigação pode, por si só, alterar os resultados
Baseado em
Muijs (2004)
Estudos quase-experimentais

Mais aptos a ser usados na investigação em contexto educativo

O grupo de controlo denomina-se grupo de comparação

O grupo experimental e o grupo de comparação devem ser o mais semelhantes possível

Necessário considerar os fatores que podem afetar os resultados por forma a que os mesmos
estejam presentes nos dois grupos (experimental e de comparação)

Os/as participantes não são alocados aleatoriamente aos grupos


Vantagens e desvantagens dos estudos experimentais e
quase-experimentais

Vantagens Desvantagens

• Possibilidade de estabelecer • Transferibilidade para o contexto real


causalidade entre variáveis • Dificuldade de colocar em prática em
contextos educativos
• Questões éticas relacionadas com
‘quem beneficia’ da intervenção
(grupo experimental vs grupo de
controlo)
• Dificuldade de controlar o ambiente
(em contexto não laboratorial)

Baseado em
Muijs (2004)
Estudos quantitativos não-experimentais
Survey
(pesquisa por
questionário)

Tipos de
estudos:
Análise de
Pesquisa
dados
observacional
secundários

Baseado em
Muijs (2004)
Survey/pesquisa por questionário
Recolha de dados através de um questionário administrado de variadas formas: presencial, online, telefone.

Apropriado para estudos descritivos ou para aferir relações entre variáveis (não causalidade!)

Fases:
• Definir os objetivos da pesquisa (realistas e exequíveis);
• Definir tipo de desenho (dependente dos objetivos):
• Longitudinal
• Cross-sectional (corte transversal)
• Pré-teste e pós-teste
• Métodos mistos (ex: questionário + entrevistas)
• Definir hipóteses (opcional) (estatística inferencial) ou questão de investigação;
• Definir a população em estudo, a amostra, e o processo de amostragem;
• Desenhar os instrumentos (a qualidade dos dados depende da qualidade dos instrumentos!);
• Testar os instrumentos (estudo piloto)
• Recolher e analisar os dados.
Baseado em
Muijs (2004)
Análise de dados secundários
Uso de bases de dados construídas e disponibilizadas por outros (ex: Eurostat; INE, DGEEC;
IEFP;…)

Ter em consideração que tais bases de dados obedecem a uma racionalidade exterior à da
v/investigação

As condições da testagem e da recolha de dados nem sempre estão clarificadas

No entanto, podem constituir fontes de dados extremamente importantes numa


investigação
Baseado em
Muijs (2004)
Métodos Mistos Baseado em
Creswell (2003)

Combinam abordagem quantitativa com abordagem qualitativa

Baseados na ideia de compreender melhor um problema através


da triangulação de métodos

• Triangulação convergente – considera os resultados convergentes para o


desenvolvimento do conhecimento sobre um problema
• Triangulação holística – considera que resultados divergentes também são importantes
para o desenvolvimento do conhecimento sobre um problema

Admitem minimizar as lacunas/imperfeições dos métodos


individuais
Desenhos de investigação com métodos mistos
Sequencial
A recolha de dados qualitativos e quantitativos é realizada em momentos diferentes
Estratégia sequencial exploratória Estratégia sequencial explanatória
Sequência: Sequência:
1.Recolha e análise de dados qualitativos 1.Recolha e análise de dados quantitativos
2.Recolha e análise de dados quantitativos 2.Recolha e análise de dados qualitativos
Prioridade: Prioridade:
Dados qualitativos Dados quantitativos
Integração de resultados: Integração de resultados:
Na fase de interpretação Na fase de interpretação
Propósito: Propósito:
Usar os dados e resultados quantitativos para ajudar na interpretação dos Usar os dados e resultados qualitativos para explicar e interpretar os
resultados qualitativos resultados quantitativos, especialmente os menos esperados

Serve especialmente para explorar um fenómeno e depois expandir os Serve especialmente para explicar e interpretar relações
resultados (generalização)

Pode ser usada para desenvolver e testar instrumentos


Vantagem: Vantagem:
Fácil de implementar e reportar Fácil de implementar e reportar
Desvantagem: Desvantagem:
Longo tempo de implementação Longo tempo de implementação
Baseado em
Creswell (2003)
Concomitante
A recolha de dados qualitativos e quantitativos é realizada ao mesmo tempo
Estratégia de triangulação concomitante Estratégia incorporada concomitante
Sequência: Sequência:
Recolha simultânea de dados quantitativos e qualitativos Recolha simultânea de dados quantitativos e qualitativos
Prioridade: Prioridade:
Igual entre métodos Uma das abordagens (qualitativa ou quantitativa) tem prioridade sobre a outra.

A abordagem menos prioritária é incorporada (aninhada) na abordagem prioritária

A abordagem aninhada pode responder a uma questão diferente ou procurar


informação em níveis diferentes da abordagem dominante.
Integração de resultados: Integração de resultados:
Na fase de interpretação Na fase de análise
Propósito: Propósito:
Usar dois tipos de diferentes métodos para confirmação, validação cruzada ou Permitir alcançar perspetivas mais amplas sobre um fenómeno
corroboração dos resultados
Permitir estudar diferentes grupos ou níveis relacionados com o fenómeno em
estudo
Vantagens: Vantagens:
Tempo de recolha de dados mais curto Tempo de recolha de dados mais curto

Promove resultados bem fundamentados e validados Obter perspetivas mais abrangentes dos resultados e/ou estudar diferentes níveis
num mesmo estudo
Desvantagens: Desvantagens:
Requer muito esforço e experiência Os dados precisam de ser transformados para poderem ser analisados de forma
integrada
Pode ser difícil comparar os resultados de dois tipos de análise advindas de dados
de tipo diferente Pode ser difícil resolver discrepâncias entre os dados

Pode ser difícil resolver discrepâncias entre os resultados Tendo as duas abordagens prioridades diferentes, pode resultar em evidências
desiguais na interpretação dos resultados
Parte 1.2 (trabalho em grupo)
Formular questão de investigação para o trabalho de grupo (se ainda
não realizado)

Selecionar 2 artigos e identificar nos artigos selecionados:

• a questão de investigação,
• opções paradigmáticas,
• abordagens teóricas,
• método,
• ferramentas de recolha de dados,
• método de análise de dados
RESEARCH DESIGN
ou a estrutura de uma
investigação
METODOLOGIAS DE
INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Parte 2.1
Abordagens qualitativas

• Etnografia
• Estudo de caso
• Estudos biográficos/ narrativas
• Investigação-Ação/ Metodologias participativas
• Grounded theory
Abordagem qualitativa
Um debate epistemológico e técnico
A investigação qualitativa compreende uma série de paradigmas metodológicos e epistemológicos.

Se integrarmos a definição no campo da investigação em educação: a pesquisa qualitativa dedica-se a aprofundar


conhecimento sobre fenómenos que se tornam evidentes nas crenças, compreensões, opiniões, interações, práticas... em
contexto educativo
Os fenómenos não são tidos como garantidos (não se considera que a realidade pré existe à espera de ser conhecida)

A investigação qualitativa rejeita o positivismo.

A abordagem qualitativa foca-se no particular, no construído, e na ideia de que os fenómenos são dependentes do contexto.

CONTUDO... Também pretende gerar quadros teóricos e hipóteses para compreensão sistemática de fenómenos.
Metodologias qualitativas
O/a investigador/a posiciona-se de um modo geral em perspetivas em que procura os diferentes
significados que os sujeitos atribuem a uma situação ou fenómeno. Estes significados são construídos
social e históricamente. O objetivo do/a investigador/a é construir uma teoria ou um modelo de
análise.

• Etnografia
• Estudo de caso
• Estudos biográficos/ Narrativas
Tipos • Investigação-ação / Metodologias participativas
• Grounded-theory
• (…)
Etnografia Baseado em
Creswell (1998)

Tem o propósito de descrever e interpretar um determinado sistema ou grupo cultural e/ou social

Examinam-se os padrões de comportamento, tradições e formas de vida observáveis no grupo

A recolha de dados é extensiva: implica tempo prolongado de permanência no terreno (contexto em estudo)

O/a investigador/a imerge no terreno participando da vida quotidiana do grupo

Importante considerar o impacto do/a investigador/a no contexto e no grupo em estudo

A observação participante é a forma principal de recolha de dados e é registada em notas de terreno (ou notas de campo)

Fases:
•Selecionar contexto/grupo em estudo
•Construir grelha de observação (opcional; de acordo com os objetivos)
•Negociar entrada no terreno e identificar informantes-chave
•Participar no contexto/grupo por tempo suficiente para realizar a recolha de dados (observação participante; também é possível incluir entrevistas ou
outras formas de recolha de dados)
•Registar as notas de terreno logo que possível (fora do contexto em estudo)
•Analisar as notas de terreno e outros materiais empíricos recolhidos
O resultado da etnografia deve implicar uma perspetiva holística onde são incorporadas as perspetivas das pessoas que compõem o grupo
(emic) e a interpretação dos dados, por parte do/a investigador/a, enquadrada na perspetiva das ciências sociais/da educação (etic)
Estudo de caso Baseado em
Creswell (1998)
Trata-se do estudo aprofundado e detalhado de um “sistema delimitado” (caso) (ou de vários – múltiplos casos) no tempo e no espaço:
•Programas
•Eventos
•Atividades
•Organizações (etc.)

Recorre a várias fontes de informação:


•Observação
•Entrevistas
•Material audiovisual
•Documentos (etc.)

Envolve situar o caso num cenário/lugar (físico, social, histórico, económico)

Fases:
•Escolher o caso ou casos a estudar
•Escolher os métodos de recolha de dados
•Realizar a análise:
•Análise holística do caso como um todo | Multicasos: Descrição detalhada e por temas para cada caso (análise intra-caso)
•Análise incorporada de um aspeto específico do caso | Multicasos: Análise temática entre casos (análise transversal)
•Reportar os resultados:
•Apresentar uma descrição detalhada do caso
•Apresentar uma análise e interpretação por temas
•Apresentar as “lições aprendidas” com o(s) caso(s)

Desafios de realizar um estudo de caso:


•Estabelecer um racional para a seleção do caso ou da quantidade de casos e dos métodos de recolha de dados
•Conseguir recolher informação suficiente para produzir uma imagem aprofundada do(s) caso(s)
•Definir quais são as delimitações do(s) caso(s)
•Os estudos multicasos perdem, geralmente, alguma profundidade na análise dos casos individuais
Baseado em
Estudos biográficos / narrativas Creswell (1998)

Trata-se do estudo de um indivíduo e da sua experiência como contada ao/à investigador/a; ou tendo por base documentos em arquivo

Exemplos de estudos biográficos:

•Histórias de Vida
•Narrativas biográficas
•Retratos sociológicos (Bernard Lahire)
São recolhidas informações objetivas sobre experiências e fases do percurso de vida que são organizadas cronologicamente (p.e.: educação,
emprego, relações, etc.), geralmente pelo uso de entrevistas de carácter biográfico

Estas experiências são recontadas pelos/as participantes sob a forma de uma narrativa (história) e depois organizadas por temas que indicam
acontecimentos decisivos da vida dos/as participantes

O/a investigador/a explora os significados das histórias recorrendo aos/às participantes para fornecer explicações e procurar os seus múltiplos
significados

O/a investigador/a procura explicar, interpretar e situar os significados das histórias individuais no contexto sócio-histórico-cultural

Necessária a recolha extensiva de informação sobre os/as participantes

Necessário que o/a investigador/a tenha conhecimento que lhe permita situar e interpretar as histórias no contexto sócio-histórico-cultural
Baseado em:

Investigação-Ação
Gabriot B. (sd). A propos de la recherche-action existentielle de René Barbier Compte-rendu de
lecture du livre Barbier R [1996 ]La recherche-action. Document électronique. https://recherche-
action.fr/labo-social/download/M%C3%A9thodologie/A%20propos%20de%20la%20recherche-
action%20existentielle%20de%20Ren%C3%A9%20Barbier.pdf

A Investigação-Ação é uma metodologia (participativa) que visa a transformação de uma realidade e simultaneamente produzir
conhecimento relativo a essa mesma realidade e às suas transformações

É realizada em conjunto com os/as participantes, que se tornam co-investigadores, formando um investigador-coletivo

A identificação do problema a investigar é realizada com a (ou pela) comunidade com a qual se realiza a investigação-ação

A comunidade participante tem de estar aberta (querer) à mudança/transformação que decorre do processo de investigação-ação

É imprescindível uma relação de confiança entre todos/as os/as participantes (comunidade e investigador/a)

Fases:

•Identificação de um problema que se deseja transformar


•Diagnóstico: recolha e análise de informação (as técnicas podem ser variadas) com vista ao conhecimento do problema
•Conceção de um plano de ação
•Implementação do plano de ação
•Monitorização e avaliação
•Eventual redefinição do plano de ação e reimplementação (ciclo)
Metodologias participativas
“podem ser definidas como um termo abrangente para conceções, métodos e
quadros de investigação que utilizam a investigação sistemática em colaboração
direta com as pessoas afetadas pela questão em estudo, com o objetivo de agir ou
mudar (…) dá prioridade à co-construção da investigação através de parcerias
entre investigadores/as e partes interessadas [stakeholders], membros da
comunidade ou outros com conhecimento interno e experiência vivida”
(Vaughn & Jacquez, 2020)

Os métodos de recolha de dados são variados

Existem várias ‘modalidades’ dentro das metodologias participativas (cf. Vaughn & Jacquez, 2020)

A intervenção dos/as participantes pode variar conforme os momentos da pesquisa


Pontos de
escolha para a
participação
dos/as
participantes

Retirado de
(Vaughn & Jacquez, 2020)
Grounded-theory Baseado em
Creswell (1998)
Pretende gerar ou descobrir uma teoria acerca da forma como as pessoas agem e reagem face a um determinado fenómeno e que está proximamente relacionada
com o contexto em que o fenómeno está a ser estudado
Para tal, o/a investigador recolhe entrevistas, visita frequentemente o campo, desenvolve e relaciona categorias de informação e propõe proposições teóricas ou
hipóteses

São realizadas entrevistas até que os dados se encontrem saturados, ou seja, até que não seja possível encontrar informação nova

Podem também ser realizadas observações ou recolhidos documentos (menos comum)

A análise decorre ‘simultaneamente’ à recolha de dados (processo zigzag: recolha de dados-análise-recolha de dados-análise,…)

Os/as participantes são escolhidos teoricamente – amostragem teórica – para que seja possível melhor construir a teoria (p.e.: heterogeneidade de características)

O processo de analise é sistemático e segue um formato normalizado:


•Open coding (codificação aberta) – formação de categorias iniciais de informação por segmentação. São criadas subcategorias (ou propriedades da categoria-mãe) situadas num
continuum
•Axial coding (codificação axial) – os dados são de novo organizados em torno de uma categoria central relativamente ao fenómeno. Segue um diagrama lógico processual.
•Selective coding (codificação seletiva) – é identificado um ‘enredo’ e registada uma história que integra as categorias do modelo de codificação axial. Nesta fase, geralmente, são
apresentadas proposições ou hipóteses condicionais
•Por fim, pode ser desenvolvida uma matriz condicional que explica as condições sociais, históricas e económicas que influenciam o fenómeno.

O resultado deste processo de análise é uma teoria de nível substantivo (gerada a partir de um contexto)

Desafios:
•É necessário colocar de parte ideias e conceitos teóricos prévios para permitir a emergência da teoria de nível substantivo
•Torna-se difícil determinar quando as categorias estão saturadas ou a teoria detalhada o suficiente
Diagrama de codificação axial em Grounded Theory

1. o/a investigador/a identifica um


fenómeno central, ou seja, uma categoria
central sobre o fenómeno em estudo

2. explora as condições causais: as


categorias de condições que influenciam o
fenómeno

3. especifica as estratégias: as ações ou


interações que resultam do fenómeno
central

4. identifica o contexto e as condições


intervenientes: as condições restritas e
alargadas que influenciam as estratégias Zunker, Christie (2023). Maintaining healthy eating behaviors with women after a
weight management program: A grounded theory approach. Doctoral Thesis.
University of Alabama at Birmingham
https://www.researchgate.net/publication/265205627_MAINTAINING_HEALTHY_E
5. enuncia as consequências: os resultados ATING_BEHAVIORS_WITH_WOMEN_AFTER_A_WEIGHT_MANAGEMENT_PROGRA
M_A_GROUNDED_THEORY_APPROACH
das estratégias para este fenómeno
Baseado em Creswell (1998)
Parte 2.2 (trabalho em grupo)
Elaborar um plano de investigação

• Questão de investigação
• Objetivos
• Escolhas teóricas
• Escolhas metodológicas
• Técnicas de recolha de dados
• Técnicas de análise de dados
Bibliografia
Creswell, J. W. (1998). Qualitative inquiry & research design: Choosing among five approaches (2nd ed.). Sage Publications.

Creswell, J. W. (2002) Research Design: Qualitative, quantitative, and mix-method approach. London: Sage.

Gorard, S. (2013) Research Design. Creating a robust approaches for the Social Sciences. London: Sage.

Muijs, D. (2004). Quantitative research. In Doing quantitative research in education with SPSS. Sage Publications.
https://doi.org/10.4324/9780203703588-9
Tashakkori, A., & Teddlie, C. (1998). Mixed methodology : combining qualitative and quantitative approaches. Sage.

Turner, S. F., Cardinal, L. B., & Burton, R. M. (2017). Research design for mixed methods: A triangulation-based framework and roadmap.
Organizational Research Methods, 20(2), 243–267. https://doi.org/10.1177/1094428115610808
Vaughn, L. M., & Jacquez, F. (2020). Participatory research methods – Choice points in the research process. Journal of Participatory
Research Methods, 1(1). https://doi.org/10.35844/001c.13244
White, P. (2009) Developing research questions: a guide for social scientists. London: Palgrave.

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