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66 | 2014 :
I Guerra Mundial, Globalização e Guerra Total
Dossier: I Guerra Mundial, Globalização e Guerra Total

África e a primeira guerra


mundial
Africa and the First World War
L’Afrique et la Première Guerre mondiale

ANA PAULA PIRES E RICHARD S. FOGARTY


p. 57-77

Resumo
Em 1914, ano da eclosão da Grande Guerra, com excepção da Etiópia, da Libéria e da
União Sul Africana, que eram independentes, da Líbia e de Marrocos que não tinham
sido ainda «formalmente conquistados», o resto do continente africano encontrava-se já
ocupado e dividido entre o Reino Unido, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália e
Bélgica.
Este artigo procura fazer uma síntese da importância de África no contexto da Grande
Guerra, analisando o respectivo contributo humano e material para o conjunto da
beligerância europeia. O texto focará ainda algumas das razões por trás da entrada do
continente africano na I Guerra Mundial, e conclui com uma síntese em torno das
repercussões sociais, políticas e económicas trazidas pelo conflito às relações Europa-
África, e que, em suma, servem para compreender o modo como o continente se foi
«moldando» por forma a conseguir satisfazer os interesses das potências colonizadoras,
durante a guerra.

guerra, globalização, mobilização, África

En 1914, l’année du déclenchement de la Grande Guerre, à l’exception de l’Ethiopie, du


Liberia et de l’Union Sud-Africaine, qui étaient indépendants, de la Libye et du Maroc,
qui n’avaient pas encore été «formellement conquis», le reste du continent africain se
trouvait déjà occupé et divisé entre le Royaume-Uni, la France, l’Allemagne, le Portugal,
l’Espagne, l’Italie et la Belgique.
Cet article propose une synthèse sur l’importance de l’Afrique dans le contexte de la
Grande Guerre, analysant les contributions matérielles et humaines pour l’ensemble des
belligérants européens. Le texte met également l’accent sur quelques-unes des raisons
de la participation du continent africain dans la Première Guerre mondiale, et se
termine par une synthèse sur l’impact social, économique et politique du conflit sur les
relations Europe-Afrique.

In 1914 when the Great War started, with the exception of Ethiopia, Liberia, and the
Union of South Africa, which were independent, Libya and Morocco which had not yet
been «formally conquered», the remaining continent found itself already occupied and
divided between the U.K., France, Germany, Portugal, Spain, Italy and Belgium.
This article attempts to summarize the importance of Africa in the context of the Great
War, analyzing its human and material input on the entire European belligerence. The
paper will focus also some of the reasons behind the entry of the African continent in
World War I, and concludes with a synthesis on the social, political and economic
impact brought by the conflict to the Europe-Africa relations, and that, in short, allow us
to understand how the continent «shaped» itself in order to satisfy the interests of the
colonial powers during the war.

Entradas no índice
Mots-clés : Afrique, guerre, globalisation, mondialisation
Keywords : Africa, war, globalization, mobilization

Texto integral
1 Em 1914, ano da eclosão da Grande Guerra, com excepção da Etiópia, da
Libéria e da União Sul Africana, que eram independentes, da Líbia e de
Marrocos que não tinham sido ainda «formalmente conquistados», o resto do
continente africano encontrava-se já ocupado e dividido entre o Reino Unido,
França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália e Bélgica. O Reino Unido era
então o mais importante poder imperial em África, não apenas em termos de
extensão territorial e população mas, também, porque exercia controlo sobre as
principais rotas comerciais na região situada a sul do Sahara1.
2 Esta nova expansão do império britânico tinha sido iniciada na década de 70
muito por acção do primeiro-ministro Benjamin Disraeli. O chefe de governo
britânico tinha avançado com o argumento de que era necessário conquistar
novos mercados para garantir o escoamento dos produtos das fábricas inglesas,
defendendo, perante a opinião pública, a ideia do império como garante da
hegemonia metropolitana. Foi este argumento que foi apresentado, logo em
1815, para justificar o direito de soberania britânica na colónia do Cabo, já que
o território era considerado essencial para salvaguardar a defesa das rotas
comerciais entre a Grã-Bretanha e a Índia. O primeiro ministro francês e
apoiante do colonialismo, Jules Ferry, utilizou o mesmo argumento, em
França, na década de 80 do século XIX, argumentando que os interesses
estratégicos e económicos, especialmente a necessidade de obter mercados
para os produtos da indústria francesa, tornavam imperativa a aquisição de
mercados coloniais.
3 Falar de África nas origens da Grande Guerra, implica por isso uma reflexão
em torno das características específicas do sistema económico mundial durante
a «Bélle Époque» e das interdependências que, a partir do fim das guerras
napoleónicas, começaram a marcar as relações entre a Europa e o resto do
Mundo, é nesse sentido que devemos olhar para África, como uma região que,
gradualmente, se foi tornando estrategicamente importante. Por isso mais do
que controlar/garantir o acesso a determinadas matérias primas a principal
preocupação dos governos europeus era conseguir conquistar novos mercados,
ainda que, na maioria das vezes, não conhecessem ao certo, e em rigor, o
respectivo potencial futuro. Neste sentido, Karl Marx, e depois dele J.A.
Hobson e até mesmo Lenine, estavam certos ao apontar a busca global de
mercados como um elemento estratégico do capitalismo industrial europeu.
Por esta altura assistimos à construção da primeira «economia global»
integrada, assente num sistema de trocas que incorporava já as partes mais
remotas do planeta. Importa por isso sublinhar a forma como essa
«integração» económica, gradual, do continente africano na economia global,
acabou por ficar marcada por três questões fundamentais: (i) a crescente
rivalidade militar entre a Inglaterra, a Alemanha e a França (ii) a necessidade
de, na sequência da Guerra Civil americana, a Europa encontrar novas fontes
de abastecimento de algodão e (iii) a tentativa de, através da procura de novos
mercados, se superarem alguns dos impactos da depressão económica europeia
de 1873-1896. África era nas palavras de Leopoldo II da Bélgica «a magnificent
cake which would yield up resources and wealth for Europe»2.
4 Pelo menos nesta fase inicial, o interesse e o empenho do Estado
na promoção da expansão ultramarina em África não foi acompanha-
do de igual ambição por parte da iniciativa privada que só começou a despertar
para o potencial do continente na década de 90 do século XIX. É comum
associarem-se três grandes marcos a esta segunda partilha de África:

1. A realização, em 1876, por iniciativa de Leopoldo II da Bélgica, da


Conferência Geográfica de Bruxelas, que esteve na origem da
constituição da Associação Internacional Africana;
2. A expedição iniciada a 7 de Julho de 1887 pelos portugueses Her-
menegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto à África Central,
que surgia na sequência da criação, em 1875, por Luciano Cor-
deiro, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da organização, pouco
tempo depois, na mesma instituição, da Comissão Nacional Portuguesa
de Exploração e Civilização de África, encarregada de preparar as
primeiras grandes expedições científico-geográficas ao continente;
3. E um terceiro momento coincidente com as iniciativas expansionistas
da III República francesa que decorrem entre 1881 e 1885, quando a
Tunísia e Madagáscar se tornaram protectorados franceses3.

5 Na Alemanha eram também vários os grupos de pressão que viam na criação


de uma esquadra ultramarina, e na constituição de um império colonial, uma
nova missão para o Reich; de resto até então tinha sido impossível desenvolver
ou potenciar uma política colonial, à semelhança da que vinha sendo levada a
cabo pela Grã-Bretanha e pela França, colocando no centro das preocupações
de Guilherme I e do seu chanceler, Otto von Bismarck, a necessidade da
Alemanha partir, logo nos primeiros anos da década de 80, à conquista de
novos territórios no continente africano. Bismarck foi contudo prudente nas
suas escolhas, na verdade, numa fase inicial, a sua principal preocupação
passou antes por deixar franceses e britânicos competirem pela ocupação de
novos territórios em África, destinando à Alemanha o papel de mediador
«pacifista». A mudança de paradigma surgirá, de forma mais acentuada, no
final da década de 90 do século XIX quando Guilherme II inseriu a sua política
colonial, num programa mais vasto que tinha como principais objectivos
disputar a supremacia internacional da Grã-Bretanha e da França e, com isso,
conquistar novas áreas de influência para a Alemanha. A decisão fatal de
Guilherme II de desafiar a superioridade naval britânica e desse modo a sua
segurança naval, através do desenvolvimento da Marinha alemã, e as suas
tentativas imprudentes de impedir a ocupação francesa em Marrocos, através
das crises diplomáticas de 1905 e 1911, foram passos importantes em direcção à
guerra. A superioridade económica britânica – integrando poucas novidades de
conteúdo – encontrava-se de certa forma limitada àqueles que tinham sido,
desde o início do século XIX, os seus sectores de influência tradicional
(construção naval, finanças, e exportação de produtos primários); o Reino
Unido desinvestira no desenvolvimento de sectores industriais mais dinâmicos,
bem como em novas tecnologias e começava a ver-se confrontado com os riscos
associados a essa política. Em Setembro de 1882 os ingleses derrotaram o
exército egípcio em Tal El Kasin, assumindo o controlo do País. Em Novembro
de 1890 o arquipélago de Zanzibar, situado ao largo da costa da Tanzânia, era
proclamado protectorado britânico, os seus territórios serviram então de
plataforma para a conquista da África Oriental britânica4. O Uganda era um
dos países mais cobiçados pelos britânicos na região.
6 Apesar do dinamismo impresso pelo Reino Unido, os franceses foram, de
todas as potências colonizadoras, os mais activos na prossecução de uma
política de ocupação militar, tarefa que acabaria por se revelar bastante difícil
para os restantes países envolvidos na «partilha de África». A França tinha
criado em 1894 um Ministério das Colónias, com responsabilidades tutelares
sobre a África ocidental, África Equatorial, Somália francesa e Madagáscar,
deixando a administração da Tunísia e de Marrocos a cargo do ministério dos
Negócios Estrangeiros, e a da Argélia entregue ao Ministério do Interior. Os
territórios sob administração francesa eram periodicamente visitados por
funcionários coloniais, contudo há semelhança do que acontecia nos impérios
britânico e alemão o Ministério das Colónias francês mais do que criar política
tinha como missão principal desenvolver funções de supervisão, acabando por
exercer um poder bastante restrito. De resto, na sua maioria, os titulares das
pastas das colónias eram políticos de segunda linha, com perfis bastante
apagados5. Nos casos britânico e alemão seria o Ministério dos Negócios
Estrangeiros quem se iria encarregar tanto do «sacramble for Africa» como da
ocupação efectiva dos territórios conquistados. Berlim só criou um Ministério
das Colónias em 1907. Governar estes territórios estava assim muito
dependente do estabelecimento de alianças prévias entre as potências
colonizadoras, elites brancas locais e chefes africanos. Por isso à medida que os
problemas foram surgindo, britânicos e alemães, tiveram, muitas vezes, que
improvisar, localmente, formas de os ultrapassar eficazmente. O
estabelecimento de uma «rotina» eficiente de recrutamento de funcionários
coloniais e, consequentemente, a presença de um governo colonial centralizado
demoraria, ainda, vários anos a ser instalada. Em 1914 os distritos de Iringe e
Mahenge (na actual Tanzânia) eram ainda administrados por soldados.
7 A construção de infraestruturas (pontes, portos, estradas, caminhos-de-
ferro, linhas telegráficas) acabou por ser um dos traços mais visíveis da
presença europeia em África entre o final do século XIX e o início da I Guerra
Mundial, funcionando como um motor manifesto de modernização. Estes
sistemas de transportes e comunicações funcionavam tanto como meios
logísticos que auxiliavam a conquista, quer como vias capazes de permitir a
exploração e escoamento de produtos agrícolas (amendoim, algodão, óleo de
palma, cacau e café), por outro lado eram, elementos eficazes de controlo
ideológico e ferramentas de «educação paternalista»6. No início do século XX a
British South Africa Company, fundada por Cecil Rhodes, era o rosto da
modernização nos territórios da África Central britânica, controlando
praticamente todos os depósitos de minerais na região compreendida entre o
Limpopo e o lago Tanganica7. Em 1902 a linha férrea da British South Africa
fazia já a ligação entre Vryburg (na África do Sul), Bulawayo, Salisbúria e o
porto da Beira. Nesse mesmo ano, ficou concluída a construção da linha férrea
Mombaça-Lago Vitória e os fretes que sustentavam o tráfego de caravanas
entre Tanga e Bagamoyo passaram a ser efectuados por comboio8. Três anos
depois a Alemanha seguia percurso idêntico, construindo uma linha férrea cujo
objectivo era fazer a ligação entre o litoral e o interior da África central. No ano
seguinte era a vez dos franceses inaugurarem a ligação ferroviária entre Dakar
e o Níger.
8 A história desta ocupação do continente africano introduz por isso, desde
logo, a questão da importância das regiões periféricas na geopolítica europeia
das últimas décadas de Oitocentos, problemática cujas consequências ganham
maior acuidade se as enquadrarmos no contexto em que eclodiu a Grande
Guerra; vale a pena ter presente que os principais instrumentos de «partilha de
África», após a Conferência de Berlim (1884-1885), foram, na grande maioria
das vezes, tratados diplomáticos celebrados tanto entre europeus e africanos,
como entre potências colonizadoras europeias entre si. O período que medeia
entre o final do século XIX e o início do primeiro conflito mundial deve por isso
ser entendido como uma época de mudança de paradigma, relativamente ao
«status quo» anteriormente existente. Essa transformação verifica-se, desde
logo, a dois níveis:
9 1. África deixou de representar apenas mais um destino de comércio, para se
transformar num território onde a Europa passou a exercer controlo político;
até 1880, 80% do território africano era governado pelos seus próprios reis;
10 2. África surgiu como o palco de um confronto que – se excluirmos as duas
Guerras Bóers (1880-1881 e 1899-1902) que opuseram colonos de origem
holandesa e colonos de origem britânica na região da actual África do Sul –
colocou em confronto, pela primeira vez, brancos contra brancos num
território onde a população negra era maioritária.
11 Os dois impérios mais antigos do continente africano, Portugal e a Etiópia,
apesar das ameaças constantes de alemães e britânicos, tendo em vista a
respectiva partilha – a 16 de Junho de 1894 uma força naval alemã tinha
ocupado o posto português de Quionga e a zona envolvente a Sul do Rovuma, e
de ser já a França quem controlava o acesso ao caminho-de-ferro da Etiópia –
de um modo geral ambos os impérios acabariam por sobreviver às investidas
das duas principais potências. Esta ameaça permanente acabaria, de resto, por
compelir as pequenas potências, como Portugal e a Bélgica, a reforçar ainda os
laços, especialmente económicos, entre metrópole e colónias9.
12 Em 1913 o continente africano representava 7% do total do comércio externo
da Grã-Bretanha e 10% da França. No seu conjunto era com o Egipto, África do
Sul e Argélia que ambos os países mantinham relações comerciais mais
significativas. A importância dos territórios que a França possuía em África
acabava por ser trivialmente encarada tanto por governantes como pela
população francesa em geral10. Os territórios que a França possuía no
continente africano, situados entre o Sahara e o rio Congo, estavam integrados,
na sua maior parte, numa paisagem dominada pelo deserto e pela aridez da
savana. Como apontou Catherine Coquery-Vidrovitch no interior de cada
colónia existiam ainda áreas onde a penetração era precária ou mesmo
inexistente e em que as minorias locais funcionavam como um entrave à
penetração da administração colonial francesa11. A I Guerra Mundial acabaria,
de resto, por coincidir com a última fase da expansão colonial da França12.
13 Por esta altura, as exportações alemãs para as suas colónias em África
cifravam-se em 57,1 milhões de marcos, pouco mais de 2% do valor total do
comércio externo alemão, em 1913. O reich, entre 1894 e 1913, tinha gasto mais
no desenvolvimento e manutenção dos seus territórios coloniais – 1 0002
milhões de marcos – do que o valor total do seu comércio com aqueles
territórios, 972 milhões de marcos13.
14 Em 1914 a Europa controlava 85% do Mundo.
15 Este artigo procura fazer uma síntese da importância de África no contexto
da Grande Guerra, analisando o respectivo contributo humano e material para
o conjunto da beligerância europeia. O texto focará ainda algumas das razões
por trás da entrada do continente africano na I Guerra Mundial, e conclui com
uma síntese em torno das repercussões sociais, políticas e económicas trazidas
pelo conflito às relações Europa-África, e que servem para compreender o
modo como o continente se foi «moldando» por forma a conseguir satisfazer os
interesses das potências colonizadoras, durante a guerra.

Porque é que África se viu envolvida


na Grande Guerra?
16 A 28 de Junho de 1914 o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, Francisco
Fernando, e a sua mulher, a duquesa de Hohenburg, foram assassinados na
capital da Bósnia. Os conspiradores de Sarajevo, incluindo Gavrilo Princip, que
disparou os tiros fatais, eram sérvios bósnios – súbditos do império Austro-
Húngaro – com ligações ao grupo Mão Negra, que os teria armado e ajudado a
atravessar a fronteira14.
17 A diplomacia austríaca tardou a reagir ao assassínio de Francisco Fernando;
só a 23 de Julho, após a garantia dada pelo kaiser de que, em caso de guerra, a
Alemanha alinharia ao lado do Império Austro-Húngaro, é que Viena dirigiu
um ultimato à Sérvia. Importa sublinhar o tom duro com que os Habsburgo se
dirigiram ao governo sérvio, acusando-o de conivência com organizações
terroristas, e impondo-lhe, consequentemente, um conjunto de medidas
punitivas, de que faziam parte: a suspensão de todas as publicações contra os
Habsburgo; a exclusão das escolas de professores que fossem críticos da
administração austríaca e, finalmente, a realização de um inquérito judicial
destinado a apurar os acontecimentos de 28 de Junho, cuja elaboração deveria
contar com a participação de agentes austríacos15. A 25 de Julho a Sérvia
reagiu. Belgrado rejeitava o último ponto do ultimato, considerando-o um
atentado à sua soberania. A posição da Sérvia é, de resto, bastante curiosa
sobretudo se enquadrada num cenário em que o governo analisava já o apoio
da Rússia em caso de confrontação com o Império Austro-Húngaro. A 24 de
Julho o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Sazonov, alertava os
seus colegas de gabinete para a importância de se conferir à Sérvia o estatuto
de protectorado da Rússia, assegurando assim a influência de Moscovo na
região dos Balcãs16.
18 A 28 de Julho a Aústria-Hungria cortou relações diplomáticas com a Sérvia,
iniciando, um dia mais tarde, o bombardeamento de Belgrado. No mesmo dia
Nicolau II ordenou a mobilização geral contra a Alemanha e a Áustria, a que se
seguiu a declaração de guerra de Guilherme II, no início de Agosto. A partir daí
os acontecimentos sucederam-se a um ritmo avassalador: declaração de guerra
da Alemanha à França e invasão da Bélgica; abandono da neutralidade da Grã-
Bretanha e entrada do Império Britânico na guerra. A 12 de Agosto Winston
Churchill implementava o bloqueio naval aos portos alemães do Mar do Norte,
procurando evitar a entrada ou saída de provisões de alimentos.
19 O que tinha começado por ser uma guerra local transformara-se,
rapidamente, numa confrontação entre os dois blocos em que as principais
potências europeias se tinham dividido desde os primeiros anos da década de
80 do século XIX. Nos primeiros dias de Agosto a crise era incontrolável: cinco
das principais potências europeias (Grã-Bretanha, França, Rússia, Áustria-
Hungria e Alemanha) estavam já em guerra, apenas a Itália conseguira, ainda,
manter-se neutral. Sensibilidades políticas e convicções ideológicas diversas
tinham transformado um conflito secundário, situado nos Balcãs, numa guerra
europeia, cujas repercussões se fariam sentir no Mundo inteiro.
20 Em 1914 apesar da presença europeia em África ser bastante expressiva, as
principais potências ainda tentaram chegar a um entendimento por forma a
conseguir que o continente se mantivesse neutral face à guerra que eclodira na
Europa17. De uma forma geral esperava-se que as disposições do Tratado de
Berlim (1885) relativas à neutralidade da bacia convencional do Congo
permitissem evitar que a guerra se alastrasse à África Ocidental e Central18.
Nas vésperas da eclosão da guerra na Europa não existiam quaisquer tensões
entre colonos britânicos e alemães, na verdade, as guarnições militares da
África Oriental britânica e alemã eram pouco expressivas, compreendendo 2
400 oficiais e askaris, e 216 oficiais e 2 540 askaris respectivamente, contudo o
início do conflito criou de imediato um clima de tensão e suspeita entre as duas
comunidades19.
21 A possibilidade da guerra se propagar a África era, na verdade, uma hipótese
que não agradava à Alemanha. A estratégia de Guilherme II passava antes pela
obtenção de uma rápida vitória militar na Europa que lhe abriria a
possibilidade de constituir uma região geoestratégica – Mittleafrika – ligando
os Camarões à África Oriental, estratégia cujo principal objectivo era eliminar o
velho sonho britânico de construir um eixo ligando Cabo-Cairo20. No Togo o
Major Von Doering, comandante militar que exercia as funções de governador
desta colónia alemã, ainda tentou, logo a 5 de Agosto, chegar a um
compromisso com os seus vizinhos da britânica Costa do Ouro e do Daomé
francês para que a colónia se mantivesse neutral, «(...) para não dar aos
africanos o espectáculo de brancos fazerem a guerra a brancos»21. A iniciativa
de Von Doering acabaria por ser encarada como uma manobra que procurava
apenas garantir o funcionamento da estação T.S.F. de Kamina. No dia seguinte
o comandante militar da Costa do Ouro, F.C. Bryant, enviava um ultimato a
Von Doering tendo em vista a rendição do Togo. O governador da África
Oriental alemã, Heinrich Schnee, teria uma atitude semelhante e quando,
ainda nos primeiros dias de Agosto, dois navios britânicos iniciaram o
bombardeamento da capital, Dar es Salaam, Schnee foi favorável à manutenção
da neutralidade. A sua postura esbarraria, contudo, com a posição agressiva do
comandante da «Schutztruppe», Paul Lettow-Vorbeck, que, de imediato,
defendeu que a atitude da Grã-Bretanha deveria ser objecto de retaliação.
Numa posição de clara desobediência a Schnee, Lettow-Vorbeck comandando
um exército composto por 260 alemães e 2 500 askari, invadiu a África
Oriental britânica, dirigindo-se ao Uganda22.
22 Logo após a declaração de guerra da Grã-Bretanha à Alemanha, a 4 de
Agosto de 1914, uma das principais prioridades de Londres foi
eliminar/controlar o potencial estratégico das possessões e colónias alemãs um
pouco por todo o Mundo, orientação que se fez sentir de forma particularmente
activa na América Latina23 e em África e que consistiu em: capturar instalações
portuárias e estações de cabos submarinos. Esse era um dos postulados que se
encontrava inscrito no memorando elaborado pelo cônsul britânico Erroll
Macdonell, acerca das possibilidades da Grã-Bretanha resgatar os negócios
alemães na África Portuguesa, nomeadamente em Moçambique24. O processo
estava concebido para ser aplicado a médio prazo, apoiando-se na capacidade
empreendedora da iniciativa privada e no talento do Estado em encontrar os
meios adequados para estimular e promover o investimento. Vale a pena ter
presente que, apesar das colónias alemãs em África – militarmente pouco
guarnecidas como vimos – não representarem uma grande ameaça para os
territórios vizinhos franceses e britânicos, seria no Togo perto da estação de
telegrafia sem fios de Kamina, logo a 12 de Agosto de 1914, e não na Europa,
que a Grã-Bretanha dispararia o seu primeiro tiro na Grande Guerra, recorde-
se que os britânicos tinha entrado no Lomé, sem oposição, logo a 8 de Agosto.
No final do mês a Grã-Bretanha e a França tinham acordado numa divisão do
Togo para fins de administração militar. Do ponto de vista simbólico este
aspecto é importante para demonstrar a natureza moderna da I Guerra
Mundial, e o carácter global e multirracial do conflito.
23 A verdade é que a estratégia definida pelo Committee for Imperial Defence,
criado em 1902 pelo então primeiro-ministro britânico Arthur Balfour, previa
já que em caso de eclosão de uma guerra na Europa esta dificilmente não se
propagaria às colónias alemãs25.
24 Por tudo isso, os esforços tendo em vista a neutralidade do continente
africano rapidamente sairiam gorados: a 5 de Agosto de 1914 tropas do
protectorado britânico do Uganda atacaram os postos avançados alemães perto
do Lago Vitória, e na União Sul Africana, cujos territórios faziam fronteira com
a colónia alemã do sudoeste africano, o primeiro-ministro Louis Botha e o seu
ministro da Defesa, Jan Smuts, cedo manifestaram o seu apoio ao governo
britânico. Botha e Smuts sabiam bem que, para conservar a sua supremacia
naval, o Reino Unido tinha que controlar tanto o sistema de comunicações,
como os principais portos da Alemanha em África. Foi a pedido de Botha, e
com o apoio do parlamento, que seria organizada a invasão das colónias alemãs
do sudoeste; a 19 de Setembro o porto alemão de Luderitz era ocupado, apesar
das vozes críticas da comunidade Afrikaner que se opunha de forma firme a um
envolvimento da União na guerra. No início de Outubro, Maritz, coronel do
exército da União, acabou por desertar, unindo-se aos alemães. Em Outubro de
1914 cerca de 10 000 soldados de Orange e do Transvaal, juntaram-se à
rebelião que só foi debelada pelo governo em Dezembro26. Em Janeiro de 1915
os alemães abandonavam os portos do norte, graças à acção das tropas sul-
africanas lideradas por Botha27. Na verdade, a rebelião de Outubro de 1914
deixaria claro que o poder e a influência da Grã-Bretanha na União era
indissociável da manutenção de Louis Botha no cargo de primeiro-ministro,
como de resto afirmaria o governador geral de Pretória Sydney Buxton28. A
principal preocupação da Grã-Bretanha durante a I Guerra Mundial foi, acima
de tudo, preservar os ganhos obtidos na África do Sul em 1899 e 1902, na
sequência das duas guerras bóeres, quanto a Botha e Smuts as suas ambições
passavam pela integração, finda a guerra, do sudoeste africano alemão nos
territórios da união sul-africana29.
25 A 23 de Agosto de 1914 o sub-secretário alemão para os assuntos externos
ainda tentou, por intermédio do embaixador norte-americano em Berlim,
conseguir a neutralidade dos Camarões, África Equatorial francesa, África
Oriental alemã, Uganda, Niassalândia, uma parte da Rodésia e a África
Oriental alemã, contudo a proposta seria recusada tanto por britânicos como
por franceses30.
26 A 29 de Outubro de 1914 o Império Otomano entrou na guerra ao lado dos
Impérios Centrais, ameaçando os interesses de britânicos e franceses no norte
de África. Importa por isso reflectir um pouco em torno do impacto e da
importância de África no conjunto dos poderes coloniais, equacionando, desde
logo, os impérios como sistemas de poder. No norte de África, entre as
populações muçulmanas, a conflagração europeia estimulou o desenvolvimento
do nacionalismo potenciando o aparecimento de «guerras religiosas» jihads
contra a Europa. Estas formas de resistência fizeram-se sentir com maior
intensidade em Marrocos, onde Ma’al-Hayba se revoltou contra a presença
francesa31, e na Cyrenaica e em Fezzan onde o líder dos Senussi Sayyid Ahmed
Sharif liderou, logo em 1914, revoltas contra a expansão francesa no Sahara e a
colonização italiana da Líbia. No ano seguinte, o sultão do Darfur, ‘Ali Dinar,
liderava uma revolta contra a Grã-Bretanha e a França, que só terminou com a
sua morte na sequência de uma expedição punitiva liderada pelos britânicos,
em 1916. Também na Somália – protectorado britânico desde 1885 – onde o
líder muçulmano Muhammad ‘Abdullah Hassan vinha lançando desde 1913
várias ofensivas contra britânicos e italianos, as investidas contra a presença
europeia não dariam mostras de acalmia durante os anos de Guerra. A guerra
surgia também como uma oportunidade para as populações africanas se
revoltarem, resistindo à expansão e ao predomínio europeu, recorde-se que a
eclosão da guerra na Europa, e a mobilização militar que se lhe seguiu,
interrompeu a conquista da Líbia e de Marrocos32.
27 A entrada do Império Otomano na guerra acabaria, no entanto, por dar à
Grã-Bretanha a oportunidade de controlar militarmente o Egipto e de o
declarar um protectorado britânico. Entre 1914 e 1918 o Egipto funcionaria
como uma plataforma estratégica, essencial, no combate contra os turcos,
consolidando-se, durante as três décadas seguintes, como o principal eixo do
poder britânico em África e no Médio Oriente.
28 Por seu lado a Bélgica que, pouco tempo depois do assassínio de Sarajevo
tinha, apoiando-se no Tratado de Berlim, invocado a neutralidade da sua
colónia do Congo, logo após a invasão da Bélgica pela Alemanha, a 4 de Agosto,
daria início a uma política de invasão dos territórios alemães em África, na
expectativa de uma vez firmada a paz obter algumas vantagens. Em 1913 o
Congo representava menos de 1% do comércio externo da Bélgica33. Neste
domínio específico, importa ter presente, a forma crítica com que a Grã-
Bretanha vinha observando a política colonial da Bélgica e o modo com que, de
imediato, se mostrou crítica relativamente à possibilidade dos belgas
expandirem o seu território à custa da conquista dos territórios da África
Oriental alemã34.
29 Quanto a Portugal, a defesa da integridade do império colonial português,
tem sido apontada pela historiografia portuguesa como um dos factores
apresentados para justificar a declaração de guerra à Alemanha, em Março de
1916, e a participação portuguesa no teatro de guerra europeu, ao lado da
aliada Grã-Bretanha, no início de 1917. Na verdade e apesar da aliança secular
que mantinha com Portugal, a Grã-Bretanha por duas vezes: em 1898 e em
1912/13, tinha discutido secretamente com a Alemanha a partilha das colónias
portuguesas em África. O início da Grande Guerra tem sido apontado como
uma das razões que impediu a divisão das colónias africanas entre britânicos e
alemães35. O primeiro incidente entre Portugal e a Alemanha em África
aconteceu a 24 de Agosto de 1914 a norte de Moçambique, em Maziúa no
Rovuma, quando o chefe do posto fronteiriço foi morto a tiro ao sair do quarto,
surpreendido a meio da noite por forças alemãs vindas da vizinha África
oriental36.
30 As primeiras tropas portuguesas chegaram a Moçamedes (Angola), e a
Lourenço Marques (Moçambique), respectivamente a 1 e 16 de Outubro de
1914. Ainda em Dezembro desse ano dar-se-ia um novo incidente com tropas
alemãs, desta vez em Angola; as tropas portuguesas sob comando de Alves
Roçadas foram derrotadas em Naulila e forçadas a retirar para Humbe. De
resto, esta proposta de divisão do império colonial português acabaria por
causar, também, alguma apreensão à França, que acabou por a ler como uma
ameaça indirecta à sua colónia de Madagáscar.
31 A I Guerra Mundial contrastou em termos de objectivos, impacto, dimensão
e duração com os muitos conflitos que eclodiram ao longo do século XIX, e que,
tendo sido conduzidos maioritariamente contra populações nativas, foram
travados por objectivos locais e limitados37. O objectivo dos governos coloniais
deveria ser no entender dos próprios colonos europeus brancos, garantir a
pacificação e não combaterem entre si. A crescente rivalidade entre potências
europeias em torno do alargamento dos respectivos impérios coloniais em
África apesar de ter provocado tensões crescentes entre britânicos, franceses e
alemães, acabou por nunca ser argumento, suficientemente forte, para
provocar ou justificar a eclosão de uma guerra como a que aconteceu no Verão
de 191438. Se quisermos colocar esta questão no contexto global em que deve
ser analisada e perspectivada, ela permite-nos perceber, desde logo, como o
mapa de África, desde a última década do século XIX até ao início da I Guerra
Mundial, consubstanciou esta passagem de uma Europa unipolar, onde a Grã-
Bretanha era hegemónica, para um continente cada vez mais multipolar, onde
a presença de países como a Alemanha, a Rússia e a França, se vinha tornando,
cada vez, mais notória, nomeadamente através do estabelecimento de esferas
de influência de intensidade e dinâmicas variáveis, a que vastas áreas de um
continente africano cada vez mais fragmentado não ficaram, como sabemos,
imunes39.
32 É por isso comum dividirem-se os objectivos dos Aliados para a guerra em
África em duas grandes fases: uma primeira de curta duração – apenas
algumas semanas – marcada pela destruição da capacidade ofensiva da
Alemanha e neutralização dos respectivos portos africanos, e um segundo
momento, cujo principal objectivo era garantir a conquista das colónias alemãs,
por forma a evitar que estas servissem de base à subversão dos territórios sob
sua administração40. A Grande Guerra foi assim um conflito europeu que
rapidamente se estendeu a África, em parte devido ao sistema de alianças, em
que a diplomacia europeia do século XIX se tinha alicerçado, contudo continua
a ser no continente negro, sobretudo na competição entre potências europeias
pela posse de colónias e pelo controlo de áreas de influência que se devem
buscar, também, as origens da Grande Guerra.
33 Podemos assim concluir terem sido quatro os principais motivos que
determinaram o envolvimento de África na Grande Guerra:

1. A importância do continente para a Europa;


2. O interesse das colónias alemãs para os aliados, nomeadamente o
papel que poderiam vir a desempenhar nas respectivas estratégias
globais e locais de disputa de poder uma vez assinada a paz;
3. A Alemanha, caso fosse seguida uma política de neutralidade do
continente – poder ter margem de manobra para instigar as populações
africanas a sublevarem-se, contra os colonizadores europeus;
4. O combate em África daria ainda às pequenas potências como
Portugal e a Bélgica, a possibilidade de assegurarem a manutenção da
integridade dos respectivos impérios coloniais, perspectivando-se ainda,
sobretudo no caso belga, a possibilidade da respectiva expansão.

34 Tal como iria acontecer durante o conflito mundial de 1939-1945 os


principais motivos por trás do envolvimento de África na I Guerra Mundial
foram de natureza, predominantemente, política e não militar, enformando
uma estratégia global que nunca foi pensada em termos estritamente
continentais – europeus. Neste sentido uma campanha numa região periférica
como África acabou por desempenhar um papel extremamente importante na
condução da guerra, dando, especialmente, à Grã-Bretanha e aos seus aliados,
mais uma oportunidade de combater a Alemanha. Quando chegamos a 1918
verificamos que o continente africano, se excluirmos os territórios sob domínio
espanhol que permaneceram neutrais, estava no seu conjunto, formalmente
envolvido na Guerra.

Os impactos da Grande Guerra em


África
35 Apesar da maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o
envolvimento do continente africano na Grande Guerra acabaria por ser tudo
menos irrelevante: ao longo de quatro anos África forneceu recursos materiais
e humanos, a uma escala sem precedentes, para a Frente Ocidental. África ver-
se-ia assim envolvida na Grande Guerra em virtude não só do controlo político
que a Europa exercia sobre o continente mas também devido ao potencial
estratégico de muitos destes recursos e infraestruturas sobretudo portos, linhas
de comunicação e estações telegráficas considerados indispensáveis à
prossecução da guerra. As colónias não foram por isso meros campos de
batalha, elas eram parte integrante das economias de guerra dos países
europeus, fornecendo matérias primas, alimentos e soldados para a frente
ocidental41.
36 As consequências da Grande Guerra em África, cujos impactos se fizeram
sentir em todo o continente ao longo de quatro anos, só podem, em grande
medida, ser comparáveis aos efeitos devastadores provocados por séculos de
escravatura42. De uma forma geral podemos afirmar, desde logo, que os
impactos da Grande Guerra, quando analisados para além da destruição
provocada por quatro anos de conflito, se fizeram sentir no quotidiano do
continente devido a três causas principais:

1. o recrutamento das populações africanas;


2. o êxodo dos europeus;
3. o impacto económico.

37 Cerca de dois milhões e meio de africanos foram mobilizados, como


soldados, trabalhadores ou carregadores, valor que corresponde a,
aproximadamente, 1% do total da população do continente43.
38 No Verão de 1914 existiam 14 785 soldados africanos na África ocidental.
Quando a guerra eclodiu apenas a França dispunha de um número
«significativo» de tropas coloniais nos seus territórios, cerca de quinze mil
homens; em 1912, com vista à criação de um exército negro permanente, tinha
sido publicado um decreto que tornava obrigatório o serviço militar, durante
quatro anos, para todos os africanos do sexo masculino, com idades
compreendidas entre os 20 e os 28 anos44. Contudo, e à medida que o conflito
foi evoluindo todas as potências coloniais foram compelidas a expandir os
respectivos contingentes coloniais, recorrendo, muitas vezes, ao recrutamento
e à incorporação de voluntários. Começou então, nas palavras do governador
da África Ocidental francesa, Gabriel Anglouvant, «uma verdadeira caça ao
homem»45. No ano de 1915-1916 as autoridades francesas estabeleceram como
objectivo o recrutamento de 50 mil homens, o descontentamento e a revolta
das populações cedo se fez sentir, tornando impossível a realização de
incorporações nas regiões sublevadas, contudo as estimativas apontam para
que, durante os anos da guerra, cerca de 483 mil soldados coloniais terão
integrado o exército francês46. Para juntar aos soldados da África ocidental,
mais 250 000 soldados do Norte de África e de Madagáscar integraram o
mesmo exército.
39 No Congo, entre 1914 e 1918, a Bélgica terá recrutado, aproximadamente,
260 mil carregadores, números que não deixam de surpreender sobretudo se
tivermos presente que a soberania belga no território era ainda recente47.
40 A Alemanha e os aliados terão recrutado, nos territórios da África Central e
Oriental, entre 1914 e 1918, cerca de um milhão de carregadores,
aproximadamente três por cada militar branco48. Os salários pagos aos
carregadores eram miseráveis e as tarefas que tinham que desempenhar, por si
só, extremamente duras em tempo de paz devido às dificuldades de
comunicação e à agressividade das condições climáticas, seriam, ainda,
agravadas pelo evoluir das operações militares: os animais morriam devido à
doença do sono transmitida pela mosca tsé-tsé e os exércitos, quando se
movimentavam no interior do continente, longe de rios e com uma rede
ferroviária escassa, ficavam dependentes dos carregadores para transportar
abastecimentos e munições. Os carregadores eram, por isso, nas palavras de
David Killingray, «(...) the hands and feet of the army»49. Qualquer campanha,
por mais insignificante que fosse, necessitava de milhares de voluntários. É
bom de ver, por todas as condições já mencionadas, que os carregadores, que
por esta altura eram ainda voluntários, disponíveis para integrar e satisfazer as
necessidades crescentes dos exércitos em campanha começaram a escassear
muito rapidamente; durante os anos de guerra, só na África Oriental,
morreram cerca de 100 000 carregadores «(....) mainly from disease and
starvation brought about by oficial incompetence and neglect»50. Em 1915 era
publicado um decreto instituindo o recrutamento obrigatório de soldados e
carregadores, o diploma era dirigido a todos os homens com idades
compreendidas entre os 18 e os 45 anos. Dois anos mais tarde a medida era
estendida ao protectorado do Uganda.
41 Em 1916 nos protectorados britânicos da África Oriental era ainda
organizado o Military Labour Bureau51, no ano seguinte, a instituição era
renomeada, passando a denominar-se Military Labour Corps. Devido às
dificuldades climáticas da África Oriental o governo britânico acabaria por
determinar, a partir de 1916, a utilização, quase em exclusivo, de tropas
africanas na campanha.
42 Na África do Sul, apesar dos receios iniciais do Congresso quanto às
consequências que o combate, lado a lado, entre brancos e negros poderia
trazer para o futuro da União, 30 000 sul africanos negros acabaram por ser
recrutados e enviados para combater no sudoeste africano, 17 000 foram
incorporados no South African Native Labour Contingent.
43 Os efeitos do recrutamento em massa de carregadores fizeram-se sentir,
rapidamente, nas comunidades locais, desde logo na respectiva actividade
agrícola. Apesar das mulheres terem continuado a semear e a colher os
produtos agrícolas, sem os homens para lavrar a terra, as produções
decresceram e cedo se revelaram insuficientes para suprir as respectivas
necessidades alimentares. Os preços, dos escassos alimentos disponíveis,
aumentaram rapidamente e a fome fez-se sentir de forma generalizada um
pouco por todo o continente, só sendo suprimida, em parte, pela importação de
alimentos da Índia e da África do Sul52. No Uganda em 1918-1919 um em cada
quatro habitantes morreu de inanição53. Esta situação teve consequências
notórias também na exportação de produtos agrícolas (cacau, inhame,
mandioca, cereais, animais, feijão, café) e de produtos indispensáveis ao
esforço de guerra aliado (linho), sobretudo a partir de Janeiro de 1918, quando
as quedas na produção foram mais acentuadas.
44 À queda das produções havia que juntar a diminuição da navegação e o
desaparecimento do mercado alemão (na Serra Leoa os alemães eram
responsáveis por 80% do comércio de import-export), realidade que acabou,
inevitavelmente, por se traduzir numa diminuição das importações, e que se
verificou na modificação da estrutura de trocas entre o continente africano e a
Europa, transformação cujas consequências e impactos acabariam por se fazer
sentir, duradouramente, ao longo do período entre-guerras. Os efeitos
combinados da diminuição da navegação e do desaparecimento de mercados
de importação acabaria por ter reflexos directos, no rendimento disponível de
muitos africanos; os preços dos produtos importados tornaram-se proibitivos,
o que contribuiu, também, para aumentar a sua resistência às autoridades
coloniais. No Uganda os preço dos produtos importados chegou a aumentar
50%54. No final da guerra na África Ocidental francesa, a ruptura económica
deixou marcas profundas praticamente em toda a parte, mesmo nos territórios
mais remotos e sub-desenvolvidos como a Maurítânia e o Níger.
45 Ao longo de quatro anos, populações europeias e africanas foram deslocadas,
culturas foram destruídas, num cenário onde a contestação ao domínio
político, económico e administrativo europeu começou, também,
inevitavelmente, a ganhar notoriedade. Nos territórios do protectorado
britânico da África Oriental, terminada a guerra, as estimativas apontam que
cerca de 100 000 africanos nunca terão regressado a casa55.
46 Na África Central estes impactos foram mais desiguais: enquanto na Rodésia
do Sul, território onde não existiram confrontações militares directas,
acabaram por ser recrutados apenas dois batalhões de tropas africanas, na
Niassalândia que sofreu, directamente, os efeitos devastadores da destruição
militar foram incorporados 15 000 soldados, cerca de metade da força total do
King’s African Rifles, e 197 000 carregadores56.
47 Vale a pena mencionar ainda o papel desempenhado pelos soldados
africanos na frente europeia de guerra, no Médio Oriente ou nas diversas
campanhas africanas que foram sendo travadas no continente ao longo de
quatro anos. Desde o início do conflito, até ao mês de Novembro de 1917, o
governo francês enviou 90 000 africanos para combater em França. No seu
conjunto, e até ao final da guerra, as colónias francesas em África forneceram
aproximadamente 450 000 soldados para a frente ocidental, destes,
aproximadamente, 65 000 morreram nos campos de batalha da Europa57. A
Primeira Guerra Mundial marcou assim, também, o início da migração de mão-
de-obra argelina para França, tendência que seria continuada durante o
período entre-guerras.
48 Ao longo de quatro anos trinta e cinco mil senegaleses desertaram,
refugiando-se na Gâmbia e na Guiné Portuguesa. Em Fevereiro de 1915, nas
comunidades Bambara, em Novembro do mesmo ano em Abril de 1916, nas
regiões do Volta ocidental, e a norte do Dahomey, as populações revoltaram-se
procurando preservar «(...) the Independence of segmentary societies from all
state and external tutelage»58.
49 Para além dos soldados os franceses recrutaram africanos para trabalharem
em França durante a Guerra. Em 1918, 137 000 africanos trabalhavam na
Europa, apoiando o esforço de guerra francês, na sua maioria tinham vindo do
Norte de África e de Madagáscar. A União Sul Africana também enviou 21 000
africanos negros para França, como parte do South African Native Labour
Contingent.
50 Na Grã-Bretanha o Gabinete de Guerra defendia que Londres deveria, à
semelhança do que vinha sendo levado a cabo pela França, recrutar um grande
exército negro e enviá-lo para combater a Alemanha e os seus aliados na
Europa, porém o argumento defendido pelo Colonial Office de que as tropas
nativas, para além de não terem sido treinadas para enfrentar exércitos
europeus, seriam incapazes de superar o rigoroso Inverno das regiões norte do
continente, acabaria por ter algum peso59. Ainda que, na verdade, como
sublinhou David Killingray este mesmo argumento não tivesse sido aplicado
«(...) to the small number of British West Africans who had been recruited for
service on the rivers of Mesopotamia, to the several thousand Egyptian
labourers working in France, Cape Coloured soldiers in the Middle East, or to
the 20 000 men of the South African Native Labour Contingent, a uniformed
but non-combatant force, that served behind the lines on the western front in
the years 1916-18»60. Em 1918 o recrutamento de tropas africanas para
combate na Europa chegou a ser equacionado, uma vez mais, pelo comando
militar britânico, contudo a assinatura do armistício, no mês de Novembro,
acabaria por inviabilizar a ideia.
51 Por outro lado foram significativos, também, os impactos trazidos pela
Guerra à população europeia que vivia em África; os homens que se
encontravam em idade de recrutamento foram incorporados em unidades
militares estacionadas no continente ou enviados para combater na frente
europeia ocidental. Esta situação acabaria por dar origem a um significativo
êxodo de europeus e, consequentemente, a uma diminuição muito significativa
do número de funcionários que exerciam funções administrativas e comerciais,
em particular na Nigéria do Norte, onde, entre 1914 e 1918, algumas
circunscrições ficaram, totalmente, privadas de administradores. Uma das
consequências mais visíveis desse êxodo foi – por forma a evitar a completa
paralisação de alguns serviços – a ocupação por africanos instruídos de cargos
cujo acesso, em alguns casos, até então, se encontrava reservado apenas aos
europeus61. Por outro lado, do ponto de vista religioso, a guerra determinaria,
também, o fim da hegemonia das missões cristãs; no pós-guerra as funções dos
missionários alemães seriam ocupadas por africanos62.
52 São muitas as transformações que a guerra iria trazer à vivência e ao
quotidiano dos africanos, uma vez assinada a paz. Na verdade, as elites
africanas acabaram por saber tirar partido de algumas das oportunidades que a
guerra lhes trouxe: em 1916 era aprovada a «Loi Blaise Diagne» que reconhecia
o direito de cidadania francesa a todos os residentes nas quatro comunas do
Senegal: Dakar, Gorée, Saint-Louis e Rufisque, esta medida foi acompanhada
pela promessa do representante senegalês na câmara dos deputados francesa,
Blaise Diagne, de obtenção de isenção do trabalho forçado, promessa que
acabaria, no entanto, por nunca ser cumprida63. A guerra, para além da
mobilidade que trouxe às populações africanas, desde logo no interior do
continente – não nos podemos esquecer que tropas da British West Africa
combateram no Togo e nos Camarões – acabou também por as expor à
moderna tecnologia europeia: armamento, rádios e veículos motorizados. De
resto o recrutamento obrigatório, de brancos e negros, tornou óbvias as
necessidades de mão-de-obra em vários sectores da actividade económica,
nomeadamente na agricultura e na indústria mineira: em 1918, só na África do
Sul, 260 000 africanos encontravam-se já empregados nas minas e cerca de
255 000 em quintas, cujos proprietários eram brancos representando então,
segundo os dados de A.P. Walshe e Andrew Roberts, 1/3 da população rural
africana64. Podemos por isso afirmar que, muito para além dos impactos da
destruição física, foi durante a guerra que os africanos descobriram novos
poderes e perceberam a capacidade que tinham para fazer chegar as suas
reivindicações para além das respectivas esferas de influência tradicionais:
família e clã, fazendo-as ultrapassar, mesmo, em alguns casos, as estruturas do
poder colonial65. Em algumas regiões africanas a guerra acabaria por estar na
origem do despertar de uma atitude crítica por parte das elites africanas cultas,
em relação à colonização europeia66.
53 Por outro lado, o fim da I Guerra Mundial marcou, o fim da experiência
colonial alemã e o redesenhar do mapa do continente. Olhar para África
durante a Primeira Guerra Mundial, é observar um palco em constante
mutação, onde interagem e se relacionam diferentes elementos suscitados por
dinâmicas internas, é certo, mas que têm sido profundamente influenciados
por realidades exógenas ao próprio Continente. Durante a Grande Guerra
África surge, notoriamente, como um agente do processo de globalização; quer
como (i) actuante directo, nomeadamente a partir da exploração das suas
riquezas naturais, num sentido mais lato, mas também pela especificidade da
sua situação política no quadro das relações internacionais, quer (ii) pelo papel
que desempenhou, compondo um espaço que serviu simultaneamente de
encruzilhada e plataforma de conexão e passage aos diversos fluxos, materiiais
e imateriais, à escala planetária.

Notas
1 Andrew D. Roberts, «Introduction» in A.A.V.V., The Cambridge History of Africa
c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol. 7, Cambridge, Cambridge University Press, 1986,
p. 3.
2 Cf. Pádraig Carmody, The New Scramble for Africa, Cambridge, Polity Press, 2011.
3 Ver em particular: Godfrey N. Uzoigwe, «Partilha europeia e conquista da África:
apanhado geral» in AA.VV., História Geral da África. África sob dominação colonial,
1880-1935, Vol. VII, (Ed.) Albert Abubochen, Brasília, Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura/Ministério da Educação do Brasil, 2010, pp. 21-
50.
4 Idem, p. 42.
5 Cf. Andrew D. Roberts, «The Imperial Mind» in A.A.V.V., The Cambridge History of
Africa c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol 7, Cambridge, Cambridge University Press,
1986, p. 27.
6 German Colonialism and National Identity, (ed.) Michael Perraudin and Jurgen
Zimmerer, New York, Routledge, 2010, p. 3. Ver também, Alice Conklin, A Mission to
Civilize: The Republican Idea of Empire in France and West Africa, 1895-1930,
Stanford, Stanford University Press, 1997.
7 Cf. John McCracken, «British Central Africa» in A.A.V.V., The Cambridge History of
Africa c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol. 7, Cambridge, Cambridge University
Press, 1986, p. 603.
8 Walter Rodney, «A economia colonial» in História Geral da África. África sob
dominação colonial, 1880-1935, Vol. VII, (Ed.) Albert Boahen, Brasília, Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2010,
p. 379.
9 Matt Stanard, «Digging In: The Great War and the Roots of Belgian Empire,» in
Andrew Tait Jarboe and Richard S. Fogarty, eds., Empires in World War One: Shifting
Frontiers and Imperial Dynamics in a Global Conflict, Londres, I.B. Tauris, 2014, pp.
23-48.
10 C.M. Andrew and A.S. Kanya-Forstner, «France, Africa, and the First World War» in
Journal of African History, XIX, 1978, p. 11.
11 Catherine Coquery-Vidrovitch, «French Black Africa» in A.A.V.V., The Cambridge
History of Africa c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol 7, Cambridge, Cambridge
University Press, 1986, p. 330.
12 C.M. Andrew and A.S. Kanya-Forstner, France Overseas: The Great War and the
Climax of French Imperial Expansion, London, Thames, 1981.
13 Cf. L.H. Gann and Peter Duignan, The rulers of German Africa, Stanford, Stanford
University Press, 1977, p. 239.
14 Cf. David Stevenson, The Outbreak of the First World War. 1914 in Perspective,
London, Macmillan Press Ltd., 1997, p. 3.
15 Idem, p. 2.
16 Idem, p. 21. Veja-se igualmente Documentos Oficiales relativos a la Guerra Europea
de 1914. Publicados por el Instituto Colonial del Estado de Hamburgo, Hamburgo,
Broschek y Cia., s/d.
17 Cf. David Killingray, «The War in Africa» in The Oxford Illustrated History of the
First World War, Edited by Hew Strachan, Oxford/New York, Oxford University Press,
1998, p. 92.
18 Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências» in História
Geral da África. África sob dominação colonial, 1880-1935, Vol. VII, (Ed.) Albert
Boahen, Brasília, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, 2010, p. 324.
19 Edward Paice, Tip and Run – The Untold tragedy of the Great War in Africa,
Phoenix, Orion, 2010; Daniel Steinbach, «Challenging European Colonial Supremacy:
The Internment of “Enemy Aliens” in German East Africa during the First World War,»
in J. Kitchen, A. Miller, L., Rowe (eds.) Other Combatants, Other Fronts: Competing
Histories of the First World War, Newcastle, Cambridge Scholars, 2011, pp. 153-176.
20 Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., p. 325.
21 Idem, p. 324.
22 Ross Anderson, The Forgotten Front. The East African Campaign, 1914-1918, Stroud,
2004; Tanja Bührer, Die Kaiserliche Schutztruppe für Deutsch-Ostafrika. Koloniale
Sicherheitspolitik und transkulturelle Kriegführung, 1885 bis 1918, Munique 2011;
Michael Pesek, Das Ende eines Kolonialreichs: Ostafrika im Ersten Weltkrieg,
Frankfurt, 2010.
23 Philip A. Dehne, On the Far Western Front: Britain’s First World War in South
America, Manchester, Manchester University Press, Abril de 2010.
24 Ana Paula Pires, Portugal e a I Guerra Mundial. A República e a Economia de
Guerra, Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2011.
25 Ver nomeadamente: John P. Mackintosh, «The role of the Committee of Imperial
Defence before 1914» in The English Historical Review, n.º 304, July 1962, pp. 490-503
e Franklyn Arthur Johnson, Defence by Committee: the British Committee for Imperial
Defence, 1885-1959, London/New York, Oxford University Press, 1960.
26 Sandra Swart, «Men of influence» – The ontology of leadership in the 1914 Boer
Rebellion» in Journal of Historical Sociology, n.º 1, March 2004, pp. 1-30.
27 A.P. Walshe, «Southern Africa» in A.A.V.V., The Cambridge History of Africa
c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol 7, Cambridge, Cambridge University Press, 1986,
p. 560.
28 Robert Holland, «The British Empire and the War (1914-1918)» in The Oxford
History of the British Empire. The Twentieth Century (Ed.) Judith M. Brown and Wm
Roger Louis, Oxford/New York, Oxford University Press, 1998, p. 118.
29 Cf. Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., p. 324.
30 Herbert Charles O’Neill, The War in Africa and the Far East 1914-17, Yardley,
Welstholme Publishing, 2013.
31 David Killingray, «The War in Africa»..., p. 101. Ver ainda David Goodman,
«Expediency, Ambivalence, and Inaction: the French Protactorate and Domestic Slavery
in Morocco, 1912-1956» in Journal of Social History, n.º 47, Outono de 2013, pp. 101-
131.
32 Há uma extensa literatura sobre a agitação em África durante a Primeira Guerra
Mundial, ver nomeadamente: George Shepperson e Thomas Price, Independent African.
John Chilembwe and the Nyasaland Rising of 1915 (Edinburgh 1958); T.O. Ranger,
«Revolt in Portuguese East Africa» (St. Antony’s Papers, no. 15, Oxford 1963), 54-80;
Finn Fugelstad, A History of Niger, 1850-1960 (Cambridge 1983); Karen Fields, Revival
and Rebellion in Colonial Central Africa (Princeton, NJ 1985); Mahir Saul and Patrick
Roger, West African Challenge to European Culture and History in the Volta-Bani
Anticolonial War (Oxford 2001); Luc Garcia, «Les mouvements de résistance au
Dahomey, 1914-1917», Cahiers d’études africaines, 10, 1 (1971), 144-178; Hélène
d’Almeida-Topor, «Les populations dahoméens et le recrutement militaire pendant la
première guerre mondiale», Revue française d’histoire d’outre-mer, 60, 2 (1973), p. 196-
241.
33 B. Jewsiewiewicki, «Belgian Africa» in A.A.V.V., The Cambridge History of Africa
c.1905-c.1940, (Ed.) A.D. Roberts, Vol. 7, Cambridge, Cambridge University Press, 1986,
p. 463.
34 Ver em particular, Anne Samson, World War I in Africa: the forgotten conflict among
the European powers, s/l, IB Tauris, July 2012.
35 Anne Samson, World War I in Africa: the forgotten conflict among the European
powers... e Stanard, «Diggin In...»
36 Palavras Claras. Razões da intervenção militar de Portugal na guerra europeia.
Relatório publicado no Diário do Governo n.º 9, 1.ª série de 17 de Janeiro de 1917,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1917, p.19.
37 Hew Strachan, The First World War in Africa, Oxford, Oxford University Press,
2004.
38 Michael S. Neiberg, The World War I Reader, s/l, NYU Press, Dezembro de 2006.
39 Sobre esta questão ver nomeadamente a introdução de Miguel Bandeira Jerónimo ao
livro de Andrew Porter: Andrew Porter, O Imperialismo Europeu (1860-1914), Lisboa,
Edições 70, Maio de 2011, p.97 e seguintes.
40 Cf. Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»...., p. 325 e
p. 327
41 Cf. Christian Koller, «The recruitment of colonial troops in Africa and Asia and their
deployment in Europe during the First World War» in Immigrants & Minorities, Vol.
26, n.º ½, March-July 2008, pp. 111-133.
42 Hew Strachan, The First World War in Africa...., p. 8.
43 Santanu Das (Ed.), Empire and First World War Writing, Cambridge, Cambridge
University Press, 2011, p. 4.
44 Sobre a composição do exército colonial francês, ver em particular: Richard S.
Fogarty, Race and War in France: colonial subjects in the French Army, 1914-1918,
Baltimore, John Hopkins University Press, 2008; e Marc Michel, L’Appel à l’Afrique:
contributions et réactions àl’effort de guerre en A.O.F. 1914-1919 (Paris 1982).
45 Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., p. 333.
46 Idem, p. 334.
47 André-Bernard Ergo, Congo Belge: La colonie assassiné, Paris, L’Harmattan, 2008.
48 Cf. David Killingray, «The War in Africa»..., pp. 97-98. Sobre os carregadores em
África durante a Guerra ver ainda, David Killingray, «Beasts of burden: British West
African carriers in the First World War», Canadian Journal of African Studies xii (1979),
pp. 5-23, and «Labour exploitation for military campaigns in British Colonial Africa,
1807-1945», Journal of Contemporary History xxiv (1989), pp. 483-501; Geoffrey
Hodges, Kariakor – The Carrier Corps: The Story of the Military Labour Forces in the
Conquest of German East Africa, 1914-1918 (2nd (rev.) edn., Nairobi, 1997); Donald C.
Savage and J. Forbes Munro, «Carrier corps recruitment in the British East Africa
Protectorate. 1914-1918», Journal of African History vii (1966), pp. 313-42.
49 Idem.
50 Idem, pp. 98-99.
51 Idem.
52 Cf. Andrew D. Roberts, «East Africa» in A.A.V.V., The Cambridge History of Africa
c.1905-c.1940, (Ed.) A. D. Roberts, Vol. 7, Cambridge, Cambridge University Press,
1986, p. 668.
53 Idem.
54 Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., pp. 339-
340.
55 Andrew D. Roberts, «East Africa»..., p. 668.
56 John McCracken, «British Central Africa»...., p. 621.
57 Cf. Catherine Coquery-Vidrovitch, «French Black Africa»..., pp. 352-353.
58 Idem, p. 353.
59 David Killingray, «The War in Africa»..., pp. 96-97.
60 Idem.
61 Cf. Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., p. 328 e
p. 330.
62 David Killingray, «The War in Africa»..., p. 101; Kenneth J. Orosz, «For God and
Country: Missionary Service in Colonial Africa During World War I,» in Jarboe and
Fogarty, eds., Empires in World War One, pp. 249-281.
63 Catherine Coquery-Vidrovitch, «French Black Africa»..., pp. 352-353. Ver também
Fogarty, Race and War in France, and Michel, L’Appel à l’Afrique.
64 Cf. A.P. Walshe, «Southern Africa»..., pp. 562-563.
65 Andrew D. Roberts, «East Africa»..., p. 670.
66 Michael Crowder, «A Primeira Guerra Mundial e suas consequências»..., p. 344.

Para citar este artigo


Referência do documento impresso
Ana Paula Pires e Richard S. Fogarty, « África e a primeira guerra mundial », Ler
História, 66 | 2014, 57-77.

Referência eletrónica
Ana Paula Pires e Richard S. Fogarty, « África e a primeira guerra mundial », Ler
História [Online], 66 | 2014, posto online no dia 20 julho 2002, consultado no dia 28
maio 2018. URL : http://journals.openedition.org/lerhistoria/721 ; DOI :
10.4000/lerhistoria.721

Autores
Ana Paula Pires
IHC-FCSH-UNL
asoarespires@gmail.com
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Paz pela Primeira Guerra Mundial [Texto integral]
Publicado em Ler História, 66 | 2014

Apresentação [Texto integral]


Publicado em Ler História, 66 | 2014
Richard S. Fogarty
University at Albany – SUNY
rfogarty@albany.edu

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