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SITUAÇÃO DA GERAÇÃO ELÉTRICA ATRAVÉS DE SISTEMAS

HÍBRIDOS NO ESTADO DO PARÁ E PERSPECTIVAS FRENTE À


UNIVERSALIZAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA
CLAUDOMIRO FÁBIO DE OLIVEIRA BARBOSA
JOÃO TAVARES PINHO
EDINALDO JOSÉ DA SILVA PEREIRA
MARCOS ANDRÉ BARROS GALHARDO
SILVIO BISPO DO VALE
WILSON MONTEIRO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO

Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE)


Universidade Federal do Pará (UFPA)
Caixa Postal 8605, Ag. Núcleo Universitário, CEP: 66075-900, Belém-PA-Brasil
E-mail: gedae@ufpa.br
HU U

Resumo
Este trabalho apresenta uma análise dos sistemas híbridos de geração de eletricidade instalados
no Estado do Pará, dando ênfase ao perfil das localidades abastecidas, às tecnologias de
conversão nas diversas configurações utilizadas para obtenção de energia elétrica, aos impactos
sociais, econômicos e ambientais proporcionados por tais sistemas, à gestão e sustentabilidade
dos mesmos, e às suas perspectivas frente à universalização da energia elétrica no Brasil.

Abstract
This work presents an analysis of the hybrid systems for electricity generation installed in the State
of Pará, emphasizing the profile of the supplied localities, the conversion technologies in the
several configurations used for electric power generation, the social, economic and environmental
impacts caused by such systems, the management and sustainability of the systems, and their
perspectives in face of the global supply of electric power in Brazil.

1 – Introdução
O Estado do Pará, com sua extensão territorial de aproximadamente 1.250.000 km2 (14,5% do
território nacional), é o segundo maior do Brasil. Atualmente, sua população é constituída por
cerca de 6.200.000 habitantes, os quais estão distribuídos nas áreas urbana e rural por cerca de
4.129.000 (66,6%) e 2.071.000 (33,4%), respectivamente (IBGE, 2004). Do total dessa população,
aproximadamente 21% não são contemplados com o fornecimento de energia elétrica (ANEEL,
2004), sendo que a grande maioria desse percentual representa a população residente na área
rural, principalmente nas áreas isoladas, as quais, fazendo-se uma alusão à crise energética de
2001, vivem hoje em um “eterno apagão”.

O não abastecimento dessas áreas deve-se às características intrínsecas do próprio meio rural
(pequenas vilas dispersas e isoladas, baixa densidade demográfica e de renda, infra-estrutura
precária, elevada distância dos grandes centros, locais remotos e situados muitas vezes em
emaranhados de rios, descaso do poder público, etc.), que somadas com o fator econômico
inviabilizam a tradicional eletrificação por extensão da rede elétrica.

Das possíveis alternativas de geração que existem para o suprimento de energia elétrica dessas
áreas, destacam-se duas:

Geração diesel-elétrica – apresenta-se hoje como o mais significativo vetor da matriz energética
regional, mas que envolve um elevado custo operacional (compra, transporte e distribuição do
óleo diesel) em relação à baixa qualidade no serviço prestado. Além disso, tais sistemas na atual
conjuntura mundial não são vistos como uma alternativa ambientalmente correta, uma vez que os
impactos ambientais locais e globais causados pelas emissões de gases de efeito estufa são
comprovadamente danosos.

Geração com fontes renováveis – é uma alternativa que parece bastante óbvia, mas que ainda
vem sendo legada a segundo plano, apesar de empregar as fontes de energia renováveis (solar,
eólica, hidráulica e biomassa) encontradas nas áreas de abrangência dessas pequenas vilas, que,
dependendo das diversas tecnologias de conversão, poderão ser utilizadas para geração de
eletricidade de pequeno e médio portes.

A Lei 10.438/2002, que dispõe sobre a Universalização do Serviço Público de Energia Elétrica, e
da Resolução nº 223/2003 (ANEEL), que norteia os Planos de Universalização de Energia
Elétrica, delimitando a data da universalização até 2015, sinaliza para os sistemas híbridos para
geração de eletricidade que utilizam as fontes de energia renovável, como uma forma importante e
viável para o atendimento descentralizado no Estado e também na Região Amazônica, onde
existe um grande número de localidades isoladas, sem perspectivas de abastecimento
convencional.

Neste contexto, instituições nacionais, como o Grupo de Estudos e Desenvolvimento de


Alternativas Energéticas (GEDAE), o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), a
Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) e as Centrais Elétricas do Pará S.A. (CELPA), e
instituições internacionais, como o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) e o
Laboratório de Energias Renováveis dos Estados Unidos (NREL), têm despendido esforços
conjuntos na inserção de sistemas híbridos em localidades isoladas no Estado do Pará. Desde
1996 foram implantados quatro sistemas híbridos: Joanes, Praia Grande, Tamaruteua e São
Tomé, estando alguns atualmente total ou parcialmente inativos, principalmente por manutenção
inadequada e outros fatores referentes à operação e gestão dos mesmos.

Daí a concepção deste trabalho, que discorre sobre tais sistemas híbridos de geração de
eletricidade, dando ênfase ao perfil de cada comunidade abastecida, às tecnologias de conversão
nas diversas configurações utilizadas (solar-eólico-diesel, eólico-diesel, e solar-eólico) para
obtenção de energia elétrica, aos impactos sócio-econômicos e ambientais proporcionados por
tais sistemas, e à gestão e sustentabilidade dos mesmos. Ao final, através do estudo realizado
sobre a situação dos sistemas híbridos, faz-se uma breve explanação a respeito das perspectivas
frente à universalização da energia elétrica no Brasil.

2 – Perfil das Comunidades


Em geral, o perfil das comunidades abastecidas pelos sistemas híbridos é bastante semelhante,
enquadrando-se dentro das características intrínsecas do meio rural mencionadas anteriormente,
porém, com promissor potencial eólico (proximidade do litoral) e solar. A seguir, é feita uma breve
caracterização do perfil de cada comunidade.

Comunidade de Joanes
A comunidade de Joanes situa-se no município de Salvaterra (ver figura 1), às margens da baía
de Marajó, nas coordenadas 0º 52’ 36’’ S e 48º 30’ 36’’ W, distante cerca de 17 km da sede
municipal (Salvaterra), com acesso fluvial ou aéreo (Ribeiro, et al. 2003). Sua população residente
é de aproximadamente 1.338 habitantes. A economia é formada basicamente pela pecuária,
extrativismo vegetal, agricultura, pesca e turismo.

Comunidade de Praia Grande


A comunidade de Praia Grande situa-se no litoral do município de Ponta de Pedras (ver figura 1),
às margens da baía de Marajó, nas coordenadas 1º 22’ 54’’ S e 48º 50’ 10’’ W, com acesso por
meio de avião de pequeno porte ou barco (Vale, 1997 e Rêgo, 1999). Sua população residente é
de aproximadamente 120 habitantes, distribuídos em 22 famílias em uma área de cerca de 114
ha. A comunidade tem como principal atividade econômica a extração da fibra do coco para
fabricação de encostos para cabeça de assentos de veículos (Rêgo, 1999). Destaca-se ainda a
atividade agrícola com o plantio de laranja, feijão, banana, etc. (Projeto PNUD BRA/99/11, 2002).

Figura 1 – Localização dos municípios no Estado do Pará (Mesorregião Marajó).

Comunidade de Tamaruteua
A comunidade de Tamaruteua situa-se no litoral do município de Marapanim (ver figura 2), na
embocadura do rio Cajutuba, próximo ao oceano Atlântico, tendo como coordenadas geográficas
0º 34’ 57’’ S e 47º 45’ 28’’ W, com acesso rodo-fluvial (Vale, 1997 e Macêdo, 2000). Sua
população residente é de aproximadamente 185 habitantes, distribuídos em 38 famílias. A
comunidade tem na pesca sua principal atividade econômica, sendo a agricultura praticamente
inexistente na região, por esta apresentar um solo arenoso, impróprio para esse tipo de atividade
(Macêdo, 2000).

Comunidade de São Tomé


A vila de São Tomé situa-se ao norte do município de Maracanã (ver figura 2), às margens da baía
do Maracanã, próximo ao Oceano Atlântico, nas coordenadas geográficas de 0º 44’ 24” S e 47º
28’ 59” W. O acesso à vila de São Tomé pode ser feito pela malha rodoviária, alternando rodovias
federais e estaduais, em um tempo médio de 3 horas, ou pela malha rodoviária, até o município de
Maracanã, e deste local por via fluvial utilizando-se barcos de pequeno porte (Barbosa, 2004). Sua
população residente é de aproximadamente 226 habitantes, distribuídos em 40 famílias em uma
área de cerca de 25 ha. A economia baseia-se no extrativismo dos recursos naturais locais,
destacando-se as atividades de pesca e captura de caranguejo para consumo próprio e
comercialização do excedente, e agrícola, somente de subsistência, onde se destaca o cultivo de
mandioca para a produção de farinha (Barbosa, 2004).
Figura 2 – Localização dos municípios no Estado do Pará (Mesorregião Nordeste do Pará).

3 – Sistemas Híbridos – Tecnologias de Conversão e Operação


Considera-se um sistema híbrido aquele que utiliza conjuntamente mais de uma fonte de energia,
dependendo da disponibilidade dos recursos energéticos locais, para geração de energia elétrica.
A opção pelo hibridismo é feita de modo que uma fonte complemente a eventual falta da outra.
Dentre as fontes energéticas utilizadas pelos sistemas híbridos aqui abordados, sobressaem-se a
solar e a eólica, ambas de caráter renovável.

Com exceção do sistema híbrido de Joanes, cuja operação difere dos demais (ver tabela 1), um
sistema de backup diesel-elétrico de caráter não renovável é usado para garantir a continuidade e,
conseqüentemente, a confiabilidade dos sistemas híbridos.

A seguir são descritos os sistemas híbridos nas suas configurações e respectivas tecnologias de
conversão. Além disso, detalhes referentes à operação também são apresentados.

Sistema Híbrido Solar-Eólico de Joanes


O projeto do sistema híbrido solar-eólico de Joanes foi concebido no ano de 1994; porém, só em
junho de 1997 entrou em pleno funcionamento para atender às 170 unidades consumidoras da vila
(Folhas ao Vento, 1997 e Ribeiro, et al. 2003).

A figura 3 ilustra o sistema e a tabela 1 descreve suas características gerais.


Vista geral do sistema (destaque para o (b) Vista geral do sistema (destaque
sistema eólico) (Northern Power, 2004 ). para o sistema solar fotovoltaico).
Figura 3 – Fotos ilustrativas do sistema híbrido de Joanes.

Tabela 1 – Características gerais do sistema de Joanes.


Energia eólica com aerogeradores importados, Energia solar fotovoltaica, inversor
Tecnologia
rotativo, banco de baterias.
Sistema eólico
4 Aerogeradores de 10 kW (cada).
1 Transformador de 75 kVA.
Componentes

4 Torres treliçadas estaiadas (2x24 m e 2x30 m de altura).

Sistema solar fotovoltaico


1 Arranjo fotovoltaico de 10,2 kWp (módulos de 55 Wp).

Comuns às fontes de energia


1 Inversor rotativo de 52,5 kW.
1 Banco de baterias - 200 unidades seladas reguladas a válvula 2 VCC/1000 Ah.
O sistema pode operar tanto de forma isolada (preferencial) quanto conectado à
Operação

rede existente em Joanes e energizada pela UTE-Salvaterra. Enquanto há geração


suficiente proporcionada pelos aerogeradores e pelos painéis fotovoltaicos, o
sistema opera isolado, caso contrário, interligam-se ambos os sistemas (híbrido e
UTE). Ressalta-se que a operação do sistema não é feita de forma automática.

Sistema Híbrido Eólico-Diesel de Praia-Grande


Em setembro de 1998 implantou-se o sistema híbrido eólico-diesel de Praia-Grande, o qual
abastece residências, centro comunitário, escola, armazém, sistema de bombeamento de água da
vila e a iluminação pública (Rêgo, 1999 e Vale, 2000).

A figura 4 ilustra o sistema e a tabela 2 descreve suas características gerais.

(a) Vista geral do sistema (b) Sistema de (c) Banco de baterias.


(aerogeradores em destaque). condicionamento de potência.
Figura 4 – Fotos ilustrativas do sistema híbrido de Praia Grande.
Tabela 2 – Características gerais do sistema de Praia-Grande.
Energia eólica com aerogerador importado, controladores de carga, banco de
Tecnologia
baterias e grupo gerador a diesel.

Sistema eólico
1 Aerogerador de 10 kW.
1 Controlador de carga VCS –10 (retificador).
Componentes

1 Transformador 3φ 30 kVA.
2 Inversores estáticos de 4 kW (cada).
1 Banco de baterias - 20 unidades chumbo-ácido 12 VCC/150 Ah (série/paralelo 48
VCC).
1 Torre treliçada estaiada (20 m de altura).

Sistema diesel-elétrico
2 Grupos geradores a diesel de 7,5 kVA (cada).

Os aerogeradores fornecem a energia necessária à vila até que haja insuficiência


Operação

de vento e/ou o banco de baterias esteja com carga inferior à mínima para o
suprimento de energia. Com a saída da geração eólica, entra em operação a
geração diesel-elétrica, que opera até que a geração eólica se estabilize. Ressalta-
se que a operação do sistema não é feita de forma automática.

Sistema Híbrido Solar-Eólico-Diesel de Tamaruteua


O sistema híbrido solar-eólico-diesel de Tamaruteua foi implantado em junho de 1999. Sua
geração abastece residências, escola, comércios, igrejas, prédios de uso diverso (salga de peixe,
depósito e casa de farinha) da vila e iluminação pública (Macêdo, 2000 e Projeto PNUD
BRA/99/11, 2002).

A figura 5 ilustra o sistema e a tabela 3 descreve suas características gerais.

(a) Aerogeradores. (b) Arranjo solar fotovoltaico. (c) Sistema de condicionamento


de potência.
Figura 5 – Fotos ilustrativas do sistema híbrido de Tamaruteua.
Tabela 3 – Características gerais do sistema de Tamaruteua.
Energia eólica com aerogeradores importados, energia solar fotovoltaica,
Tecnologia controladores de carga, inversores estáticos, banco de baterias e grupo gerador a
diesel.

Sistema eólico
2 Aerogeradores de 10 kW (cada).
2 Controladores de carga VCS –10 (retificador).
2 Transformadores 3φ de 30 kVA (cada).
2 Torres treliçadas estaiadas (24 m e 30 m de altura).
Componentes

Sistema solar fotovoltaico


1 arranjo fotovoltaico de 1,92 kWp (módulos de 120 Wp).

Comuns às fontes de energia


1 Banco de baterias - 64 unidades chumbo-ácido 6 VCC/350 Ah (série/paralelo 48
VCC).
3 Inversores estáticos de 5,5 kW (cada).

Sistema diesel-elétrico
1 Grupo gerador a diesel de 30 kVA.

De acordo com as condições do banco de baterias, o sistema renovável supre a


Operação

carga. Se a geração renovável não for suficiente para atender à demanda


solicitada, este sistema é desconectado e o grupo gerador a diesel é então
acionado para suprir as necessidades da comunidade. Ressalta-se que a operação
do sistema não é feita de forma automática.

Sistema Híbrido Solar-Eólico-Diesel de São Tomé


O sistema híbrido solar-eólico-diesel de São Tomé foi implantado em setembro de 2003, com a
finalidade de abastecer as 67 unidades consumidoras da vila (residências, escola, comércio,
igrejas, etc.) (Barbosa, 2004).

A figura 6 ilustra o sistema e a tabela 4 descreve suas características gerais.

(a) Aerogerador e (b) Banco de baterias. (c) Grupo gerador a diesel.


módulos fotovoltaicos.
Figura 6 – Fotos ilustrativas do sistema híbrido de São Tomé.
Tabela 4 – Características gerais do sistema de São Tomé.
Energia eólica com aerogerador importado, energia solar fotovoltaica, controlador
Tecnologia
de carga, inversor estático, banco de baterias e grupo gerador a diesel.

Sistema eólico
1 Aerogerador de 10 kW.
1 Controlador de carga VCS –10 (retificador).
1 Torre treliçada estaiada (30 m de altura).
Componentes

Sistema solar fotovoltaico


1 arranjo fotovoltaico de 3,2 kWp (módulos de 80 Wp).

Comuns às fontes de energia


1 Banco de baterias - 40 unidades chumbo-ácido 12 VCC/150 Ah (série/paralelo 120
VCC).
1 Inversor estático de 15 kW.

Sistema diesel-elétrico
1 Grupo gerador a diesel de 20 kVA.
De acordo com as condições do banco de baterias, o sistema renovável supre a
Operação

carga. Se a geração renovável não for suficiente para atender à demanda


solicitada, este sistema é desconectado e o grupo gerador a diesel é então
acionado para suprir as necessidades da comunidade. Ressalta-se que a operação
do sistema não é feita de forma automática.

4 – Impactos Sócio-Econômicos e Ambientais


Em linhas gerais, os mais variados impactos foram e continuam sendo produtos da implantação
dos sistemas híbridos. Em sua grande maioria, tais impactos possuem características mais
benéficas do que prejudiciais, especialmente por se tratarem de sistemas de geração de pequeno
porte.

Dos impactos sócio-econômicos mais relevantes, pode-se destacar o crescimento populacional


das vilas com o incremento do número de moradores (fluxo contrário ao êxodo rural), e o de
ordem econômica, oriundo da atividade comercial (bares, armazéns, etc.) sustentada pela energia
elétrica. Ressaltam-se ainda as constantes excursões de pessoas (moradores de outras vilas) e
de grupos nacionais e estrangeiros interessados em conhecer esses sistemas e as experiências
adquiridas.

Com relação à inserção dos sistemas no meio ambiente, o principal impacto está relacionado ao
manejo das baterias (há a necessidade de um programa de reciclagem), enquanto que os outros
como, por exemplo, o visual e o sonoro (ambos provenientes sobretudo dos aerogeradores), e do
espaço utilizado para instalação do sistema solar fotovoltaico, ou do próprio sistema híbrido em si,
podem ser considerados mínimos. Isto é evidenciado pelos seguintes fatos:
‰ Nenhuma manifestação de descontentamento dos moradores, até então, com ruído;
‰ A atração visual que se tornaram os sistemas com os aerogeradores e suas grandes
torres;
‰ O pequeno espaço físico utilizado pelos sistemas, que não ocasiona perda de espaço
para outras finalidades.

5 – Gestão e Sustentabilidade dos Sistemas Híbridos


Excetuando a gestão típica em uso no sistema híbrido de Joanes, onde os moldes administrativos
são delineados pela concessionária local (CELPA), a qual é a única responsável pelo
gerenciamento do sistema, os modelos dos demais possuem como maior sustentáculo uma
administração realizada pela própria comunidade, por intermédio de uma organização ou
associação comunitária, em parceria com as prefeituras municipais e, temporariamente, com o
agente executor do projeto (GEDAE), que presta serviços de manutenção preventiva e, quando
necessário, corretiva.
Porém, problemas associados com o papel desempenhado pelas duas principais partes
envolvidas (comunidade e prefeitura) enfraqueceram a sustentabilidade dos sistemas. Exemplos
da má gestão são evidenciados em Tamaruteua e Praia Grande, onde tais sistemas, após
períodos satisfatórios de operação (três e quatro anos, respectivamente), entraram em processo
de falência operacional devido basicamente à:
‰ Escassez de recursos financeiros captados para manutenção, resultante da falta de uma
tarifação adequada (quando cobrada, a taxa mensal não refletia o verdadeiro consumo
das unidades consumidoras);
‰ Falta de zelo pelos equipamentos dos sistemas (para os usuários, enquanto há geração,
tudo está muito bem, não havendo preocupação, com a vida útil dos equipamentos
através do seu uso adequado);
‰ Aplicação de manutenção inadequada por pessoas não especializadas;
‰ Quase nenhuma participação efetiva das prefeituras municipais.

Com relação ao sistema de São Tomé, destaca-se um novo modelo de tarifação, inovador no
Brasil, que busca parcialmente resolver os problemas inerentes à gestão econômica dos sistemas.
Trata-se do pré-pagamento da energia elétrica, semelhante ao sistema de pagamento antecipado,
referente aos serviços prestados pelas empresas de telefonia celular, os telefones celulares de
cartão. Barbosa, 2004, descreve em detalhes esse modelo de tarifação. No mais, a gestão
administrativa é semelhante à dos outros sistemas. A tabela 5 mostra um resumo dos modelos
gestores em uso em cada sistema e a atual situação dos mesmos.

Tabela 5 – Modelos gestores e situação dos sistemas híbridos.


Modelo de Gestão Panorama Perspectiva
Sistema Situação Causa
Administrativa Econômica Sustentável Revitalização
Sim, com
Falta de
Joanes CELPA Convencional Inoperante novas Não
manutenção
medidas
Praia- Comunidade e Cobrança de Falta de
Inoperante Não Sim
Grande Prefeitura taxa mensal manutenção
Comunidade e Cobrança de Falta de
Tamaruteua Inoperante Não Sim
Prefeitura taxa mensal Manutenção
Sim, com
Comunidade e Pré-
São Tomé Operando - novas -
Prefeitura pagamento
medidas

6 – Perspectivas Frente à Universalização da Energia Elétrica no Brasil


Considerando-se o plano de universalização da energia elétrica em seu contexto e as
características da distribuição dos aglomerados dos possíveis usuários (áreas muito distantes e
até mesmo isoladas da planta convencional de geração; caso de Tamaruteua, que se situa em
uma pequena ilha), percebe-se que dificilmente a extensão de rede será uma alternativa viável,
nem tampouco um atendimento que utilize somente recursos fósseis, devido à necessidade de se
dispor localmente do combustível e dos comprovados males ao meio ambiente que o seu uso
acarreta. Logo, uma alternativa que se apresenta atrativa para a universalização é o emprego dos
sistemas híbridos, pelos seguintes motivos:
‰ Proporciona uma forma importante do uso das energias renováveis, em contrapartida aos
recursos fósseis;
‰ Aproveita os recursos locais existentes;
‰ Pode ser dimensionado de acordo com a real necessidade de cada comunidade;
‰ O atendimento pode ser descentralizado e autônomo.

Todavia, com as experiências desenvolvidas pelos sistemas apresentados, observa-se que o


principal problema não se restringe somente em encontrar a melhor alternativa para a geração de
eletricidade, mas também em implantar o melhor modelo de gestão, que ao mesmo tempo garanta
a sustentabilidade dos mesmos e a integração social e econômica das comunidades beneficiadas.

7 – Conclusão
Diante do exposto, pode-se concluir que o emprego dos sistemas híbridos para geração de
energia elétrica nas comunidades apresentadas, sem dúvida contribuiu para o desenvolvimento e
a integração social das mesmas. Porém, é necessário que se entenda de forma realista que os
atuais modelos de gestão em uso projetam uma situação onde dificilmente tais sistemas serão
sustentáveis. Ademais, a falta de uma regulamentação própria para o atendimento dessas
comunidades isoladas através de fontes renováveis e a escassez de incentivos são fatores que
dificultam ainda mais a penetração desses sistemas no plano de universalização e,
conseqüentemente, na matriz energética do País.

Palavras-Chave
Energias Renováveis, Sistemas Híbridos, Gestão de Sistemas de Pequeno Porte,
Sustentabilidade, Universalização da Energia Elétrica.

Referências
[1] ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica; Universalização – Estado do Pará;
http://aneel.gov.br ; acesso em 28/05/2004.
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[2] Barbosa, C. F. O.; Montagem, Comissionamento e Telesupervisão de um Sistema Híbrido


Solar-Eólico-Diesel para Geração de Eletricidade; Trabalho de Conclusão de Curso; UFPA:
Pará – PA; março; 2004.
[3] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Censo Demográfico 2000;
http://www.ibge.gov.br ; acesso em 28/05/2004.
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[4] Folhas ao Vento; Informativo Nº 1; CRESESB – GTEE; maio; 1997.


[5] Macêdo, W. N.; Montagem, Comissionamento e Monitoração de um Sistema Híbrido
Solar-Eólico-Diesel para Geração de Eletricidade; Trabalho de Conclusão de Curso; UFPA:
Pará – PA; fevereiro; 2000.
[6] Northern Power Systems; http:/www.northernpower.com ; acesso em 10/06/2004.
U U

[7] Projeto PNUD BRA/99/11; Levantamento de Projetos de Eletrificação de Comunidades


Isoladas Utilizando Fontes Renováveis de Energia; Relatório: Região 2 – Pará, Maranhão,
Amapá e Tocantins; dezembro; 2002.
[8] Rêgo, J. L. C.; Definição, Montagem, Comissionamento e Monitoração de um Sistema
Híbrido Eólico-Disel para Geração de Eletricidade; Trabalho de Conclusão de Curso; UFPA:
Pará – PA; abril; 1999.
[9] Ribeiro, C. M.; Araújo, M. R. P.; Cunha, A. Z. e Ribeiro, A. H. C.; Implantação de Sistema
Híbrido para Eletrificação da Vila de Joanes (Pará); Coletânea de Artigos - Energias Solar e
Eólica; Volume 1; pp. 223-232; CRESESB; 2003.
[10] Vale, S. B.; Perfil e Proposta de Abastecimento de Energia Elétrica através de Fontes
Alternativas para Pequenas Localidades – Casos de Praia-Grande e Tamaruteua; Monografia;
UFPA: Pará – PA; 1997.
[11] Vale, S. B.; Monitoração e Análise de um Sistema Híbrido Eólico-Diesel para Geração de
Eletricidade; Tese de Mestrado; UFPA: Pará – PA; 2000.

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