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Editorial

Todos Contra a Mentira

O
s tempos modernos de notícias instantâneas e a fa-
cilidade de acesso à mídia trouxeram, também, um
problema: falsas informações ou “Fake News” estão,
a cada dia, mais presentes em nossas vidas. Prova disso é que
em 2016, importantes acontecimentos, como referendo sobre o
Brexit e as eleições nos Estados Unidos, fizeram aumentar a pre-
ocupação com o impacto das informações falsas na formação
da opinião pública, o assunto estava sendo tão evidenciado que
o Dicionário Oxford elegeu “pós-verdade” como o termo do ano.

A eleição e posse de Donald Trump, por exemplo, pregou uma


verdadeira caça às bruxas aos meios de comunicação tradicio-
nais. Fez com que meios alternativos, e muitas vezes não muito
confiáveis, se multiplicassem pelo mundo.

A aplicação da pós-verdade também está em nosso dia a dia,


como nas eleições políticas partidárias, nas relações de trabalho,
no cinema, nas decisões do governo e nas redes sociais. Isso
mostra que esse problema está bem próximo de nós, de nossas
famílias e das pessoas que amamos e que queremos proteger.

Essas falsas notícias também atacam diretamente a imprensa


que tem, muitas vezes, a prática do jornalismo associada ao seu
maior antitético que é a mentira, ou seja, falsas notícias são, cer-
tamente, um objeto irresponsável e manipulado que busca, antes
de qualquer coisa, causar conflito na opinião pública e por esse
motivo tem de ser combatida de forma veemente. É responsa-
bilidade da sociedade de uma forma geral, e principalmente de
jornalistas, veículos de comunicação e pessoas ligadas à mídia,
trabalhar para que esse tipo de irresponsabilidade contra a har-
monia do estado não continue.
´
Sumario
4 ´
Discurso Politico
Pós-verdade influencia cada vez mais campanhas
políticas, afirmam especialistas
~

5 apuracao
A necessidade de se checar os fatos

6 ´ETICA
Quantos pontos de audiência valem uma imagem?

8 redes sociais
Publicidades, algoritmos e notícias falsas: como a maior
rede social do mundo se tornou morada das pós-verdades

11 ´
industria cultural
CineManipulação

14 imprensa
Veículos de comunicação apoiam a reforma da previdência

´
16 seguranca publica
Especialista em Segurança Pública afirma que discurso da
pós-verdade é aplicado nas tentativas de desarmamento à população

18 mundo empresarial
Empresas usam pós-verdade para garantir
fidelidade de funcionários
Pós-verdade influencia cada vez mais
campanhas políticas, afirmam especialistas
Pós-verdade pode interferir em resultado eleitoral. Método foi usado na região.

Layara Andrade

A
tentativa de influen- (Foto: Arquivo Pessoal/
ciar o eleitor é antiga, Humphrey Barbosa)
assim como o termo
pós-verdade, que foi dito pela
primeira vez pelo dramaturgo
sérvio-americano, Steve Tesi-
ch, em 1992. O uso desta téc-
nica também é antigo, tanto
que Joseph Goebbels, ministro
da propaganda nazista, já dizia
que “uma mentira repetida mil
vezes vira verdade”. Humphrey Barbosa em
palestra para Partido
dos Trabalhadores
Com o Tratado de Versalhes,
na década de 20, a Alemanha
passava por um momento de que houve candidaturas que conta.
crise e reinava um sentimento utilizaram o método de mexer
de frustração no país. Foi aí com a emoção das pessoas A propagação de notícias fal-
que Hitler e Joseph Goebbels para conquistar apoio. Em uma sas nas mídias sociais, assim
agiram com sua propaganda. das cidades, por exemplo, um como as veiculadas por Trump,
Hitler acreditava que o caminho candidato que já havia sido têm sido uma referência para a
para dominar a massa era pela derrotado em pleitos anteriores manipulação eleitoral. “Eu tra-
emoção, e não pela razão. usou a técnica na última elei- balhei na campanha de um can-
ção e percebeu uma mudança didato a prefeito em Timóteo.
Em 2016, a pós-verdade foi radical da opinião pública. Des-Muitas vezes tivemos de lidar
frequentemente usada em vá- sa vez, ele ganhou as eleições com perfis falsos nas redes so-
rias campanhas eleitorais. Nos com quase 50% das intenções ciais, criados apenas para pro-
Estados Unidos, o candidato de voto”, relata. pagar mentiras buscando atingir
republicano Donald Trump vei- a imagem do político”, conta o
culou informações falsas nas Para o marketólogo Hum- publicitário Ericson Rodrigues.
mídias, afirmando que Hillary phrey Barbosa, as emissoras Segundo estudo realizado em
Clinton fundou o Estado Islâ- de televisão também já utiliza- novembro do ano passado pela
mico, que o Papa Francisco o ram e ainda utilizam discursos agência Advice Comunicação
apoiava e que Barack Obama com o método da manipulação Corporativa, 78% dos brasilei-
era muçulmano. em questões políticas, técnicas ros se informam pelas redes
que são advindas da propagan- sociais, 42% admitiram ter com-
Segundo Ivo José da Silva, da nazista. “Durante os anos partilhado alguma notícia falsa
ex-deputado estadual e federal da ditadura militar, um bom e apenas 39% as checam com
de Minas Gerais, no Brasil tam- exemplo disto foi a música de frequência antes de difundi-las,
bém ocorrem discursos com a final de ano veiculada na Rede dados que, para especialistas
metodologia. “Acompanhando Globo: ‘Hoje é um novo dia, de no assunto, deixam claro como
as campanhas eleitorais de um novo tempo que começou, a pós-verdade pode influenciar
2016 na região Metropolitana nesses novos dias, as alegrias na construção de líderes políti-
do Vale do Aço, pude perceber serão de todos, é só querer’”, cos.

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A necessidade de se checar os fatos
Além de garantir que verdades venham a luz, “fact-checking” é usado como mecanis-
mo para produção de conteúdo de veículos.

Breno Veríssimo

T
odos os dias, milhares de informações apresenta a mesma proposta é o “e-farsas”, que
circulam nas redes e é inevitável que as há 15 anos rebate informações falsas divulgadas
pessoas as compartilhem. Porém, mui- nos meios sociais. Gilmar Lopes, idealizador do
tas vezes esses fatos são difundidos sem que site, afirma que na maioria dos casos registra-
haja a checagem necessária. Esse problema dos, as notícias e informações são as mesmas
acabou despertando a atenção de sites e por- há quase uma década. Elas apenas ganharam
tais da internet, que passaram a usar as falsas diagramação e estilos diferentes, para se pare-
notícias como forma de produzir conteúdo jorna- cerem mais com notícias de jornais ou de portais
lístico. de web. Em uma entrevista ao grupo Globo, em
abril deste ano, ele contou como isso normal-
No início de 2017, o G1, maior portal de notí- mente acontece. “O WhatsApp está conseguin-
cias do Brasil, lançou uma nova seção de ‘fac- do ressuscitar um monte de coisa antiga, graças
t-checking’ (checagem de fatos), intitulada de a pessoas que estão entrando agora na internet.
“É ou não é?”. Esse mecanismo é uma editoria Aquela tia, aquele avô, o pai que nunca tinha
exclusiva onde são analisadas falas de políticos mexido na internet... Um dos primeiros contatos
e outras personalidades públicas. Há também deles com a internet é com o WhatsApp, então
uma checagem sistemática de notícias e infor- voltam a aparecer boatos antigos”, explica.
mações espalhadas pelas redes sociais e sites,
além de textos com dicas e entrevistas com es- Outra preocupação que vem ganhando aten-
pecialistas. ção dentro das redações se refere à interfe-
rência que as falsas notícias podem causar na
Geralmente, as falsas notícias possuem cara e produção de conteúdo. Não são raras as vezes
linguagem de notícias jornalísticas verdadeiras, em que os setores de apuração fazem ligações,
o que só aumenta o risco das pessoas acredita- buscam informações e, posteriormente, perce-
rem no conteúdo ali apresentado. A ferramenta bem que a informação recebida não passava de
criada pelo G1 conta com a participação e a su- uma mentira.
gestão de internautas que mandam dúvidas em
relação à veracidade das matérias. Nesse caso, a produção de conteúdo sobre fa-
tos inventados ajuda a preencher jornais e atua-
Na região leste de minas, o portal já desmen- lizar portais, servindo também como serviço de
tiu a informação de que uma pessoa ameaçou utilidade pública, uma vez que muitas pessoas
envenenar alunos de uma escola de Ipanema também podem ter a mesma dúvida sobre a ve-
como parte do jogo Baleia Azul. A reportagem racidade de uma informação.
contou com posicionamento da polícia e de es-
pecialistas que checaram os fatos e boatos di- Com a dificuldade cada vez maior para poder
vulgados. identificar se uma notícia ou informação real-
mente é verdadeira, a necessidade de mecanis-
Mas não é apenas o G1 que oferece esse tra- mos de checagem se torna uma demanda cres-
balho de investigação quanto à veracidade de cente que já está sendo observada pelos donos
notícias veiculadas na internet. Outro site que da mídia.

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Quantos pontos de audiência valem
uma imagem?
Da Escola Base em São Paulo ao Rei do Pop nos EUA, a imprensa registra
em sua história inúmeros casos de notícias falsas veiculadas que geraram
grande repercussão e causaram grandes danos à imagem.

Victor Eduardo e Thatiane Moura

Q
uatro sócios de imagem? informação à imagem do casal.
uma escola parti-
cular de São Paulo Em algumas situações, o boato Se a difusão do boato se deve
drogam, fotografam e abusam criado pode levar a consequên- à apuração mal feita das in-
de crianças. Um dos maiores cias graves. No primeiro exem- formações, em alguns casos
artistas do mundo é pego com plo, citado acima, que se refe- a mentira pode ser proposital,
pornografia infantil em casa. O re ao famoso caso da Escola algo que até chega a ser co-
que essas duas notícias, que Base, no qual quatro sócios da mum, principalmente nos veí-
parecem tão distantes, têm instituição foram acusados de culos de imprensa que se des-
em comum? A mentira. E não abuso sexual infantil, a notícia tinam à cobertura da vida dos
é qualquer mentira, é uma que custou o fechamento da esco- famosos. Nesses casos, é feita
pode causar dano irreversí- la e a revolta popular contra os uma análise do quanto a reper-
vel à imagem da pessoa. Não indivíduos tidos como culpados. cussão de tal notícia pode ren-
são poucos os casos em que Os principais atingidos foram os der de audiência e o quanto ela
a imprensa se apoiou em cima proprietários da escola, Icushiro pode ser prejudicial com gastos
de calúnias para ganhar audi- Shimada e Maria Aparecida Shi- em indenizações. Se o lucro es-
ência, chegando, inclusive, a mada, que viram suas imagens timado for maior que a perda,
inventá-las por conta própria, ruírem diante da população. a conclusão é que vale a pena
algumas vezes. Diante disso, Nem a indenização de 1 milhão veicular a notícia, mesmo que
fica a pergunta: no meio jorna- e 350 mil reais foi capaz de re- ela atormente o indivíduo em
lístico, quanto ponto vale uma parar o dano causado pela falsa questão.

População se revoltou com donos da Escola Base, em SP, após


imprensa divulgar que eles haviam abusado de alunos

(Fotografia: Reprodução/ Google)


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Um setor da imprensa que ge- uma amante, até o cantor que atinge grandes públicos, a dis-
ralmente se vê envolvido em ca- escondia pornografia infantil em cussão que fica é se, nesse caso
sos de mentiras e difamação à casa, várias notícias antiéticas em específico, a utilização des-
imagem e honra das pessoas é estampam capas de revista e se “método jornalístico” se torna
o jornalismo celebridade. Tendo fazem a cabeça das pessoas, mais aceitável. Por enquanto,
grande crescimento a partir do que ganham novos assuntos mesmo que o Art. 6º inc. VIII do
final dos anos 90, essa especia- para alimentarem suas rodas Código de Ética dos Jornalistas
lização tem grande parte da sua de fofoca. Brasileiros diga que o profissio-
pauta sustentada, principalmen- nal tem “o dever de respeitar o
te, a partir de boatos que são Levando em conta que esse direito à intimidade, à privaci-
criados todos os dias em pro- estilo jornalístico já está conso- dade, à honra e à imagem do
gramas, revistas, sites e outros lidado, gera um grande número cidadão”, essa prática ainda é
meios. Desde o ator que tem de profissionais e, atualmente, comum, quase corriqueira.

CASO REPERCUSSÃO
O ano era 1994 e uma notícia bombástica tomou conta da
imprensa brasileira. Proprietários e sócios da Escola Base, de
Donos da Escola Base São Paulo, estariam abusando sexualmente dos alunos da
drogavam e abusavam instituição. A notícia, que depois, comprovadamente, se mos-
dos alunos trou falsa, fez com que a escola fosse fechada e os envolvidos
tivessem seus nomes sujos diante da sociedade.

Em 1989, 96 pessoas morreram pisoteadas, asfixiadas e es-


magadas junto às grades do estádio de Hillsborough, que só
tinha uma entrada disponível para uma multidão pouco maior
que 40.000 pessoas. O motivo de ter ocorrido a tragédia foi a
superlotação. No entanto, o jornal ‘The Sun’ dizia que a culpa
era dos “holligans” (torcedores conhecidos pela violência), que
Tragédia de estavam bêbados e causando confusão, versão que durou,
Hillsborough oficialmente, até 2012. A população se virou totalmente contra
os holligans (em sua maioria pobres e ligados a sindicatos),
dando o suporte necessário para que a primeira-ministra bri-
tânica Margaret Thatcher criasse várias leis que tiravam os
direitos dos trabalhadores e que enfraqueciam os sindicatos
do Reino Unido, além de provocar uma elitização no futebol
inglês, que passou a excluir os mais pobres, cenário que dura
até hoje.

Em 1993, o rei do pop foi acusado de pedofilia. A suposta víti-


ma, o jovem Jordan Chandler de 13 anos. Depois de um acor-
do amigável, a família do garoto se silenciou sobre o caso
e as investigações policiais foram arquivadas, nunca ficando
comprovado o suposto abuso. Porém a imagem do cantor fi-
Michael Jackson cou manchada e ele teve de enfrentar novas acusações de
pedófilo pedofilia nos anos 2000, das quais foi absolvido de todas. E
mesmo após sua morte em 2009, o cantor foi alvo acusações
sobre pedofilia, uma delas feita pelo site de fofoca americano
Radar Online, que alegou que a polícia havia encontrado por-
nografia infantil na casa dele em 2003.
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Publicidades, algoritmos e notícias falsas:
como a maior rede social do mundo se tornou
morada das pós-verdades
Os mecanismos que tornam o Facebook o principal meio de divulgação e
compartilhamento das pós-verdades.

Thatiane Moura

O
Facebook é a maior ramenta para as empresas de você e colocá-lo num grupo de
rede social do mun- direcionamento dos anúncios usuários no qual eu pretendo
do, com quase dois publicitários nela veiculados, a focar, afirmou.
bilhões de usuários ativos men- chamada ‘Facebook Ads’.
sais. Para muitos estudiosos, a A rede também foi importante
rede é considerada o principal para a decisão do Reino Uni-


meio de divulgação da pós-ver- do de deixar a União Europeia,
dade. Isso ocorreria devido a no chamado ‘Brexit’. O diretor
diversos fatores, como a pos- A publicidade no Face- de comunicações do ‘Leave.
sibilidade de direcionar men- book ajuda a encontrar as EU’ (movimento separatista),
sagens para um determinado pessoas certas, chamar a Andy Wigmore, disse ao jornal
público, por exemplo, através britânico ‘The Observer’ que o
atenção delas e obter re-
do Facebook Ads, como o al- grupo colheu dados pessoais
goritmo utilizado para a distri- sultados”. no ano passado e direcionou
buição do feed de notícias dos Facebook mensagens contra a União Eu-
usuários (o qual seleciona o ropeia para possíveis eleitores
que deve ser exibido na tela ini- Através da ferramenta, o no Facebook.
cial de cada pessoa) e as Fake anunciante pode escolher seu
news, compartilhadas frequen- público baseado em onde (da- O usuário da rede tem aces-
temente pelos usuários. dos demográficos) e como so a centenas de publicações
(comportamentos e informa- por dia, porém, a tendência é
Outro ponto a ser considera- ções de contato) as pessoas se que ele preste atenção ape-
do, é a queda de confiança na envolvem. Porém, a Facebook nas naquelas que foram exibi-
imprensa tradicional. De acor- Ads também pode ser utilizada das no começo do seu feed de
do com uma pesquisa feita pela para mandar mensagens diri- notícias. Para que o internauta
empresa americana de rela- gindo-se apenas para determi- visualize o conteúdo de seu in-
ções públicas Edelman, o nível nado público. teresse, o Facebook utiliza de
de confiança das pessoas na algoritmos, espécies de filtros,
imprensa tradicional de 2016 Apenas na campanha de Do- para organizar o que vai ser
a 2017 é de, em média, 67% nald Trump, foram gastos cerca exibido no começo, levando
no mundo e de 48% e 47% no de US$ 70 milhões com anún- em conta o comportamento do
Brasil e nos Estados Unidos, cios na plataforma. O diretor de usuário na rede. São conside-
respectivamente. Essa descon- publicidade do Partido Republi- rados aspectos como: o nível
fiança acaba gerando espaço cano, Gary Coby, assumiu que de interação entre quem publi-
para a indústria de criação de seu partido usou dados sobre cou e quem está visualizando;
notícias falsas formada no am- potenciais eleitores para tentar a data da postagem (quanto
biente virtual. convencê-los através da mídia mais recente, maiores as chan-
social. “Se você está no Fa- ces de ser exibida); o tipo de
A rede social possui uma fer- cebook, eu posso chegar até conteúdo, o qual você mais in-
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terage tem prioridade e o nível sas na tradução literal, são pro- um dos fundadores do Estado
de engajamento dos seus se- tagonistas quando o assunto Islâmico.
guidores com a publicação. é pós-verdade. No ano passa-
do, circulou pela rede a notícia A indústria de notícias falsas
Além dessas, há mais cinco que a principal figura religiosa é tão grande que nas eleições
regras de categorização: priori- do mundo, o Papa Francisco, americanas, por exemplo, o
dade para postagens da família apoiava Donald Trump para a nível de engajamento das pes-
e dos amigos (nessa ordem); presidência dos Estados Uni- soas com as notícias nas redes
notícias sobre assuntos de seu dos. O boato gerou tanta re- sociais, nos três meses antece-
interesse; postagens de entre- volta que, no mês passado, as dentes à eleição, foi maior com
tenimento; autenticidade do autoridades italianas encon- as Fake News do que com as
conteúdo da publicação, e se traram um grafite em Roma, notícias divulgadas pelas mí-
o ponto de vista da publicação no qual o líder do Vaticano e o dias convencionais, sendo de
é semelhante ao que o usuário agora presidente dos Estados 8,7 e 7,3 milhões, respectiva-
tende a interagir. Como resul- Unidos, ilustrado com chifres, mente, de acordo com dados
tado disso, o Facebook acaba estão se beijando. Falando em do BuzzFeed. Um ponto que
conectando pessoas que têm a Trump, o republicano contribui deve ser considerado é o que
mesma linha de pensamento, diretamente na disseminação as Fake News não são todas
que tenham a mesma opinião das notícias falsas pelas redes 100% mentirosas. Na maioria
sobre questões como futebol, sociais, chegando, inclusive, a dos casos, elas costumam ter
política, religião, entre outros. compartilhar em seu Twitter o fundamento em um fato real e
boato que o ex-presidente Ba- acabam sendo distorções de
As “Fake News”, notícias fal- rack Obama é muçulmano e notícias verdadeiras.

(Foto: Tony Gentile/Reuters)

Após circular pelas redes a notícia


falsa de que o Papa Francisco apoiava
Trump, autoridades italianas encontra-
ram grafite polêmico em Roma

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O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, em rio”, escreveu.
um post em sua própria conta, no dia 18 de no-
vembro do ano passado, garantiu levar a sério Além disso, algumas empresas, como o próprio
esse processo de desinformação e atualizou os Facebook, e o Google, criaram mecanismos de
usuários sobre as medidas que estão sendo to- checagem que apuram o conteúdo das notícias
madas contra ele. “Muitos de vocês têm pergun- compartilhadas. A maior rede social do mundo
tado o que estamos fazendo sobre a desinfor- também lançou para os seus usuários, em abril
mação, então, eu queria dar uma atualização. deste ano, um manual de como identificar se
Normalmente, nós não iríamos compartilhar uma notícia é verdadeira ou não. Esse manual
detalhes sobre o nosso trabalho em progresso, contém as seguintes dicas: seja cético com as
mas dada a importância destas questões e a manchetes, olhe atentamente para a URL, in-
quantidade de interesse neste assunto, gosta- vestigue a fonte, fique atento com formatações
ria de indicar alguns dos projetos que já temos incomuns, considere as fotos, confira as datas,
em curso: detecção mais forte, facilidade em verifique as evidências, busque outras repor-
denunciar, verificação por terceiros, rótulo em tagens, veja se a história é uma farsa ou uma
histórias que foram assinalados como falsas brincadeira e atente-se ao fato de que algumas
por terceiros ou por nossa comunidade (além histórias são intencionalmente falsas.
de mostrar avisos quando as pessoas lerem ou
compartilhá-las), mostrar artigos relacionados Vale a pena lembrar que o grupo de Zuckerberg
à qualidade, perturbar a economia das notícias adquiriu, há alguns anos, os direitos econômicos
falsas e continuar ouvindo sugestões de jorna- de outras redes, como o Instagram, outro aplica-
listas e outros da indústria de notícias. Algumas tivo popular no ramo que acaba utilizando dos
dessas ideias irão funcionar bem, e outras não. mesmos algoritmos e da mesma forma de publi-
Mas saibam que sempre assumimos isto a sé- cidade direcionada citadas.

“ Nosso objetivo é conec-


tar as pessoas com as his-
Mark Zuckerberg,
CEO do Facebook

tórias que elas acham mais


relevantes, e sabemos que
as pessoas querem informa-
ções exatas. Temos estado
a trabalhar neste problema
há muito tempo e vamos le-
var esta responsabilidade a
sério. Fizemos progressos
significativos, mas há mais
trabalho a fazer”.
Mark Zuckerberg
(Foto: Reprodução/Stream)
10
m

~
CineManipulaCAo
Além de abrigar mocinhos, vilões e outros personagens, a sétima arte também foi
utilizada como ferramenta de manipulação por regimes absolutistas.

Victor Eduardo

V
Veja como antes de abrir terreno para mocinhos, vilões e alienígenas, a sétima arte foi
utilizada por dois regimes políticos a fim de alienarem suas nações.

Quando, em 1895, os irmãos Louis e Auguste Lumière inventaram o cinematógrafo, eles mal po-
diam imaginar que aquele objeto estranho, movido à manivela, seria apenas o pontapé inicial de
uma indústria que se consolidaria até os dias de hoje. Tanto que Georges Mélies, um sujeito que
trabalhava com mágicas, tentou adquirir o aparelho com os irmãos Lumière e ouviu um sonoro
“não”, sob o argumento de que o invento só serviria para pesquisas.

Felizmente, essa projeção estava errada e a coisa foi evoluindo a tal ponto, que hoje o mercado
cinematográfico movimenta muito dinheiro e alcançou um nível profissional imensurável. Todavia
antes de virar objeto de entretenimento mundial, o cinema foi explorado por regimes que viram nele
a oportunidade de manipular massas e vender suas ideologias. Foi assim na Alemanha e na antiga
União Soviética.

Cinema Nazista
O nazismo foi um dos primeiros regimes a dos pela decadência alemã no período pós-
enxergar no cinema potencial para manipu- -primeira guerra mundial. Obviamente, es-
lação de massa. Coordenada pelo braço di- sas produções também buscavam enaltecer,
reito de Adolf Hitler, Joseph Pauls Goebbels, compulsivamente, a imagem de Adolf Hitler,
a propaganda nazista incluía filmes carrega- colocando o Führer como um herói nacional,
dos de xenofobia que, inclusive, vendiam a um homem que era capaz de sacrificar a vida
falsa ideia de que os judeus eram os culpa- pelo bem do seu povo.

(Foto: Andrew Harrer)


11
O primeiro filme de propaganda nazista foi
Steinhoff (diretor que se tornaria um aliado
criado em 1933 e se chamava “Mocidade He- do partido nazista), surgiram vários filmes
roica”. Ele contava a história do jovem Heini,
chancelados por Hitler e seus homens. “A
que largou o conforto da sua vida e famíliavitória da fé” (1933), “O triunfo da vontade”
para se juntar à Juventude Hitlerista, grupo
(1935), “Festa da beleza” (1938) e “O Eterno”
composto por jovens de classe média que se (1940), são alguns exemplos de obras carre-
encaixavam perfeitamente nas característi- gadas de pós-verdade, já que colocavam os
cas da raça ariana exaltada por Hitler. A per-
arianos como superiores aos outros, inclu-
sonagem foi inspirada em Herbert Norkus, sive classificando judeus como “parasitas”
que foi assassinado por comunistas enquan- consumidos pelo sexo e dinheiro, e enalte-
to fazia propaganda nazista em frente à suaciam a figura de Adolf Hitler, tratando-o como
casa. O filme não apresentava mentiras, já um verdadeiro Deus. Obviamente, existiam
que a história de vida de Herbert foi real, mas
diretores, roteiristas e artistas que se nega-
ele ajudou a criar o herói que o nazismo de-
vam a entrar no jogo do regime alemão. Um
fendia. Alguém que fosse capaz de tudo paradesses foi Fritz Lang, cineasta que foi convi-
defender o povo alemão das “imperfeições”, dado, junto com Thea von Harbou , a produzir
que incluíam judeus, ciganos, homossexuais filmes hitleristas. Ela aceitou. Ele recusou e
e outras minorias. saiu do país, decisão que outras figuras que
não quiseram compactuar com o ideal nazis-
Após “Mocidade Heróica”, dirigido por Hans ta também tiveram de tomar.

´
Cinema SoviEtico
Cartaz de Padenie Berlina (1950)
Dentro do contexto da pós-verdade, o cinema
soviético passa por duas fases importantes. En-
gana-se quem pensa que apenas os bolchevi-
ques utilizaram da ferramenta para alienar sua
população. Durante anos, o império czarista
propagou por meio de filmes e documentários
uma imagem da União Soviética que não exis-
tia: a imagem do país rico, com um povo feliz e
satisfeito, falso cenário que foi responsável pela
principal revolução do país, desencadeada em
1917. Com a vitória dos bolcheviques, uma nova
perspectiva era criada para o país, com o gru-
po de Lênin e Stalin se colocando ao lado do
povo e tomando como base o modelo socialista
de Karl Marx. Nos primeiros anos do novo go-
verno, ainda havia certa liberdade de expressão
e eram apresentados tanto filmes comerciais,
quanto políticos, sem precisar ter qualquer tipo
de vinculo com o mandato vigente. Essa liber-
dade foi respaldada principalmente durante o
governo de Trotsky. Porém, em 1922, quando
Joseph Stalin chega ao cargo de primeiro minis-
tro da União Soviética, o cinema é feito, priorita-
riamente, para enaltecer a imagem do homem
forte da nação na época, inclusive relacionando
a ele características que não batiam com a sua Obra cinematográfica destinada ao
personalidade. engrandecimento do líder soviético Josef Stalin
12
m

Um dos principais responsáveis por moldar Guerra Mundial. Já na primeira cena do filme,
esse novo “personagem” do Stalin foi o cineasta o céu era focado e, logo depois, a câmera se
Mijail Chiaureli, que dirigiu uma trilogia toda vol-
dirige a Stalin, devidamente vestido de branco,
tada à idolatria do primeiro ministro. Essa trilogia
fazendo uma relação do político com algo divino.
conta com os filmes: “O voto” (1946), “Padenie Em outro momento do filme, o foco são os ata-
Berlina” (1949) e “O Inesquecível 1919” (1950). ques da força aérea alemã no território soviético.
Em “O voto”, Lênin é retratado passando o con- Nesta cena, Stalin é retratado como um estrate-
trole do estado soviético a Stalin, atitude contrá-
gista, reunido com seu Estado maior e articulan-
ria ao testamento político do primeiro presiden- do a contraofensiva soviética, comportamento
te após a revolução russa, onde constava que contrário ao do perfil traçado por um dos seus
Stalin era um dos menos indicados para ocupar principais biógrafos, Dmitri Volkogonov, que o
o cargo de secretário geral. No terceiro filme, érotulou como alguém “impotente e inapto” em
feita uma retrospectiva histórica do país de 1919situações como esta. Havia ainda espaço para
até 1950, sempre seguindo um viés stalinista. a ridicularização de Adolf Hitler, sempre apare-
cendo na produção como alguém descontrolado
Entretanto, o filme que melhor exemplifica essa e gritando a todo instante, contrapondo Stalin,
falsa propagação da figura de Joseph é “Pade- sempre calmo e sereno.
nie Berlina”, cujo tema principal era a Segunda

Se o uso do cinema como difusor de pós-verdade foi efetivo para os dois regimes, é difícil res-
ponder, até porque há relatos de que a indústria movimentou bem menos grana nesses tempos.
Contudo, o fato é que foi uma tentativa a mais de cegar povos com pouco acesso à informação.
Algo que pode ser feito ainda hoje, mudando apenas os roteiros e protagoistas.
Veículos de comunicação apoiam a
reforma da previdência
Empresas usam o poder da massificação para vender a ideia de que a
reforma é positiva para o povo brasileiro.

Yngrid Bragança

A
Reforma da Previdência têm gera- o Presidente Michel Temer, a emissora utiliza
do polêmica entre a população, mas o seu narrador oficial para expor propagandas
você sabe do que ela se trata? A cha- próprias em apoio à reforma nos intervalos de
mada “Reforma da Previdência”, refere-se a sua programação.
uma proposta de emenda à Constituição (PEC
287-2016) que o Poder Executivo apresentou As chamadas são bem curtas, diretas e com
ao Congresso Nacional. Esta PEC prevê mu- uma fala um tanto apocalíptica: “Você sabe que
danças no sistema previdenciário de servidores se não for feita a Reforma da Previdência você
públicos, militares e trabalhadores da iniciativa pode deixar de receber o seu salário?”, ou “você
privada. Porém, está ocorrendo uma controvér- sabe que o Brasil quebra se não aprovar a nova
sia entre os cidadãos, pois uns apóiam e outros lei da Previdência?”, assim diz o locutor da emis-
são contra, e há também aqueles que não têm sora. Com um tom alarmante e uma trilha sono-
a mínima ideia do que esteja acontecendo no ra impactante, os comerciais buscam convencer
cenário político do país. os telespectadores de que, caso a reforma não
seja feita, o país “vai por água abaixo”.
Desde o dia 21 de março deste ano, o Sis-
tema Brasileiro de Televisão (SBT) começou a O jornal O Estado de São Paulo afirmou no
veicular campanhas a favor da reforma da pre- dia 10 de abril deste ano, que o governo busca
vidência. Segundo a revista Carta Capital, des- atrair apoio através da distribuição de verbas fe-
de o encontro do empresário Sílvio Santos com derais de publicidade, principalmente em emis-
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soras de rádio e televisão. Segundo o jornal, “a o discurso da pós-verdade induz as pessoas a
estratégia do Palácio do Planalto para afastar as criticarem aquilo que elas estão vendo e consu-
resistências à reforma é fazer com que locutores mindo”, afirma Daniel.
e apresentadores populares, principalmente no
nordeste, expliquem as mudanças sob um ponto O conceito de pós-verdade aponta para um
de vista positivo”. Tais posicionamentos são um contexto em que a crença do indivíduo se torna
tanto apelativos, como o exemplo do SBT, que mais importante do que os fatos e se sobrepõe
busca afetar o lado emocional do telespectador, a razão. Ela cria uma “cegueira interpretativa”
levando-o a não levantar uma crítica sobre o que no sujeito, que passa a ignorar evidências con-
a propaganda está reproduzindo e a considerar trárias às suas predisposições. É característico
o que está sendo apresentado, sem nem mes- do ser humano se prender aos posicionamen-
mo levantar uma pesquisa sobre. tos anteriores e ter dificuldade em mudá-los. Os
ambientes influentes na proliferação de massa
De acordo com o professor de Teorias da Co- (assim como redes de TVs nacionais) têm o po-
municação, Daniel Gustavo, a teoria crítica foi der de potencializar a reprodução de conteúdos
desenvolvida na primeira parte do século pas- midiáticos, assim como essa proposta que foi
sado, e consistia na ideia de que a indústria cul- feita a alguns veículos de propagar comerciais
tural seria um instrumento de dominação que em apoio à reforma da previdência.
levaria as pessoas a um processo de alienação
constante, sendo, deste modo, um mecanismo O professor Daniel sustenta que a reforma da
de controle social. “A indústria escondia ou ce- previdência tem que ser feita, porém, não nes-
gava as pessoas, levando-as a um consumo ses aspectos propostos. Segundo pesquisa rea-
cego, conduzindo-as a não refletir sobre suas lizada pelo instituto Datafolha, nos dias 26 e 27
condições de explorados diante de uma socie- de abril, das 2.781 pessoas ouvidas, 73% das
dade capitalista. E, pensando na pós-verdade, mulheres e 69% dos homens são contrários à
expressão que surgiu na década de 90 e que PEC. A rejeição é maior entre os mais escola-
em 2016 entrou para o dicionário de Oxford, rizados (76% entre os que têm ensino superior,
podemos fazer uma relação: a indústria cultural 73% entre os que têm ensino médio e 64% entre
leva as pessoas a um processo de alienação e os que têm ensino fundamental).

(Foto: Yngrid Bragança)

Reforma da Previdência é divulgada


de forma obscura
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ENTREVISTA

Bene Barbosa

“60 mil mortes por armas de fogo é a


prova de que o Estatuto do
Desarmamento não funciona!”
Especialista em Segurança Pública afirma que discurso
da pós-verdade é aplicado nas tentativas de desarma-
mento à população.

Pedro Samora

N
o Senado Federal, uma ideia legislati- mídia e governo de que armas de fogo provo-
va proposta no dia 1º de março deste cam mais mortes, é uma pós-verdade. Ainda de
ano reacendeu o debate sobre o fim acordo com o ativista pró-armas de fogo, “falta
do Estatuto do Desarmamento. A sugestão con- honestidade intelectual em colocar os fatos e as
seguiu mais de 60.000 apoiadores e agora será verdades acima da própria ideologia”.
encaminhada e debatida em Congresso Nacio-
nal. Uma das justificativas utilizadas pelo ala- VERÍSSIMA - No Brasil, a violência ou a crimi-
goano Anderson Alves, criador da sugestão, é nalidade é fruto da pobreza?
que “devido a não solução da violência e com o Bene Barbosa - Isso é um discurso ideológico,
aumento significativo da criminalidade, devemos e absurdamente mentiroso. Em nenhum lugar
dar o direito ao cidadão de defender sua casa, do mundo existe criminalidade porque existe
família e patrimônio”. pobreza. Mas no Brasil tentam provar que isso
é verdade. Ou seja, para eles, o problema está
De acordo com o especialista em Segurança no capitalismo, na má distribuição de renda, na
Pública, autor do livro ‘Mentiram para mim sobre desigualdade social. Além de ser um discurso
desarmamento’ e líder da ONG pró-armamento preconceituoso, dá a entender que só os pobres
Movimento Viva Brasil, Bene Barbosa, o assun- cometem crimes. Isso é mentira! Já foi provado
to desarmamento ficou em silêncio por quase que no Brasil, quando tivemos um crescimento
12 anos após a polêmica votação do referendo econômico, pessoas saíram da linha da misé-
de 2005. O especialista explica que, na época, ria. O principal exemplo disso é o nordeste, que
63,94% da população brasileira votou favorável nos últimos dez anos foi uma das regiões que
a comercialização de armas de fogo, mas, ape- mais se desenvolveu economicamente em nos-
sar da maioria ter votado “não” pela proibição de so país. Os estados nordestinos foram os que
armas e munições, de nada adiantou. A lei do mais tiveram distribuição de renda por meio dos
Estatuto do Desarmamento, aprovada no dia 22 programas sociais, e é também a que mais cres-
de dezembro de 2003 pelo ex-presidente Luiz ceu em nível de criminalidade. Principalmente a
Inácio Lula da Silva, continuou em vigor. criminalidade violenta e homicídios.

Bene frisa que, por falta de debates, os brasi- VERÍSSIMA - Mais armas de fogo, mais homi-
leiros passaram a acreditar que os objetos cau- cídios?
sam mortes, e não as ações humanas. Para ele, Bene Barbosa - A princípio, essa narrativa, por
boa parte desse discurso provido pela grande desconhecimento, parece ser lógica. Porém, na
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Ativista pró-armas de fogo,
Bene Barbosa realiza
palestras em universidades bra-
sileiras para promover debates
sobre armamento civil (Foto: Arquivo pessoal/ Bene Barbosa)

prática isso não acontece. Alguns países têm nú- anos pode comprar armas, e ninguém sai atiran-
meros gigantescos de armas de fogo nas mãos do em ninguém, é um dos estados com as me-
da população, muitos deles têm uma legislação nores taxas de homicídios dos EUA. Por outro
muito liberal para se comprar uma arma, e tem lado, uma cidade como Chicago, aonde existe
muito menos criminalidade do que no Brasil. uma forte tendência ao desarmamento, está en-
Não precisa ir muito longe, vamos analisar os tre as mais violentas do país.
nossos vizinhos: o Uruguai é o país mais arma-
do da América Latina, tem uma arma de fogo VERÍSSIMA – E em países como o Japão?
a cada seis habitantes, e apresenta a segunda Armas de fogo são fortemente restringidas
menor taxa de homicídios do continente, só per- à população e, ao mesmo tempo, apresenta
de para o Chile. O Paraguai, por exemplo, apre- índices de homicídios baixíssimos. O desar-
senta a terceira menor taxa de homicídios do mamento funcionou por lá?
continente latino americano - hoje, constam seteBene Barbosa - No Japão, o desarmamento
homicídios por 100 mil habitantes - e os dados nunca teve relação com a criminalidade. O que a
continuam despencando. E na Venezuela, onde mídia esconde, ou o que eles não sabem, é que
estão sendo aplicados métodos parecidos com o desarmamento no território japonês ocorreu no
os do Brasil para desarmar a população, há uma século XVI. Aconteceu porque os portugueses
taxa de 80 homicídios por 100 mil habitantes. introduziram a arma de fogo por lá, e os japone-
ses aprenderam a fabricar as armas, tornando-
VERÍSSIMA – Caso o porte e a posse de ar- -se algo corriqueiro. E os senhores feudais eram
mas de fogo sejam liberados, o Brasil se apoiados por exércitos formados por samurais
transformará em um “faroeste”? Haverá ge- que usavam espadas, arcos e flechas. Em uma
nocídio? situação de opressor versus oprimido, era im-
Bene Barbosa – Basta inverter o ônus da prova. possível de um camponês enfrentar a casta feu-
Os que fazem esse tipo de afirmativa mentirosa, dal usando enxadas, foices, armas brancas em
por conivência, esquecem que há países onde geral. E os camponeses perceberam que, com a
o porte e posse de armas de fogo são liberados arma de fogo, poderiam igualar o poder de for-
e não são nenhum “bang-bang” ou praticam al- ça com os senhores feudais. E como pretexto
gum tipo de genocídio. Basta analisarmos pa- mentiroso para o desarmamento, os senhores
íses como a Suíça, Finlândia, e até mesmo os feudais propuseram aos camponeses que en-
Estados Unidos, que dizem ser um país violento, tregassem suas armas de fogo para derretê-las
mas a taxa de homicídios por armas de fogo é com a intenção de construir uma grande estátua
de 4,2% por 100 mil habitantes. Já a do Brasil de Buda. No fim, a estátua de Buda não chegou
é de 29% por 100 mil habitantes. Em Vermont, a ser construída. Era apenas uma ação de con-
estado norte-americano, um adolescente de 16 trole social.
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Empresas usam pós-verdade para garantir
fidelidade de funcionários
Especialista garante que empresas muitas vezes alienam empregados, fidelidade no
trabalho é o objetivo.

Giane Larissa
“Sem essa empresa eu não za, doutora em Psicologia do e é dado um zoom nos pontos
teria nada na vida, não pre- Trabalho, a definição para o positivos. Surgem argumentos
tendo sair dela nunca”. Assim termo é justamente esse. como: o trabalho dignifica o ho-
pensa Rosemeire Gentil de mem, estamos te dando essa
Souza, mãe de dois filhos, di- oportunidade, pagamos em
vorciada, moradora da cidade
de Santana Do Paraíso. Atual-
“Quem já assistiu a uma dia, entre outros”, completa.
palestra motivacional no
mente com 39 anos, dos quais Segundo Anizaura, os recur-
trabalho fica até com culpa,
17 são dedicados à empresa sos utilizados para conseguir
em que trabalha, ela explica porque a empresa mostra a fidelidade dos subordinados
que deve tudo a esse emprego, que ela é excelente”. são atos quase imperceptíveis
pois, sem ele, os filhos teriam Anizaura Souza no cotidiano. “As pessoas não
morrido de fome. “Há dias eu são alienadas, pois a maioria
não tinha uma mistura para dar Ela explica que os argumen- sabe diferenciar o que é falso
para os meus filhos comerem, tos que a empresa utiliza para ou verdadeiro, as empresas
foi aí que eles me ofereceram convencer os funcionários de apenas oferecem argumentos
esse emprego. E ainda me pa- que lá é o melhor lugar para se convincentes na apresentação
gam bem!”, relata. O exemplo trabalhar devem ser verdadei- desses elementos, até pelo
de Rosemeire mostra como a ros, mas pondera que algumas fato de que contratar e demitir
pós-verdade é aplicada nas vezes é usada uma entonação gera um custo a mais. O desa-
relações entre empresas e fun- que faz o funcionário olhar so- fio é manter o funcionário mais
cionários. mente por um lado. “São dis- tempo ativo usando estratégias
farçados os pontos negativos cada vez melhores”, concluiu.
No fundo, a estratégia tem
como objetivo fazer com que os
funcionários gostem de traba- (Foto: Giane Larissa)
lhar, como no exemplo citado A era da pós-verdade:
acima. Para manter a linha de trabalhadores são gratos
trabalho organizada e produti- por terem um emprego
va, a empresa tenta apresentar
artifícios que sejam convincen-
tes para o trabalhador, fazendo
com que ele acredite que aque-
le é o melhor lugar para se tra-
balhar. A pós-verdade defende
a ideia de que fatos objetivos
têm menos influência em mol-
dar a opinião pública do que
apelos à emoção e às crenças
pessoais.

Para a psicóloga social Ani-


zaura Lídia Rodrigues de Sou-
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4° Periodo de Comunicacao Social - Jornalismo
1° Semestre de 2017
Docentes:
Adão Vieira de Faria
Anizaura Lidia Rodrigues de Souza
Breno Inácio da Silva
Daniel Gustavo da Silva e Souza
William Caldas Trevizani

Alunos:
Breno Luiz Verissmo
Giane Larissa Silva Souza
Layara Almeida Andrade
Pedro Paulo Samora Lopes
Thatiane Moura Ferreira
Yngrid Bragança Trindade Moreira
Victor Eduardo Rodrigues Santos
“Não foi o mundo que piorou, as
coberturas jornalísticas é que
melhoraram muito.”
Chesterton

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