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CURSO DE OPERADOR DE PRODUÇÃO DE PETROLEO

PRODUÇÃO

DISCIPLINA PRODUÇÃO 46
CAPITULO NOÇÕES DE ELEVAÇÃO E ESCOAMENTO
CURSO DE OPERADOR DE PRODUÇÃO DE PETROLEO

CAPITULO:
NOÇÕES DE ELEVAÇÃO E
ESCOAMENTO

CAPITULO NOÇÕES DE ELEVAÇÃO E ESCOAMENTO


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1 Primeiros conceitos

1.1 – Introdução
As empresas de petróleo buscam agregar reservas de hidrocarbonetos, delimitá-las e produzi-
las de forma economicamente viável. Toda esta atividade tem seu ponto culminante na produção,
quando o trabalho das inúmeras equipes envolvidas se materializa na forma de óleo e gás, entregues
para refino e consumo. A produção dos fluidos – óleo e gás – consiste numa notável série de
atividades cujo objetivo primordial é sua extração a partir da rocha porosa, seu tratamento e
condicionamento em plantas de processamento e, finalmente, seu transporte até os pontos de coleta.
Neste processo, a atividade de Elevação e Escoamento - EE tem o papel de viabilizar o
transporte dos fluidos desde o fundo do poço até a planta de processamento primário e posteriormente
até os pontos de coleta de óleo e gás. Elevação e escoamento eficientes significam maior vazão de óleo
e gás, além de menor gasto de energia e recursos. Ordinariamente o foco da atividade de EE está em
assuntos como eficiência do transporte, otimização da energia e desempenho de equipamentos, para
citar alguns. A atividade é orientada para a busca de soluções economicamente e tecnicamente viáveis.
Este curso pretende mostrar os aspectos básicos da elevação natural, que é um dos tópicos
inclusos no gênero elevação e escoamento. O estudo da elevação natural visa compreender os
fenômenos envolvidos no processo de escoamento do óleo e do gás desde o reservatório até a planta
de processo sem a utilização de qualquer fonte adicional de energia. Ou seja, não vamos considerar a
existência de bombas ou de gas-lift como forma de auxiliar a elevação dos fluidos, mas tão-somente
nos ateremos à forma como os fluidos são transportados tendo como fonte motriz apenas a energia do
próprio reservatório.
Antes de descrevermos as variáveis e fenômenos de nosso interesse, convém localizarmos a
elevação natural na cadeia de processos pela qual passa o óleo e o gás.

1.2 – Etapas de escoamento


No segmento E&P existem diferentes etapas de escoamento do óleo desde a rocha reservatório
até o terminal de recebimento. São elas: recuperação, elevação, coleta e exportação. Entre os três

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primeiros e a exportação existe o processamento primário que, em essência, separa líquidos e gás e os
condiciona para a exportação.

Linhas (submarinas ou
Linhas (submarinas de superfície)
ou de superfície)
EXPORTAÇÃO
COLETA

Poço
ELEVAÇÃO

reservatório
RECUPERAÇÃO

Figura 1: Desenho esquemático dos processos de recuperação, elevação e coleta de óleo e


gás.

Por que dividir o escoamento em etapas? Porque em cada uma delas, diferentes fenômenos se
manifestam e, eventualmente, até mesmo os modelos utilizados para descrever cada fase têm
importantes diferenças. Exemplificando algumas das características de cada fase, tem-se:
►► Recuperação: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre no meio poroso, dentro da rocha
reservatório. É um escoamento em baixa velocidade; o tamanho dos poros e gargantas por onde fluem
óleo, gás e água são usualmente muito pequenos, e a viscosidade e a tensão interfacial entre fluidos
são propriedades muito relevantes.
►► Elevação: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre na tubulação que fica dentro do poço de
petróleo. Muito importante neste escoamento é a energia utilizada para elevar o fluido contra a
gravidade. Ou seja, trazê-lo do fundo do poço à superfície consome uma quantidade considerável de
energia1, da mesma forma que ocorre a um homem que pretenda levantar um peso: quanto maior o
peso e maior a altura, maior o gasto de energia. E de onde provém esta energia necessária para
executar a tarefa de elevar os fluidos? Provém exatamente do reservatório e se manifesta na forma de
pressão: quanto maior a pressão do reservatório, mais energia há para elevar os fluidos. As variáveis

1
Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com reservas. Isto porque, a rigor,
não há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de energia em outro.

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mais importantes nesta etapa são a altura da elevação (isto é, a profundidade do poço) e a densidade
média dos fluidos.
►► Coleta: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre nas linhas e tubos que interligam o poço
até a planta de processo. Embora possa haver também uma componente de elevação nesta etapa (por
exemplo, no riser) o fenômeno mais significativo é a dissipação de energia mecânica dos fluidos
devido ao atrito com as paredes da tubulação. Também é nesta etapa em que ocorre a maior parte do
resfriamento dos fluidos.

►► Exportação: esta etapa é subseqüente ao tratamento dos fluidos, ao bombeamento dos líquidos e
à compressão do gás na planta de processo. As características desta etapa são as mesmas da coleta,
exceto pelo fato de envolver apenas escoamento monofásico, isto é, líquido ou gás, exclusivamente,
em cada tubulação. Isto simplifica consideravelmente o estudo. Por outro lado, este escoamento
freqüentemente faz parte de uma rede que envolve várias unidades de produção, o que aumenta a
complexidade.
Destas quatro etapas, dizem respeito à elevação natural as três primeiras. Estudá-las requer um
pouco mais de conhecimento sobre reservatórios, escoamento monofásico compressível e
incompressível e escoamento multifásico, o que será objeto dos próximos capítulos. Antes, porém, é
necessário reforçar nossos conhecimentos sobre as propriedades dos fluidos.

2 Natureza e propriedades dos fluidos

O estudo das propriedades dos fluidos é o termo que designa um conjunto de teorias,
procedimentos experimentais, modelagens e simulações com o objetivo de conhecer e prever o
comportamento de fluidos, isto é., suas características físicas, reológicas e termodinâmicas, sob o
efeito de condições impostas como pressão, temperatura (além de outras, como campos gravitacionais
ou magnéticos, num caso mais geral).
Óleo, gás natural e água são fluidos comumente associados na produção. A correta
compreensão do seu comportamento em diferentes condições de pressão e temperatura do
reservatório, além da precisa interpretação dos valores (medidas) a eles associados são de grande
importância no estudo do escoamento em meios porosos e tubulações e constituem, portanto, o objeto
de estudo deste capítulo da produção de petróleo.
As reservas de hidrocarbonetos no meio poroso (reservatório) podem se apresentar na forma
líquida, gasosa ou simultaneamente nas duas fases. Esse estado depende essencialmente da pressão e

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da temperatura, além da composição do fluido (se existem muitos componentes leves, há uma maior
tendência a se apresentar no estado gasoso etc.).
À medida que o fluido escoa do meio poroso em direção ao poço e à planta de processamento
primário, ocorrem alterações na pressão e temperatura que promovem uma mudança da composição
das fases. Assim, alteram-se todas as propriedades das fases. Ou seja, a densidade, a viscosidade, a
massa de cada fase etc., variam à medida que temperatura e pressão sofrem alterações.

2.1 – Definições

2.1.1 – Fases e componentes


O petróleo tem uma composição variada constituindo-se principalmente de hidrocarbonetos e
pequenas quantidades de nitrogênio e gás carbônico. Componentes como dióxido de enxofre, gás
sulfídrico, metais etc., também podem estar presentes em pequenas quantidades. Esta mistura se
apresenta sob a forma líquida ou gasosa, a depender da pressão, da temperatura e do peso molecular de
seus constituintes.

A seguir são apresentadas algumas definições, eventualmente sem grande rigor, de termos
usualmente empregados no estudo das propriedades dos fluidos.
Os fluidos são normalmente divididos em duas classes, quais sejam, líquido e gás (ou vapor),
cujas características próprias são amplamente conhecidas do cotidiano: o líquido tem massa específica
e viscosidade mais altas. Em oposição, o gás é um fluido altamente compressível.
►► Denomina-se fase qualquer porção de material com características uniformes em toda a
sua extensão. As principais fases presentes nas misturas de interesse são:
i) fase gasosa, ou simplesmente gás, constituída por hidrocarbonetos leves além de nitrogênio, gás
sulfídrico etc.
ii) fase líquida, usualmente denominada óleo, formada principalmente por hidrocarbonetos de cadeia
mais longa. Normalmente há uma segunda fase líquida constituída exclusivamente por água;
iii) fase sólida constituída por hidrocarbonetos de cadeia muito longa que dão origem aos depósitos de
parafinas e asfaltenos.
De interesse real no momento são as fases gás e óleo, cujo comportamento exige grande
atenção. A fase aquosa, por apresentar propriedades pouco variáveis, não será abordada.
►► Denomina-se componente a cada uma das substâncias presentes em uma mistura e que
apresentam propriedades bem definidas. Os componentes encontrados nas misturas de óleo e gás são,
por exemplo, metano (CH4), etano (C2H6), propano (C3H8) e demais hidrocarbonetos, além de dióxido
de carbono(CO2), nitrogênio(N2) etc.

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A tabela 1 mostra um exemplo de composição de petróleo. Embora chamemos este fluido de


petróleo, a rigor ele freqüentemente é constituído de duas fases: líquida (óleo) e gasosa, a depender da
pressão e da temperatura. Nesta tabela a coluna %molar indica a composição total do fluido. As
colunas seguintes mostram a composição da fase líquida e da fase gasosa, respectivamente, quanto
este fluido está submetido a 1 atm e 15,56 oC.

componente nome % molar % molar % molar


total líquido vapor
N2 nitrogênio 0.49 0 0.75
CO2 dióxido de carbono 0.14 0 0.21
C1 metano 50.44 0.48 76.90
C2 etano 6.04 0.35 9.05
C3 propano 5.62 1.19 7.97
iC4 isobutano 0.98 0.48 1.24
nC4 normal-butano 2.12 1.40 2.50
iC5 isopentano 0.56 0.72 0.47
nC5 normal-pentano 0.76 1.14 0.56
C6 hexano 0.52 1.19 0.17
C7 heptano 0.85 2.31 0.08
C8 octano 1.33 3.75 0.05
C9 nonano 2.30 6.59 0.03
C10 decano 2.68 7.71 0.01
C11 undecano 2.02 5.83 0
C12+ dodecano e outros 23.15 66.85 0
mais pesados
total 100 34.63 65.37

Tabela 1: composição típica de um petróleo da Bacia de Campos (RJS-383).

Cabe observar que cada fase é normalmente constituída de vários componentes. A


título de exemplo, a tabela 1, na quarta coluna, mostra a composição do líquido; nela se
observa que a fase líquida contém muito pouco metano, etano, nitrogênio e outros

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componentes leves, mas tem alta quantidade de componentes mais pesados. Já a fase gasosa,
como se vê na quinta coluna da mesma tabela, contém em grande quantidade os componentes
metano, etano e propano, e apenas pequenas proporções dos demais.
2.1.2 – Pressão de saturação
Sabemos que as duas fases normalmente encontradas nos fluidos de nosso interesse são óleo e
gás. Mas eles estarão sempre presentes? Não necessariamente. Pode ocorrer apenas uma das fases ou
ambas, a depender de três coisas: composição da mistura, pressão e temperatura.
Quanto à primeira – a composição – é mais ou menos intuitivo que, se uma mistura contém
grande quantidade de componentes leves, ou toda ela estará na fase gasosa, ou haverá uma quantidade
grande de gás e apenas um pouco de líquido. O inverso é também verdadeiro: em havendo muitos
componentes pesados, toda ou quase toda a mistura estará na fase líquida. Pode-se recorrer à quarta e à
quinta coluna da tabela 1 como exemplos da composição do óleo e do gás que saem do surge-tanque
de uma planta de processo.
A pressão e a temperatura atuam de forma inversa: quando as duas fases estão presentes e em
contato, um aumento de pressão faz com que uma parcela do gás seja absorvida pelo líquido, causando
uma redução do volume de gás e um aumento do volume do líquido; diz-se que o gás está dissolvido
no líquido. Já um aumento da temperatura promove o efeito contrário, isto é, a evolução de gás a partir
do líquido ou, de outra forma, a redução da quantidade de gás dissolvido. Há, porém limites de pressão
(e também de temperatura) para que as duas fases coexistam. Estes limites são o ponto de bolha e o
ponto de orvalho.
►► Denomina-se pressão de bolha de um fluido a menor pressão na qual não existe fase
vapor. É a pressão limite para o surgimento da fase vapor. De modo semelhante define-se a pressão
de orvalho como a pressão limite para surgimento da fase líquida, ou seja, é a pressão a partir da qual
um gás começa a condensar. Tanto a pressão de bolha quanto a de orvalho são denominadas pressão
de saturação.
Como ilustração, imaginemos um processo de despressurização de um fluido realizado num
cilindro com pistão, como ilustra a figura 2. Inicialmente temos o fluido em alta pressão e todo ele na
fase líquida; na segunda etapa, já com uma pressão menor, surge a primeira bolha de gás. Esta é a
pressão de bolha. O processo segue com a redução da pressão, aumento progressivo da quantidade de
gás e redução da quantidade de líquido, até o ponto em que resta apenas a última gotícula de líquido.
Este é o ponto de orvalho, a partir do qual a redução da pressão só faz expandir o gás.

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PRESSÃO DIMINUI

Somente Surge a primeira Desaparece a última Somente


líquido bolha de gás gota de líquido gás

Figura 2: processo de expansão de uma mistura de hidrocarbonetos.

O exemplo mostra um caso genérico, e ocorre efetivamente para determinados fluidos.


Contudo, para os petróleos comumente encontrados nas bacias brasileiras, para temperaturas usuais, o
ponto de orvalho não chega a ser observado. Ou seja, mesmo reduzindo-se a pressão à atmosférica,
ainda restará uma grande quantidade de líquido.
Tanto a pressão de bolha quanto à de orvalho são freqüentemente denominadas pressão de
saturação e são necessariamente função da temperatura.

2.1.3: Condições padrão


Toda e qualquer medição ou expressão de valores de propriedades dos fluidos é
necessariamente referida a condições de pressão e temperatura perfeitamente determinadas. De outra
forma, não haveria possibilidade de comparação entre valores.
As condições padrão de pressão e temperatura variam de um país para outro, mas no Brasil há
basicamente 2 padrões de interesse:

Padrão PETROBRAS pressão 1 atmosfera = 1.03323 kgf/cm2 = 1.01325 bar


temperatura 20 oC = 68 oF = 293.15 K
Padrão internacional (API) pressão 1 atmosfera = 1.03323 kgf/cm2 = 1.01325 bar
temperatura 15,56 oC = 60 oF = 288.71 K

2.2 – Propriedades básicas


As propriedades básicas e facilmente mensuráveis dos fluidos de interesse são:
►► Grau API
O grau API (American Petroleum Institute) é um parâmetro adimensional relacionado à
densidade do óleo morto (em condições padrão) e definido por:

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141,5
API = − 131,5
d

onde d é a densidade do óleo em relação à água. Esta densidade é definida por

massa específica do óleo ρ o


d= =
massa específica da água ρ w

Segundo esta definição de grau API, uma substância com massa específica 1,0 (como a água) teria um
grau API de 10; substâncias mais leves teriam um grau API progressivamente maior.

►► Based Sediments and Water - BSW


É o parâmetro adimensional que indica a quantidade de água e sedimentos contidos na fase
líquida do petróleo (sempre medida na condição padrão), geralmente expresso em base percentual.
Normalmente é utilizado com sinônimo de fração de água, embora isto não seja rigorosamente correto.

Vwsc Q scw Q scw


BSW = * 100 = * 100 = *100
Vosc + Vwsc Q sco + Q scw Q scL

Nesta definição Qwsc é a vazão de água, Qosc é a vazão de óleo e QLsc é a vazão de líquido,
todas medidas em condições padrão. A equação define o BSW em termos de volume ou, o que é
absolutamente equivalente, em termos de vazão volumétrica de água (subscrito w) e óleo (subscrito o),
sempre nas condições padrão de pressão e temperatura (indicadas pelo superscrito sc).

►► Razão gás–óleo - RGO


Define a quantidade relativa de gás existente num petróleo e é dada por:

Vgsc Q scg
RGO = =
Vosc Q sco

Esta equação também é dada em termos de volume ou de vazão de gás e óleo em condições
padrão. Os subscritos e superscritos são os mesmos aplicados anteriormente.

►► Razão gás-líquido - RGL


De modo semelhante a RGO, a RGL estabelece a quantidade relativa de gás num petróleo,
mas em comparação ao líquido total (óleo e água). É dada por:

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Vgsc Q scg
RGL = =
VLsc Q scL

2.3 – Modelo black-oil

2.3.1 – Conceituação
Dentre os modelos para o estudo do comportamento de fases de misturas de hidrocarbonetos,
o mais simples é o modelo black-oil. Consiste essencialmente na suposição de que a mistura de
hidrocarbonetos é constituída por apenas dois componentes: óleo (ou black-oil) e gás. Define-se óleo
como conjunto de hidrocarbonetos que permanece na fase líquida quando a mistura é levada à
condição padrão de temperatura e pressão (1 atm e 15,5 ou 20 oC). Igualmente, o gás é considerado
como o conjunto de substâncias que permanece na fase gasosa nas mesmas condições padrão. Observe
que o óleo, a rigor, é composto de inúmeros componente (metano, etano etc.), mas supomos que todos
eles juntos formam um único componente, que denominamos óleo. O mesmo se aplica ao gás. Para
condições de pressão e temperatura diferentes da condição padrão admite-se que a fase gasosa seja
constituída exclusivamente pelo componente gás, e a fase líquida seja formada por uma mistura dos
componentes gás e líquido. A figura 3 mostra esquematicamente o que acabamos de dizer.

PRESSÃO = 1 atm
TEMPERATURA = 20 ºC ALTA PRESSÃO

Fase gasosa:
Fase gasosa: componente gás
componente gás

Compressão dos
fluidos

Fase líquida: óleo +


Fase líquida: gás dissolvido
componente óleo

Figura 3: Desenho esquemático mostra os componentes e as fases, segundo o modelo black-oil.

A caracterização destes componentes é feita de modo bastante simples: óleo e gás são
classificados apenas por sua densidade ou, no caso do óleo, pelo seu equivalente grau API.

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2.3.2 – Propriedades
Sabemos que o gás pode se dissolver no óleo, a depender das condições de pressão e
temperatura. Logo, é fácil compreender que o volume de gás e o volume de líquido existentes numa
mistura varie, à medida que variam a pressão e a temperatura. Para quantificar essas variações,
algumas propriedades serão definidas com auxílio do desenho da Figura 4. Neste desenho, uma
quantidade de fluido é mostrada em duas situações distintas: inicialmente está submetido a uma
pressão P e temperatura T, apresentando-se na forma de uma fase líquida com gás dissolvido e uma
fase de gás livre; na segunda situação encontra-se expandido, já nas condições padrão de temperatura e
pressão, onde o gás dissolvido na fase líquida foi liberado e o gás inicialmente livre sofreu uma
expansão. Nas condições padrão os valores são denotados pelo superscrito (sc).
Na pressão P e temperatura T, quase todo o gás está dissolvido no óleo, mas é sabido que
algum gás também está dissolvido na água. O volume de gás dissolvido no óleo é aqui denominado
Vgdosc e o dissolvido na água é Vgdwsc. O volume total de gás dissolvido é a soma dos dois, isto é, Vgdsc
= Vgdosc + Vgdwsc.

óleo vivo
óleo morto Vgf sc
gás
água

Vg

Vgd sc

Vo
Vo sc

Vw
Vwsc

P, T 1 atm, 20 oC

Figura 4: Desenho esquemático do processo de expansão de uma mistura óleo, gás e água.►► Razão de
Solubilidade do gás no óleo – Rso

É a relação entre o volume do gás dissolvido na fase óleo (a P e T) e o volume da fase óleo,
ambos medidos em condições padrão. Utilizando como referência a Figura 4, temos que a razão de
solubilidade é data por:

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sc
Vgdo volume de gás dissolvido no óleo (cond.padrão)
Rso = sc
=
V o volume de óleo (cond.padrão)

Quanto maior a pressão, maior a quantidade de gás dissolvido no óleo e, conseqüentemente,


maior a razão de solubilidade.

►► Razão de Solubilidade do gás na água – Rsw


É a relação entre o volume do componente gás dissolvido na fase aquosa (a P e T) e o volume
da fase aquosa, ambos medidos em condições padrão. Tem-se então que:
sc
Vgdw volume de gás dissolvido na água (sc)
Rsw = sc
=
V w volume de água (sc)

Muitas vezes a Rsw é negligenciada por ser muito baixa. Nestes casos, admite-se que todo o
gás está dissolvido exclusivamente no óleo.
Freqüentemente usa-se o termo razão de solubilidade e se denota por Rs sem especificar se
trata de solubilidade no óleo ou na água. Este é o termo utilizado para indicar a razão de solubilidade
total, isto é, Rs = Rso + Rsw.

►► Razão Gás-óleo – RGO


É a mesma variável definida anteriormente, porém com uma nova formulação. Trata-se
simplesmente da relação entre a quantidade de gás total e óleo, em condições padrão. Assim,

Vgdsc + Vgfsc volume de gás total (sc)


RGO = sc
=
V o volume de óleo (sc)

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De modo semelhante pode-se definir a RGL.


►► Fator Volume de Formação do óleo – Bo
O Bo é uma medida da variação de volume que se observa no líquido quando o gás sai de
solução. É definido como a relação entre o volume da fase óleo na pressão e temperatura desejadas e o
seu volume nas condições padrão, i.e.,

Vo
Bo =
Vosc

►► Fator Volume de Formação da água– Bw

É a relação entre o volume da fase aquosa na pressão e temperatura especificadas e o seu


volume nas condições padrão, i.e.,

Vw
Bw =
Vwsc

Da mesma forma que ocorre com o Rsw, freqüentemente as variações de volume da água são
negligenciadas, o que significa adotar Bw = 1.

►► Fator Volume de Formação do gás (Bg)


Este termo se aplica exclusivamente ao gás livre, sendo definido como:

Vg
Bg =
Vgfsc

Rs - Razão de Solubilidade
A figura 5 mostra curvas típicas de dependência de Bo e Rs com a pressão .
Bo - Fator Volume de
Formação do óleo.

Rs Bo

pressão pressão

pressão de pressão de
saturação saturação

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Figura 5: Comportamento qualitativo de Bo e Rs com a pressão para uma dada temperatura.

Notar que as relações acima são dadas em termos de volumes das fases, mas são igualmente
aplicadas se o volume for substituído por vazão volumétrica.

2.4 - Relações úteis


Algumas relações úteis envolvendo as definições acima permitem o cálculo das massas
específicas do óleo e do gás:

ρ sco + R so ρ scgd ρ scg


ρo = ρg =
Bo Bg

3 Interface poço-reservatório

A primeira etapa do escoamento dos fluidos produzidos se dá no meio poroso das rochas. Este
meio poroso ou formação produtora ou ainda reservatório é geralmente constituída de rocha porosa e
permeável, saturada com óleo e/ou gás e/ou água, como esboçado na figura 5. Nesta figura estão
mostrados, numa ampliação esquemática, alguns grãos constituintes da matriz da rocha e os poros, que
são os interstícios entre os grãos.

Figura 5: Calcarenito poroso da Formação Macaé (poros em azul)

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Numa projeção horizontal, o escoamento se dá esquematicamente na forma mostrada na


figura 6. O primeiro desenho desta figura mostra as linhas de fluxo num escoamento radial, do interior
da formação para o poço. O segundo desenho mostra um típico desvio do escoamento radial em
função da existência de uma barreira de permeabilidade ou fronteira do reservatório.

Figura 6: escoamento radial no meio poroso e desvio do escoamento radial em função da


existência de barreira de permeabilidade.

Também numa forma esquemática, a figura 7 mostra o perfil de pressão no reservatório numa
projeção vertical. A pressão nas proximidades do poço é sempre mais baixa que no restante do
reservatório (a função da elevação é justamente manter essa pressão baixa). Como conseqüência,
ocorre um movimento dos fluidos no reservatório em direção ao poço. A linha que representa o perfil
de pressão tem um valor aproximadamente constante e alto longe dos poços. Este valor corresponde à
pressão estática do reservatório. Nas regiões onde há drenagem de fluidos (próximo aos poços) a
pressão sofre considerável redução e, na posição exata do poço, seu valor corresponde à pressão de
fundo em fluxo.

O perfil de pressão no reservatório é função das propriedades dos fluidos e as da própria


rocha, tais como viscosidade, permeabilidade, porosidade etc. A pressão de fundo em fluxo é uma
característica do poço e depende de diversos fatores, inclusive da vazão que o poço produz; por outro
lado, a pressão estática é uma característica do reservatório2 e é absolutamente independente das
características dos poços. Observa-se que os dois poços representados nesta figura, mesmo tendo o
mesmo valor de pressão estática, produzem com diferentes valores de pressão de fundo em fluxo.

2
Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma determinada região do reservatório e pode
apresentar valores diferentes para diferentes regiões. Isto, porém, não será abordado aqui em detalhes.

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Poço 1 Poço 2

Rocha impermeável

Pressão

Rocha produtora

Distância

Rocha impermeável

Figura 7: perfil de pressão ao longo do reservatório com 2 poços produtores.

A diferença entre a pressão estática e a pressão de fundo constitui a energia que faz com que o
óleo, a água e o gás migrem do interior do reservatório em direção ao poço. Logo, quanto maior a
pressão estática ou menor a pressão de fundo, maior deve ser a vazão escoada para o poço.
Para quantificar esta perda de carga seria necessário conhecer, além das leis que governam o
escoamento dos fluidos em meios porosos, algumas propriedades da rocha e dos fluidos como, por
exemplo, viscosidade, permeabilidade, saturação, porosidade e espessura do reservatório. Este
enfoque, porém, sob a ótica da elevação e escoamento, é difícil e impreciso. Uma abordagem muito
mais simples, direta e precisa é estabelecer um índice de produtividade (IP) do poço. Para definir o
IP tome-se como exemplo o esquemático da Figura 8. Neste exemplo admite-se que o poço esteja
produzindo uma vazão de líquidos QL. Este escoamento é causado por uma diferença de pressão P
entre a pressão estática de reservatório (Pe) e a pressão de fundo de poço (Pwf). Assim, o índice de
produtividade é definido como

QL QL
IP = =
∆P Pe − Pwf

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Pe
P
R
E
S
S
Ã
vazão ∆PRESERV
O

Pwf

Figura 8: desenho esquemático de um corte transversal num reservatório. Os fluidos escoam do interior
do reservatório (região de alta pressão) em direção ao poço (região de baixa pressão).

Através de testes de campo e modelagem do escoamento, observou-se que o índice de


produtividade é razoavelmente constante, independentemente da vazão de produção. Em outros
termos, a relação explicitada pela equação acima pode ser considerada válida para muitas situações.
Disto resulta que a vazão pode ser considerada uma função linear do P, como mostra a figura 10.
Esta curva representa o desempenho da formação produtora na região do poço e é comumente
denominada IPR. Também pode ser encontrada com a denominação curva de pressão disponível do
reservatório (CPD).

Em resumo, os principais parâmetros de reservatórios de interesse são pressão estática de reservatório


(Pe) e índice de produtividade (IP). Ambos podem ser medidos durante um teste de produção. Estes
parâmetros se relacionam com a pressão de fundo em fluxo através da equação que define o IP, que
também podem aparecer nas formas abaixo.

Q L = IP(Pe − Pwf )

QL
Pwf = Pe −
IP

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250
P = Pressão estática

200
pressão

150

100
Q = A.O.F.
Absolute Open Flow
50

0
0 200 400 600 800 1000

vazão

Figura 9: curva de desempenho a formação – IPR.

Esta relação linear entre pressão de fundo em fluxo e vazão não é absolutamente verdadeira
para qualquer situação. Em particular, quando existe gás livre presente no reservatório essa relação
deixa de ser válida e deve ser substituída por outros modelos mais adequados. Contudo, estes modelos
constituem uma sofisticação desnecessária no momento.

Ao longo do tempo a pressão estática do reservatório e o índice de produtividade podem sofrer


alterações. Os efeitos dessas alterações sobre a curva de pressão disponível do reservatório podem ser
observados na figura 10 e na figura 11. Em resumo, o IP determina a inclinação das curvas, já
que mesmo variando a pressão estática e mantendo-se o IP as curvas se mostram paralelas. Já na
situação que mostra diferentes valores de IP, nota-se a diferente inclinação das curvas.

Efeito da pressão estática 200 160 120

250

200
pressão

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000

vazão
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Figura 10: curvas de IPR (ou CPD) para diferentes valores de pressão estática e mesmos valores de IP.

Efeito do IP 40 10 5

250

200
pressão

150

100

50

Figura 11: curvas de IPR 0


(ou CPD) para diferentes 0 200 400 600 800 1000

valores de IP, mas com o vazão


mesmo valor de pressão estática.

4 Escoamento monofásico

Alguns conceitos envolvendo perda de carga em escoamento monofásico serão discutidos a


seguir. A perda de carga é a medida da diferença de pressão entre dois pontos de uma tubulação, ou
seja, é a diferença de pressão entre montante e jusante do escoamento.
Será apresentado o equacionamento para cálculo da pressão ao longo de uma tubulação.
Embora não seja aqui explicitado em detalhes, estas equações podem ser obtidas com aplicação do
princípio da conservação da quantidade de movimento a um fluido.

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4.1 – Escoamento incompressível


O escoamento é dito incompressível quando os fluidos não sofrem significativa variação de
densidade ao longo do processo. Consideremos a figura 12, abaixo.

P2

g
P1
θ

Figura 12: esquemático de um trecho de tubulação com escoamento ascendente.

Neste esquema, o escoamento se dá a partir do ponto inferior da tubulação em direção


ascendente. Admitindo que se trata de um fluido incompressível, a perda de carga tem duas
componentes distintas: friccional e gravitacional.

A primeira – fricção – é promovida pelo atrito entre o fluido e a parede da tubulação. A


Figura 13 mostra um típico perfil de velocidades numa tubulação de seção circular com escoamento
monofásico, onde se observa que próximo à parede a velocidade do fluido é pequena e cresce
progressivamente em direção ao centro. Pode-se entender o fenômeno como se a parede “freasse” o
fluido, causando assim uma perda de energia devido ao atrito (ou fricção).
A perda de carga por fricção é dependente de algumas variáveis, sendo que as de efeito mais
facilmente observável são:
 Viscosidade: quanto mais viscoso o fluido, mais difícil é deformá-lo. Para visualizar este efeito o
singelo exemplo doméstico do escoamento de mel numa colher é ilustrativo, principalmente se
comparado com o escoamento de água, que é um fluido pouco viscoso, nas mesmas circunstâncias.
 Velocidade: maior velocidade significa maior força de atrito com a parede da tubulação; logo, maior
a perda de carga.

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τ
velocidade
τ

Figura 13: perfil de velocidades numa tubulação.

A segunda componente da perda de carga é causada pela força gravitacional e equivale à


energia necessária para mover uma porção de fluido contra a força da gravidade. Esta componente é
função da inclinação da tubulação. Assim, a componente gravitacional da perda de carga no desenho
esquemático da

Figura 12 é proporcional ao seno de . Se for 90º, significando uma tubulação vertical, a perda de
carga gravitacional seria a máxima possível. Caso ela seja horizontal, isto é, = 0, esta componente
seria nula. Além disso, a perda de carga por gravidade depende da massa específica, ou densidade do
fluido.

4.1.1 – Perfil e gradiente de pressão


A representação gráfica da pressão ao longo de uma tubulação (poço ou linha) é denominada
perfil de pressão.
A diferença de pressão entre dois pontos de uma tubulação é denominada perda de carga e é
usualmente denotada por P.
A inclinação da curva do perfil de pressão, ou seja, a relação entre a variação da pressão para
um trecho de tubulação e o comprimento deste trecho, é denominada gradiente de pressão. Em
notação matemática, temos:

∆P
gradiente de pressão =
∆L

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Esses conceitos podem ser melhor fixados através de um exemplo como o da


Figura 14. Mostra-se ali o perfil de pressão numa tubulação horizontal para três valores distintos de
vazão; a pressão na entrada da tubulação (pressão a montante) é PM. A pressão na saída (pressão a
jusante) tem três valores, um para cada vazão, PA, PB e PC. A origem da diferença de pressão (perda de
carga) entre a entrada e a saída da tubulação é o atrito do fluido com as paredes do duto. Para o caso
A, em que a vazão é nula, observa-se que a pressão na saída é igual à pressão na entrada. Portanto P
é nulo e o gradiente de pressão também. Para o caso B a pressão a jusante é menor, significando que o
gradiente de pressão é:

∆P PB − PM
= <0
∆L B ∆L

Nota-se que, pela definição acima, o gradiente de pressão é negativo, significando simplesmente que a
pressão diminui na medida em que se avança na tubulação. Porém, por questão de praticidade, usa-se
negligenciar o sinal e expressar o gradiente de pressão sempre como módulo. Em notação matemática:

 ∆P  P − PM
gradiente de pressão =   = B >0
 ∆L  B ∆L

No caso C, finalmente, em que a vazão é a maior de todas, a perda de carga na tubulação é


máxima e o gradiente de pressão em módulo é também maior. Ou seja,

 ∆P   ∆P 
  > 
 ∆L  C  ∆L  B

Em resumo, o gradiente de pressão é nulo para o caso de vazão nula e seu valor absoluto
cresce à medida que a vazão aumenta.

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PM PA
QA = 0
PB
Pressão
QB
QA < QB < QC

PC

QC

comprimento

Figura 14: perfil de pressão numa tubulação horizontal.

A figura 15 mostra uma situação semelhante, mas com escoamento vertical ascendente. Neste caso,
consideramos apenas um valor de pressão a jusante (PJ) e diferentes valores para a pressão a montante
(no fundo do poço), a depender da vazão. Observa-se que o valor do gradiente de pressão embora
aumente (em módulo) com o aumento de vazão, ao contrário do que ocorre com o escoamento
horizontal, não é nulo para vazão zero. Isto se deve ao fato de haver desde o início um gradiente de
pressão resultante do próprio peso do fluido (gradiente gravitacional). Para valores de vazão diferentes
de zero, nota-se que a pressão de fundo aumenta, o que se deve à existência de uma perda de carga por
fricção, além da gravitacional já mencionada.
P J

Q A < Q B < Q C

c o m p rim e n to
Q A = 0

Q B

Q C

P re s s ã o P A P B P C

Figura 15: perfil de pressão numa tubulação vertical.

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4.1.2 – Equacionamento
O cálculo do gradiente de pressão (P/L) é modelado separadamente para suas duas
componentes: fricção e gravitacional. O termo para cálculo do gradiente de pressão por fricção em
tubulações é mostrado na equação abaixo, onde f é o fator de atrito de Fanning, d é diâmetro da

tubulação, v é a velocidade e  é a massa específica do fluido. O termo v corresponde ao módulo ou

valor absoluto da velocidade; é um valor sempre positivo.

∆P fρv v
= −2
∆L ATRITO d

Alguns importantes parâmetros do escoamento estão presentes nesta equação.


Primeiramente, temos a velocidade média do fluido na seção transversal da tubulação (v). Este termo
pode ser calculado simplesmente como a relação entre a vazão volumétrica (Q) e a área da tubulação
(A), ou seja,

Q
v=
A

É compreensível que a perda de carga por atrito seja dependente da velocidade, já que quanto
maior esta, maior deve ser a perda de energia do fluido por fricção com as paredes do tubo. Além
disso, a relação de dependência entre perda de carga e velocidade é quadrática, o que a torna o
parâmetro mais importante da equação. Cabe lembrar que, na definição de velocidade da equação
acima, a vazão é dada em condições locais, e não em condições padrão.
Outro termo importante é o fator de fricção (f), que é dependente da velocidade, da
viscosidade, do diâmetro da tubulação, da massa específica do fluido e da rugosidade da parede
interna da tubulação. Embora seja objeto dos cursos específicos de escoamento monofásico, mais
adiante será apresentada uma das formas de cálculo de f.
Observando-se mais atentamente a equação acima, nota-se que, caso a velocidade seja
positiva, isto é, caso o fluido escoe no sentido da tubulação que consideramos positivo, o gradiente de
pressão é negativo. Isto significa, simplesmente, que a pressão diminui na direção do escoamento.

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O termo para cálculo do termo gravitacional é mostrado na equação abaixo. Os únicos


fatores a influir neste termo são a massa específica do fluido () e da inclinação da tubulação () em
relação à horizontal.

∆P
= − ρgsen(θ )
∆L GRAVIDADE

Também aqui há que se averiguar o sinal do termo. Se considerarmos que o sentido positivo
da tubulação é o que aponta para cima, temos que o ângulo  é positivo, logo sen() também o é e,
conseqüentemente, o gradiente de pressão é negativo. Em outras palavras a pressão diminui à medida
que subimos na tubulação. Veja que não importa a direção em que o fluido se movimenta, mas apenas
a inclinação da tubulação em relação à horizontal. A figura 16 Ilustra o que acabamos de dizer.

P1

P2

θ<0

P1
P2
θ>0

θ > 0  P1 > P2  ∆P < 0 θ < 0  P1 < P2  ∆P > 0


Figura 16:
ilustrativo do sinal de P em função da inclinação da tubulação.

O gradiente de pressão total é simplesmente a soma destes dois termos, isto é,

∆P ∆P ∆P
= +
∆L TOTAL ∆L ATRITO
∆L GRAVIDADE

∆P fρv v
⇒ = −2 − ρgsen (θ )
∆L TOTAL d

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Um fato significativo nestas equações é que o termo gravitacional é independente da vazão


produzida. Já o termo de fricção é função quadrática da vazão. Assim, por exemplo, ao se dobrar a
vazão, deve-se esperar que o termo gravitacional permaneça invariável, mas o de atrito quadruplique
(aproximadamente).
Finalmente, a perda de carga numa tubulação é obtida diretamente do gradiente e do
comprimento da tubulação, na forma abaixo, onde L é o comprimento total da tubulação.

∆P
∆P = L
∆L TOTAL

Exemplo:
Admita-se água (densidade = 1) escoando por uma tubulação inclinada com ângulo de –8o
(descendente) de 10 cm de diâmetro e 1000 m de comprimento, numa vazão de 2500 m3/d. Considerar
f = 0.005. Determinar a perda de carga ( P) na tubulação.
Solução:
As equações utilizadas requerem que se trabalhe num sistema de unidades coerente, ou seja,
num sistema de unidades onde cada grandeza seja representada por apenas uma unidade. Por
simplicidade, escolheremos o Sistema Internacional (SI), onde as grandezas são o metro (m), o
kilograma (kg) e o segundo (s).
Esquematicamente, temos:
2500 m3/d
−8ο

10 cm
1000 m

Sentido positivo da
tubulação

d = 0.1 m (diâmetro da tubulação)


πd 2
A= = 0.007854 m 2 (área da secção transversal da tubulação)
4
m3 m3 m3
Q = 2500 = 2500 = 0.02894 (vazão volumétrica nas unidades do SI)
d 86400 ⋅ s s
m3
Q 0.02894 s = 3.684 m (velocidade média na seção transversal)
v= =
A 0.007854 m 2 s
A densidade do fluido é 1. Logo, sua massa específica é

ρ = d ⋅ ρ wsc = 1 ⋅1000 kg = 1000 kg


m3 m3
O termo de fricção é
 ∆P  2f 2 0.005 kg Pa
  = − ρv v = − 1000 3.684 2 = −1357 2 2 = −1357
 ∆L  fricção d 0 .1 ms m

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O resultado acima nos diz que a cada metro a pressão se reduz (valor negativo) em 1357 Pa, devido
exclusivamente à fricção.

O termo gravitacional é:
 ∆P 
  ( )
= − ρ g senθ = −1000 9.807 sen − 8o = 1365
Pa
 ∆L  gravitacio nal m

Este valor assim calculado nos mostra que a cada metro a pressão aumenta em 1365 Pa
devido à ação da gravidade. Isto deve ser intuitivo, já que no escoamento descendente espera-se que a
pressão aumente à medida que o fluido caminha na tubulação.
O gradiente de pressão total é a soma dos dois anteriores, ou seja,

 ∆P  Pa
  = −1357 + 1365 = 8
 ∆L  total m

Desta forma, tem-se que a perda de pressão total é o produto do gradiente calculado pelo comprimento
da tubulação, ou seja,

 ∆P  kgf
∆P =   L = 8 ⋅ 1000 = 8000 Pa = 0.08 bar = 0.082
 ∆L  total cm 2

Este resultado mostra que, embora haja uma considerável redução da pressão devido ao atrito,
há também um considerável ganho de pressão devido à gravidade, de modo que os dois quase se
compensam totalmente. Como resultado prático, a perda de carga efetiva na tubulação é quase nula,
mas positiva, significando que há um pequeno aumento de pressão do início até o final da tubulação.

O fator de atrito pode ser determinado de várias formas. Freqüentemente está associado ao
número de Reynolds (NRe), definido por:

ρvd
N Re =
µ

onde é viscosidade dinâmica do fluido, é a massa específica, v é a velocidade e d é o diâmetro


interno da tubulação. Todas estas grandezas devem estar expressas num sistema coerente de unidades.

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Para escoamento laminar (NRe abaixo de 2000) e tubo liso (rugosidade nula) f toma a forma:

16
f =
N Re

Para escoamento turbulento pode-se adotar a relação dada por Drew (1) (referencia) válida
para 3000 < NRe < 106.
−0.32
0.0056 + 0.5 N Re
f=
4

Ou ainda a equação de Blasius (2) (referencia) válida para 3000 < NRe < 105.
−0.25
0.316 N Re
f=
4

4.2 – Escoamento compressível


O escoamento compressível é aquele em que ocorrem significativas variações da massa
específica do fluido durante o percurso ao longo das tubulações ou restrições. Tipicamente isto ocorre
em escoamento de gás, já que à medida que a pressão varia ao longo do escoamento, naturalmente a
massa específica varia na mesma proporção. Logo, se há alteração de massa específica, ou seja, se o
gás está mais ou menos comprimido, há também uma variação da vazão volumétrica e,
conseqüentemente, da velocidade do gás. Notar que isso não significa, em absoluto, um aumento da
vazão mássica de gás, ou seja, a quantidade de gás (em kg/s, por exemplo) que atravessa uma
determinada seção transversal da tubulação é a mesma que atravessa qualquer outra seção, mesmo
distante; apenas a velocidade terá mudado porque no trajeto o gás se tornou mais ou menos rarefeito.
Desta forma, as variações de massa específica, de velocidade e de viscosidade do fluido
afetam as componentes da perda de carga por fricção e gravitacional. Ou seja, o gradiente de pressão
não é mais constante ao longo da tubulação, mas pode variar de acordo com as condições locais.

Rigorosamente, no escoamento compressível há um terceiro componente de perda de carga.


Como ilustração, vamos utilizar o esquema da figura 12; admitamos ainda que o fluido seja gás e a
pressão no início da tubulação, P1, seja mais alta que P2. Neste caso o gás no início da tubulação está
mais comprimido (alta massa específica), e sofre expansão em direção ao ponto 2, o que implica em

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aumento da velocidade. O aumento de velocidade (aceleração) implica na existência de uma força que
atua sobre o fluido na direção do escoamento. Esta força atuando na área da tubulação corresponde a
um gradiente de pressão adicional, assim chamado gradiente de pressão por aceleração. A equação
que descreve este termo adicional é:

∆P ∆v
= − ρv
∆L ACELERAÇÃO ∆L

A primeira quantidade que aparece nesta definição é a massa específica (), significando que
quanto maior esta, maior será o gradiente de pressão por aceleração (em módulo). Isto deveria ser
intuitivo, já que, quanto maior a massa (ou seja, quanto mais “pesado”) for um fluido, tanto mais
difícil deve ser acelerá-lo. Em seguida aparece a velocidade (v) e sua variação ao longo da tubulação
(v/L), significando que quanto maior a velocidade ou quanto mais se deseja que esta varie ao
longo da tubulação, tanto maior será o gradiente de pressão necessário.
Desta forma, considerando todas as parcelas de perda de carga já vistas, o gradiente de pressão
total numa tubulação onde escoa um fluido compressível é:

∆P ∆P ∆P ∆P
= + +
∆L ∆L ATRITO ∆L GRAVIDADE ∆L ACELERAÇÃO
∆P fρv 2 ∆v
⇒ = −2 − ρgsen (θ ) − ρv
∆L d ∆L

Deve-se notar que os cálculos já não são tão simples neste tipo de escoamento. Primeiramente
porque a massa específica () não é constante ao longo da tubulação, mas depende da pressão. Em
segundo lugar porque é necessário conhecer o perfil de velocidade (v) ao longo da tubulação, mas esta
velocidade também depende do perfil de pressão.

Para situações ordinárias a perda de carga por aceleração é pequena quando comparada aos
outros termos. Por esta razão, é freqüentemente desprezada e o problema é tratado com a mesma
equação do escoamento incompressível. Isto, porém, não reduz muito significativamente o esforço de
cálculo, porque o valor da massa específica continua dependente da pressão. Geralmente, exceto para
casos muito particulares, este tipo de problema é resolvido por um método numérico, geralmente
iterativo, segmentando a tubulação em pequenos trechos. Os simuladores de escoamento geralmente
empregam esta técnica.

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A figura 17 mostra perfil de pressão típico para o escoamento horizontal compressível. A


diferença entre este e o do escoamento incompressível é a curvatura negativa do perfil de pressão. Isto
ocorre principalmente (mas não exclusivamente) pelo aumento da perda de carga por fricção. De fato,
à medida que o fluido caminha na tubulação, ele se expande. Esta expansão gera um aumento da
velocidade que, por sua vez, causa um aumento da fricção com o conseqüente aumento da perda de
carga total.

QA = 0

Pressão

Q A < QB < QC
QB

QC

comprimento

Figura 17: perfil de pressão no escoamento horizontal compressível.

4.3 –pressão requerida e pressão disponível


O gradiente de pressão, como se observa pelas equações anteriores, depende de diversas
variáveis; todavia, uma das mais importantes é a vazão (ou velocidade, já que ambas estão
relacionadas). Para verificar esta dependência considere-se o escoamento horizontal de um fluido
incompressível como mostrado na fFigura 18 para uma tubulação de 1000 m de comprimento.
Observa-se que diferentes valores de velocidade resultam em valores de gradiente de pressão também
diferentes. Logo, considerando que a pressão a montante (no início) da linha é sempre constante e

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igual a 10 kgf/cm2, resulta que a pressão a jusante (no final) da linha é dependente da velocidade (ou
vazão). Esta relação de dependência pode ser expressa graficamente na forma mostrada na f
Figura 19. A abscissa desta figura é a vazão, ao invés de velocidade, meramente por conveniência.

12
V= 0
10

V= 1 m/s
P R E S S ÃO (kgf/cm2)

6
V= 2 m/s
4

2
V= 3 m/s
0
0 200 400 600 800 1000
C OMP R IME N TO (m)

Figura 18: escoamento horizontal de fluido incompressível. Pressão a montante


constante de 10 kgf/cm2.

12

V=0
PR ESSÃO D ISPON ÍVEL (kgf/cm2)

V = 1 m/s
10

8
V = 2 m/s
6

2
V = 3 m/s
0
0 500 1000 1500 2000 2500
VAZÃO (m3/d)

Figura 19: curva de pressão disponível vs Vazão.

A curva apresentada nesta figura é denominada curva de pressão disponível (CPD). Ela
indica o quanto “sobra” de pressão no final da linha para cada valor de vazão. Quanto maior a vazão,

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menor a pressão disponível no final da linha, ou seja, para maior vazão o fluido “perde” mais energia
na tubulação e chega ao final com energia mais baixa (menor pressão).
O mesmo tipo de raciocínio pode ser desenvolvido no sentido inverso, ou seja, considerando
que a pressão de jusante é constante. Nesta situação, a pressão de montante pode ser calculada e se
torna dependente da vazão, como mostra a Figura 20. De fato, o valor da pressão a montante da
tubulação pode ser entendido como o valor necessário para que o fluido chegue ao final com uma
pressão ainda de 10 kgf/cm2, considerando a perda de energia ao longo da tubulação. Como
anteriormente, a dependência entre vazão e pressão pode ser expressa na forma gráfica o que mostra a
Figura 21. Esta curva é denominada curva de pressão requerida (CPR) e indica qual a pressão
necessária no início da linha para fazer com que o fluido chegue ao final com uma pressão
especificada (neste caso, 10 kgf/cm2).

20
V= 3 m/s
18
PR ES SÃO (kgf/cm2)

16
V= 2 m/s
14

12
V= 1 m/s
10
V= 0
8
0 200 400 600 800 1000
C OMPR IMEN TO (m)

Figura 20: escoamento horizontal de fluido incompressível. Pressão a jusante


constante de 10 kgf/cm2.

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20
Q = 300 m3/d
PRESSÃO REQUERIDA (kgf/cm2)
18

16
V = 2 m/s
14

V = 1 m/s
12

10
V=0
8
0 500 1000 1500 2000 2500
VAZÃO (m3/d)

Figura 21: curva de pressão requerida.

O mesmo tipo de raciocínio se aplica ao escoamento vertical para geração das curvas de
pressão requerida e disponível. Embora os exemplos anteriores fossem restritos ao escoamento
monofásico incompressível, os conceitos de pressão requerida e disponível podem ser estendidos
facilmente para fluxo multifásico e compressível.
As curvas de pressão requerida e disponível são classificadas como curvas de sistema. Elas
apresentam a pressão num determinado ponto da tubulação em função da vazão (P vs. Q). Ao
contrário, as curvas de perfil, vistas anteriormente, mostram a pressão em todo a extensão da tubulação
para um determinado valor de vazão (P vs. L).

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5 Escoamento multifásico

5.1 - Generalidades
Diz-se que um escoamento é multifásico quando existe deslocamento simultâneo de fluidos
que se apresentam em mais de uma fase. Água e ar escoando através de uma tubulação, por exemplo,
formam uma mistura bifásica, isto é, com duas fases: uma líquida e uma gasosa. O escoamento
normalmente encontrado na produção de petróleo é, porém, o trifásico, com duas fases líquidas e uma
gasosa – água, óleo e gás. Para efeito de simplicidade, porém, este escoamento é freqüentemente
tratado como bifásico, com uma fase líquida (óleo + água) e uma fase gasosa (gás natural). Neste texto
o termo multifásico se refere exatamente a este tipo de escoamento, ou seja, bifásico líquido-gás.
Na produção de petróleo o escoamento multifásico aparece em duas situações: a primeira é no
meio poroso (reservatório) e seu estudo e compreensão é objeto de matéria específica; na segunda –
geralmente denominada pelo termo genérico produção - o escoamento se dá na coluna de produção e
na linha de surgência, e seu conhecimento permite o dimensionamento das tubulações, dos
equipamentos de elevação artificial e a determinação das vazões de operação de um poço ao longo de
sua vida produtiva, além de ser conhecimento básico para a solução de problemas diversos.
A maior parte da pressão disponível em um reservatório de petróleo, usada para elevar os fluidos
até os separadores de produção, é perdida no fluxo vertical multifásico – F.V.M. Tome-se, por
exemplo, um poço de petróleo produzindo de um reservatório com as seguintes características:
 Profundidade.................................... 3000 m
 Pressão estática do reservatório........ 210 kgf/cm2
 Razão gás–óleo............................... 130 m3/m3
 Diâmetro da coluna............................. 3 ½ pol
 Pressão na cabeça do poço................ 14 kgf/cm2

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A tabela 2 ilustra a percentagem da pressão disponível perdida no reservatório, no fluxo vertical e


no fluxo horizontal.
IP Vazão de óleo % de queda de pressão
m3/d/kgf/cm2 m3/d Reservatório Elevação Coleta
2,5 2700 36 57 7
5,0 2700 26 68 7
10,0 4500 15 78 7
15,0 4800 11 82 7
Tabela 2: percentagem de queda na pressão estática durante o escoamento do fluido
do reservatório até a planta de processo.

5.2 - Padrões de escoamento


O primeiro fato notável a respeito do escoamento multifásico gás-líquido é que os dois fluidos
não escoam com a mesma velocidade. No escoamento ascendente (como na coluna de produção) e no
horizontal (como nas linhas) o gás tende a adquirir velocidade mais alta que o líquido e isto tem
conseqüências sobre o comportamento de pressão nas tubulações.
Outro fato diz respeito à topologia do escoamento, ou seja, à forma como gás e líquido se
arranjam e se interpõem no interior da tubulação. Inúmeros experimentos realizados ao longo de
algumas décadas detectaram alguns arranjos básicos dos fluidos em escoamento e os classificaram de
acordo com seu aspecto. Esses arranjos, denominados arranjos de fases ou padrões de escoamento,
são diferentes para o escoamento horizontal e vertical. Sua classificação depende do investigador, mas
usualmente admite-se uma divisão geral conforme mostrada a seguir.
Para o escoamento vertical os arranjos normalmente encontrados são mostrados
esquematicamente na figura 22. Os arranjos que se observam num determinado poço são função de
diversos parâmetros de escoamento, principalmente das velocidades do líquido e do gás. É usual
ocorrerem diferentes padrões em diferentes partes de um mesmo poço.

CAPITULO NOÇÕES DE ELEVAÇÃO E ESCOAMENTO


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Figura BOLHAS GOLFADAS TRANSIÇÃO ANULAR 22:


arranjo de fases para escoamento vertical bifásico líquido-gás.

No primeiro tipo de escoamento – bolhas – a fase contínua é a líquida e o gás flui na forma de
bolhas dispersas. Exceto pela baixa densidade, é pouca a influência do gás no gradiente de pressão. É
tipicamente o padrão de escoamento encontrado com baixa velocidade de gás.
No escoamento em golfadas a fase contínua também é a líquida. O gás flui em bolhas com
formato de projétil (bolha de Taylor) seguido por um pistão de líquido, além de uma grande
quantidade de pequenas bolhas dispersas na massa líquida. Ambas as fases tem forte influência no
gradiente de pressão.
O escoamento no padrão de transição ou caótico ocorre para velocidades altas de gás e
moderadas de líquido. Ambas as fases são descontinuas e tem grande impacto no gradiente de pressão.
Neste padrão, não existem formas características das porções de líquido e de gás.
Finalmente no último padrão – anular – o gás passa a ser a fase contínua, ficando o líquido na
forma de gotas dispersas no núcleo central gás, além de um filme aderido a parede. O gás tem
influência predominante no gradiente de pressão. Este padrão é observado para altas velocidades de
gás.

CAPITULO NOÇÕES DE ELEVAÇÃO E ESCOAMENTO


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Também o escoamento horizontal apresenta diferentes arranjos de fase, porém, com maior
diversificação. A figura 23 apresenta esses padrões. Embora haja diversas classificações, aqui eles são
divididos em quatro classes, a saber, segregado, intermitente anular e bolha, cada um com subdivisões.

Estratificado
suave

SEGREGADO

Estratificado
ondulado

bolha
alongada

INTERMITENTE

Golfada

Anular

Anular
ANULAR

Anular com
ondas

Bolhas BOLHA
Bolha
dispersas

Figura 23: padrões de fluxo para escoamento horizontal bifásico líquido-gás.

A classe de escoamento segregado apresenta as fases líquida e gasosa ocupando espaços bem
definidos da tubulação e divide-se em dois padrões, estratificado e ondulado. Em ambos a fase
líquida ocupa a parte inferior da tubulação, havendo uma completa separação entre líquido e gás; a
diferença é apenas o grau de ondulação da interface.
O escoamento intermitente divide-se em dois padrões, a saber, bolha alongada e golfada.
Em ambos observa-se a alternância entre fases.

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Na classe anular o líquido ocupa as paredes da tubulação e o gás, o núcleo. Podem haver gotas de
líquido dispersas no meio gasoso. Apresenta basicamente dois padrões, que são o anular, propriamente
dito, e o anular com ondas.
Finalmente, o padrão bolhas se assemelha ao de mesmo nome do escoamento vertical e
consiste num grande número de bolhas dispersas de modo mais ou menos homogêneo num meio
líquido.

5.3 – Hold-up
Numa seção transversal de uma tubulação multifásica, num determinado tempo, normalmente
parte do espaço é ocupado por líquido e o restante por gás, como mostrado na figura 24. Define-se,
assim, a fração de residência da fase como a fração da área da seção transversal ocupada pela fase em
questão. As frações de residência das fases gasosa e líquida são mostradas nas equações abaixo.
Obviamente, variam entre zero e 1.
A G área ocupada pelo gás
HG = =
A área da tubulação
A área ocupada pelo líquido
HL = L =
A área da tubulação

A fração de residência da fase líquida (HL) também é denominada hold-up, que é um termo
mais difundido na indústria. O melhor meio de se determinar o hold-up é realizar medições
diretamente na tubulação. Porém, isto é quase sempre tecnicamente e economicamente inviável, o que
requer uma forma alternativa para sua determinação. De uma forma mais simples, o hold-up pode ser
calculado através de correlações especialmente elaboradas para este fim a partir de algumas variáveis,
onde as principais são as velocidades do líquido e do gás. Porém, essas correlações são função do
padrão de escoamento. Ou seja, deve-se primeiramente conhecer o arranjo de fases de um escoamento
para depois determinar o hold-up.
O hold-up é uma variável de grande importância porque permite calcular as propriedades
médias do fluido. Assim, propriedades como densidade, viscosidade, etc. da mistura são calculadas
como média das propriedades individuais de cada fase, ponderada pelo hold-up.
A massa específica de uma mistura líquido-gás deve ser calculada com base no hold-up,
conforme a equação abaixo.
ρ m = ρ L H L + ρ G (1 − H L )

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Esta equação estabelece a massa específica da mistura ( m) como uma média entre a massa
específica do líquido ( L) e a do gás ( G), ponderada pelo hold-up.

Fase gasosa
Área da fase
gasosa

Fase líquida

Figura 24: separação entre fases numa Área da fase líquida tubulação.

5.4 – Escorregamento
Líquido e gás não escoam por uma tubulação (e nem mesmo num meio poroso) com a mesma
velocidade. De fato, há o efeito denominado escorregamento, que consiste em velocidades
diferenciadas para cada fase sendo que, em geral, a velocidade do gás é mais alta. A quantificação
deste escorregamento, isto é, da diferença de velocidades entre as fases, é necessária para a
determinação dos perfis de pressão e temperatura ao longo das linhas. Por outro lado o escorregamento
é função do padrão de escoamento (figuras acima) e do hold-up. E, adicionando um pouco mais de
complexidade, o padrão de escoamento também é função da pressão e da temperatura locais. Assim,
estabelece-se uma relação de interdependência entre padrão de escoamento, hold-up, escorregamento,
pressão, temperatura e propriedades dos fluidos, onde cada uma dessas quantidades é função das
demais.

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O escoamento multifásico é modelado por equações muito semelhantes à do monofásico.


Entretanto, o padrão de escoamento passa a ter importância porque auxilia no cálculo da diferença de
velocidades entre fases. Essa diferença de velocidade, por sua vez, é necessária para calcular as
frações de líquido e gás na tubulação e, por conseguinte, determinar a massa especifica, viscosidade,
além de outras características da mistura líquido-gás.
O nível de complexidade envolvido nos cálculos de perda de carga em escoamento multifásico
é bastante elevado. Numa visão simplificada, pode-se dizer que são necessárias uma equação para o
líquido (escoamento incompressível), outra para o gás (escoamento compressível) e uma adicional
para a interação entre ambos.
Hoje são disponíveis programas de computador capazes de realizar estes cálculos num tempo
relativamente curto. Assim, grande parte do esforço de cálculo é eliminado. O detalhamento destas
correlações, mapas de fluxo, cálculo de hold-up etc. são objetos de um curso específico.

5.5 – Perfil de pressão


Mesmo não recorrendo a equações para calcular a perda de carga e demais parâmetros do
escoamento, deve-se compreender o comportamento qualitativo da perda de carga em escoamento
multifásico. Isto será feito através dos conceitos anteriormente estudados de perfil de pressão e de
gradiente de pressão.
O perfil de pressão é a representação gráfica da pressão em função da posição na tubulação. A
figura 25 mostra um típico perfil de pressão numa tubulação vertical (poço) em escoamento
multifásico.
O principal ponto a ressaltar é a curvatura do perfil. Ou seja, o gradiente de pressão, definido
como P/T, representando a inclinação da curva, não é constante. No fundo do poço o gradiente de
pressão é maior (curva mais inclinada) do que próximo à superfície.

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Pwh Pressão
Pwh

∆P ∆P
= pequeno
∆L Pwh – Pressão na cabeça
∆L
Pwf – Pressão de fundo

ELEVAÇÃO
Pe – Pressão estática da formação

Perfil de pressão

Profundidade
dinâmico multifásico

∆P
∆P
= grande
∆L
∆L

Pe Pwf Pwf

Figura 25: perfil de pressão em escoamento multifásico.

Ao contrário do escoamento monofásico de fluido incompressível, neste caso a curva de perfil


de pressão não é uma reta. Para compreender as razões deste comportamento há que se analisar o que
ocorre com cada componente da perda de carga.
Primeiramente, à medida que o fluido caminha na tubulação, ocorre uma redução da pressão, o
que promove liberação do gás que está em solução no óleo, além de expansão do próprio gás livre.
Assim, ocorre também uma diminuição do hold-up econseqüentemente, uma redução na massa
específica média do fluido. Em outras palavras, como gás é mais leve que o líquido, o aumento do
volume de gás causa uma redução na densidade média, o que reduz ao longo da coluna a componente
gravitacional da perda de carga.Esquematicamente, a figura 26 mostra o que acontece com o fluido à
medida que ele caminha na tubulação no sentido ascendente.

QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE MASSA PERDA DE CARGA
PRESSÃO HOLD-UP ESPECÍFICA DEVIDA À GRAVIDADE
DA MISTURA
VOLUME DO GÁS

Figura 26: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à medida que o fluido
sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por gravidade.

A componente de fricção (atrito) da perda de carga também sofre variação ao longo da coluna. À medida
que ocorre a expansão dos fluidos, a velocidade do escoamento aumenta. Assim, no fundo do poço a

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velocidade é menor que próximo à superfície e, por conseguinte, a perda de carga por atrito aumenta no
trajeto. A figura 27 ilustra esta afirmação. Observe que, embora a massa específica da mistura diminua, o
que tende a reduzir a perda de carga por atrito, a velocidade aumenta. Como a perda de carga varia
linearmente com a massa específica, mas quadraticamente com a velocidade, esta variável se torna
preponderante.

MASSA
HOLD-UP ESPECÍFICA
DA MISTURA
QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE PERDA DE CARGA
PRESSÃO DEVIDA AO ATRITO
VOLUME DO GÁS

VELOCIDADE

Figura 27: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à


medida que o fluido sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por atrito.

Por razões semelhantes às expostas acima a terceira componente da perda de carga – a


aceleração – também aumenta à medida que o fluido sobe na tubulação. Isto deve ser intuitivo, já que
o fluido aumenta de velocidade ao longo da coluna. Logo, está sendo acelerado.
Resumidamente, a tabela 3 mostra o que ocorre com cada componente da perda de carga ao
longo da tubulação. Observa-se que, conforme mostrado anteriormente no gráfico, o gradiente de
pressão total diminui à medida que o fluido caminha, porque a componente gravitacional geralmente é
a que tem maior efeito no escoamento vertical multifásico.

Componente da perda de
Efeito Por que?
carga
Gravitacional Diminui Maior volume de gás
Fricção Aumenta Velocidade aumenta
Aceleração Aumenta Variação da velocidade aumenta
TOTAL Diminui Gravidade é a mais importante

Tabela 3: alteração nas componentes da perda de carga à medida que o fluido ascende
na tubulação.

No escoamento horizontal os mesmos efeitos podem ser observados, com algumas


modificações. A figura 28 mostra um típico perfil de pressão em escoamento horizontal. Ao contrário
do vertical, vê-se que o gradiente de pressão aumenta à medida que o fluido caminha pela tubulação.
Nesta situação a componente gravitacional da perda de carga é nula, existindo apenas as componentes
de fricção e aceleração. À medida que o fluido percorre seu caminho, ocorre diminuição da pressão e

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conseqüentemente liberação de parte do gás em solução, além da expansão do próprio gás livre. O
aumento da velocidade resultante causa o aumento do gradiente de pressão por fricção. O mesmo se dá
com a aceleração. Desta forma, o gradiente de pressão total é sempre crescente na direção em que o
fluido escoa. A título de comparação, se os fluidos fossem incompressíveis (apenas óleo morto ou
água, por exemplo) a curva apresentada na figura seria praticamente reta, sem a concavidade que se
observa.

∆P crescente
Pressão

∆P
∆L
∆P
= pequeno
∆L

Perfil de
pressão ∆L

∆P
∆P
= grande
∆L

Comprimento

Figura
28:
perfil de pressão em escoamento multifásico horizontal.

Para ilustrar esses efeitos pode-se recorrer a um exemplo numérico. O caso exemplo é um
poço submarino em lâmina d’água de 1000 m. Tem profundidade de 2500 m em relação ao nível do
mar, sendo 1500 m de coluna, 1500 m de linha e mais 1000 m de riser, conforme mostra a figura 29.

Nível do mar
Riser
1000m
Mud line

Poço
Linha
1500m
1500m

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Figura 29: esquema de poço exemplo.

A figura 30 mostra o perfil de pressão no sistema poço-linha-riser. A pressão de reservatório é


(ordenada zero) é 164 kgf/cm2; este valor decresce para 156 kgf/cm2 do interior do reservatório até os
canhoneados (ainda na ordenada zero). A pressão decresce em direção à árvore de natal, onde atinge
57 kgf/cm2. Neste ponto inicia-se a linha de produção e há uma mudança na inclinação da curva: ela se
torna mais vertical, significando que gradiente de pressão é menor. Ao final da linha, onde a pressão é
de 52 kgf/cm2, inicia-se o riser e novamente o perfil de pressão volta a ser mais inclinado; vale dizer,
aumenta o gradiente de pressão, chegando à superfície com a pressão de 10 kgf/cm2.

Plataforma

Base do
riser

Pressão Estática
de reservatório

Árvore
submarina Pressão de fundo
em fluxo

Fundo do
poço

Figura 30: perfil de pressão no poço exemplo. A ordenada zero corresponde ao fundo do poço;
a ordenada 1500 m à cabeça do poço (árvore de natal); a base do riser está na ordenada 3000
m e em 4000 m está a plataforma de produção.

Temos, então, que a perda de carga nos diversos trecho é a seguinte:


Reservatório: 164 – 156 = 8 kgf/cm2
Poço: 156 – 57 = 99 kgf/cm2

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Linha: 57 – 52 = 5 kgf/cm2
Riser: 52 – 10 = 42 kgf/cm2

Naturalmente, o perfil de pressão sofre direta influência dos parâmetros de produção, tais
como vazão, RGO, BSW, densidade do gás, grau API do óleo, viscosidades, temperaturas, diâmetros
de tubulação etc. Dentre estas, dois parâmetros particularmente importantes são a RGO e o BSW por
serem variáveis ao longo da vida produtiva do poço. A figura 31 e a figura 32 apresentam exemplos
de perfis de pressão para diferentes valores de razão gás-óleo e fração de água. Todas as curvas foram
calculadas considerando uma mesma vazão de líquido e pressão na superfície de 10 bara3.
Analisemos primeiramente o efeito da razão gás-óleo de produção. Nota-se que os perfis de
pressão no riser e no poço (escoamento vertical) são muito influenciados pela RGO, sendo que valores
mais altos deste parâmetro implicam em gradientes de pressão menores (curvas mais verticais). A
primeira curva, com RGO = 0, corresponde ao escoamento monofásico de óleo. Naturalmente, os
perfis de pressão são praticamente retas (gradiente de pressão constante) em todos os trechos. Para
RGO de 50 e 200 o gradiente de pressão é progressivamente reduzido nos trechos verticais (poço e
riser), ou seja, tem-se menor P para um mesmo L. A explicação para isto é que, com valores de
RGO mais altos, a quantidade de gás livre escoando pelas tubulações causa uma diminuição do hold-
up, o que promove uma redução da massa específica média do fluido e, conseqüentemente, a perda de
carga por gravidade. Há, contudo, uma exceção: para o valor mais alto de RGO (500 m3/m3) o
gradiente de pressão se torna maior que para RGO = 200. Este efeito é resultante do aumento da
velocidade dos fluidos ao longo das tubulações, o que causa um aumento da perda de carga por atrito.
Embora a perda de carga por gravidade diminua, como anteriormente, o aumento da perda por fricção
é ainda maior, e o resultado líquido é um aumento da perda de carga geral. Já no escoamento
horizontal (linha) o efeito da RGO é sempre o mesmo: piora o escoamento, ou seja, quanto maior a
RGO maior o gradiente de pressão e maior a perda de carga devido ao atrito nas paredes da tubulação.
Note que, os valores de pressão na linha não necessariamente são mais altos para RGO mais alta,
porque isto depende da perda de carga no riser, mas o gradiente de pressão, este sim, é maior. Por
exemplo, para RGO nula os valores de pressão na linha estão ao redor de 100 bar e o gradiente de
pressão é muito pequeno (curva praticamente paralela ao eixo das ordenadas); para RGO = 50 a
pressão na linha é mais baixa – em torno de 64 bar – mas o gradiente de pressão é mais pronunciado, o
que se observa pela inclinação da curva.

3
bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade, porém faz referência a
pressão absoluta.

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Figura 31: poço exemplo. Sensibilidade do perfil de pressão à RGO da formação.

Figura 32: poço exemplo. Sensibilidade do perfil de pressão à fração de água (BSW ou WCUT).

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Vejamos agora o efeito da fração de água sobre o escoamento. Como se observa na Figura 32
os maiores valores de BSW resultam em pressões de fundo mais altas; porém, não necessariamente em
gradientes de pressão mais alto. Tome-se como exemplo os valores de BSW de 0 e 80%: nos trechos
verticais o gradiente de pressão é maior para o BSW de 80%; isto ocorre porque a água, por ser mais
“pesada” (maior massa específica) do que o óleo, aumenta o gradiente de pressão por gravidade. Já no
trecho horizontal este efeito (gravitacional) não existe, sendo a perda de carga gerada apenas por
fricção. Contudo, com atenção pode-se observar na figura que o gradiente de pressão (inclinação da
curva) no trecho horizontal é ligeiramente maior para o BSW nulo do que para 80%. Ou seja, maior
BSW gera menor perda de carga no escoamento horizontal. Este efeito é devido à menor viscosidade
da água, o que promove menor atrito entre o fluido e a parede da tubulação.

5.6 – Curva de pressão requerida


Como visto anteriormente, a curva de pressão requerida é uma representação gráfica da
dependência entre a pressão no início da tubulação (fundo do poço) e da vazão de líquido. Como
exemplo, tome-se a série de perfis de pressão mostrados na figura 33. Cada curva corresponde a uma
vazão de líquido diferente, mas a todas correspondem os mesmos valores de RGO e BSW.

Figura 33: poço exemplo. Perfis de pressão para diferentes valores de vazão de líquido. RGO e BSW
constantes.

A cada valor de vazão de líquido corresponde uma pressão requerida no fundo do poço.
Tomando, portanto, os valores de vazão de líquido e a pressão na ordenada zero da figura anterior,
tem-se a relação entre pressão e vazão denominada curva de pressão requerida (CPR), mostrada na

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figura 34. De modo similar ao que se observou no escoamento monofásico, a pressão requerida, em
geral, aumenta com a vazão, exceto para vazões muito baixas4.

Figura 34: poço exemplo, curva de pressão requerida no fundo.

Da mesma forma que o perfil de pressão é alterado pelos parâmetros de produção, também o é
a curva de pressão requerida. A razão gás-óleo, a fração de água, o diâmetro da coluna etc. têm grande
efeito sobre as curvas e, às vezes, com tendências não muito óbvias. A figura 35 e a figura 36 mostram
as CPR em função de RGO e BSW, respectivamente. Cabe observar que nem sempre um valor de
RGO mais alto resulta em pressão de fundo mais baixa. No presente exemplo, a curva para RGO igual
a 200 m3/m3 só é mais baixa que a de 100 m3/m3 para vazões menores que 1240 m3/d.
Na literatura e entre os profissionais da área, as curvas de pressão requerida são
freqüentemente denominadas TPR, significando tubing performance relationship.

4
Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no multifásico, para vazões de líquido muito baixas,
a pressão requerida diminui com o aumento da vazão (trecho descendente da CPR). Isto ocorre em função do
pronunciado escorregamento entre fases que ocorre nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa
velocidade, o hold-up diminua rapidamente com o aumento da vazão, o que resulta na diminuição do gradiente
por gravidade, embora haja um aumento não muito significativo do gradiente por fricção.

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Figura 35: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes valores de RGO.

Figura 36: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes valores de BSW.

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6 Equilíbrio poço-reservatório

Até o momento dois conceitos fundamentais foram expostos: curva de pressão requerida do
poço (CPR ou TPR) e curva de pressão disponível do reservatório, esta última também denominada
CPD ou IPR. Estas duas relações estabelecem a dependência de vazões em relação à pressão no fundo
do poço.
Em termos práticos, a pressão no fundo e a vazão de um poço em produção são determinados
pela condição de equilíbrio em regime permanente. Esta condição exige que, para uma dada vazão,
a pressão que o poço exige para fazer fluir seja igual à pressão para a qual o reservatório entregaria a
vazão considerada. A figura 37 contém a curva de pressão disponível do reservatório (CPD ou IPR) e
a curva de pressão requerida do poço (CPR ou TPR), para exemplificar o que foi dito. Admitindo-se
inicialmente que o poço esteja produzindo a vazão indicada pelo ponto A (aproximadamente 350
m3/d), observa-se que a curva de pressão disponível mostra um valor mais alto de pressão que a curva
de pressão requerida, ou seja, o poço requer apenas 210 bara para fazer fluir esta vazão, mas o
reservatório entrega esta vazão com uma pressão de aproximadamente 228 bara. Já que o poço exige
apenas 210 bara, o reservatório tende a entregar uma vazão maior. É natural, portanto, que a vazão de
produção do poço seja maior que os 350 m3/d. Repetindo-se a mesma análise para o ponto B
(aproximadamente 850 m3/d) vê-se que a pressão requerida (238 bara) é maior que a pressão
disponível (205 bara). Logo, para 238 bara o reservatório não consegue entregar 850 m3/d, mas apenas
uma vazão menor.

Figura 37: condição de equilíbrio.

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O único ponto onde ambas as curvas coincidem é o ponto C, onde para uma mesma vazão as
pressões requerida e disponível são as mesmas. Assim, podemos dizer que o ponto de equilíbrio deste
poço corresponde a uma vazão de 600 m3/d e pressão de fundo de 222 bara.
Este conjunto de curvas de pressão disponível e requerida é o principal meio de se determinar
o ponto de equilíbrio de um poço. Além disso, o efeito de diversos parâmetros sobre a produção pode
facilmente ser visualizado num gráfico deste tipo. Foi visto em figuras anteriores o efeito da RGO,
BSW e diâmetro da coluna de produção sobre a curva de pressão requerida. Logo, se estes parâmetros
afetam a TPR, afetam também o ponto de equilíbrio do sistema. Exemplificando este fato vê na figura
38 o efeito da RGO sobre a produção do poço em questão. Cada uma das TPR foi traçada para
diferentes valores de RGO, resultando que sua interseção com a IPR ocorre em diferentes pontos do
plano. Esses pontos de interseção são justamente os pontos de operação, isto é, são os pares de vazão e
pressão de fundo em que o poço é capaz de produzir. Para cada valor de RGO têm-se os seguintes
valores aproximados de vazão de líquido:
RGO Vazão de líquido
130 580
200 770
300 800
500 760

Figura 38: efeito da RGO sobre o ponto de equilíbrio.

Nota-se que o aumento de RGO de 130 para 200 promove um grande aumento de vazão de
líquido. De 200 para 300 resulta num aumento muito menos expressivo e, finalmente o aumento de
300 para 500 resulta numa redução da vazão.

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Outro efeito sempre presente durante a vida produtiva de um poço é o declínio natural de
vazão, conseqüência da gradual redução da pressão estática do reservatório. Este efeito é mostrado na
figura 39.

Figura 39: efeito do declínio da pressão estática sobre o ponto de equilíbrio.

Como se observa neste caso, foram traçadas diversas curvas de pressão disponível (CPD ou
IPR), uma para cada valor de pressão estática. Todas as curvas têm a mesma inclinação, significando
que o índice de produtividade permaneceu inalterado nos três casos. Estas curvas interceptam a TPR
em diferentes pontos, resultando nas vazões de 730, 590 e 440 m3/d. Deve-se notar que isto é uma
idealização do declínio de um poço, porque admitimos que apenas a pressão estática muda com o
tempo. De fato, ocorre na prática que pressão estática, índice de produtividade, RGO, BSW, além de
outras características dos fluidos variam como o tempo e simultaneamente. Assim, o que se tem na
prática é uma sobreposição dos efeitos acima mencionados.
A determinação do ponto de equilíbrio, como apresentada acima, corresponde ao ponto mais
importante da elevação natural. É através desta abordagem que se determina a vazão que um poço
deve produzir, antes mesmo que ele seja completado, e quais os valores de pressão esperados no fundo
ou em outros pontos do sistema.

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7 Glossário
A
API – American Petroleum Institute
ATM – unidade de medida de ppressão que corresponde a 1,033 kgf/cm2

B
Bara – Bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade, porém faz
referência a pressão absoluta.
B - fator volume de formação
BSW - percentagem de água e sedimentos

D
d - densidade (adimensional)
D - diâmetro da tubulação

F
f - fator de atrito de Fanning

G
Gregos
- viscosidade
ρ - massa específica

H
Hold-up – fração (ou porcentagem) de líquido num determinado trecho da tubulação

I
IP - índice de produtividade

L
L - comprimento de uma tubulação

N
NRe - número de Reinolds

P
P - pressão
Pe - pressão estática da formação

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Pwf - pressão de fundo de poço em fluxo


Pwh - pressão na cabeça de poço em fluxo

Q
QL - vazão de óleo e água medidos em condições padrão.

R
RGL - razão gás-líquido
RGO - razão gás-óleo
Rs - razão de solubilidade do gás no líquido (óleo + água)
Rso - razão de solubilidade do gás no óleo
Rsw - razão de solubilidade do gás na água
Riser – segmento de linha ou tubulação entre leito marinho e a plataforma de produção

S
Surge-tanque – vaso de separação de um planta de processo cuja pressão de opração é pouco acima da
pressão atmosférica.
Subscritos
d – dissolvido
g – gás
L – líquido
w – do inglês “water” - água
o – do inglês “oil” -óleo
sat- saturação

Superscritos
sc - do inglês standard conditions- condições padrão

T
T – temperatura

V
v - velocidade
V - volume

8 Links Explicativos

Densidade – Em princípio, o gás, mesmo dissolvido na fase líquida, tem sua densidade invariável, ou
seja, sua identidade não se altera quer esteja na fase líquida ou gasosa. Entretanto, há uma sofisticação
do modelo que permite estabelecer uma diferença entre as densidades do gás dissolvido na fase líquida
e o gás livre. Este recurso, quando se acopla o modelo black-oil a um conjunto de equações de

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conservação, deve ser utilizado com o cuidado de não provocar erros nas equações de balanço de
massa.
Energia – Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com reservas. Isto
porque, a rigor, na há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de energia em outro.
Fator de atrito de Fanning – coeficiente que relaciona a perda de carga numa tubulação com a
rugosidade de sua parede interna, com a velocidade do fluido e algumas outras propriedades.
índice de produtividade - medida da “facilidade” com que o óleo escoa do interior do reservatório para
o poço: quanto maior o IP, mais facilmente ele escoa e, conseqüentemente, menor a perda de carga.
Perda de carga - Diferença entre pressão estática e pressão de fundo em fluxo
Pressão estática - Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma determinada região do
reservatório e pode apresentar valores diferentes para diferentes regiões. Isto, porém, não será
abordado aqui em detalhes.
Reológicas – propriedades reológicas são aquelas que definem a facilidade com que um fluido se
deforma sob ação de forças do escoamento. A principal propriedade reológica é a viscosidade.
Termodinâmica – as propriedades termodinâmicas são aquelas próprias de uma substância e são
função essencialmente da pressão e temperatura. Por exemplo, a massa específica.
Vazões muito baixas - Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no multifásico, para
vazões de líquido muito baixas, a pressão requerida diminui com o aumento da vazão (trecho
descendente da CPR). Isto ocorre em função do pronunciado escorregamento entre fases que ocorre
nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa

9 Bibliografia

BENNETT, C.O. & MYERS, J.E. – Fenômenos de transporte. São Paulo, McGraw-Hill, 1978. 822p.

BLASIUS, H. (1913). Das Ähnlichkeitsgesetz bei Reibungsvorgängen in Flüssigkeiten,


Forschungs-Arbeit des Ingenieur-Wesens 131. (in German).

BRILL, J.P. & MUKHERJEE H. – Multiphase flow in wells. Richardson, Tx, Society of Petroleum
Engineers Inc., 1999. 156p.

DREW, T B , KOO, E C and MCADAMS, W H. (1932); The friction factor for clean round pipes.

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THOMAS, J.E. et alii – Fundamentos de engenharia de petróleo. Rio de Janeiro, Ed.Interciência,


2001. 271p.

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