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Pedra Filosofal

Como é possível que se olhe para uma fotografia num jornal


com mortos hirtos e crianças despojadas frias no cascalho
como trapos? Como pode ser livre esta forma de mostrar o
que já não toca, que toca como se fosse um eco dum conceito
de prostituição, uma espinha da condição humana, o fado?

Esse que justifica o olhar que já não se melindra que geme e


sente a pressão do inevitável? Uma partida de xadrez que
absorve o interveniente obrigando-o a saber o porquê às
jogadas, sendo jogadas estratégia e sendo medusa esse
conhecimento à guerra.

Porquê ter que conhecer as disputas os sofismas da guerra,


essa retórica que se dilui por uma conquista de partes, essa
justificação dum dos lados quando já não somos crianças
virgens que não saibam a constituição da guerra e as suas
réplicas.

O pavor à morte, à doença, à pequenez de se ser caduco; não


estarão já maturados pela teoria do conhecimento e desse
conceito de evolução em prol dum mais contemplativo sentido
de se estar? Ou será que se crê em redoma fechada por um
cepticismo afincado na não possibilidade em contornar esse
estado violento?

Porquê, se sendo observador o ponto de vista é 1 e sendo


participante em cenário de guerra o ponto de vista é 2 - como
se tornam ambivalentes os sentimentos. Como... Como? Ou
será que o intelecto não consegue melindrar uma estratégia
alternativa à guerra? Não se inventou já o conceito aplicado
de sociedade? E o conceito aplicado dos direitos humanos?
Então e a filosofia, esse fluido do pensamento que cuida o
besunto do engenho, essa esguia forma que não acarreta
dogma? Ou será que a verdadeira guerra seja mesmo essa:
"guerrear-se" para não se guerrear; os epicentros são tantos
tão banalizada ela está vestida;

Dir-se-ia um estado de adolescência ou capricho; Carl Sagan


questionaria uma civilização alienígena sobre como haviam
sobrevivido à sua adolescência... violenta inevitável, um
estado de passagem intrínseco à espécie; contudo um estado
de passagem direccionado para uma evolução e contudo uma
evolução que se associe a um aperfeiçoamento; contudo
distinguindo-nos por sermos cognitivos racionais e outras
que ainda estejam em devir ou em potência; então não será a
responsabilidade do acto, a intervenção consciente e
reconhecida sobre o exterior não misturando os dois agentes
(o eu e o outro), uma dessas características que tornam o
humano único?

Então se existe uma tal de inevitabilidade sobre o factor


violento intrínseco à humanidade, que visa um
aperfeiçoamento da espécie, não partirá essa
responsabilidade por uma resistência ao processo de
evolução que em argumento se defende de violento? Uma
alquimia, uma pedra filosofal?

28 Julho 2006
Autor: José Pedro Gomes
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