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Resumo
O presente trabalho propõe contribuir para as reflexões sobre a experiência brasileira com
projetos de reabilitação de áreas urbanas centrais através da análise das transformações
sócioespaciais observadas no centro tradicional de Belo Horizonte e dos recentes esforços
desenvolvidos no sentido de sua reabilitação. Além de uma breve análise de sua evolução
urbana, que resultou a perda de sua vitalidade econômica e de sua importância simbólica,
levando ao esvaziamento de muitas de suas edificações e ao estado de deterioração física e
ambiental de muitas de suas áreas, este estudo discute os métodos e estratégias de
planejamento e gestão urbanos utilizados para a elaboração do Plano de Reabilitação do
Hipercentro de Belo Horizonte em fase de elaboração, e busca elementos de comparação com
outras experiências análogas em outras capitais brasileiras já contempladas pela literatura
afeta ao tema.
Intr odução
VARGAS & CASTILHO (2006) avançam nesta linha ao publicar um estudo que analisa e
compara intervenções dessa natureza em sete capitais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo,
Porto Alegre, São Luiz, Belém, Aracaju e Fortaleza. Outros autores já haviam se ocupado de
analisar, além destas, as experiências de Curitiba e Salvador com implantação de projetos de
renovação de centros históricos como estratégias de marketing urbano e com o objetivo de
torná-los atraentes para o consumo turístico e comercial (ARANTES, 1996; SANCHEZ,
1999). Críticas a estas experiências vão dos impactos negativos causados pelo enobrecimento
de caráter excludente e pelo esvaziamento da função simbólica desses espaços, à destituição
da diversidade de vida urbana e destituição de uma das funções mais importantes da cidade,
qual seja, como espaço da politica. Já o trabalho de LEITE (2002), analisa o caso do antigo
Bairro do Recife, em Pernambuco e argumenta que os usos e contra-usos dos espaços
“gentrificados” também qualificam os espaços urbanos como espaços públicos, na medida em
que os tornam centros de disputas práticas e simbólicas pelo reconhecimento político e pela
visibilidade pública das diferenças.
O presente trabalho pretende contribuir com essa discussão através da análise do caso de Belo
Horizonte que, apesar de há cerca de 30 anos assistir a progressiva deterioração física e
econômica de sua área central, só recentemente começa a experimentar projetos dessa
natureza. Procura apontar as especificidades das tranformações e permanências da dinâmica
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urbana da área central da Capital Mineira com base nos dados da Pesquisa de Uso e Ocupação
dos Imóveis do Hipercentro de Belo Horizonte (PRÁXIS, 2002 – 2006)1 comparando-a com a
realidade das outras capitais brasileiras estudadas.
Conclui esse trabalho uma análise dos objetivos do Plano de Reabilitação do Hipercentro de
Belo Horizonte bem como da metodologia adotada para a sua elaboração, procurando-se
identificar os pressupostos conceituais e os modelos de planejamento que orientam tal
iniciativa. Concebido como um processo participativo de diagnose, definição de diretrizes e
pactuação de propostas de ações integradas de reabilitação física e sócioeconômica pelo poder
público, iniciativa privada e sociedade civil, o atual processo de elaboração deste Plano
permitiu também especulações sobre os motivos da atual sinergia de interesses pela renovação
da área.
A primeira apresenta um breve histórico da evolução urbana da área de estudo e das principais
intervenções que a área sofreu com destaque para aquelas planejadas e ou implementadas nos
últimos trinta anos, que apesar de setoriais e isoladas, foram motivadas pelo aparente processo
de deterioração de sua estrutura física e pela redução de seu dinamismo econômico.
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Figur a 1. Localização da ár ea de estudo, Fonte: Pr áxis Pr ojetos e Consultor ia, 2006.
Apesar de bem sucedidas como obras de recuperação física que possibilitam o resgate
simbólico e a reapropriação dos espaços pela população em geral, os resultados dessas
intervenções são considerados tímidos no sentido de reverter processos mais amplos de
deterioração ambiental da área como um todo e também incapazes de restaurar a vitalidade
econômica e a dinâmica imobiliária que a área já experimentou em épocas passadas.
• Moram no Hipercentro mais pessoas sozinhas e de faixa etária mais elevada do que, em
média, na região Centro-Sul2 e no Município. A renda familiar é também maior que a
média municipal, variando de sete salários mínimos na região dos mercados a 16 salários
mínimos nas proximidades dos bairros Lourdes e Funcionários (Quadro 1);
• Enquanto as populações do Município e a da região Centro-Sul cresceram
respectivamente 1,17% e 0,75 % ao ano nos últimos 10 anos, a população do Hipercentro
decresceu a uma taxa de -0,52. Este fato não resultou, entretanto, um problema de
esvaziamento dos imóveis residenciais já que apenas nove edificações residenciais, num
universo de 222, encontram-se totalmente vazias, e somente uma, tem mais de quatro
pavimentos. Além da mudança de uso de imóveis residenciais de menor porte (casas,
sobrados e prédios de uso misto, antigos de até quatro pavimentos) para abrigar outros
usos, contribuíram para essa perda populacional, a redução do número de pessoas por
domicílio e a crescente mudança do perfil das famílias que habitam a região (Quadro 2);
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• As taxas de vacância identificadas são também compatíveis com o padrão do mercado
imobiliário, 7,7% em média, sendo os maiores percentuais de unidades vagas encontrados
em edifícios novos, construídos nos últimos cinco anos (ainda em processo de
comercialização de suas unidades) localizados na porção sul da área de estudo;
Quadr o 1 - Indicador es selecionados com infor mações do Censo Demogr áfico 2000
Indicadores selecionados Hipercentro Centro-Sul Belo Horizonte
Absoluto % Absoluto % Absoluto %
Relação com o responsável pelo domicílio
Responsável pelo domicílio 12.766 42,5 84.407 31,9 630.711 28,2
Cônjuge 3.837 12,8 45.060 17,0 391.420 17,5
Filhos 7.307 24,3 101.734 38,4 961.759 43,1
Outros parentes 3.679 12,2 21.915 8,3 214.119 9,6
Outros moradores (a) 2.456 8,2 11.553 4,4 34.691 1,6
Total 30.045 100,0 264.669 100,0 2.232.700 100,0
Grupo de idade dos moradores
0 a 9 anos 1.749 5,8 30.395 11,4 353.464 15,8
10 a 19 anos 3.502 11,7 44.006 16,6 411.916 18,4
20 a 29 anos 6.281 20,9 50.715 19,1 429.839 19,2
30 a 59 anos 12.139 40,4 104.340 39,3 838.225 37,5
60 anos e mais 6.374 21,2 36.092 13,6 204.256 9,1
Total 30.045 100,0 265.548 100,0 2.237.700 100,0
Outros indicadores
Indicadores Hipercentro Centro-Sul Belo Horizonte
Idade média da população (anos) 40 34 30
Moradores por domicílio (média por domicílio) 2,3 3,1 3,5
Rendimento médio dos responsáveis (salário mínimo) 13,9 20,7 8,1
Anos de estudo dos responsáveis (número de anos) 11,9 11,7 8,0
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 (a) Inclusive 368 pessoas residentes em domicílios coletivos
Quadr o 2 - Númer o de domicílios, de mor ador es e taxa anual de cr escimento (% ao ano)
Hiper centr o (compar ável nos dois anos), Região Centr o-Sul e Belo Hor izonte - 1991 e 2000
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Figur a 2: Uso do solo nos imóveis do Hiper centr o, Fonte: Pr áxis Pr ojetos e Consultor ia, 2006.
• No que se refere às lojas individuais, aquelas que funcionam fora de shoppings, galerias
ou edifícios comerciais, o fenômeno da rotatividade, tanto de proprietários como de ramo
dos estabelecimentos, foi identificado como mais importante do que o suposto
esvaziamento. Das quase 3.500 lojas identificadas, apenas 8,2% encontravam-se vazias,
índice também considerado usual em outras áreas da cidade. Contudo, mais de 60% dos
estabelecimentos têm menos de 10 anos de funcionamento;
• Algumas mudanças atestam a crescente “popularização” do Hipercentro, como é o caso de
restaurantes substituídos por estabelecimentos que funcionam simultaneamente como
restaurantes, bares e lanchonetes, hotéis por motéis, e pelo aumento do número de lojas de
jogos (caça-níqueis e fliperamas), estabelecimentos de crédito pessoal e lojas de R$ 1,99;
• A distribuição espacial das atividades indica alguma especialização, como é o caso das
ferragens, peças e ferramentas na área próxima ao Barro Preto, vestuário e calçados
próximo à Praça Sete, comércio e diversões populares nas regiões da Rodoviária e da
Praça da Estação e instituições de crédito, seguros e capitalização desde a Avenida
Augusto de Lima até as proximidades dos bairros de Lourdes e Funcionários;
• Índices significativos de vacância foram identificados apenas nos conjuntos comerciais
(centros comerciais, edifícios de salas e galerias) correspondentes a 58 dos 69 imóveis
totalmente vagos identificados no Hipercentro. Nesta categoria de imóveis, entre os
conjuntos ocupados, 16,9% do total de salas, 19,8% do total de lojas condominiais e
22,4% do total de andares corridos também se encontravam desocupados;
• Os serviços de uso coletivo destacam-se por sua permanência no Hipercentro: mais da
metade está instalado no local há mais de 50 anos. Os mais freqüentes são as escolas
(21%) e os serviços públicos (18%);
• No que se refere aos aspectos relacionados à segurança pública, os resultados da pesquisa
reforçam também a forte correlação existente entre a incidência de ocorrências policiais, o
fluxo de pedestres e o horário de funcionamento do comércio: 67% dos delitos ocorrem
em apenas 10 ruas do Hipercentro, principalmente no entorno da Praça Sete e da
Rodoviária, com maiores concentrações no período de 12:00 às 18:00 horas, nos dias de
semana. Nos domingos, as maiores freqüências ocorrem na Feira de Artesanato, entre 10 e
13 horas;
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Considerando a dinâmica imobiliária, a pesquisa mostrou ainda que novos investimentos na
área dependem principalmente de processos de reciclagem e/ou substituição de estruturas
existentes, dado o pequeno número de lotes vagos existentes sem qualquer uso e da alta
rentabilidade daqueles utilizados como estacionamentos. Estas iniciativas encontram,
entretanto, obstáculos na legislação urbanística para adaptações dos imóveis para novos usos,
como é o caso das exigências de iluminação e ventilação naturais, vagas de garagem e taxa de
permeabilidade, exigindo, portanto alterações de algumas exigências legais em vigor.
Esse estudo (PRÁXIS, 2002) conclui afirmando que, tanto no que se refere à necessidade de
flexibililização da legislação urbanística, quanto na implementação de ações que possam
reverter os processos observados no Hipercentro, visando sua dinamização econômica e
requalificação espacial, é grande o desafio colocado para o Poder Público Municipal. Exige
dos agentes públicos postura empreendedora, através do desenvolvimento de projetos
estratégicos para os espaços públicos e privados com o objetivo de atrair parcerias e provocar
efeitos multiplicadores em toda a área. Tal afirmação pauta-se na busca de um novo papel
para o centro que tire partido de potencialidades ainda presentes na área (grande diversidade
na oferta de bens e serviços, alto grau de polarização de fluxos de veículos e pessoas,
existência de espaços e estruturas ociosas e/ou sub utilizadas), criando novas oportunidades
para o desenvolvimento econômico, para a moradia e fruição do espaço público e dos
equipamentos de usos coletivo para a cultura e para o lazer.
A atualização da pesquisa de uso e ocupação dos imóveis indicou também uma incipiente
recuperação do mercado imobiliário atestada pelo decréscimo do número de imóveis
totalmente vazios nos quarteirões pesquisados (de 93 para 86), pelo decréscimo na taxa de
vacância de imóveis residenciais (de 7,7% para 6,2%), decréscimo na taxa de vacância de
galerias e conjuntos comerciais em geral (de 19,9% para 13,4%) e aumento de 5% do número
de lojas autônomas (de 279 para 293).
Sob a ótica dos que atuam no mercado imobiliário, como de fato atestam as pesquisas, o
maior problema reside na questão das salas comerciais e andares corridos vazios, uma vez que
o mercado de imóveis residenciais está aquecido. Entretanto, identificou-se que as áreas
isótimas de cobrança de IPTU e ITBI na área central são as mais elevadas da cidade, o que
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pode inflacionar o preço dos alugueis e prejudicar a dinamização do mercado de compra e
venda de imóveis na área.
A grande utilização da área de estudo pelo transporte coletivo não é acompanhada pela devida
priorização de investimentos em infra-estrutura no local (pouquíssimos trechos têm pistas
exclusivas para ônibus / praticamente todas as vias são utilizadas e toda a área funciona como
um grande terminal aberto para o transporte coletivo). Além disso, o trem metropolitano é
subutilizado em função de não atender os locais de maior demanda, impondo aos usuários
longas caminhadas.
Com relação aos impactos da legislação urbanística, o principal aspecto a ser observado é que,
em função da ausência de dinamismo imobiliário que caracteriza a maior parte do
Hipercentro, tanto os incentivos a novas construções com parâmetros mais permissivos
quanto as restrições como é o caso dos limites altimétricos nos conjuntos urbanos tombados
tornam-se inócuos diante da quase total ausência de renovação, à exceção da porção sul da
área de estudo.
O mesmo não se aplica às iniciativas de adaptação dos imóveis para novos usos. Além de
entraves do Código de Obras e da própria Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo para
a implantação do uso residencial, qualquer mudança de uso em imóveis vazios de grande
porte são enquadradas como empreendimentos de impacto, implicando, muitas vezes, em
exigências, custos e tempo de implementação adicionais, imputados como entraves pelos
empreendedores que deveriam estar sendo incentivados.
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econômica da área, este Plano, cujo processo de elaboração foi iniciado em maio de 2006,
prevê também a transformação da área numa zona com parâmetros urbanísticos especiais que
incentivem sua renovação e a busca por modelos de gestão e arranjos institucionais que
facilitem a ação integrada dos órgãos públicos nas diversas esferas de governo e as parcerias
público-privadas em operações urbanas estratégicas para a pretendida reabilitação da área.
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Os exercícios propostos por modelos de “trade off” pautados pelas preferências dos
consumidores na escolha de produtos a serem consumidos, no caso em foco, a habitação,
introduzem, em suas versões mais recentes, aspectos relevantes no que se refere aos valores
diferenciados dados às relações de tempo e espaço, trabalho, lazer e qualidade ambiental por
diferentes classes econômicas e, faixas etárias (BASSET & SHORT, 1980), podendo-se
acrescentar, grupos sociais e culturais. A incorporação dessas variáveis é fundamental para a
compreensão da mobilidade e permanência de tais atividades na área de estudo, bem como
para a contraposição de tendências consideradas indesejáveis, resultantes da ação ilimitada
das “forças do mercado” quando se trata da introdução de políticas públicas de
desenvolvimento urbano de caráter mais inclusivo.
Ainda que, segundo essa lógica do capital, a decadência do centro da cidade seja um
fenômeno previsível, é necessário refletir sobre o seu papel no contexto atual do
desenvolvimento capitalista pós-moderno, no qual, como mostra TOPALOV (1979) os efeitos
da automação, do desenvolvimento dos meios de transportes e dos avanços da informática,
deslocaram a produção do espaço, fazendo com que as determinações de localização dos
negócios se tornem cada vez mais independentes de proximidades físicas.
Grande parte das estruturas vazias do Hipercentro se explicam por processos de obsolescência
em função de alterações dessa natureza nos meios de produção e nas formas de
comercialização e prestação de serviços: sedes bancárias, galpões industriais, edifícios de
salas, cinemas, galerias e centros comerciais. Quais seriam, por outro lado, os usos
estratégicos para preenchimento desses espaços? Qual o papel do estado, estando ausente o
grande capital, na possível reocupação desses imóveis e na requalificação de espaços públicos
ambientalmente degradados? Quais os limites e possibilidades das parcerias público privadas
como estratégias para trazer novos investimentos para a região?
Imagina-se que, no estágio atual, somente o poder público através de iniciativas precursoras,
poderia tirar algum proveito dos custos depreciados dos imóveis e estruturas do Hipercentro,
para implementação de projetos estratégicos de cunho social, tais como através da definição
de zonas de especial interesse social, implantação de equipamentos de uso coletivo e infra-
estrutura para programas sociais voltados para geração de emprego e renda. Nesse sentido,
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pode-se questionar a eficácia das chamadas Operações Urbanas Consorciadas que pretendem
associar investimentos públicos e privados nessas áreas, quando, diante de um interesse maior
do capital, o estado demonstra-se tímido ou incapaz de garantir contrapartidas equivalentes à
margem de lucro pretendida pelos empreendedores privados.
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A metodologia adotada na elaboração do Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo
Horizonte traduz-se numa aplicação da metodologia de elaboração de planos diretores
participativos preconizada pelo Ministério das Cidades, acompanhada de pesquisas que
pretendem mapear as percepções dos diversos agentes presentes na área, as diversas formas
de apropriação dos espaços, as práticas sociais, os processos econômicos e as políticas
públicas em curso que interferem na dinâmica urbana da área. Além dessas informações
levantadas através da combinação de métodos qualitativos e quantitativos, prevê-se a
realização de oficinas de leitura comunitária, formulação de diretrizes e propostas, visando à
construção coletiva do plano em questão. Investimentos específicos estão previstos também
em levantamentos de experiências análogas no que se refere aos diferentes desenhos
institucionais e processos de parcerias possíveis, visando à implementação e gestão integrada
das ações propostas.
A identificação dos agentes que atuam no Hipercentro iniciou-se pelo conhecimento prévio
sobre a área em estudo. Construiu-se, no primeiro momento, uma listagem com nomes
relacionados a três grupos de interesse: moradores e suas representações; comerciantes e
prestadores de serviços formais e suas representações; representantes de instituições
localizadas ou com interesse na área. Esses agentes constituiriam o público da pesquisa de
percepção ambiental, baseada em entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro
abordando os problemas e potencialidades da área segundo a visão do entrevistado. A partir
de então esta listagem foi sendo complementada por indicações dos próprios entrevistados,
que ao final da entrevista eram chamados a indicar novos nomes.
Além desse público diretamente relacionado com a área, buscou-se selecionar pessoas e
representantes de organizações e instituições públicas e privadas que notoriamente detenham
conhecimento nessa área e pessoas de fora que tenham participado de experiências análogas
de reabilitação de áreas centrais no Brasil e que possam servir como referências para as
propostas a serem incorporadas no Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte.
Desta forma foram selecionados pessoas dos setores públicos Estadual e Federal, entidades de
classe, universidades, além de agentes públicos e privados ligados a experiências de
reabilitação de áreas centrais em outras capitais brasileiras.
Outro grupo selecionado com fins de discussão de questões mais específicas refere-se aos
envolvidos com o mercado imobiliário, mais especificamente corretores de imobiliárias que
atuam no Hipercentro.
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Como atividade conclusiva da etapa de diagnóstico da área de estudo foram realizadas
oficinas com participação dos diversos agentes entrevistados nas quais, a partir da
apresentação dos principais tópicos das leituras técnica e comunitária realizadas, foram
discutidos os principais problemas e potencialidades da área segundo diversas motivações e
visões da área de estudo. Os resultados dessas oficinas, apoiados pelos estudos técnicos
realizados constituíram um diagnóstico integrado que, no momento, vem orientando a etapa
seguinte de formulação coletiva das diretrizes de intervenção.
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Finalmente, deve-se ressaltar que toda intervenção na dinêmica urbana tem conseqüências
diferenciadas para grupos específicos. Se o Hipercentro tem sido, em alguma medida ou em
alguns aspecto, abandonado pelo capital, isto não pode ser generalizado nem visto descolado
das formas de apropriação pelos excluídos e populares que tais fenômenos de degradação
possibilitam. Assim, torna-se fundamental definir-se com clareza a quem se destinam os
esforços de reabilitação (p.e. o Hipercentro é um local preferencial para a habitação de
interesse social e para políticas de economia solidária e popular?) e como evitar impactos
negativos para certos grupos, especialmente para aqueles com menor capacidade de inclusão
social. Da mesma forma é igualmente importante refletir sobre as questões de incentivos
fiscais, tendo como premissa a maior ampliação possível dos benefícios gerados pelos
investimentos públicos. Se estes proporcionarão maior atratividade da área para o setor
privado, como assegurar contrapartidas de interesse público compatíveis com os
investimentos realizados?
Em primeiro lugar deve-se considerar que, diferentemente de outras capitais como o Rio de
Janeiro , São Paulo, Salvador e Recife, para citar alguns exemplos, Belo Horizonte é uma
cidade muito mais nova, não possuindo, portanto, um centro antigo de herança colonial4.
Além disso, por já ter nascido planejada e moderna, nunca teve em sua área central grandes
estruturas de produção como usinas, setores atacadistas ou distritos industriais que, ai logo do
tempo, tornaram-se obsoletos pela modernização dos processos de produção. Em Belo
Horizonte, apenas alguns poucos galpões remanescentes dessas antigas ocupações
permanecem ao longo de um pequeno trecho do vale do Ribeirão Arrudas que tangencia a
área de estudo, a maioria abrigando novos usos integrados à própria dinâmica atual da área
central.
Sendo assim, o processo de obsolescência do centro histórico de Belo Horizonte não chegou a
acontecer com a gravidade e extensão ocorrida em outras capitais mais antigas. Os problemas
de esvaziamento de edifícios e estruturas do Hipercentro estão muito mais relacionados com
transformações específicas de alguns setores da economia (comércio atacadista, cinemas,
agencias bancárias) com impactos mais brandos e pontuais do que em outras cidades onde
áreas inteiras destinadas a grandes usos como portos, ferrovias e parques industriais tornaram-
se ociosas e passaram a demandar projetos de reabilitação.
Neste sentido, deve-se destacar que o centro de Belo Horizonte nunca morreu. A criação de
novas centralidades e a progressiva perda de sua qualidade ambiental são fatores que também
conduziram à evasão de muitas atividades de maior valor agregado da área. Contudo os
maiores impactos negativos dessas transformações correspondem, como já comentado, ao
esvaziamento de prédios de salas e andares corridos, além na progressiva popularização das
atividades de comércio e serviços. Entretanto, o uso residencial, diferentemente do que se
observa em outras capitais, sempre esteve presente no Hipercentro, apresentando-se mais
freqüente em algumas regiões e alterando-se ao longo dos anos quanto ao padrão dos edifícios
e tipologias dos apartamentos a novos perfis demográficos que passaram a demandar a área
para moradia. A permanência dessa população no centro tem sido fator primordial para a
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atração de outras atividades complementares e manutenção da animação na área, inclusive no
período noturno e aos domingos, quando grandes partes dos estabelecimentos comerciais e de
serviço estão fechados. Neste sentido é importante reconhecer o papel importante da
legislação urbanística que em todas suas versões incentivou esse uso com a adoção
coeficientes mais vantajosos de aproveitamento dos lotes para empreendimentos residenciais.
Atualmente, numa perspectiva de atualização dessa diretriz que também faz parte do Plano
Diretor do Município, alguns instrumentos legais precisam ser revistos para eliminar
obstáculos que dificultam as iniciativas de conversão de edifícios comerciais em residenciais.
Finalmente, com relação aos métodos de planejamento adotados nas intervenções de
requalificação, observa-se no caso de Belo Horizonte, a preocupação dos atuais gestores
públicos em adotarem metodologias e estratégias de participação, buscando maior
envolvimento dos diversos setores interessados na discussão dos problemas e construção
coletiva das soluções. O grande desafio que se coloca no momento é no sentido do
estabelecimento de canais e fóruns permanentes que garantam o mesmo nível de participação
também durante a implementação dos projetos e avaliação dos resultados.
Por outro lado, ainda que se deva reconhecer a importância do envolvimento do legislativo
municipal, da sociedade civil organizada, da imprensa e outros formadores de opinião para a
mobilização de esforços conjuntos e implementação das ações de reabilitação previstas, é
fundamental destacar a liderança do executivo municipal como principal agente catalisador de
políticas integradas e parcerias, demonstrando a capacidade do próprio prefeito se articular
com os demais grupos da cidade para que se essas ações se constituam resultado de intenções
claras, legítimas e abrangentes do poder local.
ARANTES, Otília: Cultura da cidade: animação sem frase. Revista do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, nº. 24, 1996.
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15
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VARGAS, Heliana C. & CASTILHO, Ana Luisa H. Intervenções em centros urbanos:
objetivos, estratégias e resultados, Barueri, SP: Manole, 2006.
Notas
1
A Pesquisa de Uso e Ocupação do Imóveis do Hipercentro de Belo Horizonte foi realizada em 2002 e
atualizada em 2006, visando gerar subsídios para a definição de diretrizes de reabilitação e projetos de
requalificação na área de estudo pela Prefeitura Muncipal de Belo Horizonte.
2
Uma das nove regiões administrativas nas quais o município de Belo Horizonte é dividido. Abrange, além do
Hipercentro e o restante da Área Central, bairros pericentrais de classe média alta e alta, além de algumas
favelas. Compõe parte do eixo sul de expansão imobiliária da Região Metropolitana de Belo Horizonte voltada
para população de alta renda
3
PAR, Programa de Arrendamento Residencial da Caixa Econômica Federal que financia habitação popular para
faixas de renda familiar até seis salários mínimos, através de contrato de arrendamento com opção de compra ao
final do período de vigência do contrato, estimado para um prazo máximo de15 anos.
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Belo Horizonte construída a partir de um plano urbanistico de inspiração positivista concebido pelo engenheiro
Aarão Reis foi inaugurada em 1987 para abrigar a nova capital mineira transferida de Ouro Preto. Seu traçado
avançado para a época, com ruas e avenidas com 25., 35 e 50 metros de largura, surge num contexto planejado
para o desenvolvimento da cidade moderna republicana, de cunho higienista e base econômica mercantil e
industrial.
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