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Entrevista com Tijolo

No próximo dia 16 José Carlos de Oliveira, mais conhecido como Tijolo,


defenderá o título de campeão pela Associação Internacional de Boxe na categoria
Leve em Las Vegas, Estados Unidos.
Acompanhamos seu treino e conversamos sobre sua origem, preparação e - afinal
de contas - por que este apelido?

Jornalista: “José Carlos, Zé, ou Tijolo? Como devo te chamar?


José Carlos “Tijolo” de Oliveira: “Quando eu era mais novo não gostava de ser
chamado de tijolo, hoje eu até gosto.”
J: “...posso te chamar de Tijolo?”
JCTO: “Pode, sim senhor.”
J: “Tijolo, como você entrou no Boxe? Era muito briguento na escola? Brigava
muito com as outras crianças? Como foi?
JCTO: “Na verdade não. A primeira vez que eu briguei foi com 14 [anos de
idade]. O cara [sic] tava pixando o muro da minha mãe e já cheguei na ‘muqueta’.
J: “E o que aconteceu?”
JCTO: rindo - “Ele revidou... sem vergonha! Hoje ele é pastor, tomou jeito...
espero.”
J: “Era uma vizinhança muito violenta?”
JCTO: “Não. Era bem tranquila. De vez em quando aparecia um cara dando
problema, mas era sempre gente do bairro, aí a gente cuidava, levava pra casa... O
pixador morava na rua de trás...”
J: “Quando você começou a treinar Boxe?”
JCTO: “Entrei pra academia [sic] com 15 anos.”
J: “Alguma dificuldade?”
JCTO: “Eu apanhei muito no começo. Era muito teimoso e não fazia o que o
professor mandava... apanhava de tonto.”
J: “E como você superou isso?”
JCTO: “Eu queria parar de apanhar...” - rindo - “... então comecei a ouvir o
professor.”
J: “E funcionou?”
JCTO: “Claro! Até hoje [sic] ouço ele. Ele fica no corner quando eu luto.”
J: “Como foi competir no início da carreira? Era difícil chegar nos eventos?
Teve de dormir em algum lugar estranho?”
JCTO: “Graças a Deus eu sempre consegui chegar nos campeonatos sem problemas.
Às vezes as viagens demoravam, mas isso nunca me incomodou.”
J: “E instalações? Dormia no carro? Na casa dos outros? Hotel?”
JCTO: “Vixi! Já dormi em tudo isso.”
J: “No começo, você dormia em hotel?”
JCTO: “Não! Dormia sempre na casa de alguém. Às vezes no sofá.”
J: “Era difícil?”
JCTO: “Não. Acordava meio [sic] doído mas no meio do alongamento a dor
sumia.”
J: “Você treina bem cedinho?”
JCTO: “Treino o dia todo.”
J: “Como é a sua rotina?”
JCTO: “Acordo umas 7, dez pras 7. Como um pão com manteiga, tomo café e vou
pro treino. Lá eu faço um pouco de tudo: alongamento, sparring, saco de areia,
musculação, sombra...
J: ”Você tem uma dieta rígida?”
JCTO: “Quando não tem luta [nos próximos dias], não.”
J: “Quando sua luta está próxima, você fica proibido de comer certas coisas?”
JCTO: “Sim.”
J: “Como você vê este sacrifício?”
JCTO: “Não acho que seja sacrifício. É [sic] ossos do ofício. Quando a luta
acaba posso comer o que quiser, e quanto quiser.”
J: “Tem algum alimento que você sente falta nesse período de preparação?”
JCTO: “Não”
Técnico ao fundo: “Chocolate”
JCTO: rindo - “É... chocolate eu gosto.”
J: “E não pode comer?”
JCTO: “Pode?” - olhando pro treinador
Treinador faz que não com a cabeça e sai da sala.
JCTO: “Desde quando eu comecei a competir o professor me dá uma barra [de
chocolate] sempre que eu ganho uma luta.”
J: “E quando perde?”
JCTO: “Não tem chocolate.”
J: “Meio cruel, não acha?”
JCTO: “Talvez, mas funciona.”
J: “Quantas barras você já comeu depois da luta?”
JCTO: “Vinte e sete, se Deus quiser, vinte e oito na próxima luta.”
J: “Dá pra te chamar de chocolate.”
JCTO: “Tijolo é mais legal”.
J: “E de onde veio esse apelido?”
JCTO: “Tijolo?”
J: “Isso.”
JCTO: “Eu trabalhei de auxiliar de pedreiro pra conseguir dinheiro pra
competir em Miami. Eu não tinha apelido na época, e todos os outros tinham. Aí os
brasileiros que foram competir comigo começaram a implicar comigo até chegarem em
Tijolo.”
J: “Por que Tijolo pegou?”
JCTO: “Porque eu não gostei, e porque o cara que anunciava as lutas não
conseguia falar direito: ‘Tairrolo, tirrolo, tidiolo.’
J: “Ansioso pra próxima luta?”
JCTO: “Bastante. Ele é o antigo campeão, e é canhoto. Mas já ganhei dele uma
vez, posso ganhar de novo.”
J: “Boa Sorte!”
JCTO: “Obrigado.”

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