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A) DOS FATOS
O Projeto de Lei nº 173, de 2015 foi vetado integralmente pelo Governador do Distrito
Federal, por intermédio da Mensagem nº 200/2015/GAG, de 8 de setembro de 2015 (cópia anexa)
1 Art. 1º O Conselho Distrital de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, instituído pela Lei nº 1.175 de 29 de julho de
1996, passa a chamar-se Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos - CDPDDH.
Art. 2º Ao Conselho a que se refere o artigo anterior compete: [...] II - receber e encaminhar às autoridades competentes
petições, representações, denúncias ou queixas de qualquer pessoa ou entidade que lhe sejam dirigidas por desrespeito
aos direitos individuais e coletivos assegurados na Constituição Federal, na Lei Orgânica do Distrito Federal e demais
tratados de que o Brasil seja signatário;
2 XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
B) A INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Preambularmente, a referida lei trata sobre entidade familiar, regulada pelo Código Civil em
seus artigos 1.511 e seguintes, sendo, portanto, tema de Direito Civil, matéria de competência
legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I, da Constituição Federal 3.
Há, por conseguinte, evidente invasão de competência de outro ente da federação, razão,
por si só, para fulminar a lei por completo. Porém há mais!
C) A INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
A referida lei afronta, ainda, decisão do Pretório Excelso sobre o tema. Em 2011, o STF
deliberou:
1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA
PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO
INSTITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA
ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela
ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723
do Código Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS
Convém ainda registrar que a referida lei, desatenta às obrigações e vínculos internacionais
do Brasil, coloca o país no patamar de descumpridor, ao menos no âmbito do Distrito Federal, de
seus compromissos internacionais.
Neste contexto, a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos-CIDH, que na
Opinião Consultiva OC-24/7, de 24 de novembro de 2017, solicitada pela República de Costa Rica 4,
5 O Decreto 4.463, de 8 de novembro de 2002, reconhece como obrigatória a competência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), consoante é possível extrair de seu art. 1º: É reconhecida como
obrigatória, de pleno direito e por prazo indeterminado, a competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos
em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São
José), de 22 de novembro de 1969, de acordo com art. 62 da citada Convenção, sob reserva de reciprocidade e para
fatos posteriores a 10 de dezembro de 1998.
6 Artigo 11.2. Proteção da honra e da dignidade. [...] Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em
sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ataques ilegais à sua honra e
reputação.
7 Artigo 24. Igualdade diante da lei. Todas as pessoas são iguais diante da lei. Em consequência, têm direito, sem
discriminação, à igual proteção da lei.
8 Artigo 1º. Obrigação de respeitar os direitos. 1. Os Estados Partes nesta Convenção se comprometem a respeitar os
direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua
jurisdição, sem discriminação alguma por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer
outra forma, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. Para os
efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
9 O Supremo Tribunal Federal, no HC 88.240, Relatora Ministra Ellen Gracie, DJe de 23/10/2008, deliberou sobre o
caráter especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (art. 11) e da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7°, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. Assentou
que a esses diplomas internacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico no ordenamento jurídico,
estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados
internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele
conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação.
E) CONCLUSÃO
Portanto, é possível concluir que a referida lei, sob várias perspectivas, por insistir em tentar
subalternizar as relações familiares homoafetivas, por descumprir o princípio maior de nossa
República, que é a preservação da dignidade da pessoa humana, o que inclui todas as pessoas, por
afrontar a Constituição Federal, ignorar os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e
pretender substituir-se ao Supremo Tribunal Federal na interpretação da Lei Maior, apresenta
vícios insanáveis, que a tornam incompatível com o ordenamento pátrio.
F) O PEDIDO
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
MICHEL PLATINI
Presidente do CDPDDH