Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Idéias:
Como Estruturar um Texto
Sumário
Apresentação..............................................................................................................................2
1. O texto.....................................................................................................................................3
1.1. A coerência textual............................................................................................................. 4
1.1.1. Os tipos de coerência........................................................................................................................... 5
1.1.2. Os níveis de coerência ......................................................................................................................... 8
1.2. A coesão textual.......................................................................................................................... 8
1.2.1. As marcas coesivas e a embreagem textual ......................................................................................... 8
1.2.2. As conjunções e outras referências textuais como recurso argumentativo .......................................... 9
1.3. A Pontuação.............................................................................................................................. 10
1.3.1. Regras, usos e curiosidades ............................................................................................................... 11
1.3.1.1. A vírgula......................................................................................................................................... 11
1.3.1.2. Os demais sinais de pontuação ....................................................................................................... 11
1.3.2. A pontuação e a coesão/coerência do texto ....................................................................................... 13
1.4. Verbos ....................................................................................................................................... 14
1.4.1. O modo indicativo ............................................................................................................................. 14
1.4.2. O modo subjuntivo ............................................................................................................................ 15
1.4.3. O aspecto verbal na elaboração do sentido........................................................................................ 15
2. Da palavra ao texto..............................................................................................................19
2.1. As relações da palavra ............................................................................................................. 16
2.2. A estrutura do parágrafo ........................................................................................................ 18
2.3. A estrutura da redação/composição ....................................................................................... 20
3. Desconstruindo mitos...........................................................................................................24
3.1. Pontos de gramática................................................................................................................. 22
3.1.1. Os porquês ......................................................................................................................................... 22
3.1.2. Esse(a) ≠ este(a)................................................................................................................................. 23
3.1.3. A crase e as regências verbal e nominal ............................................................................................ 24
4. Noções de Teoria da Comunicação.....................................................................................31
4.1. As funções da linguagem ......................................................................................................... 28
5. Tipologia do texto.................................................................................................................32
5.1. Os tipos de texto ....................................................................................................................... 29
5.2. Os gêneros discursivos ............................................................................................................. 30
5.3. A linguagem figurada .............................................................................................................. 30
5.3.1. Algumas figuras de linguagem .......................................................................................................... 31
6. A argumentação...................................................................................................................32
6.1. A estrutura dos textos dissertativos-argumentativos............................................................ 33
Referências bibliográficas.......................................................................................................34
Anexos......................................................................................................................................35
Língua Portuguesa 1
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Apresentação
Este curso foi elaborado de forma objetiva e direcionada. Não estão previstos os
exaustivos esclarecimentos gramaticais, que há décadas vêm ocupando as salas de aula no
lugar do ensino da leitura e produção textual.
A questão da organização das idéias para escritura do texto é algo que há algum
tempo, de forma gradativa, vem sendo abordado nas esferas acadêmicas. O curso de Língua
Portuguesa com concentração na produção textual – ao qual chamamos, por simplificação, de
“a produção de textos acadêmicos” – pretende ampliar os horizontes lingüísticos na direção
de uma redação enxuta, clara, adequada ao tipo de texto que se quer apresentar. Para tanto, os
conteúdos foram divididos em duas grandes unidades a as aulas funcionarão como unidades
menores, permitindo, assim, maior flexibilidade e adequação dos conteúdos.
A Unidade 1 parte das noções do que é um texto para uma abordagem da sua estrutura
profunda, ou seja, trata dos detalhes internos que constituem o texto e que permitem a
compreensão da mensagem nele contida, como os elementos de coesão (as marcas que ligam
uma idéia a outra) e a coerência (o que faz com que uma seqüência de “microidéias” faça
parte de uma “macroidéia” sem que seu sentido seja comprometido). Aborda outros aspectos
textuais, como as várias possibilidades de estruturação do parágrafo e da sua relação com o
todo da redação.
Fazem parte da estrutura profunda do texto alguns elementos gramaticais, que serão
tematizados através de uma dinâmica em sala de aula, onde os fantasmas impostos pela mídia
e os equívocos mais comuns serão desmistificados com uma abordagem lúdica. As questões
gramaticais tratadas são elementares, relevantes para a elaboração de quaisquer tipos de
redação.
A Unidade 2 indica os procedimentos para o planejamento do texto, que depende do
contexto em que será produzido. Embora alguns tipos diversos sejam apresentados para uma
noção das diferenças entre eles, o foco está direcionado à dissertação argumentativa, que é a
estrutura dos textos acadêmicos, como artigos, monografias, teses, redações de tema (como as
do vestibular).
Os exercícios e textos apresentados são uma compilação de vários trechos, extraídos
de várias fontes, que estão listadas nas referências bibliográficas, ao final desta apostila.
Língua Portuguesa 2
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
UNIDADE 1
1. O texto
Exemplo 1:
EMENTA – Os tipos de texto. Os gêneros textuais. Os modos de organização do discurso.
Texto como processo de apreensão da realidade. Texto e discurso. O ato discursivo: processos
de discursivização. Operações lingüísticas. Textualidade. Análise de diferentes tipos de texto e
gêneros textuais. Aplicação no ensino de língua materna.
Exemplo 2:
“A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem, é escrever claro, não
necessariamente correto. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro.” (O
Gigolô das palavras, de Luís Fernando Veríssimo).
Língua Portuguesa 3
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Exemplo 3:
“Governo Lula criou 34 estatais em 33 meses” (O Globo, 25/09/05).
Língua Portuguesa 4
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
sabemos que , no caso (2), o sentido de meio é “modo/maneira” e que em (3) o significado é
de “grupo social”. Se por acaso atribuirmos o sentido (3) – grupo social – na declaração (1),
estaremos provocando um ruído na comunicação e a expressão “chocolate meio amargo” não
fará o menor sentido. Por isso, diz-se que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir
dele.
Um texto ambíguo (quando a ambigüidade não é intencional), ou quando fora de
contexto, poderá causar ruído na comunicação e o texto não terá um sentido lógico, ou seja,
não será coerente.
A coerência, ou a falta dela, pode se dar em dois níveis básicos: o interno e o externo.
Observe:
Com base no título, um período no parágrafo causa estranhamento. Pois se o texto trata de
uma marcha, o trecho A aterrissagem foi suave e afortunadamente a atmosfera era tal que não havia
necessidade de utilizar os trajes espaciais não cabe no contexto, provocando um problema de
coerência. Porém, é uma incoerência interna ao texto, pois a seqüência de frases está em
harmonia e somente o trecho destacado é que fugiu da seqüência lógica. A incoerência seria
desfeita se o título fosse, por exemplo, “Viagem espacial a um planeta habitado”.
Esse tipo de incoerência acontece muito freqüentemente na relação causa-
conseqüência, quando a estrutura lógica não se confirma. Quando dizemos “todo pássaro tem
asas e voa. O avião tem asas e voa. Logo, o avião é um pássaro”, sabemos que está incoerente
Língua Portuguesa 5
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
porque há outros motivos que fazem o avião voar que não apenas as asas. Trata-se de um
problema de coerência interna, porque o argumento lógico é falso, e externa, porque o
conhecimento de mundo do leitor permite que ele detecte a incoerência. Observemos agora o
texto (5), que demonstra outro tipo de incoerência:
Temos aí um caso de incoerência externa, ou seja, ao lermos (ou ouvirmos) o diálogo acima
não conseguimos entender o que se quer dizer. Porém, internamente, o texto está
perfeitamente coerente, pois os dois interlocutores compartilham de uma linguagem familiar e
os objetos referidos no texto fazem parte do universo das duas pessoas envolvidas no diálogo.
O contexto, então, determina os níveis de coerência.
Embora estruturas inteiras pareçam coerentes, muitas vezes não são, pois faltam
elementos que as estabeleçam. Observemos a redação em (6):
Língua Portuguesa 6
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
“O adolescente sofre muito quando mora com os pais, pois são obrigados a obedecer
a regras com as quais nem sempre concorda. Sua liberdade é cerceada e sua voz não é ouvida.
O adolescente deve procurar trabalho cedo, para se libertar da dominação dos pais.
É muito difícil para o adolescente encontrar um emprego. Como não tem experiência,
os empregadores não o aceitam e, sendo assim, ele continua sem experiência, formando uma
bola de neve que parece não ter fim. Com a crise no país, os empregadores também não
querem arriscar suas empresas na mão de adolescentes, visto que há um grande número de
profissionais experientes e desempregados.
Quando o adolescente sai de casa em busca de sua independência e encontra
dificuldades para arranjar emprego, acaba voltando para casa de seus pais, passando pela
humilhação de ter fracassado. A sensação de incompetência é o maior motivo do sofrimento
dos adolescentes.”
Notamos que a estrutura do texto é boa, pois o tema parece compatível com a redação como
um todo. A repetição (reformulação) da palavra “adolescente” faz o texto parecer coerente.
Porém, se observarmos mais atentamente, perceberemos que a redação já começa com um
ruído, o desvio do tema. Embora possamos utilizar o termo adolescente para falar de
adolescência, falar dos problemas do adolescente é diferente de falar dos problemas da
adolescência e, então, o conteúdo ficou vago. Outro problema no texto (6) é que cada
parágrafo fala de um tema diferente: o primeiro, sobre a falta de liberdade do adolescente; o
segundo, da crise e da falta de oportunidade para os adolescentes; o terceiro, dos transtornos
psicológicos relacionados à volta do adolescente à casa dos pais.
O problema da fuga do tema exige uma remodelação do texto, mas o da coerência
poderia ser solucionado se o emissor lançasse mão de elementos coesivos, ou seja, de
elementos que ligassem os parágrafos, dando-lhes sentido. Bastava iniciar o segundo
parágrafo com “Na tentativa de se libertar da dominação familiar, o adolescente sai de casa
em busca de trabalho.” e a coerência estaria estabelecida, pois a frase no início reformula a
necessidade de liberdade e de dominação, além de já apontar para o último parágrafo, que
poderia ter seu trecho inicial alterado para: “Por essas razões, o adolescente acaba
voltando...”. Aqui, a expressão “por essas razões” nos diz que os motivos do retorno do
adolescente ao lar foram os fatos expostos no parágrafo anterior. “Por essas razões” é uma das
marcas coesivas que amarrará a coerência no texto.
Língua Portuguesa 7
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Existem dois níveis elementares de coerência: (a) a coerência local, interna, no nível
da frase, do parágrafo, geralmente gerado pela regência (verbal ou nominal), concordância
sintática (na combinação das palavras na frase, das frases no parágrafo), ou na concordância
semântica (sentido); e (b) a coerência global, ou seja, o texto como um todo (a combinação
dos parágrafos no texto, do texto com outros textos, com aquilo que é esperado que ele
transmita).
O desvio do tema no texto (6) é um problema de coerência global. A incoerência na
estrutura dos parágrafos é um problema de coerência local. O conjunto de incoerência local
forma uma incoerência global.
Língua Portuguesa 8
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
um pronome átono (matá-la). Aqui, o pronome átono faz uma remissão, ou seja, remete a um
termo já citado (a princesa).
Os pronomes pessoais sempre formam uma cadeia coesiva, pois sempre entram no
texto em substituição a um nome. Os pronomes pessoais fazem referência a um termo já
citado (anáfora), mas existem pronomes, como os demonstrativos, que podem se referir a algo
que será ainda citado (catáfora). Observe:
em (8), o pronome pessoal ele substitui o termo já citado: o professor. Em (9), o pronome
demonstrativo estes nos remete aos termos que serão citados: a anáfora e a catáfora. Um
texto é, pois, composto dessas marcas que substituem e apontam para outros termos, lugares,
sentidos. Essas marcas coesivas, quando bem estruturadas, são um rico recurso
argumentativo. O seu mau uso, no entanto, pode provocar incoerência tanto no nível local,
quanto global.
Língua Portuguesa 9
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
(12) Os urubus (trecho do texto “Os urubus e sabiás”, de Rubem Alves, apud A coesão
textual, de Ingedore Koch)
1
Tudo – refere-se ao relato que se inicia (referência catafórica); como ainda não sabemos o
que virá, o pronome, indefinido, aponta para o que virá, estimulando a leitura do restante do
texto.
2
mas, mesmo – introduzem oposição/contraste. O mas faz opor a falta de dote em catar ao
fato de serem aves becadas; mesmo estabelece a contradição às leis da natureza.
3
eles, quais deles, outros e eles – referem-se a urubus (referências anafóricas);
4
para – indica finalidade, a meta que pretendiam alcançar.
5
isto – refere-se à declaração anterior, ou seja, substitui “a decisão de tornarem-se grandes
cantores” (referência anafórica);
6
foi assim que – indica a conseqüência, o resultado do esforço dos urubus.
1.3. A Pontuação
A pontuação é um dos mais sofisticados marcadores de coesão, que serve de forte
instrumento numa estrutura argumentativa, pois permite inúmeras opções na embreagem
textual. Com a pontuação, podemos tornar o texto mais conciso, ou mais prolixo; podemos
Língua Portuguesa 10
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
mudar o sentido de um termo com uma simples vírgula. Veremos a seguir o uso padrão da
pontuação.
1.3.1.1. A vírgula
APLICAÇÃO EXEMPLO
Separar enumerações e termos O pai, a mãe e o filho saíram.
Separar orações independentes entre si Vim do sul, trabalhei anos, voltei para casa.
Separar orações subordinadas deslocadas
Se tiver dinheiro, irei ao cinema.
(inversões)
Separar orações reduzidas Terminada a aula, os alunos saíram.
Separar orações intercaladas O jogo, disse o técnico, é difícil.
O homem, que é um ser mortal, tem a
Separar orações explicativas
alma imortal.
1) Paulo, um amigo meu, viajou ontem
Separar vocativos e apostos explicativos para a Europa.
2) Paulo, venha cá!
1) Durante o recreio, ele saiu.
Separar adjuntos adverbiais deslocados
2) Ele, durante o recreio, saiu.
1) Estudou muito; não foi, entretanto,
Separar conjunções deslocadas ou depois de
aprovado.
ponto-e-vírgula (;)
2) Estudou muito; logo, será aprovado..
Marcar elipse do verbo Gostas de cinema e eu, de teatro (gosto)
1) Estudou bastante, e não foi aprovado (=
mas – adversativo).
2) Andou, correu, e alcançou o seu objetivo
Marcar a conjunção “e” quando não é aditiva
(= logo – conseqüência)
3) Chegou, e viu, e lutou, e venceu
(repetição enfática)
Separar partículas de realce Dinheiro, todos precisam dele.
Separar topônimos nas datas Rio de Janeiro, 25/03/02.
Língua Portuguesa 11
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Ponto-e-vírgula (;) – é uma pausa maior do que a vírgula e menor do que o ponto-final, uma
vez que não encerra período. Emprega-se geralmente em orações coordenadas que, por
apresentarem unidade de sentido ou aspectos em comum, convém deixar no mesmo período.
Na língua escrita, é o leitor; na linguagem falada, o ouvinte.
b) para indicar uma enumeração Vários são os autores estudados: Machado, Alencar, Drummond e
tantos outros.
c) antes de esclarecimento/explicação Fez tudo conforme o combinado: saiu às sete horas, comprou o
necessário e, às dez, chegava à casa.
d) para introduzir uma pergunta ou resposta Perguntei-lhe: “— Sabes andar?”. O moço respondeu:
“Nunca pude fazê-lo”.
Travessão (—) – num diálogo, indica a introdução da fala de cada personagem, alternando os
turnos. Num texto em prosa, serve para enfatizar uma palavra, frase ou expressão, para fazer
uma descrição, substituindo a vírgula ou um parêntese numa escala hierárquica.
— E aí, casou?
— Ainda não. Talvez pro final do ano.
Língua Portuguesa 12
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Parênteses (()) – emprega-se para destaque de palavra, frase, oração ou período que têm
caráter explicativo-intercalativo e que é geralmente pronunciada em tom mais baixo e mais
rápido, em situação de aparte.
“Um dia (que linda manhã fazia!) ela saiu a passear”. (Joaquim Antônio de Macedo)
Língua Portuguesa 13
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
O mau uso da pontuação tem sido um problema na maioria dos textos dissertativos-
argumentativos.
1.4. Verbos
Assim como acontece com a pontuação, o bom uso do verbo também serve de
argumento e marcador coesivo.
aconteceu acontecerá
aconteceria
acontecia HOJE
acontece
Língua Portuguesa 14
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
proposição condição
proposição condição
proposição condição
O modo subjuntivo exprime o evento não realizado (pretérito: se chovesse), ou o ainda não
realizado (presente: para que chova / futuro: quando chover). Por sua característica de
“dependência”, é geralmente utilizado em orações subordinadas.
Analisamos o aspecto do verbo para entender o sentido pretendido quando o uso foi
deslocado do tempo verbal adequado. Observemos o final da última estrofe de um soneto de
Camões:
(18) “(...) – Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida”
Se fôssemos respeitar os tempos verbais, o texto acima ficaria:
Língua Portuguesa 15
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
2. Da palavra ao texto
Uma palavra possui praticamente as mesmas características descritas para o texto. É
dependente de um contexto, faz parte de uma interação social e é marcada pelo fato histórico.
A lingüística chama a palavra de “signo lingüístico”, que é composto de três partes básicas:
uma parte é a imagem que o som transmite (imagem acústica), que surge da relação dos sons
com as suas representações (as letras e os fonemas); outra parte é o significado, que está
associado ao som da palavra e que reporta a um sentido, que deve ser conhecido por todos
que compartilham o mesmo meio social; a terceira parte é a da interpretação/representação,
pois o uso de determinada palavra dependerá da interpretação que dela se faz.
Deslocada de contexto, ou isolada da história, ou, ainda, isolada socialmente, a palavra
não faz qualquer sentido, está apenas marcada por um significado dicionarizado. Quando
dissemos que “o signo lingüístico é composto por três partes básicas”, queremos dizer que
são três partes mínimas que dão base a muitas outras, não queremos dizer que são simples
(outro sentido para básico), como em “uma roupa básica”.
O uso das palavras é automatizado, mas devemos tomar muito cuidado com elas, pois
o significado pode trair o sentido, ou vice-versa. Por exemplo, um sujeito excêntrico
normalmente é tido como “esquisito, estranho, incomum”, mas, na verdade, um dos sentidos
Língua Portuguesa 16
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
diz respeito ao “indivíduo que age ou pensa de maneira original, extravagante, fora dos
padrões considerados normais ou comuns”, pois o sentido primário de excêntrico é “que se
desvia, ou se afasta do centro”. Daí, os muitos ruídos com relação a sentidos ambíguos.
Observe:
(22) Era excêntrico.
(23) Morava no campo. Ele era excêntrico.
(24) Os demais elementos viviam no centro do núcleo da célula, com exceção de um tipo de
bacilo, que era excêntrico.
(25) Ele vivia o máximo que podia todos os dias, com extravagância. Ele era excêntrico ao
extremo.
Em (22) e (23), não podemos saber qual o sentido exato do que se quer dizer, embora em (23)
possamos pensar em “extravagante”. Já em (24), o que se pretende dizer é “fora do centro” e
em (25), “extravagante”. Observamos, então, que as palavras podem se comportar
diferentemente dentro de um contexto.
Além do comportamento das palavras, há também considerações sintáticas nas quais
devemos estar sempre atentos: a concordância e a flexão são as mais comuns, pois estão
relacionados aos outros elementos no texto. Observemos o comportamento da palavra
“mesmo”:
(26) Elas mesmas fizeram o trabalho.
(27) Mesmo a marinha não conseguiu combatê-lo.
Em (26), mesmo é flexionado em gênero e número para concordar com elas. Neste caso, elas
mesmas significa “elas próprias, não outras”, é adjetivo (determinante) e, na língua
portuguesa, os determinantes são flexionáveis e devem concordar com o termo que
determinam. Em (27), mesmo não é determinante, mas sim, denota um limite, dá intensidade,
reforça o fato de a marinha não ter conseguido combater, ou seja, mesmo é advérbio e os
advérbios, em língua portuguesa, não são flexionáveis. Para resolver problemas com as
palavras, não o cão, mas o dicionário é o melhor amigo do homem. É impressionante como
um dicionário pode nos ajudar a resolver dúvidas de conjugação verbal, concordância e
flexão.
A posição das palavras na frase também é um fator determinante na construção dos
sentidos. O determinante em língua portuguesa deve vir depois do determinado. Em casa
portuguesa, o determinante portuguesa (no estilo de Portugal, ou de família portuguesa) vem
Língua Portuguesa 17
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
depois do determinado casa. Podemos, no entanto, manipular essas posições com diferentes
objetivos:
• para efeitos enfáticos ou poéticos
Vi os campos verdes (padrão)
Vi os verdes campos (inversão – ênfase em verdes)
• para mudar o sentido
Ele era um homem grande (padrão – refere-se à altura)
Ele era um grande homem (inversão – refere-se ao caráter)
• para mudar o enfoque
Conheço uma cozinheira baiana
(cozinheira que nasceu na Bahia, não no Rio ou em São Paulo)
Conheço uma baiana cozinheira
(baiana cuja profissão é cozinheira, não vendedora, nem advogada)
Uma vez na frase, a frase também ocupa lugares bastante determinados. As frases estão
associadas umas às outras, formando uma cadeia de significados. Em um texto escrito, a
cadeia de significados é agrupada em parágrafos.
Língua Portuguesa 18
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
• misto – tópico frasal aparece diluído, havendo, antes dele, uma indução e, após
ele, a dedução.
Um texto não é um aglomerado de frases. Todos contêm uma declaração ou
pronunciamento que faz parte de um contexto maior, mais amplo, dependente do meio em que
se está inserido. Um texto é um fato de contexto. Ou seja, é um tecido, uma estrutura
constituída de tal modo que as frases não têm significado autônomo: o sentido dependerá do
meio e da correlação que uma frase mantém com as demais.
• uma declaração inicial – o emissor afirma ou nega alguma coisa logo de saída
para, em seguida, justificá-la ou fundamentá-la. Abre-se o parágrafo com um tópico frasal,
uma generalização.
Vivemos em uma época de ímpetos. A vontade, divinizada, afirma sua preponderância...
Língua Portuguesa 19
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Língua Portuguesa 20
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Uma redação deve ter, portanto, um mínimo de três parágrafos. Para a defesa da tese,
podemos lançar mão de recursos argumentativos, a que chamamos mais abaixo de “estrutura
da argumentação”.
3. Desconstruindo mitos
A mídia e muitos tradicionalistas costumam ensinar língua portuguesa com regras
absolutas. Nem sempre o uso segue a regra gramatical, o que não quer dizer que esteja
incorrendo em erros. Como vimos em “aspecto verbal”, o deslocamento do verbo de seu
tempo verbal “tradicional” se dá em nome de um sentido que o “tradicional” não permitiria.
Outros usos que também fogem à regra tradicionalista servem como marcadores
textuais, como a variação regional e as variações entre as classes e grupos sociais, as
variações de época (gírias) e de idade, que são chamadas de variações dialetais. O português
brasileiro é uma variação dialetal (regional) do português europeu.
Muitas proibições impostas pelos tradicionalistas são amplamente estudadas e mais
cedo ou mais tarde acabarão entrando para a norma, como o “a gente vai” que entrou para a
norma como uso informal.
Língua Portuguesa 21
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
3.1.1. Os porquês
POR QUE
• Quando pergunta Por que ela não veio?
• Quando = pelo qual, por qual, por que motivo o caminho por que tive de seguir /
Soubemos por que ela não foi.
PORQUE
• Quando ≠ pelo qual, por qual, por que motivo (= conectivo) ficou doente porque não comia
(= visto que, idéia de causa) / voa porque tem asas (uma explicação).
POR QUÊ
• Deve-se acentuar SOMENTE quando for seguido de sinal de pontuação Ele não veio e ela
não quis saber por quê. / Você está assim preocupado, por quê?
PORQUÊ
• Quando precedido de artigo (= substantivo, pode ser flexionado) todos sabemos o porquê
das demissões (= o motivo) / Nunca nos explicaram os porquês das coisas (= as razões para a existência)
• Quando for seguido de sinal de pontuação o pássaro voou e eu não sei porquê.
Língua Portuguesa 22
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
a) Em uma conversa
• POSIÇÃO esse(a) está longe de quem fala e próximo daquele com quem se fala. Este(a)
está perto de quem fala. (Atenção: aquele/aquela está longe tanto de quem fala quanto
daquele com quem se fala)
Quem Quem
fala ouve
— Por favor, coloque essa bola lá dentro. Eu vou colocar este quadrado lá dentro também.
O pequeno poder pode servir como um mecanismo de compensação. Esses mecanismos são a
válvula de escape para um enorme complexo de inferioridade. No âmbito do poder, estes fatos
devem ser considerados: o sujeito se sente inferior e essa inferioridade o incomoda, o que o
leva a abusar até mesmo da menor autoridade quando lhe delegam um poder mínimo, como
aplicar uma multa no trânsito.
c) Em uma carta
• A QUEM E DE QUEM esse(a) aponta para quem se está escrevendo. Este(a) indica quem
está escrevendo.
Vimos por meio desta solicitar uma definição da compra o mais breve possível, uma vez que
até o momento não obtivemos uma posição dessa empresa. (...) Não considere o pedido de
urgência uma pressão, pois a intenção desta empresa é sempre atender no que for possível.
d) Outros usos
Quem telefonar neste dia, concorrerá a um ingresso para o Palco MPB. Quem ligar nesta hora
concorrerá, também, a um CD do Jorge Vercilo.
O aniversário da MPB FM será comemorado no dia 14 de setembro, a partir das 19h. Nesse
dia, haverá a apresentação de muitos cantores famosos. Às 20h haverá um sorteio. Nessa hora,
um cantor convidado entregará o convite para o seu show no Canecão, na semana seguinte.
Língua Portuguesa 23
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Ex.2: Faça uma linha paralela à do centro. (paralela a + a linha do centro = paralela àquela
linha do centro)
faça um traço paralelo ao do centro.
Língua Portuguesa 24
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Ex.4: Não reconheci as que saíram. (reconhecer é transitivo direto, não há preposição)
não reconheci os que saíram.
• O verbo IR
Vou a Volto de
Portugal Portugal
Paris Paris
Curitiba Curitiba
Nova Iguaçu Nova Iguaçu
casa (minha casa) casa (minha casa)
Vou à Volto da
França França
Bahia Bahia
Barra da Tijuca Barra da Tijuca
praia praia
casa dos meus pais casa dos meus pais
Língua Portuguesa 25
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
• Locuções, (à medida que, à procura de, à moda de, à maneira de, à proporção que, às
custas de etc.), para distinguir do sujeito ou do objeto direto:
Ex.1: A procura dos criminosos durou três dias. (“a procura dos criminosos” = sujeito)
A polícia estava à procura dos criminosos. (à procura de = locução)
Ex.2.: A medida que você me forneceu estava errada. (= a medida estava errada)
À medida que os empregados chegavam, o salão ficava repleto. (= locução)
• Numeral
Ex.1: A reunião será das duas às quatro horas. (= começará às 2h e terminará às 4h)
A reunião será de duas a quatro horas. (= terá duração de)
Ex.3: Eu volto daqui a quatro luas. (= depois de quatro luas duração de tempo)
Eu volto às quatro. (= quatro horas)
Ex.4: Todos responderam à uma só voz. (= uma única voz, não se ouviu duas vozes)
Todos responderam a uma voz que vinha do fundo da sala. (= alguma voz)
Nota: Viajarei daqui a dois dias. (evento a acontecer)
Há dois dias não a vejo. (há = faz / a vejo = vejo ela)
Língua Portuguesa 26
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Língua Portuguesa 27
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
UNIDADE 2
O Planejamento do texto
referente
código
Língua Portuguesa 28
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
O bom texto acadêmico, com base nas funções descritas acima, deve mesclar alguns
elementos: preocupação referencial, para não fugir do assunto, já que descreverá um tema.
Deve-se emitir o juízo de valor ao estruturar a argumentação em defesa de sua tese, ou
estabelecer uma crítica. A objetividade, clareza nas idéias (função fática) deve permear todo o
texto, para facilitar o seu entendimento pelo receptor (preocupação apelativa), afinal, todo
texto é elaborado para ser lido.
5. Tipologia de texto
Tipologia textual é o nome que se dá à tentativa de se estabelecer os tipos distintos de
textos. É óbvio que não existe uma tipologia única, sistemática e explícita, pois devemos
considerar a diversidade de classificações que levam em conta as funções da linguagem, a
intencionalidade do emissor, prosa de base, traços lingüísticos ou estruturais, efeitos
pragmáticos, variedades da linguagem e recursos estilísticos. Listamos abaixo, para facilitar o
entendimento dessa complexidade, alguns tipos de texto e os gêneros em que são aplicados.
Língua Portuguesa 29
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Narrativo muito utilizado nos textos literários, pois narrar é contar uma história/estória.
Geralmente, a narrativa se estrutura em torno de um acontecimento, com elaboração de
cenários e personagens.
Descritivo texto que descreve um objeto ou ser, exibindo seus detalhes. Um relatório de
uma pesquisa lança mão de recursos descritivos.
GÊNERO APLICAÇÃO
Literários Conto, novela; teatro, poema; certas crônicas
Jornalísticos Notícia; artigo de opinião; reportagem; entrevista
de Informação Científica Definição; nota de enciclopédia; relato de experimento
científico; monografias, dissertações e teses; biografias;
relato histórico
Instrucionais Manual; receita; instrutivo; passo-a-passo
Epistolares Carta; ofício; circular; memorando
Humorísticos Certas histórias em quadrinhos; certas crônicas; piadas
Publicitário Aviso; folheto (folder, flyer); cartaz; outdoor
Língua Portuguesa 30
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Como a exaustão da linguagem figurada não é o escopo do curso, faremos apenas uma
lista das que mais servem à argumentação.
Paronomásia: figura de som que consiste no uso de som parecido, mas de sentido diferente.
Serve para dar um ar bem humorado ao texto.
Devemos fazer isso depressa, mas não às pressas.
Metonímia: figura de palavra que consiste na substituição de um nome por outro. Recurso
muito utilizado em sínteses, para tornar o texto mais conciso, com sofisticação.
Li Saramago (na verdade, li um livro cujo autor é Saramago)
Tirei uma xérox (na verdade, tirei uma fotocópia numa copiadora do fabricante Xerox)
Comparação ou símile: figura de palavra que consiste na comparação direta. Sempre há uma
conexão entre os dois elementos comparados. Serve de argumento incontestável, pois ao
comparar, o receptor perceberá a semelhança.
Ela era linda como uma deusa.
Todos fazemos besteiras iguais a adolescentes inveterados.
Metáfora: figura de palavra que consiste na comparação indireta. Não conexão entre os dois
elementos comparados. Manipula-se a comparação com uma afirmação direta.
Ela era uma linda deusa.
Todos somos adolescentes inveterados.
O remédio para reduzir os gastos públicos não parece saudável nem inteligente.
Pleonasmo: figura de sintaxe que consiste na repetição daquilo que ficou óbvio. Tem a função
de enfatizar um termo. O Pleonasmo Vicioso é considerado erro, pois a repetição não tem
valor estilístico (como “entrar pra dentro” e “subir pra cima”).
“Era como se todo mundo que ele pisara com os pés, que vira com os olhos, que pegara com as mãos, se
perdesse num instante.”
Os governantes, todos pensam que o povo não tem memória.
Língua Portuguesa 31
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Antítese: figura de pensamento que consiste em associar elementos que parecem opostos, mas
que servem para ilustrar e dar força ao que se expõe.
Antigamente convertia-se o mundo, hoje não se converte ninguém. (antigamente x hoje juntos
potencializam a idéia da dificuldade na conversão de hoje)
O dia e a noite conspiram a seu favor.
Apesar de nem todas as figuras estarem listadas, todas, sem exceção, podem ser
utilizadas como argumentos, desde que usadas com parcimônia. O excesso de linguagem
figurada pode tornar o texto fútil, ou mesmo incompreensível.
6. A argumentação
Um texto argumentativo demanda um tempo de trabalho mental, na compreensão do
tema a ser tratado, no posicionamento crítico. Antes de se iniciar a escritura, deve-se pensar
na estrutura lógica, ou seja, na seleção e ordenação das idéias, na definição dos objetos que
serão abordados. Só então deve-se iniciar a escrever as idéias, listando os argumentos. Ao
término, deve-se afastar o texto por algum tempo para depois voltar a ele, numa releitura
crítica, análise do próprio texto, para o aperfeiçoamento de sua forma.
Língua Portuguesa 32
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Estrutura interna:
• tese apresentação formal da opinião a ser defendida pelo autor;
• antítese oposição de idéias para destacar a defendida pelo autor;
• síntese declaração sintética que defende a opinião do autor.
Língua Portuguesa 33
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Embora não sejam os únicos elementos que participam na complexidade do texto, será
possível, utilizando-se com sensibilidade as sugestões e os recursos contidos nesta apostila,
construir um bom texto argumentativo, coerente, num corpo coesivo, eficaz na sua
comunicação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Antônio Suarez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 6 ed. Cotia:
Ateliê Editorial, 2003.
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 16
ed. São Paulo: Ática, 2001.
KAUFMAN, Ana Maria e RODRÍGUEZ, Maria Elena (org.). Escola, leitura e produção de
textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 4 ed. São Paulo: Contexto,
2000.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 15 ed. São Paulo: Contexto, 2001
VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 9 ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Língua Portuguesa 34
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Anexos
Língua Portuguesa 35
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
FALA ☺ ESCRITA
Conversa espontânea. 1 Discurso planejado.
Não há encontro com o
É parte de um encontro com
2 interlocutor. O leitor encontra-se
interlocutor.
distante.
O que se diz é uma criação O interlocutor não interfere na
3
conjunta. criação.
A audiência é anônima. O texto
As mensagens se adaptam a um
4 deve ser entendido por qualquer
interlocutor conhecido.
pessoa.
A composição e a leitura não
As mensagens são limitadas pelo
sofrem restrições de tempo. O
tempo, pelas restrições do encontro 5
escritor pode corrigir o que
e pelas limitações da memória.
escreve. O leitor pode reler.
A comunicação tem canais
A comunicação se faz apenas
múltiplos: gestos, entoação, 6
pela utilização de palavras.
expressões faciais, etc.
Tudo deve estar totalmente
O ambiente ao redor pode ser usado contido no texto, pela sintaxe.
para indicar o sentido do que é dito, 7 Quem interpreta o sentido do que
bem como para interpretar os sinais. está sendo escrito está distante do
escritor.
Os sinais da fala não servem
As mensagens são impessoais e
apenas para informar, mas também
informacionais. A persuasão se
para manipular o ouvinte. A fala é 8
faz unicamente através de
usada para manter a interação
recursos lingüísticos.
pessoal.
O discurso é dinâmico, tem vida
curta, transmite alguma coisa e 9 O texto é estático.
desaparece.
Língua Portuguesa 36
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
FALA ☺ ESCRITA
Frases mais curtas, pausas entre
orações. Mais coordenação do que Frases mais longas. Orações mais
subordinação. Maior freqüência dos integradas. Mais subordinação.
1
conectivos e, aí e então ou de Maior freqüência dos demais
conexão assindética de orações conectivos.
(isto é, conexão sem conjunções).
Repetições, reparos
As repetições são evitadas. Os
(especialmente quando o falante
reparos não existem, pois o texto
inicia um período complexo e cai 2
pode ser corrigido e “limpo”, em
num “limbo sintático” por problemas
revisões sucessivas.
de memória).
Preferência por verbos: Preferência por nominalizações:
3
A menina é bonita. A beleza da menina.
Preferência por orações adjetivas,
ou por adjetivos ligados
Preferência por predicativos:
4 diretamente ao nome:
A menina é bonita.
A menina bonita...
A menina, que é bonita, ...
Uso de impessoalizações, voz
Sujeitos preferencialmente
passiva, ou ausência de sujeitos:
animados, principalmente humanos: 5
Há muitos acidentes diariamente.
O homem bateu com o carro.
Foram feitas mudanças na escola.
Explicitação do lugar, tempo e
Uso de demonstrativos, pronomes, pessoa, de modo a que o texto
indicadores de lugar (dêiticos), possa ser autônomo:
ligando-se às orações pelo contexto: 6
O carro do ator se encontrava na
Aquele ali é o carro dele. terceira vaga da ala leste do Rio
Centro.
Dependência maior do contexto, do
7 Depende unicamente da sintaxe.
cenário onde se dá a fala.
Uso freqüente do discurso direto,
Uso freqüente do discurso
com entonação, mudança de voz
indireto, com alterações que
etc., indicando troca de
8 precisam ser feitas nos tempos e
personagens:
modos verbais:
Aí ele disse:
Ele disse que era um assalto.
— Isso é um assalto!
Língua Portuguesa 37
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
FALA ☺ ESCRITA
Impessoalização com o emprego de Impessoalização com voz passiva,
9
você, o cara, nego, tu, etc. uso de se, as pessoas, etc.
Topicalização à esquerda
(deslocamentos à esquerda, com Raro o uso de deslocamentos à
repetição do item deslocado na 10 esquerda:
sentença): Minha mãe chegará logo.
Minha mãe, ela vai chegar logo.
Topicalização à direita para Menor freqüência dessa
acréscimo de informação: construção:
11
Hoje eu vi a minha vizinha no ônibus, a Hoje eu vi a minha vizinha loura e
loura e alta. alta no ônibus.
Uso pouco freqüente dessas
Emprego de rodeios e hesitações. 12
marcas.
Uso de bengalas (muletas) Uso de estruturas típicas da
lingüísticas, típicas da fala: escrita: “coisa nenhuma”,
“bulhufas”, “chinfrim”, “fulano e 13 “insignificante”, uso de nomes
cicrano”, “pegou e falou”, “virou e próprios, flexão e concordância
disse”. verbais.
Maior explicitação:
Elipses, supressão de verbos:
14 Embora eu tenha passado, meu irmão
Eu passei, meu irmão não.
ficou reprovado.
Preferência pela forma canônica das Maior inversão das formas
orações (sujeito + verbo + objeto): 15 canônicas:
Ana encontrou o marido à tarde. À tarde, Ana encontrou o marido.
Uso de conjunções que alteram a
A ordem das sentenças reflete a ordem real de ocorrência dos
ordem de ocorrência dos fatos: fatos:
16
Ela sentiu as primeiras contrações e foi Ela foi levada às pressas para o
levada às pressas para o hospital. hospital logo após sentir as primeiras
contrações.
Acentuação Gráfica
Os acentos gráficos são: agudo (´), circunflexo (^) ou grave (`).
Atenção: o til (~), que marca de nasalação (nasalização) e o trema (¨),
que marca o som do u, não são acentos gráficos, são apenas sinais
diacríticos.
Língua Portuguesa 38
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Formas de tratamento
TRATAMENTO ABREV. ABREV. PLURAL APLICAÇÃO
Presidente e vice-Presidente da
República
Presidentes do Supremo Tribunal
Federal, do Congresso Nacional, do
Senado Federal e da Câmara
Federal
Membros das Casas Legislativas
Federais e Estaduais e do Poder
Judiciário
Vossa Exelência V. Exa. V.Exas. Ministros
Governadores
Prefeitos
Diplomatas
Oficiais Generais das Forças
Armadas
Chefe de Polícia do Depatº
Federal de Segurança Pública
Procuradores Gerais
Secretários de Estado
Observações:
Língua Portuguesa 45
Organizando idéias: como estruturar um texto
Prof. Elir Ferrari
Língua Portuguesa 46