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COLÉGIO PEDRO II - CAMPUS HUMAITÁ II Valor: 6,0

Prova de Língua Portuguesa 8ºano do Ensino Fundamental


Nota:
2°turno- turma:
Professora: Coord. Prof.: André
Caldas
Estudante:_________________________________________
INSTRUÇÕES: 1. Conte as suas folhas e confira se você está com páginas de prova. 2. A
compreensão dos enunciados faz parte da resolução das questões, assim como o domínio do
vocabulário utilizado. 3. Evite ao máximo rasurar as repostas discursivas, PENSE antes de
escrever. 4. Nas questões objetivas NÃO serão aceitas rasuras. 5.Tenha atenção à
modalidade escrita e revise o que escreveu. ☺ BOA PROVA!

Texto I
Os padrões de feminilidade e a mulher negra (Fragmento)
2 de março de 2014 (Por Jarid Arraes, publicado originalmente na coluna Questão de Gênero da
Revista Fórum.)

As meninas crescem inseridas em uma cultura que lhes ensina a admirar as princesas
da Disney, a Barbie e outras personagens magras e brancas que acabam em finais
felizes de prosperidade. Muitas fantasiam que são uma dessas princesas, desejam
possuir brinquedos e produtos relacionados e, claro, almejam se tornarem fisicamente
semelhantes. O problema é que o padrão de beleza perpetuado por essas figuras dá
início a uma espécie de doutrinação, que desde a mais tenra idade ensina estereótipos
de gênero baseados em sexismo e racismo.
Tanto as princesas do passado quanto as princesas mais recentes possuem muitas
coisas em comum: olhos grandes, cílios longos, lábios rosados, bochechas coradas,
narizes afilados e cabelos sedosos que voam ao vento de maneira hipnotizante. Não
por acaso, essa representação feminina não fica limitada ao universo infantil, se
repetindo também na vida adulta, muitas vezes presente nos catálogos de moda, nas
propagandas da televisão, em filmes e em novelas. A maioria das atrizes consideradas
belas possuem cabelos compridos e de textura lisa, traços faciais delicados e
comportamento que varia de meigo a sensual, assim como muitas personagens
femininas dos desenhos animados feitos para a audiência infantil.
O que pode acabar passando despercebido, no entanto, é que o padrão de beleza não é
ruim somente por criar uma forma de aparência física melhor, na qual todas as
mulheres devem se encaixar. A cultura da beleza branca e magra também cria e
dissemina padrões de gênero repletos de clichês e paradigmas machistas: as mulheres
absorvem que precisam ser “femininas” e, por isso, devem ter uma aparência física que
“exale” essa feminilidade. Enquanto que para uma mulher branca há mais chances de se
enquadrar em alguns dos quesitos exigidos, para uma mulher negra, sua posição social
será sumariamente distinta.
Pode-se dizer que toda mulher negra tem recordações dolorosas da infância e
adolescência. As meninas e as jovens negras assimilam que são “diferentes” e sofrem
por não se sentirem bonitas – muitas vezes, ao ponto de nem mesmo conseguirem se
identificar com a experiência de “ser mulher”. Acontece que por conta do cabelo
crespo, nariz largo e pele escura, a sociedade não espera das mulheres negras
qualquer expressão de meiguice ou fragilidade, traços considerados tipicamente
femininos. As pessoas assistem – tanto na televisão quanto na vida real – que o corpo
da mulher negra é reduzido à exploração sexual e trabalho braçal e são esses os
valores que reproduzem.

Questão 1
De acordo como o primeiro parágrafo do texto de Jarid, qual seria o problema dos
padrões de beleza disseminados por personagens como as princesas da Disney?

Questão 2
Segundo a autora, há um grupo que é mais atingido pela exigência dos valores
estéticos presentes em nossa sociedade. Que grupo seria esse e por que, para essas
pessoas, a situação de vulnerabilidade é ainda mais intensa?

Texto II
Jumping Monkey Hill (Chimamanda Adichie - Fragmento)

Todos os bangalôs tinham telhados de palha. Havia nomes como Baboon Lodge e
Porcupine Place pintados à mão ao lado de portas de madeira que levavam a caminhos
de pedra, e as janelas eram deixadas abertas para que os hóspedes acordassem com o
farfalhar das folhas de jacarandá e o som ritmado e tranquilizador das ondas do mar
se quebrando. As bandejas de vime continham uma seleção de chás sofisticados. No
meio da manhã, discretas criadas negras faziam a cama, limpavam a banheira elegante,
passavam aspirador de pó no tapete e deixavam flores silvestres nos vasos artesanais.
Ujunwa achou estranho que o Workshop para Escritores Africanos fosse, em Jumping
Monkey Hill, nos arredores da Cidade do Cabo. O nome em si já era absurdo e o resort
tinha a complacência dos bem alimentados era o tipo de lugar onde, imaginava ela,
turistas estrangeiros ricos corriam de um lado para o outro tirando fotos de lagartos
para depois voltar para casa ainda sem ter muita consciência de que, na África do Sul,
havia mais negros do que lagartos de cabeça vermelha. Mais tarde, ela descobriria que
fora Edward Campbell quem escolhera o resort, ele tinha passado os fins de semana lá
quando dava aulas na Universidade da Cidade do Cabo, anos antes.

Tomando como base a leitura completa do conto acima, feita por você em casa,
responda às questões seguintes

Questão 3
Sabemos que o espaço pode ser um elemento bastante importante na estrutura
narrativa. No fragmento acima, o narrador descreve, com detalhes, o resort para onde
Ujunwa é levada. Explique que imagem do lugar essa descrição nos ajuda a construir e
sua importância para o sentido do texto. Para desenvolver sua resposta, considere,
também, as pessoas que aparecem no cenário, nesse primeiro parágrafo.
Questão 4
Releia o trecho do texto II, de Jarid Arraes: “As pessoas assistem – tanto na
televisão quanto na vida real – que o corpo da mulher negra é reduzido à exploração
sexual e trabalho braçal e são esses os valores que reproduzem.”

Como essa passagem pode ser relacionada às situações vividas pela protagonista do
conto “Jumping Monkey Hill”? Cite, pelo menos duas.

Texto III
RESGATE (Alzira Rufino)
sou negra ponto final
devolvo- me a identidade
rasgo minha certidão
sou negra
sem reticências
sem vírgulas sem ausências
sou negra balacobaco
sou negra noite cansaço
sou negra
Ponto final

Questão 5
O poema acima fala sobre um resgate. Explique que regate seria esse e qual a
importância de fazê-lo. Para responder a essa questão, pense nos textos lidos ao longo
do trimestre e nos debates por eles suscitados.

Questão 6
Ao longo do texto, a expressão “sou negra” é repetida diversas vezes. Partindo desse
verso:
a)diga que tipo de predicado a oração apresenta e classifique o verbo em negrito
segundo sua predicação.
b)Aponte o núcleo desse predicado e diga qual a sua importância para a construção da
mensagem do poema.

Questão 7
Sobre o verso: “devolvo- me a identidade”, responda:
a) em que voz verbal está a oração acima? Justifique.
b) Na reescritura “minha identidade é devolvida para mim”, ocorre alteração do tipo
de voz verbal e, consequentemente, alteração de sentido. Aponte a voz verbal e
explique a alteração semântica.

Texto IV
“Uma das melhores escritoras de sua geração, Adichie expõe nossa vulnerabilidade
perante o desconhecido nos doze contos que compõem No Seu Pescoço, lançado
originalmente em 2009, mas só agora traduzido para o português pela Companhia das
Letras. (…) Talvez o grande apelo de Chimamanda Ngozi Adichie, além da qualidade e
da força de sua escrita, seja sua capacidade de escrever sobre injustiça social,
desigualdade de gênero, racismo e preconceito contra imigrantes de forma combativa,
mas nunca panfletária. São as angústias que nos tornam humanos que formam a base
de sua literatura, sem poupar nem distinguir ninguém.”

(Resenha Crítica de No Seu Pescoço -Fragmento. In:


http://www.achadoselidos.com.br/2017/08/16/resenha-no-seu-pescoco/)

Questão 8
O texto acima, sobre o livro de Chimamanda, menciona que “Adichie expõe nossa
vulnerabilidade perante o desconhecido”. Podemos dizer que, no outro livro do
trimestre, Passaporte para China, de Lygia Fagundes Telles, esse tema, em certa
medida, também está presente.

Explique como essa questão aparece nas duas obras.

Texto V (Passaporte para a China - Lygia Fagundes Telles - Fragmento)


Rio de janeiro, 24 de setembro de 1960

Diz o horóscopo que os do signo de Áries não devem de modo algum se arriscar no dia
de hoje.

Sou do signo de Áries e daqui a pouco, em plena noite, devo embarcar num avião a jato
para a China. Escalas? Dacar, Paris, Praga, Omsk, Irkutsk e finalmente Pequim. Quer
dizer, atravessarei quatro continentes: América, África, Europa e Ásia. É continente
demais, hein! […]

Na noite fria as mãos que ficaram acenando na despedida tentam afetar um entusiasmo
que não existe: para trás fica a segurança da casa. A família. O travesseiro conhecido.
O amigo. Pela frente, o imprevisto, o desconhecido e o mistério.

E porque amo o mistério, subo a escada e entro no avião que me parece um grande bicho
solitário em meio à neblina, tão solitário quanto nós mesmos, os viajantes da noite. […]
Peço um copo de vinho. Tomo meu vinho e ainda assim me sinto uma pobre coisa por entre
a imensidão e rolando pela eternidade.

Questão 9
O texto acima é fragmento da primeira crônica do livro de Lygia, Passaporte para a
China. A partir da leitura desse trecho, faça um comentário sobre o tipo de narrador
presente na narrativa e sua relação com o esse gênero textual. Em sua resposta, você
deve, também, apontar a importância e singularidade do olhar do narrador.

Questão 10
Nos trechos abaixo, aparecem algumas figuras de linguagem. Classifique-as.

a) “as mãos que ficaram acenando na despedida”


b) “para trás fica a segurança da casa. A família. O travesseiro conhecido. O amigo.”
c) “entro no avião que me parece um grande bicho solitário”

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