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GONGALVES A RECUSA DA TEORA DA HESS PELAS TEORIAS ESTETICAS NA VIRADA DOS SECULOS VIL E HIKE SUAS CONSEQUENCIAS A intengio deste trabalho € mostrar que a recusa da teoria, da mimesis por parte dos idealistas € jovens rominticos alemies tem como tltima conseqdéncia nflo garantia de uma iberdade plena da arte em relaglo a toda e qualquer funcio- nalidade, mas sim a afirmagio de uma nova funglo para 2 arte; uma fungio nao mais de reprodugio co natural, enquanto realidade previamente dada, mas de produgio e reproducio do espirito, enquanto ele mesmo é uma realidade processval, hist6rica e cultural, incluindo toda a imperfeigio e desarmonia da propria natureza humana. Friedrich Schlegel acreditava que o Romantismo, movimento do qual ele foi um dos maiores representantes, estabeleceria uma revolugio estétiea definitiva, tanto do ponto de vista critico ou da apreensio da arte, como de sua produgio. Esta revolugio — presente sem davida nas teorias estéticas alemais do final do século XVII e inicio do século XIX ligadas ireta ou indiretamente 10 movimento do primeiro roman- tismo —, cujo principal sentido era libertar a arteinto apenas de-sua fungio de imitara natureza, mas também de sua limitagto como forma inferior de apreensio da verdade, se deu sobre- tudo a partir da consolidacio da idéia de que a arte € produzida Por uma subjetividade necessariamente livre € naturalmente criadora, ao mesmo tempo intelectual e intuitiva, consciente e inconsciente de e em sua criagao artistien ‘como partes complementares de um mesmo todo. O primeiro postulado € o do aperfeigoamento, que tem como conseqiéncia a tese da superagio pela arte de um estado deficiente presente ainda na natureza; 0 segundo € 0 postulado da imitacao 20 da natureza, mas da pbysis como 0 meio ambiente que envolve tanto a imagem quanto a linguagem. Por isso Arist6- teles fala nfo de identidade, mas de semelhanga entre arte © realidade, 0 que inclui tanto a recriagao caricatural da poesia ‘cOmica quanto a recriugio idealizada da poesia trigica. Neste sentido, podemos interpretar a mimesis como um proceso de rectiagio da physis, entendida em sua toralidade unificada com o gos, Esta totalidade se expressa também na concepeio, de inspiraglo pitag6rica, do ritmo da poesia como um ressoar dda misica do universo, ou ainda na definiglo aristorélica da tragédia como imitag20 da ago, e conseqllentemente, aa aproximagio entre physis, Idgos e éthos, A critica dos primeiros idealistas e dos primeiros rominticos alemiies contra 0 conceito de arte como imitagio da natureza irigi-se contra uma conceprio mecanicista de natureza oposta a0 conceito grego de physis e consolidada pelo racionalismo -modemo como objetividade exterior e sem vida. Curiosamente, esta concepgao de natureza exterior estd presente ainda no fim do século XVIM, na teoria de um filésofo idealista, que ‘muito inspirou o espirito romantico. Em sua radical disting&o entre 0 Ich e o Nichi-Ieb, Fichte acabou por excluir a natureza da subjetividade, Por outro lado, ele utiliza © conceito de Einbildungskraft ow imaginagio — tho importante para 0 rimeiro romantismo — para descrever © proceso poiético criativo de um Eu substantivado, A exclusio da natureza, em Fichte, ndo tem a fungio de uma simples dicotomia do tipo subjetivo-objetivo, mas pressupde, ao contritio, a extensio da totalidade do Eu substancial e substantivante a0 mesmo tempo. Entretanto, a solucio de Fichte ainda nao & satisfatria para resgatar a dignidadee a autonomia da arte, perdidas através da teoria tradicional da mimesis e reivindicadas pela esstética do primeiro somantismo. E sem diivida o jovem Schelling quem ird estalelecer as bases filosoficas mais importantes pari o que aqui chamamos de revolugio estética, tanto em relagdo & concepgio de arte, ‘quanto em relago ao conceito mesmo de natureza. Em Schelling, 22 aprendemos a reconhecer a indiferenca ou a nio-diferenga centre estes dois momentos de criacRo e revelasio do absoluto, Matin Seel,filésofo alemao contemporineo, preocupado tanto com a questio estética quanto com a questio eco, define a revolugio estética inaugurada pelo primeiro ro tismo alemto como a inversio da relagio cléssca entre natureza arte, na medida em que a natureza deixa de ser 0 modelo dia produgho estética da arte, e 4 arte € que passa a ser @ modelo do que ele chama de recepgiio esttica da nacvreza.+ E neste sentido que Schelling prope ato a negagio absolut do principio da mimesis, mas sua transformagio: ‘Assim se esclarece por si mesmo aquilo do qual deve ser rmaniido da imitaglo da natureza enquanto prinefpio da arte. Nao que a natureza, apenas contingentemente bela, dé 25 Fearas A arte, mas, 20 contririo, aquilo que a arte traz em sua perfeigio € principio e norma para a avaliagio da belezs da Novalis vai mais longe ao descrever esta inversio da relagio entre natureza e arte, quando diz: “Toda a natureza poética é natureza... Ela € unicamente realidade."* Também Goethe descreve, em sua Enwirkung der neuen Philosophie esta trans- formagio do principio da mimesis, ao afirmar que, embora natureza e arte nao sejam intencionalmente uma pela outra, «elas slo esteticamente uma pari a outra. A preocupagio principal de Goethe era superar a dicotomia entre arte e ciéncia, de modo que seu projeto cientifico, realizado em sua Farbenlebre, € a expresstio maxima da combinagio da fisica com a poesia € com a arte em geral, com bases em uma teoria da natureza que nao mais se constr6i sobre um conceito mecanicista, mas hnolista de natureza. Segundo Goethe, “esquecemos que x cigncia se desenvolveu a partir da poesia e que depois de ‘uma revolugio dos tempos as duas poderiam perfeitamente unificar-se para vantagem de ambas, em um estigio superior’? ‘A unificagao entre poesia e ciéncia ou poesia e filosofia & reafirmada varias vezes por Schelling e também por Schlegel, (que diz: “Toda arte deve tornar-se ciéncia e toda cigncia deve tomar-se arte. Filosofia ¢ poesia devem ser unificadas. oa 7 Dizer que a ciéncia pode ser arte € dizer que a arte € também compreensio da verdade. Mas a verdade € para os fildsofos rominticos, como Schelling, qualquer outra coisa que nlio seja a adequacao. A chave para este novo conceito de verdade pode ser encontrada novamente no conceito de Sinn presente ro pensamento de Friedrich Schlegel e também em Schelling, que fala — quase que antecipando uma linguagem heidegge- rlana — em “SinnenerschligSung", ou seja, em abertura de sentido, que tem como intengio afirmar a produgio estética ‘como abertura da e para a verdade, no apenas do ponto de vista racional, mas também sensivel ou intuitivo. Em sua interpretagao sobre o primeiro romantismo, Manfred Frank gosta de citar uma frase de Paul Klee que diz: “A arte no reproduz o visivel, ela torna visivel.”? Em minha opi bastaria redefinir © conceit de reprodugio — estabe pela mimesis tradicional como imitagio ou eépia — atribuindo- Ihe © sentido de recriagio, 0 qual envolve nto uma mera passividade do sentido sensivel, mas, a0 contririo, a atividade — infinita em sua imaginacao — do espftito, que nto apenas sabe, mas dd o sentido, tomando-o sensivelmente visivel, Essa era de fato a intengio tltima dos primeiros romanticos: unir a criatividade subjetiva — que tem como expressio mixima a figura do artista — com a criatividade objetiva € natural de um mundo reinterpretado poeticamente. ‘Também Novalis insistia na relagao entre arte € realidade com sua famosa formula je poctischer, je wabrer,” ou seja, “quanto mais poético, mais verdadeiro”. A verdade expressa pela arte 6, para os rominticos desse periodo, no a repro- ducio de um real qualquer, mas do absolutamente real ou do real absoluto: da absoluta verdade. Segundo Schiller, a obra de arte representa 0 infinito de forma finita, antecipando a famosa formula hegeliana de que a obra de arte be manifestagio sensivel da idéia, ou de que 0 contetido da arte € sempre 0 divino ou 0 absoluto, assim como 0 contetido da religiio e © contetido da filosofia. Mas a diferenga fundamental entre Hegel e os rominticos € que, para estes, nao existe qualquer hierarquia entre essas diferentes formas dé saber do absoluto. Os romanticos valorizavam a arte, exatamente por ela ser a possibilidade mais radical de superagio da Gicotomia platOnica entre o ser e o aparecer ou da dicotomia ‘kantiana entre o fendmeno ¢ a coisa em si. Schiller € o principal defensor de uma estética do Schein.” Para Schelling, este resplandecer da verdade nao € contudo privilégio apenas da arte, mas também da natureza, da filosofia da natureza e da filosofia da arte, que sio, para ele, sindnimos de filosofia em geral. A natureza é de fato poetizada ou estetizada de tal modo pelo romantismo que, para Schelling, nao existe mais diferenga entre a criagio estética e a criagio natural, exceto por um detalhe: enquanto a criagio natural ou orginica se reduz a um processo inconsciente, a criagio genial ou quase organica da arte é, 20 mesmo tempo, consciente ou racional € inconsciente ou intuitiva. Esta unificago entre 0 consciente € 0 inconsciente ou entre o racional e o intuitive na arte 6, or sua vez, novamente projetado sobre a natureza estetizada, Isto fica claro através da metafora, proveniente da filosofia medieval e adotada por Schelling, de que a natureza mesma seria um “livro sagrado". Em uma das mais Donitas passagens de sua Filosofia da Arte, Schelling di (© que chamamos natureza é um poema ecvlto em um maravl- thos0 texto secreto. Se pudéssemos decifrar este segredo reconhecerfamos a Odisséia do espirito que maravilhosamente iludido se afasia de si na medida em que busca a si mesmo. Pois 0 sentido aparece através do mundo sensivel, assim como somente pelas palaveas, como que através de névoas semitrans- PParentes, nos surge a terra da fantasia que aspiramos.* A telac3o constante que Schelling estabelece entre arte e natureza € radicalmente diferente da teoria tradicional da ‘mimesis. Em sua obra de 1807, intitulada Ober das Verhalinis der bildenden Kanste 2u der Natur, Schelling define © processo cestético presente na obra de arte como natura naturans. Essa naturalizagio criativa e criadora do processo estético, 20 con- trério de comprometer a autonomia da arte, reforga a idéia de autonomia, a0 mesmo tempo em que defende o cariter ‘conciliador entre necessidade ¢ liberdade. Pois, sendo um Processo quase orginico de,criagio, a arte no apenas encerra © lado inconsciente do espitito criativo presente na natureza, ‘mas também o lado consciente presente na razio do artista, Schelling, assim como outros romanticos, adota a idéia de génio, presente na Kritit der Urtelskraft de Kant, como solugt0 ara a dicotomia entre liberdade e necessidade, ou entre cons- Giente € inconsciente, ou ainda entre intelecto e intuigi0. 25 y une finest de intuzdoimtectualé deserts poe Kant como seule nlc, faculdade queso senses lade cognitiva riamente dita c humana, exabeleceria uns relagi mio earn renee cones doenteniment e os fendinens dedag ie mas diretamente com a coisa em Si, sem precisar dos conce ia Contudo, esta faculdade é, segundo Kent apenas fusca alcangada ov pratcade peo ser mane eno assim como 0s outros pensions ae ese Samara, exatamente por envlver uh orale in sciente ao mesm¢ ir Oe Ae Inconcente a0 mesmo wenpo, lena aeons tara, livre @ necessrio Esa € 4 verinaes Pts Sst una revolt que npc se a, elt Constante pao send infin ¢ aac meee ee eto sentido de aberur, ser erase ae NOTAS Io he OP. 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