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APRENDENDO COM OS DIFERENTES

Rozalina Cássia de Andrade R. Costa e Rosilene Durães Pereira1

No fazer pedagógico, dando assistência às alunas do Curso Normal Superior do ISE-


UNIMONTES, começamos nossa itinerância. Tínhamos consciência de que seria um trabalho de
troca, onde aprenderíamos ao mesmo tempo que contribuiríamos para a ampliação do conhecimento
didático-pedagógico das professoras alunas.
Uma das primeiras visitas foi realizada em uma escola para alunos portadores de deficiência
mental. Chegamos inseguras, sem saber que contribuição poderíamos dar para as professoras-
alunas, desconhecendo o conhecimento novo que essas visitas poderiam nos proporcionar.
Nossa experiência pedagógica com os “diferentes”, até então, consistia em defender a
inclusão destes na sociedade, mas, ao mesmo tempo resistíamos a recebê-los nas escolas onde
trabalhamos por entender que as escolas dos “iguais” não estão equipadas para atender as
necessidades deles.
Agora, passados alguns meses que iniciamos as visitas a essa escola, sentimo-nos aptas a
falar um pouco sobre o retardo mental, assim como a sugerir atividades pedagógicas para essas
deficiências.
Sabemos que, por definição, deficiência mental, “refere-se a um funcionamento intelectual
significativamente submédio que se manifesta durante o período de desenvolvimento e se
caracteriza pela inadequação no comportamento adaptativo” (Woolfolk, 2000).
São inúmeros os fatos causadores da deficiência mental, o que resulta em uma gama de
variedades deste problema.
Às vezes, a deficiência mental é produzida por fatores de natureza hereditária, outras por
causas adquiridas ou ambientais. Pode ser provocada por lesões, doenças, toxinas ou fatores
emocionais.
A terminologia “deficiência mental” modificou-se com o correr do tempo. Na mais antiga
terminologia, a classificação era: débil mental, imbecil, idiota. Mais recentemente, os vários graus
de subnormalidade passaram a ser indicados como deficiente mental leve, moderado, grave ou
profundo.
Também existe a terminologia retardo mental e tendo em vista o aspecto social e
possibilidades de aprendizagem, são classificados em educáveis, treináveis e dependentes.
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Supervisoras Pedagógicas da Rede Estadual de Ensino e professoras do Curso Normal Superior do ISE/UNIMONTES
A educabilidade é a mais importante característica do grupo denominado educável. Os
portadores do retardo mental leve ou moderado são capazes de aprender, de ter habilidade e
comportamento que lhes permitam educação individual e em grupo.
As crianças deste grupo conseguem obter uma formação acadêmica, embora não consigam
atingir grandes abstrações.
Tais crianças aproximam-se da normalidade em termos de capacidade física e sensorial
mais do que em áreas intelectuais. O treinamento de tais áreas deve começar cedo e constituir parte
importante do planejamento educativo.
Embora limitado, o vocabulário do deficiente mental educável é suficiente para as situações
normais da vida prática.
Os portadores de retardo mental grave ou treináveis possuem pouca habilidade de
alfabetização e podem memorizar ou aprender palavras e fatos aritméticos simples.
São muitas vezes capazes da prática de trabalhos mais simples como, por exemplo, tarefas
caseiras. São capazes de defender-se dos perigos, de adquirir hábitos de higiene pessoal de rotina
como vestir-se, lavar-se, escovar os dentes.
Podem chegar a um ajustamento social razoável, aprendendo a obedecer e cooperar com os
outros.
O retardo da maioria dos treináveis é identificado desde os primeiros anos de vida devido ao
significativo atraso no andar e falar.
A atividade pedagógica para o retardo mental treinável ou com atraso do desenvolvimento,
como preferem os críticos do termo – retardo mental -, deve dar maior ênfase à socialização, através
de atividades de grupo, especialmente os jogos e brinquedos em grupo e ao adestramento sensorial e
motor básicos, a fim de aperfeiçoar a discriminação sensorial, desenvolver as capacidades motoras,
desenvolver a linguagem oral, regras de convivência e desenvolver a capacidade de cuidar de si e de
desempenhar tarefas simples.
Quanto aos portadores de retardo mental profundo ou dependentes, estes necessitam de
auxilio alheio para as mais simples atividades da vida diária.
Com QI abaixo de 30, caracterizam-se pela ausência quase total da linguagem e pela
capacidade de adquirir hábitos higiênicos, precisando de assistência no vestir, no comer e no asseio.
São incapazes de chegar a um ajustamento social e têm seu retardo reconhecido desde os
primeiros anos de vida pela pronunciada falta de respostas aos estímulos do meio. A idade mental
do dependente, na fase adulta, pode chegar a atingir cerca de 3 anos, o que justifica a necessidade
de proteção e auxilio durante toda a sua vida.
As atividades pedagógicas para os dependentes devem visar, acima de tudo, o
desenvolvimento motor, da fala, audição e socialização do educando.
Descobrimos que o objetivo principal da educação dos deficientes mentais deve ser o de
prepara-los para a vida. Essas crianças devem formar hábitos, atitudes e valores indispensáveis ao
seu convívio social.
Mas, a maior contribuição que a itinerância em uma escola especial nos proporcionou foi de
ordem emocional, pois percebemos que se tínhamos a “pretensão” de ensiná-los, na verdade
aprendemos, com eles e com suas professoras, a ser “gente”, ou seja, nos tornamos pessoas
melhores, mais humanas, mais agradecidas, humildes e desprovidas de egoísmo.
Assim, como Adélia Prado(1981), descobrimos que

Muitos de nós, secretamente, aspiraríamos à excepcionalidade se esta se


configurasse em dons que nos trouxessem fama e privilégios. (...) Exigência
permanente de cuidados, atenção, imaginoso amor, o excepcional cobra de todos o
incansável exercício da generosidade, para o qual poucos de nós estamos ou
queremos estar preparados. O cuidado com ele por ser tarefa amorosa – antes de
qualquer coisa – pressupõe maturidade e desprendimento, esquecimento de si, não-
egoísmo, portanto amor, portanto, de novo e sempre.

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