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número

77

Março/2018

Sessões de 26 de fevereiro a 16 de março de 2018

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Março de 2018
Compilação dos Informativos nos 892 a 894

O Informativo por Temas apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo


Informativo STF concluídos no mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por
assuntos.

SUMÁRIO

Direito Administrativo
Controle de Constitucionalidade
Fiscal de Rendas do Estado do Rio de Janeiro
Intervenção no Domínio Econômico
Correção monetária e planos econômicos
Meio Ambiente
Código Florestal e constitucionalidade

Direito Civil
Pessoas Naturais
Transgêneros e direito a alteração no registro civil

Direito Constitucional
Liberdade de Expressão
Reclamação: ADPF 130/DF e censura
Medida Provisória
Medida Provisória e Decreto Legislativo
Medida Provisória e FGTS
Regime Próprio e Previdência Social
Vício de iniciativa e fonte de custeio

Direito Eleitoral
Eleições
Fundo Partidário e recursos destinados às candidaturas de mulheres
Vacância de cargos políticos e eleições
Vacância de cargos políticos e procedimento eleitoral

Direito Penal
Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral
Desacato praticado por civil contra militar e constitucionalidade
Incitação à Discriminação Religiosa
Incitação à discriminação religiosa e liberdade de expressão

Direito Processual Civil


Desistência de Recurso
Fixação de Preços de Medicamentos e Valores Diferenciados
Recurso

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Recurso extraordinário e acordão proferido em processo administrativo

Direito Processual Penal


Ação Penal
Prazo decadencial e direito de representação
Conflito de Competência
Terras indígenas em conflito de competência
Execução Penal
Execução provisória da pena e trânsito em julgado
Habeas Corpus
Decisão judicial transitada em julgado e “habeas corpus”
Independência funcional das instâncias do Ministério Público

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Controle de Constitucionalidade

Fiscal de Rendas do Estado do Rio de Janeiro


O Plenário concluiu julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada
contra o inciso VII do parágrafo único do art. 118 da Constituição do Estado do Rio de
Janeiro, que estabelece a adoção de lei complementar para disciplinar a lei orgânica da
carreira de fiscal de rendas, bem como a totalidade da LC estadual 107/2003, que,
alterando a LC estadual 69/1990, dispõe sobre as condições para a ocupação de funções
de chefia e assessoramento superior dos órgãos de direção de fiscalização e tributação e
dá outras providências (Informativos 328 e 350).
Preliminarmente, o Colegiado, por maioria, não conheceu da ação direta quanto ao
art. 30 da LC estadual 107/2003, por falta de fundamento.
No mérito, o Tribunal, também por maioria, julgou o pedido parcialmente
procedente, para: a) declarar a constitucionalidade dos arts. 1º, 6º a 14, 17 a 19, 23, 25,
26, 28 e 29 da LC estadual 107/2003; e do art. 105, VI, da LC estadual 69/1990, na
redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003; b) declarar a inconstitucionalidade
dos artigos 5º e parágrafo único, 6º, e 81, “caput”, da LC estadual 69/90-RJ, na redação
dada pelos artigos 2º, 3º e 5º da LC estadual 107/2003-RJ; c) declarar a
inconstitucionalidade do art. 105, V e IX, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo
art. 15 da LC estadual 107/2003; d) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 105,
VII e VIII, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003,
no sentido de tornar facultativa a participação dos representantes da OAB/RJ e do
CRC/RJ no Conselho Superior da Fiscalização Tributária; e e) declarar a
inconstitucionalidade da expressão “um entre os membros do Ministério Público e um
representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção RJ”, constante do art. 110 da
LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 19 da LC estadual 107/2003.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (relator), Rosa Weber e Celso de
Mello.
ADI 2877/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 8.3.2018. (ADI-2877)
Parte 1: Parte 1:
(Informativo 893, Plenário)

Intervenção no Domínio Econômico

Correção monetária e planos econômicos


O Plenário, em conclusão de julgamento no qual se discutiu o direito a diferenças de
correção monetária de depósitos em cadernetas de poupança, por alegados expurgos
inflacionários decorrentes dos efeitos dos planos econômicos denominados Bresser, Verão,
Collor I e Collor II, homologou acordo firmado entre poupadores e instituições financeiras —
exceto no que tange ao plano Collor I (Informativos 730 e 748).
Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos
poupadores, que serão inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão
analisar os requerimentos dos interessados, que terão direito de recorrer a nova análise. Os
pagamentos serão feitos nas contas correntes dos beneficiários, que receberão os respectivos
valores à vista ou parceladamente, a depender do montante.

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Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e individuais
para cobrar das instituições financeiras os valores referentes às correções. No caso das ações
individuais, poupadores ou herdeiros que ingressaram judicialmente dentro do prazo
prescricional de 20 anos da edição de cada plano também poderão receber os valores.
Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações civis públicas, requereram
execução de sentença coletiva até 31.12.2016.
O Colegiado, inicialmente, considerou viável o acordo no âmbito de processo objetivo.
Esclareceu haver, no bojo da ação, notável conflito intersubjetivo, que comporta solução por
meio de acordo apresentado para homologação. Assim, ao homologá-lo, o STF não chancela
nenhuma interpretação peculiar dada à lei. Pelo contrário, não obstante o ajuste veicule diversas
teses jurídicas, a homologação não as alcança, nem as legitima, e abrange apenas as disposições
patrimoniais firmadas no âmbito de disponibilidade das partes. Portanto, a homologação apenas
soluciona um incidente processual, para dar maior efetividade à prestação jurisdicional.
O Tribunal assinalou, ainda, que a ausência de disposição normativa expressa no que
concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo. Isso porque a existência de
previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que somente
podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados é dado fazer tudo que a lei
não proíbe.
Estabeleceu haver cinco pontos passíveis de exame pelo julgador quanto à viabilidade do
acordo: a) se realmente houve declaração de vontade de reconhecer o pedido, de renunciar ao
direito ou de ajustar mútuas concessões entre as partes; b) se a matéria comporta ato de
disposição; c) se os contratantes são titulares do direito do qual dispõem total ou parcialmente;
d) se são capazes de transigir; e e) se estão adequadamente representados.
Constatou que os requisitos previstos nos itens “a”, “b” e “d” estão preenchidos. Por sua
vez, no que se refere ao item “c”, ante previsão no acordo que, supostamente, prolongaria, por
mais dois anos, a suspensão processual à qual estão sujeitas as ações relativas aos planos
econômicos, deduziu não ser correta a interpretação. A aludida cláusula prevê, apenas, que
decorrido o prazo de dois anos, não será mais possível aderir ao acordo, hipótese em que ações
judiciais prosseguirão em seu normal andamento. Como não foram as partes que
convencionaram a suspensão dos processos, elas não teriam competência para fazer persistir
ou cessar a suspensão.
A respeito do item “e”, o Colegiado afirmou que o acordo foi firmado por entidades com
relevante histórico de defesa dos interesses de seus associados e com notório interesse e
participação em ações coletivas relativas ao tema dos planos econômicos. Ressalvou que
representatividade adequada não previne maus acordos, mas consiste em salvaguarda para
proteger os interesses de natureza coletiva. A esta salvaguarda, somam-se outras de igual
envergadura nos presentes autos: a) publicidade ampla a todos os atos processuais e ao acordo
coletivo; b) admissão de inúmeros “amicus curiae”; e c) a complementação da atuação das
partes pela fiscalização do Ministério Público, com legitimidade ampla e independência
funcional para tutelar direitos coletivos.
Apesar da existente controvérsia sobre a justiça do acordo, a incerteza sobre o resultado
final do litígio e a existência das mencionadas salvaguardas recomendam a homologação da
avença, com a possibilidade de os interessados aderirem a ela se desejarem.
Além disso, a disseminação das lides repetitivas no cenário jurídico e a possibilidade de
solução por meio de processos coletivos estimula o STF a estabelecer parâmetros importantes
para inúmeros casos análogos, conferindo maior previsibilidade a esses litígios.
No que tange aos honorários advocatícios, a despeito da racionalidade firmada no acordo,
segundo a qual a efetivação dos direitos coletivos é, em regra, individualizada, evoluções na

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legislação processual conduzem a interpretação no sentido de ser possível e recomendável a
execução coletiva mandamental.
As disposições do acordo que estabelecem percentuais fixos a serem pagos a título de
honorários, quando confrontadas com casos em que a verba foi fixada judicialmente em valor
superior, portanto, não violam direitos dos causídicos.
Isso porque, em primeiro lugar, para os autores individuais e para os exequentes das ações
coletivas transitadas em julgado, o caráter voluntário do acordo está integralmente preservado.
Além disso, se a parte e seu advogado decidirem, em conjunto, aderir ao acordo, o ato é
duplamente voluntário. Se, entretanto, apenas a parte aderir, cabe um acordo privado entre ela
e seu advogado, ou solução por meio das regras relativas ao contrato de mandato.
No que tange aos exequentes individuais de ações coletivas ainda não transitadas em
julgado, em que a adesão é obrigatória e o título executivo judicial não está plenamente
formado, exige-se atenção diferenciada, porque o Ministério Público tem atuado de forma
preponderante no processo coletivo. A excepcionalidade da tutela privada de interesses
públicos por meio de ações coletivas decorre da ausência de incentivos financeiros para a
atuação da sociedade civil.
Assim, é responsabilidade do Judiciário superar as deficiências do sistema processual
coletivo. O acordo em análise representa oportunidade de firmar incentivos reais para estimular
as associações a assumir papel mais ativo na atuação processual coletiva, já que elas dispõem
de vantagens institucionais para agir em nome do particular lesado.
O acordo deve ser, portanto, homologado como proposto, de maneira a pacificar a
controvérsia espelhada nos autos, sem que isso implique qualquer comprometimento do STF
com as teses jurídicas nele veiculadas, especialmente aquelas que pretendam, explícita ou
implicitamente, vincular terceiras pessoas ou futuras decisões do Judiciário.
ADPF 165/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 1º.3.2018. (ADPF-
165)
Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
(Informativo 892, Plenário)

Meio Ambiente

Código Florestal e constitucionalidade


O Plenário concluiu julgamento conjunto de ações diretas de inconstitucionalidade
e de ação declaratória de constitucionalidade em que se discute diversos dispositivos da
Lei 12.651/2012 (Código Florestal) (Informativo 884 e 891).
O Tribunal julgou parcialmente procedente a ADC 42, para: i) por maioria,
vencidos os Ministros Edson Fachin e Gilmar Mendes, e, em parte, o Ministro Alexandre
de Moraes, declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e
“instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b; ii) por maioria, dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se condicionar a intervenção excepcional em
APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou
locacional à atividade proposta, vencidos, em parte, os Ministros Gilmar Mendes e Celso
de Mello; iii) por maioria, reconhecer a constitucionalidade do art. 3º, XIX, vencidos, em
parte, os Ministros Cármen Lúcia (Presidente) e Ricardo Lewandowski, que declaravam
inconstitucional, por arrastamento, o art. 4º, I; iv) por maioria, vencidos os Ministros
Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, declarar a inconstitucionalidade das expressões

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“demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º, parágrafo único; v) por unanimidade,
reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, III; vi) por maioria, dar interpretação
conforme ao art. 4º, IV, para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos
olhos d’água intermitentes configuram área de preservação ambiental, vencidos os
Ministros Gilmar Mendes e, em parte, Marco Aurélio e Cármen Lúcia (Presidente); vii)
por maioria, vencidos os Ministros Cármen Lúcia (Presidente) e Ricardo Lewandowski,
reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, §1º; viii) por maioria, vencidos os Ministros
Cármen Lúcia (Presidente) e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do
art. 4º, § 4º; ix) por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, § 5º; x) por
unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, § 6º, e incisos; xi) por maioria,
vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, reconhecer a
constitucionalidade do art. 5º; xii) por maioria, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator),
Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, reconhecer a
constitucionalidade do art . 7º, § 3º; xiii) por unanimidade, reconhecer a
constitucionalidade do art. 8º, § 2º; xiv) por maioria, vencidos os Ministros Marco
Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski,
reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 4º; xv) por maioria, vencidos os Ministros
Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski,
reconhecer a constitucionalidade do art. 12. § 5º; xvi) por maioria, reconhecer a
constitucionalidade do art. 12, § 6º, vencidos os Ministros Cármen Lúcia (Presidente),
Edson Fachin e Rosa Weber; xvii) por maioria, reconhecer a constitucional do art. 12, §
7º, vencidos os Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin e Rosa Weber; xviii)
por maioria, reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 8º, vencidos os Ministros
Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin e Rosa Weber; xix) por maioria, vencido o
Ministro Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade do art. 13, § 1º; xx) por maioria,
vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber e, em parte, os Ministros Marco
Aurélio e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 15; xxi) por
maioria, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto
Barroso e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 17, § 3º; xxii)
por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 44; xxiii) por maioria, dar
interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas
entre áreas com identidade ecológica, vencidos o Ministro Edson Fachin e, em parte, os
Ministros Luiz Fux (relator), Cármen Lúcia (Presidente), Alexandre de Moraes, Roberto
Barroso e Gilmar Mendes; xxiv) por maioria, dar interpretação conforme a Constituição
ao art. 59, §4º, de modo a afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos
subscritos nos programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição,
seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles
decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei
12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de
suspensão da pretensão punitiva”, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco
Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro
Gilmar Mendes; xxv) por maioria, dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59,
§ 5º, de modo a afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos
nos programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos
ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes,
aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o
qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão
punitiva”, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin,
Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Gilmar Mendes; xxvi)
por maioria, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Roberto Barroso e
Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 60; xxvii) por maioria,

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vencidos os Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro
Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade do art. 61-A; xxviii) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, reconhecer
a constitucionalidade do art. 61-B; xxix) por maioria, vencidos os Ministros Marco
Aurélio, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art.
61- C; xxx) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia, Rosa
Weber e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 63; xxxi) por
maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, Rosa Weber e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 66, § 3º; xxxii) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, e, em parte, o Ministro Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 66, § 5º; xxxiii) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, e, em parte, o Ministro Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 66, § 6º; xxxiv) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin, Rosa
Weber e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 67; xxxv) por
maioria, vencido, em parte, o Ministro Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade
do art. 68; e xxxvi) por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 78-A.
A Corte julgou parcialmente procedente a ADI 4901, para: i) por maioria, vencidos
os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 4º; ii) por maioria, vencidos
os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 5º; iii) por maioria,
reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 6º, vencidos os Ministros Cármen Lúcia
(Presidente), Edson Fachin e Rosa Weber; iv) por maioria, reconhecer a
constitucionalidade do art. 12, § 7º, vencidos os Ministros Cármen Lúcia, Edson Fachin
e Rosa Weber; v) por maioria, reconhecer a constitucionalidade do art. 12, § 8º, vencidos
os Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin e Rosa Weber; vi) por maioria,
vencido o Ministro Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade do art. 13, § 1º; vii)
por maioria, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber e, em parte, os Ministros
Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 15; viii)
por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 28; ix) por maioria, dar
interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas
entre áreas com identidade ecológica, vencidos o Ministro Edson Fachin e, em parte, os
Ministros Luiz Fux (relator), Cármen Lúcia (Presidente), Alexandre de Moraes, Roberto
Barroso e Gilmar Mendes; x) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson
Fachin, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art.
66, § 3º; xi) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, e, em parte,
o Ministro Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 66, § 5º; xii)
por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, e, em parte, o Ministro
Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 66, § 6º; xiii) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin, Rosa
Weber e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 67; e xiv) por
maioria, vencido, em parte, o Ministro Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade
do art. 68.
O Tribunal julgou parcialmente procedente a ADI 4902, para: i) por maioria,
vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso
e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art . 7º, § 3º; ii) por maioria,
vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso
e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 17, § 3º; iii) por
maioria, deu interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §4º, de modo a afastar, no

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decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais
praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se
extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a
prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”,
vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso
e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Gilmar Mendes; iv) por maioria, deu
interpretação conforme a Constituição ao art. 59, § 5º, de modo a afastar, no decurso da
execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização
ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados
antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o
disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará
interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”, vencidos os
Ministros Luiz Fux (Relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso e Ricardo
Lewandowski, e, em parte, o Ministro Gilmar Mendes; v) por maioria, vencidos os
Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski,
reconhecer a constitucionalidade do art. 60; vi) por maioria, vencidos os Ministros Marco
Aurélio e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Edson Fachin, reconhecer a
constitucionalidade do art. 61-A; vii) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio,
Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 61-B;
viii) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 61- C; ix) por maioria, vencidos
os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia (Presidente), Rosa Weber e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 63; x) por maioria, vencidos os
Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia (Presidente), Edson Fachin, Rosa Weber e
Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 67; e xi) por
unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 78-A.
A Corte julgou parcialmente procedente a ADI 4903, para: i) por maioria, vencidos
os Ministros Edson Fachin e Gilmar Mendes, e, em parte, o Ministro Alexandre de
Moraes, declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e
“instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b; ii) por maioria, dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se condicionar a intervenção excepcional em
APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou
locacional à atividade proposta, vencidos, em parte, os Ministros Gilmar Mendes e Celso
de Mello; iii) por maioria, vencidos os Ministros Gilmar Mendes, e, em parte, a Ministra
Cármen Lúcia (Presidente), dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII,
para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água
intermitentes configuram área de preservação permanente; iv) por maioria, reconhecer a
constitucionalidade do art. 3º, XIX, vencidos, em parte, os Ministros Cármen Lúcia
(Presidente) e Ricardo Lewandowski, que declaravam inconstitucional, por arrastamento,
o art. 4º, I; v) por maioria, vencidos os Ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes,
declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no
art. 3º, parágrafo único; vi) por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do art. 4º,
III; vii) por maioria, dar interpretação conforme ao art. 4º, IV, para fixar a interpretação
de que os entornos das nascentes e dos olhos d’água intermitentes configuram área de
preservação ambiental, vencidos o Ministro Gilmar Mendes e, em parte, os Ministros
Marco Aurélio e Cármen Lúcia (Presidente); viii) por maioria, vencidos os Ministros
Cármen Lúcia (Presidente) e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do
art. 4º, §1º; ix) por maioria, vencidos os Ministros Cármen Lúcia (Presidente) e Ricardo

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Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, § 4º; x) por unanimidade,
reconhecer a constitucionalidade do art. 4º, § 5º; xi) por unanimidade, reconhecer a
constitucionalidade do art. 4º, § 6º, e incisos; xii) por maioria, vencidos, em parte, os
Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, o Tribunal reconheceu a
constitucionalidade do art. 5º; xiii) por unanimidade, reconhecer a constitucionalidade do
art. 8º, § 2º; xiv) por maioria, vencidos, em parte, os Ministros Cármen Lúcia (Presidente)
e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 11; xv) por maioria,
vencidos os Ministros Relator, Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 17, § 3º; xvi) por unanimidade,
julgou constitucional o art. 62.
Por fim, o Tribunal julgou parcialmente procedente a ADI 4937, para: i) por
maioria, vencidos os Ministros Edson Fachin e Gilmar Mendes, e, em parte, o Ministro
Alexandre de Moraes, declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de
resíduos” e “instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais,
nacionais ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b; ii) por maioria, vencidos os
Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art . 7º, § 3º; iii) por maioria, vencido
o Ministro Edson Fachin, reconhecer a constitucionalidade do art. 13, § 1º; iv) por
unanimidade, reconhecer constitucional o art. 44; v) por maioria, dar interpretação
conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas entre áreas
com identidade ecológica, vencidos o Ministro Edson Fachin e, em parte, os Ministros
Luiz Fux (relator), Cármen Lúcia (Presidente), Alexandre de Moraes, Roberto Barroso e
Gilmar Mendes; vi) por maioria, dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59,
§4º, de modo a afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos
nos programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos
ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes,
aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o
qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão
punitiva”, vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin,
Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Gilmar Mendes; vii)
por maioria, dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, § 5º, de modo a afastar,
no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais
praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se
extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a
prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”,
vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Roberto Barroso
e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Gilmar Mendes; viii) por maioria,
vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Marco Aurélio, Roberto Barroso e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 60; ix) por maioria, vencidos os
Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, e, em parte, o Ministro Edson Fachin,
reconhecer a constitucionalidade do art. 61-A; x) por maioria, vencidos os Ministros
Marco Aurélio, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade
do art. 61-B; xi) por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e
Ricardo Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 61- C; e xii) por maioria,
vencidos os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia (Presidente), Rosa Weber e Ricardo
Lewandowski, reconhecer a constitucionalidade do art. 63.
O Colegiado destacou que o art. 225 da Constituição Federal estabelece que “todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever

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de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Sob essa perspectiva, o
meio ambiente assume função dúplice no microssistema jurídico, na medida em que se
consubstancia simultaneamente em direito e em dever dos cidadãos, os quais se
posicionam, paralelamente, também de forma simultânea, como credores e como
devedores da obrigação de proteção respectiva.
Outrossim, o homem é parte indissociável do meio ambiente. Por intermédio das
interações genéticas biologicamente evolutivas que se sucederam nos últimos milhares
de anos, o meio ambiente produziu a espécie humana, cuja vida depende dos recursos
nele contidos. Nesse ponto, nem os mais significativos avanços tecnológicos permitirão
ao homem, em algum momento futuro, dissociar-se do meio ambiente, na medida em que
a atividade humana inventiva e transformadora depende da matéria nele contida, sob todas
as suas formas.
A capacidade de os indivíduos desestabilizarem o equilíbrio do conjunto de
recursos naturais que lhes fornece a própria existência tem gerado legítimas
preocupações, as quais se intensificaram no último século. Afinal, recursos naturais são
escassos; determinados danos são irreversíveis ou extremamente agressivos à natureza;
alterações climáticas tornaram-se problema real; e a poluição se alastra pelos grandes
centros, entre outras evidências empíricas da crise ambiental. Portanto, o foco no
crescimento econômico sem a devida preocupação ecológica consiste em ameaça
presente e futura para o progresso das nações e até mesmo para a sobrevivência da espécie
humana. O homem apenas progride como ser biológico e como coletividade quando se
percebe como produto — e não proprietário — do meio ambiente.
Por outro lado, as políticas públicas ambientais devem conciliar-se com outros
valores democraticamente eleitos pelos legisladores, como o mercado de trabalho, o
desenvolvimento social, o atendimento às necessidades básicas de consumo dos cidadãos
etc. Dessa forma, não é adequado desqualificar determinada regra legal como contrária
ao comando constitucional de defesa do meio ambiente (CF, art. 225), ou mesmo sob o
genérico e subjetivo rótulo de “retrocesso ambiental”, ignorando as diversas nuances que
permeiam o processo decisório do legislador, democraticamente investido da função de
apaziguar interesses conflitantes por meio de regras gerais e objetivas. Não se deve
desprezar que a mesma Constituição que protege o meio ambiente também exorta o
Estado brasileiro a garantir a livre iniciativa (CF, artigos 1º, IV, e 170) e o
desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II), a erradicar a pobreza e a marginalização, e a
reduzir as desigualdades sociais e regionais (CF, artigos 3º, III, e 170, VII), a proteger a
propriedade (CF, artigos 5º, “caput” e XXII, e 170, II), a buscar o pleno emprego (CF,
artigos 170, VIII, e 6º) e a defender o consumidor (CF, artigos 5º, XXXII, e 170, V).
O desenho institucional das políticas públicas ambientais suscita, assim, o duelo
valorativo entre a proteção ambiental e a tutela do desenvolvimento, tendo como centro
de gravidade o bem comum e a pessoa humana, num cenário de escassez. Portanto, o
desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente não são políticas
intrinsicamente antagônicas.
Nessa medida, a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras não
pode significar a ausência completa de impacto do homem na natureza, consideradas as
carências materiais da geração atual e também a necessidade de gerar desenvolvimento
econômico suficiente para assegurar uma travessia confortável para os nossos
descendentes. Meio ambiente e desenvolvimento econômico encerram conflito normativo
aparente, a envolver diversas nuances, em especial a justiça intergeracional, demandando
escolhas trágicas a serem realizadas pelas instâncias democráticas, e não pela convicção
de juízes, por mais bem-intencionados que sejam.

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Ademais, o princípio da vedação ao retrocesso não se sobrepõe ao princípio
democrático, no afã de transferir ao Judiciário funções inerentes aos Poderes Legislativo
e Executivo, e nem justifica afastar arranjos legais mais eficientes para o desenvolvimento
sustentável do país como um todo, na linha do que decidido no RE 586.224/SP.
ADC 42/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 28.2.2018. (ADC-42)
ADI 4901/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 28.2.2018. (ADI-4901)
ADI 4902/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 28.2.2018. (ADI-4902)
ADI 4903/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 28.2.2018. (ADI-4903)
ADI 4937/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 28.2.2018. (ADI-4937)
Parte 1: Parte 1:
(Informativo 892, Plenário)

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DIREITO CIVIL
Pessoas Naturais

Transgêneros e direito a alteração no registro civil


O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou a expressão de
gênero. A identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa
humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-
la. A pessoa não deve provar o que é, e o Estado não deve condicionar a expressão da
identidade a qualquer tipo de modelo, ainda que meramente procedimental.
Com base nessas assertivas, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido
formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar interpretação conforme a
Constituição e o Pacto de São José da Costa Rica ao art. 58 da Lei 6.015/1973 (1).
Reconheceu aos transgêneros, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou
da realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, o direito à alteração de
prenome e gênero diretamente no registro civil.
O Colegiado assentou seu entendimento nos princípios da dignidade da pessoa
humana, da inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, bem
como no Pacto de São José da costa Rica.
Considerou desnecessário qualquer requisito atinente à maioridade, ou outros que
limitem a adequada e integral proteção da identidade de gênero autopercebida. Além
disso, independentemente da natureza dos procedimentos para a mudança de nome,
asseverou que a exigência da via jurisdicional constitui limitante incompatível com essa
proteção. Ressaltou que os pedidos podem estar baseados unicamente no consentimento
livre e informado pelo solicitante, sem a obrigatoriedade de comprovar requisitos tais
como certificações médicas ou psicológicas, ou outros que possam resultar irrazoáveis ou
patologizantes. Pontuou que os pedidos devem ser confidenciais, e os documentos não
podem fazer remissão a eventuais alterações. Os procedimentos devem ser céleres e, na
medida do possível, gratuitos. Por fim, concluiu pela inexigibilidade da realização de
qualquer tipo de operação ou intervenção cirúrgica ou hormonal.
Vencidos, em parte os ministros Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes,
Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. O relator assentou a possibilidade de mudança
de prenome e gênero no registro civil, mediante averbação no registro original,
condicionando-se a modificação, no caso de cidadão não submetido à cirurgia de
transgenitalização, aos seguintes requisitos: a) idade mínima de 21 anos; e b) diagnóstico
médico de transexualismo, presentes os critérios do art. 3º da Resolução 1.955/2010 (2),
do Conselho Federal de Medicina, por equipe multidisciplinar constituída por médico
psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social, após, no mínimo,
dois anos de acompanhamento conjunto. Considerou inconstitucional interpretação que
encerre a necessidade de cirurgia para ter-se a alteração do registro quer em relação ao
nome, quer no tocante ao sexo.
Os ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes
condicionaram a alteração no registro civil a ordem judicial e a averbação no registro civil
de nascimento, resguardado sigilo no tocante à modificação.

(1) Lei 6.015/1973: “Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos
públicos notórios. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou
ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido
o Ministério Público”.

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(2) Resolução 1.955/2010 do CFM: “Art. 3 Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos
critérios abaixo enumerados: 1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais,
perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência desses
distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4)Ausência de outros transtornos mentais.(Onde
se lê ‘Ausência de outros transtornos mentais”, leia-se “Ausência de transtornos mentais’)”.
ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgamento em 28.2 e 1º.3.2018. (ADI-4275)
Parte 1: Parte 1:
(Informativo 892, Plenário)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Liberdade De Expressão

Reclamação: ADPF 130/DF e censura


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento, julgou procedente reclamação
ajuizada por conglomerado da área de comunicação em face de julgado proferido por
tribunal de justiça que havia determinado a retirada de matéria jornalística de uma de suas
revistas eletrônicas de publicação semanal. Tornou, assim, definitiva a medida liminar
que autorizara a permanência da matéria jornalística no sítio eletrônico do reclamante
(Informativo 822).
O reclamante apontou violação à autoridade da decisão proferida na ADPF 130/DF
(DJe 6.11.2009), que declarara a não recepção da chamada “Lei de Imprensa” (Lei
5.250/1967) pela Constituição de 1988. Afirmou que a decisão reclamada consistiria “na
ratificação de odiosa censura e na tentativa de restringir o direito de liberdade de
imprensa, bem como a garantia da sociedade de ter acesso a informações e a manifestar
o seu pensamento”.
De início, o Colegiado considerou cabível a reclamação. Dessa forma, afastou o
argumento de que o pedido de retirada da matéria da página eletrônica da reclamante
estaria fundado no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de Imprensa.
No mérito, asseverou que se tratava de matéria que havia descrito certa
personalidade e feito comentários críticos, porém não ofensivos. Afirmou que a retirada
de matéria de um sítio configura censura em qualquer hipótese. Ressaltou que, apenas em
situações extremas, admite-se a censura ou a retirada de matéria de circulação. Aduziu
que a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser
resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil. Concluiu pela
existência de interesse público presumido na livre circulação de ideias e opiniões.
Ademais, a pessoa retratada se apresentou como pessoa pública a atuar em espaço
público, sujeita, portanto, a um grau de crítica maior.
Rcl 22328/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 6.3.2018. (Rcl – 22328)
(Informativo 893, Primeira Turma)

Medida Provisória

Medida Provisória e Decreto Legislativo


O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental – ADPF para afastar a aplicação do § 11 (1) do
art. 62 da Constituição Federal aos pedidos de licença para exploração de Centros
Logísticos e Industriais Aduaneiros – CLIA não examinados pela Receita Federal durante
a vigência da Medida Provisória 320/2006.
A Medida Provisória em questão foi editada em 25.8.2006, tendo por finalidade
principal a reestruturação do regime jurídico das atividades de movimentação e de
armazenagem de mercadorias importadas ou despachadas para exportação. Com a edição
desse ato normativo, ocorreu a superação do modelo dos Portos Secos — que dependiam
de permissão e concessão de serviço público para operar, a demandar licitação — pelo
regime dos Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros – CLIA, a operar mediante
autorização, eliminada a necessidade de procedimento licitatório.

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Durante o período de vigência da Medida Provisória, diversas empresas
protocolaram, perante a Secretaria da Receita Federal, requerimento de licenciamento
para exploração de CLIA. Acontece que, em 13.12.2006, o Senado Federal, pelo Ato
Declaratório 1/2006, reputou inexistentes os pressupostos constitucionais de relevância e
urgência da Medida Provisória 320/2006 e determinou o seu arquivamento. O Congresso
Nacional, contudo, não editou decreto legislativo para disciplinar as relações jurídicas
dela decorrentes, nos termos do art. 62, § 3º (2), da Constituição Federal.
Preliminarmente, o Plenário, por maioria, conheceu da arguição, na medida em que
a arguente demonstrou a importância da matéria discutida e a possibilidade de se estar em
face de descumprimento de preceito fundamental. Comprovou, também, que existem
preceitos constitucionais fundamentais objeto de discussão judicial em diversas ações.
Outrossim, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite a utilização da ADPF
para questionar a interpretação judicial de norma constitucional.
Vencidos, no ponto, os Ministros Roberto Barroso, Dias Toffoli, Ricardo
Lewandowski e Marco Aurélio, que não conheciam da arguição.
No mérito, o Tribunal registrou que o § 11 do art. 62 da CF deve ser interpretado
com cautela, não se podendo protrair indefinidamente a vigência de medidas provisórias
rejeitadas ou não apreciadas. Referida norma visa garantir segurança jurídica àqueles que
praticaram atos embasados em medida provisória rejeitada ou não apreciada, mas isso
não pode ensejar a sobreposição da vontade do Chefe do Poder Executivo à vontade do
Poder Legislativo, o que ocorrerá, por exemplo, em situações nas quais a preservação dos
efeitos de determinada medida provisória rejeitada implicar na manutenção de sua
vigência. Interpretação diversa ofende a cláusula pétrea constante do art. 2º da
Constituição, que preconiza a separação entre os Poderes.
Na espécie, verifica-se que o § 11 do art. 62 da Constituição tem servido de
fundamento para o deferimento de medidas judiciais a determinar à Administração
Pública o exame de pedidos de licença para exploração de CLIA não analisados durante
a vigência da Medida Provisória 320/2006. Nesses casos, não havia ato da Administração
deferindo o pedido de licença para exploração de CLIA, sequer podendo se argumentar
com a existência de ato jurídico perfeito. Dessa forma, não há falar na existência de
relação jurídica constituída que torne possível a invocação do referido dispositivo
constitucional para justificar a aplicação da medida provisória.
Interpretação contrária postergaria indevidamente a eficácia de medida provisória
já rejeitada pelo Congresso Nacional, e ofenderia não apenas o § 11 do art. 62 da
Constituição, mas também o princípio da separação dos Poderes e o princípio da
segurança jurídica.
Vencidos os Ministros Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Ricardo
Lewandowski, que julgaram improcedente o pedido.

(1) CF: “Art. 62. (...) § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a
rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.”
(2) CF: “Art. 62. (...) § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde
a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual
período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.”

ADPF 216/DF, rel. Min. Cámen Lúcia, julgamento em 14.3.2016. (ADPF-216)


Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
(Informativo 894, Plenário)

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Medida Provisória e FGTS
O Plenário, por maioria e em julgamento conjunto, julgou improcedentes os pedidos
formulados em ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra o art. 5º da Medida
Provisória 1.951-33/2000, atual MP 2.197-43, com relação à parte que introduziu o § 18
no art. 20 e os artigos 29-A e 29-B na Lei 8.036/1990, a qual dispõe sobre o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
A Lei 8.036/1990, a partir dos dispositivos introduzidos pela medida provisória,
passou a dispor que: a) é indispensável o comparecimento pessoal do titular da conta
vinculada do FGTS para a realização de levantamento de valores, em determinadas
hipóteses, salvo em caso de grave moléstia comprovada por perícia médica, quando será
paga a procurador especialmente constituído para esse fim [§ 18 do art. 20 (1)]; b)
quaisquer créditos relativos à correção dos saldos das contas vinculadas do FGTS serão
liquidados mediante lançamento pelo agente operador na respectiva conta do trabalhador
[art. 29-A (2)]; e c) não será cabível medida liminar em mandado de segurança, no
procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva,
nem a tutela antecipada que impliquem saque ou movimentação da conta vinculada do
trabalhador no FGTS [art. 29-B (3)].
De início, quanto à alegada ofensa aos requisitos de relevância e urgência para
edição de medidas provisórias (CF, art. 62), o Tribunal reafirmou jurisprudência
consolidada da Corte no sentido de não caber ao Poder Judiciário verificá-los, pois
configuram conceitos jurídicos indeterminados que estão situados dentro da
discricionariedade política do Poder Executivo para edição de tais atos normativos e do
Congresso Nacional para conversão ou não em lei.
Apenas em caráter excepcional é possível o controle jurisdicional destes requisitos,
quando existir abuso de poder ou a ausência destes pressupostos for evidente. No entanto,
essas hipóteses não estão presentes no caso, uma vez que a matéria tratada possui evidente
relevância e havia considerável urgência na edição da Medida, por meio da qual se buscou
reduzir os inúmeros casos de fraude envolvendo saques de valores depositados nas contas
de FGTS dos trabalhadores brasileiros.
No que se refere ao § 18 do art. 20 da Lei 8.036/1990, o Tribunal reputou legítima
a exigência de comparecimento pessoal do titular da conta de FGTS para levantamento
de valores. Trata-se, tão somente, de condição procedimental para pagamento, a qual não
eliminou nenhuma das hipóteses de saque anteriormente previstas, nem vedou a
possibilidade de os sindicatos ou os advogados atuarem na defesa e representação dos
seus filiados ou clientes.
A exigência em questão é uma obrigação personalíssima que resguarda o direito do
titular da conta vinculada, além de evitar fraudes e a malversação dos valores depositados,
por parte de terceiros. Preservados, assim, o direito de representação e o direito adquirido
dos trabalhadores.
Em relação à impugnação do art. 29-A, o Colegiado considerou válida a
explicitação de que os valores suscetíveis de correção do FGTS devem ser lançados na
conta vinculada do trabalhador. Essa norma garante a devida correção monetária do FGTS
por meio de lançamento na própria conta vinculada, como ocorre nos depósitos do valor
principal. Essa medida evita que ocorram saques de parcelas acessórias fora das hipóteses
que a lei autoriza.

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Por fim, quanto ao art. 29-B, afastou a apontada inconstitucionalidade formal da
medida provisória na parte em que dispôs sobre o não cabimento de medida liminar,
cautelar ou tutela antecipada que impliquem saque ou movimentação da conta vinculada
do trabalhador no FGTS. Isso porque a vedação de medidas provisórias sobre matéria
processual somente se aplica àquelas editadas posteriormente à Emenda Constitucional
32/2001. Portanto, ao tempo da edição, as disposições normativas impugnadas
obedeceram aos parâmetros constitucionais vigentes.
Vencidos, em parte, os Ministros Ricardo Lewandowski (relator) e Alexandre de
Moraes, que declaravam a inconstitucionalidade formal do art. 29-B, e o Ministro Marco
Aurélio, que declarava a inconstitucionalidade material do § 18 do art. 20 e do art. 29-B.

(1) Lei 8.036/1990: “Art. 20. A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nas seguintes
situações: (...) § 18. É indispensável o comparecimento pessoal do titular da conta vinculada para o pagamento da
retirada nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III, VIII, IX e X deste artigo, salvo em caso de grave moléstia
comprovada por perícia médica, quando será paga a procurador especialmente constituído para esse fim”.
(2) Lei 8.036/1990: “Art. 29-A. Quaisquer créditos relativos à correção dos saldos das contas vinculadas do
FGTS serão liquidados mediante lançamento pelo agente operador na respectiva conta do trabalhador”.
(3) Lei 8.036/1990: “Art. 29-B. Não será cabível medida liminar em mandado de segurança, no procedimento
cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, nem a tutela antecipada prevista nos arts. 273
e 461 do Código de Processo Civil que impliquem saque ou movimentação da conta vinculada do trabalhador no
FGTS”.
ADI 2382, rel. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 14.3.2018. (ADI-2382)
ADI 2425, rel. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 14.3.2018. (ADI-2425)
ADI 2479, rel. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 14.3.2018. (ADI-2479)
Parte 1: Parte 1:
(Informativo 894, Plenário)

Regime Próprio de Previdência Social

Vício de iniciativa e fonte de custeio


O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, julgou procedente ação
direta para declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 110 da Lei
915/2005 do Estado do Amapá (1).
O referido dispositivo — acrescido ao art. 110 do texto original por meio de emenda
parlamentar — estabelece que a Amapá Previdência assumirá o pagamento dos benefícios
de aposentadoria e pensão que tenham sido concedidas pelos Poderes do Estado, pelo
Ministério Público ou pelo Tribunal de Contas durante o período de vigência do Decreto
87/1991 (Informativos 773 e 817).
De início, o Tribunal reputou inexistente o alegado vício de inconstitucionalidade
formal. Não há ofensa à reserva de iniciativa legislativa privativa do chefe do Poder
Executivo para tratar de matéria sobre organização e funcionamento da administração
pública. A Lei estadual 915/2005 é oriunda de proposição legislativa formulada pelo
próprio Governador do Estado do Amapá.
A inserção do parágrafo único do art. 110, ora impugnado, resultou de emenda
parlamentar. Contudo, a Constituição Federal veda ao Poder Legislativo propor emendas
a projetos de iniciativa exclusiva do Poder Executivo apenas quando delas resultar
aumento de despesa pública ou se forem totalmente impertinentes à matéria legal. No
caso, não houve aumento de despesas, pois o pagamento dos benefícios de aposentadoria

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e pensão já vinha sendo suportado pelo Tesouro estadual. Tampouco se verificou
impertinência temática da emenda parlamentar em relação ao projeto de lei apresentado
pelo governador.
No mérito, o Plenário assentou que a transferência de responsabilidade prevista na
legislação impugnada acarreta grave ofensa à regra de equilíbrio financeiro e atuarial do
sistema próprio de previdência (2), a qual se destina à preservação da suficiência, presente
e futura, do fundo de previdência, tendo em vista o sopesamento entre as receitas e as
despesas com benefícios, o qual restaria prejudicado com a assunção de obrigação
desprovida de qualquer contraprestação pecuniária.
Ademais, a inclusão do dispositivo via emenda parlamentar e sem qualquer
indicação de fonte de custeio total (3) destoa por completo do regime contributivo e
contábil previsto no projeto legislativo original apresentado pelo Governador do Estado.
Desse modo, não cabe à Amapá Previdência arcar com o pagamento desses
benefícios, os quais devem permanecer sob a responsabilidade exclusiva e integral do
Tesouro estadual.
Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia
(Presidente), que julgavam improcedente a ação.
Por fim, o Tribunal modulou os efeitos da decisão para que somente produza efeitos
a partir de seis meses contados da data da publicação da ata de julgamento (Lei
9.868/1999, art. 27).
(1) Lei 915/2005: “Art. 110. O Estado responderá subsidiariamente pelo pagamento das aposentadorias e
pensões concedidas na forma desta Lei, na hipótese de extinção, insolvência ou eventuais insuficiências financeiras do
Regime Próprio de Previdência Social do Estado. Parágrafo único. No prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da
publicação desta Lei, a Amapá Previdência, desde que provocada pelo Órgão interessado, assumirá o pagamento dos
benefícios de aposentadoria e pensão que tenham sido concedidos por qualquer dos Poderes do Estado, pelo Ministério
Público ou pelo Tribunal de Contas durante o período de vigência do Decreto (N) nº 0087, de 06 de junho de 1991, e
que, nesta data, estejam sendo suportados exclusiva e integralmente pelo Tesouro Estadual”.
(2) Constituição Federal: “Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo”.
(3) Constituição Federal: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta
e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...)§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social
poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. (...) “Art. 40. Aos servidores
titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo
ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (...) § 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos
servidores públicos titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o regime
geral de previdência social”.
ADI 3628/AP, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 8.3.2018. (ADI-3628)
Parte 1: Parte 1:
(Informativo 893, Plenário)

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Direito Eleitoral
Eleições

Fundo Partidário e recursos destinados às candidaturas de mulheres


O Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta em que se discutiu a
distribuição de recursos do Fundo Partidário destinados ao financiamento das campanhas
eleitorais voltadas a candidaturas de mulheres para: a) declarar a inconstitucionalidade da
expressão “três”, contida no art. 9º da Lei 13.165/2015 (1), eliminando o limite temporal
até agora fixado; b) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 9º da Lei
13.165/2015 de modo a equiparar o patamar legal mínimo de candidaturas femininas
(hoje o do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997, isto é, ao menos 30% de cidadãs), ao mínimo
de recursos do Fundo Partidário a lhes serem destinados, que deve ser interpretado como
também de 30% do montante do Fundo alocado a cada partido, para as eleições
majoritárias e proporcionais, e fixar que, havendo percentual mais elevado de
candidaturas femininas, o mínimo de recursos globais do partido destinados a campanhas
lhe seja alocado na mesma proporção; e c) declarar a inconstitucionalidade, por
arrastamento, do § 5º-A e do § 7º do art. 44 da Lei 9.096/1995 (2).
O Colegiado afirmou que, se o princípio da igualdade material admite as ações
afirmativas, utilizar para qualquer outro fim a diferença estabelecida com o objetivo de
superar a discriminação, ofende o mesmo princípio da igualdade, que veda tratamento
discriminatório fundado em circunstâncias que estão fora do controle dos indivíduos,
como a raça, o sexo, a cor da pele ou qualquer outra diferenciação arbitrariamente
considerada.
Quando da edição da Lei 9.504/1997, os partidos passaram a ser obrigados a
preencher, do número de vagas de candidaturas, o mínimo de 30% e o máximo de 70%
para candidaturas de cada sexo. Essa desequiparação é compatível com a Constituição.
Seja por força do art. 5º, § 2º, da CF, seja pela adoção do princípio “pro homine”, o
conteúdo do direito à igualdade é muito semelhante ao direito previsto no art. 2º do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos. Nesse sentido, determinadas diferenciações,
se usadas para corrigir a discriminação, são legítimas. Em outras palavras, é próprio do
direito à igualdade a possibilidade de uma desequiparação, desde que pontual e tenha por
objetivo superar uma desigualdade histórica.
Sintetizou que discriminação contra a mulher significa toda distinção, exclusão ou
restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil,
com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
outro campo.
Especificamente no campo da política, embora as mulheres correspondam a mais
da metade da população e do eleitorado brasileiro, elas ocupam menos de 15% das
cadeiras do Legislativo federal, sendo que, na Câmara dos Deputados, apenas 9,9% dos
parlamentares são mulheres. Além disso, apenas 11% das prefeituras do país são
comandadas por mulheres. Não se vislumbra possibilidade de reversão dessa tendência.
Os obstáculos para a efetiva participação política das mulheres são ainda mais
graves, caso se tenha em conta que é por meio da participação política que as próprias
medidas de desequiparação são definidas. Qualquer razão que seja utilizada para impedir
que as mulheres participem da elaboração de leis inviabiliza o principal instrumento pelo
qual se reduzem as desigualdades. Em razão dessas barreiras à plena inclusão política das

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mulheres, são, portanto, constitucionalmente legítimas as cotas fixadas em lei a fim de
promover a participação política das mulheres.
O caso em exame não impugna as cotas para as campanhas, mas a distribuição dos
recursos partidários posteriormente fixada por meio da Lei 13.165/2015. Questiona-se a
fixação de patamares mínimos e máximos para o acesso a recursos públicos do fundo
partidário. Quanto a esse ponto, a inconstitucionalidade é manifesta.
O estabelecimento de um piso de 5% significa, na prática, que, na distribuição dos
recursos públicos que a agremiação partidária deve destinar às candidaturas, os homens
poderão receber no máximo 95%. De outro lado, caso se opte por fixar a distribuição
máxima às candidaturas de mulheres, poderão ser destinados do total de recursos do fundo
15%, hipótese em que os recursos destinados às candidaturas masculinas serão de 85%.
Não existem justificativas para essa diferenciação. A autonomia partidária não
consagra regra que exima o partido do respeito incondicional aos direitos fundamentais.
Enquanto pessoas jurídicas de direito privado, aplicam-se às agremiações não só a
garantia da plena autonomia, mas também a liberdade de associação, desvinculada da
interferência estatal. O respeito à igualdade não é, contudo, obrigação cuja previsão
somente se aplica à esfera pública. Incide a ideia de eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, sendo importante reconhecer que é nessa segmentação entre o público e o
privado que reside a principal forma de discriminação das mulheres.
Tampouco se poderia afirmar que os recursos destinados às campanhas de mulheres
revelam consenso possível. A não discriminação deve ser compreendida como assentando
que qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência por qualquer razão como raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião, origem, propriedade ou qualquer outro elemento, que
tem por propósito ou efeito nulificar ou impedir o reconhecimento, o gozo e o exercício
por todas as pessoas, de modo igual, de todos os direitos e liberdades. Nessa perspectiva,
a inexistência de consenso revela não um limite à atuação do legislador, mas uma omissão
inconstitucional, na medida em que priva as candidaturas de mulheres dos recursos
públicos que irão custear suas aspirações políticas de ocupar posição democraticamente
representativa, apenas pelo fato de serem mulheres.
Além disso, não cabe sustentar que o percentual de candidaturas para as mulheres
limita-se a reconhecer uma igualdade de oportunidades, no sentido de garantir iguais
condições a partir de uma posição inicial, nomeadamente as candidaturas. Trata-se de
reconhecer que a concepção de igualdade garantida às mulheres não autoriza o tratamento
discriminatório por circunstâncias que estão fora de seu controle. Sob essa perspectiva, o
caráter público dos recursos a elas destinados é elemento que reforça a obrigação de que
sua distribuição não seja discriminatória. A fundamentalidade das normas constitucionais
referentes à atividade financeira do Estado na unidade entre obtenção de recursos,
orçamento e realização de despesas engloba o regime jurídico das finanças públicas em
máxima conformidade com os fins constitucionais.
Conforme dispõe o art. 38 da Lei 9.096/1995, os recursos do Fundo Partidário são
constituídos por multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código
Eleitoral e leis conexas; recursos financeiros que lhe forem destinados por lei; doações de
pessoas físicas ou jurídicas; e dotações orçamentárias da União. Esses recursos são
destinados, nos termos do art. 44 do mesmo diploma, à manutenção das sedes e serviços
do partido, à propaganda doutrinária e política, ao alistamento e às campanhas eleitorais,
às fundações de pesquisa e de doutrinação política e, mais recentemente, aos programas
de promoção e difusão da participação política das mulheres. A consignação desses
recursos é feita ao TSE, que distribui aos órgãos nacionais dos partidos, na proporção de
sua representação na Câmara. No que tange aos recursos empregados nas campanhas, os

21
partidos possuem autonomia para distribui-los, desde que não transbordem dos estritos
limites constitucionais.
Em virtude do princípio da igualdade, não pode, pois, o partido político criar
distinções na distribuição desses recursos exclusivamente baseadas no gênero. Assim,
não há como deixar de reconhecer como sendo a única interpretação constitucional
admissível aquela que determina aos partidos políticos a distribuição dos recursos
públicos destinados à campanha eleitoral na exata proporção das candidaturas de ambos
os sexos, sendo, em vista do disposto no art. 10, § 3º, da Lei de Eleições, o patamar
mínimo de 30%.
No que tange ao prazo de três eleições fixado pela lei, deve-se ter em conta que o
critério de distribuição de recursos oriundos do Fundo Partidário deve obedecer à
composição das candidaturas e deflui diretamente da cota de 30%. Assim, é
inconstitucional a fixação de um prazo, porquanto a distribuição não discriminatória dos
recursos deve perdurar enquanto for justificada a composição mínima das candidaturas.
Isso porque a legitimidade das políticas afirmativas depende de seu caráter temporário. A
temporariedade incide, no caso em exame, nas cotas das candidaturas, não na distribuição
de recursos, que não está sujeita a tratamento discriminatório.
É preciso reconhecer que ao lado do direito a votar e ser votado, como parte
substancial do conteúdo democrático, a completude é alcançada quando são levados a
efeito os meios à realização da igualdade. Só assim a democracia é plena. A participação
das mulheres nos espaços políticos é um imperativo do Estado e produz impactos
significativos para o funcionamento do campo político, uma vez que a ampliação da
participação política feminina permite equacionar as medidas destinadas ao atendimento
das demandas sociais das mulheres. Daí porque a atuação dos partidos políticos não pode,
sob pena de ofensa às suas obrigações transformativas, deixar de se dedicar também à
promoção e à difusão da participação política das mulheres.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Ricardo
Lewandowski. Os ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes julgaram a ação
parcialmente procedente, para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 9º da Lei
13.165/2015, e assentar a liberdade de os partidos políticos ultrapassarem os limites
fixados em lei. O ministro Ricardo Lewandowski, por sua vez, julgou o pedido procedente
em maior extensão, para excluir do mesmo dispositivo o trecho que abrange os recursos
a que se refere o art. 44, V, da Lei 9.096/1995.

(1) Lei 13.165/2015: “Art. 9º Nas três eleições que se seguirem à publicação desta Lei, os partidos reservarão,
em contas bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% (cinco por cento) e no máximo 15% (quinze por cento)
do montante do Fundo Partidário destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas campanhas
de suas candidatas, incluídos nesse valor os recursos a que se refere o inciso V do art. 44 da Lei n. 9.096, de 19 de
setembro de 1995.”
(2) Lei 9.096/1995: “Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: (...) V - na criação e
manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, criados e mantidos pela
secretaria da mulher do respectivo partido político ou, inexistindo a secretaria, pelo instituto ou fundação de pesquisa
e de doutrinação e educação política de que trata o inciso IV, conforme percentual que será fixado pelo órgão nacional
de direção partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por cento) do total; (...) § 5º O partido político que não cumprir
o disposto no inciso V do “caput” deverá transferir o saldo para conta específica, sendo vedada sua aplicação para
finalidade diversa, de modo que o saldo remanescente deverá ser aplicado dentro do exercício financeiro subsequente,
sob pena de acréscimo de 12,5% (doze inteiros e cinco décimos por cento) do valor previsto no inciso V do “caput”, a
ser aplicado na mesma finalidade. § 5º-A. A critério das agremiações partidárias, os recursos a que se refere o inciso V
poderão ser acumulados em diferentes exercícios financeiros, mantidos em contas bancárias específicas, para utilização
futura em campanhas eleitorais de candidatas do partido. § 6º No exercício financeiro em que a fundação ou instituto
de pesquisa não despender a totalidade dos recursos que lhe forem assinalados, a eventual sobra poderá ser revertida
para outras atividades partidárias, conforme previstas no “caput” deste artigo. § 7º A critério da secretaria da mulher
ou, inexistindo a secretaria, a critério da fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, os recursos a que
se refere o inciso V do “caput” poderão ser acumulados em diferentes exercícios financeiros, mantidos em contas

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bancárias específicas, para utilização futura em campanhas eleitorais de candidatas do partido, não se aplicando, neste
caso, o disposto no § 5º.”

ADI 5617/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 15.3.2018. (ADI-5617)


Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
(Informativo 894, Plenário)

Vacância de cargos políticos e eleições


O Plenário, por maioria, julgou improcedente ação direta ajuizada em face do § 3º
do art. 224 do Código Eleitoral e fixou tese nos seguintes termos: "É constitucional
legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários simples —
isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da
República — em casos de vacância por causas eleitorais".
O requerente sustentou que o referido dispositivo não poderia ser aplicado a
eleições decorrentes de vacância de cargo de Senador, bem como de Prefeito de município
com menos de 200 mil eleitores, nos quais a investidura no cargo dependeria unicamente
da obtenção da maioria simples dos votos. Alegou que a norma em questão ofenderia a
soberania popular e os princípios constitucionais da razoabilidade, da proporcionalidade,
da legitimidade e da normalidade das eleições, além de causar custos desnecessários para
a União.
O Tribunal, entretanto, ao adotar postura de deferência ao legislador, ressaltou a
possiblidade de convocar nova eleição, em observância ao princípio da soberania popular.
Ademais, celeridade e economicidade cedem, do ponto de vista do privilégio — no caso,
legítimo —, que há de ser dado ao princípio democrático.
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que acolhia o pedido formulado.
ADI 5619/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 7 e 8.3.2018. (ADI – 5619)
Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
Parte 3: Parte 3:
(Informativo 893, Plenário)

Vacância de cargos políticos e procedimento eleitoral


O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente ação direta para declarar a
inconstitucionalidade da locução "após o trânsito em julgado", prevista no § 3º do art. 224
do Código Eleitoral (1), e para conferir interpretação conforme a Constituição ao § 4º (2)
do mesmo artigo, de modo a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância
nos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da
República.
De início, a Corte afirmou que o fato de a Constituição Federal não listar
exaustivamente as hipóteses de vacância não impede que o legislador federal, no exercício
de sua competência legislativa eleitoral (CF, art. 22, I), preveja outras hipóteses, como as
dispostas no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral. Assim, é permitido ao legislador federal
estabelecer causas eleitorais, ou seja, relacionadas a ilícitos associados ao processo
eleitoral, que possam levar à vacância do cargo.
Por outro lado, é certo que § 4º do citado art. 224 disciplina o modo pelo qual serão
providos todos os cargos majoritários na hipótese de vacância. Entretanto, em relação aos
cargos de Presidente, Vice-Presidente e Senador, a própria Constituição Federal já

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estabelece o procedimento a ser observado para o seu preenchimento (CF, artigos 56, §
2º, e 81, § 1º) (3).
Verifica-se, portanto, clara contradição entre o que preveem o texto constitucional
e a legislação ordinária.
De todo modo, é compatível com a Constituição Federal a aplicação do citado § 4º
em relação aos cargos de Governador e de Prefeito, porquanto, diferentemente do que faz
com o Presidente da República e com o Senador, o texto constitucional não prevê modo
específico de eleição no caso de vacância daqueles cargos. Contudo, há que ser preservada
a competência dos Estados-Membros e dos Municípios para disciplinar a vacância em
razão de causas não eleitorais, por se tratar de matéria político-administrativa,
resguardada sua autonomia federativa.
Outrossim, em relação ao § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, o Tribunal concluiu
que os efeitos práticos da exigência do trânsito em julgado para a perda do mandato
contrariam o princípio democrático e o princípio da soberania popular. Isso porque a
exigência em questão permite que exerçam cargo majoritário, por largo período, alguém
que não foi eleito, na medida em que, a teor do que disposto no art. 171 da Resolução
23.456/2015 do TSE, “caberá ao presidente do Poder Legislativo assumir e exercer o
cargo até que sobrevenha decisão favorável no processo de registro”.
Vencido, em parte, o Ministro Alexandre de Moraes, que excluía do âmbito de
incidência do § 4º do art. 224 também os governadores, prefeitos e os respectivos vices,
tendo em conta a autonomia federativa.

(1) Código Eleitoral: “Art. 224. (...) § 3 A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro,
a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados”.
(2) Código Eleitoral: “Art. 224. (...) § 4 A eleição a que se refere o § 3 correrá a expensas da Justiça Eleitoral e
será: I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato; II - direta, nos demais
casos”.
(3) Constituição Federal: “Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...) § 2º Ocorrendo vaga e
não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o término do mandato.
(...) Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de
aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os
cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei”.
ADI 5525/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 7 e 8.3.2018. (ADI –
5525)
Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
Parte 3: Parte 3:
(Informativo 893, Plenário)

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DIREITO PENAL
Crimes Praticados Por Particular Contra A Administração Em Geral

Desacato praticado por civil contra militar e constitucionalidade


A 2ª Turma, por maioria, denegou a ordem de “habeas corpus” impetrado em favor
de civil, condenado pela prática do crime descrito no art. 299 do CPM (desacato).
A defesa sustentou a inconstitucionalidade da imputação do delito a civil, bem
assim a incompatibilidade da criminalização da conduta com o Pacto de São José da Costa
Rica.
A Turma assinalou que o delito de desacato, quer conforme tipificado na legislação
penal comum, quer na militar, tem por sujeito passivo secundário o funcionário público
(civil ou militar), figurando o Estado como sujeito passivo principal. O bem jurídico
tutelado é a Administração Pública, levando-se em conta seu interesse patrimonial e
moral. A tutela penal está no interesse em se assegurar o normal funcionamento do
Estado, protegendo-se o prestígio do exercício da função pública. Assim, a norma tem
como destinatário da proteção legal mais a função pública do que a pessoa (civil ou
militar). Portanto, para a configuração do crime, não é necessário que o funcionário
público se sinta ofendido, sendo indispensável que o menoscabo tenha alvo certo, de
forma que a vítima deve ouvir a palavra injuriosa ou sofrer diretamente o ato.
O desacato é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É essencial
para a configuração do delito que o funcionário público esteja no exercício da função, ou,
estando fora, que a ofensa seja empregada em razão dela. Deve, pois, haver o chamado
nexo funcional. A crítica ou a censura sem excessos, por sua vez, não constituem
desacato, ainda que veementes.
No que se refere à suposta incompatibilidade desse delito com a liberdade de
expressão e de pensamento, garantidos pelo Pacto de São José da Costa Rica e pela
Constituição, sabe-se que os tratados de direitos humanos podem ser: a) equivalentes às
emendas constitucionais, se aprovados após a EC 45/2004; ou b) supralegais, se
aprovados antes da referida emenda. De toda forma, estando acima das normas
infraconstitucionais, são também paradigma de controle da produção normativa.
Nesse sentido, não se infere, da leitura do aludido tratado, afronta na tipificação do
crime de desacato. Não houve revogação da norma penal, mas recepção pela regra
supralegal. O texto dispõe que o exercício do direito à liberdade de pensamento e de
expressão, embora não sujeito a censura prévia, deve assumir responsabilidades
ulteriores, expressamente fixadas em lei, para assegurar o respeito aos direitos ou à
reputação das demais pessoas. Portanto, não se está diante de descriminalização ou de
“abolitio criminis”.
A liberdade de expressão prevista no Pacto de São José da Costa Rica não difere do
tratamento conferido pela Constituição ao tema, sendo que esse direito não possui caráter
absoluto. A Constituição, ao tutelar a honra, a intimidade e a dignidade da pessoa humana,
recepcionou a norma do desacato prevista na legislação penal.
O direito à liberdade de expressão deve harmonizar-se com os demais direitos
envolvidos, não eliminá-los. Incide o princípio da concordância prática, pelo qual o
intérprete deve buscar a conciliação entre normas constitucionais.
O exercício abusivo das liberdades públicas não se coaduna com o Estado
democrático. A ninguém é lícito usar sua liberdade de expressão para ofender a honra

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alheia. O desacato constitui importante instrumento de preservação da lisura da função
pública e, indiretamente, da dignidade de quem a exerce. Não se pode despojar a pessoa
de um dos mais delicados valores constitucionais, a dignidade da pessoa humana, em
razão do “status” de funcionário público (civil ou militar). A investidura em função
pública não constitui renúncia à honra e à dignidade. Nesse aspecto, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, órgão responsável pelo julgamento de situações
concretas de abusos e violações de direitos humanos, reiteradamente tem decidido
contrariamente ao entendimento da Comissão de Direitos Humanos, estabelecendo que o
direito penal pode punir condutas excessivas no exercício da liberdade de expressão.
Por conseguinte, a figura penal do desacato não tolhe o direito à liberdade de
expressão, não retirando da cidadania o direito à livre manifestação, desde que exercida
nos limites de marcos civilizatórios bem definidos, punindo-se os excessos. A
Constituição impõe à Administração a observância dos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, podendo-se dessumir daí a
compatibilidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionário público e a liberdade
de expressão.
Não parece ainda o caso de se invocar a teoria da adequação social como causa
supralegal de exclusão da tipicidade, pela qual se preconiza que determinadas condutas,
consensualmente aceitas pela sociedade, não mais se ajustam a um modelo legal
incriminador. A evolução dos costumes seria fator decisivo para a verificação da
excludente de tipicidade, circunstância ainda não passível de aferição, mas é preciso que
o legislador atualize a legislação para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do
Estado. Havendo lei, ainda que deficitária, punindo o abuso de autoridade, pode-se
afirmar que a criminalização do desacato se mostra compatível com o Estado
democrático.
Vencido o ministro Edson Fachin, que concedeu a ordem.
HC 141949/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13.3.2018. (HC-141949)
(Informativo 894, Segunda Turma)

Incitação À Discriminação Religiosa

Incitação à discriminação religiosa e liberdade de expressão


A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus
seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de
expressão.
Com base nessa orientação, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento a
recurso ordinário em “habeas corpus”, no qual se postulava a anulação ou o trancamento
de ação penal que condenou o recorrente pela prática do crime de racismo em decorrência
de incitação à discriminação religiosa, na forma do art. 20, § 2º, da Lei 7.716/1989 (1).
De acordo com os autos, o acusado incitou o ódio e a intolerância contra diversas
religiões, além de ter imputado fatos criminosos e ofensivos a seus devotos e sacerdotes,
tendo as condutas sido praticadas por meio da internet.
A Turma considerou que o exercício da liberdade religiosa e de expressão não é
absoluto, pois deve respeitar restrições previstas na própria Constituição. Nessa medida,
os postulados da igualdade e da dignidade pessoal dos seres humanos constituem
limitações externas à liberdade de expressão, que não pode e não deve ser exercida com

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o propósito subalterno de veicular práticas criminosas tendentes a fomentar e a estimular
situações de intolerância e de ódio público.
As condutas praticadas pelo réu representam abusos graves contra os valores,
fundamentos e princípios da Constituição Federal, indo de encontro ao que consigna o
preâmbulo. Ele agiu contra a harmonia social e a fraternidade que os constituintes
procuraram construir a partir da promulgação do texto constitucional.
Outrossim, compete ao Estado exercer o papel de pacificador da sociedade, para,
assim, evitar uma guerra entre religiões, como acontece em outras regiões do mundo.
Portanto, não há falar na existência de teratologia apta a ensejar o trancamento da
ação penal, na medida em que os fatos se enquadram na figura delitiva do art. 20, § 2º, da
Lei 7.716/1989.
Vencido o ministro Edson Fachin, que dava parcial provimento ao recurso para
determinar o trancamento da ação penal.

(1) Lei 7.716/1989: “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional. (...)§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa”.
RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgamento
em 6.3.2018. (RHC - 146303)
(Informativo 893, Segunda Turma)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Desistência de Recurso

Fixação de Preços de Medicamentos e Valores Diferenciados


A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, homologou o pedido de
desistência de recurso ordinário em mandado de segurança, no qual se discutia a fixação
de preços de medicamentos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos –
CMED (Informativo 590).
RMS 26575/DF, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 6.3.2018. (RMS -26575)
(Informativo 893, Segunda Turma)

Recurso

Recurso extraordinário e acordão proferido em processo administrativo


A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, negou provimento a agravo regimental
no qual se discutiu o cabimento de recurso extraordinário para impugnar decisão proferida em
processo administrativo (Informativo 833).
O TST, em sede de processo administrativo disciplinar, havia determinado a cassação da
aposentadoria de magistrado trabalhista, com fundamento no trânsito em julgado de sentença
penal condenatória prolatada em seu desfavor.
O agravante sustentou que: a) o cabimento de recurso extraordinário independeria da
natureza do procedimento adotado para a prolação da decisão recorrida, administrativa ou
judicial; e b) a limitação dada à expressão “causa” acarretaria ofensa direta à Constituição Federal.
A Turma asseverou que a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que a expressão
“causa” referida no inciso III do art. 102 da CF só alcança processos judiciais. Por essa razão, não
é cabível a interposição de recurso extraordinário contra acórdão proferido por tribunal no âmbito
de processo administrativo de natureza disciplinar instaurado contra magistrado.
ARE 958311/SP, rel. org. Min. Teori Zavaski, red.p/ac. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 27.02.2018. (ARE - 958311)
(Informativo 891, Segunda Turma)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal

Prazo decadencial e direito de representação


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a ordem e revogou
a liminar anteriormente deferida em “habeas corpus” que postulava a extinção de processo
criminal com base essencialmente na alegação de desconsideração do prazo decadencial do
direito de representação em crime de atentado violento ao pudor [CP, art. 214 (1)] (Informativo
878).
No caso, a denúncia do paciente foi realizada em 2012, quando já estava em vigor a Lei
12.015/2009, que alterou o disposto no art. 225 do Código Penal (2), e mais de cinco anos após a
ocorrência do delito.
A Turma asseverou que as instâncias ordinárias concluíram que o crime foi praticado
mediante violência real. Incide, portanto, o Enunciado 608 da Súmula do STF (3), mesmo após
o advento da Lei 12.015/2009. Com efeito, rejeitou a alegação de decadência ao fundamento de
que a ação penal é pública incondicionada, na linha do que decidido no HC 102.683/RS (DJe de
7.2.2011).
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que deferiu a ordem para declarar extinto o
processo ante a decadência.

(1) Código Penal: “Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele
se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: (...) (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)”.
(2) Código Penal: “Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação”.
(3) Enunciado 608 da Súmula do STF: “No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública
incondicionada".
HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 27.2.2018. (HC-125360)
(Informativo 891, Primeira Turma)

Conflito De Competência

Terras indígenas e conflito de competência


A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, acolheu questão de ordem para
julgar prejudicado recurso, no qual se discutia conflito de competência entre a Justiça
Federal e a Justiça Comum para julgar delito supostamente praticado por indígena em
área reservada (Informativo 650 e 655).
RE 541737/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 6.3.2018. (RE – 541737)
(Informativo 893, Segunda Turma)

Execução Penal

Execução provisória da pena e trânsito em julgado


A Segunda turma, em conclusão de julgamento, resolveu questão de ordem para
julgar prejudicada a impetração em face de pedido de desistência do impetrante
(Informativos 872 e 891).

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HC 136720/PB, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 13.3.2018. (HC -
136720)
(Informativo 894, Segunda Turma)

Habeas Corpus

Decisão judicial transitada em julgado e “habeas corpus”


A Segunda Turma negou provimento a recurso ordinário em “habeas corpus” no
qual se pleiteava a anulação de sentença penal condenatória transitada em julgado.
Preliminarmente, a Turma conheceu do “habeas corpus”. Considerou o “writ”
cabível, na espécie, por ser mais célere e benéfico ao paciente, além de sua impetração
estar autorizada no art. 648, VI, do CPP (1). Ademais, a negativa de conhecimento do
remédio constitucional dificultaria a defesa do direito das pessoas privadas de liberdade
por condenação alegadamente injusta.
No mérito, a Turma ressaltou que, apesar de parte das alegações da defesa não terem
sido expressamente enfrentadas quando do julgamento da apelação interposta na origem
— o que ensejaria a nulidade ora apontada —, cabia à parte interessada opor embargos
de declaração, o que não ocorreu. Por outro lado, as referidas alegações foram
apresentadas de forma lacônica, em dois parágrafos das razões de apelação, sem
demonstrar conexão com o ponto de interesse. Concluiu não haver nulidade a ser
reconhecida no acórdão condenatório impugnado.

(1) Código de Processo Penal/1941: “Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: (...) VI – quando o processo
for manifestamente nulo”.
RHC 146327/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 27.2.2018. (RHC –
146327)
(Informativo 891, Segunda Turma)

Independência funcional das instâncias do Ministério Público


A Primeira Turma denegou pedido de “habeas corpus” no qual se pleiteava a anulação de
ação penal em trâmite na primeira instância criminal de Brasília referente à “Operação Caixa de
Pandora”. O “writ” se fundamenta na alegada impossibilidade de cisão de denúncia única,
inicialmente, oferecida pelo Ministério Público Federal e, posteriormente, ratificada pela
Procuradoria-Geral de Justiça.
A Turma afirmou que seria possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da
sentença final, garantidos o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, máxime
quando a inicial ainda não tenha sido sequer recebida originariamente pelo juízo competente,
como se deu na espécie.
O princípio da independência funcional está diretamente atrelado à atividade finalística
desenvolvida pelos membros do Ministério Público, gravitando em torno das garantias: a) de uma
atuação livre no plano técnico-jurídico, isto é, sem qualquer subordinação a eventuais
recomendações exaradas pelos órgãos superiores da instituição; e b) de não poderem ser
responsabilizados pelos atos praticados no estrito exercício de suas funções.
Consoante o postulado do promotor natural, a definição do membro do Ministério Público
competente para oficiar em determinado caso deve observar as regras previamente estabelecidas
pela instituição para distribuição de atribuições no foro de atuação, obstando-se a interferência
hierárquica indevida da chefia do órgão por meio de eventuais designações especiais.

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Nessa medida, a proteção efetiva e substancial ao princípio do promotor natural impede
que o superior hierárquico designe o promotor competente, bem como imponha a orientação
técnica a ser observada.
Assim, o membro do Ministério Público ostenta plena liberdade funcional não apenas na
avaliação inicial que faz, ao final da fase de investigação, no intuito de aferir a existência de justa
causa para o oferecimento da peça acusatória; como, também, no exame que realiza, ao final da
instrução processual, quanto à comprovação dos indícios de autoria originariamente cogitados.
Certo é que a imparcialidade na formação da “opinio delicti” se efetiva na hipótese em que o
membro do Ministério Público atua com total liberdade na formação de seu convencimento, é
dizer, que sua atuação não poderá ser vinculada a nenhuma valoração técnico-jurídica pretérita
dos fatos sob avaliação, ainda que proveniente de outro membro da instituição que possua
atribuição para atuar em instância superior.
No caso em comento, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com
atribuição para atuar em instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham,
anteriormente, oferecido denúncia de diferente teor em face do ora paciente, uma vez que,
conforme devidamente reconhecido pelos órgãos jurisdicionais a que submetida a pretensão, não
eram aqueles — porquanto incompetente o juízo — os promotores naturais para exercer a
pretensão acusatória.
Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância
— não se encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso, afasta
qualquer alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória oferecida contra
o paciente.
HC 137637/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 6.3.2018. (HC-137637)
(Informativo 893, Primeira Turma)

Supremo Tribunal Federal


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