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SUMÁRIO

enfoque A Função Social do Ensino de Ciências


Miguel Arroyo

pontos de vista O Ato de Ensinar Ciências


Amélia Império Hamburger e Elvira C A . Souza Lima

Ensino de Ciências nas Escolas: uma Questão em Aberto


Marisa Ramos Barbieri

A Evolução dos Livros Didáticos de Química Destinados ao Ensino Secundário


Eduardo Fleury Mortimer

O Professor-pesquisador como Instrumento de Melhoria do Ensino de Ciências


Marco Antônio Moreira

resenhas Da Realidade à Ação — Reflexões sobre Educação e Matemática


Ubiratan D'Ambrósio

Ciência e Libertação
José Leite Lopes

bibliografia Ensino de Ciências

painel Noticias
Livros e Periódicos

Em Aberto, Brasilia, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


ENFOQUE

A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO DE CIÊNCIAS* ciências exatas, dos cientistas e dos mestres das ciências não se-
ria um dos motivos do bloqueio à inovação e à revisão? O próprio pe-
Miguel González Arroyo** so imposto às ciências como mecanismos de seleção e filtragem
para o vestibular não teria aumentado essa auto-suficiência e esse
Duvidar é preciso bloqueio perante qualquer revisão séria dos conteúdos e métodos
de ensino?
Refletir acerca do ensino de ciências sem integrar poucos inicia-
dos nas ciências pode parecer uma ousadia. Este poderia ser um A dúvida como método está na raiz da nova ciência e poderia ser
primeiro ponto para nossa reflexão. O ensino de ciências participa um ponto de partida para se avançar no repensar sério de uma área
de certo mistério, comum às ciências ditas exatas, o mistério de do ensino que ocupa a maior parte do tempo e das energias na edu-
ser um saber tão inacessível quanto nobre, se comparado a outros cação escolar da adolescência e da juventude. Duvidar é preciso,
saberes. Conseqüentemente, um certo ethos de segurança, de in- para avançar.
questionabilidade domina a área. Pela experiência que venho acu-
mulando como pai de estudantes, atrevo-me a dizer que no ensino Por onde avançar no repensar o ensino de ciências? Como já salien-
de ciências e matemática cometem-se mais barbaridades didáti- tado, a prática docente ou o chamado processo de ensino-apren-
cas que no ensino de língua portuguesa, história ou geografia. dizagem precisa ser revisto em cada um de seus componentes: os
sujeitos docentes, os conteúdos, os livros de texto, os processos
As práticas monótonas e repetitivas dos para casa, o caráter de transmissão-avaliação, os sujeitos cognoscentes, os contextos
maçante e massacrante dos livros de texto, a falta de sensibilidade de sala, os laboratórios... Há muito campo para repensar cada um
das questões das provas, os medos em torno das ciências, todo es- desses aspectos. Entretanto, não será suficiente parar por aí. 0
se clímax aproxima-se dos velhos, velhíssimos métodos da pal- que acontece no ensino de qualquer área do conhecimento não se
matória, da obrigação de escrever cem vezes a mesma palavra, ou esgota nem se explica por processos interativos ou de comuni-
fórmula, como castigo. O ensino de ciências, em geral, distancia- cação. Na área do ensino de ciências, isso é ainda mais perceptível.
se dos métodos mais racionais e didáticos de ensino-aprendiza- O que ai acontece é inseparável dos processos sociais e políticos
gem, defendidos pela pedagogia moderna. A auto-suficiência das da produção-reprodução-apropriação-uso da ciência e das técni-
cas, tanto nos processos gerais como nas especificidades de nos-
sa formação social. É verdade que essas relações estão presentes
* Este trabalho retoma as reflexões apresentadas no Encontro Nacional de Ensino
em qualquer área do conhecimento, mas os estreitos vínculos en-
de Fisica, realizado no Rio de Janeiro em janeiro de 1 9 8 9 , e no Encontro Estadual tre ciência-técnica-produção tornam seu conhecimento mais de-
de Ensino de Ciências, ocorrido em Belo Horizonte em março, de 1 989. A totali- terminado e mais polêmico.
dade do trabalho comporá um capitulo de um livro - em preparação por vários
professores - a respeito do ensino de Ciências.
**Professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Em outros termos, não se pode refletir acerca do ensino de ciên-
Gerais (UFMG). cias apenas pedagogicamente ou como se fosse um processo me-

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


ramente pedagógico, nem sequer epistemológico ou da psicologia ressaltar que por mais nobres e exatas não são invulneráveis à rea-
cognitiva, nem sequer como uma busca de diálogo respeitoso en- lidade histórica, social, cultural e política em que são produzidas e
tre o saber cientifico acumulado pelo educando e o saber científico transmitidas.
acumulado e sistematizado historicamente. Esta postura respeito-
sa de diálogo vem sendo colocada como a grande renovação do
ensino. A dicotomia ciência-técnica e cultura

Julgo que o ensino de ciências mais do que o de outras áreas con- O pensamento mais comum entre os professores é que o ensino de
templadas nos programas de 1º e 2º graus tem de ampliar sua aná- ciências se relaciona com a preparação para o mundo produtivo.
lise crítica para questões como: Se lhes perguntarmos para que servirá a física, a química, a biolo-
gia e a matemática ensinadas no segundo grau, a resposta será
• por que essa área adquiriu a relevância atual? quase unânime: para capacitar os jovens a um trabalho profissio-
• que papel cumpre no equilíbrio ou desequilíbrio de uma propos- nal competente. Se fizermos a mesma pergunta aos professores
ta coerente de formação do cidadão comum? de humanas (no linguajar escolar a condição de ciências não se
• em que medida o ensino de ciências vem descartando a função aplica a humanas), possivelmente a resposta seja: preparar os jo-
social da escola de 1º e sobretudo de 2º grau? vens para a cidadania.
• qual a concepção de ciência presente no ensino de ciências?
• quais os vínculos entre ciências-produção-trabalho? Faz parte do senso comum pedagógico que o conhecimento das
• quais os vínculos entre ensino de ciências e a indústria do ensi- forças sociais, econômicas, políticas e culturais que levaram, por
no, o assalariamento das camadas médias, a desqualificação do exemplo, à abolição da escravatura, ou à Proclamação da Repúbli-
trabalho moderno, a seletividade do ensino superior e, mais es- ca, permitirá aos jovens aprender a lutar, como futuros cidadãos,
pecificamente, a seletividade do mercado de trabalho dos pro- pela igualdade ou pela democracia republicana. Enfim, as huma-
fissionais da ciência e da técnica?... nas ensinam que a sociedade funciona numa correlação complexa
de forças, o que permitirá aos futuros cidadãos entenderem essa
Se deixarmos de lado um enfrentamento muito sério com essas sociedade e participarem de sua transformação. Nem todos os
questões e nos fecharmos em qualquer reforma dos processos professores terão essa visão tão progressista. O que importa é des-
internos ao ensino ou de seus componentes - conteúdos, livros de tacar como é concebido o papel de cada ramo das ciências na for-
texto, laboratórios, para casa, provas, métodos -, sem situar histó- mação dos jovens no 1° e 2° graus. Por exemplo, o conhecimento
rica e socialmente o ensino de ciências, corremos o risco de cair relativo às linhas de força de um campo elétrico, supõe-se, capaci-
num receituário ou até de levar os mestres das ciências a um certo tará os jovens a entender e manipular a tecnologia moderna usada
complexo de incapazes, uma vez que os determinantes da maioria no mundo da produção e, conseqüentemente, os capacitará para a
dos pontos vulneráveis nesse ensino não são de natureza didática, vida profissional.
nem sequer de incompetência ou despreparo de quem ensina, ou
de quem elabora material de ensino. Qualquer pesquisa rápida constataria essa visão dicotômica de
função do ensino. Basta olhar as introduções dos livros de texto pa-
Minha reflexão tenta abrir novas dimensões - oriundas de outras ra perceber como essa visão dicotômica faz parte do pensamento
ciências -, nem sempre aceitas como ciências, e que podem per- pedagógico dos profissionais da escola. Os livros de geografia do
turbar o campo tão fechado das ciências nobres - as exatas - e segundo grau ressaltam na apresentação: "a formação do cidadão
exige que se dê ao jovem orientação e instrumentos para a filtra- de 1.° e 2.° graus: separando as disciplinas destinadas à formação
gem, a análise, a interpretação do que ocorre no mundo". Por sua geral do cidadão daquelas destinadas à formação especial do pro-
vez, os livros de história insistem na mesma idéia de contribuir pa- fissional-trabalhador.
ra a formação do cidadão. "Através do estudo da história, você,
aluno, será capaz de extrair lições de participação e de espe- O que aconteceu realmente nestes vinte anos? Os conhecimentos
rança." A temática destacada nas humanas relaciona-se à ocu- transmitidos pelas ciências têm cumprido o papel de mediadores,
pação política do espaço, às formas de governo, às datas cívicas, como se esperava, entre a escola e o mundo do trabalho ? Como as
descoladas dos processos produtivos. ciências vêm cumprindo essa função? Ensinando conteúdos
científicos ao futuro profissional-trabalhador ou mediante outros
Entretanto, as introduções dos livros de física, química, biologia e mecanismos mais sutis? Lembremos um pouco de história.
matemática deixam logo claro aos jovens que são ciências vincula-
das a outro departamento de sua formação. Nas primeiras páginas No final da década de sessenta e início da década de setenta fez-se
apresentam aos jovens sua proposta: "capacitá-los para suas f u - uma crítica rígida ao saber transmitido no sistema escolar brasilei-
turas carreiras, sua vida profissional e o exame vestibular". ro. Tratava-se com desprezo o chamado saber tradicional, visto
como livresco, humanista, metafísico, apropriado a uma república
O jovem deve tirar esta conclusão: as humanas tratam do humano, de bacharéis diletantes e improdutivos. Propunha-se um saber
do social, do cívico, enquanto o mundo da produção, do trabalho, moderno, técnico-científico, útil, prático, capaz de formar profis-
da opção profissional pertence a outro departamento - das ciên- sionais e trabalhadores eficientes para uma sociedade produtiva.
cias exatas. Tal conclusão poderá acompanhar o futuro profissio-
nal-cidadão-trabalhador e dificultar uma compreensão unitária O argumento apresentado era que este saber e não aquele prepa-
das diversas dimensões de sua existência e da sociedade em que rava para o mundo moderno da produção, uma vez que estávamos
vive e para cuja construção contribui. sob o impacto de uma revolução científico-técnica. As causas do
subdesenvolvimento relacionavam-se a formas ultrapassadas de
Nossa hipótese é que nas últimas décadas essa separação entre produção, e a arrancada para o desenvolvimento correspondia à
ciência-técnica e cultura-política vem sendo levada ao extremo aplicação de tecnologias avançadas e à formação de profissionais
nas propostas de ensino de 1º e 2º graus. que dominassem essas tecnologias. O discurso da época, em suas
análises sobre o subdesenvolvimento, e em suas propostas para o
Essa visão dicotômica sempre esteve presente na prática pedagó- desenvolvimento, tentava ocultar qualquer variável político-social
gica. Desde as reformas dos anos vinte, o sistema de instrução pú- e cultural. As análises que incluíssem as ciências humanas no
blica era orientado, em sua totalidade, para a formação da cidada- diagnóstico da nossa realidade eram consideradas ideológicas,
nia das elites dirigentes. A formação profissional fazia-se fora da como um conhecimento acientífico, vulgar, preconceituoso, um
escola, no próprio trabalho, na família e um pouco no ensino técni- saber apropriado à revolução inconseqüente, o divertimento de
co e agrícola. As reformas de 68 e 71 tentaram administrar a união profissionais pouco sérios.
dessas duas funções no próprio sistema educacional. As transfor-
mações ocorridas nestas duas últimas décadas têm sido bem mais Tentava-se passar essa interpretação tecnicista, despolitizada à
profundas do que nas oito décadas republicanas anteriores. sociedade brasileira exatamente no momento em que os vínculos
entre ciência-técnica-cultura-política eram fortalecidos como
A concepção dicotômica foi transferida para o interior do ensino nunca antes em nossa história. Igualmente ocorria na educação

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escolar: aprofundava-se uma velha dicotomia exatamente no mo- Tentaram nos convencer de que as sociedades subdesenvolvidas
mento em que se estreitavam os vínculos, do primário à universi- superariam a pobreza, o analfabetismo, as doenças, as péssimas
dade, entre ciência-técnica-educação-ensino. Desprezava-se a condições da qualidade de vida dos trabalhadores se a produção
cultura exatamente quando a cultura dos diversos grupos sociais dos bens e serviços fosse modernizada mediante introdução de
era invadida pela nova postura tecnológica, no momento em que o tecnologias avançadas manipuladas por técnicos qualificados.
modo de pensar capitalista e a racionalidade burguesa invadiam o
cotidiano, o privado e o público, o legítimo e o ilegítimo, o permiti- Tentaram nos convencer de que a moderna administração do pú-
do e o proibido, o valorizado e o desprezado. blico, a gestão do Estado e até da educação deveriam ser separa-
das de concepções políticas e sociais. Tanto a ciência e a técnica
As novas propostas de educação escolar pautaram-se pelas quanto a racionalidade administrativa dos tecnocratas e gestores
aparências, incapazes de entender que a dicotomia era mais apa- foram apresentados como simples variáveis guiadas por leis neu-
rente do que real, incapazes de tentar apreender as novas vincu- tras, imbuídas de uma lógica própria, imune à lógica do poder, dos
lações reais entre ciência-técnica-cultura-política postas nesse valores, da cultura, das correlações de força, enfim dos interesses
momento de nossa formação social. de classe. Criou-se um clima nacional de desapreço ao saber so-
cial, político, cultural como um saber contaminado por interesses e
A historiografia, as ciências sociais e da educação vêm criticando ideologias, ao qual se contrapôs um clima de modernidade e de ro-
essa concepção dicotômica. Em alguns setores da própria área do mantização da técnica e da tecnocracia como expressão de um sa-
ensino de ciências essa crítica está avançada. As maiores resistên- ber e de um poder não-contaminados e fecundos em promessas
cias são da indústria do ensino privado: fazem um verdadeiro de progresso, riqueza e bem-estar público, e até de ensino de qua-
negócio com base nessa dicotomia, vendendo ensino de qualidade lidade.
por adestramento no domínio de uma linguagem tecnicista, para a
suposta formação de profissionais de técnica e do desenvolvimen- Tentaram nos convencer de que a ciência e a técnica possuíam as
to. mesmas propriedades da água pura: incolor, inodora e insípida, e
que os tecnocratas, conselheiros dos governantes modernos e
Há inúmeros profissionais nas universidades e no 1º e 2º graus que gestores de empresas lucrativas possuíam as propriedades dos
ainda não superaram a ilusão do tecnicismo desenvolvimentista eunucos - eram neutros.
dos anos 60 e 70. Neste final dos anos 80, é necessário insistir na
critica a essa ilusão que colocava as diferenças entre sociedade Da Universidade e do 2º grau despolitizados e tecnificados espe-
tradicional e moderna no tipo de tecnologia usada, e as diferenças rava-se que lançassem no mercado quadros profissionais familia-
entre profissional tradicional e moderno no tipo de tecnologia do- rizados com o uso dessas tecnologias e dessa racionalidade. A uni-
minada. Muitos dos profissionais do ensino formaram-se em cur- versidade foi reformada para vincular seu ensino a esse modelo de
sos superiores influenciados pela ilusão tecnicista prevalecente empresa moderna, e se tornou um fornecedor bastante eficiente
nos anos 60 e 70, a qual inspirou a reforma universitária e a de 1º e de profissionais imbuídos da nova racionalidade, não só para as
2º graus. É importante entender as concepções do social e da pró- empresas de produção de bens e serviços mas até para a revitali-
pria ciência presentes nessas décadas e ainda não superadas. A zada empresa do ensino: o 1 º e 2º graus e os cursinhos foram atre-
promessa de desenvolvimento, via modernização técnica e for- lados à empresa moderna via universidade, aliás via as habili-
mação de técnicos, tomaram conta do pensamento social e tec- tações técnicas oferecidas para os cursos de ciências exatas da
nocrático. universidade.
A burguesia moderna conseguiu transferir sua valorização da téc- ro para as carreiras técnicas maior seu status na nova escala da
nica e seu desprezo pela cultura para a sociedade, para o mercado qualidade educativa. Quanto mais o colégio se aproximasse da
de emprego, para a universidade e, por extensão, para o 1º e 2º empresa moderna e de sua lógica, maior sua qualidade-lucrativi-
graus. O mercado de emprego passou a valorizar os profissionais dade. Estamos exagerando? Como explicar uma política vigente
das chamadas áreas técnicas diretamente vinculadas ao movi- nos colégios de só deixar ingressar no terceiro ano de segundo
mento de valorização e acumulação do capital. As camadas mé- grau o aluno que garante passar no vestibular, sobretudo das áreas
dias deslumbraram-se com a revolução técnico-científica e com técnicas?
as promessas de empregos lucrativos para seus filhos, ao menos
para os que conseguissem entrar no círculo restrito dos novos sá- Os próprios alunos submetidos a essas propostas educativas per-
bios e magos do desenvolvimento tecnológico. cebem sua subserviência à lógica da empresa moderna. É signifi-
cativo que a turma de formandos de 1 988 no Colégio Loyola de
A indústria do ensino - aquela assumida como tal e aquela oculta Belo Horizonte - um dos mais afinados com as aspirações técnico-
sob o velho manto do apostolado educativo - não poderia perder a científicas das camadas médias - tenha estampado na camisa co-
oportunidade de tirar partido desse deslumbramento das cama- memorativa da formatura o desenho de uma fábrica de onde saíam
das médias. Os industriais e apóstolos da educação, tradicionais jovens estudantes deformados e carimbados com o selo: "aprova-
em suas concepções pedagógicas, políticas e sociais tornaram-se d o - Loyola". É significativo que após uma longa experiência de en-
modernos e colocaram seus velhos patrimônios a serviço da nova sino centrado em doses massacrantes de ciências exatas esses jo-
qualidade (lucratividade) educativa: o treinamento dos filhos das vens se representem a si mesmos deformados, em vez de forma-
camadas médias urbanas nas artes e artimanhas de concorrer às dos, e que deixem estampada na camisa comemorativa de sua (de)
profissões técnicas via vestibular. formatura a grande lição que lhes foi dada: os vínculos estreitos
entre escola-fábrica-burocracia-tecnocracia.
Nos últimos vinte anos o círculo educacional foi-se fechando e
amarrando em torno destes elos: empresa moderna - profissio- Os alunos com seu senso crítico parecem mostrar a seus coorde-
nais modernos - cursos técnicos - cursinhos - segundo grau (e nadores pedagógicos e que estes fizeram com eles nos 12 ou 14
até primeiro grau) - indústria do ensino. O assalariamento das ca- anos passados nos colégios. Mas os coordenadores pedagógicos
madas médias foi o alimento desse dinamismo educacional que continuaram em sua ingenuidade ou esperteza mercantil, de na-
teve por atrativo a destreza no saber técnico-científico. As cama- moro firme com os tecnocratas-pedagogos de última hora, namo-
das médias, desprovidas das velhas fontes de renda - a terra, o ro que vem mostrando seus frutos culturais e educativos nas últi-
empreguismo público, as profissões liberais -, deslumbraram-se mas décadas. Os empresários de ensine e alguns mestres da es-
com os novos espaços promissores abertos no moderno sistema perteza técnica relutam em aderir à crítica que já é consenso na
de produção de bens e serviços. A única herança que poderiam consciência nacional menos conservadora.
deixar a seus filhos seria uma carreira técnica.
Um pouco de história da própria ciência e da técnica não farão mal
A corrida às novas agências expedidoras do passaporte para essas para perceber que a produção - reprodução - uso da técnica e da
carreiras foi e continua sendo o animador educativo dos últimos ciência foram sempre processos social, política e culturalmente
vinte anos. Os colégios que conseguiram vender esse produto pas- determinados e que a própria dicotomia entre ciência-técnica-cul-
saram a ser a expressão máxima da qualidade em educação. Quan- tura-política que se tentou impor à sociedade brasileira e à edu-
to mais esses colégios conseguissem garantir o passaporte segu- cação nas últimas décadas obedecia a interesses políticos e cultu-

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rais nada neutros. O que há na instituição escolar que lhe possibili- discurso sobre a opção pela formação integral com visitas aos po-
ta reproduzir aparências em seu interior, quando a realidade é tão bres, semanas ecológicas, escaladas, dias de retiro ou aulas de re-
forte em seu redor e até mesmo no seu próprio contexto? ligião, ou moral cívica.

Cientistas ou disciplinários? A materialidade a que é submetido o educando incorpora a dicoto-


mia com tal força que destrói qualquer ilusão de formação
A concepção dicotômica não marcou apenas as formas de pensar integral.
a sociedade, o desenvolvimento, o trabalho profissional, a função
O desequilíbrio e a dicotomia estão tão explícitos nos educandá-
social de cada área do ensino e de cada tipo de mestre. Essa con-
rios, sobretudo de segundo grau, que os coordenadores pedagógi-
cepção dicotômica de conhecimento marcou inicialmente a estru-
cos, coordenadores de área, supervisores, professores e alunos
tura e a organização da universidade, penetrando depois no 1º e 2º
convivem com esses desequilíbrios com a maior naturalidade, co-
graus. A organização da escola privada, onde se dá a formação da
mo prisioneiros acostumados às grades. Aliás é a grade curricular
maioria dos jovens que freqüentam o 2º grau, foi a mais afetada
por essa separação entre técnica-ciência-cultura, separação a expressão mais marcante dessa dicotomia entre técnica-ciên-
que vem penetrando na escola pública em nome da melhoria de cia-cultura, ou entre ciências exatas e humanas. Não é preciso di-
sua qualidade. zer ao jovem qual é o saber nobre e qual o saber vulgar; no primeiro
dia de aula receberá o horário com cinco tempos para cada um dos
saberes nobres: matemática, física, química, e biologia; e apenas
É importante destacar este aspecto. As críticas feitas ao ensino dois horários para o saber vulgar: história e geografia. Diante da
destacam as concepções de saber presentes nos conteúdos trans- estranheza inteligente de alguns jovens, o coordenador pedagógi-
mitidos pelo livro didático e pelos mestres, ignorando que o que co tentará acalmá-los, mostrando "o equilíbrio educativo da pro-
mais marca o educando é o cotidiano da prática escolar, ou as for- posta" do colégio: "a área de exatas e biológicas realmente cobre
mas sutis como as concepções de saber são materializadas no 19 horários, mas as humanas estão com 14 horários, se somados
funcionamento e organização do trabalho escolar. Pouco adianta, os curtos horários de história, geografia, mais língua portuguesa,
por exemplo, dizer repetidamente ao jovem que o conhecimento religião, educação física, e mais educação moral e cívica e OSPB".
sócial e histórico é central em sua formação, se na organização dos O coordenador pedagógico não esqueceu ainda os dias de retiro,
tempos ele percebe que, enquanto tem dois horários semanais de encontros, campanhas da fraternidade, apenas não se lembrou
história, tem cinco de matemática, de física ou de química; se en- dos conselhos cívico-morais dos supervisores, orientadores e
quanto gasta uma hora no estudo de história em casa, despende mestres.
dez resolvendo centenas de problemas e equações matemáticas.
Enquanto passa facilmente em humanas, precisa de aulas de re- Com toda essa mistura pretende-se compor "uma proposta pe-
forço, entra em recuperação e até é reprovado em matemática, dagógica de FORMAÇÃO INTEGRAL DA PESSOA COMO UM TO-
química, física ou biologia. DO HARMÔNICO". Qual o colégio que não oferece esse cardápio
equilibrado na sua propaganda?
Qualquer discurso sobre a importância das humanas na formação
global do jovem não passará de algo vazio diante dos fatos objeti- O desequilíbrio da grade curricular prolonga-se no para casa. Em
vos, ou seja, da organização escolar concreta a que esse jovem é pesquisa feita com alunos de segundo grau, 8 0 % ou mais do tem-
submetido durante oito ou dez anos de sua infância, adolescência po de estudo em casa é dedicado às ciências exatas; o restante é
e juventude. De pouco adiantará tentar preencher o vazio desse para as ciências humanas.
A dicotomia introduzida na formação da juventude manifesta-se, fessores, às suas regras do jogo. Aliás, este tipo de mestres e coor-
ainda, nas relações de poder e de medo presentes nos colégios. O denadores não têm tempo a perder em dialogar com o aluno e com
aluno percebe que lida com dois tipos de saberes e de mestres: sé- os pais, nem em dar explicações de seus atos. O poder não costu-
rios, exigentes, detalhistas, que olham com lupa cada equação, ma dialogar com os súditos, nem dar explicações. 0 poder, quan-
que reprovam 7 0 % ou 50%. São os mestres que incorporaram o do não está seguro, não se expõe, oculta-se numa mística; neste
ethos da ciência nobre que ensinam; e os outros, os fáceis, com- caso, a mística da ciência e da técnica elevadas à categoria de sa-
preensivos, que não reprovam, que aceitam qualquer resposta ge- ber para poucos, saber difícil. O poder ilegítimo legitima-se no me-
ral - os mestres tão humanos quanto as humanas que ensinam. Os do, na repressão, na reprovação escolar - no medo da prova e do
primeiros, os saberes e os mestres de ciências exatas; os segun- vestibular. Será que os profissionais competentes e conscientes
dos, o resto. Para perceber essa dicotomia, basta acompanhar as dessas áreas não pararam para pensar por que as ciências e a ma-
tabelas dos resultados de provas bimestrais e finais de qualquer temática passaram a ser a expressão moderna da repressão e do
colégio, sobretudo daqueles que se prezam pela qualidade do en- autoritarismo para a adolescência e a juventude? Se se fizessem
sino e pela seriedade pedagógica, e de qualquer colégio público ou essa pergunta encontrariam razões científicas para esse fato?
privado que tente imitá-los no padrão de qualidade.
A concepção dicotômica entre técnica-ciência-cultura-políti-
Os jovens percebem que entre esses blocos do saber nobre e vul- ca chegou ao extremo de obrigar os adolescentes do 1º grau e os
gar, difícil e fácil, e entre os profissionais de cada bloco há tensões, jovens do 2º grau a se catalogarem nas duas categorias de alunos:
conflitos e brigas pelo poder e pela hegemonia. Os jovens notam alguns poucos, inteligentes e espertos, que podem escolher e pas-
que o bloco dos professores de ciências exatas vem ganhando de sar nas áreas nobres do vestibular, os futuros expert, bem-sucedi-
longe a parada. O conselho de classe, as coordenações de área, a dos em profissões nobres e lucrativas; ou os outros, que não nas-
própria coordenação pedagógica, os tempos e espaços e sobretu- ceram para ingressar no círculo restrito dessa minoria de sábios e
do as avaliações, as notas, a reprovação - as armas mais expressi- que terão de se contentar com um saber menos nobre, o saber do
vas do poder pedagógico - estão com os representantes do saber comum dos profissionais: das humanas - nem o adjetivo ciências
nobre. Os humanos e brandos educadores tomaram conta da é acrescentado a esse saber, sob pena de vulgarizar a dignidade da
infância e do pré-primário. Até a 6ª série ainda será aceita uma do- ciência moderna se aplicada a um saber tão fácil e inexato como o
se expressiva de humanidade e de humanas. Daí para frente o transmitido na história e geografia ou o saber estudado para as
controle e a direção pedagógica passam aos cientistas. Não há profissões de filósofo, pedagogo, historiador, sociólogo, advoga-
mais tempo para preocupar-se com a educação e a cultura. Res- do, professor e outras afins.
tam as figuras apegadas dos supervisores e orientadores sem po-
der, com a função de consolar pais e alunos, colocar curativos nas Como observava um aluno; os professores de ciências exatas exi-
feridas, os estragos educativos produzidos na personalidade débil gem que se prove tudo, o professor de história exige que a gente
de adolescentes e jovens, feridas não-quantifiçadas pelos sofisti- acredite em tudo. A própria mistura de humanas com moral e cívi-
cados matemáticos e cientistas impassíveis. ca, religião e retiros espirituais sugere ao aluno que nessa área a
atitude esperada é a f é, a crença. Será por isso que em humanas t o -
Os estragos da dicotomia dos passam? Até os professores e coordenadores de matemática,
física, química, biologia devem ter passado com facilidade; afinal,
Os jovens aprendem logo esta grande lição: se quiserem receber o qualquer humano pode acreditar no gesto humanitário da Princesa
carimbo de formados precisam se submeter ao poder destes pro- Isabel abolindo a escravatura. Um bom gesto a ser imitado por

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qualquer chefe ou gestor com seus subalternos na sala de aula ou za, da produção e do trabalho, esses jovens são submetidos a for-
na fábrica. Para alguma coisa servirá a formação integral aprendi- mas de pensar tecnicistas, empobrecedoras e formais. Exatamen-
da no colégio. te na fase de formação em que poderiam e deveriam ver a realidade
em que estão se inserindo de maneira mais global, mais indagado-
Na área de humanas tem havido ultimamente uma produção séria ra das múltiplas determinações históricas, sociais, políticas, cultu-
em pesquisa e reflexão e está chegando ao ensino de 1.º e 2º graus, rais que estiveram e estão presentes na produção, reprodução.
através dos livros de texto e dos professores. Porém os efeitos têm apropriação e aplicação da própria ciência e da técnica.
sido escassos exatamente porque persiste a dicotomia a que nos
referíamos, incrustada na materialidade da organização escolar, Ao jovem, futuro profissional e cidadão, é privado o acesso ao sa-
nas relações de poder, na escassez dos tempos, no desprestígio ber unificado, em nome de um ensino de qualidade que não passa
desse saber como vulgar, fácil e acientífico. Os alunos não têm de um adestramento no cálculo de fórmulas e no domínio de uma
tempo a perder no estudo desse saber de humanas que nada linguagem dita científica. Uma rápida análise dos livros de ma-
acrescenta às suas aspirações profissionais. temática, física, química e biologia revelaria que as atividades
científicas que ocupam mais de dois terços do tempo dos alunos
Ao jovem é ensinado demasiado cedo que as carreiras técnicas - o são expressas pelo termo CALCULE, CALCULE.
vestibular nas áreas nobres e rendosas -, diretamente vinculadas à
reprodução do lucro, não permitem perder tempo em crenças e Uma conseqüência lamentável dessa dicotomia ingênua reinante
interpretações a respeito do social. Não é essa a marca de tantos no segundo grau é obrigar prematuramente os jovens a opções
alunos formados em bons colégios hoje profissionais bem-sucedi- profissionais que se apóiam em bases falsas: os que têm facilida-
dos? de em matemática optam por profissões vinculadas à técnica, per-
mitem-se o luxo de entrar na universidade pela porta da frente; os
Não sonhamos com a possibilidade de os colégios reverterem a outros vagam sem rumo, deslocados, à cata da porta dos fundos.
realidade social; questionamos o fato de a escola se amarrar tão Até passou a ser normal nos colégios de qualidade oferecer, no ter-
servilmente a essa lógica, quando outras forças na nossa socieda- ceiro ano do segundo grau, áreas de concentração em ciências
de lutam em outras direções. exatas e, se dos 4 0 % reprovados na segunda série ainda sobrarem
alguns teimosos, fracos no saber nobre, poderá ser formada uma
As vítimas dessa decotomia entre técnica-ciência-cultura têm turminha de humanas. Mas colégio de qualidade dará toda facili-
sido os próprios profissionais do ensino, obrigados a mercantili- dade à concentração em ciências exatas. Para formar para a área
zar-se e a vender sua qualificação a serviço de uma concepção em- de humanas estão os colégios privados de segunda ou terceira
pobrecedora das ciências, da técnica e da cultura. As vítimas têm qualidade e, sobretudo, os colégios públicos.
sido também os futuros profissionais, castrados desde jovens na
sua capacidade de ir além de um saber utilitário, medíocre e de Sejamos lógicos e reconheçamos que os colégios privados vendem
uma sedução simplória da ciência à técnica aplicada à linguagem ensino e dependem da demanda. Afinal, a família de classe média
matemática. que se preza não poria seus filhos em colégios nobres para serem
formados para as profissões de mendicantes da área de humanas.
A grande vítima dessa dicotomia é o jovem educando. Na fase de Para estarem seguros de que tal não acontecerá, os coordenado-
abertura ao real, de formação de suas concepções básicas acerca res de matemática, exatas e biológicas orientarão seus professo-
da realidade social, das relações dos seres humanos com a nature- res para serem ainda mais duros e eliminar no 1º e2º ano do segun-
do grau os que não forem cobras nessas áreas. Afinal tudo certo Nestas duas décadas perdemos uma grande oportunidade de
segundo a lógica mais mercantil: só ficam no terceiro ano os que avançar na construção de um saber científico e na formação de ci-
passarão direto no vestibular das áreas nobres. A demanda pelo dadãos trabalhadores com uma visão mais científica do real. Preci-
colégio de qualidade estará garantida e com ela seu prestígio e o samos reconhecer que desta vez os próprios profissionais do ensi-
emprego dos mestres das ciências. Os reprovados se acomodarão no das ciências tiveram parcela significativa de responsabilidade. A
em colégios menos exigentes e aprenderão uma grande lição: que maior parte, contudo, cabe aos mercadores do ensino de qualida-
a ciência é para poucos e seus produtos para menos. de, que se vêm aproveitando da ilusão das camadas médias e dos
profissionais formados nesses mesmos colégios com uma base
As coordenações pedagógicas desses colégios se apressarão a
científica e cultural pobre, rebaixada ao nível das simples exigên-
justificar que não se trata de uma lógica mercantil, fria e calculista,
cias de um mercado de emprego pouco exigente e de um regime
movida a lucro, mas de uma lógica pedagógica, científica e até
político repressivo e excludente.
apostólica: manter o padrão de qualidade de nossa educação, for-
mar lideranças para o desenvolvimento do terceiro mundo.

O maior perdedor nessa dicotomia entre ciência-técnica-cultu- Nessa experiência social, política e econômica, autoritária e selva-
ra que vem orientando o ensino nas últimas décadas é sem dúvida gem das últimas décadas não deu nem para perceber a pobreza
a própria ciência. A crítica ao ensino livresco e pouco científico, fei- científica e cultural legada por esses colégios, mas para a expe-
ta na década de sessenta, tinha suas bases. Um tratamento mais riência presente, e a que espera aos jovens nas próximas décadas,
científico das ciências da natureza (e das ciências da sociedade deveríamos ser um pouco mais exigentes e retomar com maior se-
também) era urgente. riedade o direito dos profissionais-cidadãos deste país de terem
uma formação científico-cultural séria e consistente.
O que se vê hoje, entretanto, não é exatamente uma formação mais
científica, mas uma simplificação do saber científico, um reducio-
nismo utilitarista que envergonharia os grandes cientistas que nos Uma esperança pode vir do movimento de renovação existente nos
últimos séculos colaboraram em sua construção. Esse reducionis- próprios profissionais do ensino dessas áreas, o qual tenta reagir à
mo utilitarista em nada contribui para o avanço das ciências no país submissão servil a seus patrões, mercadores do ensino privado, e
nem para a formação do homem e seu domínio sobre a natureza. reencontrar os vínculos entre técnica-ciência-cultura-política.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


PONTOS DE VISTA

O ATO DE ENSINAR CIÊNCIAS* teúdo científico. A ação do professor, desse modo, não pode con-
sistir em negar o cotidiano fragmentado do conhecimento da
Amélia Império Hamburger** criança. Mas, ao contrário, em levá-la a superar essa visão para
Elvira CA. Souza Lima** que chegue ao conhecimento formalizado.

A questão do ensino de ciências - da compreensão dos conceitos No processo histórico de elaboração do conhecimento científico
científicos pelas crianças - sugere a necessidade de um processo verifica-se movimento semelhante: os cientistas partem da ação
contínuo de interação professor-aluno, o qual contenha as re- na prática, da análise de dados concretos, e teorizam, formando vi-
lações intrínsecas entre o conteúdo a ser ensinado e a metodologia sões muitas vezes fragmentadas e mesmo contraditórias, até que
de ensino. cheguem a um nível de compreensão que possibilite a observação,
a manipulação e a experimentação do real. Um cientista promove
Apresentamos aqui algumas considerações que, segundo nossas uma compreensão de uma totalidade, de um certo recorte da reali-
pesquisas e nossa prática, favorecem o estabelecimento de inte- dade.
rações dialógicas professor-aluno em sala de aula - condição de
aprendizagem criativa. Pode-se afirmar que essa construção de conhecimento ocorreu do
informal para o formal. Esse conhecimento que se formaliza cor-
Destacamos alguns elementos constitutivos do ato complexo de responde a representações de novas possibilidades de ação dos
construir conhecimento científico, em situação de aprendizagem: homens, instrumentos de transformação das ligações com a reali-
o conteúdo, os indivíduos envolvidos na interação (como professor dade, natural e social. Esse conhecimento passa de abstrato a con-
e como aluno), a formação do professor, a ação didática e cons- creto, de novo, pelo uso, pelo seu significado efetivo.
trução do conhecimento, e a avaliação da aprendizagem.
É nesse nível de disseminação do conhecimento científico que, por
Ensinar ciências deve partir do conhecimento cotidiano. A ciência sua vez, o professor vai atuar para ensiná-lo.
está no dia-a-dia da criança de qualquer classe social, porque está
na cultura, na tecnologia, no modo de pensar. Quando se parte do Trabalhar com o fenômeno cientificamente delineado, na sala de
cotidiano conhecido, o aluno se sente motivado a aprender o con- aula, implica partir do saber que a criança já possui. Este saber que
a criança constrói no cotidiano - pela observação e por infor-
mações diversas - é o ponto de partida para a ação pedagógica.
Entretanto, ele precisa ser confrontado com o conhecimento
* Trabalho resultante da participação das autoras no Primeiro Encontro Regional científico. Mesmo que não seja com a última teoria científica, mas
de Ensino de Ciências, Ribeirão Preto. SP. agosto de 1988
com alguma teoria que organize o conhecimento, desenvolvendo
** Professora do Instituto de Física da USP - Programa de Pós-Graduaçâo em
Ensino de Ciências. outras dimensões do pensamento. A criança lança hipóteses, que
*** Professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão P r e t o - USP. retira do dia-a-dia; porém estas hipóteses precisam ser teoriza-

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


das, esclarecendo-se a relação entre a ciência construída histori- conhecimento da criança, mas com o que se supõe que seja esta
camente e o cotidiano - este também diverso em cada época. capacidade - ou falta de capacidade.

O conceito não é, portanto, um conhecimento fechado em si mes- Sendo o professor, então, o mediatizador específico e impres-
mo, o qual se transmite à criança. Para ser aprendido, ele precisa cindível da situação em sala de aula, sua formação é fator funda-
ser construído por ela, com as possibilidades e diversidades das si- mental no fenômeno da aprendizagem.
tuações efetivas. Este fato deve, por sua vez, nortear a orientação
da ação pedagógica. A formação do professor que desenvolva capacidade de síntese,
visão de conjunto, para poder organizar e guiar a construção de co-
Também não se justifica limitar a priori o conteúdo que se vai ensi- nhecimento dos alunos, deve ser ampla, e abranger uma visão de
nar às crianças, com o argumento de que é necessário reduzi-lo ou educação também como valor cultural. Para tanto, precisa incluir
simplificá-lo para que elas o entendam. antropologia, sociologia, história, psicologia, lingüística, além de
conhecer as especificidades dos conteúdos científicos, de suas
Um mesmo fenômeno, que leva a um conceito científico, pode ser origens e evolução conceituai e de suas aplicações.
trabalhado de diversas maneiras, conforme o nível de ensino. No
caso da cinemática, por exemplo, conceitos mais complexos que, Trabalhar com o fenômeno científico na formação do professor
em geral, são introduzidos nas últimas séries do primeiro grau - implica partir do que o professor com alguma experiência de ensi-
como variações do movimento, velocidade, aceleração - podem no já faz, porque nesta ação existem sempre elementos de sua
ser ensinados mediante experiências de demonstração, de forma criatividade e de aprendizagem.
qualitativa, a crianças das primeiras séries do primeiro grau, e até a
pré-escolares. Uma familiaridade qualitativa poderá representar É importante, na formação do professor, que nele se incorpore a
base de referência para uma compreensão mais profunda dos idéia de que a ciência não é exatamente igual a realidade à qual diz
fenômenos da teoria da mecânica, em estudos posteriores. respeito. Ela é idêntica à realidade num determinado recorte, mas
não esgota todas as possibilidades de conhecimento desta reali-
A delimitação da amplitude com a qual o conceito será trabalhado dade.
depende da própria ação de ensino, tal como ela se define, e da re-
presentação que o adulto faz das possibilidades de compreensão O professor, ao ensinar ciências, tem de estar consciente de que vai
da criança. delimitar situações e tem de esclarecerão aluno que aquilo de que
se vai falar é válido naquelas condições e pode não valer para toda
Pouca disponibilidade para a exploração do pensamento da e qualquer situação.
criança acerca de um determinado conceito e pouca familiaridade
com as estratégias que ela utiliza para aprender tendem a levar o Assim, é função do professor fazer o recorte do fenômeno ao qual
professor a uma prática restritiva, revelada através da redução de se refere o ensino a ser realizado. Recortá-lo da melhor maneira
informações e da seleção do conhecimento que ensinará aos alu- possível, pensar a respeito dele, descobrir e permitir que o aluno
nos. faça este processo de perceber, captar e revelar/ver revelado. Este
é o mecanismo de compreensão: delimitar o fenômeno e ver reve-
Isto provocará o empobrecimento da ação didática, uma vez que lado naquele fenômeno o conceito científico que foi construído
não se estará trabalhando com a capacidade real de construção de historicamente.
A partir de uma prática que considera o conhecimento existente na A interação dialógica professor-aluno apresenta componentes
sala de aula, no sentido de organizá-lo, o professor passa a ver sua simétricos, nos quais se afirmam tanto a reciprocidade de
função de maneira diferente. Ele aprende a pensar de outras for- intenções de conhecer o conteúdo quanto a de se reconhecerem
mas, a olhar para o objeto de ensino, para o conteúdo de outras mutuamente como sujeitos ativos, criativos desse conhecimento.
maneiras que possibilitem novas dimensões de compreensão, li- Apresenta também componente assimétrico, presente na situação
bertando-se de formas antigas que não possibilitam construir um efetiva de fazer emergir um conhecimento novo, na qual professor
significado compreensivo. e alunos têm formação e experiência diversas.

Construir significados de várias perspectivas - da biologia, da an- Atualmente, o conceito de energia, por exemplo, pode parecer
tropologia, da física, da bioquímica, etc. - pode ser efetivo para se intuitivo para os alunos, que o percebem em seu cotidiano e nas
descobrirem, num significado, novas ligações com a realidade. conotações do uso atual. O professor preparado o conhece como
um conceito construído no contexto do século XIX, com as especi-
O estudo de uma formiga, por exemplo, possibilitará diversas for- ficidades de desenvolvimento técnico, matemático e conceituai
mas de desenvolvimento, conforme forem consideradas perspec- desta época. O professor está a par de um conceito científico que
tivas definidas por sua ação como inseto, na comparação com ou- teve, inicialmente, sua definição baseada nas leis da termodinâmi-
tros animais, na organização social, nos sistemas ecológicos, etc. ca para certos sistemas físicos, químicos e biológicos e cujo signi-
ficado evoluiu segundo as teorias modernas relativas a outros sis-
O significado da medida de um volume pode ser pensado de várias temas.
maneiras, conforme a definimos na situação de mobiliar uma sala,
de decidir sobre o processo de distribuição comercial de leite em O professor terá, portanto, conhecimentos específicos que o aluno
litros, ou de como tomar doses pequenas de remédios fortes, etc. não domina, mas que deverá dominar mediante a ampliação e a
transformação de seus conhecimentos, chegando à construção
O estudo das propriedades dos corpos, em seus movimentos e dos conceitos científicos com compreensão própria.
interações físicas, requer conceitos bem definidos se forem cor-
pos grandes (macroscópicos), na nossa escala de tamanho, ou pe- As teorias científicas e o conhecimento cotidiano apresentam rit-
quenos (microscópicos), em escala não-visível. mos diversos; entretanto, são combinados no ensino.

Um rápido levantamento dos modos de pensar dos alunos que ex- A avaliação da aprendizagem não é independente das questões já
pressam livremente seus pensamentos a respeito de conceitos a tratadas. A ação pedagógica estrutura-se e realiza-se em função
serem ensinados pode ser utilizado como guia significativo para o do próprio processo de avaliação a ser utilizado, e desta forma o
professor. contém. A metodologia de ensino abrange a forma de avaliá-lo;
assim, o ensino é norteado pela avaliação que dele será feita. Muitas
Com esta prática, o conjunto de alunos de uma classe deixa de ser vezes isto acarreta uma delimitação do conhecimento a ser apren-
inerte e passa a ser ativo em relação ao conhecimento. É neste mo- dido e uma limitação no ato de conhecer. Tal fato ocorre quando a
mento que o conteúdo emerge e que se define como parte indisso- avaliação efetua-se com o objetivo de implicar mais a devolução
ciável da metodologia de ensino. E o momento que se estabelece a estática de um conteúdo ensinado do que a ação dinâmica do pro-
ação pedagógica, que se institui o diálogo. fessor e do aluno em relação ao conhecimento a ser construído.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


Portanto, o ato de ensinar ciências não pode ser organizado tendo Origens do conceito de energia e entropia e as leis da
em vista unicamente um dos elementos que o constituem, sob pe- termodinâmica; A historicidade do conhecimento. São Pau-
na de perder o seu significado educacional. lo, 1 9 8 7 . Curso apresentado no 7.° Simpósio Nacional do En-
sino de Física.
0 conteúdo é assimilado e/ou transformado em função do ato de
aprender que se estabelece, pela forma como ele é comunicado, e Epistemologia da física para formação de professores.
das expectativas que se tem de como ele será assimilado e/ou São Paulo, Universidade de São Paulo, 1988.
transformado.
Estudos epistemológicos para a formação de professo-
res de física e como história e filosofia da ciência. São
Bibliografia Paulo, Universidade de São Paulo, 1988.
BAKHTIN, M.V. Marxismo e filosofia da linguagem; 1929- HAMBURGER, A. Império. Estudos históricos como instrumen-
1930.Trad. das versões francesa e americana de Laud e Fra- to de compreensão de conceitos e teorias da física; exem-
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e Cultura, São Paulo 35 (3): 307-1 3, mar. 1983. tor.
ENSINO DE CIÊNCIAS NAS ESCOLAS: UMA QUESTÃO EM ratórios, não realizam experimentos. E gostariam de fazê-lo, pois a
ABERTO vivência do método científico é para eles um mito. Os que tiveram
esta chance, em geral egressos de universidades públicas,
Marisa Ramos Barbieri* também não conseguem efetivamente dar aulas práticas, embora
até as programem. Alegam falta de condições apropriadas e se
sentem desencorajados para se lançarem sozinhos em um progra-
Laboratório: entre o mito, a mágica e a necessidade ma dispendioso - não há verbas e o tempo é curto. Laboratório -
aspiração de todos - não vinga em nossas escolas, mesmo nas
0 ensino das Ciências através de experiências tem aceitação unâ- estáveis, públicas ou privadas1.
nime entre professores, pais e alunos de nossas escolas. Todos
concordam que o ensino das Ciências só se efetiva se for acompa-
nhado de experiências em laboratório. Há reivindicações perma-
nentes dos professores, para que sejam montados laboratórios O laboratório possível
nas escolas, e dos alunos, para que sejam ministradas aulas práti-
Toda atividade de laboratório em escolas concretiza-se com a par-
cas de Ciências. Embora apontado por todos como condição bási-
ticipação efetiva de grupos de alunos. Com pouca orientação, eles
ca para aprender Ciências, o ensino experimental não se viabiliza
logo percebem o caminho e se dispõem a prolongar o programa de
em nossas escolas. Apenas algumas instituições ou professores -
professor, improvisando experimentos, iniciando ou reiniciando a
por período relativamente curto - conseguiram desenvolver pro-
organização do laboratório da escola. Ao professor cabe a tarefa
gramas de aulas com experiências. Mesmo com certas condições
de indicar bibliografia, orientar em classe - para que todos acom-
mínimas, os laboratórios ficam fechados a maior parte do tempo.
panhem -, com algum atendimento em intervalos de aulas e, even-
As razões apontadas são que os professores trabalham sozinhos,
tualmente, fora do período de aulas. A participação dos alunos é
de forma isolada, permanecem na escola apenas durante o perío-
imprescindível. Aí reside o sucesso das Feiras de Ciências, impor-
do em que ministram aulas e em poucas reuniões anuais, que têm
tantes enquanto programadas com antecedência, com o objetivo
mais caráter burocrático do que pedagógico. Embora consideran-
de ser um grande laboratório, onde grupos de crianças têm a opor-
do que professores têm dificuldade em coordenar sozinhos a reali-
tunidade - ainda que única no ano - intensa e curta de vivenciar a
zação de experimentos durante o período das aulas, a estas razões
concretização de alguns experimentos.
se soma uma mais grave, relacionada à maioria deles: durante
a sua formação em cursos de licenciatura, não têm acesso a labo-

As afirmações relativas à prática do ensino de Ciências são fundamentadas na


• Professora de Prática de Ensino de Biologia do Laboratório de Ensino de Ciências pesquisa de BARBIERI, M.R. e CARVALHO, C.P.: "Condições para o ensino de
das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade Ciências e Matemática em escolas estaduais de Ribeirão Preto", CAPES-PADCT/
de São Paulo. USP, 1 9 8 4 - 1 9 8 8 .

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


A importância de um laboratório de ensino das Ciências está muito A não-concretização do ensino experimental em Ciências, de for-
relacionada com a montagem dos experimentos, começando pe- ma sistematizada como se deseja, tem trazido graves distorções à
los mais simples, tradicionais, até mesmo aqueles roteiros anti- aprendizagem dos alunos. Uma delas relaciona-se ao uso exclusi-
gos. Isso porque, na montagem dos experimentos - em grupo e vo de livros didáticos ou até de apostilas, o que leva o aluno a acre-
com a preocupação de investigar -, outros experimentos devem ditar que a natureza e o cotidiano devem se apresentar como estão
dela derivar: um laboratório de ensino, ainda que ditado por um esquematizados nestes recursos, e não o inverso. É comum alunos
programa, é uma necessidade que deriva do próprio processo de de segundo grau - quando observam ao microscópio - exclama-
experimentar. Seus recursos não se esgotam com as experiências rem: "... estas células não são iguais as que eu conheço, as da
programadas, pois seu dinamismo exige permanente remaneja- apostila!". Além disso, como estes recursos são meras ilustrações,
mento entre outros laboratórios. Nestes recursos incluem-se li- não existe a preocupação com as proporções, e os alunos não per-
vros, áudios, vídeos, impressos, além do material de consumo e até cebem as relações entre medidas reais e esquemas; não retratam
algum equipamento. 0 laboratório de ensino das Ciências é um es- o contexto, o meio ambiente em que as relações ocorrem de forma
paço organizado, alimentado em parte pela produção científica de complexa 2 . E, pelas próprias condições da escola, professores não
outros laboratórios, até de instituições diferentes. Por essas ra- têm sequer trabalhado com alunos as observações mais diretas -
zões pode-se dizer que ele nunca está completo e que seu funcio- as da natureza/cotidiano ao seu alcance. Com isto são criados
namento, embora obedeça a uma linha metodológica, depende do alguns artificialismos, falsamente chamados de experiências, co-
aproveitamento das condições locais. mo o famoso exemplo de se colocar feijão para germinar em algo-
dão embebido em água e em copinhos descartáveis. Isto cria um
O professor concretiza a realização de experimentos? conflito para as crianças que já observaram plantar feijão no solo e
chuchu brotar na fruteira. Para as crianças a experiência da escola
Os professores que ainda realizam experimentos são os que de não é a explicação do fenômeno, pois acreditam que o algodão é
uma forma ou de outra desenvolveram aulas práticas nas licencia- um recurso indispensável à germinação. Não se ensina claramente
turas, enquanto alunos, ou em cursos para professores. Mas, para o que é germinar, e a experiência distorce as observações. Por ou-
realizar experimentos que possam dar início a um laboratório de tro lado, o professor de Ciências é responsável por uma progra-
ensino, é preciso se envolver também com pesquisa em ensino, as- mação complexa e não está preparado para articular os conceitos
sociada à exigência de algum treino em pesquisa na área específi- extraídos de uma observação ou experimento. Entretanto, tudo indi-
ca. Em ensino das Ciências - área que articula conhecimentos de ca que o caminho para o ensino das Ciências consistem em organi-
Física, Química, Biologia, Geociências -, o professor dificilmente é zar o programa mediante a interseção entre natureza/cotidiano/la-
competente, porque em geral domina apenas parte deste conjunto boratório/biblioteca/sala de aula e contar com assessoria de espe-
- a que estudou, relativa à licenciatura obtida. Entretanto, se elete- cialistas 3 .
ve algum envolvimento com pesquisa, se desenvolveu trabalhos
de investigação, terá condições de organizar programas experi-
mentais e caminhar rumo à instalação de um laboratório, ao mes-
mo tempo que proporciona ao aluno - elemento imprescindível Registro de visitas programadas de alunos de 1º e 2° graus ao L E C - Laboratório
neste processo - a construção de seu conhecimento cientifico. Is- de Ensino de Ciências - FFCLRP-USP. Cf. Relatórios Técnico-Criticos CAPES-
to tem sido impossível, porque, além do professor estar sozinho, PADCT, 1985-88.
3
BARBIERI, M.R. A ciência feita em casa. Educação e Sociedade, 6(18): 139-43.
não dispõe de recursos, falta-lhe tempo e o seu salário é cada vez Nesse artigo são sistematizadas algumas condições para articulação do ensino a
mais baixo. trabalhos de iniciação cientifica realizadas pelos alunos.
O ensino das Ciências tem problemas mais graves Geociências, unidas à Matemática. É preciso lembrar os estudos
feitos e as tentativas mais sérias para solucionar esta questão do
Por que problemas comuns a outras áreas de ensino são conside- currículo que licencia o professor de Ciências. Destacam-se reu-
rados mais graves no caso do ensino das Ciências? De fato, não niões, simpósios, mesas-redondas promovidos durante as reu-
são privativas da área do ensino das Ciências questões como dis- niões, anuais da SBPC8, o Encontro Anual "Perspectivas para o en-
tanciamento entre graduação e atuação profissional dos profes- sino das Ciências", da Profª Myrian Krasilchik 9 , entre outros.
sores; pouca relação entre os currículos das licenciaturas e perfil Cabe ressaltar, ainda, a luta da Associação dos Biólogos que, com
do profissional professor; frágil intercâmbio entre Universidade e afinco, defende o reconhecimento da profissão e procura criticar
1º e 2º graus; precárias condições de trabalho nas escolas, traba- os cursos de formação, visando a contribuir para sua reformu-
lho isolado do professor e seu infame salário. Todas sofrem o mes- lação. Mas pergunta-se como trabalhar as diferentes áreas do saber
mo problema; entretanto, na área do ensino de Ciências (primeiro na organização do programa de ensino das Ciências, de modo a
grau) acrescentam-se algumas dificuldades maiores. atender ao aluno no seu aspecto nobre, talvez o mais nobre: a sua
alfabetização/iniciação científica. 10 O biólogo foi eleito e ganhou a
Uma delas, sempre apontada, refere-se à formação do professor tradição para ensinar Ciências. É o seu maior mercado de trabalho.
de Ciências 4 , polêmica constantemente aberta em simpósios
organizados pela SBPC, SBF. Além de questões e projetos, um re- Um grande avanço na direção de se desenvolverem pesquisas que
sultado concreto foi a rejeição às licenciaturas de curta du- apontem um caminho seguro, como é esperado desta área, foi a
ração 5 , uma das grandes aberrações implantadas como medida Proposta Curricular (CENP-SP, 1986) 11 , que preferimos chamar de
de emergência na década de 70 6 . Abolidas da maioria das uni- projeto, pois contém as linhas gerais para se empreender uma total
versidades públicas, é ainda mantida em escolas superiores isola- reformulação no ensino, cuja ação, na época do lançamento da pri-
das, cujos egressos - comprovadamente despreparados - com- meira versão, foi duramente combatida pela grande imprensa pau-
põem o grande contingente de professores da nossa escola, prin- lista.
cipalmente a oficial, que cresceu às custas desta programada má
organização 7 . Graças a um empenho muito grande de poucos 7
KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo, EPU/EDUSP
cientistas, foi possível banir parte deste processo acelerado de 1987. p. 4 8 .
8
juntar, superficialmente, em curto tempo, áreas do saber tão am- GOMIDE, E.F. Os cursos de licenciatura e a formação de professores. A licenciatu-
plas e desenvolvidas, como Biologia, Física, Química e também ra na área de ciências naturais e exatas. Ciência e Cultura, 35(9): 1254-7.
SILVA, J . C Análise e conclusão sobre as licenciaturas em ciências a partir de do-
cumentos e discussões - regiões sul e sudoeste. Ciência e Cultura,
36(9):1 5 5 9 - 6 4 . Simpósio: a licenciatura em questão. Ciência e Cultura,
4
HAMBURGER, A. l. Alguns dilemas da licenciatura. Ciência e Cultura, 35(3) :307 - 40(2):143-63.
9
I, II e III Encontro "Perspectivas para o ensino das Ciências" — Faculdade de Edu-
5
BARROS, S.B.; SILVA, J.L.C.; GOMES, A.E Q.; HAMBURGER. A.l. Simpósio: As l i - cação da USP, 1986, 1987, 1988.
10
cenciaturas nas áreas de ciências exatas e naturais. Ciência e C u l t u r a , 35 (6): BARBIERI, M.R. Folha Avulsa n.° 1: Ciência e Alfabetização. LEC/FFCLRP-USP,
7 4 6 - 7 . HAMBURGER, A.l. Questões sobre a formação de professores de Ciên- 1984.
11
cias no Brasil, levantadas no debate sobre as licenciaturas curtas polivalentes. A Proposta Curricular para o Ensino de Ciências e Programas de Saúde - 1 ° grau
Ciência e C u l t u r a , 36 (9): 1 5 4 4 - 5 5 — CENP — Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas — Secretaria de
6 Educação de São Paulo, versão 1988. "... produto de um longo processo de
Resolução n.° 30, de 11.7.74, do Conselho Federal de Educação, que fixa os míni-
mos de conteúdo e duração a observar na organização do curso de licenciatura em construção que se foi forjando em sucessivas versões, através da colaboração
Ciências — conhecida como licenciatura curta e/ou parcelada. Documenta, CFE, decisiva de inúmeros educadores, (...) trata-se de uma proposta coletivamente
1 3 ( 1 6 4 ) : 5 0 9 - 1 1 , Brasília, julho de 1974. construída, mas não acabada".

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


O licenciado em Ciências Biológicas nem sempre sabe que pode e Há esperança
provavelmente irá lecionar Ciências. 0 curso de graduação que
freqüenta deve habilitá-lo a ensinar Biologia no segundo grau e A proposta atual para a qual se encaminham grupos de pesquisa-
quase nada tem a ver com o ensino de Ciências (primeiro grau), a dores é a de organizar projetos que visem à melhoria do ensino. Um
não ser com uma ou duas disciplinas relacionadas a Química e Físi- destaque especial para os corajosos pesquisadores que se dedica-
ca, incluídas no currículo de Ciências Biológicas, com as quais ge- ram e conseguiram apoio de fundações, entre elas a CAPES/
ralmente mantém uma relação pouco afetuosa. PADCT14. Neste sentido vale lembrar que, na maioria, são ligados a
universidades públicas e muitos, integrados a secretarias de
O licenciado em Ciências Biológicas geralmente é o professor de educação, como professores da rede pública do ensino. Reconhe-
Ciências, ainda que só nas regiões onde há universidades públicas. ce-se também a luta de centros de Ciências que em alguns esta-
Isto teoricamente, porque na prática os programas, os livros didá- dos conseguiram sobreviver 15 . Crescer fortalecido significa dar
ticos e principalmente as aulas de Ciências (primeiro grau) são um cunho (status) de pesquisa científica à área de ensino das Ciên-
"biologizadas". Sozinho, ele raramente consegue procurar um cias (e às outras também), e muitos desses projetos caminham
caminho diferente do trilhado por todos durante tantas décadas nessa direção. Pelo menos a nível de ensino das Ciências, para que
Cristalizando esta história, o professor de Ciências sugere a elimi- um programa seja condizente com a sua importância social
nação de conceitos de Física e Química da programação. Consul- convém derivar de estudos científicos sistematizados 16 .
tados durante o longo e importante período que antecedeu a ela-
boração da Proposta Curricular, os professores-representantes de
Ciências de todo o estado de São Paulo indicaram a "impossibili- Resgatando a história: o professor produz conhecimento ao
dade de tratar os conceitos de Química e Física da forma como es- transmiti-lo?
tavam sendo propostos pelos livros didáticos, na 6ª e 7ª séries res-
pectivamente" 12 . O esforço para melhorar o ensino das Ciências sempre foi maior do
que o registrado nas publicações existentes. Comparado ao número
de cientistas, é um grupo pequeno e bem determinado - personali-
Decorrentes da situação quase permanente e de difícil solução em zado, diríamos - que trabalha com ensino das Ciências da forma
que se encontra o ensino de Ciências (primeiro grau) surgem gra- como podem, aproveitando algumas brechas, criando um espaço
ves prejuízos à aprendizagem dos alunos, perceptíveis a nível de próprio onde devem atuar, em conjunto, universidades e secreta-
segundo grau, principalmente em aulas de Física e Química. Afeta rias da educação.O trabalho de interseção da formação (licencia-
portanto os alunos que poderão vir a ser professores - estes sem- tura) com a profissão (escolas de 1º e 2º graus) é complexo, pois
pre ex-alunos 13 significa caracterizar um plano administrativo inexistente. Em ge-
ral, esta iniciativa fica a cargo das disciplinas de Práticas de Ensino,

12 14
Proposta Curricular para o ensino de Ciências e Programas de Saúde — 1,° grau, Um exemplo é o programa "Melhoria para o ensino de Ciências", SPEC-CAPES-
versão 1988. p. 9. PADCT, Brasília, 1 983. Os projetos constam do Catálogo CAPES-PADCT, 1 986.
13 15
BARBIERI, M.R. 0 professor, um ex-aluno. Painel no I Encontro Regional de Ensi- l, II e III Encontro Nacional de Centros de Ciências, 1986, 1987, 1988.
16
no das Ciências. Ribeirão Preto, São Paulo, 1988. Ver Relatório do Encontro, Relatórios Técnico-Criticos dos projetos CAPES-MEC-PADCT-LEC-FFCLRP-
LEC-FFCLRP-USP. USP, 1985 a 1988.
tendo em vista a realização dos seus estágios supervisionados. E à tos, embora dificilmente tragam dados da sua aplicação, ou seja,
Prática de Ensino de Biologia cabe, de alguma forma, cuidar da sua validação empírica - pois não é um hábito do professor re-
também do ensino de Ciências (primeiro grau), sem contudo fazê- gistrar dados do desenvolvimento das aulas -, assim mesmo po-
lo devidamente. dem indicar os aspectos mais significativos, que seguramente ga-
rantem momentos de aprendizagem em sala de aula. Resgatar es-
Como resultado de esforço concentrado de pequenos grupos de te momento educacional, que inclui o teste em sala de aula, signifi-
educadores, deve-se citar a instalação de colégios de aplicação - ca sistematizar um trabalho já comprovado empiricamente e que
alguns ainda sobrevivendo -, escolas experimentais e vocacio- pode vir a ser um rico filão para a pesquisa em ensino de Ciências e
nais, estas fechadas no estado de São Paulo, no final da década de sua melhoria. Com apoio em afirmações de professores e alunos
60, e aquelas definhando a partir dos anos 70. Lamentavelmente de que - a despeito das condições adversas das escolas -, há mo-
pouco se sistematizou de toda esta experiência. O resgate de mentos significativos de aprendizagem, captá-los e contá-los é fa-
alguns registros e principalmente depoimentos já forneceu pou- zer história e permitir outras investigações.
cas mas significativas publicações a respeito destas inovações
educacionais, que atingindo a escola como um todo também se Mesmo o professor de universidade não é valorizado por este tra-
estenderam ao ensino das Ciências. balho que desenvolve e que pode vir a ser uma linha importante nas
pesquisas relativas a ensino, em especial o das Ciências. A nível de
Em relação à questão dos registros do processo educacional licenciatura, o professor do futuro professor, também pesquisa-
convém nos estendermos um pouco mais. Uma das possibilidades dor, com certeza transmite o conhecimento que procura produzir
para o resgate da história do ensino das Ciências seria feita me- na preparação das aulas da disciplina que leciona, incluindo a for-
diante a análise de registros dos professores e alunos. Quais regis- ma pela qual produz este conhecimento. Durante o desenrolar da
tros? Dos momentos em que o professor ensina e o aluno aprende. aula, há situações evidentes, passíveis de registro, em que, ao con-
Aqueles momentos em que se tem a convicção de que o professor teúdo programado pelo professor, se acrescenta a participação do
está produzindo um conhecimento especialmente para ser trans- aluno, interseccionando à forma de preparação ("ensino") a de
mitido àqueles alunos, naquela situação de aula. Há uma conversa compreensão ("aprendizagem"), indicando, assim, uma pista para
corrente nas escolas de que há determinados momentos especiais análise desta metodologia 17 .
em que o professor ensina e o aluno aprende.
Sempre há alunos participando direta ou indiretamente de progra-
Se se considera que o professor prepara suas aulas, em especial os mas pesquisados por professores. Constatar a participação dos
professores das universidades, cujas condições de trabalho possi- alunos que resulte em aprendizagem tem sido um dos objetivos
bilitam um ensino melhor, e que a preparação demanda um pro- dos trabalhos desenvolvidos no LEC - Laboratório de Ensino de
cesso de consulta à licenciatura e de seleção de conceitos apro- Ciências da FFCLRP-USP. A maior dificuldade relaciona-se à ques-
priados, pode-se afirmar que há um caráter de investigação embu- tão do registro. A valorização do ato de ensinar como uma ativida-
tido neste processo, que tende a ser mais investigativo e criterioso de igualmente científica só tem significado se submetida a investi-
à medida que o professor já tem envolvimento com pesquisas - o
que é usual em universidades. Os apontamentos de aulas destes
professores constituem importante registro para o resgate da 17
Entendemos por metodologia a trajetória percorrida pelo professor, desde a or-
história do ensino e seriam preciosa fonte para análises dos currí- ganização do conhecimento transmissível à análise de sua transmissão. O regis-
culos de formação de diferentes profissionais. Estes apontamen- tro do processo, incluindo a participação do aluno, é essencial.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


gações próprias de um projeto de pesquisa acompanhado do re- investigativa que caracteriza os trabalhos relativos a ensino das di-
gistro do processo, que na maioria das vezes ainda se pretende co- versas áreas do conhecimento. Entretanto, convém lembrar que
nhecer. O que e quando registrar, além do como proceder à docu- esta condição tem muito a ver com a desigualdade de tratamento
mentação, são questões presentes no cotidiano do LEC. entre pesquisa e ensino, existente mesmo nas universidades, até
em cursos de formação de professores. Se, por um lado, são ainda
Partimos do pressuposto de que o docente de universidade, espe- reduzidos os centros que conseguem ter credibilidade científica
cialmente da pública, tem envolvimento com pesquisa, possui por imprimir linha de pesquisa em atividades de ensino, por outro,
condições básicas para também sistematizar e divulgar o seu tra- faz parte da valorização da profissão de professor o fortalecimento
balho de professor. Os seus apontamentos de aula derivam de pes- da sua formação em bases mais científicas. A resistência dos pro-
quisa bibliográfica, e o professor recorre sempre a eles na reorga- fessores em se organizar, a nível das escolas, num projeto educa-
nização de suas atividades didáticas. Aqueles que se dedicam a cional de registro e análise do cotidiano - contribuição básica para
atividades de pesquisa, trabalhando mais a produção do que a a construção da memória da escola - tem raízes históricas que ex-
transmissão do conhecimento, durante a orientação dos graduan- plicam a sua formação. Uma delas é o fato de que o professor é
dos e pós-graduandos, estão também praticando um exercício sempre um ex-aluno. Tema bem explorado pela literatura, a escola
educacional que exige reorganização do conteúdo para atender as como um todo não consegue resistir a uma rotina que repete mo-
especificidades. Estes momentos mereceriam ser difundidos co- delos, guiados mais por imitações do que por reflexões criticas.
mo trabalho educacional, pois, além da divulgação restrita a espe- Professores, que através de trabalho persistente escapam à rotina
cialistas, o trabalho dos pesquisadores seria uma contribuição da escola e criam situações de aprendizagem, no dia-a-dia, sen-
educacional mais ampla. A revista Ciência Hoje parece-nos um tem a importância do seu trabalho mas não chegam a sistematizar
exemplo excelente desta consideração. as atividades e sequer se lançam ao registro destes momentos.
Reconhecemos que seria uma tarefa a mais na sua já atribulada vi-
Registro na escola: uma grande dificuldade da de professor, porém imprescindível.

Os arquivos das escolas são precários em registros que levem à Neste contexto, o investimento por vezes maior na melhoria do en-
construção da sua memória, condição essencial em projetos de sino de Ciências, o que tem ocorrido historicamente, não produz os
melhoria do ensino que incluem sempre a formação do professor. resultados desejados. As condições exigidas pelos programas de
Há um grande esforço dos pesquisadores da história da escola em Ciências têm custo mais alto do que o de outras áreas, pois envolve
encontrar dados - em geral reunidos por alguns poucos educado- a formação específica e metodológica dos professores, que preci-
res -, os quais se dispõem a dar depoimentos acerca do trabalho sam trabalhar na interseção das áreas de saber que constituem
escolar. No ensino das Ciências também não se tem o hábito de re- esse ensino. Ainda que suportado por avanço científico e tecnoló-
gistrar sequer os dados relativos à aplicação de alguns projetos gico maior, o ensino das Ciências também não tem uma política
inovadores, que se constituíram em contribuição importante. Ge- educacional-científica correspondente. É uma questão em aberto.
ralmente os dados se perdem, a divulgação não ocorre e as boas
Uma proposta para divulgar o ensino das Ciências
aulas ficam restritas à memória dos ex-alunos. O reconhecimento
da história do ensino, e nele a trajetória da formação do professor Pelo projeto que desenvolvemos há anos, tudo indica que os apon-
visando a sua melhoria, depende do resgate de dados e de um pro- tamentos de aulas merecem ser analisados e sistematizados para
cesso sistemático de divulgação das análises. A falta de documen- divulgação. É um processo demorado. A condição básica é o tra-
tos explica, de alguma forma, a tendência mais descritiva e menos balho em grupo.
Pelos estudos que vimos desenvolvendo, depende do trabalho ocorrência da situação de aprendizagem. E a contribuição escrita
conjunto de especialistas, pesquisadores e professores envolvi- que se pode exigir de um professor, nos limites do seu trabalho de
dos num projeto de pesquisa que vise ao ensino das Ciências. Do ministrar aulas seguidas; visa a documentar a situação de um con-
projeto derivam programas a serem testados. texto em que produção e transmissão de conhecimento se harmo-
nizam. A proposta é descaracterizar a tendência do ensino das
Os graduandos, principalmente os estagiários das Práticas de En- Ciências marcada pelo conteúdo ditado pelas Ciências, sem a con-
sino, que ministram cursos aos alunos de 1º e 2º graus, têm parti- sideração do aspecto educacional. Sendo avulsa instiga a investi-
cipação importante nas decisões e relato dos programas desen- gação de sua seqüência segundo a mesma proposta metodológica
volvidos. São os alunos que concretizam o contato entre os profes- para se organizarem programas.
sores especialistas, na procura de assessoria para a organização
das atividades. Embora o professor trabalhe sozinho, não é tarefa para um só; a
proposta inclui a participação de alunos auxiliando no registro e na
No LEC trabalha a equipe permanente, composta de professores, organização dos apontamentos, num trabalho em que ao mesmo
técnicos e estagiários, a qual programa, executa e registra o pro- tempo estão atestando a sua aprendizagem no contexto em que
cesso, mantendo contato com a equipe de apoio, principalmente ocorre, ou seja, consideradas as limitações, dentro do possível, do
de assessoria dos especialistas, e eventualmente com monitores e chamado "real" da sala de aula. São registradas as manifestações
professores da rede pública de ensino. A equipe permanente se ocorridas durante a aula e consideradas evidências de aprendiza-
reúne com os especialistas sempre que necessário, procurando gem; o conteúdo para uma Folha Avulsa surge de uma dúvida, co-
obter a indicação segura do conteúdo e a forma como foi produzi- mentário ou resposta apresentada em sala de aula, ou mesmo de
do. Auxiliada pela literatura, a equipe permanente tem a uma conversa ou discussão sobre assunto relacionado a progra-
incumbência de selecionar idéias básicas relativas aos programas, mas de Ciências. O registro refere-se às manifestações dos pro-
consultar arquivos dos eventos realizados pelo LEC, reunir-se com fessores e alunos, documenta a trajetória do raciocínio - eviden-
especialistas, discutir com licenciandos, professores e alunos de ciado por esquema, referências, comentários -, como a interação
1º e 2º graus. O ir e vir dos contatos e consultas que subsidiam as ocorre, os meios que levaram à aprendizagem dos alunos. A docu-
reuniões de decisões dos programas fica a cargo de graduandos mentação sistemática destes momentos permite o conhecimento
estagiários de Prática de Ensino e bolsistas do LEC. de processos educacionais, cuja importância escapa aos próprios
professores que os possibilitam. Investir na formalização e divul-
Como a proposta é metodológica, a equipe permanente tem sem- gação destes momentos é a proposta da Folha Avulsa.
pre presente a preocupação de registrar e analisar o processo de
elaboração e execução dos programas pelos grupos. Como seria a linguagem? A de um trabalho de divulgação, com o
estilo de cada grupo, evitando descrições. A Folha Avulsa não pre-
Folha Avulsa: forma de divulgação do ensino das Ciências cisa ser longa, no máximo 2 a 3 laudas, com caráter de divulgação
científica. A redação, em geral, é refeita muitas vezes e, antes da di-
Resgatar a história do ensino das Ciências a partir do reconheci- vulgação, a Folha Avulsa é avaliada em sala de aula. Esta avaliação
mento do trabalho do professor em situação de sala de aula é a é acompanhada de registro, que geralmente sugere nova Folha
idéia básica da Folha Avulsa. Folha porque é o registro de um mo- Avulsa. Para divulgação são selecionadas as que mais bem retra-
mento considerado significativo em que a aprendizagem ocorre. tem as situações de aprendizagem criadas pela interação profes-
Avulsa para facilitar o registro durante o próprio processo de sor-aluno.

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No LEC temos redigido algumas Folhas Avulsas 18 e concluímos ram e mais diretamente o aluno - o futuro professor - nos permite
que a proposta é complexa. Há muita dificuldade em romper a re- perceber as condições em que se processa o ensino de Ciências e o
sistência de alunos e professores ao registro e à aceitação de que que há de bom nas nossas escolas que vale ser divulgado.
ele consegue investigar o seu programa (ou parte dele). Iniciar gru-
pos de trabalho também é difícil. Situações importantes percebi-
Mediante "cortes" em aulas de agora, registrar e divulgar a história
das que merecem registro e que levaram à redação de Folhas Avul-
do ensino das Ciências - evidenciando momentos importantes pa-
sas são: alunos do 2° grau não dominam o conceito de tempo e por
ra sua melhoria - é mais um objetivo das Folhas Avulsas, parte sig-
isso não entendem a história, fósseis, evolução da Terra, dos seres
nificativa na construção da Memória da Escola.
vivos; professores trabalham com o conteúdo dos livros didáticos,
em que conceitos como germinação de sementes são incomple-
tos; a vida microscópica é difícil de ser imaginada; o comportamen- Insistimos: é um trabalho para grupos, com assessoria e colabo-
to de animais é sempre uma curiosidade; interesse em conhecer os ração das instituições entre si, principalmente universidades,
critérios básicos para proceder à classificação de vegetais, entre através do intercâmbio entre cursos de licenciatura e escolas de 1º
outros. e 2º graus. Trata-se de valorizar o professor e de resgatá-lo em
condições reais, na medida do possível, fortalecendo a escola pú-
A oportunidade de conviver com especialistas que nos assesso- blica.

18
Coleção de Folhas Avulsas. Mimeo. LEC, 1987.
A EVOLUÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA DESTI- Os livros didáticos do período anterior a 1930
NADOS AO ENSINO SECUNDÁRIO
Até 1930, os livros didáticos caracterizavam-se como compên-
Eduardo Fleury Mortimer* dios de química geral, o que é coerente com a então estrutura do
ensino secundário de química. A ausência de um sistema de ensi-
Neste artigo iremos discutir a evolução dos livros didáticos de quí-
no bem estruturado, em conseqüência, contribuía para a não-se-
mica sob um aspecto mais geral, realçando as principais carac-
riação dos estudos secundários. Nesse contexto, não fazia sentido
terísticas que um determinado período imprime aos livros. Os
pensar em livros por série, já que os estudos secundários tinham
períodos escolhidos correspondem, a partir de 1930, à vigência
objetivo propedêutico em relação aos exames preparatórios. Em
das reformas de ensino que ocorreram ao longo da história da
virtude dessa característica do período e da dificuldade em encon-
educação brasileira.
trar livros tão antigos, selecionamos todos os compêndios de quí-
De meados da década de 30 até 1960 tivemos uma grande homo- mica que encontramos, independentemente da indicação de que
geneidade entre os livros, fruto da existência de programas oficiais tivessem sido usados na escola secundária ou nos cursos superio-
seguidos à risca. A década de 60 apresenta a maior quantidade de res. Essa escolha revelou-se acertada, pois o conteúdo dos livros
livros com abordagens e conteúdos diversos, de acordo com o usados no curso secundário, como por exemplo o de Teixeira
espírito liberalizante e descentralizador da Lei de Diretrizes e Ba- (1875), adotado no Colégio Pedro II (Lorenz, 1 986), é praticamen-
ses da Educação Nacional de 1 9 6 1 . te o mesmo dos que foram usados em cursos superiores, como o
de Oliveira (1898), adotado na disciplina de Química Geral da Es-
O período anterior a 1930 foi considerado como um todo, princi- cola de Medicina do Rio de Janeiro. Os onze livros consultados pa-
palmente em função da situação do ensino secundário brasileiro ra esse período acham-se no Quadro 1.
da época. As treze reformas desse grau de ensino, levadas a cabo a
partir de 1838, quando entrou em funcionamento o Colégio Pedro Os livros do período apresentam, em geral, uma pequena parte de
II, não conseguiram alterar o quadro de desorganização geral do química geral, seguida de outra, de química descritiva, bastante
ensino secundário. A existência do Colégio Pedro II como modelo extensa. A de química geral apresenta-se bem estruturada na
para os ginásios das províncias equiparados não conseguiu impor maioria dos onze livros já mencionados. As principais definições
uma estrutura capaz de fazer frente aos chamados exames pre- aparecem em meio a uma gama variada de exemplos, em textos
paratórios, que garantiam o acesso aos cursos superiores para muito bem encadeados. Não há uma preocupação em conceituar
qualquer cidadão neles aprovado, independente de ter ou não cur- para depois exemplificar. Em geral o livro discute exemplos de de-
sado um ginásio regular (Moacir, 1 9 3 6 , 1 9 4 1 ; Gomes, 1 9 4 8 ; Hai- terminados fenômenos que vão conduzir, naturalmente, a um con-
dar, 1972). ceito. Dessa maneira, os exemplos são discutidos e explicados
antes de serem generalizados em conceitos, e quase todos estes
são apresentados, em primeiro lugar, operacionalmente. Depois
* Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. de introduzidas as teorias, são retomados por meio de definições

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


conceituais. É o caso dos conceitos de corpo simples e corpo pois neles os conceitos estão mais bem explicados. A tendência
composto. Outro aspecto importante é o fato de o número de con- dos livros didáticos de 1 9 3 0 em diante é ir abandonando a postura
ceitos ser muito reduzido em relação aos livros didáticos pós- de primeiro exemplificar para, só após a discussão de vários exem-
1930. Isso possibilita um melhor relacionamento entre os diver- plos, generalizá-los mediante um conceito. O que se observa, a
sos conceitos. partir de 1930, é a introdução do conceito seguida de exemplos.

Uma outra característica interessante dos livros do período é a Uma característica dos livros do período, inalterada ao longo da
ausência completa de exercícios ou questionários. É razoável su- história, é a ausência de sugestões de experimentos. Embora na-
por que tal atividade fosse vista como de competência dos profes- quele primeiro período os livros sejam ricos em fatos experimen-
sores. Além disso, a maioria dos aspectos abordados na parte de tais muito bem descritos, não é comum apresentarem sugestões
química geral o era de maneira qualitativa. A única exceção refere- de experimentos a serem realizados pelos alunos. Essa caracterís-
se às leis ponderais e volumétricas das reações químicas, que tica é marcante nos livros didáticos brasileiros. São poucas as ex-
apresentavam também uma abordagem quantitativa. Assim, não ceções, como a obra de Leão (1940) e a de Esperidião e Lima
devia ser hábito naquela época o que mais tarde se tornou lugar- (1977). Mais recentemente, a partir do final da década de 70, sur-
comum no ensino de química: a resolução de exercícios. gem projetos de ensino de química em que uma das preocupações
centrais é a introdução de tais experimentos, como parte integran-
A apresentação gráfica dos livros do período é algo que não se te do curso. Esses projetos têm grande importância na melhoria do
alterará até a década de 6 0 : eles trazem quase que exclusivamente ensino de química no 2º grau, mas infelizmente seu alcance é limi-
textos; os títulos ocupam pouco espaço, e as ilustrações são em tado, se comparado ao dos livros didáticos mais usados.
número bem reduzido. Os conceitos já aparecem sublinhados de
alguma forma na maioria dos livros consultados. Normalmente es- Em relação à atualização dos conteúdos, pode-se dividir o primeiro
se destaque é dado por uma impressão em tipo diferente, ou pelo período em duas partes. A que corresponde ao século XIX apre-
uso de negrito. senta livros muito atualizados, cujos autores discutem, em pé de
igualdade com cientistas europeus, o significado de novos concei-
A totalidade dos livros preocupa-se em discutir as implicações f i - tos. Assim, a polêmica em torno do dualismo ou unitarismo mos-
losóficas dos conhecimentos químicos. Dessa forma, todas as tra-se viva nos livros contemporâneos a essa discussão. Em re-
afirmações que decorrem da hipótese atômica são acompanha- lação a vários temas da química clássica isso se repete. É o caso da
das de várias ressalvas que explicitam que, apesar da grande con- polêmica em torno das valências constantes ou variáveis. Livros
tribuição dessa hipótese para o atendimento da química, não há publicados na década de 80 do século XIX já traziam informações
ainda uma comprovação experimental. O mesmo ocorre em re- relativas à hipótese do carbono tetraédrico, de Le Bel e Van't Hoff.
lação à maioria das classificações - de elementos ou de compos-
tos - apresentadas neste período. A classificação dos corpos sim- A partir do início do século XX, essa situação começa a mudar. Os
ples em metais e metalóides, derivada da teoria dualística de Ber- livros apresentam certa inércia, não conseguindo acompanhar a
zelius, por exemplo, é acompanhada de uma série de ressalvas so- evolução vertiginosa dos conhecimentos, neste começo de sécu-
bre suas limitações. lo. Ao mesmo tempo, observa-se a dificuldade em abandonar cer-
tos conceitos e teorias já em desuso. Assim é que, em relação à
Consideradas todas essas características, pode-seafirmar que, em teoria atômica, os livros persistem numa abordagem clássica, sem
conjunto, os livros didáticos do período são, em geral, os melhores, incorporar a noção de estrutura atômica. Apenas uma obra desse
período (Franca, 1919) faz referência ao átomo nuclear e discu- trar essa distinção. Quando se faz essa mistura, é possível separar
te o significado da divisibilidade do átomo para o conhecimento os componentes mediante a ação de um ímã, que atrai a limalha e
químico. Mesmo assim, e esse fato vai perdurar ainda após 1 930, não o enxofre, ou seja, o enxofre e o ferro conservam suas proprieda-
O autor é incapaz de aplicar esse novo conhecimento acerca da es- des, o que nos leva a concluir que não houve combinação, mas
trutura atômica em outras noções, como a de valência, que conti- apenas uma mistura-que é um fenômeno físico. No entanto, quan-
nua sendo enfocada classicamente. O mesmo se observa em re- do se aquece essa mistura, o enxofre reage com o ferro, dando ori-
lação à explicação das forças interatômicas e intermoleculares, gem ao sulfeto de ferro, que não conserva as propriedades magné-
como afinidade e coesão, que continuam sendo tratadas de ma- ticas do ferro. Portanto, aqui há uma combinação, pois as proprie-
neira bastante nebulosa. dades do produto final diferem das propriedades dos reagentes
iniciais. Essa mudança nas propriedades caracteriza um fenômeno
E relação ao outro fato já mencionado - a dificuldade em abando- químico. Muito bem! Um belo exemplo, fácil de ser reproduzido
nar teorias e conceitos ultrapassados -, o exemplo mais notável é o junto com os alunos. Só que, na prática, dificilmente dá certo. Ten-
da teoria dos tipos moleculares, que permanece em vários livros do tamos reproduzir essa experiência de todas as maneiras possíveis
século XX, quando havia caído em desuso no próprio século XIX. e imagináveis, mas não conseguimos obter o composto desejado
Desse modo, todos os livros do início de século XX ainda a trazem A mistura final, apesar de não poder ser separada, continuava a ser
como um tópico integrante da discussão das fórmulas molecula- atraída, ainda que levemente, por um ímã. Assim a evidência final
res e gráficas. E mesmo em alguns livros pós-1930 as fórmulas tí- para a reação - a extinção das propriedades magnéticas do ferro -
picas derivadas dessa teoria continuam a aparecer, embora com não é fácil de ser obtida, o que acaba por invalidar a experiência.
ressalvas (ver, por exemplo, Amaral, 1918, p. 48 a 4 2 ; Nobre,
1920, p. 83 a 8 5 ; 1933, p. 90 a 9 2 ; Franca, 1933, p. 93 a 9 5 ; Encontramos esse mesmo exemplo em praticamente todos os li-
Alves da Silva, 1936, p. 238). vros a que tivemos acesso - de 1833 até 1987. Também um pro-
jeto alternativo atual, o PROQUIM, em sua primeira versão experi-
Essa última característica - a inércia dos livros didáticos - faz com mental, de 1982, traz essa experiência sob o título de "0 que é
que certos assuntos, já ultrapassados, sejam repetidos sem ne- uma transformação química" (PROQUIM, 1982, p. 8 a 16).
nhum questionamento. Um bom exemplo é a definição de corpo,
que aparece em todos os livros didáticos, desde o século XIX. Se Os livros didáticos do período correspondente à vigência da
naquela época tal definição fazia sentido, pois correspondia à Reforma Francisco Campos
noção atual de substância - há também as definições de corpo
simples e corpo composto -, o mesmo não se pode dizer em re- A partir de 1 9 3 0 os livros didáticos sofrem algumas alterações im-
lação à definição atual de "uma porção delimitada de matéria". portantes, a maioria delas em conseqüência direta da Reforma
Justamente essa inércia contribui para que, até hoje, os livros co- Francisco Campos (1931). A primeira é na própria apresentação:
mecem por definir matéria para, depois, definir corpo. E isso é as- passam de compêndios de química geral, não-seriados, a livros de
sim há 150 anos! química, por série, com o conteúdo de acordo com o programa ofi-
cial daquela Reforma. Dos oito livros analisados, desse período, a
Essa inércia é uma vez mais salientada por um dos fenômenos metade ainda mantém a característica de compêndio de química
apresentados para distinguir mistura de combinação, ou fenô- geral, não-seriado. Os demais já incorporam a seriação, em virtude
meno físico de fenômeno químico. Os livros didáticos usam a ex- da citada Reforma. Isto, a nosso ver, se explica pela própria carac-
periência de misturar enxofre em pó com limalha de ferro para ilus- terística do período de transição do sistema não-seriado para o

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


sistema seriado. São necessários dez anos de vigência do sistema
seriado para que todos os livros se adaptem a ele. A lista desses oi- LIVROS DO PERÍODO CORRESPONDENTE A VIGÊNCIA DA
to livros encontra-se no Quadro 1, a seguir. REFORMA FRANCISCO CAMPOS

QUADRO 1: FACCINI, Mário. Física e química; quarta série. 3.ed. Rio de Janei-
LIVROS DIDÁTICOS DE CADA PERÍODO ro, F. Briguiet, 1939.
FRANCA, Leonel. Apontamentos de química geral. 6 e d . Rio de
LIVROS DIDÁTICOS DO PERÍODO ANTERIOR A 1930
Janeiro, Pimenta de Mello, 1933.
AMARAL, Tibúrcio Valeriano Pecegueiro do. Elemento de chimi- FROES, Arlindo. Química; quarta série. Rio de Janeiro, Francisco
ca inorgânica. 3.ed. Rio de Janeiro, Instituto de Artes Gráfi- Alves, 1939.
cas, 1918. LEÃO, Arnaldo Carneiro. Química; iniciação ao estudo dos fenô-
FRANCA, Leonel. Apontamentos de chimica geral. Rio de Janei- menos químicos, terceira série. 4.ed. São Paulo, Ed. Nacional,
ro, Drummond, 1919. 1940.
NOBRE, Francisco Ribeiro. Tratado de química elementar. 14.ed.
HOMEM, Joaquim Vicente Torres. Compêndio para o curso de
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Rio de Janeiro, H. Garnier, 1898. SILVA, A.B. Alves da. Noções de química geral. 2.ed. Porto Ale-
PALHINHA, Ruy Telles. Elementos de chimica, 1º ano. Lisboa, gre, Globo, 1936.
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PINTO, Antônio José de Souza. Elemento de pharmacia, chimi-
ca e botância. Ouro Preto, Typ. Silva, 1937.
PINTO, Pedro Augusto. Noções de chimica geral. 2.ed. Rio de Ja- LIVROS DIDÁTICOS DO PERÍODO DE 1943 a 1960
neiro, Francisco Alves, 1913.
SERRÃO, Custódio Alves. Lições de chimica e mineralogia. Rio AMARAL, João B. Pecegueiro do. Compêndio de química; quími-
de Janeiro, Typ. Nacional, 1833. ca geral. 6.ed. Rio de Janeiro, F. Alves, 1944. v . 1 .
TEIXEIRA, João Martins. Noções de chimica geral baseadas nas AMARAL, Luciano F. Pacheco do. Química; primeira série; curso
doutrinas modernas. Rio de Janeiro, S.J. Alves, 1875. colegial. 3.ed. São Paulo, Ed. do Brasil, 1956.
TROOST, Louis. Compêndio de chimica. Rio de Janeiro, H. Gar- BONATO, Firmino, Ir. Química, terceira série. São Paulo, Ed. do
nier, 1900. Brasil, 1959.
CARVALHO, Geraldo & SAFFIOTI, Valdemar. Química para o 1º
ano colegial. 7.ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1 9 5 6 . LIVROS DIDÁTICOS ATUAIS

Química para o 3° ano colegial. 14.ed. São Paulo, Ed. Na- CREPALDI FILHO, José & TARANTO, José Marcos. Química 1; 2º
cional, 1958. grau. Belo Horizonte, Lê, 1 9 8 1 .
COSTA, Carlos & PASQUALE, Carlos. Química, 1ª série; curso co- FELTRE, Ricardo. Curso básico de química; química geral. São
legial. 14.ed. São Paulo, Ed. do Brasil, 1957. Paulo, Moderna, 1985. v . 1 .
Química; terceira série; curso colegial. 6.ed. São Paulo, Ed. Química; química geral, São Paulo, Moderna, 1982. v . 1 .
do Brasil, 1959.
LEMBO, Antônio & SARDELLA, Antônio. Química. São Paulo, Áti-
DECOURT, Paulo. Química; 1° livro; ciclo colegial 3.ed.São Paulo, ca, 1987. v.1
Melhoramentos, 1949.
SARDELLA, Antônio & MATEUS. Curso de química; química ge-
Química; 3.° livro; ciclo colegial. São Paulo, Melhoramen- ral, São Paulo, Ática, 1 984. v . 1 .
tos, 1964.
SILVA, Edson Braga da & SILVA, Ronaldo Henriques da. Curso de
MACEDO, Luiz. Química; 4.ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1949. v . 1 . química 1. São Paulo, Harbra, 1979.
SIMAS FILHO, Eduardo. Química; 1º ano científico. 3.ed. Rio de Princípios básicos de química 1. São Paulo, Harbra,
Janeiro, F. Briguiet, 1953. 1982.

Apesar desse fato, com exceção de Pinto e de Nobre, todos os de-


LIVROS DIDÁTICOS DO PERÍODO DE 1961 a 1970 mais trazem referências ao programa oficial da Reforma Francisco
Campos. Silva afirma, no prefácio, que não seguiu a ordem e as di-
visões do programa oficial, mas que "para facilitar ainda mais ao
AMADO, Gildásio. Química para o terceiro ano colegial. São
Paulo Ed. Nacional, 1 9 6 1 . aluno, que muitas vezes deseja ver aquele mesmo título que os
programas trazem, transcrevemos estes indicando os números
AMARAL, Luciano F. Pacheco do. Química geral e inorgânica; marginais (grifo do autor) em que poderão encontrar a matéria pe-
São Paulo, Ed. Brasil, 1969. v . 1 . dida..." (Silva, 1936, p. 7).
BORZANI, Walter et alii. Fundamentos da química; teoria. São
Observa-se a influência do programa oficial em outros aspectos. A
Paulo, Ed. Clássico-científica, 1960.
maioria dos livros consultados traz retratos e pequenas biografias
MURAD, José Elias & RIOS, RAIMUNDO G. Química inorgânica. de vultos históricos da química, obedecendo à orientação do pro-
5.ed. Belo Horizonte, B. Alvares, 1964. grama oficial. Alguns apresentam, além disso, um esboço da
história da química, da antigüidade até os dias atuais.
PIMENTA, Aluísio & LENZA, Duílio de P. Elementos de química;
ciclo colegial, São Paulo, Ed. do Brasil, 1966. v . 1 .
Um outro tipo de inovação importante que marca este período é a
Elementos de química; ciclo colegial, São Paulo, Ed. Na- introdução de um maior número de ilustrações e de esquemas,
cional, 1964. v.2. para mostrar os modelos de estrutura atômica e estrutura molecu-

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lar. Muitos autores preferem se utilizar de esquemas de aparelhos elementos, fato que obriga os livros didáticos a tratarem do as-
no lugar de fotos. Também a partir deste período que alguns livros sunto, o que não acontecia antes de 1 9 3 0 com a maioria deles.
incorporam exercícios, problemas e questionários ao final da obra
e/ou de cada capítulo. Isso caracteriza somente uma minoria de li- Essa atualização inclui vários temas: o átomo nuclear e quantiza-
vros até o fim da década de 50. A partir dos anos 60, a maioria dos do, segundo o modelo de Rutherford-Bohr, nomenclatura que
livros consultados apresenta questionários e exercícios ao final de passa a ser usada desde então para designar o átomo planetário
cada capitulo. com órbitas quantizadas; as conseqüências desse modelo para
uma teoria eletrônica da valência, abordadas por todos os livros ci-
A preocupação filosófica com o significado das teorias frente à tados, à exceção de Franca e de Nobre, que apenas se referem
realidade química, apontada para o primeiro período, permanece ao modelo do átomo nuclear de Rutherford e dele não tiram nenhu-
no segundo. A maioria dos livros traz discussões a respeito do sig- ma aplicação para a noção de valência; a classificação periódica,
nificado da divisibilidade do átomo para a química, e também da que passa a ser apresentada em ordem crescente do número atô-
transmutação dos elementos, sonho dos antigos alquimistas reali- mico e não mais do peso atômico, embora apenas Froes e Facci-
zado pelos físicos, etc. ni a considerem como à mais perfeita classificação de elementos
que hoje vigora (Froes, 1939, p. 75), pois os outros autores conti-
Uma alteração importante em relação aos livros do período ante- nuam a apresentá-la como uma dentre as muitas classificações de
rior é o fato de que muitos conceitos deixam de ser introduzidos elementos.
operacionalmente. Nas oito obras pesquisadas - com exceção do
de Puíg -, substância simples e substância composta são defini- Do mesmo modo, a maioria dos autores não revê uma série de con-
das conceitualmente a partir da noção de átomo, ou seja, substân- ceitos que continuam a ser abordados segundo as teorias da quí-
cia simples é constituída por apenas um tipo de átomo, enquanto mica clássica. É o caso, por exemplo, de elemento químico, que
substância composta é formada por dois ou mais tipos de átomo. não é redefinido como uma espécie química caracterizada pela
Os livros do período anterior definiam, primeiramente, substância carga nuclear. Esses autores continuam a afirmar que o refina-
simples como a que não pode ser decomposta por meios químicos. mento dos processos de análise poderá aumentar o número de ele-
Só depois de introduzida a hipótese atômica; essa definição era mentos químicos, pois certas substâncias, tidas como simples,
revista conceitualmente em termos de átomos. A nova aborda- podem se revelar compostas por esses processos mais refinados
gem, presente mesmo num livro escolanovista, como o de Leão de análise. Ora, isso só era verdade segundo as teorias da química
(1940), marca uma tendência à valorização dos conceitos atomís- clássica que não viam o átomo como um conjunto de partículas. A
ticos no ensino de química, a qual se inicia nesta época e perdura partir do momento em que um átomo de um elemento químico
até hoje. De certa forma, isto opõe-se ao ideário escolanovista que passa a ser identificado pelo número de partículas positivas em
parece ter orientado, pelo menos, as intenções implícitas no ensi- seu núcleo, essa afirmação perde o sentido.
no de química da época.
Igualmente, grande número de autores continua a apresentar as
Uma outra mudança importante nos livros desse período refere-se forças de coesão e afinidade como de origem desconhecidas, res-
à atualização, pelo menos parcial, em relação às unidades de es- ponsáveis, respectivamente, pelas atrações intermoleculares e
trutura atômica, teoria de valência e classificação periódica. Em interatômicas. Também não é revisto o conceito de molécula, que
parte, tal alteração é uma exigência do programa oficial, que apre- continua a ser aplicado a todos os materiais indistintamente. Ape-
senta tópicos, como noções da teoria da estrutura atômica dos nas o livro de Froes distingue corretamente a eletrovalência da
covalência. A maioria ou se omite ou faz confusão entre esses Observa-se, na maioria dos livros consultados, uma abordagem
conceitos. Faccini, por exemplo, afirma que o "íon negativo, que menos consistente, excetuando-se o de Décourt (1946), exce-
possui um elétron a mais, encontra-se com o positivo, que se lente sob vários aspectos. Os demais - reiteramos - apresentam
encontra com um a menos. E o elétron supranumerário do primeiro alterações que empobrecem a obra, em relação aos períodos ante-
se vai integrar à coroa do segundo. Fica sendo como que o cimento riores. Assim, as definições não vêm mais em meio a vários exem-
que liga os dois átomos na molécula. A Figura 10 representa a plos. Inicialmente apresenta-se a definição e, depois, discutem-se
molécula de cloreto de sódio..." (Faccini, 1939, p. 54). um ou mais exemplos. São, também, mais dogmáticos em relação
a vários tópicos, não ressaltando as implicações das modernas
Os livros didáticos do período de 1 9 4 3 a 1 9 6 0 teorias da estrutura atômica e da valência para uma série de concei-
tosclássicos,comoodemolécula,a idéia de coesão e afinidade,etc.
Decidimos analisar os livros das décadas de 40 e 50 em conjunto, Além disso, continuam a discutir as limitações de certas classifi-
apesar de existirem dois programas oficiais neste período (1943 e cações, como, por exemplo, a dos elementos em metais e metalói-
1951). As modificações introduzidas pelo programa de 51 não des.
são tão significativas a ponto de delinearem um outro período. Afi-
nal, a maioria das características dos livros mantém-se constante A atualização, efetuada rapidamente na década de trinta, continua
ao longo dessas duas décadas. É um período em que os conteúdos a passos lentos. Aos poucos os livros vão distinguindo, de modo
dos livros didáticos se apresentam bastante homogêneos, com correto, covalência de eletrovalência, incorporando alguns tópicos
uma observância rigorosa aos programas oficiais. Essa fase cor- referentes a números quânticos, mas o modelo atômico descrito
responde, também, à vigência da Reforma Capanema. A lista dos como atual continua a ser o do átomo planetário quantizado, de
onze livros analisados encontra-se no Quadro 1.
Rutherford-Bohr; da mesma forma, não há qualquer referência a
Os livros conservam, em geral, as mesmas características do moléculas polares, forças intermoleculares de Van der Waals, li-
período anterior, em relação à impressão e à presença de exercí- gações de hidrogênio, ligação metálica, etc. Desse modo, os livros
cios e questionários ao final de cada capítulo, os quais aparecem vão chegar ao final da década de 50 bem desatualizados.
apenas em alguns deles. Todas as obras já são publicadas por sé-
rie. Uma diferença importante em relação ao período anterior é a Isso atesta o atraso e a dificuldade de se atualizar o ensino de quí-
grande homogeneidade em relação ao conteúdo abordado, pois mica no Brasil, principalmente em relação aos livros didáticos. Já
todos os livros estão "rigorosamente de acordo com o programa em 1944 dois artigos no Journal of Chemical Education, sob o títu-
oficial". As alterações introduzidas pelo programa oficial da Refor- lo em comum "A method of teaching the eletronic structure of the
ma Capanema, relativas ao programa da Reforma Francisco Cam- atom", de D. DeVault, apresentam a descrição atualizada para a
pos, vão-se refletir em mudanças no conteúdo de alguns tópicos. eletrosfera. Um desses artigos ilustra, inclusive, com esquemas
descritivos dos orbitais 1 s, 2s, 2p, 3p e 3d para o átomo de hi-
Com base no novo programa oficial, os autores consultados desse drogênio, que representam as nuvens eletrônicas e os contornos
período introduzem, para alguns tópicos, as definições operacio- para as regiões de maior probabilidade. O artigo também discute a
nais antes das definições conceituais. A definição de substância ordem de energia dos orbitais, trazendo gráficos de energia de ioni-
simples e composta é um exemplo disso, pois está prevista no pro- zação x número atômico, onde está evidenciada a energia dos orbi-
grama a definição "prática e doutrinária" de cada uma delas. Isso tais. Assim, o autor relaciona a ordem crescente dos níveis com um
significa uma retomada de uma característica - já abandonada - dado experimental - a energia de ionização. Esse artigo foi depois
do período anterior a 1930. republicado numa coletânea usada nos cursos de treinamento dos

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professores para o uso do CBA, intitulada "Supplementary Rea- atômica de Dalton e a teoria atômico-molecular clássica, o que
dings for Chemical Bond Approach". A essa coletânea tiveram possibilita que se retomem as leis empíricas segundo um quadro
acesso todos os professores que participaram do curso no Brasil, teórico bem delineado. A parte moderna de estrutura atômica, teo-
conforme depoimento do Prof. Marques, um dos nossos entrevis- ria eletrônica de valência e classificação periódica, só é apresenta-
tados. da no final do curso. Os modelos de ligação química estão muito
bem relacionados às propriedades dos materiais. É oportuno que
Esse problema da atualização do conteúdo dos livros didáticos de surja um livro com essas características justamente numa época
química para a escola secundária, nessa época, parece não ter sido em que expressivo número de educadores químicos advogava que
um problema exclusivamente do ensino brasileiro. Summers os tópicos de estrutura atômica, ligação química e classificação
(1960) ressaltava que grande parcela dos livros didáticos de quí- periódica fossem transferidos para o inicio do curso secundário.
mica utilizados na escola secundária dos Estados Unidos estava
desatualizada. Assim, esses textos apresentavam a química como
era pensada nas duas ou três primeiras décadas do século XX, sob Outra obra que retoma uma abordagem do período anterior a
um ponto de vista clássico e com grande ênfase na parte descriti- 1930, mas num aspecto diferente, é "Elementos de Química" (Pi-
va. 0 autor assinalava vários tópicos de química desatualizados menta & Lenza, 1964, 1º e 2º volumes). Nela não é a ordem dos
nesses livros didáticos, entre eles estrutura atômica, valência e li- conteúdos que é semelhante à do período anterior a 1930, mas a
gação química. maneira didática como os conceitos são apresentados. Assim, o li-
vro discute uma série de fatos e, no contexto dessa discussão, ge-
neraliza esses fatos em um conceito. Não há a preocupação em
Os livros didáticos do período de 1961 a 1970 conceituar primeiro para depois exemplificar.

0 período seguinte corresponde à vigência da LDB, de 1 9 6 1 . O livro "Química para o Terceiro Ano Colegial" (Amado, 1961),
Neste quarto período, observa-se, ao contrário do anterior, uma além dessas características apresentadas pelo "Elementos de
grande heterogeneidade entre os livros. Enquanto muitos trazem a Química", acrescenta uma outra muito interessante em relação
discussão mais aprofundada sobre estrutura atômica, valência e aos temas aqui discutidos, e que já havia aparecido no livro de
classificação periódica para o início do primeiro volume, outros Borzani (1960): esses autores relacionam, de forma muito clara,
preferem transferi-la para o início do segundo, deixando, no pri- as propriedades dos materiais com os modelos utilizados para des-
meiro, apenas uma discussão inicial. Essas diferenças vão acabar crever sua estrutura. Além disso. Amado preocupa-se em relacio-
desaparecendo, com todos os livros adotando a postura de abor- nar os sucessivos modelos de estrutura atômica aos fatos experi-
dar tais assuntos no início do primeiro volume. A relação dos livros mentais disponíveis em cada época. Assim, compara os sucessi-
consultados para esse período encontra-se no Quadro 1. vos valores da energia de ionização com os níveis de energia dos
elétrons nos átomos, mostrando como as variações bruscas no va-
Além dessas pequenas diferenças, constatou-se uma variedade lor da energia de ionização são evidências experimentais para a
de abordagens maior que em qualquer outra época. No livro Fun- existência dos níveis de energia no átomo. Na abordagem da "Teo-
damentos da Química - Teoria (Borzani e alii, 1960), os autores ria de Combinação Química", o autor é extremamente feliz ao con-
retomam a ordem de apresentação que caracterizava os livros do frontar as propriedades dos diversos tipos de compostos (iônicos,
período anterior a 1930. Assim, primeiro são introduzidas as leis moleculares, covalentes e metálicos) com os modelos de ligações
ponderais e volumétricas das reações químicas; depois, a teoria químicas e interações intermoleculares.
Essa múltipla abordagem é, a nosso ver, uma das conseqüências mica, ligação química e classificação periódica, e sua mudança
da intensa discussão em torno desses assuntos, ocorrida nessa para o início do curso colegial, como tema unificador, de fato ou
época. Podemos afirmar que, em relação a esses temas, alguns li- suposto, do programa.
vros da década de 60 são os que apresentam melhor enfoque. Isso
não significa que não existam livros ruins, que seguem a tendência Essa atualização é marcada pela entrada em cena do modelo atô-
geral de deterioração dos livros didáticos, já esboçada na déca- mico da mecânica ondulatória, que traz como principal novidade a
da de 30. Mas, é significativo o surgimento de livros didáticos que mudança na descrição do elétron, que passa a ser feita em termos
retomam características interessantes encontradas nos livros probabilísticos. A idéia de órbita planetária é substituída pela de
anteriores a 1930. Esse fato não chega a configurar uma tendên- orbital - uma região de contorno indefinido, na qual há uma alta
cia; ao contrário, a partir de 1970, tais obras começam a desapa- probabilidade de se encontrar o elétron. O assunto números quân-
recer. ticos não é relevante na maioria dos livros dessa fase, e parece ter
sido incorporado com mais ênfase no período pós-70. Esse tema
A característica de heterogeneidade apresentada pelos livros des- já era tratado em livros anteriores a 1960, mas na maioria deles os
se período é fruto, também, da nova Lei de Diretrizes e Bases da autores se referiam a apenas dois números quânticos: o principal
Educação Nacional, de 1 9 6 1 , que não mais incorpora programas e o secundário, suficientes para descrever as órbitas planetárias
detalhados para cada disciplina, abrindo espaço para propostas dos elétrons. Apenas Décourt (1946) tratava dos quatro números
alternativas. quânticos, mas, curiosamente, esse autor ainda continuava a falar
em órbitas planetárias, elípticas ou circulares, para descrever o
No entanto, essa diversificação não tem alcance tão grande quan- movimento e a posição dos elétrons.
to possa parecer, pois não configura uma tendência permanente.
A maioria dos livros didáticos pós-70 retoma a homogeneidade Em relação à teoria de valência, surgem também várias novidades.
em relação a vários aspectos, como o conteúdo abordado, sua Os livros do período anterior se limitavam ao tratamento da eletro-
ordem, a ênfase, etc. valência e da covalência. Não se falava nada sobre moléculas pola-
res e apolares, ligações intermoleculares, ligação metálica. 0
Ainda na década de 60, a totalidade dos livros passa a apresentar preenchimento dessa lacuna trouxe melhoria significativa na
exercícios e questionários ao final de cada capítulo. Mas sob ou- abordagem desse assunto, pois, dessa maneira, ficou mais fácil
tros aspectos, esses livros mantêm-se iguais aos dos períodos relacionar as propriedades dos diferentes compostos (iônicos,
anteriores. Em relação à apresentação gráfica, observa-se a pre- moleculares, covalentes e metálicos) com os modelos de ligação
dominância de textos; as ilustrações são em pequeno número e os química.
títulos não ocupam espaços muito grandes.
Em relação à classificação periódica, foi introduzida uma série de
Esse é um período-chave em relação à atualização dos conteúdos, propriedades atômicas, como energia de ionização, eletronegati-
pois fecha o ciclo de atualização iniciado na década de 30. O final vidade, raio atômico, e t c , não abordadas anteriormente. Isso não
da década de 50 e a década de 60 são marcados por um intenso significou o sacrifício das propriedades macroscópicas, como
movimento de renovação do ensino de ciências, a qual se origina na ponto de fusão, densidade, etc. Em quase todas as obras, havia far-
preocupação de atualizar os conteúdos ensinados na escola se- ta discussão a respeito do significado de cada uma das proprieda-
cundária. A principal conseqüência deste movimento foi justa- des, e os livros não estavam preocupados apenas - como ocorre
mente a atualização dos conteúdos das unidades de estrutura atô- atualmente - em citar a variação das propriedades ao longo dos

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períodos e colunas do quadro periódico. A discussão era mu QUADRO 2
mais profunda. LIVROS DIDÁTICOS MAIS UTILIZADOS NA PRIMEIRA SÉRIE
DO 2º GRAU, POR AMOSTRAGEM*

Os livros didáticos atuais Nº de


% sobre
Livro/Autor professores
O quinto período escolhido para análise começa em 1970 e vai até total
que adotam
os dias atuais. Nele, os livros didáticos vão sofrer mudanças radi-
cais em relação a todos os outros períodos anteriores. Destaca- Princípios Básicos de Química
mos, para análise, os que vêm sendo usados atualmente, pois isso Edson Braga e Ronaldo Henriques 12 21,0
permite discutir como se encontra o ensino de química. Eles dife-
rem muito pouco dos livros do início do período. 0 que mais mudou Química Geral - Ricardo Feltre 10 17,5
foi a extensão da abordagem de determinados assuntos. Com a di-
minuição da carga horária de química no 2º grau, em conseqüên- Química 1
cia da profissionalização obrigatória introduzida pela Lei Crepaldi e Taranto 7 12,4
5 . 6 9 2 / 7 1 , os autores viram-se obrigados a simplificar o conteúdo
dos livros. Isso não trouxe alterações significativas na abordagem Química Geral e Inorgânica
e, em alguns casos, correspondeu até a uma melhoria, pois expon- Nabuco e Barros 5 8,8
do menos assuntos, o autor corre um menor risco de errar.
Curso de Química 1
Consultamos, nos últimos três anos, 57 professores a respeito do Sardella e Mateus 4 7,0
livro adotado na primeira série do 2° grau, pois essa é a série em Curso de Química 1
que aparecem os assuntos que estamos discutindo. O resultado Edson Braga e Ronaldo Henriques 4 7,0
encontra-se no Quadro 2.
Química 1
A partir destes dados selecionamos os livros mais adotados para a Lembo e Sardella 2 3,5
análise. Em relação àqueles de um mesmo autor, com mais de uma Curso Básico de Química 1
versão (aversão completa e a reduzida), selecionamos as duas ver- Ricardo Feltre 2 3,5
sões, mesmo que uma delas não tenha sido indicada por um gran-
de número de professores. Isso se justifica pelo tipo de análise de- Química Básica 1
senvolvida neste capítulo. A lista dos livros selecionados, com a re- Mange e Aichinger 2 3,5
ferência bibliográfica completa, encontra-se no Quadro 1.
Outros (tiveram apenas uma indicação) 3 5,3
O exame desses livros revela várias mudanças em relação aos dos Apostilas (sem indicação de autores) 4 7,0
períodos anteriores. Uma primeira característica interessante é
que alguns autores publicam duas edições diferentes para um Não adotam livro didático 2 3,5
mesmo livro: a mais recente é uma simplificação da mais antiga, o
que foi comprovado por exame mais minucioso. Os autores sim- * 57 professores.
plesmente fazem uma seleção do texto completo, sacrificando Um exame desses resultados revela que, em média, apenas 3 0 %
exemplos, explicações mais demoradas, exercícios, etc. Voltare- do espaço dos livros são reservados aos textos. Os exercícios e as
mos a este assunto mais adiante. ilustrações ocupam, em geral, espaço maior que o dos textos. Po-
der-se-ia argumentar que isso é ótimo; afinal os livros estão bem
ilustrados, trazem muitos exercícios, etc. Sem entrar no mérito da
Uma outra alteração diz respeito à apresentação. Os livros passam qualidade dessas ilustrações e exercícios, pode-se afirmar que os
a incorporar uma série de truques gráficos, como conceitos em livros didáticos estão de acordo com a metodologia utilizada pela
destaque, títulos de tamanhos variados, um número exagerado de maioria dos professores entrevistados, os quais ressaltaram que
ilustrações, tabelas, gráficos, desenhos, etc. O número de exercí- as aulas expositivas e as de exercícios são as principais alternati-
cios cresce de maneira significativa. Os tipos de exercícios são va- vas metodológicas utilizadas por eles. A percentagem de uma e de
riados apenas no aspecto formal, pois a maioria deles exige apenas outra varia muito, mas, mesmo em colégios que apresentam aulas
a habilidade de memorizar os conteúdos. Assim, temos exercícios práticas, a percentagem delas é mínima em relação às aulas expo-
de completar lacunas, curiosamente denominados por alguns de sitivas e às de exercícios.
estudo dirigido ou ainda resumo, em que o aluno é levado a copiar
trechos inteiros do texto, normalmente ao final de cada assunto
dentro de um capítulo; perguntas tradicionais, de resposta direta; Esse é mais um fator a confirmar a hipótese de que os livros didáti-
uma variedade enorme de exercícios objetivos, como palavras cos têm sido utilizados como guias metodológicos e curriculares.
cruzadas, loteria química, questões de múltipla escolha, corre- O fato de, dentre 57 professores, apenas dois não adotarem livros
lação de colunas, etc. didáticos também é um forte indício de que o livro didático é "o"
material didático dos cursos de química de 2? grau.
O resultado de tudo isso é o sacrifício do próprio texto, que fica
perdido nesse emaranhado de truques gráficos e metodológicos. Outro dado a ser realçado relaciona-se a essa apresentação dos li-
Diante desse fato fizemos um levantamento para saber, em termos vros: ela impossibilita ao aluno construir seu projeto de leitura. As-
percentuais, quanto cada um desses recheios gráficos e meto- sim, nos livros didáticos de períodos anteriores, o aluno teria de ler
dológicos ocupa em relação ao total do espaço do livro. Para isso o texto e, a partir dessa leitura, selecionar os trechos mais impor-
medimos a área que cada um dos seguintes tópicos ocupa no livro tantes, sublinhar as partes que julgasse fundamentais, etc. Nos li-
didático: textos; títulos e subtítulos; ilustrações, quadros, gráficos vros atuais isso é impossível, pois tudo vem pronto para o educan-
e esquemas; exercícios propostos e resolvidos. Fizemos o levanta- do. Os conceitos mais importantes já estão em destaque, geral-
mento em relação aos quatro primeiros capítulos do livro de 1ª sé- mente dentro de quadros. O número de esquemas, ilustrações, ta-
rie: Capítulo 1 - Constituição da Matéria; Capitulo 2 - Estrutura belas é exagerado, a ponto de dificultar a leitura, que fica necessa-
Atômica; Capítulo 3 - Classificação Periódica; Capítulo 4 - Li- riamente truncada por todos esses detalhes gráficos. Dessa ma-
gação Química. Há uma certa variação nos títulos, mas os que rela- neira, o livro já apresenta um projeto de leitura ao aluno, que pode
cionamos aparecem na maioria dos oito livros consultados. Em re- simplesmente ler os quadros e consultar as ilustrações. Como es-
lação à seqüência dos capítulos, ressalta-se que ela é constante. ses quadros trazem normalmente definições e conceitos, o projeto
Para os autores que apresentam edições completas e simplifica- de leitura apresentado pelo livro vai levar o aluno a memorizar es-
das (Feltre; Silva & Silva), fizemos o levantamento em relação às ses conceitos e definições, ou seja, a própria apresentação gráfica
duas edições. No Quadro 3, a seguir, relacionamos o resultado da dos livros induz a uma aprendizagem memorística, pois nem o pro-
média desses quatro capítulos. jeto de leitura o aluno tem oportunidade de pensar e escolher.

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QUADRO 3

PORCENTAGEM DO ESPAÇO OCUPADO POR TEXTOS, EXERCÍCIOS, ILUSTRAÇÕES E TÍTULOS - MÉDIA DOS QUATRO PRIMEIROS
CAPÍTULOS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE 1 ª SÉRIE DE 2.° GRAU

Textos Exercícios Ilustrações Títulos


Livro/Autor
(%) (%) (%) (%)

Princípios Básicos de Química


Edson Braga e Ronaldo Henriques 29 34 32 05

Curso de Química
Edson Braga e Ronaldo Henriques (*) 26 31 40 03

Química — Ricardo Feltre 27 32 36 05

Curso Básico de Química


Ricardo Feltre 34 23 35 08

Química 1
Crepaldi e Taranto 40 22 31 07

Química Geral e Inorgânica


Nabuco e Barros(**) 38 24 34 04

Curso de Química
Sardella e Mateus 20 40 34 06

Química - Lembo e Sardella(***) 44 07 44 05

(*) — 3 0 % do espaço nos capítulos pesquisados neste livro estão em branco. Não computamos esse valor nos resultados apresentados.
(**) — 2 3 % do espaço nos capítulos pesquisados estão em branco. Também não computamos esse valor nos resultados.
(***) — Esse livro apresenta um Caderno de Atividades à parte. No livro-texto aparecem apenas exercícios resolvidos. Isso explica o baixo percentual de exercícios.

Parece que os livros atuais estão mais preocupados com a forma mente verdadeira, e ressaltou a tendência no ensino de química
de apresentação do conteúdo do que com o conteúdo propria- pós-70 de privilegiar a forma em detrimento do conteúdo (Morti-
mente dito. O exame deste último revelou que essa hipótese - le- mer, 1988).
vantada aqui apenas com base na apresentação gráfica - é total-
Mas por que os livros didáticos sofreram esse tipo de mudança tão O ensino transforma num adestramento, em que o mais importan-
radical em sua forma de apresentação gráfica? Por que essa quan- te é saber resolver problemas objetivos. Os alunos são treinados a
tidade enorme de exercícios? Que fatores teriam conduzido a essa resolver alguns tipos bem definidos de exercícios. Se forem colo-
mudança? cados diante de qualquer problema um pouco diferente daquela t i -
pologia apresentarão grande dificuldade em resolvê-lo.
A década de 70 é marcada pela introdução de uma mentalidade
tecnicista e burocrática em todo o sistema de ensino, o que afeta
Essa objetividade tecnicista conduz também a uma falsa visão do
os próprios materiais didáticos. A concepção de aprendizagem
que seja, em ciência, uma teoria e um modelo. A química é mostra-
dessa corrente tecnicista admite que a apredizagem humana pode
da como algo pronto e acabado, e seus modelos são transforma-
se basear no controle das variáveis estímulo e resposta, a exemplo
dos em dogmas irrefutáveis. Essa visão é totalmente distorcida,
do que ocorre com os animais. Assim, seria possível selecionar
pois os modelos e teorias nas ciências físicas são aproximações,
comportamentos desejáveis a serem alcançados pelo aluno me-
sujeitas à revisão desde que surjam fatos que os contradigam ou
diante a aprendizagem. Transformando-os em objetivos específi- que fiquem sem explicação.
cos de ensino, os seguidores dessa Pedagogia Tecnicista preten-
dem controlar o processo de ensino-aprendizagem, evitando
Os vestibulares unificados para as universidades federais de todo
interferências subjetivas perturbadoras.
o país, que começaram a vigorar a partir de 1970, tiveram um po-
A conseqüência dessa concepção - da forma como ela foi trans- der enorme de disseminar a metodologia de ensino de química que
plantada para nossos manuais didáticos - é danosa para o ensino acabamos de descrever. Baseados unicamente em questões de
de química. A seleção dos conteúdos a serem ensinados passa a múltipla escolha, esses exames de vestibular acabaram por deter-
ser presidida por critérios questionáveis. Os melhores conteúdos minar os conteúdos a serem ensinados no 2º grau e os métodos a
são os que podem ser avaliados por questões objetivas, de múlti- serem empregados. A resolução de exercícios objetivos passou a
pla escolha. A especificidade de cada conteúdo é relegada a um ser uma forma essencial de treinamento do estudante para o vesti-
segundo plano. Os livros didáticos transformam-se em guias me- bular. Os programas continuaram a ser extremamente acadêmi-
todológicos de qualidade duvidosa, quase sempre simplificando cos, valorizando apenas aspectos importantes para as carreiras
em excesso o conteúdo das disciplinas em nome de uma pretensa afins à química na Universidade. Enquanto, em todo o mundo, se
objetividade. começava a falar, em relação aos programas das escolas secundá-
rias, de uma química para o cidadão, ligada a fatos cotidianos e
Em relação ao capítulo de estrutura atômica, por exemplo, a maio- que levasse a uma visão crítica do papel da ciência na sociedade,
ria dos livros didáticos atuais enfatiza exageradamente os mace- no Brasil se reforçava a química para o estudante universitário de
tes de distribuição eletrônica por níveis e subníveis, e a determi- áreas afins, desconhecendo-se totalmente o estudante que in-
nação dos chamados números quânticos de um elétron. O que jus- gressaria em carreiras não-afins e aquele que não conseguiria in-
tifica tal ênfase? Se procurarmos os exercícios propostos nesses gressar na universidade.
livros, concluiremos que é a facilidade com que esses tópicos po-
dem ser avaliados por questões de múltipla escolha. O mesmo não O curioso é que a postura das universidades começa a mudar no f i -
ocorre, por exemplo, com o significado de vários conceitos impor- nal da década. A partir de 1978, na UFMG, o vestibular deixa de ser
tantes de estrutura atômica e sua aplicação na compreensão das apenas de múltipla escolha e incorpora provas específicas, numa
propriedades dos materiais e dos fenômenos químicos. Como não segunda etapa, de questões abertas. Ao mesmo tempo, começa-
são muito objetivos, não são enfatizados. se a enfatizar aspectos do cotidiano nas provas das duas etapas.

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Nos últimos anos, as provas de primeira etapa têm enfatizado as- se tornou um grande negócio, em que só as empresas capitalistas
pectos mais gerais e qualitativos da química de 2º grau; têm exigi- bem estruturadas têm condições de competir.
do a capacidade de relacionar princípios mais gerais a fatos expe-
rimentais e a fatos do cotidiano, e também a capacidade de rela- As editoras que sobrevivem a essa concentração de capital im-
cionar os vários itens e subitens do programa. põem regras bem precisas aos autores de livros didáticos. Os li-
vros passam a ser extremamente parecidos entre si, tanto na for-
No entanto, parece que cursinhos e colégios de 2º grau não perce- ma de apresentação como no conteúdo. Os erros se repetem de
beram essa mudança, pois continuam a enfatizar aspectos há mui- edição para edição. As novas edições só se preocupam em acres-
to deixados de lado em provas da UFMG. A distribuição eletrônica, centar as questões dos vestibulares mais recentes, ou em mudar a
por exemplo, ainda é ultravalonzada nos cursos de 2º grau, mas há apresentação gráfica. O mercado se torna nacional. Um mesmo li-
algum tempo não é objeto de questões do vestibular da UFMG. Es- vro é consumido em todo o país.
ses fatos talvez possam ser explicados pela inércia do sistema de
ensino de 2° grau, no qual as mudanças são lentas. Além disso, as Alguns autores já puderam expor, em congressos e reuniões sobre
editoras também não se interessam em promover a revisão dos li- o ensino de química, sua dificuldade em rever a edição de um livro
vros didáticos. que está vendendo bem, por causa do desinteresse da editora. Es-
ses mesmos autores argumentam que não adianta tentar mudar.
Um outro fator importante que ajuda a explicar por que houve essa Se não escrevem os livros nos padrões impostos pelas editoras, a
mudança radical na forma de apresentação dos livros didáticos a obra não é aceita, sob a alegação de que não tem saída. O próprio
partir da década de 70 é a própria política de editoração. Até os Ministério da Educação legitima essa política, ao adquirir tais li-
anos 60, o que garantia o sucesso de um livro didático era o reno- vros para a distribuição às escolas, sem promover o debate e ques-
me do autor. Normalmente os livros traziam o currículo desse au- tionar a qualidade dos mesmos.
tor. Hoje a maioria dos livros é omissa em relação a isso. Pretto
(1983) chegou a detectar, em sua pesquisa - q u e resultou em dis- Essas mudanças na política de editoração dos livros didáticos não
sertação de mestrado - uma autora-fantasma de livros didáticos aconteceram isoladamente no Brasil. Ao analisar a presença de
de ciências, o que indica que o livro tinha sido montado pela pró- dados ultrapassados em livros de genética destinados aos cursos
pria editora segundo seus padrões de editoração. Os livros de quí- superiores norte-americanos, Paul (1987) mostra que esse fato
mica não chegam a tanto. Mas o de Sardella e Mateus, por exem- faz parte de uma grande tendência apresentada pelos livros didáti-
plo, não traz sequer indicação do nome completo dos autores, difi- cos: a de enfatizar cada vez mais a apresentação e a embalagem
cultando até mesmo seu fichamento bibliográfico. dos livros, e cada vez menos o conteúdo. A autora aponta que os li-
vros didáticos atualmente são muito bem apresentados, mas
Esses fatos refletem a nova política de editoração. Os livros pas- também muito pasteurizados e parecidos entre si (Paul, 1987, p.
sam a ser vistos como mercadorias; o que menos importa é o valor 26-30).
didático do conteúdo. A forma e a apresentação são fundamentais
num produto para o consumo. Essas mudanças são conseqüência As justificativas para essa tendência, apontadas pela autora, as-
do grande aumento, a partir de 1970, no número de estudantes em semelham-se às que destacamos para os livros brasileiros. O gran-
todos os graus de ensino - e particularmente no 2.° grau; nossa de aumento no número de estudantes torna o mercado editorial do
área de interesse. Com isso há um incremento muito grande no livro didático um grande negócio, que, no caso norte-americano,
consumo de livros didáticos, de modo que esse mercado editorial passa a atrair grandes grupos empresariais, como ITT, IBM, CBS,
RCA, Xerox Corporation, e outros, não tão conhecidos mas do assuntos - como estrutura atômica e ligação química - com tantas
mesmo porte. Essas empresas é que vão dar ao livro didático a ca- simplificações que os descaracterizam.
racterística de um produto para o consumo de massa (Paul, 1987).
1987). A influência de movimentos pedagógicos na produção de livros
didáticos brasileiros é muito significativa em relação à pedagogia
Quanto à atualização dos conteúdos, os livros desse período mos- tecnicista, que tem dado o tom dos livros atuais. Outros movimen-
tram-se atualizados em relação a grande parte dos assuntos de tos, como o escolanovismo, tiveram alcance limitado; foi possível
teoria atômica, ligação química e classificação periódica. Entre- selecionar apenas um livro com cores da escola nova (Leão, 1940).
tanto, essa atualização é apenas aparente. Em primeiro lugar por- 0 movimento de renovação do ensino de ciências, ocorrido nas dé-
que a abordagem dessas teorias desvinculadas das propriedades cadas de 50 e 6 0 , apesar de ter exercido expressiva influência nos
dos materiais leva a uma visão distorcida do que sejam uma teoria livros da época, também deixou herança limitada.
e um modelo em química. As teorias são apresentadas como a pró-
pria realidade na química de quadro-negro. Em segundo lugar, os Isso se explica, na nossa opinião, pelo fato de que o tecnicismo não
livros didáticos não conseguem ressaltar todas as implicações das exigiu mudanças profundas no padrão livresco do ensino brasilei-
teorias modernas sobre estrutura atômica e ligação química para o ro. Os outros movimentos pedagógicos exigiam, para seus objeti-
restante do conteúdo, que continua, na sua maior parte, a ser abor- vos, algo mais que simples alterações nos livros didáticos. Eram
dado em moldes clássicos. A conseqüência é que os modelos de necessários mudanças nas condições materiais de ensino para
estrutura atômica e ligação química vão ser apresentados como que as propostas escolanovista e renovadora pudessem ter pene-
teorias isoladas, sem maiores aplicações além da previsão da trado no ensino de massas. No Brasil, tais mudanças nunca conse-
valência dos elementos e da fórmula dos compostos. Em terceiro guiram sair dos belos discursos das reformas de ensino e ter um
lugar, os livros continuam a errar em relação a vários conceitos alcance prático. Assistimos agora a mais uma saga reformadora
exaustivamente discutidos, com a crítica aos erros, em congres- do ensino. O que fazer para que esse quadro não se repita?
sos de educação química que se realizam no país desde a década
de 30.
Bibliografia

Conclusões BARRA, Vilma Marcassa & LORENZ, Karl Michael. Produção de


materiais didáticos de ciências no Brasil; período: 1950 a
Em resumo, pode-se afirmar que os autores de livros didáticos, ao 1980. Ciência e Cultura, São Paulo, 3 8 ( 1 2 ) : 1 9 7 0 - 8 3 , dez.
longo da história, sempre tiveram dificuldade em romper com cer- 1986.
tas tradições. As únicas rupturas que se consegue detectar são as
relacionadas à apresentação dos livros didáticos e à posição dos
temas que se está discutindo no programa de 2.° grau. Terá sido BEISER, Arthur. Conceptor de física moderna. Trad. Arturo Nava
para melhor essa mudança? Jaimes. México, McGraw-Hill, 1977.

Por outro lado, os livros quase sempre estiveram desatualizados BRASIL Ministério da Educação e Cultura. Lei orgância do ensi-
em relação ao estado da arte do conhecimento químico. Os livros no secundário e legislação complementar. Rio de Janeiro,
atuais, apesar de aparentemente atualizados, apresentam certos 1953.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


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Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


O PROFESSOR-PESQUISADOR COMO INSTRUMENTO DE não esteja ainda tão desenvolvido, mas depois de longo predomí-
MELHORIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS nio de um ótica inteiramente comportamentalista surgiu, recente-
mente, uma ênfase cognitivista/construtivista/significativa, que
Marco Antônio Moreira* parece muito promissora. Cognitivista porque se ocupa da cog-
nição, do ato de conhecer; construtivista por supor que o conhe-
Introdução cimento humano é construído; significativa por enfatizar signifi-
cados e promover uma aprendizagem não-memorística, não-
A pesquisa em ensino durante muito tempo foi conduzida sob um mecânica.
enfoque basicamente quantitativo, procurando inferir, de maneira
estatística, realidades aplicáveis a populações, a partir de amos- A pesquisa em ensino, portanto, possui metodologias e bases con-
tras submetidas a cuidadosas manipulações experimentais. Entre- ceituais para prosseguir e progredir; mas, ainda assim, há um pro-
tanto, esse enfoque tem sido criticado principalmente sob o argu- blema sério a se resolver: seu distanciamento em relação à sala de
mento de que tais realidades não existem independentes de es- aula. É paradoxal que a pesquisa em ensino seja muitas vezes con-
forços mentais para moldar e criar. Realidade não é uma coisa que duzida em situações de sala de aula e, ao mesmo tempo, esteja dis-
existe e que pode ser descoberta mediante pesquisa: ela é cons- tante da sala de aula. Ocorre que o pesquisador em ensino é, na
truída. Adeptos desse ponto de vista defendem uma abordagem maioria das vezes, externo à sala de aula. Mesmo o pesquisador
qualitativa, interpretativa, etnográfica à pesquisa em ensino. interpretativo, participante, etnográfico - embora imerso no am-
biente estudado (no caso, a sala de aula) durante o período de cole-
O debate pesquisa quantitativa versus qualitativa vem-se acirran- ta de dados - é, a rigor, um observador externo. Terminado esse
do nos últimos anos. Há todo um espectro de posições, desde os período, afasta-se do meio estudado, interpreta os dados e culmi-
que consideram totalmente incompatíveis as duas perspectivas na o trabalho com um artigo em alguma revista especializada e/ou
até os que advogam a complementaridade e plena cooperação en- com uma comunicação em um congresso. Em geral, tanto a comu-
tre ambas. nicação como o artigo atingem apenas seus colegas pesquisado-
res que, então, discutem e criticam o estudo feito, segundo deter-
Esse debate provavelmente será produtivo e poderá conduzir a ga- minadas normas acadêmicas.
nhos metodológicos na pesquisa em ensino, mas o simples fato de
que ele existe, e é intenso, já indica que há metodologias e paradig- Poder-se-ia pensar que a pesquisa em ensino não chega à sala de
mas metodológicos para se pesquisar em ensino. Ou seja, o domí- aula porque os estudos são divulgados e analisados principalmen-
nio metodológico da pesquisa em ensino está bastante desenvol- te na órbita acadêmica. Em parte isso é correto, mas esses estudos
vido e em evolução. O domínio conceituai, por outro lado, talvez certamente contêm implicações e recomendações para o ensino
que são traduzidas para os professores em revista não-especiali-
zadas, boletins, encontros de professores, cursos de treinamento
* Professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. e mediante outros mecanismos. Por piores que estes sejam, é

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provável que resultados de pesquisa cheguem ao professor com esses fenômenos de interesse. Professores, por outro lado, traba-
uma certa freqüência. Ainda assim nada parece mudar. A atividade lham diariamente, em situações reais de sala de aula, com solução
ensino-aprendizagem, em sala de aula, parece ser uma das mais de problemas, aulas de laboratório e com concepções contextual-
conservadoras atividades humanas. mente errôneas dos alunos. Por que então não coletar dados acer-
ca desses fenômenos? Por que não pesquisar em ensino?
Aparentemente então, talvez o problema não esteja em fazer os re-
sultados de pesquisa chegar ao professor, mas em marginalizar o Um dos motivos pelo qual a pesquisa quantitativa é, pelo menos
professor na condução da pesquisa. Mais do que isso, o pesquisa- em parte responsável, consiste no fato de professores não se sen-
dor geralmente não só considera o professor despreparado para tirem habilitados a fazer pesquisa, por desconhecerem os cânones
fazer pesquisa, como também se julga na posição de lhe dizer co- da pesquisa experimental ou correlacionai, ou por não saberem
mo deve conduzir seu ensino. É natural, portanto, que o professor aplicar as técnicas estatísticas correspondentes. A pesquisa quali-
não se sinta compromissado com a pesquisa. E por que haveria de tativa, entretanto, não implica tratamentos experimentais, e a es-
ouvir recomendações de um elemento externo que não o julga tatística, quando usada, é bastante elementar, mas, ainda assim,
competente o bastante para estudar sua própria sala de aula? pode dar ao professor a impressão de que coleta e interpretação
de dados exigem certas habilidades que só pesquisadores têm.
Na verdade, a situação pode ser completamente diferente: o pro- Trata-se de uma concepção errônea, adquirida espontaneamente
fessor talvez esteja em melhor posição para coletar dados e inves- ou transmitida ao professor por pesquisadores. Tanto o enfoque
tigar situações de ensino e aprendizagem em sala de aula. Prova- quantitativo como o qualitativo são plenamente acessíveis ao pro-
velmente, o fator isolado mais importante na pesquisa em ensino fessor. Na perspectiva quantitativa, não há mistério algum em deli-
(ou em qualquer outra área) é obter bons dados. Professores po- near um experimento, de modo a controlar e manipular variáveis,
dem aprender a coletá-los e talvez estejam em melhores con- nem em construir instrumentos válidos e fidedignos para fazer
dições de fazê-lo do que pesquisadores externos. medições. Pode haver aí exigências de tempo e de condições
logísticas das quais o professor talvez não disponha, mas não há
Cada dia, em cada aula, eventos de ensino, aprendizagem, ava- nada de inacessível intelectualmente. Os procedimentos estatísti-
liação, currículo e contexto¹ acontecem na frente do professor. Pa- cos mais usuais, como testes de significância, correlações, análi-
ra pesquisar em ensino, o que ele precisa fazer é selecionar o tipo ses de variância, não requerem grandes conhecimentos de Es-
de evento a observar (naturalmente, esta seleção é influenciada tatística, e técnicas mais sofisticadas, nem sempre necessárias,
por sua bagagem teórico-conceitual) e quais os mecanismos mais tornam-se acessíveis mediante programas para computador.
adequados e factíveis para registrar essas observações.
Em relação a procedimentos qualitativos, Erickson (1986, p.157)
No ensino de ciências, grande parte dos esforços de pesquisa é de- defende posição similar:
dicada à investigação em solução de problemas, em ensino de la-
boratório e, mais recentemente, em concepções espontâneas ou "Métodos interpretativos de pesquisa são intrinsecamente democrá-
intuitivas dos alunos. Pesquisadores muitas vezes criam situações ticos; não se precisa treinamento especial para ser capaz de entender
experimentais - às vezes completamente artificiais - para estudar resultados dessa pesquisa, nem se precisa de habilidades misterio-
sas para conduzi-la. A pesquisa de campo requer habilidades de ob-
servação, comparação, contraste e reflexão que todos seres huma-
Esses são os chamados lugares-comuns da educação (ver p. 11). nos possuem. Na vida, todos temos que fazer trabalhos de campo
interpretativos. O que pesquisadores interpretativos profissionais fa- provas, por exemplo). Não é difícil organizar esses dados e procu-
zem é usar habilidades ordinárias de observação e reflexão de ma- rar correlacionar variáveis através deles, assim como também não
neira sistemática e deliberada. Professores também podem fazer is-
é difícil comparar médias e variâncias entre grupos com carac-
so, refletindo sobre sua própria prática. Seu papel não é o de observa-
terísticas diferentes ou que trabalharam sob condições diferentes.
dor participante, mas o de participante observador que delibera den-
tro do cenário de ação ". Provas e testes são instrumentos de coleta de dados quantitativos;
torná-los válidos e fidedignos é apenas uma questão de sistemati-
zar sua elaboração e aplicação.
Outro motivo alegado para não envolver o professor em pesquisa
em ensino é o de que essa atividade representa uma sobrecarga de Mesmo que pesquisarem ensino implique sobrecarga de trabalho
trabalho para ele. Argumenta-se que professores, particularmente para o professor, não é esta, provavelmente, a razão pela qual há
de primeiro e segundo graus, têm muitas aulas e muitos alunos e tão poucos professores-pesquisadores. A impressão que se tem é
não seria justo atribuir-lhes ainda a tarefa de pesquisar. Ora, este a de que se criou um mito de que pesquisa em ensino é privilégio de
argumento parece ser bom apenas para quem quer deixar o pro- especialistas; uma espécie de barreira. A pesquisa qualitativa abriu
fessor à margem da pesquisa em ensino, pois pesquisarem ensino uma brecha nessa barreira, mas os professores talvez ainda não
é sobretudo refletir criticamente a respeito da prática docente. E estejam cientes disso. Assim como não estão cônscios de que a
quem está mais habilitado a refletir sobre isso se não o professor? pesquisa quantitativa também não requer habilidades misterio-
A quem interessa mais essa reflexão se não ao professor? Qual- sas. É claro que a colaboração entre professores, como participan-
quer profissional consciente deve constantemente refletir acerca tes pesquisadores, e especialistas externos, como observadores
de sua prática. Ao pesquisar, professores estarão pensando criti- participantes ou como experimentadores, pode ser o melhor cami-
camente sobre a prática de ensinar. Professores, como destaca nho para a pesquisa em ensino. Mas antes disso é preciso que pro-
Erickson (ibid.), não só podem como devem fazer pesquisa em en- fessores se conscientizem de que podem fazer pesquisa e que, no
sino: fundo, devem fazê-la, se quiserem assumir a responsabilidade de
sua própria prática.
"O professor, como pesquisador de sala de aula, pode aprender a for-
mular suas próprias questões, a encarar a experiência diária como A Figura 1 apresenta um esquema, conhecido como Vê episte-
dados que conduzem a respostas a essas questões, a procurar mológico de Gowin (1981), o qual procura mostrar como se rela-
evidências não confirmadoras, a considerar casos discrepantes, a cionam os elementos conceituais e metodológicos envolvidos no
explorar interpretações alternativas. Isso, pode-se argumentar, é o processo de produção do conhecimento. Essa figura, explicada a
que o verdadeiro professor deveria fazer sempre. A capacidade de re-
seguir, busca desvelar a estrutura do processo de pesquisa e suge-
fletir criticamente sobre sua própria prática e de articular essa refle-
re que ele não tem nada de complicado.
xão para si próprio e para os outros, pode ser pensada como uma ha-
bilidade essencial que todo professor bem preparado deveria ter "
O lado esquerdo do Vê de Gowin refere-se ao domínio conceituai
do processo de pesquisa: nele se encontram os conceitos-chave e
Erickson refere-se à pesquisa interpretativa em particular, mas os sistemas conceituais usados na pesquisa; estes geram princí-
mesmo no caso de uma abordagem quantitativa há muitos estu- pios que, por sua vez, dão origem a teorias que têm paradigmas, vi-
dos, como os correlacionais, que pouco exigiriam a mais do pro- sões de mundo, subjacentes. Na ponta do Vê estão os eventos -
fessor em termos de tempo. O professor, em sua atividade rotinei- que acontecem naturalmente ou que o pesquisador faz acontecer
ra, coleta e acumula dados quantitativos (resultados de testes e - e/ou os objetos relativos aos fenômenos de interesse da pesqui-

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


sa. A fim de estudar um fenômeno de interesse, são feitos registros
de eventos ou objetos; esses registros são transformados em da-
dos, os quais podem sofrer transformações metodológicas adicio-
nais, objetivando conduzir a asserções de conhecimento, isto é, a
interpretações, explicações, generalizações, conclusões que for-
neçam respostas a questões-foco, relativas ao fenômeno de inte-
resse. Asserções de valor são afirmações sobre o valor (e.g., so-
cial, instrumental, estético) dessas respostas. Portanto, o lado di-
reito do Vê está relacionado com o domínio metodológico do pro-
cesso de pesquisa.

As questões-foco estão no centro do Vê porque, no fundo, perten-


cem tanto ao domínio conceituai como ao metodológico. A ques-
tão-foco de uma pesquisa é aquela que não somente pergunta
alguma coisa mas também diz algo. É a questão que identifica o
fenômeno de interesse de tal maneira que é provável que alguma
coisa seja descoberta, interpretada, explicada, descrita, medida
ou determinada ao respondê-la; é a questão que identifica o ponto
central da pesquisa, dizendo o que foi, em última análise, investi-
gado.
Em palavras simples, pode-se dizer que o lado direito do Vê corres-
ponde ao fazer da pesquisa, enquanto o esquerdo tem a ver com o
pensar. Entretanto tudo o que é feito é guiado por conceitos, teo-
rias, filosofias, paradigmas, isto é, pelo pensar. Por outro lado, no-
vas asserções de conhecimento - respostas às questões-foco -
podem levar a novos conceitos, à reformulação de conceitos exis-
tentes ou, ocasionalmente, a novas teorias, filosofias e paradig-
mas. Isso significa que existe uma permanente interação entre os
dois lados do Vê, ou melhor, entre os domínios conceituai e meto-
dológico.

Não existe nada de sagrado em relação ao formato de Vê do instru-


mento heurístico proposto por Gowin, mas a experiência tem mos-
trado (Novak e Gowin, 1984) que esse formato é útil, por exemplo,
para enfatizar a interação entre o fazer e o pensar no processo de
FIGURA 1 — O Vê epistemológico de Gowin mostrando os ele- pesquisa e, ao mesmo tempo, convergir esse processo para os
mentos conceituais e metodológicos que intera- eventos ou objetos que estão na raiz de toda a construção de co-
gem na pesquisa (adaptado de Gowin, 1987). nhecimento.
Resumindo, pesquisar é, essencialmente, usar uma determinada mente pensar e responder questões. Não é bem assim. A metodo-
metodologia para responder questões básicas relativas a um fenô- logia da pesquisa educacional não é algo esotérico e inacessível,
meno de interesse. Tais questões são formuladas a partir de um re- mas também não é atividade trivial. Fazer pesquisa não é seguir um
ferencial teórico-conceitual que influencia também na seleção de procedimento tipo receita - como às vezes sugerem certos livros
eventos que serão observados e/ou manipulados para estudar o ao descrever métodos de pesquisa-, mas também não é uma ativi-
fenômeno de interesse. As respostas a essas questões, ao mesmo dade caótica, assistemática. Ao contrário, o trabalho de pesquisa
tempo que são interpretadas à luz desse referencial, podem contri- é, geralmente, sistemático e com direcionalidade. É uma busca
buir para modificá-lo, refutá-lo ou confirmá-lo. sistemática e intencional de respostas para certas questões, a qual
tem determinada direção porque é guiada pela bagagem teórico-
A questão metodológica conceitual do pesquisador. Pesquisar implica observar e registrar
eventos, converter tais registros em dados e transformá-los, de
Na introdução deste trabalho argumentei que a metodologia da modo a chegar a novos conhecimentos, os quais, por sua vez, são
pesquisa educacional é geralmente apresentada como algo que interpretados à luz de teorias, princípios, conceitos. Tudo isso é
requer habilidades especiais que o professor não tem, mas que na acessível ao professor, mas não é trivial, nem é simplesmente pen-
prática isso não é verdade. A metodologia da pesquisa em edu- sar e responder questões.
cação, seja ela quantitativa ou qualitativa, não requer habilidades
que não possam ser aprendidas com certa facilidade. O professor A questão do referencial teórico
não deve se assustar com a aparente sofisticação de alguns proce-
dimentos metodológicos, particularmente os quantitativos. É claro que se pode pesquisar com o único e exclusivo objetivo de
resolver um problema em particular. Pode-se fazer uma pesquisa
Como bem destaca Brown (1980, p.219): supostamente neutra em termos de teoria, procurando apenas
descobrir o que funciona e o que não funciona no ensino de uma
"Pesquisa é uma palavra assustadora para muitas pessoas. Pesquisa certa disciplina - ciências, no caso. Esse enfoque, no entanto, é
é alguma coisa que os professores deixam de bom grado para outros limitado pelo seu próprio objetivo. O conhecimento produzido
fazer. Pesquisa geralmente envolve muita estatística (que muita refere-se a um caso muito particular; a rigor, não é um
gente detesta), delineamentos experimentais (que muita gente não conhecimento que possa contribuir para o crescimento da área
conhece) e interpretação (que muitas vezes é entediante e desenco-
onde se insere a pesquisa.
rajadora) de resultados ambíguos. Mas pesquisa não tem nada de as-
sustador, pois todos, de uma maneira ou outra, acabamos engajados
em pesquisa: particularmente quando buscamos respostas explici- A literatura especializada em pesquisa educacional está cheia de
tas para questões cuidadosamente delimitadas. Cada professor bem relatos de estudos aplicados, investigações conduzidas sem
sucedido, conscientemente ou não, está pesquisando idéias o tem- nenhum referencial teórico. Tais estudos, contudo, pouco têm
po todo, e através dessa pesquisa está obtendo respostas que, em contribuído para o avanço do conhecimento no campo da
última análise, o ajudam a se tornar melhor professor e a compreen- educação. Na pesquisa em ensino, por exemplo, apesar do grande
der cada vez mais o processo ensino-aprendizagem. " número de estudos até hoje realizados, a rigor, pouco se sabe
acerca do processo ensino-aprendizagem. O mesmo é válido para
Brown, no entanto, ao argumentar que o professor não deve se as- a pesquisa em ensino de ciências.
sustar com a palavra pesquisa, talvez, inadvertidamente, passe a
idéia de que pesquisa é uma coisa trivial e que pesquisar é simples- Para professores, pode parecer até certo ponto natural que muito

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da pesquisa educacional seja conduzida sem referencial teórico, ciais explícitos e coerentes pode ter valor para a resolução de um
pois, em geral, eles têm uma reação negativa com respeito a problema local específico, mas pouco contribui para o progresso
teorias de ensino, aprendizagem e desenvolvimento, decorrente da área ensino-aprendizagem como um todo. E o que se precisa
de más experiências tidas em cursos de psicologia educacional ou em termos de pesquisa em ensino de ciências é justamente algum
de didática. Infelizmente, a parte pedagógica de muitos cursos de progresso nessa área. A pesquisa em concepções alternativas, por
formação de professores é entediante, está divorciada da exemplo, é, por enquanto, muito promissora, mas deixará de sê-lo
realidade das salas de aulas e dá uma sensação de perda de tempo. na medida em que se continuar apenas catalogando tais con-
Mas, na prática, a situação é diferente: as teorias têm grande cepções. Da mesma forma, a pesquisa em solução de problemas
influência no currículo e na instrução. O comportamentalismo não pode ficar apenas na testagem de algoritmos empíricos que
(Keller, 1 9 7 2 ; Moreira, 1985), por exemplo, exerceu enorme supostamente irão tornar o aluno um melhor solucionador de pro-
influência em muito do que se fez em sala de aula nas últimas blemas. Na área de ensino de laboratório, pesquisar não deve ser
décadas. Enfoques sistêmicos, objetivos operacionais, tecnologia apenas testar novos experimentos e equipamentos. É preciso con-
educacional, aprendizagem para o domínio, instrução programa- duzir todos esses estudos à luz de referenciais teóricos relativos a
da, ensino personalizado, tudo isso está baseado em uma visão ensino e aprendizagem, de modo a poder contribuir para o cresci-
comportamentalista de ensino, aprendizagem e currículo. mento dessa área.

A aprendizagem por descoberta, tão em voga no ensino de ciên- É claro que se pode argumentar que, de fato, começar a estudar
cias há algum tempo atrás, está muito associada às proposições teorias de ensino, aprendizagem e desenvolvimento, enfoques
de Jerome Bruner (1969) sobre ensino e aprendizagem. O ensino epistemológicos e questões metodológicas, poderia sobrecarre-
centrado no aluno é uma aplicação de princípios rogerianos (Ro- gar o professor que já tem diante de si uma pesada carga docente.
gers, 1971) sobre aprendizagem. Enfoques piagetianos (e.g., Ku- Mas não se está propondo que o professor pesquise sozinho. Ao
bli, 1979) ao ensino de ciências são também muito comuns hoje contrário, a idéia de uma estreita cooperação entre professores e
em dia. pesquisadores externos (geralmente professores universitários)
parece ter grande potencialidade. O que se enfatiza aqui é a neces-
Assim, embora as teorias de aprendizagem sejam vistas até com sidade de uma pesquisa com fundamentação teórica e episte-
desdém por alguns professores, sua prática docente é fortemente mológica, não necessariamente conduzida por um único indiví-
influenciada por tais teorias. 0 professor que simplesmente duo.
ignorar o domínio teórico da ação docente estará trabalhando na
base do ensaio-e-erro, seguindo modismos, imitando colegas, Por que ter professores como pesquisadores?
usando textos e outros materiais instrucionais sem saber qual
orientação teórica está por detrás desses materiais. A atividade Nas seções anteriores já foram apresentadas, pelo menos implici-
docente, ao contrário, deve ser conduzida sob um referencial tamente, razões que apóiam e justificam a pesquisa, de modo que
teórico acerca de ensino, coerente com pressupostos teóricos aqui se pretende apenas resumir e reforçar tais razões.
acerca de aprendizagem e de como é produzido o conhecimento
humano. • A qualidade e os resultados do ensino em qualquer nível e em
qualquer disciplina é função de muitos fatores, dos quais pouco
Analogamente, a pesquisa em ensino deve ser conduzida a partir se sabe. Respostas nesse sentido, contudo, são do maior inte-
de referenciais teóricos e epistemológicos. Pesquisar sem referen- resse dos professores.
Na verdade, é bastante restrito o conhecimento atual sobre co- ver com esses lugares-comuns. Sempre que ocorre um ato de en-
mo os alunos aprendem. Todavia, na medida em que se souber sino, se ensina alguma coisa, em um certo contexto, com o objetivo
mais a esse respeito, a instrução poderá ser organizada consis- de que alguém aprenda, e sempre se avalia algo. Novamente aqui o
tentemente com tal conhecimento. De maneira análoga, é igual- professor está em uma posição privilegiada para identificar ques-
mente restrito o que se conhece em relação à influência do tões cujas respostas obtidas pela pesquisa, poderão contribuir pa-
domínio afetivo no crescimento cognitivo. Naturalmente, ra a melhoria do ensino de ciências e para o progresso do conheci-
talvez se possa melhorar o ensino por meio de experiência, mento nessa área. Como dizem Runkel e McGrath (1972, p.2), "no
ensaio-e-erro, intuição, mas é pela pesquisa que se poderá che- fundo, pesquisar consiste em sistematicamente formular ques-
gar a resultados mais significativos, a respostas mais abrangen- tões. As respostas obtidas dependem fortemente de quais ques-
tes para questões relativas a ensino. Experiência, ensaio-e-erro, tões foram formuladas e de como elas foram formuladas". Profes-
intuição, até agora pouco contribuíram para o desenvolvimento sores certamente têm grande contribuição a dar na formulação de
do ensino de ciências. Por outro lado, a pesquisa em ensino de questões de pesquisa em ensino.
ciências tomou notável impulso na década passada, vem cres-
cendo cada vez mais e parece ser altamente promissora como A título de exemplo, sugiro a seguir algumas questões de pesquisa
mecanismo de melhoria do ensino. que julgo relevantes para o ensino de ciências. Na prática, tais
questões geralmente envolvem mais de um lugar comum, mas
• Se os resultados das pesquisas não chegarem à sala de aula, à por conveniência de exposição foram organizadas em torno de ca-
prática, tais pesquisas não terão utilidade. Professores, portan- da um deles separadamente. Muitas dessas questões foram ex-
to, desempenham papel indispensável na pesquisa educacional traídas e adaptadas de um trabalho acerca do programa de pesqui-
como usuários de resultados dessa pesquisa. Mas não se con- sa em ensino de ciências, desenvolvido sob a coordenação do pro-
verterão em usuários se não se sentirem comprometidos com fessor Novak no Departamento de Educação da Universidade de
tais resultados, se não sentirem que esses são também seus Cornell (Moreira e Novak, 1988).
resultados. Uma maneira de se chegar a isso é ter o próprio
professor como pesquisador ou colaborador.
Questões sobre aprendizagem
• Professores estão em melhor posição do que pesquisadores ex-
ternos para registrar certos eventos. São eles que estão em per- 7. Quanto ao desenvolvimento cognitivo:
manente contato com eventos educativos, cuja análise interpre-
tativa está na essência da pesquisa educacional. Para pesquisar a. Como evolui no tempo o desenvolvimento de conceitos para um
é preciso fazer registros adequados desses eventos, e a partici- certo indivíduo?
pação de professores nessa tarefa pode ter valor inestimável. b. Qual a origem dos conceitos (significados) contextualmente
errôneos?
O que pesquisar? c. Como podem ser modificados ou removidos os conceitos (sig-
nificados) contextualmente errôneos?
O que pesquisar tem a ver com questões relativas aos lugares-co- d. Como as variáveis afetivas influenciam o desenvolvimento
muns da educação (Schwab, 1973) - ensino, aprendizagem, cognitivo?
currículo, contexto e avaliação. Direta ou indiretamente, qualquer e. Como se relacionam compromissos epistemológicos e desen-
evento de interesse para a pesquisa em ensino de ciências tem a volvimento cognitivo?

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f. Há diferenças de gênero nos padrões de desenvolvimento cog- Questões sobre ensino (professor)
nitivo? Quais?
g. Há diferenças nos padrões de desenvolvimento cognitivo devi- 1. Quanto a características do professor:
do à raça e/ou nível socioeconômico? Quais?
a. Como levar o professor e reconhecer e a se comprometer com
aprendizagem significativa ao invés de com aprendizagem
2. Quanto a estilos de aprendizagem: mecânica?
b. Qual a relação entre postura contrutivista ou positivista e abor-
a. Que fatores levam certos alunos a adotar mecanismos de dagens didáticas, enfoque ao ensino de laboratório, maneira de
aprendizagem mecânica (automática)? perceber o aluno?
b. Há relações entre gênero e estilos de aprendizagem? Quais? c. Qual a relação entre postura afetiva, enfoques didáticos, abor-
c. Há diferenças de estilos de aprendizagem entre estudantes pro- dagem ao ensino de laboratório, percepção do aluno?
venientes de minorias e de maiorias? Quais? d. Qual o efeito de participação em cursos de curta duração, ses-
d. Há diferenças de estilos de aprendizagem relacionadas com ní- sões de trabalho, congressos, encontros na mudança de atitu-
vel socioeconômico? Quais? des e de ações do professor?

3. Quanto à aquisição de conhecimentos (significados): 2. Quanto a estratégias de ensino:

a. Qual o papel do conhecimento (significados) prévio? E dos con- a. Que estratégias apresentam maior potencialidade para promo-
ceitos (significados) contextualmente errôneos? ver mudanças conceituais, trocas de significados?
b. Qual a influência de variáveis relativas a idade e gênero? b. Mapas conceituais, quando usados como recurso didático, faci-
c. Como se relacionam formas de representação do conhecimen- litam a aprendizagem significativa?
to e maneiras de adquiri-los? c. O "V" epistemológico é viável como recurso instrucional facili-
d. Qual a influência de estratégias de "aprender a aprender", co- tador da aprendizagem significativa?
mo, por exemplo, mapas conceituais e diagramas "V"? d. Como fazer com que estratégias convencionais, como a aula ex-
e. Qual o efeito de seqüências curriculares alternativas? positiva, promovam a aprendizagem significativa?
f. Qual o efeito de variáveis tais como Ql, desempenho prévio, e. É possível compatibilizar estratégias construtivistas e aspectos
atitudes? instrucionais behavioristas como, por exemplo, definição ope-
racional de objetivos?
f. Como podem ser utilizadas novas tecnologias como microcom-
4. Quanto à aquisição de valores: putadores, videocassetes e videodiscos para promover apren-
dizagem significativa?
a. Como a aquisição de valores é influenciada pela aquisição de
conhecimento e vice-versa?
Questões sobre currículo
b. Qual o efeito de estratégias de "aprender a aprender" na aqui-
sição e/ou mudança de valores?
1. Quanto à estrutura do conhecimento:
c. Qual o efeito de estratégias e concepções alternativas de ensino
na aquisição e/ou mudança de valores? a. Como analisar a estrutura do conhecimento contido nos mate-
riais educativos do currículo de modo a tornar esse conheci- b. Que métodos de avaliação de mudanças cognitivas têm mais f i -
mento apropriado para instrução? dedignidade e validade?
b. Que tipo de informação provê a análise conceituai do currículo? c. Como o uso de instrumentos heurísticos de aprendizagem pode
Para que serve? enriquecer/melhorar os métodos de avaliação?
c. Qual a relação entre currículo e instrução sob diferentes pers-
pectivas epistemológicas em relação à produção de conheci- 2. Quanto à avaliação de atitudes:
mento?
a. Qual a relativa eficiência de questionários, entrevistas clínicas e
2. Quanto à construção do conhecimento: estratégias de vídeo e áudio na produção de mudanças afeti-
vas?
a. Que processos cognitivos estão envolvidos na construção de b. Que estratégias instrucionais conduzem a ganhos positivos de
conhecimentos? Há regularidade nesses processos? atitude a longo prazo?
b. Materiais curriculares e estratégias instrucionais adequadas c. Como estratégias de interação aluno-professor podem levar a
podem servir de catalisadores desses processos? Quais? ganhos positivos de atitudes a longo prazo?
c. A apresentação de conhecimentos já construídos estimula a
aprendizagem mecânica? A aprendizagem só é significativa 3. Quanto à avaliação de valores:
quando o conhecimento é construído, ou reconstruído, pelo alu-
no? a. Que critérios definem medidas efetivas de mudanças de valo-
d. Qual a relação entre a evolução conceituai de uma disciplina e a res?
evolução conceituai do aprendiz? b. Que combinações de elementos cognitivos e afetivos são mais
e. Que tipo de relação existe entre conhecimentos construídos e adequadas para indicar os valores correntes ou os valores em
métodos na construção de novos conhecimentos? processo de mudança?
c. Qual a relação entre compromissos epistemológicos e valores?
3. Quanto à organização do conhecimento:

a. Que alternativas existem para organizar seqüencialmente a


matéria de ensino? E para representar sua estrutura? Questões sobre o contexto
b. Como organizar a matéria de ensino de modo a aumentar a pro-
babilidade de aprendizagem significativa? 1. Quanto à organização da escola:
c. Qual o efeito, na aprendizagem, de diferentes maneiras de orga-
nizar o conhecimento disciplinar? a. Como é afetado o crescimento cognitivo e afetivo pela utili-
zação de um modelo organizacional voltado para um hipotético
aluno médio?
Questões sobre avaliação b. Como podem os professores contribuir no planejamento e im-
plementação da organização da escola?
/. Quanto à avaliação do conhecimento: c. Como se pode melhorar as comunicações verticais entre pro-
fessores, alunos, diretores, coordenadores, a fim de intensificar
a. Como modelos alternativos de representação do conhecimento o crescimento cognitivo e afetivo de todos?
podem melhorar os procedimentos de avaliação? d. Como introduzir e acomodar novas tecnologias, como micro-

Em Aberto. Brasília, ano 7. n. 4 0 , out./dez. 1988


computadores, videocassetes e videodiscos na organização O que é pesquisa em ensino de ciências
escolar? Como fazer com que sejam utilizadas, incorporadas à
rotina da escola e da sala de aula? Obviamente, a natureza das questões de pesquisa propostas na
seção anterior já sugere uma concepção acerca do que entendo
como pesquisa em ensino de ciências. Apesar disso, creio que vale
2. Quanto à alocação de recursos e tempo: a pena ser mais explícito, uma vez que a área parece carecer de de-
finições nesse aspecto.
a. Que razão entre atividades práticas e teóricas leva a ganhos
maiores em termos cognitivos? Afetivos? Em que contexto? O que caracteriza a atividade de pesquisa é a observação controla-
b. Quais os resultados em termos de custo/benefício do aumento da, a conversão de eventos em registros e estes, através de trans-
de aulas laboratório e/ou atividades de campo? formações metodológicas, em asserções de conhecimento. Ela-
c. Quais os resultados em termos de custo/benefício da intro- borar materiais instrucionais - como, por exemplo, livros de texto,
dução de novas tecnologias como recursos instrucionais? guias de estudo, filmes ou programas auto-instrutivos de compu-
tador - não é fazer pesquisa em ensino, a menos que esses mate-
riais tenham sido produzidos à luz de referenciais teóricos consis-
3. Quanto à sala de aula: tentes sobre ensino e aprendizagem e que seu efeito, em um deter-
minado contexto, em alguma variável instrucional dependente es-
a. Como é percebida a organização social da sala de aula pelos su- teja sendo investigado. Produzir equipamento de baixo custo, por
jeitos envolvidos? mais criativo que seja, não é pesquisar em ensino de ciências, ex-
b. A maneira como o aluno percebe seu papel no contexto social ceto se, por exemplo, o efeito do uso desse equipamento na me-
da sala de aula influencia seu crescimento cognitivo e afetivo? lhoria das aulas de ciências seja objeto de observação controlada e
Como? sistemática, de registros de eventos, e de asserções fatuais obti-
c. A percepção que o professor tem de seu papel no contexto so- das a partir de transformações desses registros. Por outro lado,
cial da sala de aula influencia seu desempenho? Como? procurar detectar - mediante entrevistas clínicas ou mapas con-
d. Que tipo de mudanças contextuais externas têm maior impacto ceituais, por exemplo - concepções alternativas dos alunos é pes-
na microcultura da sala de aula? quisar, porque a transcrição das entrevistas ou os mapas concei-
tuais traçados pelos alunos são registros de eventos que, transfor-
Muitas dessas questões fazem parte da agenda de pesquisa do mados e interpretados, poderão gerar evidências de conceitos
programa de ensino de ciências de Cornell e já foram investigadas alternativos (que seriam, nesse caso, asserções de conhecimen-
em maior ou menor grau (Moreira e Novak, 1988), mas continua- to).
rão sendo objeto de futuros estudos. Algumas foram adaptadas e
outras, acrescentadas. A lista não pretende ser exaustiva nem ex- Da mesma forma, usar o microcomputador para tentar obter
clusiva e provavelmente algumas questões se referem a mais de evidências a respeito de como o aluno constrói modelos é pesqui-
um dos lugares-comuns mencionados no início desta seção ou sar, enquanto elaborar um programa para ensinar algum conteúdo
estariam mais bem enquadradas em outro subtítulo. Não importa, através de uma simulação não é necessariamente pesquisar. E as-
o objetivo desta lista é apenas dar uma idéia do que se está investi- sim por diante. No momento atual há muita confusão entre o que é
gando e do que se pode investigar na pesquisa em ensino de ciên- pesquisa em ensino de ciências e outras atividades, como pro-
cias. dução de materiais instrucionais, ênfase em aulas práticas, utili-
zação de novas metodologias e desenvolvimento de currículo, que WITTROCK, M.C., ed. Handbook of research on teaching.
podem ser até mais importantes do que a pesquisa em ensino, mas 3.ed. New York, Macmillan Publishing, 1986.
não são necessariamente atividades de pesquisa.
GOWIN, D.B. Changing the meaning of experience; empowering
teachers and students through Vee diagrams... In: NOVAK,
Conclusão J.D., ed. Proceedings of the second International Seminar
ou Misconceptions and Educational Strategies in Scien-
O objetivo deste trabalho é o de estimular professores de ciências ce and Mathematics. Ithaca, N.Y., the Cornell University
a se tornarem pesquisadores em ensino de ciências, porque sem Press, 1987 p.233-40.
pesquisa e sem eles o progresso nessa área continuará lento. É
bem verdade que muito tem sido feito no Brasil, e a nível interna- Educating. Ithaca, N.Y., the Cornell University Press, 1 9 8 1 .
cional, para melhorar o ensino de ciências, mas é também verdade
que nossa educação científica é muito fraca, nossa contribuição
KELLER, F.S. Aprendizagem, teoria do esforço. São Paulo, Her-
na produção do conhecimento científico é muito pequena e nosso
der, 1972.
cidadão sabe muito pouco de ciências. De modo geral, nossos alu-
nos, quando podem, fogem das disciplinas científicas; quando não
KUBLI, F. Piagefs cognitive psychology and its consequences for
podem, reagem negativamente em relação à matéria de ensino
the teaching of science. European Journal of Science Edu-
(como é o caso da Física).
cation, 1(1):5-20, 1979.
Uma verdadeira melhoria do ensino de ciências depende de mui-
KUBLI, F. (1979). Piagefs cognitive psichology and its conse-
tos fatores, mas a pesquisa em ensino parece ter muito a contribuir
quences for the teaching of science. European Journal of
nesse sentido, principalmente a pesquisa com fundamentação
Science Education, 1 ( 1 ) : 5-20.
teórica e epistemológica. Essa pesquisa, no entanto, não pode f i -
car apenas nas mãos de investigadores isolados em universida-
des. A experiência já mostrou que, assim, os resultados são pouco MOREIRA, M.A. Alguns aspectos das perspectivas quantitati-
significativos e não chegam à sala de aula. É preciso engajar os va e qualitativa à pesquisa educacional e suas impli-
professores nessa pesquisa. Fica aqui a sugestão, o apelo e o desa- cações para a pesquisa em ensino de ciências. São Paulo,
fio nesse sentido. 1988. Trabalho apresentado na Reunião Anual de Verão da
Associação Americana de Professores de Física, Ithaca,
1988. e no 2º EPEF, São Paulo, 1988.
Bibliografia
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BROWN, H.D. Principies of lanquage learning and teaching. En-
1985.
glewood Cliffs, Prentice Hall, 1980.

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centrales y abordes metodológicos. Enseñanza de Ias Ciên-
ERICKSON, F. Qualitative methods in research on learching. In: cias, 6(1 ):3-1 8, 1988.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988


NOVAK, J.D. & GOWIN, D.B. Learning how to learn. New York, RUNKEL, P.J. & MAcGRATH, J.E. Research on human behavior;
the Cambridge University Press, 1984. a systematic guide to method. New York, Holt, Rinehart &
Winston, 1972.
ROGERS, C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte, Interlivros, SCHWAB, J. The practical 3; translation into curriculum. School
1971. Review, 81 (4):501 -22, aug. 1973.
ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DO CIDADÃO Fenômenos como a industrialização, o desenvolvimento tecnoló-
gico e cientifico, a urbanização, entre muitos outros, não podem
Myriam Krasilchik* deixar de provocar choques no currículo escolar. Os sistemas de
ensino, respondendo às mudanças sociais, à crescente diversifi-
cação cultural da sociedade, ao impacto tecnológico e às transfor-
mações no mercado de trabalho vêm propondo reformulações no
O processo de formação do conhecimento em relação ao ensino ensino das Ciências e criando ramificações das disciplinas tradi-
de Ciências pode ser abordado pelo menos sob dois ângulos: a cionais: Física, Química e Biologia. Assim, a Educação Ambiental e
produção de conhecimento sobre o aprendizado de Ciências e a a Educação para a Saúde são, de forma geral, programas que estu-
produção de conhecimento como resultado do ensino de Ciências. dam as relações dos fatores econômicos e sociais e a melhoria da
Evidentemente os dois processos estão bastante interligados e se- qualidade de vida, e as possíveis conseqüências do uso indevido
guiram evolução em instâncias distintas. Assim, seu curso mere- do ambiente.
ce análise para que possam sofrer mudanças efetivas, com vanta-
gens, ao final, para os estudantes e cidadãos. O quadro evolutivo dos objetivos do ensino de Ciências, em uma
análise histórica, situa básica e preliminarmente uma preocu-
Procurando extrair o caminho a seguir do caminho já percorrido, pação constante com a atualização dos programas em relação ao
será necessário identificar a importância de alguns pontos de progresso da própria Ciência. Essa demanda tem sido feita de for-
mudanças que marcaram crucialmente as várias etapas dos movi- ma premente em períodos de expansão do conhecimento científi-
mentos em busca da melhoria do ensino das Ciências. Trata-se de co e de mudanças essenciais e paradigmáticas nos vários campos
compreender o que foi feito e, a partir daí, encaminhar propostas e de conhecimento.
ações que melhor atendam aos interesses da sociedade.
Um momento típico desse quadro é representado pelo período de
pós-guerra, na década de 50, quando é grande a produção científi-
Evolução dos objetivos do ensino de ciências ca. A necessidade de um progresso ainda maior fazia-se sentir co-
mo resultado da guerra fria. Nesse processo estiveram direta-
Não é possível descrever a evolução do que se pretendeu com o mente ligados governos, associações científicas, associações
ensino das Ciências sem contextualizá-lo no processo educacio- profissionais de educadores, instituições internacionais como a
nal em geral e este em um quadro abrangente dos complexos ele- UNESCO e a OEA, agências de fomento à pesquisa, entre outras.
mentos que determinaram profundas alterações no significado
social da escola e nela das disciplinas chamadas científicas. Nesse tempo valorizava-se uma educação elitista que preconizava
a premência de formação de cientistas para atender, em alguns
países, a necessidade de predomínio científico e tecnológico, em
' Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - USP. outros, como o nosso.

Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 4 0 , out./dez. 1988


A preparação de quadros de especialistas de alto nível que nas uni- A exacerbação da potencialidade atribuída a esse processo levou a
versidades, laboratórios e indústrias pudessem se engajar no pro- uma esquematização simplista do chamado método científico que
cesso de produção e do avanço das fronteiras do conhecimento seguiria sempre etapas comuns e predeterminadas, tomando a
era e continua sendo uma meta típica dos currículos escolares, forma de receitas para guiar a elaboração de experimentos, com-
principalmente pré-universitários. pondo uma caricatura ingênua do procedimento dos cientistas.
Embora em muitos programas de ensino essa visão ainda seja pre-
servada, em vários outros a complexidade do processo de desco-
No entanto, contrapondo-se a essa demanda, seguiu-se a necessi-
berta vêm sendo apresentada de forma que estudantes possam ter
dade de construir nações democráticas com cidadãos conscientes
visão mais realista do que ocorre nos laboratórios de pesquisa e na
de seus direitos e deveres e capazes de opinar a respeito dos desti-
mente dos pesquisadores.
nos da ciência e da tecnologia e dos múltiplos assuntos de suas vi-
das que, de alguma forma, são afetados por elas. O ensino das
Ciências nos currículos escolares passa a agregar a importância A importância dada à formação do cidadão está associada a um
de adquirir, compreender e obter informação e também a necessi- processo de democratização que, em nosso país, foi interrompido
dade de usar a informação para analisar e opinar acerca de proces- durante os vinte anos posteriores ao golpe de 1964. Paulatina-
sos com claros componentes políticos e sociais e, finalmente, agir. mente ocorreu uma mudança nos objetivos da educação e no ensi-
Esse acréscimo implica um desafio novo para os interessados no no de Ciências que havia passado do cientista para o cidadão e de-
ensino de Ciências, com a introdução de aspectos éticos, o que po- pois para o trabalhador. Embora os documentos legais pouco tives-
de colocar em conjunção, ou mesmo em confronto, a sociedade e a sem modificado a sua letra, não mais se aspirava a um conhecimen-
comunidade científica. Assim, a relação entre a cidadania e o ensi- to científico atualizado, considerado supérfluo na escola profissio-
no de Ciências passa a envolver novas facetas que precisam ser nalizante. As disciplinas científicas tiveram sua carga horária redu-
consideradas quando da preparação de currículos e programas zida, o currículo foi acrescido de uma série de disciplinas pretensa-
escolares, e propostas de formação de professores. mente técnicas que, na verdade, fragmentaram, esfacelaram as
demais disciplinas, impedindo que o conhecimento fosse apre-
sentado aos estudantes com coerência e sentido. Em conseqüên-
Um aspecto enfatizado a partir da década de sessenta foi a im- cia, os defeitos atribuídos às disciplinas científicas - fragmentá-
portância do conhecimento e a capacidade de uso do método rias, livrescas, memorísticas, enciclopédicas - acentuaram-se.
científico, compreendido como um processo racional de tomada
de decisão, com base em dados e com critérios objetivos. A im- Ao mesmo tempo, fizeram-se tentativas a nível internacional para
portância dada a aulas práticas que, tradicionalmente, originava- integrar os conteúdos científicos em uma disciplina chamada de
se de sua eficiência como forma de aquisição de informação dos Ciência Integrada. Razões de ordem epistemológica foram invoca-
chamados produtos da ciência, deriva, agora, do potencial educa- das na negação da validade de tais tentativas. Razões de ordem
tivo de repetição do processo usado pelos cientistas em seus labo- política e de defesa do território de trabalho para os professores
ratórios na busca de informações e descobertas. Procedimentos formados nas várias disciplinas foram também usadas contra tais
como observação, elaboração de hipóteses e confrontação destas idéias. Mas, principalmente, a dificuldade de compor um novo cor-
com dados obtidos pelos estudantes dão significado a vários mo- po de conhecimentos coerentes, conexos, que de alguma forma
delos experimentais, tornando-se meio de preparar um cidadão pudesse substituir o que tradicionalmente compõe o currículo le-
que, de forma racional e fundamentado por informações fidedig- vou ao abandono da tentativa no Brasil. Ela prossegue em alguns
nas, possa cooperar para o bem coletivo. países, e seu aparente sucesso pode significar, para alguns, dar
sentido ou relevância à disciplina ou, de um outro ponto de vista, destacada da crise que atinge todo o processo educacional, mas
considerar várias categorias de alunos e a elas adaptar diferentes exige soluções próprias e um tratamento adequado a um campo de
tipos de programas de Ciências. conhecimento específico. Além disso, a situação atual difere fun-
damentalmente da crise dos anos cinqüenta que levou à produção
A nível internacional, constata-se nova crise no ensino, de modo dos projetos de Física, Química e Biologia nos Estados Unidos.
geral, e das ciências, em particular; e mais uma vez há urgência no
estabelecimento de medidas que alterem essa situação difícil e in- Hoje, o papel desempenhado pela escola de 1º e 2° graus e pela
satisfatória. instrução superior a que elas servem de vestíbulo é diferente. Um
diploma é menos valorizado e pode ser obtido em escolas de níveis
Em 1985, em trabalho baseado em relatórios nacionais que con- de exigência bastante diferentes. A população escolar mudou
solidavam resultados de pesquisas sobre o interesse dos alunos quantitativa e qualitativamente. A escola pública atende a uma
pelas disciplinas científicas, Gardner (1985, p. 17) concluiu que substancial parcela de uma clientela oriunda de famílias com baixo
"infelizmente uma generalização emerge com alguma clareza: poder aquisitivo e que possivelmente não vai ingressar em cursos
muitos estudantes tendem a perder o interesse pela ciência no de- superiores. Aqueles que dispõem de uma situação econômica
correr do tempo. Para muitos estudantes em muitos países, ciên- estável freqüentam escolas particulares. Nestas, em geral, busca-
cia é um assunto que inicialmente apreciam, mas do qual passam a se preparar os alunos para o exame vestibular
desgostar à medida que prosseguem sua trajetória na escola".
Os professores mal preparados que saem das escolas que vêm
Mais recentemente, o relatório a respeito do aprendizado das proliferando desde 1968 dependem de livros didáticos, elabora-
Ciências, elaborado no segundo estudo promovido pela Interna- dos para servir a esse mercado.
cional Association for the Evaluation of Educational Achievement
(IEA), concluiu que em localidades como Inglaterra, Hong Kong, Ao mesmo tempo, os meios de comunicação informam os jovens,
Cingapura e Estados Unidos, os estudantes dos vários níveis de es- passando-lhes explícita ou implicitamente informações e valores
colaridade saem-se mal nas provas de Ciências. De acordo com o de uma forma mais eficiente, concentrada e reiterada do que na
mesmo relatório, "Inglaterra, Hong Kong, Itália, Cingapura e Esta- década de cinqüenta. O advento da chamada era da informática
dos Unidos devem preocupar-se com a alfabetização científica da — que poderia até liberar alguns jovens da necessidade de ler e es-
sua força de trabalho, a menos que procurem remediar a situação crever — também demanda uma familiaridade com a máquina, a
por meio de programas especiais ou educação vocacional em qual somente uma sólida base educacional pode fornecer.
estágios mais adiantados de escolaridade" (IEA, 1988, p. 72).
A influência da ciência e da tecnologia estão claramente presentes
No Brasil, estudos do mesmo tipo foram realizados pela Fundação no dia-a-dia de cada cidadão, dele exigindo, de modo premente, a
Carlos Chagas e mesmo com as ressalvas que se possa fazer aos análise das implicações sociais do desenvolvimento científico e
resultados, concluiu-se que para os alunos de 5f e 6? séries de dez tecnológico.
cidades os resultados em Ciências não são mais animadores do
que os obtidos em Matemática e Língua Portuguesa, considerados Nos programas contemporâneos, um elemento que deve ser intro-
deficientes (Vianna e Gatti, 1988). duzido é a busca da aceitação e compreensão da grande diversida-
de cultural de etnias em países como o Brasil, de complexa com-
A constatação de uma crise no ensino de Ciências não pode ser posição populacional e socioeconômica. O conflito entre o respei-

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to por valores sociais — amplamente aceitos nas diferentes comu- lações causais e a correspondente adoção de uma linha psicomé-
nidades - e a necessidade de introduzir inovações é de difícil so- trica para obtenção de dados, para uma linha naturalística ou etno-
lução e foi incorporado no currículo em duas linhas básicas: na gráfica e o uso de medidas qualitativas, implicou também uma
análise do significado genético de diferença racial e étnica e na mudança de concepção de educação. Subjacente à primeira, há a
contraposição do respeito pelas tecnologias tradicionais e intro- idéia de formação de elites e a necessidade de classificação de es-
dução de tecnologias modernizantes não-autóctones. tudantes em um espectro contínuo que alinha os melhores aos
piores. Subjacente ao segundo tipo descrito há a convicção de que
Entretanto, uma outra diferença importante — entre a crise dos todos podem aprender e à escola cabe encontrar formas de ensi-
anos cinqüenta e a dos anos oitenta — reside na criação de uma co- nar, que atendam aos diversos tipos de educandos.
munidade de pesquisadores que nos últimos trinta anos se dedi-
cam ao estudo de problemas como: processo ensino-aprendiza- As pesquisas de tipo experimental, que buscavam demonstrar a
gem, comportamentos de professores em sala de aula, mapea- superioridade de um método como discussão ou de um recurso di-
mento e identificação dos conceitos que os alunos trazem para a dático como filme, instrução programada, entre outros, sobre au-
sala de aula e verificação das modificações conceituais causadas las expositivas em geral, não atingiram seus objetivos (Atkin & Bur-
pelo processo de escolarização, interesse de alunos pelo aprendi- nett, 1969, p. 1197). Quando se confirmavam suas hipó-
zado das Ciências, papel da linguagem e comunicação no aprendi- teses de vantagens de um processo sobre outro, o delineamento e
zado, entre muitos outros. a execução da experiência eram passíveis de criticas, por não con-
siderarem o processo educacional em sua totalidade, podendo-se
Como essa comunidade vem-se organizando e institucionalizando atribuir, então, seus resultados à omissão de fatores importantes
em regiões do mundo todo, muitas pesquisas foram realizadas, do na consideração desses resultados.
mesmo modo que foi acumulado o conhecimento relativo às
questões que vêm sendo sistematicamente investigadas. Esta si- Assim, por exemplo, em um caso clássico de organização de expe-
tuação nos encaminha para a análise da outra vertente menciona- rimento, quando se contrapõem aulas práticas a aulas de discus-
da no início deste trabalho. são e aulas expositivas, os resultados indicam que as diferenças
entre os grupos residem basicamente nas atividades de manipu-
Produção de conhecimento resultante do estudo do ensino de lação do equipamento. Mas o que se pode perguntar é se a verifi-
ciências cação do aprendizado dos alunos foi feita de maneira a considerar
os aspectos realmente importantes.
A origem, motivação, escopo e metodologia das pesquisas realiza-
das têm variado em função da adoção de paradigmas e teorias di- A constatação de que a pesquisa sobre ensino não poderia ficar
ferentes que orientaram os trabalhos dos investigadores. confinada a uma organização acanhada e restritiva, muito ao estilo
dos cientistas que procuravam reproduzir o que faziam em seus la-
No início da década de sessenta refletiam a preocupação maior da boratórios, levou um amplo elenco de pesquisadores provenientes
época: a avaliação dos projetos curriculares preparados para uso de muitos campos do conhecimento - sociólogos, psicólogos,
dos professores e alunos das escolas secundárias das disciplinas filósofos, matemáticos especialistas na área de comunicações - a
de Física, Química e Biologia. se engajarem no processo.

A passagem de uma prática experimental, que esperava obter re- A ampliação e a diversificação de competências, preocupações,
paradigmas vêm enriquecendo a área e poderão resultar na for- car outros, mas a plataforma será sempre a que a criança já incor-
mação de uma sólida base de conhecimento que permita trabalhar porou e a visão do mundo que construiu.
com os alunos fundamentando-se em informações e dados que
conduzam a uma real formação científica. O pressuposto construtivista provoca, por sua vez, uma série de
questões. Admitindo-se que em certas fases de seu desenvolvi-
O ponto focai das preocupações têm sido o estudante e a análise mento o estudante só pode aprender determinados conceitos, o
do complexo processo educacional. A aquisição de informações currículo deve ser adaptado ao que se supõe o aluno possa apren-
continua sendo uma questão a ser resolvida, mas a sua integração der, ou deve-se partir do pressuposto que haverá formas de ensi-
pelo estudante às idéias que traz para a escola passa agora a ser nar coisas consideradas fundamentais em qualquer idade, para
também objeto de estudos. qualquer aluno?

Em face da nova postura, o aluno deixa de ser uma caixa preta, Admitir que o aluno forma suas idéias fora da escola pressupõe
cujos processos cognitivos são ignorados, para ser um indivíduo que grupos de alunos de origens culturais diferentes poderão ter
que deve ser analisado, e sua forma de pensar descrita e observa- visões diversas de mundo, conhecimentos que reflitam experiên-
da. cias formais e informais diferentes e que, portanto, os currículos
deverão atender e superar essas diferenças.
Os estudos clássicos de Piaget a respeito da psicogênese dos con-
ceitos nas crianças levaram os educadores a admitir que os alunos Esta questão está estreitamente ligada a outra, igualmente bási-
estão constantemente integrando experiências de aprendizado ca: os currículos devem refletir as relações entre a ciência, a tecno-
formal e informal. Nesse processo formam conceitos complexos, logia e a sociedade. Esta análise não pode ser desvinculada de va-
organizados e estreitamente vinculados à própria estrutura do co- lores, de sistemas éticos, de paradigmas, padrões que, por sua vez,
nhecimento das várias disciplinas. As crianças constroem mode- têm de ser testados e colocados em prática em diferentes si-
los e explicações e têm idéias previsíveis acerca dos fenômenos tuações que envolvem decisões individuais, familiares, comunitá-
científicos. Esta constatação abriu um fértil campo de trabalho — rias, decisões de âmbito nacional e internacional e decisões que
mapeamento de conceitos intuitivos, explicações que apresentam afetam o futuro da humanidade.
em relação a vários fenômenos e argumentos que invocam para
justificar suas idéias e explicações. Um tratamento adequado para esses problemas na escola implica
uma complexidade que transcende o da transmissão de conheci-
A verificação do paralelismo entre a evolução histórica do conhe- mento, pois envolve ações que devem substituir preconceitos e
cimento em certas áreas da Física, Química e Biologia e o pensa- visões estereotipadas inculcadas por mecanismos manipuladores
mento dos jovens e das crianças abriu uma outra linha de pesquisa por uma capacidade autônoma de ver e pensar acerca de proble-
que vem sendo intensamente explorada. mas que atingem direta ou indiretamente o estudante. Implica
também possibilitar ao estudante:
Como em muitos campos do conhecimento, a fase descritiva de-
sempenha papel importante na construção de uma base concreta • pensar por si mesmo, obedecendo à razão e não à autoridade;
para os professores planejarem suas atividades didáticas, de for- • ser capaz de identificar os mecanismos de controle exercidos
ma que o aluno possa ir além da simples absorção de informação. sobre o cidadão;
Será preciso construir novos conceitos, destruir alguns e modifi- • sistematizar o conhecimento parcial fragmentário, adquirido

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em contatos com a família e com os amigos no mundo do tra- no desejo de convencer e de ouvir outros que possam ter razões
balho; que nos façam mudar de idéia.
• entender o papel e o significado da ciência e da tecnologia na
sociedade contemporânea, compreendendo o que se faz em Educar para a cidadania, sem restringir a escola ao papel de prepa-
ciência, por que se faz e como se faz. ração do indivíduo maleável e manipulável, é a grande tarefa com
que se defrontam hoje os professores de Ciências.
Porém, ao discutir problemas éticos, várias questões se apresen-
tam de forma pungente ao professor: como discutir problemas de Bibliografia
valores sem doutrinar. O docente tem de abordar situações extre-
mamente complexas com alunos que ainda não incorporaram o ATKIN, M. & BURNETT, R.W. Science education. In: Encyclopae-
conhecimento, a experiência e a maturidade para analisá-las auto- dia of education research. 4.ed. s. I., MacMillan, 1969.
nomamente. p. 1197.

Será possível ao professor, cuja relação com os estudantes é de GARDNER, Paul L. Students interest in science and technology; In:
autoridade hierárquica, manter-se neutro diante de um problema LERKE, M. et alii, ed. Interests in science and technology
que envolve a adoção de um padrão ético e moral? education. Kiel, Kiel University, 1985. p. 17.

Parece-me que só criando situações de conflito, desnudando e SCIENCE achienement in seventeen countries; a preliminary re-
contrapondo os interesses em jogo, sem usar a autoridade para port. s. I., Pergamon Press, 1988. 72p.
impor opiniões, o professor ajudará a formar cidadãos que possam
decidir por si próprios, que empreendam ações em busca do bem VIANNA, H.M. & GATTI, B.A. Avaliação do rendimento de alunos da
comum e da consecução das mudanças que considerarem neces- escola de 1° grau da rede pública; uma aplicação experimen-
sárias. Parte crucial desse processo é o desenvolvimento da capa- tal em 10 cidades. Educação e Seleção, São Paulo, 17:51 -
cidade de argumentação, que envolve sinceridade e competência 2, jan./jun. 1988.
DAMBRÓSIO, Ubiratan. Da realidade à ação — reflexões sobre 1976, no volume "Educación en Ias Américas IV", com o titulo "Ob-
educação e matemática. São Paulo, SUMMUS/UNICAMP jetivos e Tendências da Educação Matemática em Paises em Vias de
1986. 115p. Desenvolvimento ".

Este livro constitui-se um apanhado do pensamento de D 'Ambrósio, Neste capítulo, o autor examina algumas questões básicas que con-
desde meados da década de 70. Conhecido educador e matemático, sidera primordiais quando da apreciação da relação MATEMÁ-
atualmente atua como pró-reitor da Universidade Estadual de TICA/desenvolvimento social. São estas: "Como e por que ensinar
Campinas — UNICAMP e tem tido destacada participação em even- matemática?", "0 que fazer com a matemática ensinada?".
tos nacionais e internacionais relacionados ao campo da educação
matemática. Citando Brecht, quando coloca que "o único objetivo da ciência é ali-
viar a dureza da existência humana ", D 'Ambrósio define seu pon-
Esta obra, como salienta o autor prefaciando-a, traduz a evolução de to de vista de que a matemática deve servir à melhoria da qua-
um pensamento ao longo de dez anos, em que a preocupação com a lidade de vida humana. Ressalta ainda que este não é um tema no-
integração dos temas MATEMÁTICA/EDUCAÇÃO/HISTÓRIA tem vo, mas que o é em se tratando do caso específico da América La-
sido uma constante. tina.

0 livro divide-se em seis capítulos e há a inclusão de dois apêndices. Deste modo, deve-se considerar aspectos problemáticos de uma
Quase todos os escritos originam-se de pronunciamentos do autor realidade caracterizada como subdesenvolvida, dependente e peri-
em congressos e seminários que vêm acontecendo na área do ensi- férica. Um deles diz respeito à formação das elites intelectuais. O au-
no da matemática desde 1975. tor ressalta a importância de os intelectuais surgirem de todas as ca-
madas sociais, e de este ser fator primordial para a instauração da
Por um lado, o livro consegue demonstrar a riqueza e a evolução do justiça social.
pensamento do autor a respeito de temas relacionados à educação e
matemática. Por outro, sua leitura demanda extrema atenção ao D'Ambrósio salienta que a matemática é ciência essencial no
contexto e à época em que foram escritos os textos, pois cada um auxílio aos problemas de base do nosso desenvolvimento, mas que,
dos seis capítulos e apêndices foram elaborados para públicos e ob- infelizmente, vem sendo tratada de modo a descaracterizar tal
jetivos diversos, e em ocasiões diferenciadas. função. Os cursos de matemática destinados à formação do jovem
embotam sua criatividade e inteligência e impedem, de forma defi-
0 capítulo primeiro trata da questão Matemática e Desenvolvi- nitiva, a formação do pensamento matemático. Os cursos de
mento. Este texto consistiu em sua primeira exposição para um ple- pós-graduação - que deveriam ser responsáveis tanto pela pro-
nário internacional, durante a 4.ª Conferência Interamericana de dução científica na área como pela preparação de profissionais com-
Educação Matemática, que aconteceu em Caracas, em 1975. O tex- petentes atualizados — nada mais fazem do que repetir fórmulas em
to original, do qual se retirou este primeiro capitulo, foi publicado em desuso há mais de 30 anos nos paises desenvolvidos.

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Assim, é preciso centrar esforços para que a matemática se trans- segunda, à palestra proferida no III Encontro sobre Ensino de Ciên-
forme em ciência imediatamente utilizável; fica claro que há urgên- cias, ocorrido em Teresina, Piauí, em 1984.
cia em abandonar o atual modelo universitário baseado no acúmulo
de conteúdos para tentar conduzi-lo àquele proposto pelo autor, o D'Ambrósio inicia o capítulo com a colocação da questão "a edu-
qual se baseia no tripé composto pela construção da nova lingua- cação matemática é uma disciplina?" É, pois, através da tentativa
gem matemática, pela descoberta de técnicas de indentificação e de responder a esta questão que o autor faz reflexões em torno da
ataque a problemas e pela busca de uma metodologia adequada de educação matemática. Afirma que ela é uma atividade multidiscipli-
acesso ao conhecimento acumulado. nar, cujo objetivo é "transmitir conhecimentos e habilidades mate-
máticas através dos sistemas educativos", e que a matemática é
O autor finaliza o primeiro capítulo com a recomendação de que é uma linguagem ligada ao contexto sociocultural em que está inse-
primordial a adoção de uma forma de ensino mais dinâmica e de ob- rida.
jetivos mais adequados à realidade descrita, de modo que a matemá-
tica desempenhe papel de auxiliar na melhoria da qualidade da vida 0 autor analisa a relação entre matemática e educação matemática
humana nos países subdesenvolvidos. tendo em vista que as inter-relações entre ação/teoria/prática le-
variam à consideração da atuação da disciplina prática de ensino
O capítulo segundo — Considerações Histórico-Pedagógicas so- da matemática nos contextos educacionais.
bre Matemática e Sociedade — foi objeto de conferência do 3?
Congresso Internacional de Educação Matemática, em 1976, na A relação da disciplina com a ação deve ocorrer segundo uma pers-
Alemanha. O texto original foi publicado na Revista Ciência e Filo- pectiva dialética, já que a elaboração dos currículos leva à conside-
sofia, em 1980. ração dos problemas da transmissão cultural. E é neste ponto que o
autor introduz o conceito de ETNOMATEMÁTICA, que gera a dis-
Há tentativa, por parte do autor, em realizar o esboço de uma análise cussão relativa à natureza histórico-epistemológica desta ciência.
sociológica dos rumos que tomam a pesquisa e o ensino matemá-
tico. Há uma análise referente à conceituação de currículo, e este é colo-
cado como resultado da reflexão sobre teoria e prática na educação
Fica implícita a intenção do autor de apontar algumas pistas para a matemática, na qual a necessidade levantada centra-se na de
análise desta questão; sua complexidade, entretanto, impede que encontrar os caminhos que levem a um currículo aberto e dinâmico.
em tão poucas páginas seja feita uma abordagem profunda do te-
ma. Desta forma, o autor apresenta um breve histórico da evolução 0 capítulo quarto — Em Busca de uma Teoria da Cultura — foi ob-
da matemática, no qual retoma fatos que vão desde a criação dos jeto de conferência proferida pelo autor no I Simpósio Sul-Brasileiro
sistemas numéricos até o aprimoramento da tecnologia da informá- de Ensino de Ciências, ocorrido em Florianópolis, em 1985.
tica e as possíveis relações com o desenvolvimento da educação.
Como objetivo principal do texto, o autor coloca o de "elucidar o rela-
O capítulo terceiro —Teoria e Prática em Educação Matemática cionamento do ensino de matemática com o processo de desenvol-
— originou-se da aglutinação de duas palestras proferidas em 1983 vimento, baseando-se em uma conceituação de cultura que resulta
e 1984. A primeira parte do capítulo diz respeito à conferência pro- de uma análise da dinâmica de comportamento".
ferida por ocasião da abertura do Seminário de Trabalho sobre Práti-
cas do Ensino de Matemática, em Rio Claro, São Paulo, em 1983. A Para tanto, classifica e hierarquiza comportamentos em três catego-
rias, "individual, social e cultural", o mesmo fazendo com os proces- Ainda neste mesmo texto, ressalta-se a explanação acerca do uso da
sos, que classifica em "aprendizagem da linguagem, educação e máquina calculadora e de seu histórico como instrumento de ensino
arte-técnica ". Como base a este esquema explicativo, o autor refere- extremamente útil à consecução dos princípios dos processos de
se a algumas teorias de aprendizagem, como as de Piaget e Papert, e modelagem.
termina por explicar, de forma detalhada, os processos de inte-
gração da tecnologia à realidade.
Os dois apêndices inclusos ao texto denominam-se Integração:
Tendência Moderna no Ensino de Ciências e Influência de
O capítulo quinto — Matemática para Países Ricos e Países Po-
Computadores e Informática na Matemática e seu Ensino. 0
bres: Semelhanças e Diferenças - foi material de conferência
primeiro consistiu em objeto de trabalho para o VI Encontro Nacio-
proferida no Simpósio realizado no Suriname, em 1982, Mathe-
nal de Educação, ocorrido em São Carlos em 1975, e o segundo em
matics Education for the benefit of Caribbean Countries.
trabalho realizado para o ICMI, Comissão Internacional para Ins-
trução Matemática.
Este texto retoma a discussão em torno do conceito de etnomatemá-
tica e de sua incorporação ao currículo, já que o autor analisa o fra-
casso do atual ensino de matemática ministrado nas escolas, o qual 0 primeiro texto analisa a questão da integração como característi-
acaba por deixar os indivíduos mais dependentes, pois os mantém ca essencial ao ensino de ciências, a fim de que este contribua para
matematicamente analfabetos e já desprovidos da linguagem infor- a melhoria da qualidade de vida, desde que a ele se associem temas
mal dominada antes de seu ingresso na escola. Explicita, neste pon- como população, pobreza, poluição, paz.
to, os componentes ideológicos do ensino da matemática.
Para que tal fato ocorra, o autor centra esforços na questão da for-
O capítulo sexto foi publicado anteriormente na Revista Contato, mação do professor, chegando inclusive a esboçar proposta de curso
editada pelo CESGRANRIO em 1977. Sob o título de Modelos, Mo- que viria suprir as atuais deficiências dos cursos de licenciatura.
delagem e Matemática Experimental, o autor toma-o por uma
síntese dos capítulos anteriores. Entretanto, esta síntese faz-se de
forma aplicada, pois leva os conceitos já adotados, como o de ETNO- 0 segundo texto associa as questões computadores e matemáti-
MATEMATICA, a uma metodologia de ensino prática, realmente ca e ressalta a importância de se pensar seriamente em como acon-
voltada ao ensino da matemática. Desta forma, acredita-se que este tecerá a educação matemática no futuro, quais seus meios e suas
é o capítulo que interessará exclusivamente àqueles que atuam dire- conseqüências.
tamente na área de ensino de ciências, pois os processos de modela-
gem são conceituados, explicados e aplicados pelo autor em exem-
plos práticos. Glaucia Melasso Garcia

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LOPES J. Leite. Ciência e libertação. Rio de Janeiro, Paz e Terra, clear germano-brasileiro e da transferência de tecnologia para os
1978. 244p. países em desenvolvimento; 8 — Anexos, em que o autor apresenta
quadros demonstrativos referentes a transferências de recursos, fi-
O livro Ciência e Libertação, de J. Leite Lopes, compreende um nanciamentos e dados comparativos sobre pesquisas em vários paí-
conjunto de artigos que o autor escreveu como professor e pesquisa- ses do mundo.
dor de Física a respeito de questões relacionadas à organização das
universidades e da pesquisa científica em nosso país, bem como de Sente-se visivelmente, nesta obra, a preocupação do autor com re-
estudo e análise dos problemas ligados ao subdesenvolvimento que lação aos seguintes questionamentos: Para que tipo de sociedade ou
tem levado os países da América Latina a continuarem cientifica- para qualprojeto nacional queremos o desenvolvimento? Nos países
mente dominados e dependentes. Toda a obra está voltada para a da América Latina, estimulam-se sacrifícios para o desenvolvimen-
necessidade de um desenvolvimento científico e tecnológico, como to, em benefício de quem? 0 mito da transparência de tecnologia
condição para atingir a sua independência ou autonomia econô- ou implantação de fábricas e máquinas provenientes do exterior não
mica. constitui um disfarce para novas formas de dependência?
Estas são apenas algumas das questões levantadas pelo autor e que,
Lopes estruturou seu trabalho em 7 partes: 1 — Ciência e Subde- evidentemente, preocuparão os nossos cientistas, mocidade e líde-
senvolvimento, enfocando o desenvolvimento da ciência no Ter- res políticos.
ceiro Mundo e o papel da tecnologia como um instrumento para a li-
bertação de um povo; 2 — Responsabilidade dos Homens de Ciên- Dentre os diversos enfoques referidos, merecem especial destaque
cias, em nova era contemporânea; 3 — Ciência e Humanidade, em as observações de Lopes relativas à questão de estrutura dos institu-
que o autor mostra a necessidade da ciência para os homens e, neste tos de pesquisa científica. Na sua opinão "um instituto de pesquisa
contexto, o Brasil no Projeto do tratado de não-proliferação de ar- científica deve ser estruturado para permitir que nele se realizem
mas atômicas; 4 — Que Universidade?, em que o autor procura des- investigações cientificas"... Deve a instituição receber recursos fi-
crever a universidade na América Latina e a postura da juventude nanceiros adequados, "continuamente ", indispensáveis à execução
brasileira perante o desafio do subdesenvolvimento; 5 — Organi- de trabalhos científicos e à remuneração condigna dos pesquisado-
zação da Produção Científica, em que são evidenciadas as questões res na base de dedicação exclusiva, assim como dotações especiais
financeiras perante a política científica e tecnológica, bem como a para aquisição de equipamentos necessários a sua expansão.
estrutura dos institutos de pesquisa científica; 6 — Fases da Física
no Brasil, em que Lopes analisa os primeiros vinte anos da Física Nu- No Brasil, segundo Lopes, a experiência científica "tem sido uma
clear no Brasil e a tentativa de uma bibliografia sobre Física Nuclear série de frustrações e insucessos ". Por exemplo, as universidades
(1934-1954), fazendo referência, também, aos Institutos de Física brasileiras foram constituídas de faculdades independentes (Direito
de Brasília (1962-1963) e do Rio de Janeiro (1968); 7 - Ciência, — Medicina — Engenharia), cujo objetivo não foi a dedicação exclusi-
Energia Atômica e Dependências, no qual se faz uma análise do va ao pensamento criador; ao contrário, serviu como representação
problema da energia nuclear no Brasil (1955-1958), do acordo nu- social, título para obtenção de empregos rendosos ou como adorno

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em cartão de visita e escritórios profissionais. Esta nefasta tradição Entretanto, com a crise política de 1964, eclodiu o agravamento da
impediu até hoje que se implantasse o regime do tempo integral pa- deterioração de vários institutos de pesquisas científicas, notada-
ra os poucos pesquisadores dessas instituições. mente na Universidade de Brasília, que havia sido idealizada com
base nas melhores universidades norte-americanas.
Na verdade, a estrutura administrativa do pais subordina as univer-
sidades e institutos de pesquisas federais, cujo objetivo consistiu em Por isso, Lopes entende que "não se poderá realizar novo progresso
cortar verbas, impedir a nomeação de jovens pesquisadores e con- no domínio da física nuclear, neste país, sem um projeto que lhe dê
gelar vagas que possam surgir no quadro cientifico das instituições. uma nova dimensão do ponto de vista financeiro, tecnológico e do
aproveitamento de cientistas e jovens físicos egressos das universi-
Segundo Lopes, "sem uma administração eficiente, compreensiva e dades ".
inteligente, não há instituto de pesquisa científica que resista à de-
predação. Em países desenvolvidos, a cultura, a pesquisa científica Em relação à questão da Física Nuclear no Brasil, o autor apresenta
e a tecnologia, bem como a educação em todos os graus, são levadas uma tentativa de levantamento bibliográfico, incluindo trabalhos de
a sério ", pois, ao criar uma nova universidade ou instituto de pesqui- física nuclear, radioatividade, mecânica quântica, teoria dos campos
sa, a preocupação fundamental é escolher técnicos ou profissionais e das partículas elementares.
competentes, para que ela venha a funcionar com eficácia.
Lopes esclarece que o clássico conceito de desenvolvimento parece
No Brasil, entretanto, algumas instituições foram criadas por pes- estar associado à noção de dominação. A divisão do mundo entre
quisadores de valor. O autor cita, como exemplo, três instituições: o nações industriais ricas e países pobres dominados "parece ter sido
Instituto Osvaldo Cruz, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e a essencial para a ideologia do sistema capitalista, uma espécie de sa-
Universidade de Brasília. grado tratado de Tordesilhas assinado por Deus e não pelo Papa "...

O autor esclarece que a Universidade de Brasília (UnB) foi fundada J. Leite Lopes alerta os físicos dos países em desenvolvimento, a fim
por uma equipe de eminentes educadores, cuja finalidade era de im- de que critiquem os livros de texto e a metodologia de aprendiza-
plantar, numa cidade inteiramente nova, uma universidade moder- gem; convoca também todos os cientistas para que "dediquem seus
na, que servisse como modelo às demais universidades brasileiras. trabalhos a uma vida melhor e mais significativa a serviço do ho-
mem ", que se caracteriza, sob muitos aspectos, como instrumento
Lopes enfatiza, ainda, a necessidade de se manter um intercâmbio de dominação nas mãos das forças opressivas dos senhores do mun-
internacional e de se estruturarem as instituições de pesquisas, para do.
que surja uma tecnologia criadora e independente. Assim, "a admi-
nistração dos institutos de pesquisas estará a serviço dos cientistas, 0 livro Ciência e Libertação está escrito numa linguagem simples
que verão seus trabalhos contribuírem não somente para a humani- e objetiva; o autor procura dar um passo para o exame, o estudo e a
dade, em termos abstratos, mas para o bem-estar dos seus amigos e crítica dos problemas e da busca de soluções que configuram a ver-
de seu povo". dadeira face do Brasil de hoje.

O autor analisa também a questão da Física Nuclear no Brasil, escla- Este livro revela-nos a figura de um brasileiro que coloca o seu saber
recendo que o seu desenvolvimento concentrou-se, inicialmente, no a serviço da evolução qualitativa de seu povo. Não escamoteia o de-
Rio de Janeiro e em São Paulo (1954-1964). senvolvimento científico e tecnológico no chamado Terceiro Mundo,
o qual entra em conflito com os interesses das estruturas minoritá- e indústrias necessárias a seu desenvolvimento. Ignoram, assim,
rias, nacionais ou não, que vêem no poder opressor o freio para a que sustentam a manutenção da dependência dos países do Tercei-
manutenção de um status quo em que a maioria vive ainda mergu- ro Mundo em relação aos avançados, dessa vez não mais com tropas
lhada no sofrimento e na ignorância. Solidariamente ligado às de ocupação, mas através da dependência mais sutil do conheci-
atuais necessidades do ser humano no Brasil, não esquece que as mento científico, das tecnologias aperfeiçoadas e, inclusive, de ma-
grandes empresas estrangeiras, pelo fato de terem se transformado nuais de ensino e método de educação, elaborados nas universida-
em superpotências na área dos subdesenvolvidos, multiplicarão des e laboratórios das grandes potências".
seus laboratórios de pesquisa nos países em que operam.
J. Leite Lopes é autor de vários livros publicados no Brasil e no exte-
Neste sentido, afirma Lopes, "a grande maioria dos cientistas e ad- rior sobre ciência e tecnologia; é também conferencista de renome
miradores das nações desenvolvidas, mesmo os mais liberais, conti- internacional.
nua a sustentar a tese de que aquilo que os países subdesenvolvidos
devem fazer é comprar (como em um supermercado) as tecnologias Samuel A. da Silva

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