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- p. da justiça distributiva: determina que se proceda com equanimidade sempre que se
trate de recnhecer normativamente bens, encargos, riscos e oportunidades;
o portunidades;
-p. do mínimo de existência: exige que se garanta a cada pessoa a atribuição dos bens e
serviços necessários para que verdadeiramente
verdadeiramente possa existir como pessoa;
- p. da progressiva
progr essiva eliminação das diferenças: determina que se tente melhorar sempre e
tanto quanto possível, através de uma criteriosa repartição da riqueza;
- p. da justiça comutativa: impõe que o respeito pelos pré-existentes equilíbrios
patrimoniais sempre que se proceda a uma troca de bens;
- p. da segurança jurídica: postula a transparência da situação jurídica.
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14.ª Lição: O modo-de-ser do Direito
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advertência no sentido de não absolutizar, no estudo do direito, um ponto de vista centrado
num dos vectores apontados.
- Direito Subjectivo: poder jurídico reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa de
livremente pretender ou exigir de outrem determinado comportamento positivo (acção) ou
negativo (omissão) – direito subjectivo propriamente dito – ou de, por um acto de livre
vontade, só de per si ou integrado por um acto de autoridade pública, produzir determinados
efeitos jurídicos que inevitavelmente incidirão na esfera jurídica de outrem – direitos
potestativos que se desdobram em: extintivos, restitutivos e constitutivos.
Épocas de Direito Objectivo e Direito Subjectivo: a relação entre estes dois modelos
emergiu incipientemente na Idade Média, afirmou-se comunitariamente na Idade Moderna e
foi conceptualmente tematizado apenas no século XIX. A nível dos direitos pré-modernos não
havia propriamente direitos subjectivos, mas sim estatutos sociais que os diversos actores
sociais investiam. Para o pensamento romano o direito era uma ordem objectiva que definia o
estatuto dos cidadãos e determinava a situação das coisas.
Na Idade Média, à integração do Homem na comunidade sucede a autonomizante
desintegração dela, passando a ser possível pensar com sentido nos direitos subjectivos. Na
Idade Moderna, o Homem assume a sua autonomia pessoal perante as comunidades. O
individualismo e o contratualismo vieram a estabilizar a possibilidade de existir um conjunto
de direitos subjectivamente titulados. Foi o Jusnaturalismo Moderno que instituiu a criação de
sistemas de direitos subjectivos. O Homem passou a compreender-se como um indivíduo, com
uma autonomia que se projectava nos direitos subjectivos que titulava. O direito objectivo era,
na época moderno-comunista, uma mera soma de direitos subjectivos, entre os quais se
destacava o direito de propriedade e o de liberdade. Mais tarde, com a autonomização do
direito público, emergiram outros direitos fundamentais.
Mas o século XX apresentou-se como uma época dualista: subjectivista- na linha liberal de
Locke; e objectivista – os direitos subjectivos eram reconhecidos pelo direito objectivo
segundo a tradição francesa de Montesquieu e Rosseau.
Conclui-se que quanto mais se afirmar a individualidade, mais se afirmam os direitos
subjectivos e mais se desintegra o sistema objectivamente consagrado; à medida que se afirma
vincadamente a autonomia da individualidade e se procuram incessantemente os direitos
subjectivos, o direito objectivo desvela a responsabilizante vinculação de cada um à
comunidade, o horizonte de emergência da personalidade. A hipertrofia de uma destas
categorias gera uma prática desequilibrada. Por exemplo, a sobressalência do direito
subjectivo corresponde ao apagamento da comunidade, levando à anarquia; assim como uma
unilateral acentuação do direito objectivo foi o oculto propósito de todas as ditaduras.
Actualmente, são dois pólos irredutíveis de normatividade jurídica na medida em que se
densificam reciprocamente. O Homem apresenta-se hoje como pessoa, constituído por
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centrífguas e centrípetas, a que correspondem os direitos objectivo e subjectivo. É uma pessoa
autónoma, mais responsável pela comunidade em que se insere. A normatividade jurídica só
pode ser compreendida em termos de uma dialéctica entre o direito objectivo e o direito
subjectivo. É exactamente isto que o critério do abuso do direito (artigo 334.º Có digo Civil) nos
pretende evidenciar: mesmo que tenhamos capacidade para exercer direitos subjectivos que
os titulamos, temos que respeitar o seu fundamento material, caso contrário incorremos numa
situação de abuso do direitos. Temos que ter em conta a inserção comunitária do Homem.
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15.ª Lição: A Objectivação da Normatividade Jurídica
-> Opõe-se a esta concepção normativa uma perspectiva casuística, de que é exemplo o
direito romano clássico (um sistema jurisprudencial doutrinal), o direito medieval (um sistema
jurisprudencial hermenêutico), ou acutalmente o sistema inglês da Common Law – um sistema
baseado em precedentes, isto é, na resolução de casos concretos, toma-se como ponto de
partida a comparação do fundamento normativo material de casos análogos precedentes. O
casuísmo era portanto uma perspectiva mais antiga, pelo que o normativismo constituiu uma
novidade. Do ponto de vista casuístico dá-se enorme importância à figura do jurista, enquanto
instância de reconstituição do fundamento jurídico nuclear e culturalmente conservadora. Era
um sistema complexo constituído por várias dimensões;
-> O racionalismo moderno mudou as coisas. Quis eliminar a pluridimensional
complexidade do sistema jurídico do direito romano e do direito pré-moderno ao afirmar a
unidimensionalidade do sistema jurídico: era composto por um só estrato imposto ao
legislador. Esta concepção normativista foi a concepção do positivismo ulterior que via o
sistema jurídico como um sistema concluso, um conjunto de normas legais que contém a
resolução de todos os problemas da vida concreta, porque direito era igual à lei;
-> Hoje, o entendimento do positivismo jurídico é insustentável. Temos que descobrir um
entendimento do sistema que se mostra liberto das aforias positivistas. Nem toda a
normatividade material que transcreve as normas pré-existentes – não só uma normatividade
que está acima das normas legais, mas também a normatividade que está abaixo destas (a
própria normatividade jurídica numa dimensão integrante do sistema jurídico). É certo que o
positivismo jurídico falava já em princípios, mas estes não eram ainda princípios normativos,
mas sim gerais do direito (generalizações lógicas das normas positivas). Ao formarmos
princípios normativos, estamos já a fazer referência ao primeiro estrato do sistema jurídico.
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A relevância da Metodológica do Sistema Jurídico: vivemos num sistema de legislação
– os casos susceptíveis de serem reconhecidos como juridicamente relevantes podem ser
solucionados pela mediação das normas jurídicas. O legislador tem uma perspectiva
privilegiadora de criação da normatividade vigente – mas não tem o monopólio! As normas
não dão a solução concreta, são mobilizadas para orientar o decidente, mas a solução concreta
é-nos dada pela sentença judicativa, isto é, a decisão judicativa.
Estamos perante duas categorias metodológicas muito importantes: a norma e a decisão
e, entre elas, intervém uma terceira – o juízo (a fundamentação da decisão). A decisão radica
na afirmação de uma vontade, é um “quero, posso e mando” e como tal tem de ser
fudamentada pelo juízo que racionaliza a passagem da norma a decisão. O juízo assimila a
norma com a decisão. Como? O juíz utiliza a norma para justificar a decisão, mas tem que
inserir a norma num contexto mais amplo, o sistema jurídico.
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que actuam em todos os momentos de constituição do direito, embora intervenham mais
notoriamente quando não houver mediação de uma norma na realização do direito.
Tipos de princípios
- > p. positivos: estão expressa ou implicitamente consagrados no sistema jurídico;
- > p. transpositivos: constituem as condições normativo-transcendentes e conferem
sentido especificamente constitutivo aos vários e diferenciados domínios jurídicos;
- > p. supra-positivos: são constitutivos do fundamento último do direito relacionando-se
com a dignidade ética da pessoa humana.
Modo de objectivação
- > escritos: aqueles mais elaboradamente tematizados;
- > não-escritos: aqueles que se vão propondo em resultado de uma mais
aprofundadamente relfectiva intelecção de juridicidade.
Intencionalidade Normativa
- > abertos: só estamos perante princípios normativos se estes puderem ser
racionalizados no âmbito de um determinado processo especial. A justiciabilidade apresenta
duas dimensões: formal (garantida pelo processo) e material (garantida pela compreensão do
juízo tal como ele deve ser entendido metodologicamente);
- > em forma de norma: são susceptíveis de ser adequadamente mobilizados em juízo
com o objectivo de dar uma resposta pronta a pertinentes interrogações que se podem
levantar.
Origem normativa
- > p. que explicitam a ideia de direito, ou seja, que são imediatas explicitações da
normatividade da ideia de direito (ex: dignidade da pessoa humana);
- > p. que traduzem juridicamente valores e poderes ético-sociais (ex: boa-fé);
- > p. especificamente jurídicos (ex: não retroactividade das leis).
O problema das relações entre lei e direito é o problema de maior dimensão da função
normativa dos princípios. Até agora afirmaram-se dois princípios extremos para a solução
deste problema: legalismo e o jusnaturalismo. Opta-se por uma solução de meio-termo: como
as leis devem ser interpretadas segundo a constituição, supomos também que pode sustentar-
se que as normas devem ser interpretadas conforme os princípios. No entanto, a antinomia
lei/direito pode ser radical, ou seja, pode acontecer que uma norma viole certos princípios e
valores e aí deverá preferir-se imediatamente por estes últimos já que a norma seria injusta e,
portanto, inválida. Além disso, pode bem acontecer que as normas apareçam a limitar os
princípios. Temos outro modo de superar as antinomias lei/direito.
2) Normas Jurídicas: visam determinar / solucionar um dado problema pela sua estrutura
lógica, já que ligam a uma certa hipótese, que prevêem, determinada consequência jurídica.
No entanto, não deverão ser só concebidas como premissas lógicas, como entendia o
positivismo. Só ganham sentido quando referidas ao princípio que as fundamenta. Na verdade,
se nós compreendermos a norma como uma premissa lógica, a única coisa que nos importaria
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era determinar o sentido que ela própria (para o objectivismo), ou o legislador através dele
(para o subjectivismo) visa comunicar com o texto dessa mesma norma. Se pelo contrário
virmos a norma como solução tipificada do problema concreto, então vemos nela tudo o que
constitui – os fundamentos em que radica e os casos que visa resolver.
A norma é uma das determinações possíveis da intencionalidade mais difusa dos
princípios normativos. Há sempre um excesso normativo dos princípios em relação às normas.
Quanto à norma temos que considerar dois momentos: racional (fudamenta-se nos
princípios); imperativo (é o resultado da opção entre várias possibilidades que se abrem ao
legislador para objectivar a intenção normativa dos princípios fundamentais da norma).
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controlo: permite o controlo mais adequado das decisões judicativas; prático-normativa: não
se basta com uma função sistemática conceitual da explicitação de normas positivas.
Por referência à categoria histórica da vigência, podemos dizer que os princípios são
reversíveis mas benefeciam de uma presunção de validade; as normas benefeciam de uma
presunção de autoridade; os modelos elaborados pela dogmática de uma pretensão de
racionalidade; os precedentes jurisdicionais de uma presunção de justeza; a realidade jurídica
de uma pretensão de eficácia; e os bordos procedimentais de uma pretensão de justabilidade.
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16.ª Lição: As fontes do Direito
b) Exp. Jurídica Legislativa: tem uma índolo estatal porque nos reporta ao poder político.
Cumpre-se na prescrição de regras ou normas num intenção de regulamentação e
programática relativamente à realidade social ou político-social, que é o seu objecto.
A dimensão do tempo aqui patente é o futuro, já que o direito é compreendido como um
comando que se dita hoje para resolver problemas que se levantam amanhã. A constituição do
direito – anterior e autónomo do problema da sua aplicação – destaca-se portanto da
sociedade e afirma-se como uma estratégia politicamente orientada.
Estamos agora perante uma forma organizada e deliberada de constituir a normatividade
jurídica, que apresenta as seguintes notas tipificadoras:
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chamado a projectar a constituenda validade pressuposta no decidendo problema
controvertido-, mas também subjectivo – porque colocado entre as partes desavindas,
cumprindo-lhe ajuizar do método jurídico das respectivas posições. A normatividade
objectivada em referência a casos concretos pode vir a ser posteriormente reconvocada
quando se estiver perante um problema análogo.
Aepnas são fonte de direito os modos de constituição que a lei reconheça como tal. A lei
afirma-se como fonte principal e determinante do direito. Esta caracterização é dogmática já
que, além de ser teoricamente postulada, pretende dar uma solução ao problema obtido,
aproblematicamente através de uma mera análise descritiva do direito positivo; e tem um
carácter político-estatista: é o legislador que tem político-constitucionalmente reconhecido o
poder para criar normas jurídicas obrigatórias.
Então, se só a lei pode criar direito, o valor que se pode reconhecer aos tradicionais
modos de construção do direito é aquele que a lei determinar. Assim, da óptica político-
constitucional, não se reconhece o estatuto de fonte de direito nem à jurisprudência – embora
alguns autores reconheçam algum relevo ao direito jurisdicional, compreendendo-o como uma
manifestação do direito consuetudinário, o que é insustentável -, nem à doutrina (o resultado
da reflexão dos juristas).
O positivismo impunha à jurisprudência o dever de obediência à lei, só que isto assenta
numa falácoa pois oculta um passo muito importante: aquando da realização concreta do
direito pela mediação das normas, estas têm de ser interpretadas. Para o mesmo tipo de casos
os tribunais podem efectuar diferentes interpretações, em termos metodicamente adequados.
Esta falta de uniformidade da jurisprudência é inaceitável, tanto mais que o positivismo
jurídico privilegia a previsibilidade e a certeza do direito. Deste modo, todos os sistemas de
legislação criaram antídotos para pôr fim a este veneno.
Entre nós criou-se o instituto dos assentos: atribuía-se a um órgao jurisdicional o poder
de, para além de decidir o caso, prescrever uma norma geral e abstracta, vinculativa para
todas as controvérsias que, no futuro, justificassem a observância do género instituído. São
revogados em 1995 ( -> 732º CPC).
Crítica: a perspectiva fenomenológica normativa postula que o direito não se reduz à lei.
O direito vigente está para além das normas legais. O próprio sistema jurídico é hoje
compreendido em termos normativos porque contém uma pluralidade de estratos. O
problema das fontes de direito deve ser encarado de uma perspectiva fenomenológica –
normativa (porque centrada no fenómeno da constituição da normatividade jurídica), no
horizonte de uma comunidade histórico concretamente considerada.
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2) Momento de validade: o direito vigente intenciona uma específica validade. O
momento de validade identifica a dimensão pressuposta pelo direito, viabilizadora da posição
de problemas de direito. Serve para ajudar a resolvê-los. O pensamento jurídico vai
discernindo fundamentos e instituindo dogmaticamente critérios. É este momento que
possibilita a emergência de problemas juridicamente relevantes e impõe a respectiva solução.
Por outro lado, é também ele que nos revela não ser o direito uma qualquer prescrição
formalmente jurídica do poder. Legitimidade política é diferente da validade jurídica pelo que
apenas podem ser qualificadas como de direito as prescrições consonantes com o sentido que
reconhecemos à normatividade vigente;
- de ordem funcional: a lei revela-se partircularmente apta para realizar certas funções
(ordenadora, planificadora, regulamentadora, de integração e garantia).
Limites da legislação
1) Limites funcionais: são a contra face daquilo que afirmamos quando dizemos que a lei
pode tudo. Têma ver com aquilo que não se pode esperar da legislação num Estado de Direito
como o nosso. Há coisas que só a legislação pode tratar, mas há outras nas quais ela não se
pode inserir;
2) Limites normativos
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2.1) Limites objectivos: há sempre mais problemas juridicamente relevantes do que as
normas susceptíveis de serem mobilizadas para os solucionar. Na verdade,, o legislador não
pode prever todos os problemas juridicamente relevantes que surgem numa sociedade, já que
esta é muito complexa e a vida irrompe com toda a sua imprevisibilidade. Este problema vem,
aliás, a identificar-se com o problema das lacunas.
2.2) Limites intencionais: mesmo que uma determinada norma assimile a intencionalidade
normativa de um dado caso, ela sofre sempre de uma insuficência intencional. A norma é geral
e abstracta e o caso particular é concreto e a distância intencional que vai entre a generalidade
e a abstracção da norma e a particularidade do caso concreto tem que ser reflexivamente
percorrida pela instância institucionalmente incumbida de proferir a decisão concreta – a
instância jurisdicional. A ela compete mobilizar as normas, apresentando-as à especificidade
do caso concreto, o que não pode ser feito em termos silogísticos, pois o discurso jurídico é
sempre constitutivo de novos sentidos. É necessário, por outro lado, fundamentar em termos
normativamente adequados a mobilização daquela norma para solucionar aquele caso.
2.3) Limites Temporais: as normas vivem num plano abstracto que é, por definição, a-
temporal. Julgam-se subsistentes enquanto não forem objecto de revogação formal. Têm
pretensão à eternidade, pelo que exigem um acto violento do legislador para serem
revogadas. Contudo, estão sujeitas à erosão do tempo. É possível, então, estarmos perante
uma nomra que, embora se mantenha formalmente em vigor, seja considerada caduca (perde
a validade por não se mostrar em consonância com os princípios normativos que constituem a
dimensão de validade do sistema jurídico) ou obsoleta (perdem a eficácia: a prática já não
coloca problemas que solicitem a mobilização daquela norma).
Num sistema jurídico como o nosso, o legislador já não detém o monopólio na criação do
direito: estes limites são a prova da existência de um espaço aberto à criação do direito por via
não legislativa. Há outras instâncias com legitimidade para participar no processo de criação
do direito: a jurisprudência judicial, a dogmática (aprsentando modelos práticos de decisão
para os histórico-concretos casos jurídicos), etc.
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17.ª Lição: Metodonomologia
Meta (objecto) + Odos (caminho) + Nomos (juízo concreto) + Logos (racionalização) -> o
termo sintetiza o caminho racionalizadamente percorrido pela reflexão judicativa para que em
concreto se realize a intenção prático – normativa e, portanto, fundamentalmente regulativa
do direito.
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3) Os Juristas Modernos preocuparam-se em elaborar antecipadamente sistemas
racionalmente abstractos de normas que seriam posteriormente aplicados de acordo com o
método silogístico – subsuntivo.
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- > os códigos mostravam-se obras legislativas precárias, condenadas a serem
historicamente ultrapassadas com cada vez maior rapidez e além disso irremediavelmente
lacunosos.
A razão de ser do Direito era agora identificada com os conceitos, aparecendo o texto
legal como mero ponto de partida empírico para o respectivo apuramento.
Savigny é o responsável pela emergência desta Jurisprudência. A ela se deve a noção
de interpretação como “a operação intelectual teoreticamente colimada à desvelação
da verdade interior da lei”, bem como a acentuação da importância dos elementos
clássicos (gramatical, histórico, sistemático e lógico) no processo interpretativo das
leis consideradas separadamente. Pelo que respeita à interpretação das leis, Savigny
chamou a atenção para os problemas da unidade e da universalidade do Sistema
Jurídico. A ausência de unidade era susceptível de gerar contradições que deveriam
ser resolvidas no quadro orgânico do instituto concretamente em causa. Por seu
turno, um défice de universalidade poderia originar omissões (lacunas), integráveis
por analogia orgânica ou, em casos muito raros, por criação de um novo instituto
jurídico.
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Dimensões do Método Jurídico:
Críticas:
1) não proporciona uma fundamentação adequada ao decidente quando este não dispõe
de critérios pré-objectivados e circunstancialmente mobilizáveis – e que não problematiza
concludentemente a insuficiênica da fundamentação que estes últimos, quando disponíveis,
parecem garantir;
2) não lhe oferece cânones de uma indiscutível vinculatividade, quer para a interpretação
das normas, quer para a consideração dos factos relevantes, remetendo-o, no limite, para um
arbítrio inconfinado (nem orienta o decidente nas irremissíveis valorações postuladas por
estas tarefas);
As Orientações Práticas
Livre Investigação Científica do Direito (Geny): este fez uma crítica ao pensamento
exegético, nomeadamente ao “direito=lei”. A lei não era suficiente para resolver os problemas
de direito, na medida em que era lacunosa e insuficiente. Quando houvesse lei esta deveria
prevalecer; na sua ausência ou insuficiência, defendia-se a livre investigação científica do
direito.
Nesta lógica, Geny restarou outras fontes de direito, como o costume e sobretudo a
jurisprudência judicial e doutrinal. À ciência jurídica caberia investigar os elementos objectivos,
os dados em que o direito materialmente se revelaria e que traduziam os diversos factores ou
elementos analíticos da natureza das coisas; à técnica jurídica competia a elaboração desses
dados, construindo esquemas conceituais, modelos normativos, regras e cri térios, nos quais o
direito se revelasse e que pudessem ser utilizados na orientação da vida social e na decisão dos
casos jurídicos concretos.
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Quanto à intenção da lei, defendia o direito se baseava em dados pressupostos de
carácter histórico-social (costume, tradição), de carácter racional (dados revelados pela razão
como princípios superiores ou postulados de natureza humana), de carácter ideal (valores
humanos que orientem os humanos e a vida social) e de carácter real (condições da vida
humana e social). Para além disso, havia a técnica que permitia que os dados fossem utilizados
como critérios normativos.
O Movimento do Direito Livre : em sentido amplo, “direito livre” exprime todo o direito
que se constituiu e manifestou para além do direito legislativo. Em sentido restrito, significa
apenas a formação do direito extra-legal.
É um movimento escandaloso porque quis que o direito fosse livre, quis mostrar a
insuficiência da lei, mas disse mais: o juíz devia ter a liberdade de decidir um problema de uma
forma concreta, contra a própria lei se necessário. A norma podia ser mobilizada à posteriori
para legitimar a decisão, mas esta radica na vontade do decidente. A decisãod este podia ser
contra legem se:
- a lei não lhe oferecesse uma solução indubitável;
- se concluir que o poder estadual existente ao tempo da decisão não tem
provavelmente ditado a solução prescrita na lei.
Hoje em dia nada disto é estranho ou escandaloso, basta pensa nos limites temporais das
normas.
Contudo, na altura, a dimensão do escândalo percebeu-se bem porque o direito era
compreendido por referência às normas legais que objectivavam e a racionalidade
interveniente no discurso jurídico era lógico-dedutiva (racionalismo e intelectualismo). Mas,
como a única racionalidade conhecida na viragem do século era a lógico – dedutiva, o
Movimento não foi capaz de encontrar uma alternativa, defendendo então o irracionalismo e
o voluntarismo:
- o fundamento criador do direito não é a razão, mas a vontade (primado da vontade)
impulsionada por proposições intuitivas e irracionais (irracionalismo);
- tanto a lei como a racionalidade normativa que era possível construir a partir das
normas da decisão funcionariam apenas como expedientes complementares, elementos de
justificação ou de controlo normativo-jurídico à-posteriori.
Por um lado, pretende-se fundar a decisão na norma mas, por outro, a utilização das
normas legais, perante aqueles factores prático-emocionais da génese da decisão só poderia
entender-se nos termos de uma a posteriori realização normativa – já em função do controle
sobre a vontade e a intuição, já em vista a satisfazer uma comum exigência de possível
objectividade.
Crítica: este Movimento teve o mérito de ter posto em evidência o problema das lacunas;
de chamar a atenção para o momento decisivo da decisão concreta; de acentuar a participaçã
de factores não lógico-formais (analógicos, emocionais, teleológicos) no juízo jurídico;
esclarecer a impossibilidade de confundir o direito com a lei.
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Mas, como se radicalizou na antítese intelectualismo/racionalismo – irracionalismo,
imposta pela época cultural em que o Movimento surgiu, dificilmente se poderia juntar à
censura de condenar o direito ao arbítrio e ao puro subjectivismo.
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A vontade normativa viabilizou a interpretação correctiva: a possibilidade de correcção
das normas numa sua aplicação formalmente contra legem mas para justamente respeitar a
material vontade normativa contra o teor formal da norma (a criteriosa adaptação da
intencionalidade prática da norma às circunstâncias ocorrentes que o legislador não tinha
considerado). Há um dever de obediência inteligente à prescrição legislativa, com as correntes
desvalorização da letra da lei e ultrapassagem dos limites fixados pelas tradicionais
interpretações extensiva e restritiva.
Relativamente ao problema das lacunas, a Jurisprudência dos Interesses diz-nos que:
eram reais; o Sistema Jurídico era inconcluso e omisso na consideração de muitos interesses
ingualmente dignos de protecção; o importante era poderar adequadamente os interesses que
não tivessem sido, mas devessem ser, juridicamente protegidos.
O decidente podia sustentar a relevância jurídica de interesses marginalizados pelas
normas legais pré-objectivadas, mas já estava vinculado aos juízos de valor das normas não
imeditamente aplicáveis.
Operados mobilizáveis no processo de integração de lacunas:
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Jurisprudência da Valoração: representa a superação do redutivismo sociológico dos
pensamentos jurídico-causais e contribuiu para a retribuição do discurso prático e da clássica
filosofia prática. Teremos sobretudo em conta os pensamentos hermenêutico e tópico.
“Tópica” -> produz-se num pensamento que considera os problemas práticos do d omínio
de prudência e não de ciência e os resolve por juízos de argumentação dialéctica que invocam
fundamentos consensuais (comunitariamente aceites) considerados pertinentes ou adequados
à indole prático-social dos problemas decidentes. É, pois, um pensar de problema segundo
critérios que a própria prática histórico-social vai oferecendo num continuum de prudência e
renovação.
A tópica material (fornecedora de fundamentos comunitariamente aceites) é insuficiente,
sendo necessária uma tópica formal que se traduz na argumentação retórica e na
hermenêutica. A metodologia jurídica terá que levar sempre hermeneuticamente referida, no
horizonte transpositivo, o direito, assumido uma pré-compreensão, na intencionalidade
significante, ou interpretar os textos jurídicos positivos, pois interpreta-os como textos de
direito e assim como instrumentos discursivos da sua intencionalidade.
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18.ª Lição: A concorrência de normas no tempo
1) Sobrevivência da lei antiga: considera que cada situação é regulada pela lei que vigora
no tempo da sua constituição (rejeitanto a aplicação de eventuais novas leis que surjam a
regular essas situações). Problema: gerava uma contradição de regimes, pois a mesma
categoria de situações estava submetida a regimes diferentes (umas seriam reguladas pela lei
antiga, outras pela nova). Por outro lado, a sobrevivência da lei antiga não daria guarida à
consideração de que, em favor da lei nova, se pode invocar quase sempre uma maior
adequação prático normativa das orientações por ela consagrada;
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- > a lei nova é chamada a regulamentar situações jurídicas continuadas, em termos
adequados à respectiva especificidade, o que nem sempre é fácil discernir. Baptista Machado
fala este propósito em vários graus de retroactividade: máximo, normal e mínimo.
3) A lei nova apenas prescreve para o futuro, regulando somente os factos constitutivos,
modificativos e extintivos das situações jurídicas e os efeitos desses factos, verificados desde o
início da sua vigência. A opção pela lei nova ou pela antiga põe-se somente para os factos (e
seus efeitos) mas não para os direitos.
A lei vigora para o futuro – primado da irrectoactividade da lei – não sendo
imediatamente aplicada aos factos e aos efeitos jurídicos de situações anterior à nova lei,
aplica-se a lei antiga.
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- leis retropesctivas: aquelas que se projectam para o futuro em situações
jurídicas preexistentes, mas que continuam a produzir efeitos.
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19.ª/ 20.ª Lição: A Interpretação Jurídica
A interpretação jurídica tem uma natureza normalmente constitutiva, daí que o poder
legislativo não só tenha reservado só para si o poder de interpretar leis, mas também tenha
proibido a interpretação por outras instâncias que “ele” próprio. O poder legislativo reservou
para si esse poder com o objectivo de controlar as decisões judiciais e reafirmar a legalidade
contra o poder juridicamente criador dos juízes, através da actividade interpretativa.
O carácter normativamente constitutivo da interpretação jurídica não deixa de suscitar
uma outra questão que se fundamenta nos princípios:
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A índole do problema da interpretação é prático-normativa: o problema do
pensamento jurídico em geral é o de decidir justamente. Logo o seu ponto de vista decisivo é o
prático (função normativa) e o seu último valor é a justiça (no positivismo legalista, o
decidente limitava-se a interpretar – conhecer a lei e o seu sistema.
O problema da interpretação jurídica não está no significado textual da lei, mas em saber
de que modo prático-normalmente se deve assimilar o seu sentido jurídico-normativo para
que ele possa ser critério também juridicamente adequado de uma justa decisão do problema
jurídico-concreto.
- > A orientação subjectivista: foi historicamente a primeira a surgir, daí que reflicta a
soberania do legislador, a separação dos poderes, a vinculação ao direito constituído, a
segurança. O subjectivismo traduz uma concepção material e hermenêutica de cariz
epistemologicamente positivista, segundo a qual os sentimentos culturais seriam entidades
empíricas, fenómenos psíquicos e, por isso, interpretá-los seria imputá-los psico logicamente
ao seu autor, perspectivá-los pelo processo da sua génese histórico-psíquica.
O subjectivismo concebe o direito em termos imperativo-decisivistas, como um conjunto
de imperativos, de regras simplesmente imputáveis a um poder que se titula e personaliza no
legislador, e que este imporia por livre decisão político-jurídica. Esta concepção propôs uma
interpretação fixa da lei, pois a vontade que se pretende descobrir é a vontade histórica do
próprio legislador. Visa assegurar uma estrita obediência ao poder constitutivo e à segurança
jurídica;
- > A orientação objectivista: surgiu na segunda metade do século XIX. É o reflexo quer de
um entendimento da cultura, quer de uma intenção especificamente compreensiva da
hermenêutica. As expressões significativas passam a reconhecer-se já na autonomia e
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objectividade próprias do ser cultural, já como irredutíveis manifestações histórico-culturais do
específico objectivo.
O objectivismo concebe o direito como uma ordem significativo-normativamente
objectiva em que se assimile o projecto histórico-cultural comunitário. O legislador dirige-se
sempre à lei e esta perspectiva aceite da hermenêutica geral a ideia de que a lei pode ser
juridicamente mais sábia do que a intenção do seu autor, isto é, o intérprete pode
compreendê-lo melhor do que a entendeu o próprio legislador.
Esta perspectiva é mais actual e adequada à dinâmica histórica. Usa a justeza das soluções
obter pela interpretação, pois assume uma perspectiva que lhe permite uma evolutiva
compreensão e actualização das exigências jurídicas da aplicação e do contexto normativo.
- I. Teleológica: o intérprete é movido pelos fins visados pela mesma norma. Procura-se
interpolar a norma, revelando os fins práticos (perspectiva do problema).
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- elemento teleológico/racional: impõe o sentido que a norma se determina pela ratio
legis, isto é, em função da própria razão de ver ou do seu objectivo prático. O sentido deste
elemento sofreu uma evolução que traduziu também uma evolução da interpretação jurídica,
que passou de um sentido normativo, de um direito dogmático para um objectivo teleológico
de uma interpretação como acto metódico autónomo, para uma interpretação como
momento de realização do direito.
Os resultados da Interpretação
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Estas diferem da interpretação extensiva e restritiva pois não há divergências entre a letra
e o espírito, há um confronto entre o âmbito da realização da norma e a realidade jurídica que
convoca. Estes resultados são fundamentalmente orientados pelo elemento teleológico (causa
final) e não pelo elemento literal.
Para a perspectiva tradicional, a letra da lei tinha um valor duplo (positivo e negativo); o
pensamento tradicional atribuía um valor autónomo, determinante e normativo da letra da lei.
Para a Jurisuprudência dos Interesses, tem um valor meramente negativo (interpretação
correctiva). Hoje, a interpretação correctiva corresponde à possibilidade de afastamento da
letra da lei para dar maior relevo à vontade normativa da norma, daí o aparecimento da
redução e extensão teleológica.
Na interpretação tradicional estava apenas em causa um exercício de carácter filológico-
gramatical – procurava-se abstractamente o sentido da norma. Hoje, o sentido da norma só é
muitas vezes deselado em relação ao caso concreto que a mobiliza.
- Os outros elementos de interpretação foram ganhando um outro sentido com a
passagem da perspectiva hermenêutico-cognitiva para a perspectiva prático-normativa:
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