Você está na página 1de 7

EXCELENTISSÍMO SENHOR MINISTRO RELATOR DA ADIN

N°100/2014. PAULO ROBERTO MONTALVÃO.

ESTADO DO PARÁ, já qualificado nos autos da ADIN n°


100/2014, vem, por meio de seu procurador geral, apresentar
CONTRARRAZÕES:

DOS FATOS

A Procuradoria Geral da República alega que o artigo 1° da Lei 590,


de Janeiro de 2014, do Estado do Pará fere os princípios constitucionais do
artigo 37, II.

A referida lei em seu artigo 1º versa sobre a contratação de


professores do ensino fundamental de forma temporária, sem concurso
público, tendo em vista a situação precária na educação no Estado.

Ocorre que, Através, de levantamento solicitado pela própria


Secretaria de Educação do Estado do Pará, em janeiro de 2013, foi
constatado um déficit considerável no número de profissionais da educação
infantil, frente à demanda de alunos em situação precária de ensino,
alijados de uma formação educacional de qualidade.
Tendo como consequência cabal o alto índice de evasão escolar
auferido na educação infantil no Estado. Agravado ainda quando se
verificada a realidade das escolas no interior e principalmente em áreas
ribeirinhas.

Fica determinado pela lei 590/14 que foi estipulado o prazo de 12


meses para esta contratação.

Como será demonstrado não merece acolhimento a ADIN impetrada


pela PGR.

DO MÉRITO

DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL


PARA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA SOB O REGIME
EXCEPCIONAL. URGENTE E DA MAXÍMA EFETIVIDADE DAS
NORMAS CONSTITUCIONAIS

Lembramos duas hipóteses de enorme relevância que legitimam o


ingresso no serviço público, sem a realização de concurso público de
provas e provas e títulos.

A primeira é a urgência, pois é inconcebível imaginar o


preenchimento de vagas através do certame em caso de urgência, pois essa
modalidade apresenta como característica inevitável, a morosidade, capaz
de comprometer o bom andamento do serviço público.

A Segunda trata de excepcionalidade no interesse público


caracterizada por se tratar de contratação de professores, impedindo a
interrupção abrupta do ano letivo de grande quantidade de estudantes,
resguardando-se o direito básico à educação, inscrito na Constituição
Federal.
As normas da Constituição do Estado do Pará não são diferentes
quanto a exigência do Art. 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego
público estadual e municipal depende de aprovação prévia em concurso
público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei, de livre nomeação e exoneração.

A exceção referente aos temporários está no artigo 37, IX: “a lei


determinará os casos de contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público”.

Verifica-se, portanto, tanto na Constituição Federal quanto na


Estadual a necessidade de três requisitos legitimadores da contratação
temporária por excepcional interesse público:

a) excepcional interesse público;


b) temporariedade de contratação;
c) hipóteses expressamente previstas em lei.

A temporariedade da contratação igualmente se apresenta no caso já


que os contratos são fixados por prazo determinado. Outrossim, a Lei
Federal 8.745/93, deixa claro em seu artigo 1º corrobora com a tese
apresentada por esta PGE. Vejamos:

“Art. 1º Para atender a necessidade temporária de


excepcional interesse público, os órgãos da
Administração Federal direta, as autarquias e as
fundações públicas poderão efetuar contratação de
pessoal por tempo determinado, nas condições e
prazos previstos nesta Lei.”.

Tratando sobre o princípio da máxima efetividade das normas


constitucionais, Alexandre de Moraes (Direito Constitucional, 10 ed., p. 4)
“a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior
eficácia lhe conceda”. In casu, a maior efetividade não será alcançada com
a interpretação restritiva dada pela Procuradoria Geral da República, para
permitir a contratação temporária apenas para serviços especiais a serem
prestados pela Administração, vedando-se no caso de serviços corriqueiros.

Pugna-se, in fine, pela constitucionalidade do artigo 1º da Lei Estadual


nº 590/14, tendo sido demonstrado que referido dispositivo está destinado a
suprir necessidade temporária de excepcional interesse público, em
obediência às balizas legais dispostas no art. 37, IX da Constituição Federal
e conforme decisão do Egrégio Supremo Tribunal Federal na ADI nº 3068.

A jurisprudência, interpretando a norma do art. 37, IX da


Constituição, em casos semelhantes, decidiu pela regularidade das
contratações temporárias:

CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO:


CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. C.F. art. 37.
Ex. Lei 4.957, de 1994, art. 4º do Estado do
Espírito Santo. Resolução nº 1652, de 1993, arts.
2º e 3º, do Estado do espírito Santo. SERVIDOR
PÚBLICO: VENCIMENTOS: FIXAÇÃO.
Resolução nº 08/95 do Tribunal do Justiça do
Estado do Espírito Santo. 1 – A regra é a admissão
de servidor público mediante concurso público,
CF art. 37, II. As duas exceções à regra são para
os cargos em comissão referidos no inc. II do
art. 37 e a contratação de pessoal por tempo
determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público.
CF, art. 37, IX. Nesta hipótese, deverão ser
atendidas as seguintes condições: a) previsão
em lei dos casos; b) tempo determinado; c)
interesse público excepcional. II - Lei 4.957, de
1994, art. 4º, do Estado do Espírito Santo e arts. 2º
e 3º da Resolução 1.652, de 1993, da Assembleia
Legislativa do mesmo Estado:
inconstitucionalidade III – Os vencimentos dos
servidores públicos devem ser fixados mediante
lei C.F. art 37, X. Vencimentos dos servidores dos
Tribunais: iniciativa reservada aos Tribunais. C.F,
art. 96, II, b, IV. Ação direta de
inconstitucionalidade não reconhecida
relativamente ao artigo 1º da Resolução nº
1652/93 da Assembleia Legislativa e julgada
procedente em parte. ADI 1500 / ES, AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
Relator(a): Min. Carlos Velloso.(GRIFO
NOSSO)

PROCESSUAL CIVIL AÇÃO POPULAR LEI N°


4.717/65. REQUISITOS. AUSÊNCIA DA
LESIVIDADE. IMPROCEDÊNCIA.
1. A ação popular reclama com requisitos de
procedência a ilegalidade e lesividade do ato
oriundo do poder público. A lesividade presumida
admite da “lesividade à ordem jurídica”. A
lesividade que impõe o ressarcimento é aquela
que onera sem benefícios o erário público. 2. A
contratação de servidos temporários, sem
concurso público, na hipótese em tela não
preenche o requisito da ocorrência da lesividade,
razão porque não há que se falar em nulidade de
tais contratos, mormente porque os contratados se
beneficiaram dos salários auferidos e a
municipalidade da mão-de-obra prestada.
Ausência de lesividade. Precedentes.3. A
contratação de mão-de-obra temporária em
razão de situação excepcional, comprovada
pela existência de mais de uma centena de
ações trabalhistas nas quais os juízos
reconheceram a excepcionalidade e a
necessidade das referidas contratações para
não paralisar os serviços públicos, é matéria
fática, cujo conhecimento esbarra na Súmula
n° 07/STJ. Não obstante, verossímil a alegação,
a contratação de profissionais temporários
enquadra-se no disposto no inciso IX, do art.
37, da CF, in casu, coadjuvado pela Lei
Municipal 1137/90. Contratação temporária
com o escopo de atender o interesse público até
a realização de concurso que efetivamente se
operou. Lesividade inexistente. Precedentes. 4.
Recurso especial provido (RESP 407075/ MG:
RECURSO ESPECIAL 2002/0007838-3 DJ
DATA: 23/09/2002 PG: 00244 Min Luiz Fux).
(GRIFO NOSSO)

Seguindo o princípio da necessidade pela dimensão geográfica,


situação de extrema pobreza, concorrendo para o estado de calamidade
pública educacional, reforçado pelo princípio da descontinuidade da
administração política com o objetivo de resolver o caso de extrema
urgência para contribuir com um dos alicerces essenciais da formação da
sociedade digna e justa em atendimento a um dos preceitos fundamentais
da constituição que é a obrigação do Estado de prover a educação básica e
necessária para o desenvolvimento do indivíduo no meio social.

Pelo exposto, requer que seja julgado improcedente a presente ação de


inconstitucionalidade, com base nas alegações sustentadas alhures.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Belém, 17 de setembro de 2014.

_________________________
Bruno Carvalho
Procurador Geral do Estado do Pará.
Equipe:

Toda a turma 7DIN2

Você também pode gostar