Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A sessão foi iniciada com uma discussão mais ampla sobre os textos. Um dos textos
lidos, o de Frederico de Castro Neves trata de questão de diferentes seca - 1932 e 1942 -
no nordeste algodoeiro pecuarista. O autor tentou interpretar a intervenção do Estado
nas diversas secas, mencionando as ações que eram forma de conter e controlar a
multidão, uma vez que estas se deslocavam nos momentos de seca e invadiam as
cidades.
Por sua vez, Francisco de Oliveira, tenta perceber como o discurso da vitimização do
Nordeste é construído ideologicamente e sobre diferentes conceitos como planejamento,
Nordeste e questão regional. O professor Hélion, comentou que a partir dos textos de
Francisco de Oliveira e Wilson Cano - terceiro texto lido - pode-se interpretar que na
questão do desenvolvimento regional do Brasil há dois protagonistas: São Paulo e
Nordeste, de tal modo que os demais estão presentes, mas são coadjuvantes.
Wilson Cano, em seu texto, analisou a relação do desenvolvimento de São Paulo com o
das outras regiões do país. Ele afirmou que houve todo um contexto a partir do qual
propiciou a São Paulo uma arrancada na industrialização: terras virgens, ferrovias, mão
de obra abundante, produção de alimentos nas antigas regiões cafeeiras; abastecimento
de mercados periféricos da nação, nos momentos de crise internacional. Além disso, ele
busca também mostrar as dinâmicas regionais do final do século XX até 1930. Primeiro
ele analisou a economia da Amazônia, que possuía uma economia de "aviamento",
voltada para a exportação de borracha. Ele verificou também as características das
economias do Nordeste, extremo Sul e dos estados cafeeiros.
REFERENCIAS:
As referências à questão da região Nordeste tem sido feitas num âmbito geral de
informação deficiente, às vezes exagerada, devido a problemas históricos de comunicação. Para
a época de estudo, nos anos 50, fizeram-se reportagens que pintam uma revolução em gestação,
e muita angustia pelas secas. Deve-se apontar também que as análises eram muito marcadas por
ideologias, que tendiam ao exagero das dinâmicas políticas.
Pode se falar em geral, que para a época, a agricultura estava precariamente adaptada às
condições de clima, constituindo um sistema de equilíbrio relativamente instável, que nas crises
dos períodos secos gerava um excedente de povoação, fazendo com que as pessoas migrarem.
Nessas condições o pequeno agricultor dava prioridade ao gado, gerando maiores problemas
abastecimento de alimentos. Existe nesse contexto a grande propriedade, cujo dono precisa que
a população não se disperse completamente para aportar a mão de obra na próxima colheita e
para reproduzir o poder do sistema com seu voto. Esse contexto tem também um componente de
intervenção estatal, que desde o início do século XX tem visto o problema como meramente
climático, de aí a alta intervenção na construção de infraestrutura contra as secas através de
instituições como o IFOCS/DENOCS. Os açudes eram construídos perto das grandes
propriedades e o fazendeiro conseguia que os moradores ficaram perto da fazenda, retendo-os
com a promessa de trabalho nas obras públicas. Configurava-se assim uma política e uma
indústria ligada às secas, para a reprodução do poder político no Nordeste. Em alguns casos o
problema chegava até as cidades, e por isso se organizavam “campos de concentração” a partir
de 1915, onde se retinha a população migrante (também chamados de flagelados e retirantes),
para evitar que chegassem às cidades. Pode-se falar então de uma crise de produção, ligada a
uma baixa precipitação, agravada pela concentração na propriedade da terra.
O problema das secas continua existindo. Mais é normalmente exagerado para justificar
a inversão de recursos na região. No período estudado houve duas secas marcantes: a de 1952
no governo Vargas, e 1958 no governo de Juscelino Kubitschek (JK). Normalmente em
períodos de grandes secas se tomavam medidas consideradas de impacto, Banco de
Investimentos Regionais, depois de 58, bem como a iniciativa da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
Celso Furtado foi influenciado pelos debates sobre planejamento do Plano Marshall
para a reconstrução da Europa depois da Segunda Guerra Mundial, e pelos métodos das
economias planificadas dos estados soviéticos; mesmo pelo “Desenvolvimentismo” europeu, o
que lhe coloca em uma posição “estruturalista” em termos de desenvolvimento, e que lhe faz
entrar no debate contra as posições “monetaristas”, de menos intervenção estatal. Furtado teve
grande curiosidade por visitar a União Soviética, mas não conseguiu por conta do hermetismo
da Guerra Fria e sua não inscrição num partido comunista. Não então, ele visita um congresso
de juventudes na Yugoslávia sobre temas de reconstrução, o que vai ser apontado contra ele por
seus detratores como proba de que ele teria inclinações comunistas.
Dentre o final da sua obra, foram resaltados três livros: Fantasia organizada,
relacionada com seus anos de juventude até o governo JK, sua historia na CEPAL, e sua relação
com Raúl Prebisch, quem fora secretário econômico da CEPAL. A fantasia desfeita, que conta
sobre a experiência da SUDENE. E Os ares do mundo, sobre o período no exílio na França.
O plano GTDN
Um setor externo em crise desde os anos 20 frente ao seu caráter periférico dentro e fora
do país. Um setor público com gasto disperso e capturado (em termos de Francisco de Oliveira)
pelas oligarquias. E um setor industrial frágil, que não pode liderar o processo de superação da
situação periférica da região.
Plano de ação:
O plano fala da articulação das mediadas em uma “coordenação com ataque global ao
problema”, por médio da seguinte disposição: No Litoral-Zona da mata, aumentar a
diversificação para fornecimento de alimentos. No Sertão, aumento da produtividade. No
Maranhão, absorver a excedente populacional. E nas cidades o desenvolvimento da indústria.
O plano assim concedido tinha uma visão técnica da solução, informada pela percepção
da economia internacional que Furtado aprendeu na Europa e na América Latina. Essa visão
técnica serviu para ele se defender de acusações políticas sobre a reforma agrária. Ele teria sido
influenciado pela concepção europeia do desenvolvimento, onde o problema não seria a terra,
mais a questão da intensificação da produção, um capitalismo próspero e um Estado forte
regulando o sistema econômico e fazendo redistribuição. O equilíbrio social se alcançaria com o
desenvolvimento do capitalismo num regime democrático e com um estado regulador. Furtado
faria a defesa do plano invocando um perigo de desunião nacional se as condições que
reproduziam as desigualdades regionais persistirem.
Para Oliveira, o Estado estaria intervindo como planejador quando for preciso atacar as
debilidades do processo de acumulação capitalista e para assegurar a forma de dominação da
burguesia, em principio regional, mas depois nacional. Este objetivo será então completado
através de uma instituição como a SUDENE, por médio da qual, se buscaria a homogeneização
regional expandindo as relações de produção do Centro Sul para o Nordeste. A intervenção
estatal favoreceria o processo de expansão do capitalismo monopolístico ao tempo que se dava
um passo para à centralização do poder executivo no Brasil. Ao serem introduzidas essas novas
formas de reprodução capitalista desde o Centro Sul, o Francisco de Oliveira veria com
nostalgia a desaparição do Nordeste como região, no entendido de uma região ser uma forma
especial de reprodução do capital, bem como da ideologia do planejamento como forma neutra
de promoção do desenvolvimento.
Bibliografia:
FURTADO, O Nordeste e a saga da Sudene. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009 (p. 29-81).
IPPUR - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
Disciplina: Planejamento Urbano e Regional no Brasil I
Professores: Adauto Lucio Cardoso e Hélion Póvoa Neto
Aluna: Delba Machado Barros
Até meados dos anos 80, os incentivos fiscais para atrair investimentos no
Nordeste se constituíram como um grande mecanismo de promoção para o
desenvolvimento da região do ponto de vista contábil. Em termos de
planejamento brasileiro esses incentivos foram considerados inovadores.
Tratava-se de isenção total ou parcial do imposto de renda para indústrias
novas ou já instaladas que utilizassem matéria prima regional e isenção de
impostos à importação de equipamentos novos sem similar na produção
nacional. Destarte, desde a Constituição de 1934 já havia sido garantido
incentivos para o polígono das secas, de 3% do orçamento nacional.
No começo dos anos 60, a Sudene atuou de acordo com o Plano Diretor tal
como foi pensado por Celso Furtado. Nos anos 70, os planos da Sudene foram
partes dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND). O primeiro no
governo Médici, o segundo no governo Geisel, o terceiro no governo Figueiredo
e o Plano de Desenvolvimento da Nova República.
Alguns temas regionais reaparecem com força ao longo da história, como por
exemplo: a seca, agitação social, a delimitação regional, entre outros. Assim
como o tratamento dado ao planejamento regional sofreu/sofre alterações em
função do gestor do poder executivo. O Projeto de Transposição do São
Francisco é emblemático. Foi proposto no final do regime militar, embora já
houvesse sido cogitado por D. Pedro, no final do século XIX, no entanto, foi
arquivado quando Maluf assumiu a Presidência da República.