Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Urbanos*
Claudio Beato
Bráulio Figueiredo Alves da Silva
Ricardo Tavares
INTRODUÇÃO
* O projeto sobre o qual este artigo se debruça – Polícia de Resultados – não seria possível
sem o apoio da Fundação Ford e da Fundação Hewlett. O Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico – CNPq e o Centro de Estudos Brasileiros da Univer-
sidade de Oxford forneceram uma oportunidade ímpar para que um dos autores se dedi-
casse inteiramente à organização do argumento central deste texto. A Polícia Militar de
Minas Gerais, considerando o coronel Severo Augusto da Silva Neto e sua equipe, foi ar-
tífice e executora do projeto, protagonizando uma abertura inédita e corajosa aos pesqui-
sadores de uma entidade civil. Renato M. Assunção sugeriu a idéia inicial do artigo.
Agradecemos sobretudo a toda a equipe do Centro de Estudos de Criminalidade e Segu-
rança Pública – Crisp, que se dedicou ao projeto durante sua vigência, em especial a Ge-
raldo Majella Moreira Duarte, um dos mais ativos mentores da equipe.
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 51, no 3, 2008, pp. 687 a 717.
687
688
689
690
691
Nesse sentido, surge uma questão crucial para a sociedade: qual é o im-
pacto da polícia sobre as taxas de criminalidade? A polícia pode fun-
cionar como um recurso institucional para as comunidades urbanas
692
Os limites desse impacto ainda não são claros. De um lado alguns auto-
res acreditam que não há muito que ser feito pela polícia em relação ao
controle da criminalidade, na medida em que os determinantes funda-
mentais não estão no âmbito de sua atuação. Segundo alguns autores,
utilizar a polícia para resolver o problema do crime seria como lançar
mão de “band-Aid para curar câncer” (Bayley, 1994). Os determinan-
tes mais importantes para a prevenção estão sob a responsabilidade de
693
694
695
696
697
698
699
700
701
Gráfico 1
Evolução Mensal de Crimes Violentos
Belo Horizonte – Janeiro de 1995 a Dezembro de 2003
5000
4500
4000
3500
Crim es Vio lentos
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
m ar
m ar
out
out
out
jan
jun
ago
jul
m ai
m ai
ago
jan
jun
ago
m ar
nov
m ar
abr
nov
ma r
abr
nov
fe v
ma r
abr
dez
fe v
ma r
dez
fe v
m ar
nov
m ar
abr
nov
se t
o ut
s et
o ut
s et
ou t
s et
ou t
se t
se t
se t
se t
o ut
s et
o ut
m ai
ju l
j an
ma i
j un
ju l
a go
j an
ma i
j un
ju l
a go
ja n
ma i
ju n
a go
ja n
ju n
j ul
ag o
ja n
ju n
j ul
ag o
ja n
m ai
ju n
ju l
m ai
ju l
j an
ma i
j un
ju l
a go
fev
ab r
d ez
fev
de z
fe v
de z
n ov
a br
n ov
a br
no v
d ez
fev
ab r
no v
d ez
fev
ab r
d ez
fev
de z
Fonte: Crisp/UFMG.
702
Tabela 1
Testando os Pontos de Quebra via Teste de Chow
703
ì 1 se 73 £ i £ 93 ì 1 se i ³ 93
D2 = í e D3 = í .
î 0 se i < 73 ou i ³ 93 î 0 se i < 93
Xi é a variável tempo.
Obs.: Lembrando-se de que Y$ não faz previsão para Y, mas sim para
E(Y).
Tabela 2
Ajuste da Regressão Múltipla com Quebra Estrutural, R2 Adjusted = 0,9809
Resultados
704
Gráfico 2
Modelo de Regressão Ajustado para o Período de Intervenção
(Polícia de Resultados)
5000
4500 observados
modelo ajustado
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
out
ago
ma r
ma r
ma r
fe v
ma r
fe v
ma r
fe v
m ar
o ut
ou t
s et
ou t
se t
ou t
se t
ou t
se t
ou t
se t
se t
o ut
se t
o ut
j an
ma i
j un
ju l
a go
j an
ma i
j un
ju l
a go
j an
ma i
j un
ju l
a go
ja n
j un
j ul
ag o
ja n
ju n
j ul
ag o
ja n
m ai
ju n
j ul
ag o
ja n
m ai
ju n
j ul
ag o
ja n
m ai
ju n
j ul
ag o
ja n
m ai
ju n
ju l
fe v
ab r
n ov
de z
fe v
a br
n ov
de z
fe v
a br
n ov
de z
a br
n ov
de z
a br
n ov
d ez
mar
a br
no v
d ez
fev
mar
a br
no v
d ez
fev
mar
ab r
no v
d ez
fev
ab r
no v
d ez
set
set
mai
mai
705
Gráfico 3
Modelo de Regressão Ajustado Caso o Projeto Não Tivesse Existido
5000
4500 observados
Mantendo a tendência
4000 anterior
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
jul
jul
jul
abr
abr
abr
abr
abr
abr
abr
abr
abr
set
out
set
out
set
out
set
out
set
out
ago
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jul
mai
jul
jul
mai
jul
mai
jul
mai
mai
jul
fev
nov
dez
nov
fev
nov
dez
fev
nov
fev
nov
dez
fev
nov
fev
dez
fev
nov
dez
fev
dez
mar
mar
mar
mar
mar
out
set
out
set
out
set
out
set
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jan
jun
ago
jan
jun
mai
mai
mai
mai
fev
dez
dez
dez
nov
nov
mar
mar
mar
mar
706
Gráfico 4
Modelo de Regressão Ajustado para a Continuidade Hipotética do Projeto
CONSIDERAÇÕES FINAIS
707
Fatores
Estruturais
Laços
Sociais
Eficácia
Fatores Violência
Coletiva
Organizacionais/
Institucionais
Violência
Prévia
708
nos mesmos patamares. Nada parece indicar que tenha havido um au-
mento significativo do consumo ou do comércio de drogas ilegais. As
outras organizações que compõem o sistema de justiça continuaram a
funcionar de forma tão lenta e ineficiente como sempre o fizeram. Pri-
sões continuavam abarrotadas e sem vagas como sempre. Os locais
violentos seguiram mantendo os mesmos padrões de violência prévia,
mesmo que alguns até os tenham diminuído. O grande fator que sofreu
mudanças foi a gestão específica das formas de policiamento ostensi-
vo, que passou a ser orientada por dados, dentro de uma metodologia
de solução de problemas por meio de informações.
709
Dessa forma, buscou-se com este estudo mostrar o que técnicas de ge-
renciamento com base em resultados, firmadas no uso sistemático de
informações, são capazes de produzir em termos de controle da crimi-
nalidade. As conclusões para policy makers são óbvias e caminham na
direção de se fortalecerem experiências de policiamento preventivo
em vez das ações repressivas tradicionais que têm caracterizado a atu-
ação policial no Brasil. Mesmo o que é tradicionalmente concebido
como estratégia preventiva – o policiamento ostensivo –, é pouco efi-
caz e nada tem a ver com formas proativas de policiamento que lidam
com a solução de problemas. Conceitos como policiamento em áreas
quentes, orientados por problemas e guiados por dados, passam a ser
centrais dentro dessa nova perspectiva de policiamento (Weisburd e
Braga, 2006).
710
NOTAS
1. Um dos projetos centrais foi o MAPA, de Belo Horizonte, que consistiu em uma par-
ceria do Crisp, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, com o Comando
de Policiamento da Capital – CPC, da PMMG. Ele foi parte de um programa mais am-
plo implementado pelo CPC: o Polícia de Resultados. Esse programa buscou intro-
duzir novas técnicas de gerenciamento das atividades policiais mediante a descen-
tralização do planejamento de operações e a introdução de mecanismos de aferição e
controle de resultados.
2. Para uma avaliação do programa de policiamento comunitário em Belo Horizonte,
ver Beato F. (2004b).
3. O software da base de dados foi desenvolvido pela Companhia de Tecnologia da
Informação do Estado de Minas Gerais – Prodemge. Os softwares para a tradução des-
ses dados para fins de visualização e análise espacial foram inicialmente desenvolvi-
dos pelo Crisp, da UFMG.
4. Em 1992, a Prodabel propiciou à Prefeitura de Belo Horizonte um dos primeiros Sis-
temas de Informações Geográficas de dados municipais.
5. Mais recentemente, uma empresa privada passou a fornecer também bases de dados
de fotos aéreas georreferenciadas de toda a cidade de Belo Horizonte.
6. Esse curso totalizou 60 horas-aula e foi composto por dois módulos: um relativo ao
uso do software MapInfo© para geoprocessamento de eventos criminosos e outro
para o uso de algumas ferramentas de estatística descritiva de dados criminais. Em
outra etapa, o mesmo curso foi dado para cerca de quarenta policiais oriundos das
companhias de policiamento e envolvidos mais diretamente em atividades de poli-
ciamento de ponta. Duas formas de utilização foram desenvolvidas: geoprocessa-
mento das ocorrências e análise estatística dos delitos.
7. Alguns policiais da PMMG, patrocinados pela Fundação Ford, foram a Nova York
conhecer essa experiência.
8. Ver nota metodológica em Anexo.
9. Ver Beato F. (2000; 2004c).
711
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABOTT, Andrew. (1997), “Of Time and Space: The Contemporary Relevance of the Chi-
cago School”. Social Forces, vol. 75, no 4, pp. 1149-1182.
BAILEY, William C. (1984), “Poverty, Inequality and City Homicides Rates”. Criminol-
ogy, vol. 22, no 4, pp. 531-550.
BAYLEY, David H. (1994), Police for the Future. Oxford, Oxford University Press.
BEATO F., Claudio C. (2000), “Determining Factors of Criminality in Minas Gerais”. Bra-
zilian Review of Social Sciences, vol. 1, pp. 159-173.
BEATO F., Claudio C. et alii. (1999), Criminalidade Violenta em Minas Gerais: 1986-1997.
CD-ROM.
BLUMSTEIN, Alfred, COHEN, Jacqueline e NAGIN, Daniel (eds.). (1978), Deterrence and
Incapacitation: Estimating the Effects of Criminal Sanctions on Crime Rates. Washington,
D.C., National Academy Press.
712
BOYDSTUN, John E. (1975), San Diego Field Interrogation: Final Report. Washington, D.C.,
Police Foundation.
BRATTON, William. (1998), Turnaround: How America’s Top Cop Reversed the Crime Epi-
demic. New York, Random House.
BURSIK JR., Robert J. (1986), “Ecological Stability and the Dynamics of Delinquency”, in
A. J. Reiss Jr. e M. Tonry (eds.), Communities and Crime. Chicago/London, University
of Chicago Press.
CHOW, Gregory C. (1960). “Tests of Equality Between Sets of Coefficients in Two Linear
Regressions”. Econometrica, vol. 28, no 3, pp. 591-605.
COHEN, Lawrence e FELSON, Marcus. (1979), “Social Change and Crime Rate Trends: A
Routine Approach”. American Sociological Review, vol. 44, no 4, pp. 588-608.
DURKHEIM, Émile. (1978), “Da Divisão do Trabalho Social”, in Os Pensadores. São Pau-
lo, Abril Cultural.
FREITAG, Barbara. (2002), Cidade dos Homens. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2004), Censo Demográfico 2000. Rio
de Janeiro, IBGE.
JACOB, Herbert e RICH, Michael J. (1980), “The Effects of the Police on Crime: A Second
Look”. Law & Society Review, vol. 15, no 1, pp. 109-122.
JOHNSON, Bruce et alii. (1990), “Drug Abuse in the Inner City: Impact on Hard-Drug
Users and the Community”, in J. Q. Wilson e M. Tonry. Drugs and Crime. Crime and
Justice. Chicago/London, University of Chicago Press, pp. 9-67, vol. 13.
KELLING, George L. et alii. (1974), “The Kansas City Preventive Patrol Experiment: A
Summary Report”, in D. H. Bayley (ed.), What Works in Policing. New York/Oxford,
Oxford University Press.
LEVITT, Steven D. (2002), “Using Electoral Cycles in Police Hiring to Estimate the Effect
of Police on Crime”. The American Economic Review, vol. 87, no 3, pp. 270-290.
713
LOFTIN, Colin e MCDOWALL, David. (1982), “The Police, Crime, and Economic The-
ory: An Assessment”. American Sociological Review, vol. 47, pp. 393-401.
MANNING, Peter K. (1988), Symbolic Communication. Signifying Calls and the Police Re-
sponse. Cambridge, The MIT Press.
MUIR JR., William Ker. (1977), Police: Streetcorner Politicians. Chicago, University of Chi-
cago Press.
PARK, Robert E. e BURGESS, Ernest W. (1924), Introduction to the Science of Sociology (2a
ed.). Chicago, University of Chicago Press.
PATE, Anthony et alii. (1985), Reducing the Signs of Crime. Washington, D.C., Police Foun-
dation.
REISS JR., Albert J. e BORDUA, David. (1966), “Charisma, Bureaucracy and Leadership
in Policing”. American Journal of Sociology, vol. 72, no 1, pp. 67-78.
SHAW, Clifford R. e MCKAY, Henry D. (1942), Juvenile Delinquency and Urban Areas.
Chicago, University of Chicago Press.
SHERMAN, Lawrence W. (1983), “Patrol Strategies for Police”, in J. Q. Wilson (ed.), Crime
and Public Policy. San Francisco, ICS Press.
SILVA, Bráulio Figueiredo A. da. (2004), Coesão Social, Desordem Percebida e Vitimiza-
ção em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Dissertação de mestrado, Programa de
Sociologia, UFMG.
SKOLNICK, Jerome H. (1966), Justice without Trial. New York, John Wiley.
WEBER, Max. (1978), Economy and Society. Berkeley, University of California Press.
714
WEISBURD, David e BRAGA, Anthony (eds.). (2006), Police Innovation: Contrasting Per-
spectives. Cambridge, Cambridge Univeristy Press.
WILSON, James Q. (1968), Varieties of Police Behavior. Cambridge, Harvard University
Press.
e BOLAND, Barbara. (1982), “The Effects of the Police on Crime”. Law & Society Re-
view, vol. 12, no 3, pp. 367-390.
WILSON, James Q. e KELLING, George L. (1982), “Broken Windows: The Police and
Neighborhood Safety”. Atlantic Monthly, vol. 249, no 3, pp. 29-38.
WILSON, William Julius. (1987), The Truly Disadvantaged: The Inner City, the Underclass,
and Public Policy. Chicago, University of Chicago Press.
ZALUAR, Alba. (1984), Condomínio do Diabo. Rio de Janeiro, Revan/Ed. UFRJ.
ZILLI, Felipe. (2004), Violência e Criminalidade em Vilas e Favelas dos Grandes Centros
Urbanos: Um Estudo de Caso da Pedreira Prado Lopes. Dissertação de mestrado,
Programa de Sociologia, UFMG.
715
ANEXO
TESTE DE CHOW
Testando Quebra Estrutural em Pontos Conhecidos
Yi = b 0 + b1 X1 i + b 2 X 2 i + e i , i = 1, ... , N .
ei ~ NI(0, s 2e ).
Essa é a idéia que se oculta sob o teste para quebra estrutural proposto
por Chow (1960):
716
ABSTRACT
Crime and Law Enforcement Strategies in Urban Areas
The article seeks to explore the interconnections between police, crime, and
urban territory, discussing their crucial importance in the current public policy
scenario for security in large Brazilian cities. The author draws on
observations of a monthly series of violent crimes in Belo Horizonte, Minas
Gerais State, in a regression model with structural breaks to estimate the
impact of the so-called “Results-Based Police” Program in reducing crime.
According to the findings, police intervention in urban territory was
responsible for a significant reduction in violent crimes (5,675) from January
2001 to October 2003.
RÉSUMÉ
Crime et Stratégies Policières dans l’Espace Urbain
Dans cet article, on examine le réseau des liens entre la police, le crime et
l’espace urbain, dont l’importance reste capitale pour le cadre actuel des
politiques publiques concernant la sécurité des grands centres urbains au
Brésil. On a pris pour base des observations sur une série mensuelle de crimes
violents commis à Belo Horizonte, selon un modèle de régression à coupes
structurelles pour évaluer l’impact du programme de “Police à Résultats” sur
la réduction de la criminalité. Selon les résultats, on voit, entre autres, que
l’intervention de la police urbaine a réussi à y diminuer de façon significative
le nombre de crimes violents, qui était de l’ordre de 5.675 entre janvier 2001 et
octobre 2003.
717