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ÉTICA
Betim – MG
2018
ÉTICA
01. Assistir o filme: “Um sonho possível”
Estrelado por Sandra Bullock, o menino Michael ou “Big Mike” vive nessa
inquietação entre “vida qualificada” política, humana e “vida nua” vida meramente biológica,
animal -, pelo fato de ser negro, de classe baixa, nem tendo família propriamente dita,
Michael Oher nunca é considerado como, de fato, um ser humano. Já inicio da história, Big
Mike é aceito em uma escola religiosa sulista americana mais pelo fato de ele ter um bom
físico para esportes do que pelo valor cristão de “dar ajuda aos necessitados”, ou seja, o
menino seria útil para aquela escola, por isso ele foi aceito para estudar ali e não porque a
escola seria útil para ele. Em seus primeiros dias no colégio é visto como “ignorante” e
“problemático” pelos professores, pois não conseguia acompanhar as aulas, uma vez que era
carente de família, de recursos e de até mesmo uma casa. Durante toda a sua vida, Michael
fora considerado como “objeto” e não como ser humano; isso fica claro quando mostram a
infância de Mike sendo levado à força de sua mãe e irmãos, pois sua mãe era dependente
química, não tinha condições de criar seus filhos. Assim, o governo tem a legitimidade de
invadir a casa deles, separando-os para adoção – e mesmo assim, até os 17 anos, Big Mike
nunca conseguiu ser adotado, por seu apego à mãe.
Michael Oher só começa a ter uma “vida digna” quando a mãe de família Liegh Anne
Tuohy convida o jovem a passar a noite na casa de sua família. Logo a Sra. Tuohy e toda sua
família (cujos filhos estudam na mesma escola de Mike) nesta altura do filme ele era tratado
com carinho pela família de Tuohv e, consequentemente, adotam-no. É nesse momento, pelo
olhar humano da forte Sra. Tuohy, que Big Mike passa a se sentir como humano. Liegh Anne
Tuohy não viu Mike como um jovem negro, pobre, problemático, com grande potencial para
o esporte, mas o viu como ele é: humano. Ela não o acolheu apenas porque o “dever cristão” a
compele de fazê-lo ou porque ele, algum dia, “pode vir a calhar”. Michael torna-se totalmente
humano no momento que a Sra. Tuohy, no final do filme, sente-se conflitada e pergunta a ele:
é para essa universidade que você realmente quer ir? Realmente é o seu sonho ser jogador de
futebol? Portanto, é no momento de escolha que Michael passa a fazer parte da “vida
qualificada” e ter o autodomínio de sua vida. Aristóteles sustenta que, uma ação só pode ser
avaliada eticamente se o agente a tiver realizado de maneira intencional e deliberada – nesse
instante Michael Oher começa a ser, verdadeiramente, livre e, a partir disso, ele é capaz
participar desse “jogo” da ética. É válido lembrar que, por toda sua vida, Michael era
arrastado e puxado de um lado para o outro pelas autoridades – seja o governo, a polícia ou,
até mesmo, o diretor e os professores da escola -; a Sra. Tuohy foi a primeira a lhe dar o
direito de escolha, ou seja, Liegh Anne enxerga Michael como uma pessoa e não como uma
máquina a qual obedece aos comandos do maquinista.
O interessante que no final quando dizem que Liegh Anne Tuohy tinha mudado a vida
de Mike, mas ela responde “ele é que mudou a minha”, pois ele despertou nela o senso de
humanidade, ele a forçou inconscientemente, pela convivência, a sair da comodidade da
vidinha tradicional da mulher rica branca do Tennessee, desprendendo-se de preconceitos da
vida, mostrando que ela tem potencial. Desse modo, ambos tornaram-se livres; saíram do
paradigma inicial do “o que eu aparento ser” para “o que eu posso ser” – saíram do paradigma
inicial do “o que eu aparento ser” para “o que eu posso ser”.
Sendo assim, nota-se que a temática central do filme é o reconhecimento, não só da
diversidade de cada um, mas do que todos têm em comum, apesar das diferenças: a
humanidade. O filme relata o acolhimento e a aceitação do outro sem segundas intenções,
independente de sua cor ou sua posição social. Por isso é necessário realizar esse trabalho, de
início, de destacar a questão da “invenção” do sujeito, uma vez que, ao afirmar que ele é
inventado – ou seja, não é um conceito eterno e imutável -, é possível despertar para o fato de
que nem sempre ao olhar para o próximo se enxerga uma pessoa humana, seu semelhante,
alguém que sofre e que busca pela sua felicidade, que comete erros e acertos. É preciso
reforçar a reflexão acerca da dignidade da pessoa humana nas discussões ética, uma vez que é
só a partir do momento de passagem nos termos de Agamben, que se pode considerar alguém
verdadeiramente “pessoa humana”, a qual goza de liberdade, senso crítico, vontades,
sentimentos, anseios, desejos, dons, cultura, direitos e deveres. Enquanto não se perceber que,
apesar de diferentes, somos, acima de tudo, humanos, não há como se pensar, de modo algum,
em tolerância, igualdade, ética e nem mesmo em sociedade – há apenas o caos pelo conflito, a
opressão e a submissão e não uma comunhão, como deveria ser.
02. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra.
Petrópolis, Vozes, 2010.
a) Ler o livro e fazer uma resenha crítica de até 08 páginas.
Leonardo Boff no livro Saber cuidar, discorrer de forma simples e prazerosamente, acerca
do Cuidado como essência humana, mais que a Razão e a Vontade
O teólogo e filósofo vai da mitologia à cosmologia e física quântica atuais, para ilustrar a
necessidade e o surgimento de uma nova consciência alternativa ao realismo materialista: a
filosofia holística. A perda de conexão com o Todo seria a falta de cuidado, falta da condição
essencial humana
Tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver: uma planta,
um animal, uma criança, um idoso, o planeta terra. Uma antiga fábula diz que a essência do
ser humano reside no cuidado. O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade.
Precisamos com urgência para e posicionar a favor do cuidado em suas várias concretizações:
cuidado com a terra, com a sociedade sustentável, com o corpo, com o espirito, com a grande
travessia da morte. A ótica do cuidado funda uma nova ética, compreensível a todos e capaz
de inspirar valores e atitudes fundamentais para a fase planetária da humanidade. Somos
convidados à reflexão sobre o cuidado e a compaixão.
Buscar um despertamento e uma reflexão crítica sobre os problemas do mundo,
onde a falta de atitudes de cuidado são os sintomas dos maiores problemas da humanidade. A
degradação ambiental do planeta, as relações entre as pessoas e a falta de conhecimento de si
mesmo, leva a falência da Terra.
O escritor mostra através de fábulas e mitos a origem do homem e o
significado do cuidado. Sendo a essência do ser humano, o saber cuidar, sendo preciso em
primeiro lugar, voltar-se e olhar para si mesmo. A proposta é uma nova ética para a conduta
humana nas relações com o meio e com o outro, partindo para uma nova ótica. Apresenta
caminhos para a cura e o resgate da essência humana, quando o homem deve passar por uma
alfabetização ecológica, revendo os hábitos de consumo, aprendendo a conviver, a tocar, a
mostrar seu carinho e sua generosidade, alimentar o amor, o contato humano, aumentar a
capacidade de sentir, viver e conviver, aprendendo a cuidar do planeta, sempre envolto em
uma ética de cuidado. Saber cuidar, a essência da vida humana está dentro de cada um, e
todas as respostas estão dentro do ser humano, basta querer achá-las. Neste mundo
tecnológico, com o avanço cada vez maior das produçõese consequentemente do consumismo
desenfreado, é árduo o trabalho de realizar um cuidado específico para que não aumente e até
se controle o número cada vez maior de excluídos, espoliados, empobrecidos, condenados a
uma vida cega de conhecimentos, solitária de amor e ternura, e praticamente abandonados. O
homem está cada vez mais só e, com certeza, se deixando fechar-se em si mesmo,
esquecendo-se de cuidar de si, das coisas ao seu redor, do outro e do mundo onde vive.
O cuidado nasce quando se conhece a essência de todas as coisas, quando se descobre os
propósitos e finalidades da vida, quando o homem se compromete e assume a
responsabilidade de zelar, atender e preocupar-se com o outro. O livro demonstra uma
evolução de ideias em um crescente, trazendo a ideiado cuidado em relação às formas de
cuidar; a falta de cuidado no mundo atual; o que seria necessário para amenizar esse mal,
resgatando a espiritualização como um dos remédios da humanidade; os caminhos para se
encontrar o local de origem da essência do ser humano. Envolve a filosofia como elemento de
aprendizado em busca das origens do cuidado com a Terra, com o homem, com o Universo e
com os outros homens, trabalhando a sustentabilidade da sociedade. Ao envolver o homem
no cuidado, faz renascer diversos modos de cuidado; as ressonâncias do cuidado em diversas
atitudes, como o amor a justa medida, a ternura, a carícia, a cordialidade, a convalidada e a
compaixão, resgatando os modos de ser essenciais ao ser humano. Abordando a importância
do cuidado com as pessoas, sobretudo com os diferentes culturalmente, com os penalizados
pela natureza, com os espoliados, os pobres, os excluídos, as crianças, os velhos, os
moribundos. Ressalta, ainda o cuidado com as plantas, os animais, as paisagens e
principalmente com a Terra. Resta ao homem a interiorização da complexidade do
pensamento do saber cuidar e frente a esse entendimento tomar a atitude de cuidar, como
prioridade de vida.
O livro também trata sobre as questões do amor e o cuidado, muitas vezes dizemos que
amamos e não colocamos em prática o cuidado.
Falar sobre o tema ambiental e inseri-la dentro da ação pastoral da igreja é necessário e
ao mesmo tempo difícil. Rever os valores e reconhecimento dos bens naturais e de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida; a consciência do limitee consequente
preservação da natureza e de seus recursos; a celebração da vida em sintonia coma dinâmica
do meio natural; a demarcação da terra como espaço sagrado; atitudes cultivadoras e diaconal
que corrige a visão mercantilista dos recursos naturais. Tudo isto configura-se como um
discernir de caráter arquetípico e duradouro ornados pelos elementosda espiritualidade –
beleza, sentido, reconhecimento, esperança e mistério.