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Oscilações forçadas
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 1
Equação diferencial
A massa da Figura 1 está sujeita a três forças horizontais: a força da mola Fk , o atrito viscoso
Fυ e a força externa F(t). Esta última é uma função conhecida do tempo. A dependência das
forças elástica e viscosa em relação à posição e à velocidade da massa já foi discutida no Capítulo
Oscilações Amortecidas:
( 1 )
Fk = −kx e Fυ = −bυ, Figura 1: O oscilador harmônico forçado.
( 2 )
ma = −kx − bυ + F(t).
dv dx
m + b + kx = F (t ). ( 3 )
dt dt
Como sempre, a Lei de Newton nos conduziu a uma equação diferencial. Sua solução depende
das condições iniciais:
( 4 )
x(t = 0) = x0 e v(t = 0) = v0,
dz dv
= + sv, ( 6 )
dt dt
ou seja,
dv dz
= − sv. ( 7 )
dt dt
Substituímos agora dv/dt na Equação 3 pelo lado direito dessa expressão. Obtemos assim
a equação:
dz
m − msv + bv + kx = F (t ), ( 8 )
dt
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 3
dz b k F (t )
+ − s v + x = . ( 9 )
dt m m m
Como no Capítulo Oscilações Amortecidas, para simplificar a notação, definimos as constantes:
k b ( 10 )
ω0 = eγ= .
m m
Com essas definições, a Equação 9 passa a ser escrita:
dz F (t )
+ ( γ − s )v + ω02 x = . ( 11 )
dt m
Devemos agora substituir as parcelas proporcionais a v e x por um só termo, proporcional a z.
Para isso, agrupamos aquelas parcelas:
dz ω2 F (t )
+ ( γ − s) v + 0 x = , ( 12 )
dt γ−s m
e escolhemos s de forma que o segundo termo à esquerda seja proporcional a z(t) = v(t) + sx(t).
Isso exige que:
ω02
s= . ( 13 )
γ−s
Multiplicando os dois lados dessa igualdade por γ − s, encontramos uma equação do segundo
grau para s:
s2 − γs + ω20 = 0. ( 14 )
γ γ2 ( 15 )
s± = ± − ω02 .
2 4
A Equação 15 já apareceu no Capítulo Oscilações Amortecidas. Na ocasião, a discussão esteve
atenta ao sinal do radicando. A condição γ > 2ω0, por exemplo, faz com que s+ e s− sejam números
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 4
s+ + s− = γ; ( 16 )
dz± F (t )
+ ( γ − s± ) z± = , ( 18 )
dt m
onde
Em particular, as condições iniciais que controlam a Equação 18 são dadas pelas igualdades:
dz± e( γ
− s± )t
F (t ) ( γ −s± )t ( 22 )
= e .
dt m
Da Equação 16, temos s± = γ − s . Podemos, portanto, simplificar a expressão 22:
dz± e s t F (t ) s t ( 23 )
= e .
dt m
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 5
Em seguida, para encontrar z(t), primeiro integramos os dois lados em relação ao tempo:
t
z± e = z0 + ∫ F (t´)e dt´,
s t s t´ ( 24 )
0
− s t
e multiplicamos o resultado por e .
z± (t ) = e
− s t
( z + ∫ F (t´)e dt´).
0
t
0
s t ´ ( 25 )
Por fim, para encontrar a posição x(t), recorremos às expressões 19. A subtração entre as duas,
seguida divisão por s+ − s−, dá uma expressão explícita para a posição:
z+ (t ) − z− (t )
x(t ) = . ( 26 )
s+ − s−
Força oscilatória
As Equações 25 e 26 descrevem a resposta do oscilador a qualquer força F(t) a ele aplicada.
Estamos particularmente interessados no efeito de uma força periódica da forma:
onde F0 é uma constante com dimensão de força, a constante ω é a frequência com que a força
varia e a constante ϕ0 é uma fase inicial arbitrária no intervalo 0 ≤ ϕ0 < 2π.
A substituição da força (27) na Equação 25 leva à igualdade:
F0 − s t t
z± (t ) = z0e − s t + e ∫ cos(ωt + ϕ0 )e s t´dt´. ( 28 )
m 0
que transforma o integrando em uma soma de exponenciais. O cálculo da integral nos dá a expressão:
m s2 + ω2 2m s + iω s − iω
Transiente
A resposta de um circuito RLC a um gerador de corrente alternada é constituída por uma
parcela − o transiente − que decai rapidamente com o tempo e outra que acompanha a voltagem
do gerador. Da mesma forma, a relação (30) reparte o movimento do oscilador forçado em dois
termos. A primeira parcela à direita tem um coeficiente que depende das condições iniciais (de z0)
e da força externa (de F0, de ω e de ϕ0). A sua dependência em relação ao tempo, no entanto, é
determinada pelas raízes s±}. O seu comportamento é, portanto, semelhante ao do oscilador
livre: um decaimento exponencial no caso sobreamortecido e um decaimento oscilatório no caso
subamortecido. As raízes s±} podem ser reais ou complexas, mas a parte real de cada uma delas é
−s t
sempre positiva. Assim, o fator e tende a zero quando o tempo cresce. Analogamente aos circuitos
RLC, chama-se transiente a primeira parcela à direita na Equação 30.
O transiente se deve aos componentes reativos embutidos na dinâmica do oscilador. A inércia
da massa m e o atrito viscoso que se opõe ao seu movimento impedem que ela se adapte
prontamente à força externa. Assim, o transiente garante a transição entre as condições iniciais e o
comportamento estacionário. Como ilustração, a Figura 2 mostra a posição resultante da Equação 26,
com z+(t) e z−(t) dados pela Equação 30, para um oscilador criticamente amortecido (ω0 = 2γ).
A força externa é dada pela Equação 27 com ϕ0 = 0 e ω = 2ω0.
A parcela transitória na Equação 30 é importante no início do movimento. Em particular, ela
garante as condições iniciais, x(t = 0) = v(t = 0) = 0. Para ωt < 5, ela afasta a curva laranja, que repre-
senta a posição do oscilador, da curva tracejada, que representa o comportamento estacionário.
Figura 2: Evolução da posição de um sistema
A partir do final do primeiro ciclo, porém, o transiente se torna insignificante e a massa m entra no massa-mola amortecido criticamente sujeito à
regime estacionário. Daí por diante, ela oscila com a frequência da força externa. força externa F = F0 cos(ωt). No instante inicial,
a massa m está parada no ponto de equilíbrio
Se o coeficiente γ for muito maior ou muito menor do que a frequência natural ω0, o regime (x = 0). A curva laranja mostra a posição em
transitório será mais duradouro. Depois de algum tempo, no entanto, a parcela proporcional a e
−s t função do tempo. A curva tracejada corresponde
à segunda parcela à direita na Equação 30
na Equação 30 terá valor insignificante, e o movimento passará a ser regido pela segunda parcela. (comportamento estacionário).
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Regime estacionário
O decaimento do termo transitório reduz a Equação 30 à igualdade
F0 ei ( ωt +ϕ0 ) e − i ( ωt +ϕ0 )
z± (t ) = + ( 31 )
2m s + iω s − iω
A posição x(t) pode então ser obtida da Equação 26:
F0 ei ( ωt +ϕ0 ) ( s+ − s− ) e − i ( ωt +ϕ0 ) ( s+ − s− )
x(t ) = + . ( 32 )
2m( s+ − s− ) s+ s− + iω( s+ + s− ) − ω2 s+ s− − iω( s+ + s− ) − ω2
A soma s+ + s− e o produto s+s− são encontrados nas igualdades (16) e (17). Sua substituição na
Equação 32 conduz à expressão:
F0 ei ( ωt +ϕ0 ) e − i ( ωt +ϕ0 )
x(t ) = + , ( 33 )
2m ω02 − ω2 + iωγ ω02 − ω2 − iωγ
e a igualdade de Euler,
Potência
O cálculo da velocidade é importante porque abre caminho para a determinação da energia
transferida pela força externa ao oscilador a cada ciclo. A potência fornecida é o produto da força
pela velocidade. Das Equações 27 e 36 vem a expressão:
1
sen (ωt + ϕ0 ) cos(ωt + ϕ0 ) = + sen2(ωt + ϕ0 ), ( 38 )
2
vemos que a primeira parcela na fração à direita na Equação 37 oscila em torno de zero. Ao longo
de um período, sua média é nula. O mesmo não ocorre com a segunda parcela. A identidade
1 cos2(ωt + ϕ0 )
cos 2 (ωt + ϕ0 ) = + ( 39 )
2 2
mostra que o fator cos²(ωt + ϕ0) oscila em torno de 1/2. A média da potência ao longo de um
período é, portanto:
F02 ω2 γ
P (ω) = . ( 40 )
2m (ω02 − ω2 ) 2 + ω2 γ 2
Podemos agora dividir numerador e denominador da fração à direita por (ω0ω)² para obter o
seguinte resultado para a potência média dissipada pelo oscilador:
F02 γ
P (ω) = 2 2 2
. ( 41 )
2mω0 ω ω γ
− +
0
ω ω0 ω0
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 9
Ressonância
A expressão (41) é análoga à fórmula deduzida no Capítulo RLC para a potência absorvida por
um circuito RLC. Para realçar a semelhança, definimos o fator de qualidade:
Q = ω0/γ, ( 42 )
F02Q
P (ω0 ) = . ( 44 )
2mω0
A forte absorção de energia na frequência ω0 caracteriza uma ressonância. Quando ω = ω0,
o termo proporcional a sen(ωt + ϕ0) na Equação 36 desaparece. A velocidade é proporcional a
cos(ωt + ϕ0). Ela acompanha a força (27) instante a instante. A força externa favorece continua-
mente o acréscimo da velocidade. Se não houvesse atrito, a amplitude do movimento cresceria
indefinidamente. Como existe atrito, a amplitude é limitada e a potência máxima é inversamente
proporcional ao coeficiente γ, isto é, proporcional a Q.
Longe da ressonância, com ω ω0 ou ω ω0, a parcela proporcional a sen(ωt + ϕ0) na Equação 36
tende a dominar a parcela proporcional a cos(ωt + ϕ0). Nessas condições, durante boa parte de
cada período, a velocidade e a força têm sentidos opostos. Nesse intervalo de tempo, o oscilador
devolve para a fonte que provê a força parte da energia que recebe durante o restante do ciclo.
A energia líquida recebida ao longo do ciclo é, portanto, pequena. Tais características são visíveis
na Figura 3, que mostra a potência média em função da frequência para três fatores de qualidade:
Q = 2,5 e 10. A ressonância está sempre centrada na frequência natural de oscilação, ω = ω0, mas Figura 3: Potência média dissipada em um ciclo
a figura mostra que sua largura diminui com o crescimento de Q. Como indicado na curva verde do oscilador harmônico forçado em função da
frequência da força externa, para os três fatores
(Q = 2,5), para fatores de qualidade elevados, a largura da curva P × ω, medida no ponto em que a de qualidade indicados. As setas horizontais
mostram que, para grandes Q’s, a largura da
potência se reduz à metade do máximo, é aproximadamente γ. ressonância é aproximadamente γ.
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 10
Fase e amplitude
A Expressão 35 descreve a posição da massa m como combinação das duas funções
trigonométricas sen(ωt + ϕ) e cos(ωt + ϕ). Essa mistura de duas funções periódicas dificulta a
visualização do movimento. A expressão pode, felizmente, ser reduzida a uma forma mais compacta.
O diagrama na Figura 4 serve de guia para a transformação.
O triângulo retângulo ali representado relaciona os parâmetros ω2 − ω20 e γω com funções
trigonométricas de um ângulo θ0. Em particular, dados ω, ω0 e γ, a seguinte expressão determina
o ângulo θ0:
γω
tgθ0 = ( 45 )
ω − ω02
2
A projeção da hipotenusa sobre o cateto adjacente a θ0 dá uma expressão para o fator ω20 − ω2,
que multiplica a função cos(ωt + ϕ0) na Equação 35:
(ω − ω2 ) + γ 2ω2 cos θ0
2
( 46 )
ω2 − ω02 = 2
0
Da mesma forma, a projeção sobre o cateto oposto a θ0 dá uma expressão para γω, fator que
multiplica a função sen(ωt + ϕ0):
(ω − ω2 ) + γ 2ω2 senθ0 .
2
2 ( 47 )
γω = 0
A substituição dessas duas igualdades no lado direito da Equação 35 conduz a uma expressão
simples para a posição do oscilador harmônico forçado em função do tempo:
F0
xm (ω) = ( 49 )
m (ω − ω2 ) 2 + ω2 γ 2
2
0
Oscilações e Ondas » Oscilações forçadas 11
1
ωmax = ω0 1 − . ( 50 )
2Q 2
Como ilustração, a Figura 5 mostra o gráfico de xm × ω para os três fatores de qualidade apre-
sentados na Figura 3. A amplitude é realçada na região ω ≈ ωmax, pouco abaixo da ressonância.
A superposição das três curvas a altas frequências concorda com a Equação 49, a qual se reduz no
limite ω ω0 a uma expressão independente de γ:
F0
xm = . ( 51 )
mω2
Da mesma forma, as três curvas se confundem na região de baixas frequências. No limite ω → 0,
a Equação 49 também se reduz a uma expressão independente de γ:
F0
xm (0) = . ( 52 )
mω02
A interpretação deste último resultado merece breve discussão. Substituído na Equação 48, Figura 5: Amplitude da vibração
do oscilador forçado.
com ω = tg (θ0) = 0, ele mostra que:
F0 cos(ϕ0 )
x= (ω = 0). ( 53 )
mω02
Essa posição nada mais é do que o ponto de equilíbrio para o qual a massa m se desloca sob
a ação de uma força externa constante. De fato, no limite ω → 0 da Equação 27, a força externa
assume o valor:
Sob a ação dessa força, a massa se desloca para um novo ponto de equilíbrio xeq, no qual a força
da mola Fk = −kxeq compensa a força F, isto é, tal que:
F0 cos(ϕ0 )
xeq = , ( 56 )
mω02
coincide com a Equação 53.
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Bons estudos!
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Créditos
Este ebook foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA), Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira e Priscila Pesce Lopes de Oliveira.
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino,
Maurício Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.